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ABSTRACT: The official letter is traditionally used in the correspondence of business administration not only
in official and governmental institutions but also in private corporations. It is one of the components of the
bureaucracy and power networks which exist in those institutions. The author utilizes an adaptation of the
rhetorical criticism to analyze the production and reception conditions of official letters. In this perspective,
some factors were considered in this analysis: the exigency (the situation that demands a rhetorical action);
the audience (the person or institution to whom the text is addressed); the genre (the appropriate type of text)
and the credibility of the addressor (his social position in relation to the audience in view).
1. Introdução
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de discurso aplicada aos gêneros de uso efetivo e corrente nas inúmeras instâncias de
trabalho.
Ultimamente, como se sabe, tem havido um interesse considerável no estudo e na
análise de gêneros acadêmicos nos cursos de pós-graduação no Brasil, até por conta das
influências das pesquisas realizadas por lingüistas estrangeiros, como os que foram citados
nos parágrafos anteriores.
Naturalmente, sem desmerecer a importância dos gêneros acadêmicos (resenhas,
resumos de dissertações, etc.), cujos estudos e análises deverão contribuir para melhorar a
proficiência dos seus usuários, há de se convir que o domínio dos gêneros utilizados na
correspondência administrativa e empresarial reveste-se também de uma importância
fundamental para melhorar a competência comunicativa e o nível de letramento das pessoas
que trabalham ou que se preparam para trabalhar em atividades administrativas, tanto em
repartições governamentais, como em empresas privadas.
Uma outra razão que pode ser aventada para o estudo e análise dos gêneros da
correspondência oficial e empresarial é a necessidade de se renovarem os chamados
“manuais de redação técnica e oficial” que, com raras e honrosas exceções, terminam se
concentrando apenas nos aspectos normativos, gramaticais, estilísticos, ortográficos e de
formatação. Apesar de existirem vários títulos sobre esse assunto no atual mercado
editorial, percebe-se que o tratamento dado aos conteúdos e as abordagens utilizadas não
diferem muito entre um manual e outro.
Na realidade, necessita-se de um certo “arejamento”, ou, talvez, uma certa
“desmistificação” desses gêneros, principalmente no sentido de se conscientizarem os
escreventes dos aspectos enunciativos, ideológicos, argumentativos, pragmáticos e retóricos
de que esses gêneros se revestem. Sem dúvida, a tomada de consciência desses aspectos
muito contribuiria para uma maior eficácia na escrituração desses gêneros, podendo-se
inclusive renová-los e torná-los mais accessíveis, principalmente quando se dirigirem a
audiências que não fazem parte da fechada burocracia estatal e empresarial.
No que respeita ao ofício3, especificamente, verifica-se que esse gênero é de uso
muito constante nas atividades administrativas; mas, ao mesmo tempo, verifica-se que a
habilidade dos servidores para a escritura de ofícios (e, por extensão, de outros gêneros
similares) nos ambientes de trabalho é muito rarefeita4. Assim sendo, mesmo convivendo
com a real ou potencial necessidade de escrever ofícios, e mesmo fazendo parte de uma
cultura disciplinar em que esse gênero circula freqüentemente, o fato é que poucos
trabalhadores conseguem enfrentar essa tarefa com uma proficiência razoável, geralmente
3
Convém assinalar algumas definições de ofício (como gênero da língua escrita) que aparecem nos
dicionários: “Carta formal, escrita em papel timbrado, de uma entidade pública ou privada” (Biderman, Ma.
Tereza. C. Dicionário Didático de Português. S. Paulo, Ática, p.671); “Forma de correspondência no serviço
público oficial, entre entidades da mesma categoria, ou de inferiores a superiores hierárquicos” (Houaiss,
Antônio, Pequeno Dicionário Enciclopédico Koogan Larousse. Rio de Janeiro, Editora Larousse do Brasil
S.A., p. 599); “Documento formal que estabelece a comunicação entre secretarias ou autoridades.” (Borba,
Francisco da S. Dicionário de Usos do Português do Brasil. S. Paulo, Ática, 2002. p.1116).
4
Tendo trabalhado por 22 anos como professora da Escola Técnica Federal de Alagoas, a autora deste artigo
teve também a oportunidade de assumir alguns cargos de chefia em setores ligados à administração do ensino,
diretamente ligados à burocracia administrativa daquela instituição. Ao longo dessa experiência foi possível
observar essa carência de servidores suficientemente competentes para escrever memorandos, ofícios, etc.,
apesar de a instituição oferecer, periodicamente, “cursos de redação oficial” para seus servidores. Esses cursos
são geralmente dados por professores de português que seguem a tradição gramatical. As aulas, portanto,
enfatizavam a ortografia, a concordância, os pronomes de tratamento, etc.
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adquirida por esforço próprio. Isso só tem contribuído para reforçar e reproduzir a idéia de
que a habilidade de escrever é algo semelhante a um “dom” que poucos possuem, e não
como uma competência que pode ser exercitada por qualquer pessoa que tenha um nível de
escolarização suficiente para o domínio das habilidades básicas de ler e escrever.
Neste trabalho, pretende-se abordar o ofício, gênero textual tradicionalmente usado
no cotidiano da correspondência administrativa oficial e empresarial, considerando o
contexto enunciativo de sua produção e recepção. Com isso, pretende-se fornecer alguns
subsídios para um ensino instrumental mais autêntico da língua portuguesa, como uma das
inúmeras formas de se melhorar o nível de letramento e de consciência crítica do cidadão
profissional e do futuro trabalhador nas esferas administrativas estatais e empresariais.
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informações de cunho oficial, os ofícios são “lavrados” com cópias para arquivo e recebem
numeração controlada ano a ano.
O ofício é uma variedade do complexo gênero cartas. Portanto, para estudar este
gênero, convém partir-se da carta enquanto “unidade funcional da língua, empregada em
situações características – ausência de contato imediato entre emissor e receptor” (Paredes
Silva, 1997:119). Assim, deve-se levar em conta que a carta é, antes de tudo, uma forma de
comunicação interpessoal. Neste sentido, retoricamente, ela preserva algumas das
características interativas da conversação. Afinal, uma carta é uma conversa entre pessoas
que estão distantes fisicamente. No entanto, há de se distinguir os vários tipos de carta,
considerando-se os campos de atividades em que são usadas e os tipos de relacionamento
existentes entre os interlocutores. Desse modo, existem as cartas pessoais, as cartas
profissionais, que servem a inúmeros propósitos, e outros tipos de carta utilizadas nas
esferas públicas e privadas do mundo do trabalho, que também veiculam uma grande
variedade de intenções comunicativas.
Diante dessa imensa diversidade de propósitos a que se prestam, conclui-se que as
cartas são gêneros que admitem uma acentuada heterogeneidade nos elementos que
configuram as suas organizações retóricas, já que o propósito comunicativo é refletido na
estrutura discursiva do gênero. Enquanto nas cartas pessoais pode-se verificar o uso de
estratégias que asseguram proximidade, afetividade e envolvimento, estreitando as relações
interpessoais; nas cartas profissionais, os escreventes utilizam estratégias que priorizam
mais a informatividade (Biber, 1988:133).
Nas cartas comerciais e oficiais, além de se verificar uma ênfase na informatividade,
deve-se atentar também, e principalmente, para os atos de fala expressivos e diretivos, por
meio dos quais o falante tenta influenciar o comportamento do interlocutor, geralmente
utilizando estratégias argumentativas baseadas em elementos que dão legitimidade a esses
atos de fala. Nesse caso, as relações interpessoais são mantidas formalmente, e recebem um
tratamento de suposta neutralidade, em favor de uma recomendada objetividade.
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da linguagem, o tratamento retórico, a estrutura textual-discursiva e as expressões
formulaicas resguardam a sua identidade como gênero exclusivo da burocracia
administrativa. No corpus disponível, composto de exemplares colhidos aleatoriamente,
dentre os 56 exemplares de ofícios analisados, os propósitos comunicativos se distribuem
da seguinte forma:
solicitar algum préstimo, que vai desde uma informação, um documento, até o
empréstimo de equipamento ou a liberação de uma dependência física da
instituição (24 exemplares);
encaminhar documentos para informação, apreciação ou divulgação (08
exemplares);
convidar para participar de eventos como seminários, encontros, etc. (08
exemplares);
dar informações (comunicar, prestar esclarecimentos) sobre eventos, sobre
liberações, solicitações e consultas feitas, sobre a tramitação necessária, sobre
reclamações feitas, etc. (08 exemplares);
encaminhar servidores para estágios e cursos (02 exemplares);
agradecer convite e atendimento de solicitação (02 exemplares);
colocar a instituição à disposição para sediar evento (01 exemplar)
oferecer serviços de representação (01 exemplar)
notificar juridicamente o diretor da instituição a prestar esclarecimento sobre
processo (01 exemplar) e
prestar solidariedade à instituição diante de denúncia infundada ao MEC (01
exemplar).
Mesmo não sendo objeto da nossa análise neste trabalho, convém dizer-se que os
propósitos comunicativos vêm também expressos por atos fala através de verbos
performativos expressos em locuções verbais, como se vê nos seguintes excertos:
a. “Vimos, por meio deste, mui respeitosamente, convocar V.Sª a participar de uma
Oficina...”
b. “Gostaria de contar mais uma vez com a atenção de V.Sª no sentido de
autorizar a utilização da Sala de Multimeios...” (pedir autorização)
c. “Gostaríamos de que as providências fossem tomadas no sentido de
agilizarmos a digitação ...” (pedir providências)
d. “Dirigimo-nos a V.Sª para solicitar-lhe a gentileza de verificar a
possibilidade de nos conceder uma doação de R$ 2.000,00.(ou prêmios
equivalentes) ...” (solicitar ajuda financeira ou em prêmios)
Nesta parte, apresentamos o propósito principal do nosso artigo, que é fazer uma
análise retórico-enunciativa do gênero em questão, em que se procura situar o ofício no
contexto social e institucional em que se dá a dinâmica de sua produção e recepção.
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Nesse sentido, o aspecto político-ideológico assume grande importância por conta
das instâncias hierárquicas de poder que ocorrem nas organizações burocráticas das
corporações estatais e empresariais. Como se sabe, os gêneros são ações discursivas que
reforçam, legitimam e “naturalizam” o pensamento dominante que está na base das crenças
e das práticas culturais e institucionais.
Nesse quadro contextual, portanto, instaura-se a dinâmica enunciativa da produção
e recepção dos ofícios, cujos componentes podem ser estudados à luz de alguns construtos
da crítica retórica (Gill & Whedbee, 1997). Isso complementa e se identifica com a
recomendação de Bhatia (1993) no sentido de que, na análise de determinado gênero
textual, seja examinado o contexto institucional em se o gênero circula, através das regras e
das convenções historicamente construídas e normalmente aceitas e reproduzidas pelos
usuários na comunidade discursiva.
Diante do exposto, conforme a visão sócio-retórica de gênero (Miller, 1984), para se
ter uma visão mais completa do ofício como uma das materializações do discurso
institucional e como uma ação retórica tipificada, é preciso que se proceda, primeiramente,
a uma análise, ainda que sucinta, do contexto de sua produção e recepção.
Essa análise, logo de saída, deve enfatizar alguns pontos importantes sobre o uso da
linguagem no mundo do trabalho, especialmente no âmbito da administração empresarial
estatal e /ou privada. Assim sendo, vale dizer que nessas organizações, como um todo, o
princípio a ser defendido é o do controle social, e a linguagem, principalmente a língua
escrita, neste contexto, assume o papel de regulação do trabalho.
A explicitação desse papel se dá via burocracia, cujas marcas principais são o
controle, o formalismo, a impessoalidade, a racionalização e o profissionalismo. Com
efeito, essas características do contexto em que ocorre a emissão/recepção de ofícios afetam
e restringem de maneira acentuada as interações discursivas e seus elementos enunciativos.
Dito de outra forma, sabe-se que, na vida da burocracia institucional, a utilização do
discurso é marcada, e mesmo determinada, pelas restrições e relações de força que ali se
realizam; daí serem a linguagem e os gêneros administrativos tão regrados e padronizados,
tendo a sua escrituração regulada através de normas, manuais oficiais e guias específicos.
Enfim, o ofício é um dos componentes das grandes teias burocráticas existentes nas
instituições públicas e, por extensão, nas organizações privadas.
No contexto da organização empresarial e burocrática, as relações sociais dão
especial relevo às conveniências que preservam a integridade organizacional, cabendo à
linguagem o papel de instrumento de trabalho necessário para o cumprimento de tarefas e a
manutenção da ordem institucional.
Numa perspectiva sócio-retórica, os atos de linguagem (especificamente os
enunciados escritos) que se realizam nesse contexto devem ser vistos como atos
responsivos a situações ou problemas no continuum das atividades, instaurando uma
dinâmica enunciativa (ou pragmática, se se quer), em que os gêneros desempenham seus
papéis de respostas a situações tipificadas.
Diante do exposto, e utilizando-se, de forma adaptada, alguns construtos da crítica
retórica (Gill & Whedbee, 1997:162), podem-se analisar, mesmo de forma abrangente, as
condições de produção dos ofícios através da apreciação de quatro elementos fundamentais
que têm influência considerável nas interações que se realizam no contexto em estudo. São
eles: a exigência (o problema ou questão à qual o texto se relaciona), a audiência (a pessoa
real ou institucional a quem se dirige o orador ou locutor), o gênero (o tipo de texto
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apropriado para a ocasião) e a credibilidade do orador (a posição social do orador em
relação à audiência buscada).
O conceito de exigência explica-se pelo fato de as situações sociais (geralmente
tipificadas e recorrentes) sempre demandarem das pessoas nelas envolvidas o uso de
determinadas (re)ações discursivas. Como diz Miller (1994:30), “compreender uma
exigência é ter um motivo”. Motivo que o indivíduo tem para se engajar numa interação de
“forma socialmente reconhecível e interpretável”. Ora, no mundo do trabalho, no dia-a-dia
das empresas e das repartições públicas são inúmeras as situações que exigem respostas
retóricas, que devem ser adequadas, significativas e pragmaticamente eficazes. Estas ações
cumprem, evidentemente, o caráter de respondibilidade constitutiva da linguagem; e no
caso das atividades administrativas, muitas dessas ações são concretizadas através da língua
escrita, especialmente quando a interação se dá, como no caso dos ofícios, entre
instituições. E a propósito da importância do uso da língua escrita nos setores
administrativos das instituições, convém frisar o seu caráter documental e sua histórica
relação com os mecanismos de poder, como já foi anteriormente discutido. Sem dúvida,
nesses contextos, as ações significativas só são consideradas válidas e legitimas através da
língua escrita. Isso gera, naturalmente, aquelas clássicas e bizarras pilhas de documentos
(onde não faltam carimbos e despachos) e que vão inchando as pastas dos arquivos nas
repartições públicas.
Quanto à audiência, é necessário reconhecer-se primeiramente que se trata de um
fator determinante nas interações discursivas que são levadas a efeito nos setores da
administração pública e privada, pois ela legitima e reproduz as relações de poder que se
desenrolam na dinâmica administrativa nas repartições públicas e nas empresas. Com
efeito, os ofícios são formas de comunicação entre instituições juridicamente constituídas e,
como tal, são revestidos de um status político-social conferido pelos poderes constituídos,
sendo, portanto, aceitos e reconhecidos pelas próprias comunidades em que se inserem e a
quem pretendem servir. As relações entre os interactantes do processo discursivo são,
portanto, jurídico-institucionais por excelência. Por isso, os ofícios são sempre escritos em
papel timbrado, são numerados e com cópias destinadas a arquivo5. Desse modo, as pessoas
físicas, mesmo se dirigindo a uma instituição pública (e também a uma empresa ou
organização particular) não utilizam (ou pelo menos não devem utilizar) ofícios, e sim
cartas comerciais, que têm seu uso aberto a todos os cidadãos, assim tenham um nível de
letramento suficiente para delas tirar proveito em vários tipos de interação e de situações da
vida numa sociedade civil organizada.
Ainda com relação à audiência, e também com base em Gill & Whedbee
(1997:167), leve-se em conta a distinção que deve ser feita entre a audiência real (o
interlocutor enquanto pessoa física) e a audiência implicada (o interlocutor enquanto
produto de formações imaginárias)6, sendo esta última uma espécie de idealização da
audiência, pois ela é instanciada pelo texto-gênero, e existe dentro do mundo simbólico que
permeia o intercurso comunicativo em que se dá a correspondência oficial e empresarial.
No caso da interação mediada pelo ofício e demais gêneros da atividade administrativa, o
que se tem, obviamente, é uma audiência implicada, já que a correspondência oficial e
5
Mesmo com o uso cada vez mais disseminado do computador nas esferas administrativas, essa prática
continua, como foi constatado nas instituições em que foram coletados os exemplares de ofício do corpus
utilizado neste trabalho. Especificamente quanto ao arquivamento, entretanto, é possível que, em alguns
escritórios, já se esteja utilizando os meios eletrônicos, substituindo as conhecidas pastas classificadoras.
6
Maingueneau, D. (1976) Initiation aux méthodes de l’analyse du discours. Paris, Hachette. p.144
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empresarial não se dá simplesmente entre locutores e alocutários, como pessoas portadoras
apenas de suas subjetividades, mas entre enunciadores/enunciatários, pois eles são
idealizados como portadores de outras vozes – as vozes institucionais: as instituições falam
pelas bocas dos seus representantes oficiais.
No estudo do contexto das interações sociais, o gênero é um componente essencial,
pois as intenções comunicativas manifestadas responsivamente diante das inúmeras
situações da vida se dão, como se sabe, através dos gêneros discursivos, que são formas de
ação social historicamente convencionalizadas dentro de determinada cultura. Diante disso,
falando especificamente, com relação ao caso da correspondência oficial e empresarial,
cabe ao escrevente a escolha adequada do gênero à situação, como já assinalava Bakhtin:
“Há toda uma gama dos gêneros mais difundidos na vida cotidiana que apresenta formas
tão padronizadas que o querer-dizer individual do locutor quase que só pode manifestar-
se na escolha do gênero, cuja expressividade de entonação não deixa de influir na
escolha. (...) A diversidade desses gêneros deve-se ao fato de eles variarem conforme as
circunstâncias, a posição social e o relacionamento pessoal dos parceiros” (Bakhtin,
1953/1997:302).
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assim, controla todas as ações interinstitucionais, já que a pessoa que assume tal cargo está
investida de toda a autoridade para representar e falar em nome da instituição.
Ainda com relação ao orador/locutor, a análise enunciativa baseada na crítica
retórica preconiza outros construtos. Da mesma forma que se distingue a audiência real da
audiência da audiência implicada, distingue-se também o locutor e a persona criada no
texto retórico (Trail, 2000:130). Assim, a persona retórica que emerge dos ofícios é sempre
portadora da voz institucional, defensora dos interesses da organização e sempre coerente e
comprometida com a filosofia política governamental. Não se deve esquecer que os braços
desse pensamento dominante em que se apóiam as elites e os quadros hegemônicos
nacionais chegam às repartições públicas e às grandes corporações privadas, cujos quadros
de dirigentes de todos os escalões rezam pela mesma cartilha ideológica que sustenta a
ordem político-institucional vigente em toda a comunidade nacional.
Afora o exposto, atente-se também para as relações de força que se estabelecem
entre as instituições ao interagirem por meio de ofícios. No corpus estudado, com
exemplares autênticos, verificou-se que algumas instituições privadas, que poderiam, ao se
dirigirem às instituições públicas estatais, utilizar a carta comercial, terminam utilizando o
ofício, que é mais ao gosto da burocracia estatal. Isto pode ser visto como uma sutil
evidência de submissão a uma virtual e conservadora hierarquia que subjaz às relações
institucionais no Brasil.
5. Considerações finais
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Foi, portanto, com essa intenção, que se lançou mão de alguns construtos da crítica retórica
para dar conta, mesmo de forma sucinta, dos aspectos institucionais e dos elementos do
contexto enunciativo em que se dão a produção e a recepção dos ofícios. A conscientização
sobre os dispositivos lingüísticos que marcam e legitimam as relações de poder e de
opressão na sociedade pode ser o ponto de partida para a transformação paulatina e positiva
das relações sociais. Essa parece ser uma perspectiva próxima à da análise crítica do
discurso defendida por alguns estudiosos, a exemplo de Fairclough (1995). Segundo esse
autor, a natureza da prática discursiva (e todos os seus componentes socioculturais e
ideológicos) modela a produção do texto, e deixa seus traços na superfície textual,
determinando também como deve se dar a interpretação desses traços.
Referências
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