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Contos de Aprendiz

Autor do livro: Carlos Drummond de Andrade

A salvação da alma – Eram cinco filhos, quatro meninos e uma menina. Moravam em uma
cidadezinha onde brigar era coisa comum e questão de fazer valer sua honra. Os meninos
mesmo brigavam muito entre si. O filho mais velho, Miguel, tinha ido pra cidade grande fazer o
colegial deixando os outros irmãos que sempre imaginavam que com o irmão mais velho ali as
coisas seriam diferentes. Ester, a única filha mulher, era o meio dos rapazes conseguirem
dinheiro, vendiam a ela coisas que encontravam e ela sempre comprava, pois o pai sempre lhe
dava dinheiro. Com a chegada de alguns padres na região os meninos foram levados pra
confessar. Depois disso Tito, que era o penúltimo filho, chegou ao seu irmão mais novo com
quem sempre brigava e humilhava nas lutas e pediu perdão, ofereceu-se a fazer qualquer coisa,
primeiramente o menino disse que já tinha o perdoado, mas depois deu a ele pra se redimir a
pena de levá-lo montado em suas costas e a cada distância gritar que era um burro. Como o
irmão passara a andar devagar com ele em cima o mais novo lhe chutou as virilhas. Rolaram no
chão em brigas e no outro dia não puderam comungar.

Sorvete – Joel e seu colega moravam em uma pequena cidade, no entanto, para quem vinha do
campo já era de se impressionar. Os meninos costumavam ir ao cinema, mas em uma tarde ao
passarem pela confeitaria viram um anúncio em que se oferecia sorvete de abacaxi,
especialidade da casa. O amigo de Joel quis deixar o filme para ficar e tomar o sorvete, porém
acabaram indo para o cinema. Lá não conseguiam prestar atenção, só pensavam no sorvete.
Abandonaram o filme e foram à confeitaria. Experimentaram e odiaram, Joel comeu do mesmo
jeito e o amigo foi obrigado a comer também. Deixar o sorvete na taça era ferir a honra da família.
Ambos tomaram até o fim aquele sorvete que odiaram.

A doida – Na cidade havia uma doida, muitas justificativas do porquê que se tornara louca. Vivia
em uma casa isolada de onde, às vezes, saia uma nega que por três meses ou menos trabalhou
ali como doméstica. Os adultos para assustar as crianças faziam ameaças como: “você vai
almoçar com a doida, dormir, morar com ela”. Certa vez um grupo de meninos tacava pedras na
casa da doida, queriam vê-la sair da janela gritando palavrões, no entanto, ela não apareceu. O
mais novo dos garotos encheu-se de coragem e penetrou o jardim, logo estava dentro da casa e
os outros meninos já tinham ido embora. Na casa suja e destruída encontrou um quarto nas
mesmas circunstâncias, porém ali estava a doida, ao vê-la não quis mais machucá-la, pelo
contrário, percebeu que ela estava à beira da morte e se compadeceu, ficando junto dela
esperando o momento chegar.

Presépio – Das dores era jovem e seu pai a enchia de tarefas para que ela não ficasse com
tempo vago pra pensar em bobeiras. Nem por isso a menina deixara de viver, tinha um
namorado, Abelardo. Naquele dia era véspera de natal e ele tinha ido visitá-la. A visita atrasou a
finalização do presépio. Era isso que afligia Das dores, ela era a única que sabia montar
corretamente o presépio e tinha que terminá-lo naquela noite, mas terminar aquilo a impediria de
ir à missa de galo para ver Abelardo. Ela conhecia bem o relógio e como as horas voam quando
se precisa dela, os irmãos ainda a atrapalhavam e a visita de amigas para combinar o horário de
irem à missa também. Das dores montava o presépio, mas em cada objeto só via e pensava em
Abelardo.

Câmara e cadeia – Estavam todos os homens da Câmara Municipal ali discutindo os impostos a
serem cobrados, no entanto, entre todos aqueles homens só um fazia o trabalho, Valdemar. O
calor abafava a sala e ele foi até a janela onde ficou olhando as redondezas. Embaixo da câmara
ficava a cadeia, ele se lembrou de quando era menino e como a imagem dos presos já lhe era
familiarizada. Foi em meio a isso que ouviu barulhos que o fez voltar à sala. Um preso havia
fugido e ido lá para a câmara, os homens gritavam querendo o submeter à sua “autoridade”,
Valdemar convenceu o preso de se sentar e ali ele contou que abrira a fechadura e saíra, tinha
ido até lá para ver os homens que pisam na cabeça dos presos, contou também do calor e das
nojentas refeições da cadeia. Até que Valdemar levantando disse que teria que prendê-lo
novamente, o preso naturalmente tentou fugir, Valdemar deixou o problema com os policiais que
já o perdiam de vista na fuga.

Beira rio – As chamadas terras da companhia eram lideradas pelo capitão Bonerges. Lá as
bebidas alcoólicas eram proibidas e talvez por isso os trabalhadores fossem tão desanimados,
não tinham o que lhes fizesse esquecer a realidade. Até que chegou por ali um negro que vendia
bebida, claro que agia de forma escondida, porém nos trabalhadores logo se encontrou uma
animação e disposição para o trabalho nunca visto. Bonerges desconfiando enviou dois homens
para que rondassem o negro e o retirassem das terras com suas bebidas, no entanto eles
voltaram alegando nada ter encontrado, mas seus bafos eram de bebida. Bonerges então
chamou o capitão do destacamento policial. Eles chegaram e logo o negro afirmou ter licença do
governo para ter aquele comércio ali, no entanto os homens destruíram a vendinha e todos os
produtos obrigando o negro ir embora, esse foi, mais sem pressa, caminhando lentamente
mesmo ao som dos tiros.

Meu companheiro – O homem na estrada pagara mais que o necessário por um cachorrinho,
não passava de um vira-lata, mas tinha traços de cães de raça. Levou-o pra casa e já lhe dera o
nome de pirulito para evitar confusões. A mulher não era muito chegada a animais de estimação,
gostava do bichinho, mas não se aproximava. Ao filho mais novo foi dado o título de dono, porém
pirulito gostava mesmo era do homem e ele do cachorrinho. Os dois eram companheiros e se
punham a conversar, os meninos até implicavam, pois o cachorro gostava de gente “velha”. Então
certo dia o cachorro desapareceu, o homem até pensou ter sido ação da esposa, mas logo
desconsiderou, só sabia que o amigo tinha ido embora como muitas pessoas fazem.

Flor, telefone, moça – Uma amiga lhe contou essa história. Uma moça morando em uma
cidadezinha vivia em uma casa ao lado do cemitério. A diversão muitas vezes era assistir os
velórios. A menina de tanto acompanhar tais eventos se habituou ao cemitério e por lá já
passeava. E foi em um de seus passeios que arrancou do chão uma florzinha insignificante e,
instantes depois, a lançou fora sem maiores preocupações. Foi ai que começou a receber
ligações de uma voz distante e suplicante que todo dia ao mesmo horário pedia sua flor de volta,
aquela que nascera em sua cova. Como as ligações não paravam a menina contou aos pais que
pediram ajuda policial até que só passaram a acreditar no conteúdo espiritual daquela voz e
procuraram em centros ajuda. A voz não parou e ligou até que a menina de tal forma perturbada
morreu.

A baronesa – Luis vivia naquela casa há um bom tempo e só vira a rica baronesa quatro vezes.
E no dia da morte dela, saiu correndo em busca de Renato, o sobrinho-neto. Chegou a casa dele
e juntos voltaram para a casa onde a baronesa vivia. Tratava-se de uma rica senhora e quanto
mais cedo se chegasse de mais jóias se apoderaria. Renato chegou, entrou no quarto e pegou o
poço que sobrara, incomodando a posição de morte da baronesa, e depois saiu do quarto. Luis o
esperava, entraram no banheiro e fizeram a partilha justa das jóias da morta.

O gerente – Samuel não se casara, era o gerente bem sucedido do banco, vivia a freqüentar a
sociedade até que incidentes se deram. Primeiro ao beijar a mão de uma dama a quem
cumprimentava essa começou a sangrar, outra vez depois do jockey novamente quando ia beijar
a dama em despedida passou correndo em um cavalo um homem e logo se viu a Mão da mulher
sangrando. O médico avaliou que o dedo tinha perdido sua ponta através de uma mordida e logo
acusaram Samuel, a polícia o questionou mas em nada resultou. Em uma festa, novamente ao
cumprimentar uma dama, ao mesmo tempo em que um garçom passava a ponta do dedo lhe foi
arrancada. A essa altura as mulheres temiam os cumprimentos de Samuel. Teve por fim uma
última dama com quem tomara um sorvete e conversara sobre o inventário e outra coisa, quando
foi se despedir entrou um homem vendendo lâminas e o dedo da viúva sangrou depois do beijo.
Com isso, Samuel foi afastado do banco e foi morar em São Paulo, trabalhando no banco de lá,
anos depois voltou ao Rio e se encontrou com a viúva que perdera a ponta do dedo, porém ela
tinha adquirido uma infecção e teve o braço amputado. Os dois continuaram o encontro, porém
apenas bebendo muito. Na manhã seguinte Samuel voltou a São Paulo sem finalizar o negócio
que tinha levado ao Rio.

Nossa amiga – Uma menina de três anos vivia entre duas casas, para as quais ia sozinha
mesmo. Para evitar a mão bisbilhoteira criaram Catarina, uma menina que por brincar com um
cachorrinho de vidro que a mãe não tinha permitido, quebrou-o e virou uma borboleta “bruxa”. E
Pepino que era um velho bêbado e curvado que pegava as crianças. Às vezes a menina não
queria ir embora de uma casa para outra com medo do Pepino, falavam que iriam dar uma festa e
chamar Pepino só para a menina ver como ele era bonzinho e ela com raiva ia embora dizendo
que não viria à festa, mas logo voltava arrumada e de banho tomado. Festas era o motivo pelo
qual ela tomava banho. Por fim, brincava também de mamãe, usando frases colhidas da conversa
dos adultos.

Miguel e seu furto – Miguel se tornou um homem simpático, porém nunca assumira uma posição
na vida e agora, findado o seu sustento, dormia em jornais. E foi lendo as manchetes desses que
teve a grande idéia de roubar o mar. E assim o fez, mesmo que o mar ficasse no mesmo local
novas regras tinham sido estabelecidas, como o imposto pago a Miguel e a proibição dos banhos
para manter a moralidade. Ele se tornou tão rico que queimava sua riqueza para ter onde guardar
as coisas que constantemente adquiria. Porém, um dia um menininho saiu correndo e arrancando
suas roubas corajosamente nadou no mar e logo o povo juntou pra ver, e outro menino entrou e
de repente todos se apoderavam novamente do mar. Miguel depositou sua fortuna em bancos
seguros e passou a colecionar conchinhas para se lembrar de sua ex-propriedade.

Conversa de velho com criança – Ele observa o velho e a menina no ônibus. A menina, como
descobriu perguntando, chamava Maria de Lourdes e o velho descobriu que chamava-se Ferreira
ouvindo a conversa dos dois. A menina trazia um pacote de balas como a um tesouro e o velho
vinha carregado de compras e em pé. Quando o cobrador veio, com dificuldade o velho arrancou
do bolso uma moeda para pagar a passagem, porém essa lhe caiu das mãos indo parar na rua.
Pararam o bonde e procuraram a moeda e como não a acharam o velho não teve que pagar. A
menina ofereceu uma bala a Ferreira que aceitou, ambos eram amigos, notava-se só de olhar,
percebia-se também que a menina só oferecera a bala para ela também poder comer. Quando o
bonde parou os dois desceram e o homem ficou a se perguntar se eram grandes amigos ou
apenas vô e neta muito amigos.

Extraordinária conversa com uma senhora de minhas relações – Ele estava em pé no ônibus
se segurando pelas argolas que ficam no teto, ela estava sentada e, como eram conhecidos,
sorriram. Ele não se lembrou da imagem dela, até porque a via de cima pra baixo, então quando
ela o cumprimentou com um bom dia tentou decifrar quem era através da lembrança da voz. Não
conseguiu e se pôs em avaliações sobre o vestido dela, o valor que dava as curvas certas e os
limites que impunha. Ela lhe perguntou como ia e só na segunda vez que ele a respondeu com
versos, segundos depois corrigidos pela pergunta certa, “Vou bem. E a senhora como vai?”, ao
que ela lhe falou sobre sua preocupações com um gato, eletrocardiogramas e etc. No entanto, ele
não a ouvia pois se questionava sobre ultrapassar ou não os limites. Depois disso o ônibus parou
e ela desceu, sendo pra ele essa a mais extraordinária conversa que tivera com damas de sua
relação.

Um escritor nasce e morre – Ele morava em uma cidadezinha pequena e em uma aula de
geografia a professora falava sobre países longes e citou o Pólo Norte, foi ali que o escritor
nasceu. Escreveu a viagem da sua cidadezinha ao Pólo Norte, a professora tomou o texto e o
afirmou como um grande escritor. Foi assim que ele cresceu e foi embora, escreveu contos e
poesias, não gostava de se achar um escritor literado e fazia críticas aos outros. Ao fundo ouvia
uma voz que lhe afirmava ser um artista nato. Então aos trinta anos morreu.
Por Rebeca Cabral

Antes do Baile Verde

Autor do livro: Lygia Fagundes Telles

Os objetos é o primeiro conto e narra o diálogo entre o marido e sua mulher sobre os objetos
comprados, os seus valores e suas representações. Como o peso de papel que só tem função se
está sobre papéis e um anjinho que só tem valor quando tocado, pois ganha vida.

Verde lagarto amarelo fala sobre dois irmãos, o mais velho e o caçula Rodolfo. O mais novo
sempre foi o preferido da mãe, e o mais velho vivia a serviço do querer dele por intervenção da
mãe. O mais velho sempre mais calado e quieto cresceu e vivia sozinho; a única coisa que sentia
ter como sua era a escrita, ele era escritor. Já Rodolfo era casado, animado. Foi numa visita que
fez ao irmão que lhe declarou também ter escrito um romance, roubando assim a única coisa
pertencente ao irmão mais velho.

Apenas um saxofone é a história de uma mulher velha e rica. Tinha um homem rico que a
sustentava, um jovem que lhe satisfazia e um professor espiritual com quem dormia. Possuía
jóias, tapetes e uma mansão, no entanto vivia infeliz. Vivia na saudade do seu grande amor, um
saxofonista que se dedicara a ela completamente, ela era a música dele. Ele tocava com paixão o
saxofone e assim mantinha a mulher. Mas a relação se desgastou a ponto dele ir embora
enojado. E assim ela vivia só com a lembrança.

Helga fala de um jovem do sul do Brasil que vivia em férias na Alemanha, logo assumindo uma
vida alemã. Em uma das férias passou pela guerra, não seria mais aceito no Brasil. Vivia ali de
uma espécie de tráfico de alimentos. Foi lá que conheceu Helga, uma alemã por quem se
apaixonou, ela tinha uma cara perna ortopédica. Chegou a noivar, o pai dela propôs que
iniciassem o tráfico de penicilina, mas faltava o investimento inicial. Foi assim que ele casado com
Helga roubou-lhe a perna ortopédica e desapareceu voltando, tempos depois, rico para o Brasil.

O moço do saxofone narra a história de um chofer de caminhão que se instalou em uma


pensão. Nela viviam inúmeros anões e uma mulher com seu marido que era saxofonista, um
homem traído e conformado. Na pensão havia quartos separados, quando a esposa estava com
outro homem o marido tocava o saxofone de uma forma deprimente, isso incomodava de mais o
chofer. Quando ele se encontrou com a mulher do saxofonista marcaram um encontro. Ela
explicou qual era a porta, no entanto quando ele chegou teve com o saxofonista, conformado
como era indicou a direção e ao ser questionado do por que não fazia nada afirmou que tocava o
saxofone. Com isso o chofer partiu da pensão.

Antes do baile verde narra a preparação da jovem Tatisa para o carnaval. Com ajuda da sua
empregada pregavam, nos últimos minutos, as lantejoulas na saia da moça, nesse momento a
empregada se inquietava, pois iria se atrasar para o encontro com seu homem e também
discutiam o fato de que o pai de Tatisa vivia seus últimos minutos. Ainda antes de sair, a menina
duvidosa da proximidade da morte do pai, desejava ir ao baile. Assim, as duas saíram à porta
deixando o pai de Tatisa desfalecendo.

A caçada fala de um homem que visitando uma loja de antigüidades encontra uma tapeçaria
velha onde encontra alguma lembrança que não reconhece. Torna-se preso à imagem e se sente
como personagem da caçada que ela ilustrava. Passou a ir à loja com freqüência para observar a
peça e foi na frente dela que teve um ataque cardíaco.
A chave fala de um casamento saturado, onde Tom e sua mulher se arrumam para um jantar,
enquanto ele insatisfeito reclama e pensa na inutilidade desses jantares e no quanto gostaria de
ficar ali dormindo.

Meia noite em ponto em Xangai narra a noite de uma cantora que alcança o momento de brilho
de sua carreira em um concerto na China. Recebe em casa, depois do show, seu empresário e
conversam sobre a carreira dela e sobre a desumanidade dos empregados dali. Porém, depois
que o empresário se vai a cantora junta a seu cachorrinho e se aterrorizam com a escuridão e
com a suposta presença do empregado no aposento.

A janela narra a conversa entre um homem e uma mulher. O homem chega ao quarto da mulher,
se aproxima da janela dizendo que seu filho morrera ali e que na janela havia uma roseira que
seu filho amava. A mulher o questiona, mas ele pouco responde, preso à lembrança do filho. A
mulher então lhe oferece um refresco ao que ele aceita, mas quando ela retorna ao quarto vem
acompanhada de médicos, ele lhe pergunta o motivo e sem necessidade da camisa de força os
médicos o levam embora.

Um chá bem forte e três xícaras fala da espera de uma mulher, enquanto observa uma nova
borboleta em uma rosa, por sua convidada ao chá, uma jovem de 18 anos que trabalha com seu
marido. A empregada que está com ela pergunta se tal moça é a que liga atrás do patrão e ela
afirma que sim. Depois, limpando as lágrimas, a mulher caminha até o portão para receber a
jovem que vem chegando, enquanto a empregada vai buscar o chá e três xícaras, caso o patrão
venha também.

O jardim selvagem fala sobre o chamado Tio Ed casado com Daniela, um jardim selvagem. A
princípio, em confidência com a sobrinha, a Tia Pombinha, irmã de Ed, desaprova o casamento,
dizendo que Daniela vive constantemente com uma luva em uma das mãos a qual ninguém vê.
No entanto, depois de conhecê-la a acha um amor. Depois de um tempo a empregada da casa
conta à sobrinha de Ed que viu Daniela matar o cachorro da casa com um tiro na cabeça, essa
afirmava que só lhe poupou da dor que a doença lhe causava. Por isso, a empregada havia
pedido até demissão. Dias depois chegou a notícia que Ed estava doente e, mais tarde, que ele
se matara com um tiro na cabeça.

Natal na barca narra o diálogo de uma senhora com uma mulher em uma barca que cruza o rio
no dia de natal. A mulher trás no colo o filho doente a quem está levando ao médico, durante a
viagem ela conta a senhora de como perdeu o filho mais novo quando ele pulou do muro
intencionando voar e como o marido a abandonou mandando uma carta depois. A senhora, sem
saber o que dizer, arruma a manta do bebê e percebe que ele estava morto, nesse ponto a
embarcação chega e ela se precipita pra descer não querendo ver a dor da mulher. Porém, assim
que descem o bebê acorda e a senhora vê a mãe e a criança partirem.

A ceia trata da despedida de dois amantes em um restaurante. A mulher desesperada e


apaixonada tristemente suplica para que o homem a visite, mas ele afirma que acabou. No
entanto, diz que foi bom durante todo o tempo e não quer romper como inimigos. Ela assume um
ar sarcástico e o questiona sobre a noiva, depois lhe pede que vá embora, partindo sozinha.

Venha ver o pôr-do-sol fala da história de um casal que depois de um tempo que já haviam
rompido o relacionamento, devido às súplicas do homem se reencontram. Ricardo marca um
encontro no cemitério, Raquel vai relutante e assim conversando ele a conduz até o jazigo que
dizia ser de sua família. Ele a leva até lá a fim de mostrar, no túmulo, a fotografia da sua prima
que tinha olhos parecidíssimos com os de Raquel. Quando entra no jazigo Raquel vê que a data
da morte da moça era muito antiga para ter sido prima de Ricardo, mas a esse ponto ele já havia
fechado o jazigo, trancou até a fechadura e depois foi embora, enquanto crianças brincavam na
rua.
Eu era mudo e só fala sobre um homem oprimido pelo casamento que o afastou dos amigos. A
mulher, criada na perfeita educação das aparências, também passa isso para a filha Gisela. Ele
abandonara o jornalismo e se tornara sócio do sogro no ramo de máquinas agrícolas apenas para
manter o padrão que Fernanda exigia.

Pérolas fala sobre Tomás e Lavínia, que são casados. Ela se prepara para uma reunião e ele
sentado observando-a se arrumar já imagina o que acontecerá na reunião, vê a mulher com
Roberto na sacada, próximos, sem palavras, mas sabendo que se amam. Ele fica incentivando-a
a ir. Quando ela procura o colar de pérolas, para finalmente ir para a reunião, não o encontra. Ele
o escondera para diminuir a realidade do que aconteceria na sacada, mas quando ela estava na
calçada ele diz achar o colar e o entrega a Lavínia.

Menino narra a ida do menino e sua mãe ao cinema. Enquanto caminham ele vai orgulhoso por
causa beleza da mãe. Quando chegam ao cinema, ela, que caminhara apressada na rua, se
demora na porta do cinema e manda o menino comprar doces. Finalmente entram na sala e
passam por muitos acentos com vaga para duas pessoas até que chegam a um com lugar para
três. O filme começa e o menino reclama da enorme cabeça na sua frente, ele tenta mudar de
lugar, mas a mãe não deixa, até que se senta na cadeira vaga um homem. Depois de alguns
momentos a cabeça que o atrapalhava sai do acento e nessa hora ele vê a mãe de mãos dadas
ao estranho do lado. Daí para frente a imagem da mão branca da mãe e da mão morena do
homem o perturba. Pouco antes do fim do filme o homem parte. Ele e a mãe vão embora, ela
alegremente. Chegando a casa encontram o pai e o menino então chora.
Por Rebeca Cabral

Solombra, de Cecília Meireles

Solombra, publicado em 1963, foi o último livro publicado em vida, porCecília Meireles. É ele uma
“parte” que contém o “todo” de seu universo poético. Apresenta, evidentes, os mesmos
questionamentos universais, as mesmas inquietações presentes em toda a obra da poeta. Nele
não há limitação geográfica ou temporal, "tudo é no espaço - desprendido de lugares" e "tudo é
no tempo - separado de ponteiros".

Falar contigo.
(...)
Dizer com claridade o que existe em segredo.
Ir falando contigo e não ver mundo ou gente.
E nem sequer te ver, mas ver eterno o instante
No mar da vida ser coral de pensamento.

Aí se entremostra, metaforicamente, a problemática filosófico-existencial que está na gênese de


sua criação poética:

– “Falar contigo” (anseio de se sentir participante do absoluto ou Mistério divino/cósmico);


– “ver eterno o instante” (ânsia de descobrir o verdadeiro espaço ocupado pela efêmera vida
humana, dentro da eternidade cósmica que a abarca) e
– “No mar da vida ser coral de pensamento.” (aceitação de seu destino de poeta, cuja tarefa
maior seria captar, nomear ou instaurar em palavra, a verdade/beleza/eternidade ocultas nos
seres e coisas fugazes, para comunicá-las aos homens e perpetuá-las no tempo.
O símbolo noturno rege Solombra, palavra que Cecília Meireles recuperou do português antigo e
que evoluiu para a forma "sombra". Esse nome, que já traz em si a idéia de noite, de mistério,
constitui-se o símbolo diretor do livro, cujos vinte e oito poemas têm entre si um elo de
continuidade que "narra" novamente a progressiva imersão do eu-lírico na noite. Trata-se de um
exercício místico de aceitação da morte - vista como inserção na dimensão noturna e
compreendida como transformação em outro modo de ser, motivo por que o eu-lírico a ela se
entrega, acolhendo a lição do vento que lhe recorda um saber anterior:

Eu sou essa pessoa a quem o vento chama,


a que não se recusa a esse final convite,
em máquinas de adeus,sem tentação de volta.

Todo horizonte é um vasto sopro de incerteza:


Eu sou essa pessoa a quem o vento leva:
já de horizontes libertada,mas sozinha.

Se a Beleza sonhada é maior que a vivente,


dizei-me: não quereis ou não sabeis ser sonho?
Eu sou essa pessoa a quem o vento rasga.

Pelos mundos do vento em meus cílios guardadas


vão as medidas que separam os abraços.
Eu sou essa pessoa a quem o vento ensina:

Agora és livre, se ainda recordas (p. 794)

Assim, nas viagens a instâncias metafísicas, o "mar" e a "noite" são, na poesia ceciliana,
símbolos eleitos para expressão e nomeação do incognoscível, da sobre-humana vida que o
sujeito lírico intui, eufemizando o absurdo da morte e concebendo esse destino inevitável como
uma transmutação em outra forma de ser, própria da condição supra-sensorial. No
desenvolvimento do tema da viagem a dimensões transcendentes, o símbolo revela-se mediador
do significado diante da "impossibilidade do signo exprimir" indagações e respostas sobre o
sentido da vida "face à inelutável instância da temporalidade e da morte".

Cecília Meireles é uma voz precisa, adjetivos bem colocados gerando significação. Não são
adornos, têm um destino substantivo. Nestes versos de Solombra, livro composto por um único
texto, ela conceitua e diferencia pela intensidade sentimentos que são vistos como sinônimos
angústia e agonia. Há mensagem, só a agonia é perfeita (para os poucos sobreviventes), e
redondeza sonora. Contenção que permite pensar, longe do habitual derramamento. O sofrimento
encontra uma plasticidade exata. Elegância para falar das sombras.

Em Solombra é constante a temática da ausência (metáfora da sombra) enquanto afirmação de


uma presença que se foi.

Créditos: Nelly Novaes Coelho, Universidade de São Paulo | Ana Maria Lisboa de Mello,
Universidade Federal do Rio Grande do Sul | Fabrício Carpinejar, Revista Bravo

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