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Reflexão

e prática 70
encarte do professor

Liberdade e destino
Com sentidos opostos, muitos renegam suas
liberdades mesmo sem saber

Como foi um dia...


Se antes da Revolução Francesa, igreja e nobreza
dominavam, hoje o capital é que cerceia a liberdade

Com a curadoria de Carolina Desoti e Victor Costa

Carolina Desoti é graduada em Filosofia pela PUC-


Campinas e atua nas áreas da Filosofia Política e
Psicanálise pelo viés do Cinema.
Victor Costa (@costa_victor) é formado pela PUC-
Campinas e em roteiro pela EICTV (Cuba). Estudou
Artes Visuais e Comunicação na Unicamp. É professor,
roteirista, redator e produtor cultural.
FILOSOFIA
E A LIBERDADE

E
Por Rodolfo de Souza e Edgard Batista

mbora a liberdade seja um daqueles te- é difícil encontrar os defensores dos mais variados ti-
mas que exigem um esforço reflexivo pos de liberdade.
e, em certos casos, maturidade para No fim de 2012, o jornal francês Charlie Hedbo
discutir, engana-se quem imagina que criou uma grande polêmica ao publicar charges satíri-
esse assunto se restringe aos saberes dos filósofos. cas do profeta Maomé. Para os mulçumanos, as char-
Anteriormente ao surgimento da Filosofia, os re- ges são ofensivas à sua religião e aos seus costumes.
ligiosos, especificamente os gregos, indagavam o Em consequência, ocorreram protestos nada pacíficos
quanto suas vidas eram determinadas por forças frente às embaixadas francesas localizadas em países
divinas e como a própria vontade humana poderia mulçumanos. Outro caso que ganhou notoriedade in-
conduzi-los como agentes livres. ternacional foi o FEMEN. Formado estritamente por
Mesmo escrita após o surgimento da Filosofia, to- mulheres, o FEMEN se destaca, principalmente, pe-
ma-se a tragédia Édipo-rei, de Sófocles (496 a.C.-406 las suas integrantes protestarem com os seios à mostra.
a.C.), que exemplifica a questão. Há mais de 2.500 De desenhos satíricos a protestos seminus, o que há
anos, após os indícios históricos desse debate, a li- de comum entre eles é que todos ressaltam suas ações
berdade ainda é comumente discutida entre todos os como atos de liberdade, seja de imprensa, de expressão,
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tipos de pessoa. E, por ser largamente discutida, não de igualdade ou religiosa.

Rodolfo de Souza é graduado em Filosofia pela PUC-Campinas e atua como professor da rede pública de ensino integral de São Paulo. rodolfoidt@yahoo.com.br
Edgard Batista Moraes é graduado em Filosofia pela PUC-Campinas e atua como professor da rede pública de São Paulo. gggare@yahoo.com.br

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ETAPA I: A CRENÇA NA LIBERDADE
E NO DETERMINISMO ASTR AL
ATIVIDADE I:
EXERCÍCIO I
Liberdade renegada?
Ler o capítulo XV – “A liberdade”, do livro Filosofia do homem, de Roger
Verneaux. Nesse capítulo, Verneaux explora as diversas concepções trabalhadas
Apesar da ampla reivindicação da por renomados filósofos. Depois disso:
liberdade, parece haver um grande con- 1) Discutir com os alunos o conceito que eles têm de liberdade. Peça que
trassenso social. É possível observar um escrevam um pequeno texto, ou se preferir discuta oralmente a respeito do que
número significativo de pessoas, que, acham sobre essas perguntas: a) É possível ser livre? b) E como é essa liberdade
de certa forma, renegam a liberdade, que se supõe existir?
mesmo de maneira implícita, quando 2) Confrontar as definições dos alunos.
manifestam suas crenças religiosas ou O contrassenso a respeito desse tema surgirá do confronto entre os concei-
pagãs. Um exemplo simples é a crença tos de liberdade e destino. Para provocar tensão, debater a crença no horóscopo.
nas previsões astrológicas dos horósco- A maioria das pessoas, independentemente da classe social ou profissional, de
pos. Desde seu surgimento, a Astrolo- médicos a donas de casas, acredita em previsões com base nos horóscopos. Dis-
gia sempre teve milhares de seguidores. cutir com os jovens as implicações que a crença em mapas astrais e previsões fu-
Atualmente, essa crença é tão grande turas acarreta na possibilidade de se pensar em qualquer aspecto de liberdade.
que a mídia lhe dedica um espaço ex- 3) Usar trechos de jornais, especificamente a seção dos horóscopos.
pressivo: há programas de TV, rádio, li- Utilizar O Estado de S. Paulo a e Folha de S. Paulo. Na Folha, o horóscopo
vros, revistas, colunas em jornais e sites fica na seção “Ilustrada”; no Estadão, as previsões para os signos encontram-se
que oferecem previsões sobre emprego, no “Caderno 2”. Nada impede a utilização de jornais locais ou qualquer outra
relacionamentos e até indicações sexu- fonte, como revistas ou a própria internet.
ais em determinadas situações. Crer ou 4) Entregar um jornal para cada aluno ou pequenos grupos para que res-
não em horóscopos, em si, não acarreta pondam ao seguinte questionário:
nenhum problema, isso só ocorre quan- a) Qual é o seu signo?
do as consequências dessas crenças ex- b) Ache seu signo no jornal e resuma o que ele prevê para o dia.
trapolam em implicações desastrosas, c) Você acredita na Astrologia e nas previsões dos horóscopos? Independen-
como na contradição de acreditar em temente de ser favorável ou contra, justifique sua resposta.
destino e em liberdade ao mesmo tempo. d) Acreditar nas previsões é não acreditar na possibilidade de ser livre?
Explicar o que são signos, horóscopos, Astrologia e suas previsões. Caso ache
interessante, essas também podem ser as palavras-chave de uma pesquisa re-
alizada pelos próprios alunos. Dizer a eles que por meio da data e da hora de
nascimento é calculado o mapa astrológico.
Apesar de essas características humanas serem determinadas pelos as-
tros, como explica a astróloga Cristina Figueiredo, “o mapa nada determi-
na, porque na mesma hora e no mesmo lugar pode ter nascido outra pessoa.
Ele dá indicações, mas a decisão é de cada um. Não é possível dar soluções;
nós apenas vemos os caminhos que podem se abrir, os desafios que po-
dem aparecer”.2 Independentemente de não serem recomendações precisas,
como diz Cristina Figueiredo, o que também pode ser apontado como uma
contradição; em tese, toda previsão astral se resume a crer em destino, ou
seja, acreditar no determinismo das nossas ações e na preexistência de as-
pectos da personalidade humana.
Essas três questões não têm a intenção de julgar o que os alunos acreditam,
mas confrontar e expor os problemas que elas acarretam quando pensarmos
na possibilidade de sermos livres. Apresentar a questão (e) somente no final da
discussão acerca do horóscopo, ou seja, depois que os alunos responderem as
questões (b), (c) e (d). A partir da questão (e), contraposta com a questão intro-
A tragédia Édipo-rei, de Sófocles, é um dutória (a), destacar o contrassenso de muitos argumentos.
exemplo de que o tema liberdade já era
discutido antes mesmo do surgimento 1
ROMANELLI, Cristina. O conhecimento astrológico continua fascinando clientes e especialistas, p. 34.
da Filosofia

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ATIVIDADE II:
Escolha a partir
da vontade

Considerar a existência de algu-


ma forma de liberdade implica aceitar
a possibilidade de escolha a partir de
uma vontade. Mas acreditar em des-
tino subentende-se que tudo que se
faça independe de qualquer vontade;
absolutamente tudo – até mesmo as
possibilidades de escolhas já estarão
previstas. Portanto, liberdade e des-
tino são conceitos opostos. Assumir
um dos lados acarreta na negação do
outro, ou seja, não há como aceitar a
possibilidade de ser livre ou de ser de- Formado por mulheres, o FEMEN se destaca por protestos exibindo cartazes e
terminado sem se contradizer. confrontando autoridades, com os seios à mostra
É comum encontrar em músicas,
filmes, propagandas e novelas defini-
ções do que é ser livre. Na adolescên- tino. Os mesmo meios de comunica-
cia, esse se torna um dos principais as- ção divulgam amplamente essa cren- EXERCÍCIO II:
suntos. Para muitos jovens, ser livre se ça, a exemplo dos dois maiores jornais Após essa abordagem ini-
resume a uma concepção de senso co- do país. cial, introduzir o pensamento
mum, isto é, a liberdade estaria atre- Independentemente das crenças do filósofo Jean-Paul Sartre
lada a uma independência financeira que muitos jovens têm, é justamente (1905-1980) acerca da liberda-
que lhe garanta aquisição de bens, ir uma posição reflexiva perante essas de. Apresentar a biografia de
e vir conforme a própria vontade, ou possibilidades que esperamos atingir. Sartre e mostrar algumas ima-
no dito popular “ser dono do próprio O objetivo é a aquisição dos conceitos gens para os alunos se familia-
nariz para fazer o que bem entender”. filosóficos desse conflito, a partir de rizarem e o reconhecerem em
Em contrapartida, o mesmo acontece um assunto que pertença à realidade outras situações.
com a concepção da existência de des- dos alunos.

ETAPA II: SARTRE: A LIBERDADE


COMO CONSTRUÇÃO HUMANA

O questionamento e a inquietu- nas ocidental, mas humano, a rela- víduo. Sua teoria é um debate com
de humana a respeito de suas con- ção entre determinismo – doutrina diversas correntes filosóficas, que
dições no mundo e a necessidade filosófica ou religiosa que afirma tiveram como objetivo responder às
de saber a respeito do futuro ficam que a humanidade está parcial ou questões da liberdade humana, des-
evidentes em diversos povos no completamente condicionada por de as negações de qualquer forma
decorrer do tempo. As explicações circunstâncias das mais variadas de liberdade pelas teorias determi-
míticas, as quais afirmavam que as naturezas – e liberdade. Entre inú- nistas e religiosas até aquelas para
ações humanas eram determinadas meras respostas, apresentamos as as quais a liberdade somente po-
por deuses, as concepções científi- ideias expostas no século XX pelo deria ser alcançada a partir do co-
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cas de causalidade e o livre-arbítrio, filósofo existencialista francês Jean- nhecimento da natureza humana.
expressos na Religião cristã, resu- -Paul Sartre. A relação que certas teorias fazem
mem um pouco essas inquietudes. Sartre aponta diversos proble- entre liberdade e natureza humana
É, de todo modo, uma questão per- mas nas concepções de determi- é crucial para se entender as críticas
manente do pensamento não ape- nação e condicionamento do indi- de Sartre. Segundo ele, ainda que

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algumas características essenciais
do homem possam ser percebidas,
como a angústia, nenhum argu-
mento é suficientemente consisten-
te para se afirmar tal natureza. Às
contingências da vida, Sartre per-
segue, então, o ideal de responsabi-
lidade e ataca duramente quem foge
dele. Assim, os erros dos filósofos
que o antecederam estão direta e
necessariamente conectados a ba-
sicamente dois pontos: a crença em
uma natureza humana e a crença
em um Deus criador.
A partir da análise da famosa
frase “a existência precede a essên-
cia”, atribuída ao autor de O ser e o
nada, pode-se compreender melhor
sua crítica à ideia de natureza hu-
mana e de criação por meio de um
Deus. Em primeiro lugar, ele afir-
ma que a construção da individu-
alidade cabe ao homem e somente
a ele, ou seja, o homem constrói
sua essência. Segundo ele, “não há
natureza humana, visto que não
há Deus para a conceber”, 2 há, no
máximo, uma “universalidade hu-
mana de condição”. 3 A essência, ou
se poderia dizer a natureza, é criada
A crença nas previsões astrológicas dos horóscopos é uma forma evidente de
de acordo com a liberdade de cada
renegar a liberdade, mesmo que de maneira implícita
individuo.4 Dessa forma, “se Deus
não existe, há pelo menos um ser no
qual a existência precede a essência, jetar, pôr-se fora de si. A mudança só de. Não significa que a construção de
um ser que existe antes de poder ser acontece quando é possível o autoexa- cada um, a partir do individualismo,
definido por qualquer conceito, e me. E se, portanto, o homem é capaz seja inconsequente e irresponsável, ao
que este ser é o homem”.5 de mudar, é capaz, do mesmo modo, contrário, o homem se constrói vi-
de construir sua essência. Afirma Sar- sando toda a humanidade.
tre que, “se verdadeiramente a exis- A verdadeira liberdade, a qual
tência precede a essência, o homem é exige responsabilidade, deve par-
ATIVIDADE I:
responsável por aquilo que é. Assim, tir do engajamento. Engajar-se é
O homem é o único
o primeiro esforço do Existencialismo um processo de escolha humana na
ser consciente capaz
é o de pôr todo homem no domínio qual, indiretamente, não é possível
de se projetar
do que ele é e de lhe atribuir a total a realização solitária. Ao fazê-lo, o
responsabilidade da sua existência. E, homem visa a todos os homens, isto
O que Sartre pretende enfatizar é quando dizemos que o homem é res- é, está intrínseca a transcendência
o fato de que as coisas são determina- ponsável por si próprio, não queremos de suas decisões a toda humanida-
das, o homem não, pois o homem é o dizer que o homem é responsável pela de. Logo, “há dois sentidos para a
único ser consciente capaz de se pro- sua restrita individualidade, mas que palavra subjetivismo [...] Subjectivis-
2
SARTRE, O Existencialismo é um Humanismo, p.
é responsável por todos os homens”.6 mo quer dizer, por um lado, escolha
216. Essa condição de ser o homem re- do sujeito individual por si próprio;
3
Ibid., p. 250. sultado da criação a partir de si mes- e, por outro lado, impossibilidade
4
Essa afirmação é uma crítica direta aos iluministas
mo define o que no Existencialismo para o homem superar a subjetivi-
franceses e até mesmo a Kant. sartreano se entende por subjetivida- dade humana”.7
5
SARTRE, O Existencialismo é um Humanismo,
p. 218.
6
Ibid., p. 218. 7
Ibid., p. 218.

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sa situação, o indivíduo aceita os
valores externos como sendo uni-
versais e se acovarda e foge da res-
ponsabilidade, tornando-se em-si,
como as coisas. A esse conformis-
mo perante a vida, Sartre denomina
de espírito de seriedade.
A contradição aparente das teo-
rias da liberdade de Sartre se apre-
senta, sobretudo, entre a responsa-
bilidade da construção do ser livre
como atitude individual com as teo-
rias morais, as quais supõem valores,
se não universais pelo menos comuns
a uma determinada sociedade. Caso
seja possível essa moral comum, pelo
Muitos adolescentes acreditam que ser livre está atrelado a uma independência menos um pouco determinado, ou
financeira, que lhes garanta aquisição de bens seja, condicionado pelo respeito atri-
buído à responsabilidade a vontade
Por essa razão que o Existen- todeterminação, ele se descobre dos outros, o homem se encontra.
cialismo é, sim, um Humanismo. condenado8 à liberdade. E nessa Ainda que o Existencialismo de
Contudo revela, ao mesmo tem- descoberta se depara com a angús- Sartre pareça, à primeira impressão,
po, a inexistência de uma nature- tia de ser nada, e cabe a ele cons- uma doutrina filosófica contraditó-
za humana e, do mesmo modo, a truir sua essência ou abdicar dela, ria, é importante ressaltar a tentati-
não necessidade de um Deus para a iludindo a si mesmo e agindo, nas va de apresentação da possibilidade
construção dos princípios morais. palavras de Sartre, com má-fé. Nes- de escolha para os homens. Para ele,
São essas as causas para se con- cada escolha individual, imbuída de
cluir que a construção de cada um, 8
Salientar aos alunos que percebam a contradição responsabilidade, visa a toda a huma-
na linguagem sartreana. Em qualquer dicionário ou
a partir de si mesmo, não deva ser na linguagem cotidiana, condenação significa estar nidade e não apenas ao próprio in-
resultado de atitudes inconsequen- determinado a alguma coisa ou alguém, geralmente divíduo: “escolhendo-me, escolho o
de forma negativa. Mostrar que há uma liberdade
tes e irresponsáveis. quase que poética de Sartre em sua obra. No homem”.9 A novidade de suas ideias
Quando o homem toma cons- entanto, as contradições são comuns na história da
Filosofia e que se faz necessária certa sofisticação de 9
SARTRE, O Existencialismo é um Humanismo,
ciência de sua condição de au- raciocínio para delas se esquivar. p. 220.

EXERCÍCIO I: LEITUR A COMPLEMENTAR


Leia os trechos em sala de aula e reflita com os alunos baseado no que já foi estudado:
“O existencialismo ateu, que represento… declara que se Deus não existe, há ao menos um ser no qual a
existência precede a essência, um ser que existe antes de poder ser definido por algum conceito e que esse ser é o
homem ou, como diz Heidegger (Martin Heidegger, 1889-1976), a realidade humana. O que significa aqui que
a existência precede a essência? Isso significa que, primeiramente, existe o homem, ele se deixa encontrar, surge
no mundo, e que ele só se define depois. O homem, tal como o concebe o Existencialismo, não é definitivo
porque, inicialmente, ele nada é. Ele só será depois, e ele será tal como ele se fizer. Assim, não existe natureza
humana, já que não há Deus para concebê-la. O homem é apenas não somente tal como ele se concebe, mas tal
como ele se quer, e como ele se concebe após existir, como ele se quer depois dessa vontade de existir – o homem
é apenas aquilo que ele faz de si mesmo. Tal é o primeiro princípio do Existencialismo.”
SARTRE, Jean-Paul. O Existencialismo é um Humanismo, p. 24.
“[…] O homem é habitado por uma falácia: o desejo de ser, que é o desejo de fundamentar-se a partir do
outro que não ele mesmo. O Humanismo existencialista exige que o homem seja o fundamento sem fundamento
de todos os valores, que ele se invente a partir do nada que ele é, ao invés de se autodeterminar por algo que lhe é
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exterior – seja a família, o Estado, um partido político, a Religião, os valores ou qualquer tipo de determinismo
social, biológico ou psicológico.
BORNHEIM, Gerd. O Existencialismo de Sartre. In: REZENDE, Antonio (Org.). Curso de Filosofia: para
professores e alunos dos cursos de segundo grau e de graduação. 13ª ed., p. 232 e 233. Rio de Janeiro: Zahar, 2005.

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é a revelação de uma moral tran- os homens os constroem, assim contato e conhecimento desses tex-
sitória exigida por cada situação, como constroem a si mesmos. tos. Disponibilizar para os alunos o
as quais cobram do homem total Sabemos que o texto filosófico é trecho abaixo do texto original de
responsabilidade por suas ações. a matéria-prima do estudo da Filo- Sartre, com o respectivo comentá-
Se os valores não são universais, sofia. Assim, acreditamos que seja rio do professor Gerd Alberto Bor-
são porque não estão prontos, fundamental que os alunos tomem nheim (1929-2002):

ETAPA III: INTERDISCIPLINARIDADE:


A LIBERDADE COMO
CARACTERÍSTICA HUMANA
“... Liberdade, essa palavra que cinema na sala de aula,11 fazer uma
o sonho humano alimenta: que apresentação prévia, passar a ficha
não há ninguém que explique e técnica do filme com as informa-
ninguém que não entenda...” É ções básicas: direção, roteiro, ano,
com essa frase de Cecília Benevi- local de filmagem e gênero.12 Com
des de Carvalho Meireles (1901- posse dessas informações, os alunos
1964) que o curta-metragem Ilha poderão pesquisar e localizar o filme
das Flores 10 termina. com facilidade. Explicar essa ativi-
Exibir duas vezes o premiado dade para os alunos: o objetivo é a
documentário não ficcional Ilha das realização de uma resenha crítica do
Flores, que trabalha de forma críti- filme por uma perspectiva filosófica,
ca os diversos problemas que a so- que poderá ser relacionada a outras
ciedade brasileira ainda enfrenta. disciplinas como Língua Portugue-
Antes da exibição, como recomenda sa, Sociologia e História.
Marcos Napolitano em Como usar o
11
NAPOLITANO, Marcos. Como usar o cinema na
sala de aula, 4a ed. São Paulo: Contexto, 2010. A teoria de Sartre indica uma
discussão com as correntes filosóficas
10
É possível encontrar esse filme no site de com- Informações técnicas: Ilha das Flores. Jorge
12

partilhamento de vídeos Youtube. Cf. http://www. Furtado (direção). Brasil: Sagres, 1998. Parte da que tiveram como objetivo responder
youtube.com/watch?v=Hh6ra-18mY8 Coletânea Curta os Gaúchos. às questões da liberdade humana

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EXERCÍCIO I:
Por se tratar de uma atividade interdisciplinar, o trabalho conjunto com a disciplina de Língua Portuguesa
na orientação da escrita da resenha é essencial. Trabalham-se, assim, dois aspectos, forma e conteúdo. Além da
preocupação da forma e estrutura da escrita da resenha, o conteúdo também será privilegiado, ou seja, os concei-
tos utilizados nos argumentos e a coerência da interpretação do texto filosófico. Instruir os alunos às seguintes
recomendações:
1) Considerar o seu público leitor (as informações que eles precisam saber para entender o curta);
2) Apresentar seu posicionamento a partir da análise do curta-metragem, selecionando e comentando passa-
gens da obra, bem como a construção do enredo e dos personagens;
3) Utilizar reflexões construídas na discussão sobre a resenha […];
4) Apresentar um título que chame atenção para a leitura do seu texto.13
Dependendo da experiência cinematográfica que os alunos têm, cabe fazer um rápido resumo do filme. Com
essa abordagem poderão ser evitados diversos problemas, pois o Ilha das Flores apresenta uma estrutura diferente
dos filmes usuais que costumam passar na TV. Os alunos deverão assisti-lo também com uma postura diferente
de ver um filme por lazer. Pois o objetivo é que comecem a se portar como espectadores exigentes, críticos, com
um olhar mais profundo para os conceitos e problemas abordados pelo cinema.
Não comentar ou interferir na primeira exibição, deixar os alunos criarem suas próprias compreensões. Em
seguida, pedir que destaquem os pontos que acharam mais relevantes e os porquês. Com o término dessa so-
cialização, fazer algumas anotações básicas, o que facilitará na produção da resenha. Orientá-los a escrever um
resumo geral do filme, por exemplo, a descrição da trajetória percorrida pelo tomate, visto que de certa maneira
ele é o personagem responsável por entrelaçar todos os problemas do enredo.
A reexibição do filme é fundamental para os alunos fixarem os diversos conceitos referenciados. Uma vez
que o filme explora, enciclopedicamente, cada novo assunto, na segunda sessão comentar alguns trechos. Por
exemplo, o processo capitalista da mais-valia, que se inicia na plantação do tomate até a sua venda no mercado; a
extrema desigualdade social que coloca os moradores da Ilha das Flores atrás dos porcos na escolha dos alimen-
tos no lixão; o acidente com o césio-137 em Goiânia. Entre todos esses temas, descrever a situação em que se
encontram os moradores da Ilha das Flores. O ser humano é comparado e diferenciado dos demais animais: por
ter o polegar opositor, um telencéfalo altamente desenvolvido e por ser livre. Explanar essas características de forma a
levar os alunos a questionarem a situação dos moradores, visto que apesar de serem seres humanos são tratados
como animais inferiores aos porcos.
Entre esses três conceitos, a liberdade é a última a ser associada ao ser humano. É justamente ela que deve
ser destacada na resenha dos alunos. Orientá-los a relacionarem a situação em que se encontram os moradores
da Ilha das Flores, principalmente, com a característica de serem “livres”. O que remete a discussão anterior de
liberdade e determinismo. Para tanto, fazer com que fundamentem seus argumentos sob os conceitos do filósofo
Jean-Paul Sartre trabalhados na Etapa II.
13
Governo do Estado de São Paulo, Secretaria da Educação. Avaliação da Aprendizagem em Processo: Comentários e Recomendações Pedagógicas: Subsídios para o
Professor-Língua Portuguesa, 2ª série do Ensino Médio, Leitura e Produção de Texto, p. 58. São Paulo, 2012.

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PALAVRAS CRUZADAS DIRETAS
EXERCÍCIO II: WWW.coquetel.com.br © Revista COQUETEL 2013
Outro trecho que mere- Medalhas conquis- Crime inafiançável e Força militar brasileira que
ce destaque corresponde às tadas pelas duplas imprescritível no atuou na Segunda Guerra Mundial
Um dos
femininas de vôlei (?) e um: Brasil, Cidade natal do (sigla)
três frases iniciais do fil- de praia nos Jogos muitos segundo poeta Mário Quintana maiores
Olímpicos a Consti- sucessos
me: “Este não é um filme tuição de Tom
de 1996
de ficção. Existe um lugar Ingredien- A classe
Jobim
chamado Ilha das Flores. te do do pária
daiquiri
Deus não existe”. Pergun- Êmulo A terra do
Técnico que dirigiu a vatapá
tar o seguinte: Seleção brasileira (sigla)
1) Qual terá sido a in- nas Copas de 82 e 86
É simboli-
tenção do diretor ao co- zado pela Épocas
locar essas frases em des- cor azul na históricas
Bandeira
taque no início do filme? (?) das Desprovido
Aquelas pessoas estariam Rocas, de grande-
reserva za moral
na miséria por alguma natural ou intelec-
força superior que prees- tual (fig.) Ave cujo
piado imita o som de
tabeleceu o que seriam? um martelo batendo S Rádio
(símbolo)
2) Ou as condições so- na bigorna
ciais teriam determinado O popular
Agente da
"gás de
que esses moradores vives- cozinha" R disenteria
(pl.)
sem em péssimas condições? (sigla)
Unidade Sinuosas
3) Mediante possibili- de venda Verbo da
dades, teriam recursos de do bolo, na mensagem
doceria de Cristo
reverterem esse quadro de
Recurso
miséria e desigualdade? Carlos para
de (?), defesa do
4) É possível que a con- jornalista réu
dição material determine a Narcóti-
autor de
Museu
Agente do "A Desco-
consciência? cos
câncer de berta do
de Arte
Anônimos Moderna
Essas são algumas ques- (sigla) pele Brasil"
(sigla)
tões expostas aos alunos Movimen- Local Posição
ta o leque típico da do joga-
para orientá-los na reali- roda de dor que
Local
zação da resenha, uma vez onde o samba atua pelas
laterais
que objetivo é associar al- presidiá-
(fut.)
rio e seu
guns dos problemas da rea- defensor Zombar;
lidade de muitos brasileiros têm priva- gracejar
cidade El. comp.
a um olhar crítico. garantida Prefixo de
pela Cons-
de
"geófago": "oócito": Ç
tituição Terra ovo

ARANHA, M. L. de; MARTINS, M. H.


P. Podemos ser livres? Capítulo 19. In:
Filosofando: introdução à Filosofia, BANCO 5/rival. 6/amebas — pigmeu. 8/alegrete — araponga. 10/parlatório.
4 a ed., volume único, p. 234-246. São 5/rival. 6/amebas - pigmeu. 8/alegrete - araponga. 10/parlatorio.
Paulo: Moderna, 2009.
NAPOLITANO, M. Como usar o cinema
SOLUÇÃO
na sala de aula, 4a ed. São Paulo:
Contexto, 2010.
O O R I R L A T P A
Ç O B A G E N
ROMANELLI, C. O conhecimento R R I B A N A A
astrológico continua fascinando clientes A A L S O L T
e especialistas. Revista de História da M M A A P N
Biblioteca Nacional, ano 7, no 75, p. 30- E E A T I A F A

35. Rio de Janeiro: Sociedade de Amigos D T S A T R O S

da Biblioteca Nacional, dez. 2011.


S E B A R A M E
A R R P S G L
SARTRE, J.-P.; FERREIRA, V. U G M E E P I E
referências

O Existencialismo é um Humanismo, 4 a G E U O L C A T
ed. Lisboa: Presença, 1970. A L B R I V A

VERNEAUX, R. A liberdade. Capítulo XV.


A L E R U M R

In: Filosofia do homem, p. 169-198. São


F O

Paulo: Duas Cidades, 1969.

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