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Ana Crhistina Vanali  
 

PRESENÇA AFRICANA EM 
CURITIBA 
 
 
 
 

 
 
 
Ana Crhistina Vanali  
 
 
 
 
 

 
PRESENÇA AFRICANA EM 
CURITIBA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Edições NEP 
Curitiba 
2017 
 
Edições NEP (Núcleo de Estudos Paranaenses)  
Rua General Carneiro, 960 ‐ 9º andar, sala 911 
Curitiba – Paraná 
CEP 80060‐150 
Revista NEP‐UFPR: http://revistas.ufpr.br/nep 
Email: revistanep@gmail.com 
Facebook: https://www.facebook.com/NEP‐Núcleo‐de‐Estudos‐Paranaenses‐da‐UFPR 
Blog: https://wordpress.com/posts/43785100 
 
 
 
 
Coordenação Editorial: Ana Crhistina Vanali 
Editoração: NEP‐UFPR 
Capa: Jean Baptiste Debret – 1827– (primeira imagem conhecida da cidade de Curitiba) 
 
 
 
 
 
 
 
COMISSÃO EDITORIAL 
Professor Doutor Alessandro Cavassin Alves (FASBAM) 
Professora Doutora Ana Crhistina Vanali (NEP‐UFPR) 
Professor Doutor José Marciano Monteiro (UFCG/PB) 
Professora Doutora Mônica Helena Harrich Silva Goulart (UTFPR/Campus Curitiba) 
Professor Doutor Ricardo Costa de Oliveira (UFPR) 
 
 
 
 
 
FICHA CATALOGRÁFICA 
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) 
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) 
 
 
 
 
V141e           VANALI, Ana Crhistina  
                         Presença africana em Curitiba. / Ana Crhistina Vanali. Curitiba: Edições NEP, 2017. 62 páginas 
                          
 
 
                       ISBN: 978‐85‐917881‐7‐0 
                     
                       1. Relações Inter étnicas. 2. Racismo. 3.Curitiba. 
 
 
 
CDD  320.01
 
 
APRESENTAÇÃO 
 
  O discurso oficial de Curitiba é de que na cidade “quase não há negros”. Esse discurso tem 
como fonte o trabalho de Wilson Martins, intitulado “Um Brasil Diferente”, publicado no ano de 
1955,  onde  o  autor  aponta  o  Paraná  como  sendo  diferente  do  restante  do  país  por  ter  sido 
formado  “sem  escravidão,  sem  negro,  sem  português  e  sem  índio,  dir‐se‐ia  que  a  sua  definição 
humana não é brasileira” (Martins, 1989, p. 446)1. Assim Curitiba teria sido fundada por colônias 
de  imigrantes  europeus,  sendo  puramente  branca,  o  que  desemboca  na  narrativa  da  “cidade 
modelo”2 justamente por sua formação étnica. Nesse discurso, que encontramos na mídia local e 
nas propagandas institucionais, está implícita a ligação entre qualidade de vida e o predomínio dos 
descendentes de europeus na formação da cidade; como se uma cidade só pudesse ter qualidade 
de vida se tivesse em sua formação étnica uma predominância do elemento branco europeu ou, 
se  todo  lugar  onde  este  elemento  fosse  dominante  necessariamente  fosse  desenvolvido.  O 
problema é que esse discurso torna invisível a população negra da cidade3, a mesma que muitas 
vezes apresenta os piores indicadores sociais. 

  O problema da invisibilidade social dos negros é uma questão central no entendimento da 
sociedade  brasileira.  Precisa‐se  desenvolver  uma  identidade  que  esteja  aberta  às  diferenças  e  à 
pluralidade  cultural,  o  que  não  pode  ocorrer  sem  que,  ao  menos,  se  reconheça  a  existência  de 
diversos grupos étnicos e culturais que hora se misturam, realizam trocas culturais, hora entram 
em conflito. 

Apesar  de  ainda  permanecer  em  grande  parte  do  imaginário  e  do  senso  comum  dos 
curitibanos  a  ideia  de  que  a  cidade  é  apenas  branca‐europeia,  outros  trabalhos4  vêm  tratando 
justamente  da  invisibilidade  social  dos  negros  em  Curitiba,  mostrando  que  esse  discurso  foi 

                                                            
1
 MARTINS, Wilson (1989). Um Brasil diferente. 2ª edição. SP: Editora T.A.Queiroz. 
Wilson  Martins  não  se  diz  ligado  ao  Movimento  Paranista,  mas  como  este  pretende  definir  uma  identidade 
paranaense como sendo natural  mente constituída por fatores como clima e raça. 
 
2
 “cidade modelo” = excelente nível de vida e poucos problemas, sobretudo os de infraestrutura. 
 
3
  Os  indígenas  também  são  deixados  de  lado  nessa  narrativa  da  “fundação  europeia  da  cidade”,  apesar  da  origem 
semântica do nome da cidade ‐ Curitiba ‐ ser de origem tupi e significar “muito pinhão”. 
 
4
 Consultar: 
‐ IANNI, Octávio (1988). As metamorfoses do escravo. SP: Hucitec. 
‐ MORAES, Pedro Rodolfo Bode e SOUZA, Marcilene Garcia de (1999). “Invisibilidade, preconceito e violência racial em 
Curitiba”. IN: Revista de Sociologia e Política, Nº 13, Novembro, p.7‐16. 
 
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construído  com  a  ajuda  da  historiografia  tradicional5.  A  etnia  negra  é  parte  importante  da 
população curitibana. Quase um quinto da população de Curitiba se declara parda (16,9%) e 2,8% 
são  preztos.  Os  dados  são  do  Censo  de  2010  do  Instituto  Brasileiro  de  Geografia  e  Estatística 
(IBGE)6.  
Temos  que  refletir  sobre  como  nos  relacionamos  com  a  cidade  de  Curitiba,  que  imagem 
temos dela e de seus habitantes, o que implica na formação da nossa própria identidade, ou pelo 
menos  parte  significativa  dela.  O  que  é  “ser  paranaense”,  “ser  curitibano”?  Um  dos  objetivos 
desse roteiro é através desse pequeno percurso pelo centro da cidade fornecer aos alunos uma 
carga  de  conhecimento  para  poderem  refletir  sobre  novos  discursos  e  sobretudo  acerca  das 
identidades  curitibanas,  multiplicando  suas  perspectivas,  evitando  o  discurso  único  do  “Paraná 
Europeu”.  Nossa  História  mistura  diversos  elementos  e  devemos  desenvolver  uma  consciência 
mais propriamente histórica, que nos proporcionará uma consciência crítica. 

TRABALHO 

1. Se  você  tivesse  que  contar  para  uma  pessoa  de  fora  da  cidade  como  foi  a  fundação  de 
Curitiba, como seria a sua narrativa? 

Para os alunos que não são originários da cidade, relatar a imagem que possuíam da cidade 
antes de aqui chegarem e como essa imagem foi construída. 

 
 

                                                            
5
 Aqui nos referimos sobretudo a Romário Martins e Ruy Wachowicz. 
‐ MARTINS, Romário (1995) [1899]. História do Paraná. Curitiba: Travessa dos Editores. 
‐ WACHOWICZ, Ruy (1988). História do Paraná. 6ª edição. Curitiba: Editora Gráfica Vicentina Ltda. 
 
6
 Disponível em http://censo2010.ibge.gov.br/. Acesso 13.maio.2017. 
 
 
SUMÁRIO 
 
 
1. LINHA PRETA: UM PASSEIO PELA HISTÓRIA DA POPULAÇÃO NEGRA DE CURITIBA 
Ponto 01 – Ruínas de São Francisco .....................................................................    9 
Ponto 02 – Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos de São Benedito .....  11 
Ponto 03 – Arquitetura do Largo da Ordem .........................................................  16 
Ponto 04 – Memorial de Curitiba .........................................................................  17 
Ponto 05 – Bebedouro .........................................................................................  20 
Ponto 06 – Praça Tiradentes ...............................................................................  21 
Ponto 07 – Arcadas do Pelourinho ......................................................................  23 
Ponto 08 – Água pro Morro ................................................................................  25 
Ponto 09 – Praça Zacarias (Chafariz) ...................................................................  27 
Ponto 10 – Praça Santos Andrade .......................................................................  31 
Ponto 11 – Praça XIX de Dezembro .....................................................................  35 
Ponto 12 – Sociedade Beneficente 13 de Maio ...................................................  38 
Ponto 13 – Memorial Africano .............................................................................  40 
Ponto 14 – Viaduto Cultural Capanema (Memória Afrocuritibana) ..................... 44 
Ponto 15 – Samba do Compositor Paranaense ....................................................  47 
Ponto 16 – Museu Paranaense ............................................................................  49 
 
 
2. ENEDINA ALVES MARQUES: MULHER, PRETA, POBRE E ENGENHEIRA 
      Ana Crhistina Vanali ..............................................................................................  51 
 
 
 
 
 
 
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Fonte: Agência de Noticias da Prefeitura de Curitiba 
 

 
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Linha Preta: um passeio pela história da população negra de Curitiba 
 

Uma opção para quem quiser conhecer mais sobre a presença negra e sua participação na 
formação  de  Curitiba  é  percorrer  a  Linha  Preta,  roteiro  com  os  principais  pontos  históricos  da 
população  negra  em  Curitiba7.  O  trajeto  fica  no  centro  da  cidade  e  pode  ser  feito  todo  a  pé.  O 
projeto  da  Linha  Preta  foi  concebido  durante  o  II  Congresso  de  Pesquisadores/as  Negros/as  da 
Região  Sul  ‐  COPENE  SUL,  organizado  pelo  NEAB  (Núcleo  de  Estudos  Afro‐Brasileiros)  da 
Universidade Federal do Paraná, realizado em Curitiba no ano de 2015. O trajeto inicial da Linha 
Preta abarcava 13 pontos, entre eles as Ruínas de São Francisco, a Igreja do Rosário, o Memorial 
de Curitiba, a Praça Tiradentes e a Sociedade 13 de maio.  

O  roteiro  está  em  constante  aperfeiçoamento  e  seu  traçado  deve  abarcar,  também,  o 
interior  de  museus,  galerias  de  arte,  prédios  históricos,  teatros,  etc.  Aqui  indicaremos  dezesseis 
pontos que na sua maioria procuram retratar o negro de forma positiva, mas há pontos na cidade 
que reforçam o estereótipo do elemento negro e que devem ser problematizados. 

Também ressaltamos que o roteiro aqui apresentando está centrado no centro da cidade e 
leva em torno de duas horas a Pé para ser percorrido. Ele não abarca a presença africana em toda 
Curitiba e região metropolitana. Esse é um trabalho interessante e que ainda está para ser feito. 

                                                            
7
  Ver  Programa  É‐Cultura  dia  25/01/2017  ‐  Luca  Rischbieter,  Linha  Preta  e  a  Construção  de  Curitiba.  Disponível  em 
https://www.youtube.com/watch?v=wqYxbjIlvg0.  
Consultar  http://www.gazetadopovo.com.br/haus/estilo‐cultura/rconheca‐13‐pontos‐que‐contam‐a‐historia‐da‐
cultura‐negra‐em‐curitiba/?utm_source=facebook&utm_medium=midia‐social&utm_campaign=gazeta‐do‐povo de 26 
de novembro de 2016. Acesso 13.maio.2017. 
 
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PONTO 01 – RUÍNAS DE SÃO FRANCISCO 

Endereço: Praça João Cândido – São Francisco 

As  Ruínas  de  São  Francisco  são,  na  verdade,  uma  construção  inacabada  iniciada  lá  pelos 
anos  de  1809.  Há  relatos  de  que  se  trata  da  construção  de  uma  igreja  em  homenagem  a  São 
Francisco  de  Paula  iniciada  por  um  grupo  de  devotos  portugueses  no  início  do  século,  mas  na 
verdade não se sabe que tipo de construção seria ao certo: um convento, uma igreja, um órgão 
público. Independente da função, é inegável a participação de trabalhadores negros na construção 
desse  edifício  que  exigia  mão  de  obra  especializada  como  a  de  mestres‐pedreiros, por  exemplo, 
que  dominavam  técnicas  variadas  de  construção,  principalmente  a  alvenaria  de  pedra.  Muitos 
desses  mestres‐pedreiros  eram  negros  de  ofício,  ou  seja,  oficiais  preparados  em  oficinas 
especializadas para o exercício de profissões bem conhecidas como pedreiros e ferreiros. 

 
Ruínas de São Francisco 
Foto: Gazeta do Povo de 26/11/2016 

 
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Jean‐Baptiste Debret8 quando de sua passagem por Curitiba, em 1827 retratou um homem 
negro  trabalhando  no  recorte  de  pedra  –  um  mestre  pedreiro,  o  que  demonstra  que  ele  tinha 
formação  profissional  adequada,  o  que  lhe  dava  certa  inserção  social  e  que  provavelmente  não 
era de Curitiba, visto a cidade não ter oficinas de formação desse tipo de ofício. 

 
Aquarela de Jean‐Baptiste Debret retratando a cidade de Curitiba em 1827 
Fonte: http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa18749/debret. Acesso 13.maio.2017 

                                                            
8
Jean‐Baptiste  Debret  (1788‐1848)  foi  pintor, desenhista e professor  de  francês.  Integrou  a Missão  Artística 
Francesa (1817), que fundou, no Rio de Janeiro, uma academia de Artes e Ofícios, mais tarde Academia Imperial de 
Belas Artes, onde lecionou. De volta à França em 1831 publicou Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil (1834‐1839), 
documentando  aspectos  da natureza,  do homem e  da sociedade brasileira  no  início  do século  XIX.  Disponível  em 
http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa18749/debret. Acesso 13.maio.2017. 
 
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PONTO 02 – IGREJA DE NOSSA SENHORA DO ROSÁRIO DOS PRETOS DE SÃO BENEDITO 

Endereço: Praça Garibaldi – São Francisco 

A Igreja do Rosário, em Curitiba, inicialmente chamada de Igreja do Rosário dos Pretos de 
São  Benedito,  foi  patrocinada,  projetada  e  construída  por  pessoas  negras,  em  1737  (alguns 
apontam  1731?)  organizadas  em  irmandades9.  Construída  em  estilo  colonial,  por  negros,  era 
maior e mais imponente que a igreja matriz, bem mais simples, construída em madeira onde os/as 
negros/as  não  podiam  entrar.  Provavelmente  foi  a  segunda  igreja  construída  na  capital 
paranaense,  pois  entre  1875  e  1893  serviu  de  igreja  matriz  enquanto  a  nova  catedral  era 
construída. Em 1931 a antiga igreja foi demolida, dando lugar a igreja atual inaugurada em 1946 já 
sob a responsabilidade da igreja católica. 

 
Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos de São Benedito 
Foto: Gazeta do Povo de 26/11/2016 

                                                            
9
  As  Irmandades  Negras  representavam  espaços  de  relativa  autonomia  negra,  no  qual  seus  membros  construíam 
identidades sociais vivenciadas no interior de uma sociedade opressora. A irmandade era uma espécie de família ritual 
em  que  tantos  os  africanos  desenraizados de  suas  terras, como  os negros  brasileiros  deslocados  no  contexto  social 
viviam  e  morriam  solidariamente.  Foi  um  meio  de  constituição  de  instrumento  de  identidade  e  solidariedade 
coletivas. Toda a dinâmica que vivenciavam em torno das políticas dentro das irmandades visavam à integridade do 
negro  diante  da  sociedade  branca  e  paternalista.  A  morte  significava  o  momento  de  maior  ostentação  dessas 
instituições, um funeral digno orientava as irmandades. Os fundos arrecadados promoviam a vida através de várias 
benfeitorias, e a morte a partir de um funeral apresentável. 
Até  parte  do  século  19,  os  negros  eram  impossibilitados  de  frequentar  a  "igreja  dos  brancos".  Havia,  entretanto,  a 
vontade de integrá‐los à fé católica, assim, várias igrejas dedicadas especialmente aos negros foram construídas em 
todo o país e a prática religiosa, incentivada. Muitas dessas irmandades, ligadas às ordens católicas, eram devotas, por 
exemplo, a Nossa Senhora do Rosário, a São Benedito (o santo filho de escravos), a Santa Efigênia, a Santo Elesbão, a 
Santo Rei Baltazar, a Nossa Senhora de Guadalupe e ao Santo Antônio de Categeró. Portugal incentivou a formação de 
irmandades  negras  em  todas  as  suas  colônias,  onde  haviam  populações  de  origem  africana. Em  Curitiba,  a 
antiga Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos de São Benedito, construída pelos negros em 1731, foi dedicada 
aos escravos africanos da cidade. As irmandades iam além das práticas religiosas. Eram comunidades que reforçavam 
a  integração  social  e  contribuíram  fundamentalmente  para  o  sincretismo  religioso  no  Brasil.  Fonte:  REIS,  João  José 
(1986). Rebelião escrava no Brasil. SP: Brasiliense. 
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Desde 2009, em novembro – mês da consciência negra – o Centro Cultural Humaitá realiza 
intensa programação de atividades culturais e reflexivas na cidade. No dia 20, quando é celebrada 
a  morte  do  rei  Zumbi  dos  Palmares  ocorre  a  lavagem  das  escadarias  da  Igreja  do  Rosário.  A 
lavagem acontece por volta das 10 horas, após ato inter‐religioso no interior da igreja. Em seguida 
o cortejo desce pela Rua do Rosário até a praça Tiradentes. Lá, é colocado o Ojá, uma faixa branca 
na Gameleira, uma árvore sagrada, morada do orixá Iroco10. 

 
IROCO: Foi o primeiro filho de Oxalá e é considerado um dos 
mais velhos dos Orixás. Iroco está associado a uma árvore que 
possui  suas  próprias  características:  determinação  e 
inflexibilidade.  Existe  uma  lenda  que  conta  que  Iroco  foi  a 
única árvore que teria sobrevivido no planeta, devastado por 
uma seca que ocorreu por causa de uma briga entre o Ceú e a 
Terra.  Por  ser  muito  grande,  suas  raízes  são  bem  enterradas 
no solo, dando estabilidade. Sua copa se encontra nas alturas 
do ceú. No Brasil, a árvore de Iroko é a gameleira branca. Os 
filhos  deste  Orixá  procuram  ser  estáveis  em  todas  as 
situações.  No  trabalho,  são  dedicados  e  por  isso  conseguem 
impor  muito  respeito.  Mas  no  relacionamento  pessoal, 
algumas  vezes  acabam  se  metendo  em  situações 
constrangedoras,  pois  acreditam  apenas  em  si  próprio  e  não 
dão oportunidade dos outros opinarem. 
Fonte: http://www.paiogun.com/iroko.htm. Acesso 13.maio.2017. 

                                                            
10
  No  Brasil,  Iroco  habita  principalmente  a  gameleira  (Ficus  insipida).  Para  os  iorubás,  a  árvore Iroko é  a  morada  de 
espíritos infantis conhecidos ritualmente como abiku e tais espíritos são liderados por Oluwere. Quando as crianças se 
veem perseguidas por sonhos ou qualquer tipo de assombração, é normal que se façam oferendas a Oluwere aos pés 
de Iroko, para afastar o perigo de que os espíritos abiku levem embora as crianças da aldeia. Durante sete dias e sete 
noites,  o  ritual  é  repetido,  até  que  o  perigo  de  mortes  infantis  seja  afastado.  Iroco  está  ligado  à  longevidade,  à 
durabilidade das coisas e ao passar do tempo pois é árvore que pode viver por mais de 200 anos. Consultar VERGER, 
Pierre (2000). Notas Sobre o Culto aos Orixás e Voduns na Bahia de Todos. 2ª edição. SP: EDUSP. 
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Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos de São Benedito 
Foto: Gazeta do Povo de 26/11/2016 

 
Lavagem das escadarias da Igreja de Nossa Senhora do Rosário ‐ 2016 
Promoção do Centro Cultural Humaitá 
Fonte: https://informativocentroculturalhumaita.wordpress.com/. Acesso 13.maio.2017. 
P á g i n a  | 14 

 
 

 
Descida da Rua do Rosário  ‐ Lavagem das Escadarias de 2012 
Foto: João Henrique Delfrate 
Disponível em http://lavagemdaigrejadorosario.blogspot.com.br/. Acesso 13.maio.2017 
 

 
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Detalhe do Ojá – faixa branca na gameleira ‐ Lavagem das Escadarias de 2012 
Foto: João Henrique Delfrate 
Disponível em http://lavagemdaigrejadorosario.blogspot.com.br/. Acesso 13.maio.2017 
 

  No  interior  da  Igreja  do  Rosário  está  o  túmulo  do  Monsenhor  Celso11  que  na  época  da 
construção da nova catedral se tornou o Cúria da igreja de Curitiba. Foi ele quem decidiu que a 
Igreja do Rosário iria abrigar os fiéis da Catedral, o lugar da religiosidade oficial, durante a reforma. 
Ele  não  chegou  a  expulsar  os  negros,  mas  “branquinizou”  a  igreja  dos  pretos  com  uma 
mentalidade voltada para os brancos. Mais tarde ele manda reformar a igreja dos pretos dando 
uma feição colonial do branco. 

                                                            
11
 Celso Itiberê da Cunha (1849‐1930) 
P á g i n a  | 16 

PONTO 03 – ARQUITETURA DO LARGO DA ORDEM 

Endereço: Cavalo Babão – R. Kellers, s/n – São Francisco 

Em relação à arquitetura, a contribuição mais conhecida dos povos africanos no Brasil está 
associada  à  introdução  de  técnicas  de  construção  que  usavam  o  adobe12  e  a  taipa  de  mão13 
presentes tanto nas áreas rurais quanto urbanas. Associada à pedra essa tecnologia possibilitou a 
construção  de  prédios públicos  de  grandes  proporções  em  várias  partes  do  país,  principalmente 
igrejas católicas, muitas delas no estado de Minas Gerais. 

 
Vista do Cavalo Babão ‐ Largo da Ordem 
Foto: Gazeta do Povo de 26/11/2016 

                                                            
12
 Técnica de construção do período colonial, o adobe é uma lajota feita de barro com dimensões aproximadas de 20 x 
20 x 40 cm, compactados manualmente em formas de  madeira, postos a secar à sombra durante certo número de 
dias e depois ao sol. 
 
13
  A taipa  de  mão,  também  conhecida  como pau  a  pique,  é  uma técnica  construtiva  antiga que  consiste  no 
entrelaçamento de madeiras verticais fixadas no solo, com vigas horizontais, geralmente de bambu amarradas entre si 
por cipós, dando origem a um painel perfurado que, após preenchido com barro, transforma‐se em uma parede. 
P á g i n a  | 17 

PONTO 04 – MEMORIAL DE CURITIBA 

Endereço:  Rua Claudino dos Santos, 79 – Centro 

Inaugurado  em  1996  o  Memorial  de  Curitiba  tem  um  projeto  arquitetônico  inspirado  no 
pinheiro  paranaense.  É  um  importante  centro  cultural  da  cidade  e  abriga  várias  obras  de  artes, 
dentre elas um imenso painel do artista Sérgio Ferro14 que mostra alguns elementos constitutivos 
da  cultura  brasileira.  Infelizmente  a  população  negra  é  retratada  de  forma  estereotipada, 
reforçando, por exemplo, discursos que operam para a disseminação de ideias sobre as supostas 
subalternidade e subserviência desse grupo racial, bem como para a hipersexualização do corpo 
da mulher negra.  

 
Vista externa do Memorial de Curitiba 
Foto: Divulgação da Fundação Cultural de Curitiba 

 
                                                            
14
 Sérgio Ferro é filho de Armando Simone Pereira e Beatriz Ferro Pereira, nasceu em Curitiba em 25 de julho de 1938. 
Formou‐se em arquitetura e urbanismo pela USP. Fez pós‐graduação em museologia e evolução urbana, na mesma 
faculdade e cursou também, sob a orientação de Umberto Eco, o curso de Semiologia na Universidade Presbiteriana 
Mackenzie. Após a formatura em arquitetura foi convidado por Vilanova Artigas a ser professor assistente de História 
da Arte na USP. Comunista, ligou‐se a Aliança Libertadora Nacional, de Carlos Marighella. Em 1968 participou de um 
atentado a bomba no Conjunto Nacional, em São Paulo, com o objetivo de atingir o consulado dos Estados Unidos. 
Preso, foi torturado, e afastado da Universidade de São Paulo. Exilou‐se na França, onde não podia exercer a profissão 
de arquiteto. Dedicou‐se então a carreira de artista e professor em cursos de arte e arquitetura. Disponível em O que 
Sérgio Ferro e Michelangelo têm em comum?  <http://arteref.com/pintura/sergio‐ferro/>. Acesso 13.maio.2017. 
 
P á g i n a  | 18 

 
Detalhe do painel de Sérgio Ferro onde a mulher negra 
aparece de forma estereotipada, hipersexualizada fazendo 
alusão ao conceito de mulata. 
Foto: Divulgação da Fundação Cultural de Curitiba 
 
 
 
Membros do movimento negro15 apontam que o conceito de mulata foi criado durante o 
regime  escravista  para  justificar  os  estupros  que  essas  mulheres  sofriam  de  forma  recorrente. 
MULATA  vem  da  palavra  mula  que  é  o  animal  estéril  resultante  do  cruzamento  da  égua  com  o 
jumento,  ou  do  cavalo  com  a  burra.  Passou‐se  a  aplicar  o  termo  aos  filhos  de  homem  branco  e 
mulher negra. O termo mulata tem raiz baseada em um animal, igualmente como o “criolo”, que 
também era o nome de uma raça de cavalo. 
A  mula  não  produz  cria,  mas  pode  realizar  o  ato  sexual  com  outros  animais.  Esse  era  o 
argumento  para  os  estupros  das  filhas  de  mãe  negra  e  pai  branco  que  não  assumiam  a 
paternidade. No tempo da escravidão, as mulheres negras eram constantemente estupradas pelo 
                                                            
15
  Disponível  em  http://www.diariodocentrodomundo.com.br/bem‐vindos‐ao‐brasil‐colonial‐a‐mula‐a‐mulata‐e‐a‐
sheron‐menezes/. Acesso 13.maio.2017. 
P á g i n a  | 19 

senhor branco e carregavam o papel daquela que deveria servir sexualmente sem reclamar, nem 
pestanejar  e  ainda  deveria  fingir  que  gostava  da  situação,  pois  esse  era  o  seu  dever.  Hoje  as 
mulheres  negras  continuam  atreladas  àquela  visão  racista  do  passado  que  dizia  que  só  serviam 
para o sexo e nada mais. 
O termo “mulata” é carregado de história, uma história que demonstra que a mulher negra 
está  ali  a  serviço  dos  indivíduos  que  só  a  aceitam  se  ela  estiver  limpando  seu  chão,  carregando 
carga, ou rebolando no seu colo, pois esse é o jeito que um bom animal domesticado deve agir. A 
mulher negra é tratada constantemente como um animal e um souvenir que o turista vem buscar 
no carnaval. 
 
 
 

Detalhe do painel de Sérgio Ferro retratando a etnia negra 
Foto: Divulgação da Fundação Cultural de Curitiba 

O  homem  negro  é  retratado  de  forma  subalternizada,  preso  a  correntes,  de  maneira 
submissa, como se fosse conivente com a situação de escravizado. 

 
P á g i n a  | 20 

PONTO 05 – BEBEDOURO 

Endereço: R. José Bonifácio, 33 – Centro 

A  construção  do  bebedouro  data  de  meados  do  século  XVIII  e  era  bastante  utilizado  por 
tropeiros em passagem pela cidade para dar de beber a seus animais. A presença de um número 
significativo de tropeiros negros é atestada por algumas aquarelas de Jean‐Baptiste Debret que os 
retratou em Curitiba e região.  

 
Bebedouro para cavalos do Largo da Ordem 
Foto: Viagem de Fuga 
 

 
Um tropeiro negro atravessa uma ponte no caminho entre Curitiba e São Paulo. 
Jean‐Baptiste Debret, de 1827  
Fonte: http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa18749/debret. Acesso 13.maio.2017 
P á g i n a  | 21 

PONTO 06 – PRAÇA TIRADENTES 

Endereço: Praça Tiradentes – Centro 

A  Praça  Tiradentes  passou  por  um  processo  de  ressignificação  nos  últimos  anos  pela 
comunidade  negra  de  Curitiba,  especialmente  por  pessoas  ligadas  aos  movimentos  sociais  de 
negras e negros e por praticantes da Umbanda e do Candomblé. Há nessa praça um conjunto de 
gameleiras  sagradas.  A  gameleira  é  moradia  de  Iroco,  um  raro  orixá  de  origem  Iorubá.  Iroco 
também é moradia de espíritos infantis e está associado a longevidade, já que a gameleira vive por 
mais de 200 anos. Na praça ainda existe outro símbolo importante para a comunidade negra, um 
caminho  feito  de  pedras  que  revela  a  importância  da  mão  de  obra  negra  para  o  processo  de 
urbanização da capital paranaense. 

 
Praça Tiradentes 
Foto: Gazeta do Povo de 26/11/2016 

 
P á g i n a  | 22 

 
Árvore Gameleira na Praça Tiradentes 
Foto: Flávio Rocha 
 
 

 
Detalhe caminho de pedra da Praça Tiradentes* 
Foto: http://projetominhasraizes.blogspot.com.br/. Acesso 13.maiio.2017 
 
* Mão de obra escrava no projeto de urbanização da cidade. 
P á g i n a  | 23 

PONTO 07 – ARCADAS DO PELOURINHO 

Endereço: Praça José Borges de Macedo – Centro 

O Pelourinho da Vila Nossa Senhora da Luz dos Pinhais está localizado na Praça José Borges 
de  Macedo,  ao  lado  do  Paço  da  Liberdade  e  foi  levantado  em  04  de  novembro  de  1668.  O 
pelourinho marcava a fundação de uma vila e também era um espaço onde pessoas escravizadas, 
que  por  razões  diversas,  como  desafiar  o  regime  escravista,  por  exemplo,  eram  castigadas. 
Embora o pelourinho traga consigo lembranças de um período marcado por muita violência que 
incidia  sobre  a  população  negra,  ele  também  representa  as  inúmeras  formas  de  resistência 
desenvolvidas por negras e negros para fazer frente ao regime escravista. 

 
Placa comemorativa, instalada em 1968 no local onde supostamente foi erguido o Pelourinho. 
Fonte: http://www.curitiba‐parana.net/patrimonio/pelourinho.htm. Acesso 13.maiio.2017 
P á g i n a  | 24 

O  Pelourinho  de  Curitiba  teria  sido  erguido  por  Gabriel  de  Lara,  então  capitão  mor  e 
procurador  do  Marquês  de  Cascais,  senhor  das  Terras  da  Capitania  de  Paranaguá.  Foi  instalado 
onde  hoje  é  a praça  José  Borges  de  Macedo  que  na  época  era  parte  do  Largo  da  Matriz 
(atualmente Praça Tiradentes). Sua instalação era condição necessária para a elevação do povoado 
à condição de vila, no caso a vila de Nossa Senhora da Luz dos Pinhais, que viria a se transformar 
na cidade de Curitiba.  

O pelourinho português era uma espécie de poste de madeira ou de mármore com argolas 
de  ferro,  erguido  em  praça  pública,  onde  os  condenados  pela  justiça  eram  amarrados  e 
chicoteados.  Sendo  um  símbolo  da  opressão  do  governo  português,  o  Pelourinho  foi  derrubado 
pelos patriotas, em 1822, quando da independência do Brasil. 

 
Escravo açoitado num pelourinho. Gravura de Debret, 1835 
Fonte: http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa18749/debret. Acesso 13.maio.2017 
 
 

 
P á g i n a  | 25 

PONTO 08 – ÁGUA PRO MORRO 

Endereço: Praça Generoso Marques – Centro 

“Água  pro  Morro”  é  uma  criação  do  artista  curitibano  Erbo  Stenzel16  e  foi  apresentada 
como trabalho final de curso de escultura na Academia Nacional de Belas Artes no Rio de Janeiro 
no ano de 1944. A obra, originalmente em gesso, retrata Anita, namorada e modelo do artista à 
época. A escultura mostra uma bela jovem negra com uma lata d’água sobre a cabeça, sugerindo o 
movimento  de  quem  caminha  em  direção  a  um  plano  mais  elevado.  De  grande  sensualidade,  a 
obra dá a impressão de que o vestido usado pela modelo está molhado, por isso cola ao corpo e 
desenha os seios, mas não os expõem. Em 1995 uma réplica da obra foi fundida em bronze pela 
Prefeitura Municipal de Curitiba e colocada na Praça Generoso Marques. 

A  cena  coloca  em  discussão  algumas  questões,  como  por  exemplo,  o  reconhecimento  da 
beleza da mulher negra, o seu lugar em nossa sociedade (a mulher excluída vinha de longe pegar 
água no centro da cidade), além de demonstrar como as políticas públicas negavam as negras e 
aos  negros  o  direito  à  cidadania  os  excluindo  –  as  primeiras  obras  de  saneamento  no  centro  da 
cidade foram para atender a classe dominante tradicional. 

                                                            
16
 Erbo Stenzel (1911‐1980) foi artista plástico e escultor paranaense que realizou inúmeros monumentos e bustos de 
personalidades  políticas  do  Paraná.  Era  filho  de  João  e  Maria  Stenzel,  descendentes  de alemães e austríacos que 
moravam em Curitiba. Disponível em https://docs.ufpr.br/~coorhis/kimvasco/stenzel.html. Acesso 13.maio.2017. 
P á g i n a  | 26 

 
Monumento Água do Morro (réplica de 1995) – também conhecida como Maria Lata d’Água 
Fonte: Gazeta do Povo de 26/11/2016 
P á g i n a  | 27 

PONTO 09 – PRAÇA ZACARIAS – CHAFARIZ 

Endereço: Praça Zacarias – Centro 

Essa  praça  faz  uma  homenagem  ao  primeiro  presidente  da  província  do  Paraná:  Zacarias 
Góes  e  Vasconcelos  (1815  ‐1877),  nomeado  em  185317.  Foi  ele  quem  criou  a  infraestrutura 
necessária  para  o  desenvolvimento  da  recém  fundada  província  que  até  então  pertencia  a 
província de São Paulo. A praça ainda preserva outro elemento importante que marca a presença 
negra  no  Paraná,  um  antigo  chafariz  que  faz  alusão  ao  primeiro  sistema  de  água  encanada  de 
Curitiba.  Esse  sistema  foi  projetado  pelo  engenheiro  Antônio  Rebouças  em  1871,  que  ao  passar 
perto de uma fonte onde é a atual Praça Rui Barbosa, em Curitiba, provou e aprovou a água.  O 
problema era levar o líquido até o centro da cidade. Mandou comprar canos de cobre no Rio de 
Janeiro e sistematizou a canalização até o Largo da Ponte – hoje Praça Zacarias –, por meio de 21 
tubos de cobre. As torneiras do chafariz vieram da Europa. Os pipeiros, que conduziam carroças 
com pipas, pegavam a água e vendiam de casa em casa. O chafariz foi desativado no começo do 
século XX. 

 
Chafariz da Praça Zacarias 
Foto: Gazeta do Povo de 26/11/2016 
                                                            
17
 Foi na gestão do prefeito Cândido de Abreu, no ano de 1915, que a praça passou a se chamar Zacarias. Ela teve três 
nomes anteriores: Largo da Entrada, Largo da Ponte (haviam três pontes para atravessar o Rio Ivo, hoje totalmente 
canalizado) e Largo da Fonte. 
P á g i n a  | 28 

Os  irmãos  baianos  André  e  Antônio  Rebouças  foram  dois  negros  alforriados  que  viveram 
em pleno período de escravidão e possuem seus nomes na história paranaense. Ao desembarcar 
no  Paraná,  eles  assumiram  parte  da  responsabilidade  de  transformar  uma  província  ainda  em 
construção. Em 1864, uma década depois da Emancipação de São Paulo, iniciaram sua trajetória 
na  região  sul  do  país  e  passam  por  Santa  Catarina  antes  de  chegarem  ao  Paraná.  O  chafariz  na 
Praça  Zacarias,  em  Curitiba,  a  Estrada  da  Graciosa,  a  Ferrovia  Paranaguá‐Curitiba  e  o  Parque 
Nacional do Iguaçu são alguns dos legados dos engenheiros. 
A  primeira  missão  dos  Rebouças  foi  comandar  a  construção  da  Estrada  da  Graciosa,  que 
desde 1854 estava sendo idealizada para ligar o planalto ao litoral paranaense. Em 1864, Antônio 
foi nomeado engenheiro‐chefe da Estrada da Graciosa e formulou o projeto do empreendimento. 
Os irmãos também vislumbraram o que poderia ser o futuro econômico do estado. A iniciativa do 
primeiro  grande  investimento  madeireiro  no  Paraná  se  deve  aos  Rebouças,  que  organizaram  a 
Companhia  Florestal  Paranaense,  instalada  em  1871  nas  margens  da  Graciosa.  Foi  a  primeira 
indústria  do  Paraná  a  utilizar  a  energia  de  máquina  a  vapor.  Com  a  abertura  da  Estrada  da 
Graciosa,  em  1873,  o  cenário  se  tornou  promissor.  A  serraria,  além  de  explorar  o  potencial  do 
pinheiro, criou barricas de madeira de pinha para transportar erva‐mate ao mercado europeu18. 
 

 
Irmãos Rebouças (Antônio a esquerda e André a direita) 
Fonte: Gazeta do Povo, 05/06/2015 

                                                            
18
 Consultar TRINDADE, Alexandre Dantas (2011). André Rebouças: um engenheiro do império. SP: Editor HUCITEC. 
P á g i n a  | 29 

Antônio Pereira Rebouças Filho (1839‐1874), engenheiro militar brasileiro, em 1858, seguiu 
para  a  Europa  com  a  finalidade  de  especializar‐se  em  construção  de  estradas  de  ferro  e  portos 
marítimos.  Regressando  ao  Brasil,  trabalhou  em  diversos  projetos  sendo  o  responsável  pela 
construção  da  Estrada  de  Ferro  de Campinas a Limeira e Rio  Claro,  além  da   Estrada  de 
Ferro Curitiba‐Paranaguá  (famosa  pelas  soluções  encontradas  por  Rebouças  para  que  ela 
transpusesse  a  Serra  do  Mar) e  da rodovia Antonina‐Curitiba,  conhecida  como estrada  da 
Graciosa. 

 
Estrada da Graciosa 
Fonte: https://www.tripadvisor.com.br/. Acesso 13.maio.2017 
 
 

 
Estrada de Ferro Curitiba‐Paranaguá 
Fonte: Acervo Museu Paranaense 
P á g i n a  | 30 

André  Rebouças (1838‐1898)  foi  engenheiro, inventor e abolicionista.  André  ganhou  fama 


no Rio de Janeiro, então Capital do Império, ao solucionar o problema de abastecimento de água, 
trazendo‐a  de mananciais fora  da  cidade.  Servindo  como engenheiro  militar na guerra  do 
Paraguai, André Rebouças desenvolveu um torpedo, utilizado com sucesso. Em 1871, André e seu 
irmão Antônio, também engenheiro, apresentaram ao Imperador D. Pedro II o projeto da estrada 
de  ferro  ligando  a  cidade  de Curitiba ao  litoral  do Paraná,  na  cidade  de Antonina.  Quando  da 
execução  do  projeto,  o  trajeto  foi  alterado  para  o porto  de  Paranaguá.  Até  hoje,  essa  obra 
ferroviária se destaca pela ousadia de sua concepção.  Deixam o Paraná ainda no ano de 1871. 

Ao lado de Machado de Assis, Cruz e Souza, José do Patrocínio, André Rebouças foi um dos 
representantes da pequena classe média negra em ascensão no Segundo Reinado e uma das vozes 
mais importantes em prol da abolição da escravatura. Ajudou a criar a Sociedade Brasileira Contra 
a  Escravidão,  ao  lado  de Joaquim  Nabuco,  José  do  Patrocínio  e  outros.  Participou  também  da 
Confederação Abolicionista e redigiu os estatutos da Associação Central Emancipadora. 

Com  a  queda  do  império,  em  1889,  André  Rebouças  embarca,  juntamente  com  a  família 
imperial,  com  destino  à  Europa. Permanece  junto  deles  até  a  morte  do  imperador  Pedro  II  em 
1891.  Depois  segue  para  Luanda.  Ele  passou  seus  últimos  seis  anos  trabalhando  pelo 
desenvolvimento de alguns países africanos19. 

 
                                                            
19
 CARVALHO, Maria Alice de Rezende (1998). O quinto século. André Rebouças e a construção do Brasil. RJ: Editora 
Revan. 
PESSANHA,  Andrea  Santos  (2005).  Da  Abolição  da  Escravatura  à  Abolição  da  Miséria:  A  vida  e  as  ideias  de  André 
Rebouças. SP: Quartet Editora. 
P á g i n a  | 31 

PONTO 10 – PRAÇA SANTOS ANDRADE 

Endereço: Praça Santos Andrade – Centro 

Na  Praça  Santos  Andrade  há  um  pequeno  monumento  em  homenagem  a  “Colônia  Afro‐
Brasileira”. Iniciativa da Câmara dos Vereadores, a modesta homenagem é composta por um bloco 
de  granito  e  uma  placa  de  bronze.  Foi  feita  ano  de  1988  quando  do  primeiro  centenário  da 
abolição da escravidão no Brasil. A placa realiza homenagem à Enedina Alves Marques20 e outros 
negros, porém não corresponde a importância desta comunidade para a cidade de Curitiba.  

 
Placa comemorativa do 1º Centenário da Abolição 
Foto: acervo da autora 

                                                            
20
 Ver artigo sobre Enedina Alves Marques nesse trabalho. 
P á g i n a  | 32 

CÂMARA MUNICIPAL DE CURITIBA 

A COLÔNIA AFRO‐BRASILEIRA 100 ANOS 

As  homenagens  dos  vereadores  de  Curitiba,  que  unindo‐se  as  comemorações  do  centenário  da  abolição, 
destacam  a  participação  dinâmica,  uma  e  altamente  relevante  do  negro  da  comunidade.  Com  os  nomes 
aqui gravados, que representam os vários segmentos da etnia negra, perpetuamos nosso carinho à Colônia 
Afro‐brasileira. 

ACIR FERNANDES          LUIZ FERNANDO MARQUES 
ADELINO ALVES DA SILVA        MALU NUNES DA SILVA 
AMILTON AMBROSIO RIBEIRO      MANUEL NUNES DA SILVA 
ANTONIO DIONISIO FILHO        MARIA APARECIDA DA SILVA 
ANTONIO SILVA DE PAULO        MARIA LUCIA DE SOUZA 
ANTONIO CALAZANS          MARIA MERCIS G. ANICETO 
ARTUR MIRANDA JUNIOR        MARIA NICOLAS 
AROLDO ANTONIO DE FARIAS         MARILENE DA GRAÇA RIBAS 
CANDIDO ALVES DE SOUZA        MARINA DE ANDRADE SOUZA 
CLOVIS AZAURY DO NASCIMENTO      MARINA PEREIRA 
DALZIRA MARIA APARECIDA        MARIO FERREIRA 
ELIDIO ALVES TEODORO        MARIO VASCONCELOS 
EUCLIDES DA SILVA          NARCISO J.R.ASSUMPÇÃO 
HASIEL PEREIRA (vereador)        NATALÍCIO SOARES 
HUGO JORGE BENTO          NELSON CARLOS DA LUZ 
IDELCIO JOSÉ DE OLIVEIRA        ODELAIR RODRIGUES 
ISAAC OTÁVIO            OLGA MARIA S. FERREIRA 
JOÃO FERREIRA DOS SANTOS        ORLANDO DIAS DA SILVA 
JOÃO FREDERICO ALVES        OSVALDO FERREIRA DOS SANTOS 
JOÃO FERREIRA DA SILVA        OSIEL MOURA DOS SANTOS (cônsul Senegal) 
JORGE DE OLIVEIRA          PAULO CHAVES DA SILVA 
JOSÉ AUGUSTO G. ANICETO        PAULO LOPES SANTOS 
JOSÉ CARLOS M. DOS SANTOS        PEDRO ADÃO PEREIRA 
JOSÉ DIONÍSIO DA SILVA        RAIMUNDA FERREIRA DOS SANTOS 
JOSÉ MOREIRA DE ASSIS        RAIMUNDO NONATO SIQUEIRA 
JOSÉ PEREIRA FILHO          SERAPHINA JACIRA GONÇALVES 
JOSÉ RAMOS            SIDNEY LIMA SANTOS (ex‐vereador) 
JOSÉ SALVADOR DE SOUZA        TEREZA ERMELINO DE LEÃO 
JOSÉ S. SILVA FELINTO (ex‐vereador)      VALDIR ISIDORO SILVEIRA 
JURANDIR NUNES PEREIRA        ZELIA MOURA DOS SANTOS 
 
HOMENAGENS PÓSTUMAS 
ANTENOR ALENCAR LIMA        ENEDINA ALVES MARQUES 
ANTENOR P.DOS SANTOS (ex‐vereador)   HAROLDO FERREIRA DOS SANTOS 
ANTONIO PINTO REBOUÇAS        JOSÉ FERREIRA DOS SANTOS 
EDGAR ANTUNES SILVA (TATU)     JOSÉ PINTO REBOUÇAS 
 
Curitiba, 26 de maio de 1988 
 
Horácio Rodrigues 
Presidente da Nona Legislatura 
P á g i n a  | 33 

 
LEI Nº 3.353, DE 13 DE MAIO DE 1888 conhecida como Lei Auréa 
Fonte: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lim/LIM3353.htm. Acesso 13.maio.2017. 
 
P á g i n a  | 34 

LEI Nº 3.353, DE 13 DE MAIO DE 1888. 

Declara extinta a escravidão no Brasil. 

A Princesa Imperial Regente, em nome de Sua Majestade o Imperador, o Senhor D. Pedro II, faz saber a todos os 
súditos do Império que a Assembleia Geral decretou e ela sancionou a lei seguinte: 

Art. 1°: É declarada extinta desde a data desta lei a escravidão no Brasil. 

Art. 2°: Revogam‐se as disposições em contrário. 

Manda, portanto, a todas as autoridades, a quem o conhecimento e execução da referida Lei pertencer, que a 
cumpram, e façam cumprir e guardar tão inteiramente como nela se contém. 

O  secretário  de  Estado  dos  Negócios  da  Agricultura,  Comércio  e  Obras  Públicas  e  interino  dos  Negócios 
Estrangeiros, Bacharel Rodrigo Augusto da Silva, do Conselho de sua Majestade o Imperador, o faça imprimir, publicar 
e correr. 

Dada no Palácio do Rio de Janeiro, em 13 de maio de 1888, 67º da Independência e do Império. 

Princesa Imperial Regente 

 
P á g i n a  | 35 

PONTO 11 – PRAÇA 19 DE DEZEMBRO 

Endereço: Praça 19 de Dezembro – Centro 

O conjunto arquitetônico da Praça 19 de Dezembro, assinado pelo escultor Erbo Stenzel, é 
composto  por  um  painel  de  duas  faces,  um  espelho  d’água,  um  obelisco  e  a  escultura  de  um 
homem nu com 18 metros de altura. No painel de duas fases a ideia do artista foi contar um pouco 
da história do Paraná e seus ciclos econômicos. Já o Homem Nu representa o Paraná dando um 
passo em direção ao futuro. Com traços negros bem destacados a escultura apresenta ainda forte 
semelhança com a arte do antigo Egito, com características que permitem dialogar com a Lei da 
Frontalidade.  A  Lei  da  Frontalidade  se  caracteriza  por  ser  bastante  simétrica,  em  que  uma  linha 
imaginária divide a obra em duas partes iguais, estando a figura em pé, sentada ou de joelhos. Os 
braços  estão  sempre  colados  ao  corpo,  estendidos  ou  cruzados  sobre  o  tronco.  Mesmo  em 
esculturas que retratam pessoas em pé o movimento é contido, ainda que simule uma caminhada. 

 
Praça XIX de Dezembro 
Foto: Gazeta do Povo de 26/11/2016 
P á g i n a  | 36 

A Praça 19 de Dezembro, também conhecida como Praça do Homem Nu foi inaugurada em 
19 de dezembro de 1953, na esteira do programa de obras públicas comemorativas do centenário 
da  emancipação  política  do  estado  do  Paraná,  ocorrida  em  19  de  dezembro  de  1853.  A  praça 
conta com um obelisco de pedra, contendo dizeres comemorativos ao centenário da emancipação 
acima  referida  e  uma  grande  estátua  em  granito  de  um  homem  nu  (daí  o  apelido  popular  do 
logradouro  ser  Praça  do  Homem  Nu).  O  título  correto  da  escultura  do  Homem  Nu  é  “o  homem 
paranaense”.  Ele  está  em  pé,  em  busca  do  progresso,  andando  atrás  do  desenvolvimento 
econômico. Essa escultura recebeu muitas críticas, sobretudo de David Carneiro21 que alegava que 
ela não representava o “homem loiro e belo do Paraná”. 

  A  Mulher  Nua  (sentada  só  contemplando)  é  de  autoria  de  Humberto  Cozzo22  e 
originariamente  ficava  no  fundo  do  Palácio  Iguaçu.    Em  1972  foi  trazida  para  a  praça  a  fim  de 
complementar  o  conjunto  e  representar  a  Justiça.  A  praça  ainda  possui  um  biombo  com  dois 
painéis,  um  de  Poty  Lazzarotto,  em  azulejos,  representando  a  evolução  política  do  Estado  e  o 
outro, de Erbo Stenzel, em alto relevo, representando os ciclos econômicos do Paraná. Nos dois 
painéis temos a representação do trabalho escravo africano. 

                                                            
21
David  Antônio  da  Silva  Carneiro  (1904‐1990)  era  filho  do  industrial  de erva‐mate David  Afonso  da  Silva  Carneiro. 
Estudou no Colégio Militar do Rio de Janeiro e diplomou‐se em Engenharia Civil pela Universidade do Paraná em 1928. 
Lecionou  História  e  Economia  em  universidades  dos  Estados  Unidos  e  a  partir  da década  de  1950,  foi  professor 
da Universidade  Federal  do  Paraná.  Ao  longo  de  sua  vida,  escreveu  mais  de  70  livros,  a  grande  maioria  com  temas 
sobre a história do Paraná. Disponível em http://www.academiapr.org.br/artigos/o‐parana‐esqueceu‐david‐carneiro/. 
Acesso 13.maio.2017. 
 
22
  Bartolomeu  Cozzo  mais  conhecido  como  Humberto  Cozzo  (1900‐1981)  foi  um escultor e  autor 
de mosaicos brasileiros. Suas peças de arte multiplicaram‐se por todo o país, algumas delas causadoras de polêmicas. 
É o caso da Mulher Nua (1955), em Curitiba, que realizou em parceria com Erbo Stenzel, a quem coube fazer a estátua 
do Homem  Nu.  Também  em  Curitiba,  está  situada  outra  obra  do  artista,  uma  escultura  em pedra  sabão situada  no 
alto  do Museu  do  Expedicionário,  representando  uma  patrulha  de  infantaria  em  ação,  homenageando  os  soldados 
brasileiros  que  participaram  da Segunda  Guerra  Mundial.  Disponível  em 
http://blog.jaireliasjunior.com.br/2011/01/mulher‐nua‐provincianismo‐vesgo/. Acesso 13.maio.2017. 
P á g i n a  | 37 

 
Painel de Poty Lazaroto na Praça XIX de Dezembro 
Fonte: http://www.curitibamilgrau.com.br/conheca‐os‐sinais‐ocultos‐da‐praca‐19‐de‐dezembro/. Acesso 
13.maio.2017. 

 
Painel de Erbo Stenzel na Praça XIX de Dezembro 
Fonte: http://www.curitibamilgrau.com.br/conheca‐os‐sinais‐ocultos‐da‐praca‐19‐de‐dezembro/. Acesso 
13.maio.2017. 
P á g i n a  | 38 

PONTO 12 – SOCIEDADE BENEFICENTE TREZE DE MAIO 

Endereço: Rua Desembargador Clotário Portugal, 274 – Centro 

  Conscientes  de  que  precisavam  se  organizar  para  defender  seus  direitos,  sua  identidade, 
sua cultura e sua memória, a população negra criou associações e clubes sociais em várias regiões 
do país, ainda no regime escravista. O Clube Beneficente Treze de Maio foi fundado em 6 de junho 
de 188823 e ficava numa região conhecida como Boulevard São Francisco, onde vivia um grande 
número de pessoas negras e onde ficavam os cavalos dos senhores que vinham para a cidade. Era 
o lugar mais pobre da cidade na década de 188024. 

O clube ajudava os mais necessitados, comprava material escolar para as pessoas pobres e 
providenciava  enterros  dignos  a  quem  não  tinha  condições.  É  a  segunda  associação  negra  mais 
antiga do Brasil ainda em funcionamento. A primeira está em Porto Alegre e se chama Sociedade 
Floresta Aurora, fundada em 31 de dezembro de 187225. 

Reinaugurado em 1995 atualmente é conhecido como Sociedade 13 de maio, importante 
espaço  de  preservação  da  memória  e  de  demarcação  da  presença  sempre  ativa  da  população 
negra  em  Curitiba26.   Foi  e  continua  a  ser  um  ponto  de  encontro  da  cultura  negra  desde  sua 
fundação, no ano em que a escravatura foi abolida no Brasil: 1888. Seu nome homenageia a data.  
Atualmente todo primeiro sábado do mês tem o “Samba da Nega” dedicado inteiramente para a 
música de raiz que atrai os amantes de uma boa roda de samba. 

A  partir  de  abril  de  2015,  todo  segundo  sábado  do  mês  tem  “Um  Baile  Bom”  que  é  um 
movimento‐festa‐ato  político  de  mobilização  da  comunidade  negra  de  Curitiba  e  Região 
                                                            
23
 Por Vicente Moreira de Feitas, descendentes de escravos e trabalhador da construção civil. 
 
24
  Para  saber  mais  consultar  SANTIAGO,  Fernanda  Lucas  (2015).  Sociedade  13  de  Maio:  uma  estratégia  de 
sobrevivência no pós Abolição (1888‐1896). Curitiba: Monografia em História da UFPR. 
 
25
 Fundada por negros forros para ser entidade para arrecadar fundos para o caso de óbitos, a Floresta Aurora tinha 
como  uma  das  primeiras  lideranças  a  escrava  Maria  Chiquinha.  Ela  organizava  reuniões  no  bairro  Floresta,  nas 
proximidades da rua Aurora, hoje Barros Cassal. Fonte: Correio do Povo/RS, 11/03/2013.
 
26 
Para saber mais ver o documentário "Sob a Estrela de Salomão" realizado através do Edital de Patrimônio Imaterial 
da  Fundação  Cultural  de  Curitiba  (2011‐12).  O  documentário  foi  integrante  de  projeto  de  pesquisa  homônimo  que 
teve como foco a Sociedade Operária Beneficente 13 de Maio, fundada em Curitiba no ano de 1888. Disponível em 
https://www.youtube.com/watch?v=wzKQY9Tr_Gs. Acesso 13.maio.2017. 
 
P á g i n a  | 39 

Metropolitana. Um Baile Bom busca nos bailes black das décadas  de 70 e 80 seu fundamento.  A 
história desses bailes no Brasil começa no Rio de Janeiro da década de 1970 e vem no embalo da 
luta americana pelos pelos direitos civis27. 

 
Sociedade Treze de Maio 
Foto: Gazeta do Povo de 26/11/2016 

                                                            
27
 Disponível em https://umbailebom.wordpress.com/. Acesso 13.maio.2017. 
P á g i n a  | 40 

PONTO 13 – MEMORIAL AFRICANO 

Endereço: Rua Lothário Boutin, 374 – Pinheirinho 

O maior portal africano do mundo foi inaugurado em Curitiba, em maio de 2010, na praça 
Zumbi dos Palmares, Pinheirinho, distante do centro. O Memorial é uma homenagem de Curitiba 
ao povo afrodescendente do Brasil e ao continente‐sede dos jogos da Copa do Mundo de 2010. No 
portal  da  entrada  principal  foram  colocadas  54  colunas  representando  cada  um  dos  países  do 
continente africano. O projeto é do arquiteto Fernando Canalli28. 

Quadradas,  as  colunas  de  quatro  metros  de  altura  levam  o  nome  do  país,  bandeira  e  a 
localização  no  continente.  As  descrições  e  desenhos  são  feitos  em  azulejos.  A  ideia  é  que  cada 
missão  oficial  de  países  africanos  em  Curitiba  fixe  uma  placa  na  coluna  correspondente  ao  país. 
Além das 54 colunas, outras duas, amarelas, com o dobro do tamanho e diferenciadas das demais, 
completam o portal. As duas colunas simbolizam a educação e a cultura. Uma delas, da educação, 
de aço perfurado com iluminação internada. A outra, em argamassa com desenhos africanos em 
baixo  relevo.  Um  mosaico  de  pedras  nas  cores  preto,  branco  e  vermelho  forma  o  mapa  do 
continente  africano,  com  o  desenho  dos  países.  A  praça  tem  ainda  espaço  para  feiras  de 
artesanato étnico.  

                                                            
28
 Fernando Antônio Canalli (Joaçaba/SC, 1955) é ilustrator, escultor e arquiteto. Residindo em Curitiba desde 1970, 
cursou Edificações (Ensino Médio), no CEFET (1975) e graduou‐se em Arquitetura e Urbanismo, pela PUCPR, em 1982. 
De  1983  a  1986,  atuou  como  professor  no  Curso  de  Arquitetura  da  PUCPR.  De  1992  a  1994,  voltou  a  exercer  o 
magistério lecionando Análise Gráfica na PUCPR. O Prêmio Nacional de Urbanismo Cidade de Pato Branco (1995) e o 
Prêmio  do  Creci‐PR  (1995),  vencidos  em  equipe,  definem  sua  reintegração  às  atividades  de  arquiteto  e  urbanista. 
Projetou em Curitiba, as fontes de Jerusalém (Rua Arthur Bernardes), Mocinhas da Cidade (Rua Cruz Machado), Maria 
Lata  D’Água (Largo  Generoso  Marques),  a  passarela  de  travessia  de  pedestres  do  campus  da  UFPR.  Em  1999, 
participou  em  Den  Hagen/Holanda  do  projeto  urbanístico  voltado  a  neutralizar  a  segregação  social,  registrado  no 
livro The  Hague,  de  Olof  Koekebakker,  sob  o  título A  luz  que  vem  de  Curitiba.  Disponível  em 
http://www.artesnaweb.com.br/index.php?pagina=home&abrir=arte&acervo=660. Acesso 13.maio.2017. 
P á g i n a  | 41 

 
Memorial Africano na Praça Zumbi do Palmares 
Fonte: Gazeta do Povo de 26/11/2016 

Há muitas críticas com relação a esse memorial:  

‐  ele  foi  criado  no  âmbito  da  definição  das  sedes  da  copa  do  mundo  no  ano  de  2010  e  não  na 
década de 1990 quando foram criados os outros bosques que homenageiam as etnias europeias 
para comemorar os 300 anos da fundação da cidade de Curitiba; 

‐ se localiza em um bairro distante da cidade e por isso é pouco frequentado; 

‐ não está no roteiro da Linha Turismo da Cidade; 

‐  no  sítio  do  Instituto  Municipal  de  Turismo  de  Curitiba29,  na  opção  referente  aos  atrativos 
turísticos/memoriais,  aparece  o  Memorial  Africano,  mas  diferentemente  das  outras  etnias  onde 
tem‐se a opção de “Saiba mais” que remete ao sítio da Fundação Cultural de Curitiba e maiores 
informações sobre o memorial é fornecido, na opção do Memorial Africano apenas as informações 
de endereço, bairro, telefone, email e observação estão disponíveis. 
                                                            
29
 Disponível em http://www.turismo.curitiba.pr.gov.br/conteudos/memoriais/7/. Acesso 13.maio.2017. 
P á g i n a  | 42 

 
Tela do Instituto de Turismo de Curitiba referente ao Memorial Africano 
Fonte: http://www.turismo.curitiba.pr.gov.br/conteudos/memoriais/7/. Acesso 13.maio.2017. 
 
 
 
 
 

 
Tela da Fundação Cultural de Curitiba referente ao Memorial Africano 
Fonte: http://www.fundacaoculturaldecuritiba.com.br/espacos‐culturais/. Acesso 13.maio.2017. 

 
P á g i n a  | 43 

 
Tela do Instituto de Turismo de Curitiba referente ao Memorial Polonês 
Fonte: http://www.turismo.curitiba.pr.gov.br/conteudos/memoriais/7/. Acesso 13.maio.2017. 
 
 
 
 
 

Tela da Fundação Cultural de Curitiba referente ao Memorial Polonês 
Fonte: http://www.fundacaoculturaldecuritiba.com.br/espacos‐culturais/memorial‐da‐imigracao‐polonesa/. Acesso 
13.maio.2017. 

 
P á g i n a  | 44 

PONTO 14 – VIADUTO CULTURAL CAPANEMA (MEMÓRIA AFROCURITIBANA) 

Endereço: Cristo Rei, Curitiba 

Antes da construção do Viaduto Capanema, nas décadas de 30, 40, 50, o local abrigava os 
ensaios  da  primeira  escola  de  samba  de  Curitiba,  a  Colorado,  à  sombra  de  três  imponentes 
eucaliptos. A importante presença negra na comunidade dos ferroviários e a proximidade da Vila 
Tassi, faz do local um importante foco de memória negra da cidade. Por este motivo, o local foi 
destinado à construção de um Centro de Referência da Cultura Negra em Curitiba, em processo de 
viabilização e com previsão de inauguração para 2018.  

 
Viaduto Capanema 
Foto: https://informativocentroculturalhumaita.wordpress.com. Acesso 13.maio.2017 

 
P á g i n a  | 45 

Mais  conhecido  como  “Vila  Tassi”,  o  Viaduto  Capanema  é  o  berço  do  samba  na  capital 
paranaense,  conforme  João  Carlos  Freitas30.  A  presença  negra  entre  os  ferroviários  remete 
também à presença de outras atividades além do samba, como o partido alto, a capoeira, o jongo 
e  outras.  Vizinho  do  Bairro  Rebouças  e  em  face  da  linha  férrea,  o  local  lembra  fortemente  a 
importância  dos  irmãos  Rebouças,  engenheiros  negros  responsáveis  pelo  projeto  ousado  e 
imponente da ferrovia Curitiba – Paranaguá.  
Desde  a  abolição  as  mais  diversas  manifestações  culturais  negra  tiveram  na  rua  lugar 
privilegiado  de  manifestação:  samba,  maracatu,  capoeira,  afoxé,  congada.  A  construção  de  um 
Centro de Referência da Cultura Afro em Curitiba visa suprir uma lacuna histórica na cidade “da 
cultura europeia” que conta com cerca de 24% de sua população autodeclarada afrodescendente 
(quase 600 mil habitantes). O Paraná como um todo, estado mais negro do sul, segundo dados do 
IBGE, também ganha, já que a historiografia oficial manteve a presença negra invisibilizada e, com 
a criação de um Centro de Referência, toda a rede de ensino poderá se beneficiar de um espaço 
de  visitação,  valorizando  a  presença  negra,  reunindo  amplo  acervo  de  pesquisa  e  com  eventos 
temáticos durante o ano todo. 
 

 
Foto do Maé da Cuíca 
Fonte: Gazeta do Povo de 20/12/2012 
 
 
 
 
 
 
 
 

                                                            
30
 FREITAS, João Carlos de (2009). Colorado: a primeira escola de samba de Curitiba. Curitiba: [s.e]. 
P á g i n a  | 46 

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

 
Fonte: http://www.fundacaoculturaldecuritiba.com.br/noticias/linha‐preta‐um‐passeio‐pela‐historia‐da‐populacao‐
negra‐de‐curitiba/. Acesso 13.maio.2017. 
 

 
P á g i n a  | 47 

PONTO 15 – SAMBA DO COMPOSITOR PARANAENSE 
 
Endereço: TUC (Teatro Universitário de Curitiba). Galeria Júlio Moreira, Tv. Nestor de Castro, s/nº ‐ 
Centro 
 
O  Samba  do  Compositor  Paranaense  (SCP)  é  um  projeto  realizado  semanalmente  em 
Curitiba desde 2010 com foco na disseminação do samba autoral local, a partir da articulação de 
compositores, músicos e público. As rodas do SCP ocorrem toda terça‐feira, a partir das 20 horas 
no Teatro Universitário de Curitiba. 
Para apresentar seu samba nas rodas do SCP, basta chegar às 19h30 com 30 cópias da letra 
da sua composição. É só passar a melodia com o pessoal da harmonia antes do início da roda e na 
hora em que for chamado, cantar sua canção junto com os músicos e o público. Recentemente a 
identidade do samba no estado do Paraná, a história do projeto Samba do Compositor Paranaense 
e  seus  desdobramentos  foi  o  tema  do  documentário  “A  Hora  do  Samba”  dirigido  por  Renato 
Prospero31. O filme reúne depoimentos dos fundadores e de sambistas frequentadores do projeto 
que contam um pouco sobre as rodas, os registros e as produções coletivas realizadas desde 2010 
quando o projeto deve início32.  
 

 
Uma das rodas de samba do Samba do Compositor Paranaense 
Fonte: http://www.sambadocompositor.com.br/. Acesso 13.maio.2017 
 
                                                            
31 
Documentário  do  ano  de  2017  “A  Hora  do  Samba  ‐  A  história  do  Samba  do  Compositor  Paranaense”  está 
disponível em https://www.youtube.com/watch?v=qjD1Kt4S0go. Acesso 13.maio.2017. 
 
32
 Para saber mais acessar http://www.sambadocompositor.com.br/. 
 
P á g i n a  | 48 

A HORA DO SAMBA 
 (Léo Fé, Xandi da Cuíca, Ricardo Salmazo)33 

PANDEIRO CHAMOU 
VIOLA MANDOU AVISAR 
NOSSA SENHORA VEIO NOS ABENÇOAR 
CUÍCA CHOROU E FEZ O POVO CANTAR 
CHEGOU A HORA DO SAMBA DO PARANÁ 

O largo já deu sua ordem 
Que toda desordem tem que obedecer 
Sambistas reunidos sambando e cantando até o amanhecer 
Pedimos licença ao Maé e ao Lápis cantando com emoção 
O Samba do Compositor vem receber a nova geração 
Do tempo da Colorado 
Tradição e reinado fizeram ecoar Improvisado e sincopado o samba renasce pro povo cantar 
Poesia e nostalgia sempre estão num samba canção 
Se materializa a magia das dores do coração 
Samba emoção do povo 
Que chega de novo pra gente saber 
Que o Centro Sul e os Campos Gerais na caneta vão dizer 
Médio Paranapanema, Noroeste, Sudeste e Norte Pioneiro 
Descem para o Litoral, Capital, fazendo um samba verdadeiro 

                                                            
33
 Para escutar a melodia acessar https://www.youtube.com/watch?v=5UeHXUssrBs. Acesso 13.maio.2017. 
P á g i n a  | 49 

PONTO 16 – MUSEU PARANAENSE 
 
Endereço: R. Kellers, 289 ‐ Alto São Francisco 
 
Idealizado por Agostinho Ermelino de Leão e José Candido Murici, o Museu Paranaense foi 
inaugurado no dia 25 de setembro de 1876, no Largo da Fonte, hoje Praça Zacarias, em Curitiba. 
Com  um  acervo  de  600  peças,  entre  objetos,  artefatos  indígenas,  moedas,  pedras,  insetos, 
pássaros e borboletas, era então, o primeiro no Paraná e o terceiro no Brasil34. 

A exposição de longa duração do Museu Paranaense, no circuito referente a Ocupação do 
Território Paranaense mostra‐se indícios da presença humana entre 10 e 8 mil atrás até século XX 
no território que se tornaria o Paraná, após 1853. Foi concebido inicialmente como uma trajetória 
histórica  linear,  das  primeiras  populações  caçador‐coletoras  das  quais  se  encontraram  vestígios 
arqueológicos  em  diversas  localidades  do  Paraná,  seguidas  pelos  povos  que  cultivavam 
agricultura, aos conflitos do início do século XX. Nesse circuito há uma mostra de objetos relativos 
à fundação da cidade de Curitiba, do final do século XVII ao XVIII, incluindo a imagem original em 
terracota  da  padroeira  Nossa  Senhora  da  Luz  dos  Pinhais,  trazida  pelos  imigrantes  portugueses. 
Mostra  também  alguns  aspectos  da  vida  dos  tropeiros,  que  ao  lado  dos  garimpeiros  foram  os 
fundadores  da  vila  que  se  tornaria  capital  do  Paraná,  bem  como  de  instrumentos  ligados  ao 
trabalho escravo, a base da economia nesse período. 

                                                            
34
 Disponível em http://www.museuparanaense.pr.gov.br/. Acesso 13.maio.2017. 
P á g i n a  | 50 

 
Instrumentos ligados ao trabalho escravo em exposição no Museu Paranaense 
Fonte: http://www.museuparanaense.pr.gov.br/. Acesso 13.maio.2017.

Atualmente  há  um  grupo  de  trabalho  discutindo  como  ressignificar  a  exposição 
permanente  do  museu  valorizando  a  cultura  negra  e  sua  contribuição  para  a  constituição  da 
identidade  paranaense. 

 
Convite para mesa redonda O Negro no Museu Paranaense realizada dia 17 de maio de 2017. 
Fonte: https://www.facebook.com/events/museuparanaense. Acesso 13.maio.2017. 
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ENEDINA ALVES MARQUES: mulher, preta, pobre e engenheira 
 
Ana Crhistina Vanali 
 
RESUMO:  A  historiografia  tradicional  do  Paraná  excluiu  a  participação  de  negros  na  formação  da  sociedade 
paranaense. Em alguns casos a presença do indígena, com aquela visão romântica ainda era apontada, mas essa etnia 
também  não  teria  dado  grande  contribuição  segundo  essa  mesma  historiografia.    Dessa  maneira  negros  e  índios 
foram deixados de fora da narrativa e a atenção foi toda centrada nas etnias europeias. Hoje essa visão está superada 
e vários trabalhos, nas diferentes áreas de conhecimento, tem realizado estudos que demonstram a contribuição dos 
negros  e  índios  na  construção  da  sociedade  paranaense.  Enedina  Alves  Marques  (1913‐1981)  é  um  exemplo  da 
presença africana no Paraná. 
 
Palavras‐chave: Enedina Alves Marques. Negros no Paraná.  Faculdade Engenharia do Paraná. 
 

  
Enedina Alves Marques35 
                                                            
35 
Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Enedina_Alves_Marques. Acesso 30.agosto.2016 
 
P á g i n a  | 52 

Pensando  na  composição  da  sociedade  brasileira  atual,  mais  de  25%  da  sua  população  é 
mulher, negra e pobre que além de enfrentarem diariamente as condições de pobreza, ainda tem 
que  lutarem  permanentemente  contra  a  discriminação  (MARCONDES,  2013).    Carregando  essa 
tripla discriminação parece ser inimaginável romper essas barreiras de gênero, cor e classe, mas 
quando analisamos a presença africana no Paraná, nos deparamos com uma vida que conseguiu 
fazer essa ultrapassagem. Enedina Alves Marques, negra e de família pobre, foi a primeira mulher 
a ser formar na Faculdade de Engenharia do Paraná tornando‐se a primeira engenheira negra do 
Paraná e do Brasil (SANTANA, 2013). 

Enedina Alves Marques (a Dindinha) nasceu em Curitiba em 8 de janeiro de 1913. Filha de 
Paulo Marques e de Virgínia Alves Marques (Dona Duca). Os pais se separaram enquanto ainda era 
criança.  A  mãe  era  lavadeira  e  durante  a  infância  de  Dindinha  foi  morar  e  trabalhar  na  casa  da 
Família  Nascimento.  O  major  e  delegado  de  polícia  Domingos  Nascimento  Sobrinho36,  patrão  da 
mãe  de  Enedina,  casado  com  Josephina  do  Nascimento  Teixeira37,  foi  o  incentivador  de  seus 
estudos.  Ela é alfabetizada por volta dos 12 anos de idade na escola particular da professora Luiza 
Netto  Correia  de  Freitas38.  Realiza  o  exame  de  proficiência  e  conclui  o  curso  primário  no  grupo 
escolar  anexo  à  Escola  Normal.  Entre  os  anos  de  1926  a  1931  faz  o  curso  da  Escola  Normal 
Secundária juntamente com Isabel, a filha do major Domingos que lhe pagou o bonde durante a 
formação  como  normalista  para  que  fizesse  companhia  à  filha.  Durante  toda  essa  fase  da  sua 
formação trabalhou como criada de servir e de babá para a família Nascimento. 

                                                            
36
 O Major Domingos Nascimento Sobrinho faleceu em 1958 deixando Enedina como uma de suas beneficiárias em 
seu  testamento.  Não  confundir  com  Domingos  Virgílio  Nascimento  (1862‐1915)  que  foi  escritor,  autor  do  hino  do 
Paraná e do movimento republicano paranaense (Dicionário Histórico‐biográfico do Paraná. Curitiba: Editora do Chain, 
1991). 
 
37
 O Estado do Paraná de 17/02/1925. 
 
38
  Para  saber  mais  da  professora  Luiza  Correia  de  Freitas  ver  Vanali,  2016.  Não  confundir  a  professora  Luiza  que 
alfabetizou Enedina com a professora Luiza Pereira Dorfmund que era colega de profissão de Enedina na escola em 
Rio Negro. Luiza Dorfmund não poderia ter alfabetizado Enedina, pois nasceu em 1918, assim no ano de 1925, quando 
Enedina foi alfabetizada, Luiza Dorfmund teria por volta de sete anos de idade. 
P á g i n a  | 53 

 
Resultados dos exames de português da Escola Normal de Curitiba do ano de 1930 
Enedina atinge grau 4,2 
Fonte: A República de 28/06/1930 
 
P á g i n a  | 54 

  No ano de 1932 inicia sua carreira como professora da rede pública de ensino. Interrompe 
seu trabalho doméstico na casa da família Nascimento e segue para o interior do estado trabalhar 
como professora no Grupo Escolar de São Mateus do Sul. Leciona  também no Grupo Escolar de 
Cerro Azul, no Grupo Escolar Barão de Antonina em Rio Negro, na Escola Isolada do Passaúna em 
Campo Largo. Retorna para Curitiba em 1935 e vai trabalhar na Escola da Linha de Tiro do Juvevê 
em  Curitiba.  O  seu  regresso  à  Curitiba  ocorreu  para  realizar  o  Curso  de  Madureza,  exigência  da 
nova legislação da Instrução Pública, que era um curso de capacitação profissional de três anos de 
duração  para  o  exercício  de  professor.  Nesse  mesmo  ano,  para  completar  seu  rendimento  abre 
uma escola particular para crianças que não frequentavam a rede pública39.  Realizou o Curso de 
Madureza no Ginásio Novo Ateneu finalizando‐o no ano de 1937. Um dos seus colegas de curso, 
Jota  Caron,  era  membro  da  Família  Caron  e  por  seu  intermédio  vai  trabalhar  e  morar  com  essa 
família.  

 
Nomeação de Enedina para o grupo escola de São Mateus 
Fonte: Correio do Paraná de 16/06/1932 
 

  Entre  1938  e  1939  realizou  o  curso  de  pré‐engenharia  na  Faculdade  de  Engenharia  do 
Paraná.  Durante  o  dia  trabalhava  como  professora  e  nos  trabalhos  domésticos  da  residência  da 
família  Caron.  À  noite  frequentava  o  curso  preparatório  e  durante  as  madrugadas  copiava  a 
matéria dos livros que não tinha condições de adquirir e que emprestava dos colegas para estudar 
(SANTANA,  2013).  Morou  com  essa  família  até  o  ano  de  1954  quando  mudou‐se  para  um 
apartamento no Edifício Tijucas no centro de Curitiba. 

                                                            
39
  Alugou casa na frente do Colégio Nossa Senhora Menina, no bairro Juvevê. 
P á g i n a  | 55 

Segundo  entrevista  concedida  para  o  jornal  Diário  do  Paraná  de  7  de  maio  de  1972, 
Enedina  optou  pelo  curso  de  engenharia  por  eliminação:  era  professora  primária  formada,  mas 
“viu  que  não  tinha  vocação”.  Não  podia  ver  sangue,  portanto  medicina  foi  eliminada  da  lista  de 
opções.  Não  conseguia  falar  em  público,  então  também  não  seria  Direito.  Gostava  de  cálculo  e 
engenharia era a opção que havia sobrado. 

  No  ano  de  1940  entra  para  a  Faculdade  de  Engenharia  do  Paraná.  Alguns  casos  de 
perseguição e discriminação que sofreu durante a realização do curso são relatados por pessoas 
que a conheceram e foram entrevistas por Santana (2013). Formou‐se engenheira em 1945 aos 32 
anos de idade. 

 
Relação dos formandos em Engenharia pela Faculdade de Engenharia do Paraná no ano de 1945 
Fonte: Diário do Paraná de 15/12/1945 
 
 
 
  No  ano  seguinte  a  sua  formação,  no  ano  de  1946,  Enedina  começou  a  trabalhar  na 
Secretaria  de  Viação  e  Obras  Públicas  do  Paraná  aposentando‐se  no  ano  de  1962.  Durante  essa 
fase  exerceu  várias  funções:  foi  chefe  da  seção  de  hidráulica,  chefe  da  divisão  de  estatística, 
realizou  o  levantamento  topográfico  da  Usina  Capivari‐Cachoeira,  participou  da  construção  da 
Usina  Parigot  de  Souza,  do  Colégio  Estadual  do  Paraná  e  da  Casa  do  Estudante  em  Curitiba. 
Durante um tempo exerceu o serviço de engenharia da Secretaria de Educação e Cultura. Santana 
(2013)  aponta  que  Enedina  teve  seu  trabalho  e  capacidade  técnica  reconhecidos  pelos 
governadores  Moises  Lupion  e  por  Ney  Braga  o  que  lhe  permitiu  construir  uma  rede  de 
P á g i n a  | 56 

sociabilidades  e  receber  uma  compensação  profissional  através  de  decretos,  dispositivos  legais 
que  revisaram  a  contagem  de  seu  tempo  de  serviço  e  a  sua  remuneração,  o  que  parece  ter  lhe 
garantido uma aposentadoria rentável. 

 
Enedina em frente da sua residência nas obras da Usina de Cotia, onde foi a engenheira fiscal. 
Fonte: Diário do Paraná de 07/05/1972 
 

 
P á g i n a  | 57 

 
Enedina realizou várias viagens de trabalho para diferentes países e estados brasileiros. 
Fonte: Diário do Paraná de 29/11/1959 
 

Depois  de  aposentada  Enedina  começou  a  prestar  serviços  na  Construtora  Vaticano,  mas 
isso  não  a  impedia  de  viajar.  Os  jornais  da  época  anunciavam  com  frequência  as  suas  viagens 
fossem  elas  de  férias,  como  membro  do  Clube  Soroptimista  ou  em  cursos  e  congressos  de 
engenharia. Sua vida social era agitada e fazia parte das colunas sociais da década de 1970 pois 
P á g i n a  | 58 

frequentava  os  círculos feministas  de  cultura  da  capital  paranaense como  o  Centro  Feminino de 
Cultura,  a  União  Cívica  Paranaense,  Clube  Soroptimista,  Instituto  de  Engenharia  do  Paraná  e  da 
Associação Brasileira de Engenheiros e Arquitetos do Brasil40.  

 
Viagem ao Japão para realizar curso de especialização pela Construtora Vaticano. 
Fonte: Diário do Paraná de 09/08/1964 
 

 
Enedina homenageada no dia internacional da mulher de 1976 como uma das construtoras do progresso paranaense. 
Fonte: Diário do Paraná de 07/03/1976 

                                                            
40
  Ver  Diário  do  Paraná  de  15.12.1945  e  03.12.1958.  Correio  do  Paraná  de  16.06.1932,  09.01.1933,  09.10.1962, 
08.11.1964,  08.12.1964,  27.12.1964.  Disponíveis  no  site  da  Hemeroteca  Digital  Brasileira  da  Biblioteca  Nacional 
(http://memoria.bn.br/hdb/periodo.aspx). 
P á g i n a  | 59 

 
 

 
Enedina homenageada no dia internacional da mulher de 1977 como um dos destaques 
da área de engenharia. 
Fonte: Diário do Paraná de 23/03/1977 
 
P á g i n a  | 60 

Enedina faleceu em Curitiba, aos 68 anos, vítima de infarto no dia 20 de agosto de 1981, 
solteira e sem filhos. Está sepultada no Cemitério Municipal São Francisco de Paula, num túmulo 
mantido pelo Instituto de Engenharia do Paraná. 

Em  2013  ocorreu  o  ano  do  centenário  do  seu  nascimento  e  sua  memória  foi  recuperada 
sendo publicada várias reportagens dando conta da sua existência. Todas as narrativas biográficas 
sobre Enedina procuram passar a imagem de alguém que venceu na vida pelo próprio esforço, que 
não  se  contentou  com  as  “migalhas”  que  eram  reservadas  ao  pobre,  preto  e  mulher,  saindo  da 
invisibilidade.  

Hoje, empresta o nome para uma rua do bairro Cajuru em Curitiba (LEI Nº 6372 de 1982)41, 
batiza o Instituto de Mulheres Negras de Maringá (fundado em 2006)42 e o Coletivo Enedina dos 
estudantes afrodescendentes da UTFPR/Campus Curitiba (fundado em 2015)43. 

REFERÊNCIAS 
 
FERNANDES,  José  Carlos  (2013).  Negra  Enedina,  a  engenheira.  Disponível  em 
http://www.gazetadopovo.com.br/vida‐e‐cidadania/colunistas/jose‐carlos‐fernandes/negra‐
enedina‐a‐engenheira‐11zwmvt8aj8h2nbi9qb61drr2. Acesso e 21.agos.2016. 
 
FERNANDES,  José  Carlos  (2014).  Conheça  a  história  da  engenheira  Enedina  Alves  Marques. 
Disponível  em  http://www.gazetadopovo.com.br/vida‐e‐cidadania/conheca‐a‐historia‐da‐
engenheira‐enedina‐alves‐marques. Acesso e 21.agos.2016. 
 
FISENGE (2013). Mulher, negra e pobre: a primeira engenharia do Paraná. Disponível no site da 
Federação  Interestadual  de  Sindicatos  de  Engenheiros 
http://www.fisenge.org.br/index.php/noticias/item/953‐mulher‐negra‐e‐pobre‐a‐primeira‐
engenheira‐do‐parana. Acesso 21.agos.2016 
                                                            
41
  Disponível  em  https://leismunicipais.com.br/a/pr/c/curitiba/lei‐ordinaria/1982/638/6372.  Acesso  em 
13.agosto.2016. Ver Anexo A. 
 
42
  Instituto  de  Mulheres  Negras  Enedina  Alves  Marques  ‐  Facebook  https://www.facebook.com/IMNEAM.  Acesso 
13.maio.2017. 
 
43
 Coletivo Enedina – endereço eletrônico: enedinacoletivo@gmail.com. 
    Facebook https://www.facebook.com/neabiutfpr. 
P á g i n a  | 61 

 
MARCONDES, Mariana Mazzini (et all) (2013). Dossiê Mulheres Negras: retrato das condições de 
vida  das  mulheres  negras  no  Brasil.  Brasília:  IPEA.  Disponível  em 
file:///C:/Users/Usuario/Downloads/dossie_mulheres_negrasipea.pdf. Acesso 13.agosto.2016. 
 
SANTANA,  Jorge  Luiz  (2013).  Rompendo  barreiras:  Enedina,  uma  mulher  singular.  Curitiba: 
Monografia Graduação História da UFPR. 
 
SILVA,  Maria  Nilza  e  PANTA,  Mariana  (2010).  O  Doutor  Preto:  Justiniano  Clímaco  da  Silva. 
Londrina: UEL. 
 

VANALI,  Ana  Crhistina  (2016).  “Professoras  Correia  de  Freitas:  trajetórias  femininas  na  Curitiba 
republicana”.  IN:  OLIVEIRA,  Ricardo  Costa  de  (org).  Nepotismo,  parentesco  e  mulheres.  Curitiba:  RM 
Editores, p. 103‐194. 

ANEXO A 

LEI Nº 6372/1982 ‐ DATA 16/12/1982 

 
 
DENOMINA  LOGRADOUROS  PÚBLICOS  DA  CAPITAL,  CONFORME  ESPECIFICA, 
DE: ENGENHEIRA ENEDINA ALVES MARQUES, JOÃO CRYSOSTOMO DA ROSA, 
LADISLAU PASZKIEWICZ E MARCILIA VAZ CARNEIRO". 
 
 
A Câmara Municipal de Curitiba, Capital do Estado do Paraná, decretou e eu, Prefeito Municipal sanciono a seguinte lei:
 
Artigo 1º ‐  Fica o Chefe do Poder Executivo Autorizado a dar as denominações de: Engenheira Enedina Alves Marques, 
uma das vias públicas da Capital localizada no Bairro de Vilas Oficinas, João Crysostomo da Rosa a Rua nº 38, no Bairro de 
Vilas Oficinas entre as Ruas Olga Balster e Estevam Ribeiro de Souza; Ladislau Paszkiewicz uma das vias públicas da Capital, 
localizada  no  Bairro  de  Ahú  de  Baixo;  e  Marcilia  Vaz  Carneiro  uma  das  vias  públicas  da  Capital,localizada  no  Bairro  de 
Uberaba. 
 
Artigo  2º  ‐  Esta  lei  entrará  em  vigor  na  data  de  sua  publicação,  revogadas  as  disposições  em  contrário.
 
PALÁCIO 29 DE MARÇO, em 16 de dezembro de 1982. 

JAIME LERNER 

PREFEITO MUNICIPAL  

 
 
Justiniano Clímaco da Silva, primeiro deputado negro do Paraná 
Fonte: http://blogdomatosinho.zip.net. Acesso 13.maio.2017 

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