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UNIVERSIDADE DE CUIABÁ
CENTRO DE PÓS-GRADUAÇÃO
CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM TEORIA E CLÍNICA PSICANALÍTICA
CUIABÁ-MT
2006/1
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CUIABÁ-MT
3
2006/1
UNIC
UNIVERSIDADE DE CUIABÁ
Reitor
Dr. ALTAMIRO BELO GALINDO
Pró-Reitor Acadêmico
Prof. RUI FAVA
CENTRO DE PÓS-GRADUAÇÃO
XXXX
Castro, Rosana Silva. O Portador de Necessidades Especiais: seus
pais e a deficiência. Cuiabá: UNIC – Centro de Pós-Graduação, 2006.
Ilustrações de
Normalização Técnica:
Dinalva Gomes de Paiva
4
BANCA EXAMINADORA
Orientadora:
Agradecimentos
RESUMO
Este trabalho tem como objetivo discutir, mesmo que de forma limitada, o ponto de
vista psicanalítico em relação à deficiência e a relação do portador de necessidades
especiais e sua família. No capítulo I, trata-se a Evolução Histórica do conceito de
excepcionalidade, discutindo a visão da sociedade ao longo de diferentes épocas;
no capítulo II, serão apresentadas algumas organizações e seus trabalhos visando a
inserção e autonomia daquele que tem necessidades especiais; no capítulo III,
discute-se a questão do nascimento de um filho portador de deficiência e o lugar que
o mesmo ocupa junto a sua família, especialmente a mãe e, por último, no capítulo
IV, trata-se brevemente, do corpo afetado pela deficiência e as manifestações de
gozo ali implicadas. O trabalho visa romper camadas de preconceito existentes e
pensar a inclusão do portador de necessidades especiais, desde pensar o deficiente
e a deficiência.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO............................................................................................................ 8
CAPÍTULO I
EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO CONCEITO DE EXCEPCIONALIDADE.....................10
CAPÍTULO II
O INDIVÍDUO EXCEPCIONAL...................................................................................17
CAPÍTULO III
A RELAÇÃO FANTASMÁTICA ENTRE MÃE E FILHO.............................................25
CAPÍTULO IV
O CORPO QUE GOZA...............................................................................................29
CONCLUSÃO.............................................................................................................33
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...........................................................................35
GLOSSÁRIO...............................................................................................................36
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INTRODUÇÃO
CAPÍTULO I
CAPÍTULO II
O INDIVÍDUO EXCEPCIONAL
ter também, uma preparação emocional a ser alcançada, a esperança dos pais em
relação a seus filhos faz parte desse processo.
Cada pai tem esperanças que lhe são próprias, de que o filho lhes
complete como algo que parece preencher a falta que foi instalada quando da
instauração da lei de interdição ao incesto pela operação do Complexo de Édipo.
Há o termo conhecido na Psicanálise que é denominado Complexo de Édipo, sendo
este uma gama de investimentos amorosos e também de hostilidade que a criança
faz sobre seus pais, durante a fase fatídica, que é a fase característica do ápice e do
declínio do Complexo de Édipo marcada, principalmente, pela “angústia da
castração”, tanto na menina como no menino. Essa fase vem depois do oral e anal
explorada pela criança no processo de seu desenvolvimento. A fase fatídica é regida
pela castração, e o que impõe a questão em sua relação ao Édipo, da existência
dessa fase: a descoberta pela menina da falta do pênis.
O Complexo de Édipo pode ser explicado da seguinte maneira:
A criança, era considerada: de um lado, o menino que deseja ser tudo
para sua mãe, e, para isso, converte-se no que a mãe deseja. Seu desejo (do filho)
é o desejo do outro (mãe), ou seja, ser desejado pelo outro e tomar o desejo do
outro como se fosse seu próprio desejo. O que determina que o menino deseje ser o
objeto de desejo da mãe é a dependência de amor (Introdução ao Estudo das
Perversões, 1991, p.27). O menino identifica-se com aquilo que é o objeto de desejo
da mãe, crendo que é por ele que a mãe é feliz, não sabendo que a mãe procura
outra coisa, mais além dele: a plenitude narcisista dela, ou seja, no primeiro tempo
do Édipo há: a mãe, o menino e o falo. No primeiro tempo, a metáfora paterna está
inscrita na cultura.
Na relação com a mãe, a mãe é, para a criança, o outro como
constituinte da linguagem.
A criança vê, nos movimentos da mãe, a satisfação de suas
necessidades (do filho), e, por outro lado, a mãe traz a linguagem, que é o que o diz
ao filho o que está acontecendo.
No primeiro tempo do Édipo, o falo é um imaginário desejado pela mãe
com o qual a criança identifica-se, traduzido na imagem concebida pela mãe: filho
deficiente ou bom, ou que vai ser médico, etc. O menino toma essa identidade como
se fosse dele, tomando da mãe o desejo de ser “tal coisa”, logo, para a mãe é o falo
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que a completa, sendo o falo o significado do desejo. É sob ele que o desejo da mãe
vai ficar inscrito.
A mãe, no primeiro tempo do Édipo, sente sua carência de ser sob sua
própria castração, como faltando algo a ela (mãe) que é o falo. Esse reconhecimento
de sua castração (a mãe também passou pelo Édipo), faz com que ela procure algo
que a faria perfeita e que pode simbolizar no filho — falo, logo, a mãe-fática é aquela
que sente que nada lhe falta, imaginando que o eu a completa é o falo. Todas as
insatisfações da mãe encontram na criança, a possibilidade de criar a ilusão de que
se realizem.
Mas essa equivalência, filho=falo, pode se produzir ou não, ou seja, o
filho pode não se constituir como falo (na mãe que tem um filho de Síndrome de
Down, por exemplo), e se o primeiro tempo do Édipo em Lacan pode não discorrer
como a forma comum, a descrição do Édipo em Lacan é, então, uma variante e o
fato de que o filho não se converta no falo para a simbolização da castração materna
e, que, por conseqüência, a mãe não seja a mãe fática não significa que o falo não
exista para essa mãe. Como no caso da mãe que tem um filho com Síndrome de
Down para essa mãe o filho-falo será aquele que outra mulher tenha, cujo filho não
porte deficiência, O filho-falo existe para essa mãe, mesmo que sendo referida a
outra mãe e outro filho. Neste caso, o filho ficando constituído como não-falo, o
desejo da mãe continua sendo o de ter um filho que seja falo, sendo esta, também, a
meta do filho com a qual não poderá se identificar.
No segundo tempo do Édipo, o pai como privador da mãe, e enquanto
priva a criança do objeto de seu desejo ela deixa de ser o falo da mãe, vendo que a
mãe prefere outro que não a si próprio, pois supõe que outro teria algo que ela
(criança) não tem.
A menina, por influência da inveja do pênis desapega-se da mãe, que
censura por ter posto a filha tão desprovida (de pênis) no mundo; depois, a inveja do
pênis é substituída pelo desejo de ter um filho e a filha toma, com tal finalidade, o
pai, o pai como seu objeto de amor. A partir daí, identifica-se com a mãe, colocando-
se em seu lugar e querendo substituí-la junto ao pai, passando, então, a odiá-la.
A passagem pelo Édipo permite a sexuação e a formação do supereu.
A significação do Édipo não deve ser reduzida ao conflito Edípico imaginário, ao qual
Jacques Lacan, médico e psicanalista francês, chama de a farsa da rivalidade
sexual (1995, pág.57).
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É para esse “eu ideal“ que vai agora o amor de si dos pais, de que gozava
na criança; o verdadeiro eu não quero renunciar a perfeição narcísica de
sua infância (...) procura reganhá-la na forma nova de seu “ideal do eu”, que
viria a ser, num segundo momento, o “eu ideal”. (FREUD, 1914)
No “Eu Ideal”, Freud fala do “Eu real” que teria sido o objeto das
primeiras satisfações narcisistas, de um estado de “onipotência” do narcisismo
infantil do momento em que a criança era ela mesma o seu próprio ideal. A criança
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CAPÍTULO III
um corpo e fora de uma relação com o outro. Tais mães estão sempre habitadas
pela angústia, sendo a recusa do saber, para tais mães, uma prova de saúde.
As angústias dessas mães estão seladas na relação com o outro, sua
questão gera em torno daquilo que o outro espera ou pode suportar delas.
Quando uma mãe tem um filho com alguma deficiência, algumas mães
podem viver muito só, porque através desse filho não se sente reconhecida como
humana, e muito vigiada porque, mais do que as outras mães, têm de dar de si uma
imagem suportável.
Um dos dramas das mães de “portadores de necessidades especiais”
(PNEs) é a sua solidão, assediada de fantasias, de que não podem falar, o filho
participa sempre do mundo da fantasia da mãe, sendo marcado por esse mundo.
Para a mãe, biológica ou adotiva, há um estado semelhante ao sonho
em que ela deseja “um filho”, esse filho é, a princípio, um chamado de alucinação de
alguma coisa da infância da mãe que foi perdida. A princípio, ela cria esse filho
futuro sobre o traço da lembrança, onde estão inclusos sonhos.
A realidade da imagem do corpo enfermo produz um choque na mãe,
quando no plano fantasmático, o vazio era preenchido por um filho imaginário então
aparece o ser real para enfrentar uma imagem não esperada da realidade, nesse
momento a mãe tem que renunciar ao seu falo. O filho se tornará a sua revelia o
suporte de algo de essencial na mãe, estando esse filho destinado a preencher a
fatia de ser mãe, não tendo outra significação senão existir a mãe e não para si
próprio. Sendo assim, a criança permanecer a como sombra, para essa mãe, na
medida em que, por trás dessas trata, mas a criança não sabe que é chamada a
satisfazer o papel inconsciente que a mãe quer (seja de superdotado, doente) e sem
saber, a criança é raptada ou capturada pelo desejo da mãe. No caso da debilidade
mental, a inteligência deficiente irá ocupar a mãe, que, diante dos outros, o que faltar
do filho, sempre será por ela falado. Toda vez que o filho quiser despertar para algo,
ele será combatido pela mãe, até que o filho cabe, por se convencer de que não
pode e é não podendo que o filho é amado pela mãe.
Tais mães ficam plenamente satisfeitas quando o outro filho consegue
desempenhar para elas o papel de filho superdotado. Sem se darem bem conta
disso, vão opor continuamente os dois filhos um ao outro: serão elas que criarão a
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projetam nele trocas de sonhos aos quais eles (os pais) tiveram que renunciar. O
filho realizará os sonhos de desejo que os pais não puseram em prática. O
narcisismo primário representa uma espécie de onipotência que se cria entre o
narcisismo renascente dos pais e o narcisismo nascente do bebe, que estariam
inscritas as imagens e as palavras dos pais.
O narcisismo secundário que corresponde ao narcisismo do eu é
preciso que se produza um retorno do investimento, dos objetos transformados em
investimento eu, para que se construa o narcisismo secundário.
A passagem pelo narcisismo secundário leva o sujeito a se concentrar
parciais que, até esse momento, funcionavam segundo a modalidade automática é
levado ao investimento no objeto, porque as zonas genitais foram instauradas ainda.
Depois esses investimentos retornam para o eu. A libido toma o eu como objeto.
Por que a criança sai do narcisismo primário?
A criança sai dele quando o seu eu se vê confrontando com
com o qual tem de se comparar. A criança vai sendo submetida às exigências: 2
mundo que o cerca, exigências simbólicas através da linguagem. A mãe fala com
ela, mas também se dirige a outras pessoas. Assim, o filho percebe que a e
também deseja fora dele e que ele não é tudo para essa mãe essa é a ferida
infligida ao narcisismo primário da criança. A partir disso, o objetivo será fazer-se
amar pelo outro, em agradá-lo para reconquistar seu amor, mas isso só pode se
feito através da satisfação do ideal do eu. Enquanto com o narcisismo primário c
outro era si próprio a partir daí só é possível se ver através do outro.
Mas o “complexo de castração” vai instaurar o reconhecimento de a
incompletude que desperta o desejo de recuperar a perfeição narcísica.
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CAPÍTULO IV
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ELIA, Luciano. Corpo e Sexualidade em Freud e Lacan. Rio de Janeiro: Uapê, 1995.
LACAN. Jacques. Cinco lições sobre a teoria de Jacques Lacan. Introdução para
Ribeiro. Rio de Janeiro. 1993.
SINASON, Valerie. Compreendendo seu Filho Deficiente. São Paulo: Imago, 2002.
GLOSSÁRIO
Ganho secundário: alem.: krankheitsgewinn; fr.: bénéfice; ing.: gain from illness):
ldéia geral, segundo a qual a formação dos sintomas permite ao sujeito uma redução
das tensões engendradas por uma situação de conflito, de acordo com o princípio de
prazer.
incesto: s.m. (alem.: inzest; fr: inceste; ing: incest): Relações sexuais entre parentes
próximos ou afins, cujo casamento é proibido pela lei; por exemplo pai e filha, mãe e
filho irmão e irmã.
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Libido: s.f (alem. Libido; fr. Iibido; ing: libido): Energia psíquica das pulsões sexuais
que encontram seu regime em termos de desejo de aspirações amorosas e que,
para Sigmund Freud, explica a presença e a manifestação do sexual na vida
psíquica.
Falo: s.m (alem.: Phallus; fr: phallus; ing.: phallus): A noção de falo, central na teoria
psicanalítica, indica que o ponto de impacto eficaz da interpretação, num tratamento,
é o sexual; ao mesmo tempo, tal noção nos apresenta problemas de ordem ética a
respeito da sexualidade humana.
Outro, outro: s.m: alem.: [der] Andere; fr: autre, Autre; ing.: other. Lugar onde a
Psicanálise situa, além do parceiro imaginário, aquilo que é anterior e exterior ao
sujeito.
Inveja do Pênis: (alem.: Penisneid; fr.: envie du pênis; ing.: penis envy): Elemento
constitutivo da sexualidade feminina, que pode se apresentar de diversas formas,
indo do desejo freqüentemente inconsciente dela própria possuir um pênis, à
vontade de gozar um pênis no coito, ou, ainda, por substituição, ao desejo de ter um
filho.
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Demanda: s.f (alem. Verlangen, Anspruch; fr.: demande; ing.: request): Forma
comum de expressão de um desejo, quando se quer obter alguma coisa de alguém,
a partir da qual o desejo se distingue da necessidade.
Desejo: s.f (alem. Begierde, Begehren, Wunsch; fr: Désir; ing.:wish): Falta inscrita
na palavra e efeito da marca do significante sobre o ser falante.
ReaI: s.m: (alem. Reale; fr.:réel; ing.: real): Tudo aquilo que, para um sujeito, é
expulso da realidade, pela intervenção do simbólico.
Ideal do Eu ou Ideal do Ego: (alem: ichideal; fr.: idéal du moi; ing: ego ideal):
Instância psíquica que escolhe, entre os valores morais e éticos exigidos pelo
supereu, aqueles que constituem um ideal ao qual o sujeito aspira.
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Narcisismo: s.m. (alem.: narcibmus; fr.: narcissisme; ing.: narcissism): Amor que o
sujeito atribui a si próprio.
Pai real, pai imaginário e pai simbólico: (fr.: père rèel, père imaginaire, père
symbolique): Os diferentes registros em que é apresentada a paternidade, enquanto
sua função.