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➢ Anemia Ferropriva:
• A maior parte do ferro é encontrada nas hemácias, ligada ao grupo heme da
hemoglobina;
• Anemia ferropriva NUNCA deve ser o diagnóstico final (por trás dela existe quase
sempre uma doença de base que deve ser investigada!);
OBS: 1) Duodeno e jejuno proximal → absorção de todo o ferro alimentar. Em
pessoas normais, e mesmo na anemia ferropriva, o ferro absorvido pela mucosa
intestinal não ultrapassa 50%;
2) Ferro dietético heme: alimentos de origem animal; melhor absorvido
pela mucosa intestinal.
não heme: produtos de origem vegetal; sofre
influência do pH gástrico e de outras substâncias alimentares.
- Ácido ascórbico (vitamina C); outros ácidos orgânicos (cítrico, málico) e proteínas
da carne → estimulantes da absorção de ferro não heme;
- Cereais → inibem a absorção.
• Etiologia:
o Gestação (perdas basais; necessidades do feto, da placenta e do cordão
umbilical; aumento da massa eritrocitária e perdas por causa do parto →
necessidade de reposição de sulfato ferroso durante a gestação – profilaxia
primária);
o Crescimento acelerado na infância;
o Ingesta insuficiente de ferro (em populações carentes);
o Perda menstrual excessiva (mulheres em idade reprodutiva);
o Diminuição da absorção de ferro (causa mais comum → acloridria*;
gastrectomias; doença celíaca);
o Perdas gastrointestinais (homens e pacientes idosos – hemorroida, úlcera
péptica, câncer de cólon)
o Pacientes com IR em hemodiálise (restrições da dieta; perdas na diálise)
o Doadores regulares de sangue (especialmente mulheres) → cada doação
corresponde a uma perda de 250 mg de ferro;
• Achados Laboratoriais/Diagnóstico:
- Hemograma: anemia hipocrômica e microcítica; Hb (média: 8g/dl), VCM
(média: 74 fl), HCM e CHCM (média: 28 g/dl) reduzidos; RDW aumentado
(média: 16%); trombocitose (aumento de plaquetas na periferia: 500.000 a
600.000/mm3);
OBS: O RDW elevado (> 14%) ajuda a diferenciar a anemia ferropriva da
talassemia minor (também microcítica) que tem RDW normal (em torno de
13%).
*Transferrina: proteína responsável pelo transporte de ferro no plasma; tem capacidade de ligar
ao mesmo tempo 2 moléculas de ferro. Sua produção é regulada pelo ferro corporal, aumentando
quando os estoques de ferro estão esgotados.
• Tratamento
- O tratamento de escolha é a reposição de ferro por via oral, além do
tratamento, sempre que possível, da doença de base;
- O composto mais usado para reposição é o sulfato ferroso; sua absorção é melhor
quando administrado com o estômago vazio, de preferência associado à vitamina C
ou suco de laranja;
- Efeitos colaterais do ferro oral: náuseas, vômitos, desconforto epigástrico e
diarreia → nesses casos, o sulfato ferroso passa a ser dado junto com a comida!
OBS: A reposição parenteral (endovenosa) de ferro deve ser indicada somente em
situações especiais.
• Manifestações Clínicas:
- O quadro clínico da ADC é marcado basicamente pelos sinais e sintomas da
doença de base.
• Achados Laboratoriais/Diagnóstico
- Embora possa ser normocítica-hipocrômica**, ou mesmo microcítica*-
hipocrômica, a ADC, é principalmente normocítica-normocrômica;
- Ferro sérico baixo (< 50 mg/dl); ferritina sérica normal ou alta (entre 50 – 500
ng/ml); TIBC normal ou baixo (< 300 mg/dl) → redução da transferrina sérica;
saturação de transferrina levemente baixa (10 – 20%); FEP elevada (mas em menor
grau que a anemia ferropriva); TRP baixa (ao contrário da ferropriva);
OBS: *Quando existe microcitose, ela é discreta e quase nunca o VCM fica < 72 fl;
**A hipocromia é mais comum e mais acentuada do que a microcitose,
diferenciando esta da anemia ferropriva (a microcitose é mais proeminente e se
instala antes da hipocromia).
• Tratamento
- O tratamento dessa anemia nem sempre
é necessário, pois geralmente é discreta e
o tratamento da doença de base, quando
eficaz, associa-se à melhora do quadro
hematológico;
- Infelizmente o controle das doenças crônicas nem sempre é alcançado e a anemia,
quando sintomática, deve ser tratada.
➢ Anemia da IRC
• A IRC acomete cerca de 1% da população, tendo como principais causas:
nefropatia diabética, nefropatia hipertensiva e as glomerulopatias primárias e
secundárias;
• Muitos dos sinais e sintomas da IRC são devidos à anemia.
• Patogênese: deficiência na produção de eritropoetina pelo parênquima renal!
• Manifestações clínicas e laboratoriais
- A anemia da IRC é normocítica –
normocrômica e sua gravidade tende a ser
proporcional ao grau de disfunção renal;
- Esfregaços de sangue periférico podem
revelar múltiplos equinócitos (ou hemácias
crenadas) e alguns esquizócitos em
capacete (fragmentos de hemácias).
• Tratamento
- Deve ser feito com eritropoetina
recombinante.
➢ Anemia Megaloblástica
• É um distúrbio ocasionado por um bloqueio na síntese do DNA, com isso, o núcleo
da célula amadurece de forma lenta, e a divisão celular se dá mais tardiamente.
Entretanto, o citoplasma não sofre alterações e “cresce” à espera da divisão celular
que não ocorre e, como resultado, as células acabam se tornando maiores.
• As células mais afetadas são as que possuem renovação mais rápida, como as
precursoras da medula óssea e as células do TGI;
• Principais etiologias: deficiência de vitamina B12 (cianocobalamina) e/ou ácido
fólico (folato) → importantes cofatores para a síntese de DNA. Outras condições
são o uso de medicamentos que bloqueiam a síntese de DNA (antagonistas de
purinas e pirimidinas – p. ex.: certos quimioterápicos e imunossupressores) ou que
interferem no metabolismo do ácido fólico (metotrexato, anticonvulsivantes).
OBS: Anemia megaloblástica NÃO é a mesma coisa que anemia macrocítica → ela
é apenas uma das causas de anemia macrocítica!
➢ Anemia Perniciosa
• Caracterizada pelo desenvolvimento de autoanticorpos que atacam as células
do corpo e fundo gástricos (células parietais), reduzindo tanto a produção de
ácido e pepsina quanto de Fator Intrínseco. O resultado é o desenvolvimento
de hipocloridria e anemia megaloblástica por má absorção de B12;
• É a causa mais comum de deficiência de vitamina B12;
• Afeta principalmente mulheres brancas de meia-idade;
• É fator de risco para adenocarcinoma gástrico;
• Os principais autoanticorpos são:
- anticélula parietal: 90% dos casos;
- anti – FI: 60% dos casos → inibe a ligação do FI com a vitamina B12;
• Está associada com outras doenças autoimunes como a doença de Graves,
Hashimoto, vitiligo, insuficiência adrenal idiopática (doença de Addison),
hipoparatireoidismo.
• Tratamento
- Consiste em identificar e tratar a causa base, quando possível e corrigir a
deficiência (vitamina B12 e ácido fólico);
- Na grande maioria dos pacientes com deficiência de B12, o problema está na má
absorção dessa vitamina → via tradicional de administração é parenteral;
- A deficiência de folato é tratada com terapia de reposição via oral; e a dieta deve
ser corrigida, aumentando a ingestão de verduras para que não haja recidiva do
quadro carencial após o fim do tratamento.
➢ Anemias hemolíticas:
- Em indivíduos normais, somente eritrócitos “envelhecidos” são removidos pelo
sistema reticuloendotelial do fígado e baço;
- A vida média de uma hemácia gira em torno de 120 dias;
- Hemólise: destruição prematura das hemácias na periferia, seja no espaço
intravascular, seja no interior dos órgãos do sistema reticuloendotelial;
OBS: Se a eritropoiese estiver normal, com estoques de ferro, ácido fólico e B12
preservados, a ½ vida das hemácias pode se reduzir para até 20-25 dias, sem que se
desenvolva anemia, devido a capacidade da medula em aumentar a produção de
hemácias → “hemólise compensada” (½ vida reduzida, mas não a ponto de causar
anemia). Quando a ½ vida chega a um valor inferior a 20 dias, instala-se a anemia.
Um estado de hemólise compensada pode evoluir rapidamente para anemia
hemolítica se houver qualquer problema que afete a eritropoiese.
➔ Hemólise extravascular (tipo + comum): hemácias são destruídas no tecido
reticuloendotelial, especialmente o baço.
➔ Hemólise intravascular: hemácias são destruídas na própria circulação e seu
conteúdo é liberado no citoplasma; na maioria das vezes, resulta de
anormalidades adquiridas.
- Consequências da Hemólise:
▪ Resposta medular: A hemólise estimula a liberação de eritropoetina pelo
rim. Esse hormônio atua na medula óssea, estimulando a liberação de
reticulócitos (“hemácias jovens”) → anemia hiperproliferativa!
O reticulócito é uma célula um pouco maior que a hemácia madura (VCM ~
108 fl) e ao serem lançados na circulação se tornam hemácias maduras após 1
dia. Contudo, sob forte estímulo de maturação, a medula lança no sangue
reticulócitos mais imaturos – shift cells – que são ainda maiores (VCM > 108
fl) e têm um tempo de maturação maior (1,5 – 2,5 dias) → policromatofilia
ou policromasia.
A resposta medular também pode ser observado no mielograma → intensa
hiperplasia eritróide!
▪ Produção de bilirrubina: Assim que é destruída, a hemácia libera
hemoglobina. Os macrófagos do sistema reticuloendotelial metabolizam essa
hemoglobina. Pela ação da heme-oxigenase, os componentes do heme – ferro
e protoporfirina – são separados. A protoporfirina é transformada em
biliverdina que é convertida em bilirrubina indireta. Esta é lançada no plasma
e transportada ao fígado, ligada à albumina. O ferro é transportado pela
transferrina de volta à medula óssea para ser incorporado a um novo
eritroblasto.
▪ Formação de cálculos biliares: Toda hemólise crônica predispõe à formação
de cálculos biliares (aumento da produção de bilirrubina).
▪ Contagem de Reticulócitos (índices corrigidos*): reticulocitose (aumento
na produção medular de reticulócitos).
*2 correções
- Achados clínicos:
▪ Leve icterícia (associada à palidez);
▪ Esplenomegalia*;
▪ HF + de anemia;
▪ Uso de medicamentos;
▪ Urina avermelhada ou marrom (hemoglobinúria). * As talassemias são as
anemias hemolíticas que mais aumentam o baço.
- Laboratório da hemólise:
▪ Desidrogenase Lática (DHL): quase sempre elevada na hemólise →
liberação dessa enzima do interior das hemácias.
OBS: Os níveis plasmáticos de DHL não ficam tão elevados como na anemia
megaloblástica!
▪ Indicadores de Hemólise Intravascular:
o Hemoglobinemia: normalmente esperamos encontrar níveis baixíssimos
de Hb no plasma; na hemólise intravascular, temos hemoglobinemia real.
o Hemossiderinúria: na presença de hemólise intravascular, a Hb é filtrada
e reabsorvida pelos túbulos renais. Nas células tubulares, ela é
catabolizada e o ferro (do grupo heme) é armazenado nas proteínas de
depósito (hemossiderina e ferritina) → células tubulares normalmente
descamam → hemossiderina na urina (azul da Prússia).
o Hemoglobinúria: Quando a hemólise intravascular é ainda mais intensa
→ saturação da hemossiderina nos túbulos renais → Hb filtrada não é
reabsorvida → hemoglobinúria.
OBS: É importante lembrarmos que a hemossiderinúria e hemoglobinúria,
quando mantidas, podem levar à depleção das reservas de ferro,
acrescentando ao quadro um componente de anemia ferropriva.
▪ Índices Hematimétricos: Hemograma de um paciente com hemólise →
anemia normocítica e normocrômica (forma + comum).
OBS: Em casos de hemólise grave → VCM elevado = macrocitose
(reticulocitose e liberação das “shift cells” * no sangue periférico).
*shift cells = reticulócitos de maior tamanho (> 108 fl).
▪ Hematoscopia: shift cells no sangue periférico; anisocitose e poiquilocitose.
- Etiologia:
1. Anemias hemolíticas hereditárias;
2. Anemias hemolíticas adquiridas.
Eliptocitose Hereditária
- Caracterizada por um distúrbio na síntese da espectrina ou da proteína 4.1,
afetando as “forças horizontais” do citoesqueleto;
- A maioria dos indivíduos é assintomática, apresentando hemólise leve, não
acompanhada de anemia ou esplenomegalia;
- O sangue periférico revela ovalócitos e eliptócitos.
Estomatocitose Hereditária
- O defeito de membrana permite que haja grande influxo de sódio e água para o
interior da hemácia que se torna edemaciada com redução da sua HCM;
- A hemácia super-hidrata é vista no sangue periférico com uma aérea de palidez
central semelhante a uma boca = estomatócito;
- A maioria dos pacientes possui esplenomegalia e anemia hemolítica.
OBS: A deficiência de
G6PD, por ter uma
herança recessiva ligada
ao X, é mais frequente
(porém não exclusiva)
no sexo masculino.
- Clínica: fadiga, palidez, icterícia, lombalgia, urina escura (precipitados por
uma INFECÇÃO ou administração de DROGAS).
- Laboratório: hemoglobinemia, hemoglobinúria, metalbuminemia + achados
clássicos de qualquer anemia hemolítica. O sangue periférico apresenta “células
mordidas” e corpúsculos de Heinz.
- Diagnóstico: dosagem da atividade da G6PD no sangue do paciente;
- A estratégia mais efetiva para controlar a doença é prevenir as crises
hemolíticas, evitando estresses oxidativos.
Anemia Falciforme
- A mutação pontual GAG → GTG (6-Glu → Val) cria o gene βS (HbS);
- Todo ser humano possui duas cópias (alelos) do gene da β-globina → somente
os homozigotos para o gene βS (os dois alelos são do tipo βS) desenvolvem a
“doença” anemia falciforme; aqueles que herdam apenas uma cópia do βS em
associação a outro alelo qualquer possuem a “variante falcêmica” (heterozigotos
para o gene βS);
- Existem diversas variantes falcêmicas possíveis, dependendo do segundo alelo
presente → fenótipos clínicos distintos, de gravidade e prognóstico variáveis.
- Fisiopatologia:
1. Comportamento Anômalo da Hb S:
➔ Baixa solubilidade: troca do ácido glutâmico pela valina → perda da
eletronegatividade e ganho de hidrofobicidade (“repulsa pela água”) →
tendência à autoagregação → formação de polímeros de HbS no interior da
hemácia → alteração do formato da célula (afoiçamento), prejudicando sua
deformabilidade. Os polímeros de HbS não carreiam oxigênio.
A mistura com outras hemoglobinas, sobretudo à HbF bloqueia a
polimerização → por isso, a forma mais grave de doença falciforme é a
homozigose HbSS (anemia falciforme), onde > 90% da hemoglobina é HbS.
Nas variantes falcêmicas, a gravidade depende da proporção de HbS dentro da
célula e da influência exercida pelas outras hemoglobinas presentes!
Instabilidade molecular: a HbS é uma molécula instável → tende a sofrer
oxidação com mais facilidade do que a Hb normal, principalmente quando em
contato com os fosfolipídios da membrana celular (formação de
macromoléculas “desnaturadas” compostas por fragmentos de globina, ferro e
fosfolipídios)
2. Consequências para a Hemácias: a instabilidade da Hb leva a um aumento do
estresse oxidativo intracelular, mesmo nas hemácias não afoiçadas (reações
oxidativas acontecem o tempo todo dentro das hemácias do falcêmico).
3. Consequências para o Organismo:
➔ Anemia hemolítica: na anemia falciforme os 2 mecanismos de hemólise
acontecem ao mesmo tempo:
- Hemólise extravascular (2/3 do total);
- Hemólise intravascular (1/3 do total): quando as hemácias falcêmicas são
destruídas no interior da corrente sanguínea, ocorre liberação de seus
conteúdos para o sangue.
A HbS (instável e com tendência a provocar reações oxidativas) + moléculas
“desnaturas” existentes nessas células exercem efeitos negativos sobre o
endotélio (depleção de NO – propriedades vasodilatadoras, antitrombóticas e
anti-inflamatórias). Além disso, há um estímulo a resposta inflamatória
(crônica) que potencializa a disfunção endotelial – o falcêmico é um paciente
constantemente “inflamado”.
O endotélio acaba sendo difusamente comprometido. Os capilares
tendem à vaso-oclusão (“crises falcêmicas agudas”- crises álgicas) em
decorrência da maior adesividade (exposição de fatores adesiogênicos) entre o
endotélio e as hemácias falcêmicas. Na parede dos vasos de maior calibre
ocorre hiperplasia e fibrose, obstruindo progressivamente o lúmem e
aumentando a chance de trombose.
Fenômeno de vaso-oclusão capilar: Adesão de reticulócitos ao
endotélio, lentificando o fluxo sanguíneo → impactação e empilhamento de
hemácias, inicialmente as afoiçadas e posteriormente as não afoiçadas →
bloqueio do fluxo sanguíneo → isquemia tecidual (micro infartos).
- Diagnóstico:
1. Laboratório: por ser uma anemia hemolítica crônica, a anemia falciforme cursa
com:
▪ queda leve a moderada da hemoglobina e do hematócrito;
▪ reticulocitose;
▪ hiperbilirrubinemia indireta;
▪ aumento de DHL.
A anemia é normocrômica; leucócitos e plaquetas aumentados, elevação dos
“marcadores de fase aguda” (ex.: proteína C reativa) – pela resposta inflamatória
sistêmica que acompanha a doença.
OBS: A reticulocitose provoca um aumento “artificial” do VCM (os reticulócitos
possuem maior tamanho que as hemácias maduras).
No esfregaço de sangue periférico:
▪ hemácias irreversivelmente afoiçadas – as ISC;
▪ policromasia – indicativo de reticulocitose;
▪ corpúsculos Howell-Jolly – sinal de asplenia;
▪ hemácias “em alvo” – indício genérico de que existe uma hemoglobinopatia.
2. Confirmação: através da eletroforese de hemoglobina (p/comprovação da
HbS);
3. Rastreio neonatal: é feito através do teste do pezinho a fim de detectar uma
série de doenças genéticas, incluindo a anemia falciforme → a adoção precoce
de medidas preventivas é capaz de mudar a história natural da doença, reduzindo
sua morbimortalidade.
- Manifestações clínicas: derivam principalmente da oclusão vascular e da anemia
(hemolítica crônica). Praticamente todos os órgãos podem ser afetados pela
oclusão vascular.
OBS: A expectativa de vida dos falcêmicos é inferior à da população geral; mas
vale ressaltar que o prognóstico melhorou muito nas últimas décadas!
- Tratamento: Existem quatro condutas básicas que diminuem a morbimortalidade
da anemia falciforme, prolongando a vida do paciente, são elas: (1) profilaxia
contra o pneumococo; (2) reativação da síntese de HbF (com Hidroxiureia); (3)
hemotransfusão; e (4) uso de quelantes de ferro (substâncias que sequestram o
ferro e aumentam sua eliminação do organismo).
- Complicações: existem inúmeras, nos mais diversos sistemas (geniturinário,
cardíaco, pulmanar, esquelético etc.). Exs:
▪ Crise álgica: dor aguda e pode ser sintoma inicial da AF em alguns casos.
Em crianças com menos de 2 anos, a primeira crise álgica costuma ser a
síndrome mão-pé (dactilite falcêmica). Ocorre dor e edema nas
extremidades, em consequência à isquemia/infarto dos pequenos ossos das
mãos e pés.
▪ Síndrome Torácica Aguda: causada por vaso-oclusão capilar pulmonar
(micro infartos) e infecção.
.
Talassemias:
- Desordens hereditárias caracterizadas por deficiência na síntese das cadeias de
globina;
- São classificadas de acordo com o tipo de cadeia globínica deficiente:
▪ Betatalassemias (deficiência na produção de cadeias beta);
▪ Alfatalassemias (deficiência na produção de cadeias alfa).
➔ Betatalassemias
- Forma mais comum de talassemia no Brasil;
- Mecanismos genéticos: diversas mutações genéticas determinam 2 tipos de
gene betatalassêmico:
(1) gene β0: totalmente incapaz de produzir cadeia Genótipos possíveis: β/β
beta (pessoa normal), β0/β0 e
(2) gene β+: produz uma pequena quantidade de β+/β+ (homozigotos), β0/β+
cadeia beta, mas inferior ao normal. (duplo heterozigoto), β0/β e
O gene normal da cadeia beta é representado como β+/β (heterozigotos).
gene β.
❖ Betatalassemia Intermédia
- Homozigotos para o gene β+ (genótipo β+/ β+);
- Quadro mais brando que o da betatalassemia Major e, geralmente, não
dependente da hipertransfusão;
- Clínica: anemia crônica; deformidades ósseas; esplenomegalia moderada;
OBS: crescimento, desenvolvimento e fertilidade estão preservados.
- Laboratório: achados idênticos aos da betatalassemia Major; a diferença está
no grau da anemia.
- Tratamento: pacientes devem ser acompanhados, para avaliação de seus
sintomas, função cardíaca e sinais de sobrecarga de ferro; reposição de ácido
fólico; em alguns casos, pode haver necessidade de transfusões sanguíneas e
terapia com quelante de ferro.
➔ Alfatalassemias
- Decorrentes de deleção de um ou mais genes alfa;
- Genótipo normal dos 4 genes alfa é α α /α α;
- Genótipos alfatalassêmicos:
▪ αα/α_ (1 deleção): carreador assintomático;
▪ αα/_ _ (2 deleções): alfatalassemia minor (heterozigoto α0);
▪ α_/α_ (2 deleções) :alfatalassemia minor (homozigoto α+);
▪ α_/_ _ (3 deleções): Doença da HbH;
▪ _ _/_ _ (4 deleções): Hidropsia fetal.
✓ α0 (representado por _ _): deleção de ambos os genes alfa de um braço do
cromossomo;
✓ α+ (representado por α_): deleção de apenas um gene alfa de um braço
cromossomial.
❖ Hidropsia Fetal: a ausência completa de cadeias alfa (genótipo _ _/_ _) é
incompatível com a vida extrauterina.
➢ Anemias Sideroblásticas
- Caracterizadas por anemia + depósitos de ferro nas mitocôndrias dos eritrócitos
→ a mitocôndria “carregada” de ferro assume localização perinuclear nessas células
= sideroblastos em anel;
- Patogênese e Fisiopatologia: distúrbio da síntese do heme.
O heme é formado pela incorporação de ferro (Fe+2) à protoporfirina; esse processo
ocorre dentro da mitocôndria dos eritroblastos. Deficiências enzimáticas ou defeitos
mitocondriais podem prejudicar a síntese do heme → consequências: prejuízo na
síntese de Hb (hipocromia e anemia) e acúmulo de ferro na mitocôndria.
O heme inibe a captação de ferro pelo eritroblasto, mas como pouco heme é
formado, o ferro continua a se acumular na célula (sideroblastos em anel). O ferro
mitocondrial acumulado é lesivo ao eritroblasto – destruição na própria medula
(eritropoiese ineficaz).
Redução da síntese de heme + eritropoiese ineficaz → absorção intestinal de fero →
hemocromatose eritropoiética (também ocorre nas talassemias).
- Formas de AS: