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PSICOLOGIA SOCIAL COMUNITÁRIA.

OS AFETOS E A
DEPENDÊNCIA QUÍMICA: A IDENTIDADE DO ADICTO EM
SITUAÇÃO DE INTERNAÇÃO
Fiorese Fernandes, Renata, fioresefernandes@hotmail.com¹
Ferreira de Castro, Rafael, rafaelcastoufg@gmail.com¹
Paulino-Pereira, F. C. epifania.cps@gmail.com2

¹Universidade Federal de Goiás/ Regional Catalão/ Instituto de Biotecnologia

Resumo: Este presente trabalho é vinculado ao Projeto de Extensão: Psicologia na Comunidade, e consiste na
atenção, por meio de grupos terapêutico-educativos, à uma comunidade terapêutica localizada em uma zona
periférica da cidade de Catalão- GO, chamada Clínica Terapêutica Cuidar. Assim, o projeto de intervenção na
Comunidade Terapêutica tem como objetivos: a) ampliar a formação dos alunos em Processos Psicossocias;
b) capacita-los por meio de grupo de estudo e supervisão e na área de intervenção em Psicologia na
Comunidade; c) ampliar a formação teórica e prática destes alunos e do curso de Psicologia da Regional
Catalão/UFG em politicas públicas de Saúde, Direitos Humanos, Educação e Ação Social e intervir nas áreas
citadas por meio de grupos terapêutico-educativos atendendo a Comunidade Terapêutica em questão nas
dimensões-campos: valorativo, afetivo e operativo. Isso é realizado por meio de leituras sobre Psicologia
Social Comunitária, além da supervisão semanal com o orientador e documentação das vivências através do
diário de campo, a fim de investigar como questões afetivas relatadas como baixa auto-estima, sentimento de
inferioridade , rejeição, culpa e outros, de alguma forma contribuem para o processo de constituição da
identidade destes dependentes químicos em situação de internação. Sendo assim, os grupos terapêuticos-
educativos semanais ampliam o tratamento criando momentos e oportunidades para que os internos
problematizem, elaborem e re-signifiquem estes afetos que compõem a identidade enquanto adictos.

Palavras-chave: psicologia social comunitária; comunidade terapêutica; grupo terapêutico-educativo; vivência e


identidade.

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INTRODUÇÃO determinado tempo, que seria o período considerado


suficiente de abstinência para a reabilitação e para
O uso abusivo de substâncias psicoativas reinserção destes indivíduos ao meio social.
lícitas e ilícitas vem gerando no mundo desde Assim sendo, este presente trabalho é fruto da
meados do século XX uma série de problemas das inserção de estudantes de psicologia através do
mais diferentes ordens: sociais, psicológicos, Projeto de Extensão: Psicologia na Comunidade em
políticos, econômicas, entre outros. As chamadas uma “clínica” masculina de recuperação para
Comunidades Terapêuticas voltadas exclusivamente dependentes químicos no município de Catalão-Go.
para o tratamento das toxicomanias começaram a Notamos que nos últimos anos houve grande
surgir a partir de 1960, na Inglaterra, e desde então disseminação destas clínicas ou comunidades
esse conceito de tratamento se espalhou pelo mundo. terapêuticas no município de Catalão e região; e esta
No Brasil, observa-se um grande crescimento nas crescente deve-se a falta de regulação por parte do
últimas duas décadas como uma tentativa de Poder Público Estadual, a falta de políticas públicas
minimizar esses problemas e uma possibilidade de e o alto índice de violência na região; algumas destas
tentar resolvê-los – ao que concerne à dependência comunidades são bastante criticadas quanto aos seus
química do indivíduo em si. Estas Comunidades objetivos terapêuticos e o desrespeito aos direitos
Terapêuticas usam nomes fantasias ou fictícios, humanos.
prevalecendo o modelo de teor religioso- espiritual,
para os quais são popularmente conhecidos no AMPLIAÇÃO DO TRATAMENTO
Estado de Goiás como clínicas de reabilitação para
dependentes químicos; as quais tem por base a Até então o principal método de tratamento
aglutinação de vários adictos em um ambiente destas Comunidades Terapêuticas na região de
restrito e fora do convívio social por um Catalão-GO é a laborterapia, porém, nos últimos
anos pode-se observar que a inserção de Desta forma, o trabalho em forma de vivência
profissionais da área da saúde como psiquiatras, grupal e roda de conversa, pretende captar a dialética
psicólogos e enfermeiros vem se acentuando e com indivíduo- grupo, onde o indivíduo toma consciência
isso ampliando o conceito de tratamento. Nesta de sua relação com o grupo, que é um intermediador
perspectiva, houve por parte da Clínica Terapêutica da sua relação com o social e quando “o indivíduo e
Cuidar (antiga Recanto dos Arcanjos) uma abertura grupo se tornam agentes história social, membros
para os alunos do curso de psicologia da indissociáveis da totalidade histórica que os
Universidade Federal de Goiás- Regional Catalão produziu e a qual eles transformam por suas
realizarem um trabalho terapêutico-educativo atividades indissociáveis.” (LANE, 1989)
usando técnicas de processos grupais com suporte Dentro da Psicologia Social latino-americana
teórico da Psicologia Social Comunitária. temos três categorias de análise do indivíduo:
A inserção na comunidade trata-se de uma atividade, consciência e identidade. O grupo
inserção que se dá na dependência da avaliação e da terapêutico- educativo é aqui utilizado como
relação com os internos, sendo que apenas a partir intervenção na comunidade, pois consegue abarcar
deste contato e familiarização, é construída a entrada estas três categorias. A elaboração das vivências não
dos alunos de psicologia na comunidade, tornando se restrigem a uma reflexão racional, mas envolve os
possível levantar as necessidades e demandas desta, sujeitos de maneira integral, formas de pensar, sentir
que é feito através de discussões e participação e agir. “Ela usa informação e reflexão, mas se
conjunta dos internos, a partir disso então, vão se distingue de um projeto apenas pedagógico, porque
delimitando temáticas potenciais e possíveis para o trabalha também com significados afetivos e as
desenvolvimento do trabalho de intervenção, atividades relacionadas com o tema a ser
realizado através de vivências em grupo. discutido”(AFONSO,2002).
Assim, o projeto de intervenção na Comunidade Entendendo a discussão em grupo na
Terapêutica tem como objetivos: a) ampliar a concepção de “círculo de cultura” de Paulo Freire,
formação dos alunos em Processos Psicossocias; b) onde admite-se um conceito de inter-relação entre a
capacita-los por meio de grupo de estudo e ação e a palavra (pensamento) com a realidade do
supervisão e na área de intervenção em Psicologia sujeito enquanto ser social, construindo assim
na Comunidade; c) ampliar a formação teórica e conhecimento sobre de si mesmo a partir da relação
prática destes alunos e do curso de Psicologia da com o outro mediatizada pelo mundo; são
Regional Catalão/UFG em politicas públicas de elaboradas vivências em grupo possibilitando uma
Saúde, Direitos Humanos, Educação e Ação Social e compreensão crítica do sujeito sobre seu contexto
intervir nas áreas citadas por meio de grupos (internação) e de si próprio nesse contexto (enquanto
terapêutico-educativos atendendo a Comunidade adicto).
Terapêutica em questão nas dimensões-campos:
valorativo, afetivo e operativo. METODOLOGIA
A partir de uma série de vivências percebemos
que no campo afetivo há uma série de aspectos Este trabalho vem sendo desenvolvidos há mais
negativos que compõem a identidade do adicto ao de dois anos como Projeto de Extensão com o nome
longo do processo de uso e que ainda permanecem de Psicologia na Comunidade; há uma rotatividade
durante o período da internação e até mesmo após o de alunos e sua permanência decorre da relevância
fim deste. Destarte, o acompanhamento psicológico que seus resultados vêm demonstrando para o
o qual dê um suporte profissional para identificar, processo de tratamento dos internos que segundo os
elaborar e re-significa-los, torna-se imprescindível mesmos relatam os efeitos terapêuticos dizendo que
para a recuperação do indivíduo e do grupo em a partir das vivências conseguem ter outro olhar para
questão. a realidade que os cerca e sobre si mesmo.
De acordo com Lane (1989): “Refletir sobre A inserção nesta comunidade obedece há uma
uma atividade realizada implica repensar suas ações, orientação teórica e prática da Psicologia Social
ter consciência de si mesmo e dos outros envolvidos, Comunitária a qual prevê primeiro conhecer o
refletir sobre os sentidos pessoais atribuídos às funcionamento interno da comunidade em questão,
palavras, confrotá-las com as consequencias geradas no caso a rotina, as atividades, o tratamento
pela atividade desenvolvida pelo grupo social, e proposto, a relação dos internos com ambiente, a
nesta reflexão se processa a consciência do estrutura administrativa (regras e normas de
indivíduo, que é indissociável enquanto de si e funcionamentos) e a partir de então identificar e
social”. acolher as demandas advindas dos próprios internos,
O enfoque do diálogo e da reflexão sobre as isto é, realizando o movimento dialético entre teoria
condições de existência e a constituição deste e prática a qual nenhuma venha a sobressair sobre a
indivíduo enquanto sujeito dentro destas condições, outra, resultando, assim, na práxis.
supõe uma autonomia do sujeito neste contexto.
Em nossas intervenções utilizamos as técnicas portadores de uma doença incurável que é a adicção
de processos grupais com realização de vivências e o único remédio é o controle (o auto-controle para
que tem a seguinte estrutura: uma proposta de uma evitar o uso).
atividade lúdica, com duração de vinte a quarenta Um dos métodos que é usado dentro da Clínica
minutos, que envolve os internos a trabalharem Terapêutica Cuidar, e quase todas as clínicas da
juntos, individualmente com escrita sobre um tema região de Catalão, são os doze passos dos Narcóticos
comum, ou divididos em pequenos grupos para uma Anônimos (NA) adaptado por cada clínica a sua
tarefa comum e depois aberta para todo o grupo, o maneira. Neste método tem uma espécie de refrão, o
qual corresponde ao campo operativo; no decorrer “só por hoje”, repetido diariamente pelos internos,
da atividade os internos tem contato com dizendo para si mesmos que só por hoje estão limpos
sentimentos, emoções, lembranças, pensamentos e que pretendem permanecer assim, e todos os dias
sobre si e o outro, o que então desperta o campo renovam seus votos.
afetivo e valorativo que serão abordados na roda de Renato Russo, cantor e compositor da banda
conversa após a atividade. A roda de conversa é um Legião Urbana, que fez muito sucesso nas décadas
momento de tecer comentários, reflexões e 1990 compôs uma música para relatar sua
problematizar a atividade, como também, inter- experiência ao passar por uma internação em uma
relacionar a vida e história de cada interno e do clínica para dependentes químicos; o nome da
grupo com o tema proposto e trabalhar os afetos e música é “Só Por Hoje”. Levamos esta música para
valores envolvidos. Para tanto, utilizamos como uma vivência, e segundo os internos ela descreve
modelo o círculo de cultura de Paulo Freire, a qual bem a situação de adicto e a persistência do só por
entende a aprendizagem como um processo hoje no processo de ficar limpo e combater a
dinâmico produzida por um sujeito da linguagem, angústia de não ser perseguido pelo passado nem
em interação social dentro de seu contexto, em que ansiar pelo futuro.
há a presença da aprendizagem, comunicação e Sentimentos como culpa, medo, raiva,
autonomia – que configuram como processos inter- compulsão, isolamento, tristeza, rejeição,
relacionais. nervosismo, ansiedade, baixa autoestima, frustração,
Conforme escreveu Freire, “assim como não é perda de controle, depressão, revolta, desconfiança
possível linguagem sem pensamento e linguagem- no ambiente familiar e no ambiente de trabalho, são
pensamento sem o mundo a que se referem, a alguns destes aspectos que estruturam o sofrimento
palavra humana é mais que um mero vocabulário- é psíquico do adicto durante o vício e no processo de
palavração.” Destarte, entendendo a palavra como ficar limpo. Também pode ser elencado à angústia
reflexo direto do subjetivo e signo representante da que provoca a internação de um período
práxis- dialética do sujeito, os internos conseguem relativamente longo que vai de sete meses a um ano
aprender a ler o mundo e a si mesmo no mundo, e que pode se estender ainda mais, período este
fazendo com que eles ensinem uns aos outros, preenchido por uma rotina enfadonha que prende os
mediatizado pelo mundo ou no caso pelo grupo que internos em tarefas repetitivas e sem abertura para
estão inseridos durante aquele determinado período coisas novas, interativas, lúdicas e que possibilite a
da internação (AFONSO, 2002). aprendizagem e criatividade.
Para realizamos estas intervenções na Assim, percebe-se um ciclo vicioso de
Comunidade Terapêutica são feito supervisões sofrimento provocado pela presença destes
semanais com o professor em que relatamos através sentimentos (afetos), os quais precisam ser
da leitura do diário de campo da semana (elaborado elaborados insistentemente para que haja uma
após cada vivência) e a partir disso analisamos tomada de consciência que provoque uma mudança,
conjuntamente e planejamos as atividades da semana uma metamorfose na identidade possibilitando a
seguinte segundo as demandas que vão surgindo ao reconstrução de um novo projeto de vida que torne o
longo do processo. Além disso, contamos com uma sujeito (eu) mais consciente do outro (tu) e
formação teórica a qual consiste na leitura e percebendo seu lugar numa coletividade mais ampla
fichamento de textos de Psicologia Social (nós) que a rede de relações afetivas do tráfico e do
Comunitária e outros textos direcionados ao campo consumo de álcool e outras drogas.
de intervenção, portanto, há a efetiva possibilidade Como exemplo deste clico vicioso, temos outra
de sistematizar a relação teoria e prática em vivência na qual a atividade proposta era formar
Psicologia Comunitária. duplas e vendar os olhos, um seria o guia do outro
pelo espaço da clínica. Foi relatado pelos internos na
RESULTADOS E DISCUSSÃO roda de conversa que a venda nos olhos seria uma
metáfora para o uso e quando retirada as vendas, a
O sonho dos internos é a sobriedade, estar limpo sobriedade. No entanto, tirar a venda que é dolorido,
em tempo integral pelo resto da vida. Eles geralmente a venda é tirada quando a droga acaba e
apresentam um discurso que estão doentes, que são há a percepção dos estragos que fizeram quando
estavam no uso e para manter o uso . Isso traz muita elaborem e re-signifiquem estes afetos que
angústia e sofrimento, então o adicto prefere compõem a identidade enquanto adictos.
retornar ao uso há buscar tratamento, até forçar uma Acreditamos que, através desta
ruptura seja ela pela possibilidade de internação, de abordagem/modelo, do grupo terapêutico- educativo,
perder todos os bens materiais e contato/relação com que integra dimensões- campo: afetivo, valorativo e
a família, prisão ou o fim trágico da morte. operativo; é possível compreender a complexa
Em outra vivência os internos foram convidados relação entre o individual e o social na formação da
a fazer uma colagem com imagens que identidade destes sujeitos enquanto usuários
representassem os motivos que os levaram ao uso ou abusivos de álcool e outras drogas.
a recaída. A atividade produz a possibilidade de
reflexão quanto a estas causas quando na escolha REFERÊNCIAS
destas imagens; na roda de conversa, surgem relatos
relacionados ao âmbito familiar e social, e à AFONSO, L. Oficinas em dinâmica de grupo: Um
influência que este contexto em que estão inseridos método de interenção psicossocial. Belo Horizonte:
adquiriu na formação deles como sujeitos, que além Edições do Campo Social, 2002.
de adictos, também são pais, irmãos, filhos; e como FREITAS, M. F. Inserção na comunidade e análise
às referidas más companhias (tráfico, roubo, de necessidades: reflexões sobre a prática do
prostituição) compõe e os submetem a repetição do psicólogo. Psicologia Reflexão e Crítica, anoqvol.
papel social enquanto adictos. 11, nº 001. UFRS. Porto Alegre, Brasil, 1998 .

Os grupos terapêutico- educativo possibilitam DAMAS, F. B. Comunidades Terapêuticas no


com que os internos tragam elementos de suas vidas Brasil: Expansão, Institucionalizaçã e Relevância
cotidianas, enquanto adictos, familiares e Social. Rev. Saúde Públ. Santa Cat., Florianópolis, v.
trabalhadores, muitos em situação de 6, n. 1, p. 50-65, jan./mar. 2013.
vulnerabilidade e todos excluidos socialmente pelo LANE, S. T. M et al (Org). Psicologia social: o
uso de drogas. Na roda de conversa abre-se o homem em movimento. Editora Brasiliense, São
momento de compartilhamento destas histórias, de Paulo, 1984.
situações vividas proporcionadas por esse uso, e
assim, problematizar estas questões, partindo desta RESPONSABILIDADE AUTORAL
realidade, atrelando os conceitos de Psicologia “Os autores Renata Fiorese Fernandes, Rafael
Social Comunitária, na tentativa de desconstruir Ferreira de Castro e Fernando César Paulino-
certos paradigmas quanto ao usuário e ao uso, Pereira, são os únicos responsáveis pelo conteúdo
visando o empoderamento destes indivíduos. deste trabalho”.
Com isso, torna-se possível a construção de
uma reflexão quanto às origens do vício e os
motivos (em sua história de vida e constituição
enquanto sujeito) que os levam à reposição deste
papel, caracterizado pelas recaídas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Assim, compreendemos que o grupo


terapêutico- educativo possibilita com que os
indivíduos se tornem conscientes dos papéis os quais
desenvolve em seu contexto social, enquanto
produto desta realidade e das relações produzidas
por ela, mas também, de sua postura ativa enquanto
ator e autor de sua própria história.
As questões relacionadas aos afetos de
sentimento negativos (culpa, medo, baixa auto-
estima e outros) são de extrema importância para o
processo de tratamento, visto que contribuem para o
processo de constituição da identidade destes
dependentes químicos em situação de internação.
Portanto, os grupos terapêuticos-educativos
semanais ampliam o tratamento criando momentos e
oportunidades para que os internos problematizem,

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