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E STA D O D E M I N A S ● T E R Ç A - F E I R A , 3 0 D E N O V E M B R O D E 2 0 1 0

GERAIS 25

PRAZER[ EM ]
SOB A LENTE

AJUDAR
DA CULTURA
Leo Ângelo e Lucélia
participam de projeto de
videodocumentário em
bairro de Sete Lagoas sobre
artistas da comunidade
PÁGINA 28

BETO MAGALHÃES/EM/D.A PRESS. BRASIL

ARTE SOCIAL FOTOS: ALAIN DHOMÉ/ESP. EM/D. A. PRESS

Jovens de Curvelo, na Região Central de Minas, participam de cooperativa de escultores com trabalho que integra o desenvolvimento da comunidade onde vivem e a criação de oportunidades de profissionalização

SUCATAS REFAZEM
TRADIÇÃO CULTURAL
JUNIA OLIVEIRA mica e a autonomia andam juntos e para colher impressões de perto. anos. No horário em que não estão matéria-prima o que seria descartado
demarcam um território de formação, A cooperativa é um dos braços do nas instituições de ensino, eles apren- em lojas e oficinas. Assim surgiram
O que diria Guimarães Rosa se vis- cidadania e responsabilidade. Centro Popular de Cultura e Desen- dem os conteúdos escolares, a fazer o quatro fabriquetas: de móveis feitos
se os personagens e a vida simples do Na entrada das oficinas, os mode- volvimento (CPCD), uma organização próprio brinquedo, se envolvem com com madeira de demolição; doces, li-
homem sertanejo retratados em seus los expostos impressionam. Além de não governamental (ONG) fundada a horta e com a cozinha experimental cores e geleias; esculturas e objetos de
livros tomarem forma e se tornarem figuras típicas do sertão, como ho- em Belo Horizonte há 26 anos para para aproveitar as frutas do cerrado. ornamentação de sucata de ferro; e
arte pelas mãos de jovens em busca mens e mulheres do Vale, há ani- promover a educação popular e o de- bordados. Logomarcas para empresas
de um novo futuro? Talvez dissesse mais em tamanho natural, músico, senvolvimento comunitário a partir MULTIPLICAR O Dedo de Gente surgiu locais e embalagens também estão na
uma de suas frases eternizadas pela li- palhaço, dinossauro cuja cabeça é da cultura. Tem o apoio da Caixa Eco- da necessidade de alguns adolescen- lista das encomendas.
teratura, talvez soltasse algo novo ou um antigo ferro de passar roupa, nômica Federal, da Fundação Itaú So- tes ganharem dinheiro. Para evitar As unidades têm um eixo: apro-
apenas suspirasse. É… o escritor enten- avião com hélice de ventilador, entre cial e do Sebrae. A gestora de progra- que caíssem no mercado informal, os veitar a cultura da região, como fru-
dia muito bem a alma da beleza e da outras peças. O touro nelore, inspira- mas da Fundação Itaú Social, Márcia responsáveis pelo CPCD pensaram tos e flores do cerrado e o resgate de
simplicidade do povo e, por isso, fica- do num campeão da raça, chama lo- Quintino, relata que a iniciativa faz em alternativas e apresentaram duas pontos e riscos antigos, que enfei-
ria maravilhado com os “fazedores de go a atenção. A escultura, de 2,9m de parte das ações de educação integral opções a quem saía do Ser Criança: se tam tecidos diversos. “Precisávamos
coisas” de Curvelo, na Região Central comprimento, 2,05m de altura, 0,7m da instituição. “Queremos que, além tornar educador ou pôr a mão na de algo ambientalmente correto,
de Minas, ao se deparar com a mulher de largura, tem 24 barras de ferro de de ter uma capacitação técnica para a massa. De acordo com a presidente da que permitisse aos meninos usar
do Vale carregando lenha, a retirante construção, 4.232 peças de retalhos vida adulta, haja espaço para desen- cooperativa, Doralice Barbosa Mota, material reaproveitável”, diz Dorali-
com lata, o carro de boi e tantas outras de chapas e pesa 130 quilos. Os jo- volver todas as competências do jo- na época, um aluno escolheu ser mul- ce. A turma, que antes trabalhava na
esculturas feitas com sucata de ferro, vens empenhados na tarefa estuda- vem que eles são”, afirma. tiplicador e outros cinco resolveram informalidade, fundou a cooperati-
tudo inspirado na obra roseana. Na ram a raça e observaram vários as- Em Curvelo, o trabalho começou começar a trabalhar com tocos de ma- va em 1996. “Hoje, ela é uma escola
cooperativa Dedo de Gente, o com- pectos, como comportamento, mus- com o projeto Ser Criança, que pro- deira e a fabricar brinquedos. E, como de formação de cidadãos, que levam
promisso ambiental, os valores hu- culatura e hábitos do animal. Usa- move a educação por meio do brin- estava dando certo, foram incluídas como bagagem o conhecimento téc-
manos e culturais, a satisfação econô- ram livros e foram até uma fazenda quedo e atende meninos de 6 a 15 outras oportunidades, tendo como nico de uma profissão.”

FABRIQUETA
DE MEMÓRIAS
A jovem Carla Mariane Rodrigues quem está começando. Para ele, é sur-
Monteiro, de 19 anos, é um dos exem- preendente o processo por trás de ca-
plos do espírito de cidadania que arre- da peça: “Criar uma peça, vê-la encan-
batou cada cooperado. Ela trabalhou tando as pessoas e ter o reconheci-
com a comunidade em outro projeto mento disso é muito bom”, relata.
do CPCD e percebeu, naquele momen- Alguns já tentaram outros empre-
to, que não abandonaria o grupo tão gos, mas acabaram voltando. É o caso
cedo. Há dois anos e meio, ela conse- do estudante Wellington Rodrigues de
guiu uma vaga na cooperativa e, de- Aquino, de 22. O rapaz, da fabriqueta
pois de percorrer todas as fabriquetas de sucata de ferro, guarda na memória
para conhecer os trabalhos, parou na o primeiro cavalo tridimensional que
de bordado. O reconhecimento do que fez – uma encomenda que se tornou
é produzido na cidade, no estado e até um desafio a ser cumprido em uma
por pessoas de outros países dá o tom semana para uma apresentação numa
da satisfação desses verdadeiros artis- fazenda. “Voltei porque gosto mesmo.
tas. “Todos os nossos trabalhos vêm Não há em outras empresas um traba-
com uma história marcante. Na loja, o lho social e ecológico como fazemos
cliente não compra só o nosso produ- aqui. Este é o lugar onde aprendi mui-
to, mas também a história dele. É mui- to. Se um dia eu quiser abrir meu pró-
to especial estar aqui dentro”, diz. prio negócio, saberei como fazer.”
O trabalho exclusivamente ma- Atualmente, 84 jovens integram
nual também a encanta: “Resgatar a a cooperativa, que recebe adolescen-
cultura das nossas avós, que vai fican- tes a partir de 16 anos. A seleção
do perdida por causa das novas tecno- prioriza os egressos do Ser Criança,
logias, é maravilhoso”. O amigo Jona- jovens indicados pelo Conselho Mu-
than Fernandes dos Santos, coopera- nicipal da Criança e do Adolescente
do da marcenaria, conta que é gratifi- e outras instituições e aqueles que
cante ter entrado sem qualquer noção aguardam na fila. Hoje, 158 pessoas
Carla Rodrigues Monteiro, de 19 anos, participa de oficina de bordado: “Todos os nossos trabalhos vêm com uma história marcante” do ofício e agora poder ensinar a esperam uma chance.

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