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Ivanildo Henrique Vieira

Antropologia – Turma 2012

Cultura e Poder

Resenha: A Sociedade contra o Estado – CLASTRES, Pierre

Repensar as formas de organização política dos chamados “povos primitivos”,

tentando fugir do fantasma do evolucionismo que assombra nossa disciplina,

este é o desafio que se propõe Clastres em seu artigo.

Ao decorrer do texto Clastres nos esmiúça que a pretensa associação

inquebrável entre economia e política se mostra como um entrave

epistemológico mesmo na questão imaginativa dos pesquisadores.

Apesar de usar denominações já a muito superadas em nosso meio

(compreensível e aceitável se analisarmos pelo contexto em que foi escrito) o

artigo nos traz uma instigante reflexão, mesmo uma provocação. Como viviam

essa primeiras “sociedades da abundância” (Sahlins apud) sem a utilização de

qualquer meio de coerção sobre o indivíduo (policia, exercito, prisão)?

Mesmo utilizando de fracas bases etnográficas (ao menos neste escrito) a

escrita de Pierre é muito fluida e através de forte argumentação nos apresenta


a “política primitiva”, onde, segundo reflexões posteriores de Eduardo Viveiros

de Castro (2011, pp. 322,23), cada indivíduo pode ser entendido como a

própria sociedade contra o Estado, cada indivíduo é embaixador de si mesmo,

jamais outorga o direito de coerção a outrem.

Qualquer tentativa portanto do “chefe” indígena de exercer de fato a chefia

pode ser contestado pela sociedade, seja através do abandono da mesma a

esse “chefe” seja pela simples desobediência. O chefe indígena tem como

único “poder” (no sentido foucaultiano) a palavra, mais do que isso, é fato de

que o chefe tem o “dever” da palavra como mediador entre possíveis

desencontros ou confrontos dentro da comunidade, entretanto nenhum dos

indivíduos tem o dever de escutar e menos ainda seguir qualquer comando.

Ainda se tratando das comunidades indígenas ele escreve sobre a ideia de

economias de subsistência, mas não como falta, mas sim uma subsistência por

escolha, por uma moral interna, cultural se quisermos, que levaria os sujeitos a

adquirirem essa postura, não por falta de tecnologia ou capacidade inventiva,

se houvesse uma falta, atesta Clastres, essa falta era da necessidade de

produção de excedentes, uma vez que com o pouco trabalho realizado, já

conseguiam suprir com abundância as suas demandas vide os relatos

quinhentistas dos belos índios, boa saúde das numerosas crianças e variedade

alimentícia sem igual.

Já na parte final do artigo, Clastres parece flertar com um determinismo

demográfico para tentar explicar o profetismo que surgiu junto ao crescimento

populacional e consequente aglomeração de pessoas em aldeias maiores.

Segundo ele, o aumento do contingente demográfico levaria a sociedade

gestar em seu seio os profetas, esses que exortavam o abandono dos grandes
conglomerados de pessoas para a busca nomade da Terra Sem Mal, o paraíso

terrestre que deveria ser perseguido, evitando a “sedentarização”. Estes

profetas surgem como os “anti chefes”, ou se quiser, aqueles que pregavam a

não acumulação do poder que consequentemente culminaria no Estado,

obviamente não com essas palavras, mas que conseguiriam mobilizar grande

quantidade de pessoas em sua busca nômade pelo Ivy Marãe'y.

Entretanto Clastres nos deixa uma (ou mais) pergunta em aberto, seriam esses

profetas entusiastas do nomadismo, o gérmen do que poderia vir a ser o

Estado, uma vez que sua palavra profética poderia estar dissimulando ordens?

Seria necessário obviamente leituras mais aprofundadas sobre a obra.

Para uma sociedade como a “ocidental” já viciada na servidão, como muito

bem expõe Etienne de la Boetié, esse tipo de pensamento se apresenta como

inviável, sequer imaginável. Como bem disse o professor Spensy Pimentel em

uma aula, o povo “ocidental” sofre de falta de imaginação política, no que

infelizmente terei que concordar.

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