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e prática 70
encarte do professor
Liberdade e destino
Com sentidos opostos, muitos renegam suas
liberdades mesmo sem saber
E
Por Rodolfo de Souza e Edgard Batista
mbora a liberdade seja um daqueles te- é difícil encontrar os defensores dos mais variados ti-
mas que exigem um esforço reflexivo pos de liberdade.
e, em certos casos, maturidade para No fim de 2012, o jornal francês Charlie Hedbo
discutir, engana-se quem imagina que criou uma grande polêmica ao publicar charges satíri-
esse assunto se restringe aos saberes dos filósofos. cas do profeta Maomé. Para os mulçumanos, as char-
Anteriormente ao surgimento da Filosofia, os re- ges são ofensivas à sua religião e aos seus costumes.
ligiosos, especificamente os gregos, indagavam o Em consequência, ocorreram protestos nada pacíficos
quanto suas vidas eram determinadas por forças frente às embaixadas francesas localizadas em países
divinas e como a própria vontade humana poderia mulçumanos. Outro caso que ganhou notoriedade in-
conduzi-los como agentes livres. ternacional foi o FEMEN. Formado estritamente por
Mesmo escrita após o surgimento da Filosofia, to- mulheres, o FEMEN se destaca, principalmente, pe-
ma-se a tragédia Édipo-rei, de Sófocles (496 a.C.-406 las suas integrantes protestarem com os seios à mostra.
a.C.), que exemplifica a questão. Há mais de 2.500 De desenhos satíricos a protestos seminus, o que há
anos, após os indícios históricos desse debate, a li- de comum entre eles é que todos ressaltam suas ações
berdade ainda é comumente discutida entre todos os como atos de liberdade, seja de imprensa, de expressão,
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Rodolfo de Souza é graduado em Filosofia pela PUC-Campinas e atua como professor da rede pública de ensino integral de São Paulo. rodolfoidt@yahoo.com.br
Edgard Batista Moraes é graduado em Filosofia pela PUC-Campinas e atua como professor da rede pública de São Paulo. gggare@yahoo.com.br
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ETAPA I: A CRENÇA NA LIBERDADE
E NO DETERMINISMO ASTR AL
ATIVIDADE I:
EXERCÍCIO I
Liberdade renegada?
Ler o capítulo XV – “A liberdade”, do livro Filosofia do homem, de Roger
Verneaux. Nesse capítulo, Verneaux explora as diversas concepções trabalhadas
Apesar da ampla reivindicação da por renomados filósofos. Depois disso:
liberdade, parece haver um grande con- 1) Discutir com os alunos o conceito que eles têm de liberdade. Peça que
trassenso social. É possível observar um escrevam um pequeno texto, ou se preferir discuta oralmente a respeito do que
número significativo de pessoas, que, acham sobre essas perguntas: a) É possível ser livre? b) E como é essa liberdade
de certa forma, renegam a liberdade, que se supõe existir?
mesmo de maneira implícita, quando 2) Confrontar as definições dos alunos.
manifestam suas crenças religiosas ou O contrassenso a respeito desse tema surgirá do confronto entre os concei-
pagãs. Um exemplo simples é a crença tos de liberdade e destino. Para provocar tensão, debater a crença no horóscopo.
nas previsões astrológicas dos horósco- A maioria das pessoas, independentemente da classe social ou profissional, de
pos. Desde seu surgimento, a Astrolo- médicos a donas de casas, acredita em previsões com base nos horóscopos. Dis-
gia sempre teve milhares de seguidores. cutir com os jovens as implicações que a crença em mapas astrais e previsões fu-
Atualmente, essa crença é tão grande turas acarreta na possibilidade de se pensar em qualquer aspecto de liberdade.
que a mídia lhe dedica um espaço ex- 3) Usar trechos de jornais, especificamente a seção dos horóscopos.
pressivo: há programas de TV, rádio, li- Utilizar O Estado de S. Paulo a e Folha de S. Paulo. Na Folha, o horóscopo
vros, revistas, colunas em jornais e sites fica na seção “Ilustrada”; no Estadão, as previsões para os signos encontram-se
que oferecem previsões sobre emprego, no “Caderno 2”. Nada impede a utilização de jornais locais ou qualquer outra
relacionamentos e até indicações sexu- fonte, como revistas ou a própria internet.
ais em determinadas situações. Crer ou 4) Entregar um jornal para cada aluno ou pequenos grupos para que res-
não em horóscopos, em si, não acarreta pondam ao seguinte questionário:
nenhum problema, isso só ocorre quan- a) Qual é o seu signo?
do as consequências dessas crenças ex- b) Ache seu signo no jornal e resuma o que ele prevê para o dia.
trapolam em implicações desastrosas, c) Você acredita na Astrologia e nas previsões dos horóscopos? Independen-
como na contradição de acreditar em temente de ser favorável ou contra, justifique sua resposta.
destino e em liberdade ao mesmo tempo. d) Acreditar nas previsões é não acreditar na possibilidade de ser livre?
Explicar o que são signos, horóscopos, Astrologia e suas previsões. Caso ache
interessante, essas também podem ser as palavras-chave de uma pesquisa re-
alizada pelos próprios alunos. Dizer a eles que por meio da data e da hora de
nascimento é calculado o mapa astrológico.
Apesar de essas características humanas serem determinadas pelos as-
tros, como explica a astróloga Cristina Figueiredo, “o mapa nada determi-
na, porque na mesma hora e no mesmo lugar pode ter nascido outra pessoa.
Ele dá indicações, mas a decisão é de cada um. Não é possível dar soluções;
nós apenas vemos os caminhos que podem se abrir, os desafios que po-
dem aparecer”.2 Independentemente de não serem recomendações precisas,
como diz Cristina Figueiredo, o que também pode ser apontado como uma
contradição; em tese, toda previsão astral se resume a crer em destino, ou
seja, acreditar no determinismo das nossas ações e na preexistência de as-
pectos da personalidade humana.
Essas três questões não têm a intenção de julgar o que os alunos acreditam,
mas confrontar e expor os problemas que elas acarretam quando pensarmos
na possibilidade de sermos livres. Apresentar a questão (e) somente no final da
discussão acerca do horóscopo, ou seja, depois que os alunos responderem as
questões (b), (c) e (d). A partir da questão (e), contraposta com a questão intro-
A tragédia Édipo-rei, de Sófocles, é um dutória (a), destacar o contrassenso de muitos argumentos.
exemplo de que o tema liberdade já era
discutido antes mesmo do surgimento 1
ROMANELLI, Cristina. O conhecimento astrológico continua fascinando clientes e especialistas, p. 34.
da Filosofia
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ATIVIDADE II:
Escolha a partir
da vontade
O questionamento e a inquietu- nas ocidental, mas humano, a rela- víduo. Sua teoria é um debate com
de humana a respeito de suas con- ção entre determinismo – doutrina diversas correntes filosóficas, que
dições no mundo e a necessidade filosófica ou religiosa que afirma tiveram como objetivo responder às
de saber a respeito do futuro ficam que a humanidade está parcial ou questões da liberdade humana, des-
evidentes em diversos povos no completamente condicionada por de as negações de qualquer forma
decorrer do tempo. As explicações circunstâncias das mais variadas de liberdade pelas teorias determi-
míticas, as quais afirmavam que as naturezas – e liberdade. Entre inú- nistas e religiosas até aquelas para
ações humanas eram determinadas meras respostas, apresentamos as as quais a liberdade somente po-
por deuses, as concepções científi- ideias expostas no século XX pelo deria ser alcançada a partir do co-
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cas de causalidade e o livre-arbítrio, filósofo existencialista francês Jean- nhecimento da natureza humana.
expressos na Religião cristã, resu- -Paul Sartre. A relação que certas teorias fazem
mem um pouco essas inquietudes. Sartre aponta diversos proble- entre liberdade e natureza humana
É, de todo modo, uma questão per- mas nas concepções de determi- é crucial para se entender as críticas
manente do pensamento não ape- nação e condicionamento do indi- de Sartre. Segundo ele, ainda que
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algumas características essenciais
do homem possam ser percebidas,
como a angústia, nenhum argu-
mento é suficientemente consisten-
te para se afirmar tal natureza. Às
contingências da vida, Sartre per-
segue, então, o ideal de responsabi-
lidade e ataca duramente quem foge
dele. Assim, os erros dos filósofos
que o antecederam estão direta e
necessariamente conectados a ba-
sicamente dois pontos: a crença em
uma natureza humana e a crença
em um Deus criador.
A partir da análise da famosa
frase “a existência precede a essên-
cia”, atribuída ao autor de O ser e o
nada, pode-se compreender melhor
sua crítica à ideia de natureza hu-
mana e de criação por meio de um
Deus. Em primeiro lugar, ele afir-
ma que a construção da individu-
alidade cabe ao homem e somente
a ele, ou seja, o homem constrói
sua essência. Segundo ele, “não há
natureza humana, visto que não
há Deus para a conceber”, 2 há, no
máximo, uma “universalidade hu-
mana de condição”. 3 A essência, ou
se poderia dizer a natureza, é criada
A crença nas previsões astrológicas dos horóscopos é uma forma evidente de
de acordo com a liberdade de cada
renegar a liberdade, mesmo que de maneira implícita
individuo.4 Dessa forma, “se Deus
não existe, há pelo menos um ser no
qual a existência precede a essência, jetar, pôr-se fora de si. A mudança só de. Não significa que a construção de
um ser que existe antes de poder ser acontece quando é possível o autoexa- cada um, a partir do individualismo,
definido por qualquer conceito, e me. E se, portanto, o homem é capaz seja inconsequente e irresponsável, ao
que este ser é o homem”.5 de mudar, é capaz, do mesmo modo, contrário, o homem se constrói vi-
de construir sua essência. Afirma Sar- sando toda a humanidade.
tre que, “se verdadeiramente a exis- A verdadeira liberdade, a qual
tência precede a essência, o homem é exige responsabilidade, deve par-
ATIVIDADE I:
responsável por aquilo que é. Assim, tir do engajamento. Engajar-se é
O homem é o único
o primeiro esforço do Existencialismo um processo de escolha humana na
ser consciente capaz
é o de pôr todo homem no domínio qual, indiretamente, não é possível
de se projetar
do que ele é e de lhe atribuir a total a realização solitária. Ao fazê-lo, o
responsabilidade da sua existência. E, homem visa a todos os homens, isto
O que Sartre pretende enfatizar é quando dizemos que o homem é res- é, está intrínseca a transcendência
o fato de que as coisas são determina- ponsável por si próprio, não queremos de suas decisões a toda humanida-
das, o homem não, pois o homem é o dizer que o homem é responsável pela de. Logo, “há dois sentidos para a
único ser consciente capaz de se pro- sua restrita individualidade, mas que palavra subjetivismo [...] Subjectivis-
2
SARTRE, O Existencialismo é um Humanismo, p.
é responsável por todos os homens”.6 mo quer dizer, por um lado, escolha
216. Essa condição de ser o homem re- do sujeito individual por si próprio;
3
Ibid., p. 250. sultado da criação a partir de si mes- e, por outro lado, impossibilidade
4
Essa afirmação é uma crítica direta aos iluministas
mo define o que no Existencialismo para o homem superar a subjetivi-
franceses e até mesmo a Kant. sartreano se entende por subjetivida- dade humana”.7
5
SARTRE, O Existencialismo é um Humanismo,
p. 218.
6
Ibid., p. 218. 7
Ibid., p. 218.
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sa situação, o indivíduo aceita os
valores externos como sendo uni-
versais e se acovarda e foge da res-
ponsabilidade, tornando-se em-si,
como as coisas. A esse conformis-
mo perante a vida, Sartre denomina
de espírito de seriedade.
A contradição aparente das teo-
rias da liberdade de Sartre se apre-
senta, sobretudo, entre a responsa-
bilidade da construção do ser livre
como atitude individual com as teo-
rias morais, as quais supõem valores,
se não universais pelo menos comuns
a uma determinada sociedade. Caso
seja possível essa moral comum, pelo
Muitos adolescentes acreditam que ser livre está atrelado a uma independência menos um pouco determinado, ou
financeira, que lhes garanta aquisição de bens seja, condicionado pelo respeito atri-
buído à responsabilidade a vontade
Por essa razão que o Existen- todeterminação, ele se descobre dos outros, o homem se encontra.
cialismo é, sim, um Humanismo. condenado8 à liberdade. E nessa Ainda que o Existencialismo de
Contudo revela, ao mesmo tem- descoberta se depara com a angús- Sartre pareça, à primeira impressão,
po, a inexistência de uma nature- tia de ser nada, e cabe a ele cons- uma doutrina filosófica contraditó-
za humana e, do mesmo modo, a truir sua essência ou abdicar dela, ria, é importante ressaltar a tentati-
não necessidade de um Deus para a iludindo a si mesmo e agindo, nas va de apresentação da possibilidade
construção dos princípios morais. palavras de Sartre, com má-fé. Nes- de escolha para os homens. Para ele,
São essas as causas para se con- cada escolha individual, imbuída de
cluir que a construção de cada um, 8
Salientar aos alunos que percebam a contradição responsabilidade, visa a toda a huma-
na linguagem sartreana. Em qualquer dicionário ou
a partir de si mesmo, não deva ser na linguagem cotidiana, condenação significa estar nidade e não apenas ao próprio in-
resultado de atitudes inconsequen- determinado a alguma coisa ou alguém, geralmente divíduo: “escolhendo-me, escolho o
de forma negativa. Mostrar que há uma liberdade
tes e irresponsáveis. quase que poética de Sartre em sua obra. No homem”.9 A novidade de suas ideias
Quando o homem toma cons- entanto, as contradições são comuns na história da
Filosofia e que se faz necessária certa sofisticação de 9
SARTRE, O Existencialismo é um Humanismo,
ciência de sua condição de au- raciocínio para delas se esquivar. p. 220.
exterior – seja a família, o Estado, um partido político, a Religião, os valores ou qualquer tipo de determinismo
social, biológico ou psicológico.
BORNHEIM, Gerd. O Existencialismo de Sartre. In: REZENDE, Antonio (Org.). Curso de Filosofia: para
professores e alunos dos cursos de segundo grau e de graduação. 13ª ed., p. 232 e 233. Rio de Janeiro: Zahar, 2005.
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é a revelação de uma moral tran- os homens os constroem, assim contato e conhecimento desses tex-
sitória exigida por cada situação, como constroem a si mesmos. tos. Disponibilizar para os alunos o
as quais cobram do homem total Sabemos que o texto filosófico é trecho abaixo do texto original de
responsabilidade por suas ações. a matéria-prima do estudo da Filo- Sartre, com o respectivo comentá-
Se os valores não são universais, sofia. Assim, acreditamos que seja rio do professor Gerd Alberto Bor-
são porque não estão prontos, fundamental que os alunos tomem nheim (1929-2002):
partilhamento de vídeos Youtube. Cf. http://www. Furtado (direção). Brasil: Sagres, 1998. Parte da que tiveram como objetivo responder
youtube.com/watch?v=Hh6ra-18mY8 Coletânea Curta os Gaúchos. às questões da liberdade humana
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PALAVRAS CRUZADAS DIRETAS
EXERCÍCIO II: WWW.coquetel.com.br © Revista COQUETEL 2013
Outro trecho que mere- Medalhas conquis- Crime inafiançável e Força militar brasileira que
ce destaque corresponde às tadas pelas duplas imprescritível no atuou na Segunda Guerra Mundial
Um dos
femininas de vôlei (?) e um: Brasil, Cidade natal do (sigla)
três frases iniciais do fil- de praia nos Jogos muitos segundo poeta Mário Quintana maiores
Olímpicos a Consti- sucessos
me: “Este não é um filme tuição de Tom
de 1996
de ficção. Existe um lugar Ingredien- A classe
Jobim
chamado Ilha das Flores. te do do pária
daiquiri
Deus não existe”. Pergun- Êmulo A terra do
Técnico que dirigiu a vatapá
tar o seguinte: Seleção brasileira (sigla)
1) Qual terá sido a in- nas Copas de 82 e 86
É simboli-
tenção do diretor ao co- zado pela Épocas
locar essas frases em des- cor azul na históricas
Bandeira
taque no início do filme? (?) das Desprovido
Aquelas pessoas estariam Rocas, de grande-
reserva za moral
na miséria por alguma natural ou intelec-
força superior que prees- tual (fig.) Ave cujo
piado imita o som de
tabeleceu o que seriam? um martelo batendo S Rádio
(símbolo)
2) Ou as condições so- na bigorna
ciais teriam determinado O popular
Agente da
"gás de
que esses moradores vives- cozinha" R disenteria
(pl.)
sem em péssimas condições? (sigla)
Unidade Sinuosas
3) Mediante possibili- de venda Verbo da
dades, teriam recursos de do bolo, na mensagem
doceria de Cristo
reverterem esse quadro de
Recurso
miséria e desigualdade? Carlos para
de (?), defesa do
4) É possível que a con- jornalista réu
dição material determine a Narcóti-
autor de
Museu
Agente do "A Desco-
consciência? cos
câncer de berta do
de Arte
Anônimos Moderna
Essas são algumas ques- (sigla) pele Brasil"
(sigla)
tões expostas aos alunos Movimen- Local Posição
ta o leque típico da do joga-
para orientá-los na reali- roda de dor que
Local
zação da resenha, uma vez onde o samba atua pelas
laterais
que objetivo é associar al- presidiá-
(fut.)
rio e seu
guns dos problemas da rea- defensor Zombar;
lidade de muitos brasileiros têm priva- gracejar
cidade El. comp.
a um olhar crítico. garantida Prefixo de
pela Cons-
de
"geófago": "oócito": Ç
tituição Terra ovo
O Existencialismo é um Humanismo, 4 a G E U O L C A T
ed. Lisboa: Presença, 1970. A L B R I V A