Vous êtes sur la page 1sur 20

Revista Brasileira de Educação

ISSN: 1413-2478
rbe@anped.org.br
Associação Nacional de Pós-Graduação e
Pesquisa em Educação
Brasil

Potenza Guimarães Pinheiro, Viviane


Preconceito, moralidade e educação moral para a diversidade
Revista Brasileira de Educação, vol. 16, núm. 46, enero-abril, 2011, pp. 215-233
Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação
Rio de Janeiro, Brasil

Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=27518464012

Como citar este artigo


Número completo
Sistema de Informação Científica
Mais artigos Rede de Revistas Científicas da América Latina, Caribe , Espanha e Portugal
Home da revista no Redalyc Projeto acadêmico sem fins lucrativos desenvolvido no âmbito da iniciativa Acesso Aberto
P
reconceito, moralidade
e educação moral para
a diversidade

Viviane Potenza Guimarães Pinheiro*


Universidade de São Paulo

Introdução
Muito se discute em várias ins-
tâncias, desde reuniões internacionais
até em pequenas organizações não
governamentais (ONGs), desde o meio
acadêmico até nas instituições escola-
res, sobre o preconceito e sobre ações
educativas para combatê-lo. Tal dis-
cussão se fundamenta na necessidade
sempre urgente de dizimar atitudes que
acontecem cotidianamente nas escolas
e fora delas contra sujeitos ou grupos
que sofrem com estigmas.
No presente ensaio, pretendemos
contribuir para esse debate. Para tanto,

* Agradeço à professora doutora Valéria Amorim Arantes, da Universidade de São Paulo (USP),
pela leitura criteriosa e atenta do presente ensaio.

Revista Brasileira de Educação v. 16 n. 46 jan.|abr. 2011 215


Viviane Potenza Guimarães Pinheiro

buscaremos utilizar, teoricamente, a é o campo possível para mudanças nos


concepção de que o preconceito diz res- valores, incluindo aqueles que podem
peito a uma disposição psicológica, um ser considerados preconceituosos. Con-
fenômeno complexo e dinâmico que se cordamos com Adorno e Horkheimer
constrói na mediação entre indivíduo e quando explicam que “É preciso reco-
sociedade. Nossa compreensão apoia-se nhecer os mecanismos que tornam as
nas palavras de Adorno e Horkheimer pessoas capazes de cometer tais atos,
(1973), ao afirmarem que é preciso revelar tais mecanismos a
eles próprios, procurando impedir que
As grandes leis do movimento social se tornem novamente capazes de tais
não regem por cima das cabeças dos atos, na medida em que se desperta
indivíduos, realizando-se sempre por uma consciência geral acerca desses
intermédio dos próprios indivíduos e mecanismos” (1973, p. 121).
de suas ações. A investigação sobre Pretendemos seguir o mesmo
o preconceito tende a reconhecer a movimento que os referidos autores e
participação do momento psicológi- tentar, primeiramente, compreender
co nesse processo dinâmico em que os mecanismos que são articulados para
operam a sociedade e o indivíduo. cometer tais atos na busca de refletir,
(p. 173-174) por fim, sobre uma educação que possa
A necessária “inflexão em direção ser capaz de levar todos os envolvidos no
ao sujeito” para estudar o preconceito, processo educativo a formas de análise
postulada por Adorno e Horkheimer, que minimizem a discriminação dentro
suscita tecer considerações sobre tal e fora dos muros escolares.
disposição psicológica na perspectiva da
psicologia moral. Nossa compreensão Alguns apontamentos sobre o
sobre a moralidade repousa em uma preconceito
perspectiva de entender o ser humano
em sua complexidade, ou seja, cons- Para uma compreensão mais
tituído não apenas de valores morais, aguçada sobre o preconceito, primeira-
como a justiça ou a generosidade, mente recorreremos a Allport (1954),
mas de vasta gama de sentimentos, que estabeleceu conceitos importantes
pensamentos, anseios e desejos que se que deram suporte a outros diversos
inter-relacionam continuamente. Se trabalhos. Tecendo reflexões sobre o
todos esses aspectos constituem o ser preconceito, o autor inicia a discussão
humano, entende-se que o preconceito afirmando que o preconceito envolve
também o faz, sendo fruto de uma cons- um pensar negativo sobre o outro sem
trução individual realizada em relação o conhecimento sobre ele. No entanto,
constante com o meio. aprofunda tal pensamento, apontando
Diante dessa perspectiva, faz-se que o preconceito envolve uma genera-
necessário e importante utilizar tal lização categórica sobre determinados
embasamento teórico para pensar em grupos. Segundo Allport, “Pode-se de-
estratégias relacionadas à educação, finir o preconceito como uma atitude
visto que, nas palavras de Adorno hostil e de aversão em relação a uma
(2000), com as quais concordamos, esse pessoa que pertence a um grupo, sim-

216 Revista Brasileira de Educação v. 16 n. 46 jan.|abr. 2011


Preconceito, moralidade…

plesmente porque ela pertence a esse der” (p. 178). Ainda de acordo com esse
grupo, e, portanto, presume-se ter qua- estudo, os valores enfatizados por esses
lidades que são atribuídas a esse grupo” sujeitos são, essencialmente, aqueles
(Allport, 1954, p. 7, tradução nossa). tidos como “convencionais do momento”,
O preconceito, ainda nas palavras uma conduta exterior correta, envolven-
do autor, poderia ser explicado porque o do a capacidade no trabalho, a diligência,
ser humano tende à “overcategorization”, a higiene e a não criticidade.
que entendemos como uma super cate- Outro aspecto importante desta-
gorização dos elementos que existem na cado por Adorno e Horkheimer em rela-
realidade. Allport relata que tal proce- ção ao preconceito é o pensamento ciclista.
dimento pode ser visto como natural, Segundo os autores, os pensamentos e
uma vez que as demandas aos seres sentimentos dos sujeitos estão orienta-
humanos da compreensão do real os dos hierarquicamente, submetendo-se à
forçam a fazer ajustes e, assim, catego- autoridade moral idealizada pelo grupo
rizações que os tornam ignorantes nas ao qual julgam pertencer e estando
ações cotidianas. São, assim, elaborados totalmente alertas para condenar, pe-
diversos prejulgamentos que facilitam a los mais diversos pretextos, os que se
compreensão de mundo para o sujeito. encontram fora do grupo ou aqueles a
Entretanto, segundo Allport, os quem se considera inferiores. Esta for-
prejulgamentos não podem ser enten- ma de pensar é denominada por esses
didos estritamente como preconceitos. autores de “natureza ciclista”, ou seja,
Eles podem virar preconceitos somente “na acepção metafórica de uma pessoa
se, expostos a novos conhecimentos que gosta de calcar com o pé quem está
sobre o objeto em questão, não forem por baixo e, ao mesmo tempo, dobra o
reversíveis. Assim sendo, o autor chega corpo, em posição humilde, para os que
à seguinte definição de preconceito: estão em cima” (idem, p. 179).
“Preconceito étnico é uma antipatia Ainda de acordo com os autores, o
apoiada em uma generalização falha tipo totalitário proíbe toda e qualquer
e inflexível. Ele pode ser sentido ou reflexão, no anseio de assegurar que o
expressado. Pode ser direcionado para status quo permaneça, mantendo a sua
um grupo como um todo ou para um in- “falsa segurança” e desprezando sua
divíduo porque ele é um membro desse própria atividade intelectual, afetiva
grupo” (idem, p. 9, tradução nossa). e criativa. Tal perspectiva leva esse
Embora acreditemos que seria sujeito a apegar-se à força de um poder
importante aprofundar as discussões superior e esquivar-se à responsabilida-
travadas por Allport, partiremos para o de pessoal.
estudo de Adorno e Horkheimer (1973), Todas essas características nos
que almejaram entender o preconceito levam a perceber que o preconceito diz
com base em pesquisas sobre o sujeito mais a respeito da pessoa que o sente
totalitário. Em tal estudo, os autores ca- (o preconceituoso), visto que é uma dis-
racterizam esse sujeito como portador posição psicológica, do que do alvo do
de uma estrutura relativamente rígida preconceito. No entanto, concordando
e constante, por um “reconhecimento com Crochík (2006), o termo não pode
cego, obstinado e intimamente rebelde ser totalmente independente deste
tributado a tudo que se reveste de po- último, isto é, das representações que

Revista Brasileira de Educação v. 16 n. 46 jan.|abr. 2011 217


Viviane Potenza Guimarães Pinheiro

são atribuídas ao alvo. Dessa forma, perspectiva. O primeiro refere-se às vá-


compreendemos que não se pode es- rias deformidades físicas; o segundo, a
tabelecer um conceito unitário de pre- questões de caráter individual (homos-
conceito. Há aspectos constantes que sexualismo, crenças falsas, vícios etc.);
dizem respeito à conduta, e aspectos e o terceiro a estigmas de raça, nação
variáveis relacionados às representa- ou religião, que podem ser transmitidos
ções individuais. por meio de linhagem e contaminar por
Nessa perspectiva, podemos con- igual todos os membros de uma família.
ceber que o preconceito pode ser en- Claro está que o estigma referen-
tendido como valores diversos, que da uma construção social que advém
consistem em juízos preconceituosos de uma grande diferenciação entre os
mediante representações que o sujeito considerados “normais” e os “diferen-
tem sobre a realidade. Tais representa- tes”. O estigma, pelo ponto de vista de
ções, no entanto, não são frutos apenas Goffman, envolve toda uma construção
de construções individuais, logo que a social e psicológica, que se vai reali-
cultura exerce papel fundamental para zando à medida que os “normais” e os
a sua elaboração. estigmatizados vão relacionando-se nas
A rigidez da conduta, que também mesmas “situações sociais”. Goffman
é destacada por Adorno e Horkheimer procura analisar o estigmatizado em
(1973), corresponde, de acordo com suas interações com os normais, pos-
Crochík (2006), a um tipo de comporta- tulando semelhanças e características
mento preconceituoso que se relaciona comuns a esse grupo.
com estereótipos oriundos da cultura. Embora não seja a intenção deste
Para Goffman (1988), tais estereótipos ensaio se aprofundar sobre os estudos
podem ser entendidos como estigmas. de Goffman, é importante destacar o
O estigma consiste, em seus termos, em conceito de contágio que propõe esse
uma relação de atributo extremamente autor. O contágio de estigma, como uma
depreciativo e o estereótipo. Em outras disposição preconceituosa que é assi-
palavras, o estigma somente pode ser milada pelo grupo, leva-nos a entender
compreendido na relação entre quem a cultura como parte importante para
o elabora, formulando uma concepção a elaboração do preconceito de cada
depreciativa sobre o outro, e quem o indivíduo.
recebe, que seria o estereótipo. É um Essa percepção também é assina-
termo que esconde uma dupla perspec- lada por Crochík (2006) ao afirmar que
tiva, que se refere ao estigmatizado: ou o estereótipo é um produto cultural, re-
ele lida com a condição de desacreditado, lacionado intimamente aos mecanismos
visto que possui uma característica dis- psíquicos do sujeito e pode ser tomado
tintiva previamente conhecida, ou com como um dos elementos do preconceito
a condição de desacreditável, quando sua mais voltado, na visão desse autor, às
característica não é visível ou pode ser reações individuais. “[…] o indivíduo se
camuflada. apropria de estereótipos e os modifica
Há de se destacar, ainda, de acor- de acordo com as suas necessidades;
do com a teoria de Goffman (1988), contudo, as ideias sobre o objeto do pre-
que há três tipos de estigma que se conceito não surgem do nada, mas da
referem intimamente com essa dupla própria cultura” (Crochík, 2006, p. 14).

218 Revista Brasileira de Educação v. 16 n. 46 jan.|abr. 2011


Preconceito, moralidade…

Na perspectiva de Crochík (2006), dividuais racionais, e sem que lhes


o preconceito ocorre por “introjeção”, proporcione uma vida sem ameaças,
pelas gerações mais novas, das repre- gera continuamente a necessidade
sentações construídas socialmente sobre do estabelecimento de preconceitos
objetos presentes em nosso meio. Tal como forma de defesa individual.
“apropriação”, segundo o autor, ocorre (idem, p. 36)
pelas relações que o sujeito tece com as
pessoas das quais depende. A perspecti- Com outras palavras, Adorno
va de Crochík é a de que os valores são (2000) também enfatiza que o preconcei-
introjetados de forma inconsciente, de to em sua última consequência – matar o
“fora para dentro”, embora não de forma diferente – se encontra no cerne do pró-
imediata. Assim como Adorno (2000), prio processo civilizatório, o que se torna
esse autor destaca, embalado pela desesperador, considerando que se pode
teoria psicanalítica, os primeiros anos entender que não exista uma alternativa
de vida como cruciais para a aquisição para se contrapor a isso. Aqui podemos
desses valores. Os valores introjetados também acrescentar a contribuição de
não correspondem exatamente ao que Arendt (1989) ao abordar o domínio total,
existe na realidade, mas são media- enfatizando sobre o totalitarismo e a ex-
dos pela percepção, que não envolve periência nos campos de concentração.
aspectos absolutamente objetivos. No Para a autora, o domínio total procura
momento em que a criança se volta a “sistematizar a infinita pluralidade e
objetos já preconcebidos pela cultura, diferenciação dos seres humanos como
não o faz, ou quase nunca o faz, por se toda humanidade fosse apenas um
uma reflexão autônoma. Assim, nas indivíduo” (p. 488). O preconceito im-
palavras de Cro chík, “na transmissão plicado no totalitarismo visava destruir
da cultura para as gerações mais jovens o homem, não apenas fisicamente, mas
já são transmitidos preconceitos” (2006, também psiquicamente. Assim, os pas-
p. 19). sos eram matar o homem juridicamente e
Muito embora não concordemos moralmente para, assim, acabar com a
com os autores sobre essa interioriza- sua individualidade.
ção do preconceito como algo realizado Além dessa característica, destaca-
exclusivamente na infância, resultado mos na teoria de Crochík que a conceitu-
da não reflexão, o que discutiremos ação de preconceito é deveras complexa
nos próximos itens, admitimos que o e comporta conflitos em duas dimensões:
preconceito se estabelece na relação há o conflito social que se manifesta na
entre indivíduo e cultura e, mais, que esfera da cultura – luta contra a nature-
ele se apoia nessa cultura, como uma za necessária para a autoconservação e
forma de dar continuidade ao que já a regulamentação para o convívio social.
está estabelecido. Nesse caso, a “frieza” e a rigidez apre-
sentadas pelo indivíduo preconceituoso
[…] uma sociedade que se susten- protegem-no da realidade que ele não
ta pela ameaça da exclusão, ainda consegue perceber; e também existe o
que velada, daqueles que não se- conflito individual, que ocorre entre os
guem seus ditames, sem que esses desejos do indivíduo e a possibilidade de
correspondam às necessidades in- sua realização.

Revista Brasileira de Educação v. 16 n. 46 jan.|abr. 2011 219


Viviane Potenza Guimarães Pinheiro

Nas inter-relações entre esses por meio das representações que tem
dois conflitos, nota-se que a formação sobre ele, fazendo que seja um sujeito
de preconceitos está atrelada à força único, com características peculiares.
da cultura sobre o indivíduo de não se O jogo de imprevisibilidade e
voltar, reflexivamente, para a realidade, norma cultural são cruciais para que
quer seja por perceber o sofrimento que se compreenda o preconceito. Logo,
essa realidade contém, quer seja por o preconceito, via ordem social, visa
reconhecer essa cultura como instân- a uma percepção rígida, sem reflexão
cia que aponta para a universalidade sobre os objetos; a imprevisibilidade
humana. da identidade individual pode chegar a
Deste modo, desmentir um estereótipo disseminado
culturalmente.
[…] toda ação que incentive a ne- Nas palavras de Crochík, “Essa
cessidade do confronto com os ou- imprevisibilidade é importante, posto
tros para que possa se garantir a so- que o preconceito visa a uma percep-
brevivência, quando essa garantia ção de sua vítima que restrinja os seus
já poderia ser dada tendo em vista movimentos, tornando-os repetitivos.
os recursos atuais da civilização, Com isso, qualquer movimento que des-
colabora com a regressão social e minta o estereótipo introjetado, ou seja,
com a regressão individual, que são imprevisto, é negado pelo preconceito”
componentes básicos do preconcei- (idem, p. 65).
to. Se a cultura é expressão da na- Essas reflexões sobre a identi-
tureza humana, a exclusão contida dade individual e sua relação com o
no preconceito torna esta cultura preconceito imposto pela cultura nos
tão ameaçadora quanto a própria levam a perceber o preconceito como
natureza da qual ela se propõe de- um tipo de valor “passado” de geração
fender os homens. (idem, p. 59) a geração, de acordo com as normas
sociais. Entretanto, como enfatizaram
No diálogo que se estabelece Adorno e Horkheimer (1973), ele não
entre os aspectos culturais e psicoló- pode ser entendido como algo estrito
gicos que circunscrevem a elaboração e somente imposto pela cultura, mas
do preconceito, emerge como questão entendido como um fenômeno psico-
importante a ser apontada o concei- lógico, em interface constante com o
to de indivíduo. Segundo Adorno e social.
Horkhei mer (1973), o indivíduo é um Com base nessas conjecturas,
produto social criado historicamente, podemos entender que o preconceito
muito embora seja composto por uma necessariamente recai para a esfera
certa imprevisibilidade que aponta para da moralidade, pela qual seria possí-
a diferenciação individual. vel realizar uma análise sobre a sua
O indivíduo constitui-se em uma elaboração por parte dos sujeitos em
identidade. Ele se constrói em relação a relação com os conteúdos existentes
um mundo social já construído que tem no ambiente social. Entendemos que
predominância sobre ele. No entanto, a psicologia moral possa contribuir
sua consciência lhe proporciona uma para essas reflexões, como exporemos
construção permanente desse mundo a seguir.

220 Revista Brasileira de Educação v. 16 n. 46 jan.|abr. 2011


Preconceito, moralidade…

Moralidade e preconceito(s) tidade das pessoas, nas representações


de si que elas fazem.
Os estudos atuais em psicologia Assim, os valores e contravalores
moral têm mostrado uma tendência são fruto de uma construção complexa
bastante acentuada em perceber a que o indivíduo realiza em sua histó-
moralidade como parte integrante da ria de vida. Eles podem ser, de acordo
identidade do sujeito. A necessidade com Damon (1995), morais ou não e
de conceber o ser humano em sua vão sendo elaborados, desde a infân-
complexidade e diversidade tem levado cia, mediante as trocas interpessoais
esse campo de estudos a aliar conhe- e com o meio. Na visão de Damon
cimentos sobre os aspectos psíquicos (1995) e Araújo (2007), alguns valores
relacionados à moral a outras esferas, vão posi cionando-se como centrais na
como suas relações com o meio social, concepção que os indivíduos têm de
as relações interpessoais, a afetividade, si, enquanto outros vão atuando como
entre muitas outras. periféricos em relação ao que pensam
Como já apontado, que o precon- ser, assumindo um caráter “fluido” em
ceito pode ser entendido como um valor seu sistema moral. O que determina o
e que, na visão de Adorno e Horkheimer posicionamento desses valores é a carga
(1973), Adorno (2000) e Crochík (2006), afetiva que a eles se dirige.
é “introjetado” pelos sujeitos, fazendo Com as trocas interpessoais e a in-
parte, assim, de sua identidade indivi- telectualização dos sentimentos, os va-
dual. Concordamos com os autores que lores são organizados pelos julgamentos
o preconceito é um valor e acreditamos que o sujeito realiza. Dessa maneira, de
que suas colocações deram um passo acordo com Araújo (2007), constitui-se
fundamental para uma compreensão o sistema de valores de cada sujeito. Ou
mais ampla desse fenômeno. Na pers- seja, a construção de valores pressupõe
pectiva da psicologia moral, buscamos uma ação do sujeito.
aprofundar a temática para tentar com- Se assim entendemos os valores,
preender os valores – e o preconceito podemos confirmar que o preconceito é
como valor – e de que forma eles são um valor, já que, muito embora não seja
construídos e elaborados pelos sujeitos um valor moral, surge de uma projeção
em suas vidas. de sentimentos positiva sobre uma
Utilizando a definição de Araújo atitude em relação a outrem. O pre-
(2007) sobre os valores, entendemos conceituoso, como já visto, por sentir-se
que eles são trocas afetivas que o su- confortável em sua situação, sente-se
jeito realiza com o exterior. Surgem da bem em permanecer em seu status quo.
projeção de sentimentos positivos sobre Contudo, acreditamos que esse
objetos, e/ou pessoas, e/ou relações, e/ fenômeno não é tão simples. Como
ou sobre si mesmos. Para o autor, valo- o preconceito pode atuar como um
res e contravalores (que são resultados valor central ou periférico no sistema
de uma projeção negativa sobre objetos de valores do sujeito? A carga afetiva
e/ou pessoas, e/ou relações, e/ou sobre direcionada a esse valor parte de qual
si mesmos) vão sendo construídos pelo conteúdo existente no meio?
sujeito e vão organizando-se em um Chegamos aqui a uma questão
sistema pelo qual se incorporam à iden- importante para a nossa reflexão. Tal

Revista Brasileira de Educação v. 16 n. 46 jan.|abr. 2011 221


Viviane Potenza Guimarães Pinheiro

como nos alertava Crochík (2006), o a diferentes tipos de forças exter-


preconceito tem mais a dizer sobre o nas. (1993, p.  268, tradução nossa)
preconceituoso do que sobre quem é
estigmatizado e sofre com a ação discri- Flanagan investe na hipótese de
minatória. Porém, o alvo do preconceito que a pessoa não é unicamente boa ou
diz muito sobre o julgamento realizado ruim em relação à moral. Em sua tese,
pelo preconceituoso. denominada Moral modularity, defende
A visão de Flanagan (1993) pode a existência de competências que se
auxiliar-nos a compreender esse aspec- desenvolvem de acordo com a interação
to sobre o preconceito. A moralidade, com o contexto social para o apareci-
em sua interpretação, não é composta mento das virtudes.1 Assim,
de características estáveis, mas sim […] deve existir uma competência
suscetíveis de pequenas ou grandes para a justiça com um certo tipo de
variações desencadeadas pelo contexto história do aprendizado e com uma
em que se encontra. O autor dá indica- certa configuração psicológica, e
ções de que o vínculo entre a moral e a uma competência para a benevo-
identidade do sujeito parece oferecer lência com uma outra história do
margem para “flutuações” diversas aprendizado e uma diferente estru-
que dependem do contexto, da situa- tura psicológica, e assim por diante
ção na qual o indivíduo se encontra (as para as múltiplas virtudes. (idem, p.
pessoas estão sempre “em situações”). 270, tradução nossa)
No entanto, frisa que nem todas as
influências derivadas das situações são Consoante Flanagan, é mais
iguais; portanto, devemos ter cautela ao plausível uma teoria que incorpore
tecer generalizações entre as pessoas e competências múltiplas em relação à
os efeitos das situações sobre elas. moral do que uma que priorize uma
Partindo de considerações feitas única competência. Os motivos pelos
sobre a moral na literatura filosófica e quais o autor crê nessa hipótese são:
no senso comum, Flanagan refuga as
teses de que a moralidade é uma uni- a é difícil pensar que exista
dade (somente se pode ser bom ou mau), uma competência (virtude)
totalmente intocável pelo contexto. Em que possa englobar todos os
suas palavras, aspectos da moralidade;
b as características morais de-
A psicologia moral pode ser menos senvolvem-se de forma dife-
unificada do que nós tipicamente rente em uma mesma pessoa;
pensamos, e isto não é apenas por c há “lacunas” no desenvolvi-
causa das práticas educacionais ine- mento moral das pessoas (po-
ficientes a que fomos submetidos, de-se ser justo, mas, ao mesmo
mas sim porque nossas disposições
e habilidades morais são de diferen- 1 Mantivemos o termo “virtudes”, tal como
tes tipos, com diferentes histórias empregado pelo autor. Contudo, neste en-
saio, não nos aprofundaremos nas diferen-
de aprendizado, diferentes relações ças entre esse termo e o conceito de valores.
com o temperamento e a racionali- Tomaremos, assim, a palavra “virtudes”
dade, e diferentes suscetibilidades como um “sinônimo” de valores.

222 Revista Brasileira de Educação v. 16 n. 46 jan.|abr. 2011


Preconceito, moralidade…

tempo, não possuir a orienta- acordo com os conteúdos e situações


ção do cuidado, por exemplo). com os quais nos deparamos. Isso sig-
nifica dizer que o preconceito, nesse
ínterim, poderia ser um termo utilizado
Aceitando que existem múlti-
em seu plural – preconceitos –, uma vez
plas virtudes que compõem o sujeito,
que o sujeito pode ter preconceitos
Flanagan (1993) imprime a elas certa
direcionados a diferentes conteúdos,
integração. Uma pessoa gentil, por
em diversos posicionamentos em nosso
exemplo, pode ser justa de forma gen-
sistema moral.
til e amorosa. Embora essa interação O sujeito pode ter vários valores
exista, há a possibilidade de que certas relacionados ao preconceito. Alguns
virtudes sejam tanto mais autônomas atuando como centrais em seu sistema
que outras, como podem vir a ser mais moral e outros como periféricos. Uma
requisitadas para atender a certas pessoa, por exemplo, pode ter como
situações. Ademais, para o seu desen- valor central o preconceito contra pes-
volvimento, elas requerem a interação soas de baixa renda, pois esse valor se
com o contexto, que nunca é igual para mostra persistente diante de algumas
todas as pessoas, o que resulta em uma situações morais. Essa mesma pessoa
grande diversidade de personalidade pode ter como valor periférico o precon-
entre os sujeitos. ceito contra homossexuais, já que esse
A concepção de que os conteúdos valor pode receber mais ou menos carga
do meio influenciam o juízo moral afetiva de acordo com as situações, ou
torna-se profícua para compreender seja, em uma determinada situação, por
que, para além de apontar o preconcei- exemplo, em companhia de um amigo
to como valor, podem-se admitir juízos homossexual, essa pessoa pode não
de valor preconceituosos relacionados revelar esse valor, mas em outra situa-
a vários conteúdos que são fontes de ção, como a de um filho revelando-se
preconceito: os estigmatizados. Dessa homossexual, pode levá-la a ter juízos
forma, é possível assumir, por exemplo, preconceituosos.
que um sujeito pode não ser preconcei- O papel ativo do sujeito em cons-
tuoso em relação aos negros, mas sê-lo truir esses valores e elaborar seus juízos
em relação a homossexuais. diante de situações de conflito moral
Os conteúdos do meio, nas situa- mostra-se de uma complexidade que
ções diversas que nos são apresentadas ainda não conseguimos desvendar (e
cotidianamente, são percebidos de talvez nunca consigamos). Porém, outra
forma diferente por cada um de nós, de constatação significativa da psicologia
acordo com a nossa história de constru- moral é de que a moralidade, em toda
ção dos valores, que tem estrita relação a sua complexidade, caminha sempre
com a forma como sentimos e, de forma para a unidade, procurando integrar-
dinâmica, assimilamos os valores que -se (Blasi, 1992, 2004). Os valores,
existem em nossa cultura, compondo dessa forma, têm uma organização
a nossa moralidade e, também, a nossa integrando-se de forma que ocupem um
identidade. Tal construção, deveras espaço hierarquicamente superior ao de
comple xa, pode proporcionar que outros valores. Assim, se um valor moral
tenhamos múltiplos juízos morais, de estiver isolado, isto é, não relacionado

Revista Brasileira de Educação v. 16 n. 46 jan.|abr. 2011 223


Viviane Potenza Guimarães Pinheiro

a outros valores, pode ser considerado as relações do sujeito com o mundo


pouco integrado e ocupará um lugar externo. Cada sistema constituinte
hierarquicamente inferior na organi- do sujeito psicológico, diante dessa
zação da personalidade. Tal teoria se perspectiva, define-se como aberto e
mostra profícua para compreender fechado ao mesmo tempo. Ele é fecha-
a organização dos valores no sistema do porque possui um funcionamento
moral dos sujeitos. com leis próprias, e ao mesmo tempo
O papel dos sentimentos nessa é aberto, pois se mantém em interação
integração e organização de valores constante com os demais sistemas. Os
no sistema moral dos sujeitos é extre- reguladores, que podem ser os senti-
mamente importante. Segundo Araújo mentos, por exemplo, funcionam como
(2003, 2007), alguns sentimentos mediadores desses sistemas.
poderiam ser reguladores morais para a Na integração dos valores e,
elaboração de juízos de valor e de con- consequentemente, na organização
dutas morais. Tal concepção advém da do sistema moral, a regulação pelos
teoria de Puig (1996), segundo a qual sentimentos tem papel fundamental.
a consciência é um regulador moral. “A Araújo (2003) descobriu por meio de
moralidade se refere essencialmente pesquisa empírica que os sentimentos
à regulação dos conflitos interpessoais de vergonha e culpa atuam notoria-
e sociais. […] a moralidade consiste mente como mediadores da elaboração
em uma forma de regular os com- de valores diante de certas situações
portamentos dos sujeitos para tornar de conflito moral. De acordo com a
possível uma convivência social ótima investigação de Araújo (2003), quando
e uma vida pessoal desejável” (p. 90). os sujeitos se sentiam envergonhados
Para Puig (1996), os reguladores ou culpados diante de uma situação,
morais são instrumentos facilitadores mostravam um juízo de valor moral.
para a confecção de juízos e para a Por exemplo, em uma circunstância
realização de condutas que permitem na qual o sujeito precisa ser corajoso
a convivência consigo mesmo e com os para pegar sua roupa em um quarto
demais, dependendo do tipo de exi- escuro, e sente medo de fazê-lo, ele
gência e da complexidade sociomoral pode sentir-se envergonhado diante
do meio. A moralidade, consoante essa dessa situação. Caso se sinta assim, o
perspectiva, forma-se por intermédio sujeito construiu o valor da coragem
de uma hierarquia de reguladores. como importante em seu sistema mo-
Entendendo a consciência como ral, pois, se caso não o tivesse feito,
elemento regulador por excelência pouco se importaria de não ter tido a
do sujeito psicológico, Araújo (2003) coragem de entrar no quarto.
afirma ser possível identificar, também, Além dessa constatação, veri-
a existência de outros reguladores, ficou-se, em uma pesquisa empírica
em outro nível de funcionamento, o realizada por nós (Pinheiro, 2009),
intrapsíquico. De acordo com ele, esses que não apenas os sentimentos podem
reguladores atuariam coordenando os atu ar como reguladores, mas também
diferentes sistemas, ou subsistemas, que a própria integração dos valores
constituintes do sujeito psicológico, ao atua como um regulador da organiza-
mesmo tempo em que coordenariam ção do sistema moral. Isso porque as

224 Revista Brasileira de Educação v. 16 n. 46 jan.|abr. 2011


Preconceito, moralidade…

interações que ocorrem nesse sistema, Educação moral para o respeito à


fruto de um continuum que envolve o su- diversidade
jeito, com seus interesses, desejos, ne-
cessidades, sentimentos e pensamen- As contribuições da psicologia
tos, e a sua relação com os conteúdos moral e o entendimento dos preconcei-
presentes na situação (Flanagan, 1993) tos como valores elucidam formas de
aproximam alguns valores e afastam trabalho com a educação moral que, em
outros. Por isso, compreendemos que nossa perspectiva, podem minimizar os
essa organização, por permitir a inte- juízos preconceituosos e ações discrimi-
gração de certos valores em detrimento natórias diante de variadas situações
de outros, pode ser configurada como de conflito.
um regulador do comparecimento dos Pretendemos, neste último item
valores no psiquismo humano. de nossa análise, tecer reflexões sobre
a educação moral e os valores precon-
Tal teoria explicaria o porquê
ceituosos para, depois, trazer como
de algumas pessoas tenderem a juízos
proposta uma perspectiva promissora
preconceituosos enquanto outras não.
de trabalho pedagógico com a mora-
Os valores, ao se integrarem, acabam
lidade que proporcione o respeito à
por rechaçar outros, com os quais não
diversidade.
possuem tanta “afinidade”. Explican-
do de outra maneira, se um sujeito Reflexões sobre educação moral e os
elabora o preconceito contra negros valores preconceituosos
e o preconceito contra homossexuais
como valores centrais, tal organização Iniciaremos a discussão sobre
psíquica fortalece juízos preconceituo- as relações entre educação moral e os
sos que podem levar o sujeito a recusar valores preconceituosos, enfocando o
outros valores em seu sistema moral, aspecto referente à falta de reflexão que
como os valores de igualdade, tolerân- está no âmago do conceito, como já visto
sobre o tipo totalitário, que proíbe toda
cia e justiça.
e qualquer reflexão. Então, se sabemos
Contudo, como vimos anterior-
que o preconceito deriva de uma falta
mente, não podemos afirmar que sem-
de reflexão diante da realidade, preci-
pre os preconceitos são elaborados como
samos, necessariamente, voltar-nos à
valor e até integrados, organizan do-se educação, posto que, principalmente
no sistema moral como valores cen- por sua via, é possível trazer os indiví-
trais. Existe uma tendência, mas a duos à consciência sobre esse mecanis-
moralidade é extremamente complexa mo. A educação, contudo, não pode ser
para que possamos generalizar os sis- alienada. Nas palavras de Adorno, “[…]
temas morais: cada sujeito tenderá a É necessário contrapor-se a uma tal
construir seus valores de forma única ausência de consciência, é preciso evitar
diante de todos os aspectos sociocultu- que as pessoas golpeiem para os lados
rais, físicos, cognitivos e afetivos que sem refletir a respeito de si próprias. A
lhes forem oferecidos em sua história educação tem sentido unicamente como
de vida e diante de cada situação que educação dirigida a uma autorreflexão
lhes for apresentada. crítica” (2000, p. 121).

Revista Brasileira de Educação v. 16 n. 46 jan.|abr. 2011 225


Viviane Potenza Guimarães Pinheiro

A educação moral, para promover a importante na educação moral em todos


autorreflexão, precisa compreender que os níveis de ensino.
os valores são oriundos de um processo de Um marco significativo para a
construção realizado pelo ser humano. E, escola na temática do preconceito e do
uma vez que os valores são construídos, respeito às diferenças foi a elaboração
e o mesmo ocorre com aqueles voltados dos Parâmetros Curriculares Nacionais: plu-
aos preconceitos, não podemos conceber ralidade cultural e orientação sexual (Brasil,
que são somente “introjetados”, como 1997), que, sendo um documento pro-
afirmava Crochík (2006). Se assim fos- posto como norte para toda a educação
se, bastaria que passássemos outros brasileira, pôde fornecer bases para
valores às crianças e não teríamos mais repensar a questão do preconceito, da
preconceitos. A construção de valores discriminação, do estigma e também da
preconceituosos é um processo que se tolerância e do respeito à diversidade.
inicia na infância e não fica apenas nela. Tal documento, que se propõe
São muitas as situações morais que se como eixo transversal no currículo bá-
colocam aos sujeitos em sua vida e que sico, mudou perspectivas de professores
os fazem refletir repetidamente, mu- e acabou por guiar materiais didáticos
dando de percepção sobre a realidade que passaram, então, não só a tomarem
e também alterando o seu sistema de uma perspectiva não discriminatória,
valores. Muitas vezes, após passar por mas também a se aprofundarem em
uma situação que lhe foi significativa, temáticas relacionadas a diversas etnias
o sujeito, mesmo adulto, acaba por e grupos que antes ou não eram retrata-
repensar seus valores, emitindo juízos dos ou o eram de forma estereotipada.
e realizando ações morais com outros As relações entre a temática da
valores. O que dizer daqueles que, diversidade humana e a ética estão
quando crianças, elaboravam juízos presentes em todo o documento, dado
preconceituosos contra grupos étnicos e que valores como a tolerância, a soli-
quando se tornaram jovens, em contato dariedade, a justiça e a igualdade são
com discursos críticos – ou, como afir- fundamentais para a construção de uma
ma Allport (1954), entram em contato identidade, em que na moralidade este-
com o conhecimento –, passam a não só jam presentes valores não relacionados
elaborar o preconceito como um contra- a preconceitos.
valor, como também a agir de forma que De acordo com os Parâmetros Curri-
o minimize? É certo que os primeiros culares Nacionais: pluralidade cultural e
anos de vida são cruciais para a for- orientação sexual, tratar a diversidade
mação de valores e seria muito melhor cultural na escola “Oferece, também,
que desde tenra idade todos os sujeitos elementos para a compreensão de
pudessem não ter acesso aos estigmas que respeitar e valorizar as diferenças
construídos pela nossa cultura, evitan- étnicas e culturais não significa aderir
do quaisquer preconceitos. Contudo, aos valores do outro, mas, sim, respeitá-
cremos que, se algum dia pretendemos -los como expressão da diversidade,
chegar a esse ponto (e se for possível respeito que é, em si, devido a todo ser
fazê-lo),2 é necessário um investimento
se encontra no cerne do processo civiliza-
tório, sempre haverá a tendência de haver
2 Se, como pontua Adorno (2000), a barbárie preconceito contra grupos minoritários.

226 Revista Brasileira de Educação v. 16 n. 46 jan.|abr. 2011


Preconceito, moralidade…

humano, por sua dignidade intrínseca, sídios para debates e discussões em


sem qualquer discriminação” (Brasil, torno de questões sociais. A criança
1997, p. 20). na escola convive com a diversidade
Nesse documento, encontramos a e poderá aprender com ela. (idem,
perspectiva de se trabalhar com a diver- p. 21)
sidade cultural na escola como meio de
atuar sobre um mecanismo de exclusão. Sabemos que outros aspectos fo-
Mesmo sendo ainda insuficiente sua ram demasiadamente importantes para
aplicação no âmbito escolar, visto que mudanças em posturas e práticas de
tal temática necessitaria também ser educadores em todo Brasil. No entan-
abordada em outras instâncias, é im- to, não podemos deixar de considerar
perativo do trabalho educativo voltar-se a força que esse documento teve para
para a cidadania, pois a discriminação induzir alterações de perspectivas nessa
se constitui em um entrave para a sua área, uma vez que introduziu a temá-
plenitude. Destaca-se também no docu- tica da pluralidade cultural no âmbito
mento, como uma situação de aprendi- de uma proposta curricular nacional
zagem profícua para a minimização de (Canen, 2000).
atitudes discriminatórias, a convivência Embora saibamos dos avanços
com as diferenças na escola. que a introdução da temática de forma
mais direta no currículo acarretou,
Mudar mentalidades, superar o temos consciência, como nos coloca
preconceito e combater atitudes Canen (2000), de que há um longo
discriminatórias são finalidades caminho a trilhar para a construção de
que envolvem lidar com valores de um trabalho que busque a compreen-
reconhecimento e respeito mútuo, o são do hibridismo e da dinamicidade
que é tarefa para a sociedade como culturais, lançando um olhar crítico e
um todo. A escola tem um papel desafiador sobre o preconceito. Além
crucial a desempenhar nesse pro- disso, reconhece-se que o preconceito
cesso. Em primeiro lugar, porque é está presente em nossa sociedade e,
o espaço em que pode se dar a con- claramente, em nossas escolas, mesmo
vivência entre crianças de origens que não seja percebido como tal (Itani,
e nível socioeconômico diferentes, 1998; Viana; Ridenti, 1998). Lembra-
com costumes e dogmas religiosos mos que o preconceito é uma disposição
diferentes daqueles que cada uma psicológica inconsciente e não reflexiva
conhece, com visões de mundo di- e, destarte, necessita para sua supera-
versas daquela que compartilha em ção o reconhecimento, a elucidação e a
família. Em segundo, porque é um autorreflexão constantes por parte de
dos lugares onde são ensinadas as todos os envolvidos no processo edu-
regras do espaço público para o con- cativo.
vívio democrático com a diferença. A educação moral, entendendo a
Em terceiro lugar, porque a escola construção de valores, morais ou não,
apresenta à criança conhecimen- como um processo ativo e dinâmico rea-
tos sistematizados sobre o País e o lizado pelo sujeito, não pode reduzir-se
mundo, e aí a realidade plural de a “passar mensagens” sem a autorre-
um país como o Brasil fornece sub- flexão. Em nosso entender, o trabalho

Revista Brasileira de Educação v. 16 n. 46 jan.|abr. 2011 227


Viviane Potenza Guimarães Pinheiro

com a moralidade precisa assumir uma timentos daqueles que sofrem com tais
perspectiva reflexiva, em que os alunos atitudes. Uma formação moral visaria
pensem continuamente sobre aspectos à construção de valores como os de
importantes de nossa sociedade, princi- tolerância, igualdade, justiça, solidarie-
palmente sobre aqueles que se dirigem dade, entre outros.
aos preconceitos de todos os tipos. Nesse sentido, acreditamos em
Nesse sentido, seria necessário in- uma educação moral que não se circuns-
verter a ordem na escola que privilegia creva apenas aos direitos e deveres dos
o princípio de heteronomia, em que os sujeitos, como regras que pairam sobre
alunos e alunas se veem dependentes suas cabeças. Em nossa concepção,
de mandamentos e de normas que não a educação moral precisa abordar os
são assumidas pela sua própria razão. valores existentes na sociedade, sendo
Faz-se mister dar um maior poder de re- morais ou não, e de forma crítica anali-
flexão a todos os envolvidos no processo sar a forma como tais valores são incor-
educativo, para que possam, pelas suas porados em nossa cultura e construídos
vivências, criar maior autonomia para pelos indivíduos. Trabalhar apenas com
repensar mecanismos que estão postos regras significa desprezar toda a elabo-
culturalmente na escola e fora dela. ração humana sobre a moralidade, não
Uma perspectiva importante para atingindo efetivamente os sujeitos com
compreendermos a educação moral seus pensamentos, sentimentos, desejos
por esse viés está nos escritos de Puig e valores.
(1996). Para esse autor, sendo a educa- Com o objetivo de minimizar os
ção moral ancorada em princípios ou valores preconceituosos, a escola de-
padrões de conduta que regulam as re- veria voltar-se, principalmente, para a
lações dos seres humanos com o mundo reflexão e construção do valor de tolerân-
em que vivem, ela deve converter-se em cia às diferenças. Segundo Itani (1998),
âmbito de reflexão individual e coletiva “do lado da atitude de preconceito, que
que permita elaborar, racionalmente e é a noção formada sobre o outro, há a
autonomamente, princípios gerais de intolerância, que é a negação do outro
valor; princípios que ajudem o indivíduo como tal” (p. 131). A intolerância é
a se defrontar criticamente com reali- construída e em nosso cotidiano, como
dades como a violência, a tortura ou a enfatiza a autora, compreendida como
guerra. De forma específica, para esse práticas de defesa contra nossa fragili-
autor, a educação moral deve ajudar a dade diante do outro.
analisar criticamente a realidade coti-
diana e as normas sociomorais vigentes, A tolerância com o outro, sim,
de modo que contribua para idealizar é criada, é construída. Se esse ou-
formas mais justas e adequadas de tro participa da mesma dimensão
convivência. espa ço-temporal que eu, posso
Os valores preconceituosos, diri- construir uma restrição institucio-
gidos a diversos grupos que sofrem com nal dessa participação desse outro.
estigmas, dessa forma, precisam ser Essa construção visa evitar a todo
abordados na escola, levando os alunos custo a vivência dessa alteridade
e alunas a uma maior consciência dos radical, numa tentativa de gerir o
mecanismos de discriminação e dos sen- conflito e, notadamente, de admi-

228 Revista Brasileira de Educação v. 16 n. 46 jan.|abr. 2011


Preconceito, moralidade…

nistrar o risco de ser alterado por podemos nos esquecer, no trabalho de


esse outro. (idem, ibidem) educação moral, que os valores se inte-
gram, assumindo um papel central ou
A construção da tolerância como periférico no sistema moral dos sujeitos.
valor e a elevação de uma tendência O valor de tolerância é bastante compa-
para que as ações também sejam tole- tível com o de respeito ao próximo, o de
rantes são aprendizados que se reali- solidariedade, o de generosidade, entre
zam no cotidiano do processo educativo
outros afins. Em contrapartida, é difícil
entre diferentes e entre iguais, em um
pensar em uma aproximação entre a
mesmo nível. Nas palavras de Itani,
tolerância e valores não morais como a
Individualmente, a tolerância é intolerância, o desrespeito, o egoísmo.
um exercício da paciência com o Na verdade, são opostos. E existe uma
outro, pelo qual se sofre ou dissi- grande tendência de, uma vez que se
mula a diferença. Requer paciência elabore a tolerância, que se rechacem
na medida em que é um exercício esses outros valores.
difícil. Primeiro, porque isso não Essas considerações são deveras
significa neutralidade em relação importantes para que se pense em uma
ao outro. Segundo, porque o outro educação moral que atenda o respeito à
é efetivamente diferente de mim… diversidade. Com base em um trabalho
Mas o exercício de admitir o outro reflexivo e crítico, os sujeitos podem
no mesmo nível é também o de chegar a conclusões fundamentais sobre
afirmar o outro diferente de mim. a importância do respeito ao próximo
Nessa experiência de tolerância, é para uma convivência harmoniosa, que
preciso compreender o meu espaço traga bons resultados não apenas para o
psicoterritorial diferente do espaço âmbito individual, com a minimização
desse outro, afirmando, por conse- dos conflitos inter e intrapessoais, mas
guinte, continuamente, a própria também no âmbito social, envolvendo
identidade. E, portanto, saudável. não apenas a escola, mas também toda
(idem, p. 133) a sociedade.

A escola, como espaço para con- Uma proposta de educação moral para o
vivência entre diferentes, pode propor- respeito à diversidade: a perspectiva da
cionar de forma reflexiva um trabalho
resolução de conflitos
concreto para a construção do valor
de tolerância, implicando “a liberdade Não nos sentimos à vontade com
de existência do outro, que considero a ideia de formular receitas ou dar in-
diferente, o direito desse outro ser dicações finais sobre a educação moral.
diferente de mim, seja na maneira de Acreditamos que o conhecimento e a
pensar, de agir, de crer e, enfim, da consequente reflexão por parte dos do-
liberdade de ser” (idem, p. 134). centes são, na verdade, o imperioso do
Trabalhar com o valor de tole- trabalho educativo, visto que são sem-
rância, em nossa perspectiva, signi- pre necessárias adequações ao contexto,
ficaria envolver valores outros e suas incluindo não apenas a comunidade
possibilidades de integração, pelas suas escolar, como também a própria práxis
“similitudes”. Explicando melhor, não pedagógica de cada professor.

Revista Brasileira de Educação v. 16 n. 46 jan.|abr. 2011 229


Viviane Potenza Guimarães Pinheiro

Contudo, acreditamos ser possí- rar as variáveis que são pertinentes


vel, em virtude do embasamento teórico das que não são (delimitar o que é
que abordamos nas páginas anteriores, importante e o que não é), enfim,
dar indicações sobre uma possibilidade analisar situações, expor adequada-
de trabalho com a educação moral que, mente o problema para ver em que
em nosso entender, possa proporcio- consiste e buscar soluções que per-
nar um maior respeito à diversidade. mitam resolvê-lo da maneira mais
Entre as possibilidades que se abrem, satisfatória possível para as pessoas
destacamos a perspectiva da resolução de envolvidas. Tudo isso requer uma
conflitos que, acreditamos, pode abarcar aprendizagem que, por se tratar de
o aspecto reflexivo e crítico que são fun- temas nos quais os(as) alunos(as)
damentais para a construção de valores. estão emotivamente envolvidos,
Em primeiro lugar, apontamos a se realiza com uma facilidade sur-
questão dos conflitos interpessoais que preendente. (2002, p. 52)
cotidianamente ocorrem na escola.
Muitas vezes, percebemos que as ins- Assim como as autoras, também
tituições educativas tendem a ignorar apostamos na resolução de conflitos
os conflitos pessoais e sociais vividos como aspecto fundamental para a edu-
pelos sujeitos. Em nosso entender, ao cação moral e, especificamente, para a
contrário de ignorar, seria fundamental construção de valores voltados para a
conceder um lugar relevante às relações tolerância, equidade, justiça e solida-
interpessoais. Assim, como indicam riedade. No entanto, vale ressaltar que,
Mo reno e Sastre (2002), faz-se neces- apesar de bastante difundida em todo o
sário conceber os conflitos interpessoais mundo, a maioria das propostas de re-
como um conteúdo essencial para a for- solução de conflitos, tal como sinalizou
mação psicológica e social dos seres hu- Schnitman (2003), utiliza arbitragens,
manos. A resolução de conflitos, nesse mediações, negociações e terapias,
sentido, mostra-se como um conteúdo baseando-se em modelos tradicionais
importante para uma aprendizagem que parecem atuar mais sobre objetivos
mais próxima do contexto real em que específicos e práticos e pautarem-se em
os sujeitos atuam. pressupostos dicotômicos de ganhar ou
Nas palavras de Moreno e Sastre, perder nas resoluções.
Em outra direção, pensamos na
Para resolver um conflito de ma- resolução de conflitos como uma das
neira satisfatória, é preciso tentar formas de construção de valores na
descentrar-se do próprio ponto de escola que, com base na comunicação
vista para contemplar simultane- e em práticas discursivas e simbólicas,
amente outro ou outros pontos de possam promover diálogos transfor-
vista diferentes e, às vezes, opostos mativos. Tais propostas rechaçam a
e elaborar fusões criativas entre ideia de que em um conflito sempre há
todos eles, o que implica operações ganhadores e perdedores e defendem a
de reciprocidade e síntese entre construção de interesses comuns e uma
contrários. Mas, para poder fazer coparticipação responsável. Incremen-
isto, é preciso organizar fatos e tando o diálogo e a participação coletiva
ordená-los de maneira casual, sepa- em decisões e acordos participativos,

230 Revista Brasileira de Educação v. 16 n. 46 jan.|abr. 2011


Preconceito, moralidade…

permitem aumentar a compreensão, o imaginando-se como se lá estivessem. A


respeito e a construção de ações coor- eles seriam proporcionados momentos
denadas que considerem as diferenças. para refletirem coletivamente sobre as
Entendemos que para que tal causas e consequências dos conflitos
trabalho seja efetivado é necessário morais, sobre os sentimentos e pensa-
reverter algumas tendências das esco- mentos dos envolvidos, bem como sobre
las de não dar voz aos alunos e alunas ações adequadas para agir diante deles.
quando estão envolvidos em conflitos. A fim de elucidar tal proposta,
Pelo contrário, seria importante que a vejamos o exemplo relacionado a um
escola promovesse momentos de trocas conflito envolvendo valores preconcei-
entre todos os envolvidos no processo tuosos em relação às mulheres. Pode-se
educativo para discutir, pelo ponto de mostrar uma imagem de um homem
vista de cada um, os conflitos que ali agredindo uma mulher. As perguntas a
ocorrem. Dessa forma, seria possível a serem feitas poderiam ser as seguintes:
descentralização de si mesmo para uma O que aconteceu antes desse fato? O
compreensão reflexiva sobre os valores que a mulher pode estar sentindo? E o
de cada sujeito. homem? O que cada um deles estava
Nesse processo de reflexão, cer- pensando? O que pode acontecer depois
tamente haverá uma tendência a desse fato? Qual seria a melhor forma
discutir valores, muitas vezes aqueles de resolver esse conflito?
referentes ao preconceito, expondo a Claro está que, nessa dinâmica,
visão dos estigmatizados e daqueles o professor deve compreender o seu
que discriminam. Além disso, poderá papel de mediador. As respostas não
haver a oportunidade de fazer emergir estarão certas ou erradas na perspec-
os conflitos, expondo os sentimentos de tiva do professor, mas serão discutidas
ambos os lados e resultando em formas coletivamente. Muitos valores, inclu-
menos tolerantes de resolvê-los. sive os preconceituosos (“ela gosta de
Contudo, consideramos que, apanhar”, por exemplo), poderiam, em
para além desse trabalho de elucidar uma atividade como essa, ser revelados
reflexivamente os conflitos cotidianos, e, talvez, modificados com a força da
é necessário buscar estratégias de reflexão e da crítica do grupo.
educação moral que se voltem para a Dessa maneira, em nosso enten-
tolerância e o respeito às diferenças. der, esse trabalho poderia possibilitar
Tais estratégias consistiriam em sequ- uma maior compreensão por parte dos
ências de atividades, projetos e outras educandos sobre os valores, morais ou
modalidades educativas voltadas para a não, e sobre a importância de refletir
reflexão sobre os valores, na perspectiva e analisar as situações que se lhes
da resolução de conflitos. Explicando interpõem cotidianamente, inclusive
melhor, seriam atividades planejadas aquelas que contêm alguma forma de
com o fim de discutir os conflitos mo- preconceito.
rais, como enfatizam Moreno e Sastre Ademais, além de priorizar esse
(2002). Nessas atividades, os alunos trabalho em educação moral na escola,
seriam levados a refletir sobre os valores na perspectiva da resolução de confli-
de uma forma consciente, sem estarem tos, compreendemos que, para levar os
envolvidos na própria situação, mas alunos e alunas à construção de valores

Revista Brasileira de Educação v. 16 n. 46 jan.|abr. 2011 231


Viviane Potenza Guimarães Pinheiro

que propiciem formas de respeito à São Paulo: Companhia das Letras, 1989.
diversidade, não se pode restringir-se p. 488-511.
às diferenças dentro da escola, mas ARAÚJO, Ulisses Ferreira. Conto de escola:
também buscar a reflexão sobre os a vergonha como um regulador moral. São
mecanismos de preconceito e exclu- Paulo: Moderna/ Campinas: Editora da
são existentes na sociedade. A escola UNICAMP, 2003.
precisa encontrar formas de cumprir o . A construção social e psicológica
princípio constitucional de igualdade, o dos valores. In: ARAÚJO, Ulisses Ferreira;
que exige sensibilidade dos educadores PUIG, Josep María; ARANTES, Valéria
para a questão da diversidade cultural e Amorim (Orgs.). Educação e valores: pontos
ações decididas em relação aos proble- e contrapontos. São Paulo: Summus, 2007.
mas gerados pela injustiça social. ARAÚJO, Ulisses Ferreira; PUIG, Josep
Talvez esse seja o desafio principal María; ARANTES, Valéria Amorim (Orgs.).
das escolas, pois, em tempos de uma Educação e valores: pontos e contrapontos.
sociedade em que mecanismos de pre- São Paulo: Summus, 2007.
conceito ainda permanecem estáveis, BLASI, Augusto. The development of
mobilizar os educadores para destrin- identity: some implications for moral func-
char formas de promover uma educação tioning. In: NOAM, Gil; WREN, Thomas
moral voltada para o respeito à diver- (Orgs.). The moral self. Cambridge: The MIT
sidade significaria, antes, realizar um Press, 1992. p. 99-122.
trabalho de reflexão com os educadores . Moral functioning: moral un-
para que se apercebam das questões que derstanding and personality. In: LAPSLEY,
impedem a nossa sociedade de superar Daniel K.; NARVAEZ, Darcia. Moral develop-
os valores preconceituosos. No entanto, ment, self and identity. Marhwash, New Jersey;
a psicologia moral nos ensina que isso é London: Lawrence Eerlbaum Associates
possível, já que todos podem mudar seus Publishers, 2004.
valores mediante as situações que se lhes BRASIL. Secretaria de Educação Funda-
apresentem e as consequentes reflexões mental. Parâmetros Curriculares Nacionais:
que elas proporcionam. A força para a pluralidade cultural e orientação sexual.
mudança está na educação. E isso não é Brasília: MEC/ SEF, 1997.
um aforismo, isso é a realidade. CANEN, Ana. Educação multicultural,
identidade nacional e pluralidade cultural:
Referências bibliográficas tensões e implicações curriculares. Cadernos
de Pesquisa, n. 111, p. 135-149, dez. 2000.
ADORNO, Theodor. Educação após Aus- CROCHÍK, José Léon. Preconceito, indivíduo
chwitz. In: ADORNO, Theodor. Educação e e cultura. São Paulo: Casa do Psicólogo,
emancipação. 3. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2006.
2000. p. 119-138. DAMON, William. Greater expectations. San
.; HORKHEIMER, Max. Precon- Francisco: The Free Press, 1995.
ceito. In: ADORNO, Theodor; HORKHEI- FLANAGAN, Owen. Varieties of moral per-
MER, Max. Temas básicos de sociologia. São sonality: ethics and psychological realism.
Paulo: Cultrix, 1973. p. 172-183. Harvard University Press, 1993.
ALLPORT, Gordon. The nature of prejudice. GOFFMAN, Erving. Estigma: notas sobre
Boston: The Beacon Press, 1954. a manipulação da identidade deteriorada.
ARENDT, Hanna. As origens do totalitarismo. 4.  ed. Rio de Janeiro: Guanabara, 1988.

232 Revista Brasileira de Educação v. 16 n. 46 jan.|abr. 2011


Preconceito, moralidade…

ITANI, Alice. Vivendo o preconceito em sala preconceito. In: AQUINO, Júlio Groppa
de aula. In: AQUINO, Júlio Groppa (Org.). (Org.). Diferenças e preconceito na escola: al-
Diferenças e preconceito na escola: alternativas ternativas teóricas e práticas. São Paulo:
teóricas e práticas. São Paulo: Summus, Summus, 1998.
1998.
MORENO, Montserrat; SASTRE, Genove-
va. Resolução de conflitos e aprendizagem emocio- VIVIANE POTENZA GUIMARÃES
nal: gênero e transversalidade. São Paulo: PINHEIRO, mestre em psicologia e edu-
Editora Moderna, 2002. cação pela Universidade de São Paulo
PINHEIRO, Viviane Potenza Guimarães. A (USP), é atualmente doutoranda nessa
generosidade e os sentimentos morais: um estudo mesma área e instituição. No momento,
exploratório na perspectiva dos modelos dedica-se à pesquisa Aproximações entre
organizadores do pensamento. Dissertação moral e self: um estudo da integração e
(Mestrado em Psicologia e Educação) − regulação por valores e sentimentos.
Faculdade de Educação da Universidade de Atua na área de educação, tendo partici-
São Paulo (FEUSP), São Paulo, 2009. pado de vários projetos em instituições
PUIG, Josep María. A construção da personali- públicas e privadas.
dade moral. São Paulo: Ática, 1996. E-mail: viviane@escolapinheiro.com.br
SCHNITMAN, Dora (Org.). Novos paradig-
mas na resolução de conflito. São Paulo: Artes
Médicas, 2003.
Recebido em outubro de 2010
VIANA, Cláudia; RIDENTI, Sandra. Rela-
ções de gênero e escola: das diferenças ao Aprovado em outubro de 2010

Revista Brasileira de Educação v. 16 n. 46 jan.|abr. 2011 233

Vous aimerez peut-être aussi