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Durkheim aponta que as definições para educação têm uma grande falha, que
passa, que incide no facto de algo que é considerado correcto hoje, não o ser amanhã.
Ou seja, tal como o autor afirma, existe a utopia de que existe uma educação ideal, e
como exemplo, cita as educações efectuadas durante a Antiguidade Clássica, Idade
Média, Renascimento e na própria actualidade do autor. Outro ponto que aborda é o
facto de a educação, imposta à criança, ser influenciada, não pelo indivíduo, mas pela
sociedade, revelando aqui o primado do social (que obriga o indivíduo a ter em conta
outros interesses que não os dele – nomeadamente os da sociedade em que está inserido
-, obriga-nos a dominar as nossas paixões e o instinto, através de leis – estas
materializam-se através da educação) sobre o individual (que na sua génese é egoísta,
apenas interessa ao indivíduo o seu bem-estar). E esta submissão é benéfica e do
interesse do indivíduo, visto que ela é o que de melhor existe no Homem, ao que
Durkheim refere: “… o homem não é humano senão porque vive em sociedade.”
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Uma sociedade é composta por instituições, logo as instituições têm muita
influência sobre a construção de educação (através da qual se inculca nos indivíduos
sentimentos, ideais e práticas), das quais se destacam a religião, política, ciência e
economia. Durante a educação nós não conseguimos alterar as normas que nos são
impostas, no entanto, podemos entrar em contacto com elas, mediante o conhecimento
delas através da observação.
Pode-se afirmar, então, que o fim último da educação é o de preparar a criança para
o seu futuro, de forma a poder comportar-se de acordo com as necessidades sociais. Esta
é a que trás a coesão necessária que é exigida na cooperação, e por consequência na
vida social. Esta educação apenas satisfaz as necessidades da sociedade, indica o autor.
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domínio quando o indivíduo não tem uma família. No entanto visto que e educação é
relativa ao social, o Estado tem de ter um especial interesse por tudo o que toca
relativamente ao que é social. E com esta ideia o autor não defende que haja um
monopólio do ensino por parte do Estado. E aqui se trata da questão do educador,
aquele, que a meu ver tem uma extrema importância neste processo. O Estado é o seu
juiz, ou seja, é o Estado quem coloca, através dos seus moldes, os educadores que lhe
mais satisfaçam as necessidades. Daí Durkheim afirmar que uma escola não pode ter a
liberdade de criar um sistema de educação que vá contras as normas de uma sociedade
em que está inserida, criando assim um ser anti-social, deslocado quanto ao tempo e
época em que vive.
Neste momento o autor vai determinar qual o caminho para atingir esse tal ideal
de educação. Ele afirma que a educação não retira ninguém de lugar algum, como
acreditavam Locke e Helvetios. Referente a esta temática expõe que quem tem essa
capacidade não é a educação, e muito menos o educador, mas o próprio indivíduo.
Através do quê? Através de predisposições que estão presentes no indivíduo, mais
precisamente, na criança. Estes podem ser instintos (estes desdobram-se em vários: o
instinto de conservação, no qual o indivíduo tenazmente tenta fugir a qualquer forma de
sofrimento ou morte; paternal ou maternal, ou sexual), os quais o autor define como
sendo um “sistema de movimentos determinados, sempre idênticos”, ou seja, são
propensões para certas direcções. Mas nem sempre são idênticos, os indivíduos adaptam
esses movimentos consoante as circunstâncias em que se encontram. O autor contesta
que a propensão para o suicídio, ou o crime não é hereditário, o que poderá ser
hereditário é a capacidade imaginativa e de atenção, ou seja, são aquelas que mais se
repetem de forma igualitária.
Durkheim aponta duas características que colocam os educandos sobre a sua influência:
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propensão que uma criança tem para imitar os adultos, que são importantes para elas,
vemos que a nossa responsabilidade é a de termos o zelo constante de sermos
cuidadosos no uso das palavras que empregamos, nas atitudes e comportamentos que
adoptamos. Será senso comum afirmar que se o modelo que a criança tem é o de um pai
violento, não terá, a criança, probabilidades de o ser também? Eu acredito que sim. O
segundo ponto refere-se à autoridade que é exigida do educador face ao educando.
“Os estudos devem recair sobre factos que conheçamos, que se realizem
e sejam passíveis de observação, […], define-se pelo seu objecto de
estudo”
“É preciso que esses factos apresentem entre si homogeneidade
suficiente para que possam ser classificados numa mesma categoria…”
“A ciência estuda os factos para conhece-los, e tão-somente para
conhece-los, de modo absolutamente desinteressado.”
O autor refere que as teorias sobre pedagogia são todas de carácter especulativo.
Ou seja elas não têm como objectivo descrever ou explicar, mas o de dizer como deve
ser. A pedagogia passaria por ser assim uma teoria prática, ou seja, ela reflecte os
sistemas de educação.
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No capítulo III, Pedagogia e Sociologia, vai-se de encontro ao carácter social da
educação, à importância da acção educativa e aos fins e meios da educação.
O carácter social da educação (o autor volta a recorrer às ideias que Kant, Mill, Herbart e
Spencer) relacionado com a tentativa de desenvolver no indivíduo a máxima perfeição
possível, o autor refere que, para os teóricos, eles partem do pressuposto de que existe
educação, tese, esta que Durkheim defende a inexistência de um ideal de educação (pois
admitir que é possível atingir a perfeição das capacidades humanas através da educação); eles
incorrem do erro de que as propriedades da natureza humanas estão de, certa forma,
fechadas e a esta afirmação, Durkheim defende que desta forma qual seria o papel do
educador? Absolutamente nenhum. E como é de comum conhecimento, o educador tem um
papel extremamente importante na educação das novas gerações. Os autores que acreditam
existir uma educação capaz de desenvolver a perfeição a que um indivíduo possa aceder, ou
que possa trazer a possibilidade de fomentar a felicidade ao próprio como aos outros
indivíduos que possam entrar em contacto com ele, pecam pela contradição que a História nos
revela, defende Durkheim, ou seja, este tipo de educação nunca foi colocado em prática, pelo
contrário, observa-se claramente que todo e qualquer tipo de educação sempre teve como
objectivo adaptar o indivíduo iniciante numa determinada sociedade, para poder suprir as
necessidades sociais (que na sua génese são o que de melhor há para o indivíduo).
Observemos o caso das sociedades totalitárias precedentes (e que causaram o início da
mesma) à II Guerra Mundial. Estas sociedades eram alicerçadas numa obediência total e cega
ao líder nacional, eram de carácter belicista e agressivas para com os seus vizinhos de ideais
diferentes. Resumindo eram uma sociedade voltada para o militarismo (análogas ao Império
Romano). O seu objectivo educacional era o de formar indivíduos que fossem
“sentimentalmente frios” e que tivessem como principal valor a obediência aos interesses
nacionais. Este exemplo é o que melhor poderá ilustrar que as suas teses estavam erradas,
dando mais plausibilidade aos argumentos de Durkheim: “A Educação nunca é uma
atividade puramente intencional, os modos de relação, a dinâmica afetiva da estrutura
familiar, a maneira como a criança se situa nessa trama e a submissão ou resistência que
a ela se opõe aparecem como coordenadas cuja importância é mais e mais considerada
na socialização. Assim, as informações recebidas serão aprendidas de forma passiva se
não questionadas ou refutadas, o que dependerá dessa ponte necessária para a
interpretação das formas simbólicas transmitidas.” (In
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http://www.efdeportes.com/efd135/reflexoes-sobre-corpo-na-educacao-fisica.htm, 30-11-
2010, 11:33h).
Após esta “viagem” pelos argumentos de Durkheim, penso que está na altura
de retomar os seus principais argumentos. A educação á a socialização da criança,
educação é toda e qualquer influência que as gerações mais antigas exercem sobre as
gerações mais novas, educação como um produto social educação, proximidade entre as
estruturas sociais e a educação e que educação não é sinónimo de pedagogia.
O autor conclui o seu livro afirmando que o estudo social da educação é algo
relacionado com a época em que viveu, ou seja, não teve a sua origem em tempos
anteriores a si. Que os planos de educação devem, sempre, acompanhar todas as
transformações sociais, ou seja, uma actualização constante dos planos relativos á
educação, sem cair no erro de ter um carácter futurista, ou que olhe apenas para o
passado, deve, igualmente, ser moderada. De que forma? Analisando a sociedade (pois
não é ao virarmo-nos para nós mesmos, segundo Durkheim) e observar quais as suas
necessidades, se as suas necessidades são as de formar cidadãos, então os planos de
educação deverão incidir sobre isso mesmo, se a educação é apontada para o
conhecimento e inovação, que se crie nas gerações mais recentes essa propensão às
actividades relativas à produção de conhecimento e à criação de coisas novas e
inovadoras, se, no entanto, as necessidades se relacionarem com o facto de uma
determinada sociedade ser predominantemente agrícola, que se crie gerações
agricultoras.
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Durkheim dedica as últimas páginas do seu livro afirmando que cabe à
sociologia para o educador, para o autor, deveria ser nela que se apoiaria o “corpo de
ideias directrizes que sejam a alma e o corpo do nosso labor, […], tal condição é
indispensável à proficuidade de toda e qualquer acção educativa.”