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Cultura Brasileira

Material Teórico
Cultura, Autoritarismo e Modernização da Sociedade Brasileira

Responsável pelo Conteúdo:


Prof. Dr. João Elias Nery

Revisão Técnica:
Profa. Dra. Vivian Fiori

Revisão Textual:
Prof. Ms. Claudio Brites
Cultura, Autoritarismo e Modernização
da Sociedade Brasileira

• Introdução
• Contextualizando o Período
• Cultura e Política: Conflito e Crise
• Cultura de Resistência ao Regime: As Ideias Fora do Lugar
• Repressão Política e Censura à Cultura
• A Era da Televisão

OBJETIVO DE APRENDIZADO
· Evidenciar a cultura brasileira em tempos de censura militar.
· Discutir o papel da televisão brasileira nesse período.
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem
aproveitado e haja uma maior aplicabilidade na sua
formação acadêmica e atuação profissional, siga
algumas recomendações básicas:
Conserve seu
material e local de
estudos sempre
organizados.
Aproveite as
Procure manter indicações
contato com seus de Material
colegas e tutores Complementar.
para trocar ideias!
Determine um Isso amplia a
horário fixo aprendizagem.
para estudar.

Mantenha o foco!
Evite se distrair com
as redes sociais.

Seja original!
Nunca plagie
trabalhos.

Não se esqueça
de se alimentar
Assim: e se manter
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte hidratado.
da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e
horário fixos como o seu “momento do estudo”.

Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar, lembre-se de que uma


alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo.

No material de cada Unidade, há leituras indicadas. Entre elas: artigos científicos, livros, vídeos e
sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você também
encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua
interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados.

Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discussão,
pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato
com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e aprendizagem.
UNIDADE Cultura, Autoritarismo e Modernização da Sociedade Brasileira

Introdução
Hoje você é quem manda, falou tá falado, não tem discussão, não. A minha
gente hoje anda falando de lado e olhando pro chão (Chico Buarque).

Nesta unidade, trataremos da cultura e das transformações da sociedade brasi-


leira no período dos anos 1960, dando ênfase ao período autoritário dos gover-
nos militares.

Contextualizando o Período
Desde os anos 1930, houve um conjunto de mudanças que ocorreram na
sociedade brasileira que a partir daquela década transformou o panorama das
culturas no país. As representações da brasilidade foram profundamente alteradas
em função das inovações pelas quais passou a sociedade.

A urbanização e industrialização de parte do país, bem como fatos marcantes no


cenário mundial – como duas guerras mundiais e a Guerra Fria – colocaram para
os brasileiros a necessidade de se inserir em novas realidades e oferecer respostas
a novas questões que se apresentavam.

O campo da cultura refletiu tais modificações de duas maneiras: por vezes


anunciando-as, como nos procedimentos de vanguarda; e, em outro registro, as
culturas demandaram maior tempo para assimilar as transformações que ocorreram
em outros campos, como o da produção industrial e das relações sociais.

Além disso, é preciso assinalar que o surgimento e a progressiva implantação


dos meios de comunicação de massas trouxeram novos desafios ao campo cultural,
que via mudanças tecnológicas modificarem procedimentos e cânones.

Uma nova cultura surgia e atraía para a sua estrutura antigos produtores culturais
e artistas das artes tradicionais. A cultura e as artes nunca mais seriam as mesmas.

Melhor ou pior?

Diferente, como expressou o filósofo Walter Benjamin na análise comparativa


que realizou tendo como objetos a arte tradicional e a arte tecnológica. Como esse
autor demonstrou, nos anos 1930, já não era mais possível pensar a arte a partir
dos valores e procedimentos anteriores ao surgimento dos meios de comunicação
de massa e formas de expressão tecnológicas como cinema e fotografia.

Os anos 1960 começavam com radicalização na política e nas artes. O mundo da


Guerra Fria atingia seus pontos mais intensos de conflito, incluindo movimentos de
independência na África, revoluções socialistas em diversas partes do globo e busca
incessante de novas tecnologias para uso militar e para o cotidiano das pessoas.

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No Brasil, iniciamos a década de 1960 com Jânio Quadros na Presidência da
República, Brasília como capital da modernidade e visíveis antagonismos na área
política, herdados do período anterior.

Figura 1
Fonte: Wikimedia Commons

O fantasma de um golpe civil-militar rondava o país desde 1954. A oposição en-


tre o moderno e o arcaico, o antigo e o novo, o nacional e o estrangeiro teriam, nos
primeiros anos da década, grande presença nos debates acerca dos rumos do país.

A cultura daqueles anos aproximou-se da política e da vida do povo, aprofundando


um movimento que se iniciara nos anos 1950. No campo artístico, a palavra de
ordem era engajamento: todo artista deveria ir onde o povo estivesse. No contexto
da Guerra Fria, as artes seriam intensamente utilizadas para construir representações
do mundo identificadas com posicionamentos políticos e ideológicos.

No Brasil da primeira metade da década de 1960, a hegemonia de uma visão


de mundo identificada com as esquerdas expressou-se em obras e movimentos
artísticos nos quais o nacional-popular tornou-se referência principal, em conver-
gência com a gradual inserção no espaço público de trabalhadores e segmentos
não alinhados com os valores das classes dominantes. Estudantes, operários e cam-
poneses construíram naqueles anos referências político-culturais que marcaram o
país para sempre.

Cultura e Política: Conflito e Crise


O processo de modernização da sociedade brasileira chegara, no início dos anos
1960, a uma encruzilhada. O Brasil daqueles anos mantinha a oposição entre
urbano e rural, antigo e novo e experimentava a radicalização em diversas áreas,
com a presença de novos atores em busca de legitimação, participação política e
acesso aos bens da Modernidade.

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UNIDADE Cultura, Autoritarismo e Modernização da Sociedade Brasileira

Nas metrópoles de meados do século XX, circulavam heterogêneos tipos,


identificados de maneiras diferentes com a brasilidade. Não havia ainda a televisão
como meio de integração nacional, como hoje a conhecemos, e as diferenças
regionais em todas as áreas se faziam presentes em um país marcado por contrastes.

Havia muitas regionalidades, expressões culturais mais específicas de certas


regiões do Brasil, ao mesmo tempo em que, por meio das mídias como cinema,
jornais e a nascente televisão, foi-se criando hábitos e uma cultura de massa que
adentrava às regiões brasileiras.

As classes dominantes brasileiras trocaram uma visão de mundo tradicionalmente


eurocêntrica na qual predominavam valores franceses, principalmente, pelo
american way of life da cultura de massas dos EUA.

Figura 2
Fonte: iStock/Getty Images

A febre do novo invadiu o país. Queríamos a modernidade da sociedade de


consumo; porém, a realidade nos mostrava algo diferente disso: enquanto uma
pequena parcela tinha acesso aos bens, grandes contingentes tinham a possibilidade,
apenas, de conhecer tais novidades, restringindo-se ao consumo simbólico.

Uma característica marcante daqueles anos foi a consolidação de modernos


sistemas de comunicação de massa com abrangência cada vez maior e capacidade
de produção e disseminação de informações e diversão nas quais os valores
dominantes tendiam a ser reproduzidos.

Cabe, pois, reforçar a ideia de que as técnicas e as tecnologias que foram sendo
incorporadas nos meios de comunicação possibilitaram avanços na difusão da
informação jornalística, cultural, econômica, que de forma integrada serviam de
parâmetro para a sociedade brasileira.

Grandes grupos se formavam e ocupavam o mercado da cultura e da comunicação


de massas atuando, segundo concepções contemporâneas, como o 4º poder.

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Em um ambiente polarizado por projetos antagônicos, o conjunto dos meios e
comunicação contribuiu para a formação de valores alinhados à visão de mundo
estadunidense, em oposição à construção de representações não alinhadas ou
em conflito com os valores disseminados pela produção cultural importada dos
Estados Unidos.

Em contradição com os padrões veiculados pelos meios de massa, as demais


culturas brasileiras seguiram em direção a valores nacional-populares, associando
arte e política.

Em tempos de turbulência política interna, renúncia de Presidente da Repúbli-


ca, discussões acerca do modelo político e da posse do Vice-Presidente, intelec-
tuais e artistas criaram um movimento de aproximação com sindicatos urbanos e
rurais e associações estudantis na criação de uma cultura engajada. Os Centros
Populares de Cultura (CPCs) reuniram parte significativa da produção artística
com essas características.

O que foram os CPCs?


Explor

Os Centros Populares de Cultura (CPCs) foram articulados em consonância com os movi-


mentos estudantis da União Nacional de Estudantes (UNE) e de artistas que se coadunavam
com movimentos de esquerda. Não que fossem todos comunistas, mas tinham em comum
a tentativa de priorizar uma arte brasileira que fosse contraria ao imperialismo cultural,
sobretudo dos norte-americanos.

Figura 3
Fonte: Wikimedia Commons

A politização das artes com hegemonia do campo progressista trazia para a cena
pública segmentos da população que historicamente tiveram pouco acesso ao espaço
público – trabalhadores da cidade e do campo, intelectuais progressistas, mulheres.

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UNIDADE Cultura, Autoritarismo e Modernização da Sociedade Brasileira

O período democrático iniciado em 1945 havia criado as condições para a


inserção desses segmentos à política e à cultura, em consonância com o que
ocorria, no início dos anos 1960, no Brasil e no mundo, pois, em diversas partes,
debatiam-se intensamente alternativas para a organização da vida em sociedade.

As contradições estavam nas ruas, nas telas e nos palcos, colocando os brasileiros
diante de escolhas para as quais não havia respostas simples.

No campo cultural, a hegemonia da arte engajada, principalmente entre os


jovens das grandes cidades, transformava o consumo cultural em compromisso
político de artistas e público.

Representações do Brasil e do povo brasileiro foram apresentadas como parte


de um processo de educação política e de conscientização para atuação no espaço
público que se abria para disputa de projetos para o Brasil.

O Populismo, herdeiro de Getúlio Vargas, havia investido na mobilização das


massas em condições controláveis. Tais condições não mais existiam, na medida em
que no governo de João Goulart o trabalhismo não tinha hegemonia e sindicatos e
associações, que organizavam trabalhadores e estudantes, tinham como principal
referência o PCB e organizações políticas de esquerda.

As massas, no campo e na cidade, mobilizadas e atraídas pela cultura engajada,


fugiam ao controle.

Figura 4
Fonte: Adaptado de Wikimedia Commons

No cinema, tivemos o movimento do Cinema Novo, que buscou inovar com a


estética da fome, de personagens fortes e despojados, com autores que ganharam
fama internacional – caso de Glauber Rocha, com o filme Deus e o Diabo na
terra do sol, de 1964.

Como explica o pesquisador:


A rigor, o movimento do Cinema Nova começou por volta de 1960,
com os primeiros filmes de Glauber Rocha, Ruy Guerra e outros jovens
cineastas engajados e durou até 1967. Inspirados no neorrealismo
italiano e na nouvelle vague francesa que defendia um cinema de autor,

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despojado, fora dos grandes estúdios e com imagens e personagens mais
naturais possíveis, o movimento rapidamente ganhou fama internacional.
Os “veteranos” Nelson Pereira dos Santos e Roberto Santos logo foram
incorporados ao Cinema Novo, ao mesmo tempo que novos nomes iam
surgindo: Arnaldo Jabor, Cacá Diegues, Leo Hirszman, entre outros
(NAPOLITANO, 2014, p. 45).

As ideias desses filmes eram mostrar a realidade sem romantizar as histórias e


personagens, evidenciando principalmente o mundo rural, a rusticidade, as relações
sociais conflituosas.

Por outro lado, as classes dominantes, mais uma vez, usaram o anticomunismo
como principal arma para mobilizar valores tradicionais das classes médias. Em
meio às disputas e interpretações do Brasil, formaram-se dois blocos antagônicos
e, dividida, a sociedade viu chegar o 31 de março de 1964 e o 1º de abril.

Era o fim de um período de quase 20 anos de democracia eleitoral. Optou-se


pelo uso da força na resolução dos conflitos políticos, colocando em prática um
golpe civil-militar que nos anos seguintes modificaria profundamente os rumos do
país, tendo o autoritarismo e a violência como principais diretrizes.

Cultura de Resistência ao Regime:


As Ideias Fora do Lugar
Uma cultura que se formara em um ambiente de liberdades democráticas cons-
titucionais precisaria adaptar-se ao novo contexto da Ditadura Militar a partir de
1964. Nos novos tempos, não era possível apresentar críticas e visões dissonantes,
pois o modelo adotado era o da repressão às diferenças.

Políticos, trabalhadores, intelectuais e artistas abertamente em desacordo com


o novo Regime foram perseguidos, presos, exilados. O elo entre a arte e o povo
foi desfeito e, apesar de não haver censura e proibição às manifestações culturais
nos primeiros anos do Regime, essas foram mantidas para públicos restritos, que ti-
nham a oportunidade de exercer sua capacidade de análise e crítica apenas para si.

O Golpe reorientou os rumos do país nas áreas da economia, da política interna


e externa e no tratamento das questões sociais, significando uma mudança na
composição do Estado por diferentes parcelas das classes dominantes.

No campo da cultura, no entanto, a hegemonia dos setores progressistas seria


mantida por algum tempo. Os novos ocupantes do Estado trataram de modificar
imediatamente aquelas áreas nas quais a estrutura anterior mais oferecia contradições
com o projeto representado pela ditadura civil-militar. Tínhamos, dessa forma, uma
situação paradoxal: um Estado abertamente ditatorial e a produção cultural com
hegemonia das esquerdas.

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UNIDADE Cultura, Autoritarismo e Modernização da Sociedade Brasileira

Os atos institucionais do primeiro governo, o de Castelo Branco (1964-1967),


foram instrumentos fundamentais para definir novos parâmetros nas relações
entre Estado e Sociedade, alteradas profundamente com o objetivo de demarcar
diferenças do novo modelo com aquele existente no período 1945-1964.

Tais iniciativas foram bem-sucedidas no


sentido de afastar lideranças que se opu-
nham ao novo Regime e desfazer os víncu-
los entre arte e política, artista e povo.

A cultura para as massas passou a ser o


centro dos interesses dos novos ocupantes
do poder, com financiamento e infraestru-
tura para expansão da televisão sob rígido
controle do Estado, desconfiança em rela-
ção ao jornalismo impresso, mesmo para
aqueles que apoiaram o Golpe. As culturas
abertamente críticas foram devolvidas a seus
públicos restritos, sem a possibilidade de ex-
pressão verdadeiramente pública.

Como parte do paradoxo ao qual nos


referimos, nos primeiros anos do Regime,
mesmo nos meios de comunicação de mas-
sa, houve espaço para a expressão da crítica Figura 5
ao regime. Fonte: Wikimedia Commons

Os festivais de música promovidos pela TV Record de São Paulo, em mea-


dos dos anos 1960. Talvez sejam esses a melhor expressão da permanência da
produção artística realizada estética e politicamente a partir de valores dos perí-
odos anteriores.
A música de protesto mobilizava jovens e intelectuais críticos, em oposição à
produção musical sintonizada com tempos de modernização da sociedade brasileira.
Nas apresentações e nas ruas, debates colocavam em confronto diferentes formas
de fazer e consumir arte.
O acirramento do paradoxo entre um Estado ditatorial e uma política cultural com
hegemonia progressista ocorreu na música, no teatro e no cinema e a resolução
foi, mais uma vez, pela violência, com o Ato Institucional número 5, de dezembro
de 1968.
A partir dali, a cultura seria, também, prioridade na disputa ideológica e, como
tal, mereceria investimentos específicos no divertimento fácil e na informação
comprometida com os ideais do Regime. As ideias, finalmente, estariam no lugar.
Segundo a norma do Ato Institucional n. 5, que ficou conhecido como AI 5,
busca-se a ordem econômica, social e cultural, contra os subversivos que atentavam
contra a ordem social. Desse modo, aproveitaram-se para caçar direitos políticos,
exilar políticos e artistas que tiveram de sair ou fugir do Brasil nesta época.

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AI 5
Conforme afirmava a Norma do AI 5:
CONSIDERANDO, no entanto, que atos nitidamente subversivos, oriun-
dos dos mais distintos setores políticos e culturais, comprovam que os
instrumentos jurídicos, que a Revolução vitoriosa outorgou à Nação para
sua defesa, desenvolvimento e bem-estar de seu povo, estão servindo de
meios para combatê-la e destruí-la;

CONSIDERANDO que, assim, se torna imperiosa a adoção de medidas


que impeçam que sejam frustrados os ideais superiores da Revolução,
preservando a ordem, a segurança, a tranquilidade, o desenvolvimento
econômico e cultural e a harmonia política e social do País comprometidos
por processos subversivos e de guerra revolucionária.
Fonte: Texto literal extraído de: BRASIL, ATO INSTITUCIONAL Nº 5, DE 13 DE DEZEMBRO DE 1968.
Brasília, 1968. Disponível em: <https://goo.gl/nt0ci9>.

Repressão Política e Censura à Cultura


Com o Ato Institucional número 5, o Regime profissionalizou a repressão e a
censura, também no campo das culturas e das artes, abrindo um novo ciclo nas
relações do Estado com a Sociedade Civil.

As pressões que vinham sendo exercidas de maneira descentralizadas sobre a


cultura de protesto passaram a seguir orientações que partiam de núcleos hegemô-
nicos com atuação nas áreas de segurança interna.

Diversos órgãos foram criados para repressão, simbólica e física. A coordenação


das ações cabia aos gabinetes militares e, particularmente, ao Serviço Nacional de
Informação (SNI).

A censura direta às artes e às comunicações seguia diretrizes desses aparelhos


de repressão. As artes foram submetidas à censura prévia.

Filmes, livros, peças de teatro e programas para a televisão precisavam de


autorização expressa para serem produzidos e distribuídos. O mesmo ocorria com
a imprensa, para a qual havia censores destacados e órgãos vigiados com maior
ou menor intensidade, de acordo com as relações mantidas pelos proprietários dos
órgãos de imprensa e as áreas do aparelho de Estado responsáveis pelo controle.

Censura
Os militares criaram o “Conselho Superior de Censura”, que fiscalizava
e enviava ao Tribunal da Censura os jornalistas e meios de comunicação
que burlassem as regras. Os que não seguissem as regras e ousassem fazer
críticas ao país, sofriam retaliação --cunhou-se até o slogan “Brasil, ame-o
ou deixe-o.”

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Não são raras histórias de jornalistas que viveram problemas no período.


“Numa visita do presidente (Ernesto) Geisel a Alagoas, achamos de
colocar as manchetes no jornalismo da TV: ‘Geisel chega a Maceió; Ratos
invadem a Pajuçara’. Telefonaram da polícia para o Pedro Collor [então
diretor do grupo] e ele nos chamou na sala dele e tivemos que engolir o
afastamento do jornalista Joaquim Alves, que havia feito a matéria dos
ratos”, conta o jornalista Iremar Marinho, citando que as redações eram
visitadas quase que diariamente por policiais federais.

Para cercear o direito dos jornalistas, foi criada, em 1967, a Lei de


Imprensa. Ela previa multas pesadas e até fechamento de veículos e prisão
para os profissionais. A lei só foi revogada pelo STF (Supremo Tribunal
Federal) em 2009.

Muitos jornalistas sofreram processos com base na lei mesmo após a


redemocratização. “Fui processado em 1999 porque publiquei declaração
de Fulano contra Beltrano. A Lei de Imprensa da Ditadura permitia isso:
punir o mensageiro, que é o jornalista”, conta o jornalista e blogueiro do
UOL, Mário Magalhães.

Fonte: Texto literal extraído MADEIRA, Carlos. Dez razões para não ter saudades da ditadura.
Site UOL, política, Do Uol, Maceío,22/03/2014. Disponível em: <https://goo.gl/9jVuph>.

O uso de metáforas tornou-se comum, mesmo na grande imprensa, que recorria


a essa figura de linguagem para abordar temas mais sensíveis ao Regime, como
repressão política, atos classificados como “terroristas” pelo Estado, questões da
área da Economia, entre outros.

Como eram tempos de lemas como ‘milagre econômico’ e ‘Brasil: ame-o


ou deixe-o!’, qualquer manifestação pública que expressasse divergência com o
‘espírito’ do tempo poderia ser censurada.

O Regime chegava, no início dos anos 1970, a uma situação de grande controle
da Sociedade, em todos os campos, o que era essencial para o exercício do poder
de maneira centralizada e autoritária, como os ‘novos’ ocupantes do Estado
preconizavam.

A cultura para as massas, veiculada principalmente pela televisão, cuidava de


levar à população o pensamento do Regime. A propaganda ideológica estava em
toda parte, mas a televisão foi porta voz quase oficial da ideologia dominante no
Aparelho de Estado.

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O Regime Militar daquele período não teve receio da televisão; pelo contrário,
investiu em infraestrutura para capacitá-la e realizar a integração nacional em
nome do Estado.

Na Era Vargas, o Rádio havia sido utilizado como aparelho ideológico do


Estado; na Ditadura Militar (1964-1985), esse papel foi exercido pela televisão,
principalmente a partir do final dos anos 1960, com a formação da rede nacional.
A Rede Globo de Televisão tornou-se porta voz do Regime desde então.

A Era da Televisão
A Era da Televisão começa dos anos 1960-70, com o avanço técnico, e com a
introdução do videoteipe que permitiria gravar, editar e reproduzir programas que
até aquela época só podiam ser passados ao vivo, permitiu a criação de uma série
de programas, novelas, jornalísticos e outros.

Os musicais de televisão foram se tornando mais comuns e ídolos como Roberto


Carlos e a Jovem Guarda, cujo programa semanal, em torno de um rock ingênuo,
com letras suaves, de amor e do comportamento juvenil, definiam estilos e modos
de comportamento juvenis da época.

Como explica os pesquisadores:


A indústria televisiva, veículo de comunicação cada vez mais presente
nos grandes centros urbanos, ainda não tinha conseguido desenvolver
uma fórmula satisfatória para disseminar o produto musical. Essa questão
seria equacionada a partir do programa “Fino da Bossa” da TV Record,
no qual a música popular brasileira renovada iniciou um caminho que
a consagraria como fenômeno “de massa”, incorporando inclusive um
público mais amplo que havia passado ao largo da bossa nova e do circuito
universitário. O lançamento do programa “Fino da Bossa” (maio de 1965)
foi seguido por do “Jovem Guarda” (setembro de 1965), com Roberto
Carlos, Erasmo Carlos e Wanderléa. Todos esses musicais seriados eram
líderes de audiência no seu horário (RIBEIRO et al, 2010, p. 90).

Um contraponto do movimento da Jovem Guarda, considerado pelos movimen-


tos de esquerda mais alienados, foram os Festivais da Record, que tinham como
premissa ser um festival de canção brasileira e tornaram-se muito populares entre
os anos de 1962 e 1968.

De vaias a consagrações: relembre os festivais de música da TV Record:


Explor

https://goo.gl/AKmZ8V

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UNIDADE Cultura, Autoritarismo e Modernização da Sociedade Brasileira

Com o período militar instalado a partir de 1964, parte dessas músicas serviu
como engajamento de uma ideologia mais à esquerda, criando uma terminologia
de Música Popular Brasileira (MPB) para essa música brasileira, com alta qualidade
estética e comprometida com a realidade nacional.

Nos anos 1970, com a Copa do Mundo no México, muitas famílias passaram
a comprar televisões que passaram a ser mais comuns mesmo nas classes sociais
mais populares. Esse movimento já vinha do final dos anos 1960, no qual o acesso
às compras de eletrodomésticos e aparelhos de TV tornaram-se mais comuns nas
diversas classes sociais.

Figura 7
Fonte: Wikimedia Commons

Foi a época em que os processos de urbanização do Brasil tornaram-se mais


agudos, a disseminação da luz elétrica, do modo de vida urbano, das multinacionais
que passaram a produzir no Brasil esses produtos de bens de consumo.

Nos anos 1970, houve a ascensão da


Rede Globo, que foi criada em 1965 no
Rio de Janeiro. Ela tratou de criar pro-
gramas de auditório, caso do Programa
do Chacrinha e de Silvio Santos, que pas-
savam nas tardes de fim de semana. Pro-
gramas jornalísticos populares também
se tornaram comuns nessa época, nas
emissoras da Globo, Tupi e Record. Mas
será o entretenimento que irá vigorar na
maior parte da programação, juntamente
com as novelas que se tornariam marca Figura 8
da cultura brasileira. Fonte: Wikimedia Commons

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O Jornal Nacional da Globo tornou-se uma maneira de obter informação
do Brasil, desde 1969, rivalizando na época com o Repórter Esso da TV Tupi.
Importante lembrar que nessa época vivia-se a censura promovida pelos governos
militares. Toda novela e jornal tinham já informações do que poderia ou não
veicular conforme preceitos definidos pelos ideólogos dos governos militares.
Houve censura a programas de auditório que eram ao vivo e a definição de regras
de conduta do que deveria e poderia ser apresentado nesses programas, visando
diminuir o que chamavam de subcultura nos programas.

Faziam assim a censura para os programas que eram considerados da cultura


de massa e atingiam as classes populares.

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UNIDADE Cultura, Autoritarismo e Modernização da Sociedade Brasileira

Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

 Livros
1964: História do Regime Militar Brasileiro
NAPOLITANO, Marcos. 1964: história do regime militar brasileiro. São Paulo: Con-
texto, 2014. (e-book, biblioteca virtual).
A Busca do Nacional Popular
AYALA, Marcos. A busca do nacional popular. In: AYALA, Marcos. Cultura popular
no Brasil. São Paulo: Ática, 2006. p. 49-52. (e-book-biblioteca virtual).

 Vídeos
Cultura Brasileira - Aula 08 - As Artes Plásticas no Brasil
UNIVESP TV. Cultura brasileira. As artes plásticas no Brasil. Aula 8, 17min32, São
Paulo, 2014.
https://youtu.be/8bg8q99uoRg
Cultura Brasileira - Aula 09 - O Consumo Cultural
UNIVESP TV. Cultura brasileira. O consumo cultural. Aula 9. 19min26, São Paulo, 2014.
https://youtu.be/96cYWCoYvCQ

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Referências
BENJAMIN, W. Magia e técnica, arte e política. São Paulo: Brasiliense, 1998.

BOSI, A. Dialética da colonização. São Paulo: Companhia das Letras, 1992.

GOULART, Ana Paula; SACRAMENTO, Igor; ROXO, Marco. História da televi-


são no Brasil. São Paulo: Contexto, 2010. (e-book-biblioteca virtual).

HOBSBAWM, E. A era dos extremos. São Paulo: Companhia das Letras, 1993.

NAPOLITANO, Marcos. Cultura brasileira: utopia e massificação (1950-1980).


São Paulo: Contexto, 2014. (e-book, biblioteca virtual).

RIBEIRO, Ana Paula Goulart et alii (orgs.). História da televisão no Brasil. São
Paulo: Contexto, 2010. (e-book, biblioteca virtual).

SKIDMORE, T. Brasil: de Getúlio a Castelo. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1972.

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