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Ana

Crhistina Vanali (org)

Anais da Conferência Memória Política de Curitiba



6 a 7 de outubro de 2016
Promoção: Escola do Legislativo da Câmara Municipal de Curitiba
NEP (Núcleo de Estudos Paranaenses) da UFPR/CNPq
NuPP‐Cipol (Núcleo de Pesquisa e Prática em Ciência Política) da UNINTER


ISSN 978‐85‐917881‐4‐9

Curitiba
2016
COMISSÃO ORGANIZADORA
Doutor Antonio Torrens (Escola do Legislativo da CMC)
Professora Doutora Mônica Helena Harrich Silva Goulart (UTFPR)
Professora Doutoranda Ana Crhistina Vanali (NEP‐UFPR)
Professora Mestre Audren Azolin (UNINTER)

COMISSÃO CIENTÍFICA
Professora Doutora Mônica Helena Harrich Silva Goulart (UTFPR)
Professora Doutoranda Ana Crhistina Vanali (NEP‐UFPR)
Professora Mestre Audren Azolin (UNINTER)

FICHA CATALOGRÁFICA
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

V141e VANALI, Ana Crhistina (organizadora)


ANAIS Memória Política de Curitiba ‐ ANAIS. / Ana Crhistina Vanali (org). Curitiba:
Edições NEP, 2016.
222 p.:il.:


ISBN 978‐85‐917881‐4‐9


1. Estado – Estruturas de Poder. 2. Poder Municipal. 3. Ciências Políticas.
4. Teoria Política. 5. Câmara Municipal de Curitiba.


CDD 320.01


PROGRAMAÇÃO GERAL

Dia 6 de outubro de 2016 Dia 7 de outubro de 2016

Manhã Manhã

Conferências Conferências

1. “Os estudos sobre a História do Paraná 1. “Constitucionalismo estadual e controle


nos últimos 20 anos” abstrato e concentrado de constitucionalidade
Professor Doutor Ricardo Costa de Oliveira nos tribunais de justiça: efeitos das ações
diretas de inconstitucionalidade (ADI)
estaduais no processo legislativo municipal e

estadual”

Professor Doutor Fabricio Ricardo de Limas Tomio

2. “A conexão entre política e família na Câmara 2. “Independente ou dominado: um balanço da


de vereadores de Curitiba, Paraná, no século literatura sobre as instituições legislativas
XIX” brasileiras”

Professor Doutor Alessandro Cavassin Alves
Professor Mestre André Ziegman

Tarde Tarde

GT 1 – COMPOSIÇÃO DO LEGISLATIVO GT2 – ATIVIDADES LEGISLATIVAS



1. Presidentes da Câmara Municipal de 1. Relações governamentais: o lobby enquanto
Curitiba (1947‐1964): Capitais políticos e técnica para a ação estratégica de defesa de
familiares interesses.
Natália Cristina Granato Lucas Vicente Cardoso de Souza

2. Classificação de proposições legislativas da
2. Empresários do transporte público na área de Cultura: Câmara Municipal de Curitiba
Câmara Municipal de Curitiba 2013‐2015
Fernando Marcelino Pereira Rafael Azevedo Perich

3. Por que Curitiba esqueceu Ernesto Guaita? 3. A atuação política das vereadoras na Câmara
João Cândido Martins de Oliveira Santos Municipal de Curitiba‐ CMC (2013‐2015)
Geissa Franco, Maiane Bitencourt e Jussara Cardoso

4. O 20 de Novembro: a construção do feriado 4. A trajetória eleitoral dos partidos em
na Câmara Municipal de Curitiba Curitiba: um estudo sobre as coligações
Marco Aurélio Barbosa proporcionais (1992‐2016)
Romer Mottinha Santos

5. Mulheres e Política na Região Metropolitana 5. A regulamentação dos serviços de água e
de Curitiba‐Pinhais esgoto no século XIX: uma abordagem sobre o
Gloria Estevinho desempenho institucional da Câmara Municipal
de Curitiba (1871‐1900)
Marcus Roberto de Oliveira

APRESENTAÇÃO


Promulgada pela lei municipal 14.225/2013, a Escola do Legislativo da
Câmara Municipal de Curitiba teve sua regulamentação aprovada em 19 de maio
de 2015, sendo a terceira do estado do Paraná e a 116º escola legislativa
implantada no Brasil. Seis meses depois, foram definidos o Regimento Interno e o
Projeto Político‐Pedagógico, bem como determinada a composição da diretoria,
que passou a contar com Antonio Torrens na direção, Amanda Moreno na
coordenação pedagógica e Cristina Fonseca de Jesus como secretária.
Ainda de acordo com os termos da resolução aprovada em maio de 2015, a
Escola é subordinada à Mesa Executiva da Câmara Municipal de Curitiba e sua
estrutura é dividida em Colegiado Escolar, Direção, Coordenadoria de Cursos,
Coordenadoria Administrativa e Secretaria. O documento estipula que a Escola
deve desenvolver de forma permanente programas de capacitação profissional;
capacitação de agentes políticos; programas em parceria com instituições de
ensino; programas motivacionais; programas de valorização social e humana e
programas de formação política.
Entre os objetivos da escola, estão o de proporcionar aos servidores da
Câmara treinamento e suporte para a elaboração legislativa e para o exercício das
atividades profissionais inerentes à Casa; possibilidade de complementação dos
estudos; oferecimento de conhecimentos básicos aos servidores para que
desempenhem suas funções; qualificação dos servidores e, atividades de suporte
técnico‐administrativo; desenvolvimento de programas de ensino com o objetivo
de integrar a Câmara à sociedade; estímulo à pesquisa técnico acadêmica, com
ênfase às atividades desenvolvidas pela Câmara; realização de convênios com
outros entes estatais, entidades de classe, instituições de ensino (universidades,
faculdades e cursos técnicos); pesquisa sobre a memória política da Câmara
Municipal de Curitiba; informação e capacitação da comunidade sobre temas
pertinentes ao Poder Legislativo; desenvolvimento de ações motivacionais;
desenvolvimento de atividades voltadas aos servidores em estágio probatório;
desenvolvimento de atividades para servidores em vias de se aposentar e a
valorização dos servidores por meio de atividades que promovam o bem estar e a
qualidade de vida.
O fomento às pesquisas em torno da memória política de Curitiba sempre
esteve, portanto, entre os principais objetivos da escola. Foi com esse espírito
que a entidade buscou parcerias com a Universidade Federal do Paraná (UFPR),
a Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) e o Centro Universitário
Internacional (Uninter), e promoveu a conferência Memória Política de Curitiba,
evento gratuito e aberto à população que contou com palestras de
pesquisadores sobre temas que foram da (não) comemoração do feriado da
consciência negra em Curitiba até a atuação política das vereadoras de Curitiba
nesta última legislatura (2013‐2016).
Que as parcerias se consolidem e novas conferências sejam realizadas.
Este é o objetivo da Escola do Legislativo da Câmara Municipal de Curitiba.

O Núcleo de Estudos Paranaenses (NEP) foi criado em 1994 como um


espaço flexível de pesquisas, debates e discussões sobre a sociedade, a cultura e
a política no Paraná. Ao longo dos últimos vinte anos foram realizadas
pesquisas sobre a sociedade e o poder no Paraná. Desenvolvemos a linha de
investigações instituições, poder e famílias. O grande eixo epistemológico tem
sido as conexões entre as estruturas de parentesco e o poder político.

O NEP procura entender as seguintes questões:
‐ De que maneira todas as instituições são atravessadas pelas ações e interesses
das famílias da classe dominante?
‐ Como se forma e atua o aparelho de Estado?
‐ Como as parentelas e os clãs familiares existem ao longo dos séculos?
‐ Quais famílias saem do núcleo do poder e como novas famílias entram na
arena política?
‐ Como entender as instituições, suas burocracias e as políticas públicas na
dinâmica dos comandos das estruturas de parentesco organizadas e atuantes?

Semestralmente temos a publicação da revista NEP‐UFPR, cujo endereço


para acesso e submissões é http://revistas.ufpr.br/nep.
Email para contato: revistanep@gamil.com

Edições já publicadas:

Volume 1 – Número 1 – Dezembro de 2015 – Arquivos NEP (parte 1)

Volume 2 – Número 1 – Março de 2016 – Pesquisas em andamento

Volume 2 – Número 2 – Maio de 2016 – Grandes famílias, grandes empresas

Volume 2 – Número 3 – Junho de 2016 – Arquivos NEP (parte 2)

Volume 2 – Número 4 – Setembro de 2016 – Famílias tradicionais nas


eleições municipais de 2016

Volume 2 – Número 5 – Dezembro de 2016 – 1º Centenário da Guerra do


Contestado (no prelo)
Anualmente fazemos uma publicação das pesquisas recentemente
realizadas pelo Núcleo. Publicações já realizadas:

Coletânea de 2015

Coletânea de 2016

2015 – ESTADO, CLASSE DOMINANTE E PARENTESCO NO PARANÁ

2016 – NEPOTISMO, PARENTESCO E MULHERES

2017 – INSTITUIÇÕES E PODER POLÍTICO (no prelo)

2017 – NEPOTISMO, PARENTESCO E QUESTÃO ÉTNICO RACIAL (no prelo)

2017 – FAMÍLIA, POLÍTICA E PARENTESCO NO BRASIL (no prelo)


O NuPP‐CiPol é um laboratório de pesquisa e escritório modelo, e tem


como objetivo cuidar da qualificação do graduando e do egresso para o mercado
de trabalho. As visitas técnicas, realizadas pelo núcleo, cumprem o papel de
aliar a teoria à prática e também são uma excelente oportunidade de contato
com profissionais que atuam na área. Tudo isso motiva os alunos e agrega
conhecimento.


Sumário

Os estudos sobre a História do Paraná nos últimos 20 anos
Ricardo Costa de Oliveira ......................................................................................... 1


A conexão entre política e família na Câmara de Vereadores de Curitiba,
Paraná, no século XIX
Alessandro Cavassin Alves ......................................................................................... 6


Grupo de trabalho: COMPOSIÇÃO DO LEGISLATIVO
Mônica Helena Harrich Silva Goulart ................................................................... 30


Presidentes da Câmara Municipal de Curitiba (1947‐1964): capitais
políticos e familiares
Natália Cristina Granato ............................................................................................. 36


Por que Curitiba esqueceu Ernesto Guaita?
João Cândido Martins de Oliveira Santos ............................................................ 53


O 20 de Novembro: a construção do feriado na Câmara Municipal de
Curitiba
Marco Aurélio Barbosa ............................................................................................... 85


Mulheres e Política na Região Metropolitana de Curitiba‐Pinhais
Gloria Estevinho ........................................................................................................... 113


Empresários do transporte público na Câmara Municipal de Curitiba
Fernando Marcelino Pereira ................................................................................... 137


A atuação política das vereadoras na Câmara Municipal de Curitiba‐ CMC
(2013‐2015)
Geissa Franco, Maiane Bitencourt e Jussara Cardoso .................................. 150


A trajetória eleitoral dos partidos em Curitiba: um estudo sobre as
coligações proporcionais (1992‐2016)
Romer Mottinha Santos ............................................................................................ 165
A regulamentação dos serviços de água e esgoto no século XIX: uma
abordagem sobre o desempenho institucional da Câmara Municipal de
Curitiba (1871‐1900)
Marcus Roberto de Oliveira .................................................................................... 189

Pág. 01 Memória Política de Curitiba

Os estudos sobre a História do Paraná nos


últimos 20 anos

Ricardo Costa de Oliveira1

O Núcleo de Estudos Paranaenses (NEP) foi criado em 1994 como um espaço


flexível de pesquisas, debates e discussões sobre a sociedade, a cultura e a política no
Paraná. Ao longo dos últimos vinte anos nós estivemos dedicados em pesquisas sobre a
sociedade e o poder no Paraná. Desenvolvemos a linha de investigações instituições,
poder e famílias. O grande eixo epistemológico tem sido as conexões entre as
estruturas de parentesco e o poder político. O conhecimento da realidade social passa
pelo conhecimento dos mecanismos de poder e pela construção dos projetos de poder
hegemônicos na região, sempre em consonância com os projetos dominantes nacionais.
A primeira grande pesquisa foi a minha tese de doutorado em Ciências Sociais na
UNICAMP e que resultou no livro “O Silêncio dos Vencedores. Genealogia, Classe
Dominante e Estado no Paraná”, em 2001. Prosseguimos, em 2002, com o livro “Análise
dos Parlamentares Paranaenses na Entrada do Século XXI”, editado pela APUFPR e com
grande interesse nos movimentos sociais e nos meios sindicais. Publicamos em 2004 o
livro “A Construção do Paraná Moderno. Políticos e Política no Governo do Paraná de
1930 a 1980”, que centrou as análises nas gestões governamentais no período entre
1930 e 1980, nos percursos políticos e administrativos entre o Movimento de 1930, o
governo de Manoel Ribas, no Estado Novo, o governo de Moisés Lupion, na
redemocratização, na gestão de Bento Munhoz da Rocha e no governo de Ney Braga,

1 Professor Associado do Programa de Pós‐graduação em Sociologia da UFPR. Fundador e


coordenador do NEP (Núcleo de Estudos Paranaenses) CNPq. E‐mail: rco2000@uol.com.br
Pág. 02 Memória Política de Curitiba

cobrindo décadas de políticas desenvolvimentistas em suas transformações e


contradições. Em 2012 segue a reflexão aprofundada sobre o impacto do nepotismo na
sociedade e políticas paranaense e nacional com o livro “Na Teia do Nepotismo”. Em
2013, comemorando o Centenário da Universidade do Paraná, foi lançado um livro com
o título “Reflexões sobre os Cem Anos da UFPR”.

Os conceitos mais importantes utilizados e operacionalizados são: família,


biografia, prosopografia, habitus, trajetória, campo, subcampo, espírito de família e
genealogia. De que maneira todas as instituições são atravessadas pelas ações e
interesses das famílias da classe dominante. Como se forma e atua o aparelho de
Estado. Como as parentelas e os clãs familiares existem ao longo dos séculos, quais
famílias saem do núcleo do poder e como novas famílias entram na arena política.
Como entender as instituições, suas burocracias e as políticas públicas na dinâmica dos
comandos das estruturas de parentesco organizadas e atuantes. A falta de
modernização institucional, formas de corrupção e a falta de transparência em várias
das principais instituições durante várias conjunturas. As instituições apresentam as
suas próprias burocracias, o pessoal institucional e suas formas de recrutamento.

As perspectivas da sociologia política e da sociologia histórica são fundamentais


para a operacionalização das pesquisas. As dimensões das relações sociais e políticas
nos processos históricos são marcos fundamentais e que explicam a gênese da
sociedade desde o período colonial, com dinâmicas, inércias e continuidades decisivas
para a compreensão e o entendimento de vários fenômenos sociais e políticos. As
próprias explicações da formação e reprodução das desigualdades sociais históricas
são entendidas nas ações dos grupos superiores dominantes.

As famílias possuem a sua origem social, a sua história, a sua genealogia, os seus
sobrenomes, as suas biografias e prosopografias. Na história de cada família
encontramos as suas formas de existência material, as suas relações sociais de
produção, a relação com as forças produtivas, as suas trajetórias sociais, o tipo de
status social, o locus e a posição de classe na estrutura social. Formas de trabalho,
propriedades e patrimônios familiares, rendas, valores, culturas e identidades podem
ser investigados.
Pág. 03 Memória Política de Curitiba

O processo de modernização não foi uma ruptura ou descontinuidade, mas uma


metamorfose em que o antigo e o arcaico se associam, se misturam e prosseguem
dialeticamente no moderno.

O levantamento e a análise dos nepotismos a cada eleição, a cada nomeação, a


cada indicação, a cada governo tem sido o interesse do grupo. A sociologia política e a
sociologia histórica do Paraná Provincial, Paraná Republicano, Ministério Público,
Assembleia Legislativa, Câmara Municipal de Curitiba, Intelectuais tradicionais e
trajetórias.

REFERÊNCIAS

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Sociologias (UFRGS), v. 18, p. 150‐169, 2007.

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Revista do Arquivo Histórico de Joinville, v. 1, p. 127‐154, 2007.

OLIVEIRA, R. C.. Bandeirantes e Cristãos Novos em Curitiba. Revista da Academia
Paranaense de Letras, Curitiba, v. 43, p. 101‐115, 2000.

OLIVEIRA, R. C.; CODATO, A. N. . Jaime Lerner. Um PFL Diferente ?. Boletim de Análise
Departamento de Ciência Política Fafich Ufmg, v. 5, 1999.

OLIVEIRA, R. C.. Notas sobre a Política Paranaense de 1930‐1945.. Revista de
Sociologia e Política, v. 9, 1997.

OLIVEIRA, R. C.. Oliveiras entre Alemães. Estudo de Caso da Classe Dominante
Catarinense. Revista de Sociologia e Política, v. 4/5, 1995.

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1, 1993.

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Pág. 04 Memória Política de Curitiba


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Pág. 05 Memória Política de Curitiba


OLIVEIRA, R. C.. Bandeirantes, Ameríndios e Africanos na Fundação de Curitiba. In:
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Instituto Memória, 2010, v. , p. 71‐100.

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OLIVEIRA, R. C.. A identidade do Brasil Meridional. In: Adauto Novaes. (Org.). A Crise
do Estado‐Nação. 1ed.Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira, 2003, v. 1, p. 419‐
442.


Pág. 06 Memória Política de Curitiba

A conexão entre política e família na Câmara


de Vereadores de Curitiba, Paraná, no
século XIX



Alessandro Cavassin Alves2



Resumo: Vereadores e juízes de paz no Império brasileiro formavam parte do poder político
local, com a característica de serem escolhidos por eleições regulares, de maneira geral a cada
quatro anos, pós 1828. Este trabalho possui como tema, portanto, apresentar quem foram estes
políticos locais eleitos na cidade de Curitiba, capital do Paraná, entre 1856 a 1889, num total de
71 vereadores e 24 juízes de paz. A metodologia utilizada para obter estas informações foi a
leitura de jornais da época, documentos oficiais, como os relatórios dos Presidentes da
Província do Paraná, as listas de votantes qualificados, as leis brasileiras referentes às Câmaras
municipais e às eleições, além da “Genealogia paranaense”, de Francisco Negrão e “O silêncio
dos vencedores”, de Ricardo Costa de Oliveira. Como resultado aponta‐se para a conexão entre
política e família na Câmara de vereadores de Curitiba e que, as mesmas famílias continuaram
atuando na política municipal e estadual ao longo do século XX, agora sob o regime republicano.


Palavras‐Chave: Poder local; Família; Política;



2 Alessandro Cavassin Alves, Doutor em Sociologia pela UFPR, Professor na Faculdade São
Basílio Magno (FASBAM); no Centro Universitário Campos de Andrade e Secretaria de Estado da
Educação (SEED PR). E‐mail: alessandrocavassin@gmail.com

Pág. 07 Memória Política de Curitiba

INTRODUÇÃO

A “vida política” do Império brasileiro, em relação ao poder local,
dividia territorialmente suas províncias com cidades, vilas e freguesias, que
elegiam seus vereadores e juízes de paz, tendo as paróquias e seus párocos
como parte integrante desta organização. Pós 1824, as eleições passaram a ser
necessárias e frequentes e, como se verá adiante, bastante disputadas pelos
seus “clãs eleitorais”, organizados a partir de “clãs parentais”, como diria
Oliveira Viana3.
Em relação ao processo eleitoral e o poder local, de acordo com a Lei
das Câmaras Municipais de 01/10/1828, as eleições eram obrigatórias, com
multa ao votante que não comparecesse sem justificativa. Os votantes eram
anualmente cadastrados pelas juntas de qualificação, de acordo com sua renda,
formando as listas de votantes qualificados. E quanto ao papel das Câmaras
municipais, eram elas de caráter administrativo.
Neste sentido, sob este contexto histórico institucional, este trabalho
visa entender quem foram os políticos eleitos para as vagas de vereadores e
juízes de paz da cidade de Curitiba, capital da nova província do Paraná4, entre
1856 a 1889, tendo como referência a idade deles, suas atividades profissionais,
o partido político e suas respectivas esposas. E como se verá ao longo do texto,
tornar‐se vereador em Curitiba exigia do indivíduo estar associado a uma

3 Sobre “clãs eleitorais” e “clãs parentais”, conferir a reflexão de Oliveira VIANA (1987).


4 Com a emancipação política do Paraná em 1853, Curitiba foi escolhida como a capital da nova

província. Era uma pequena cidade em 1853, com 6791 habitantes, sendo 678 escravos
(PARANÁ, 1854).

Pág. 08 Memória Política de Curitiba

tradicional família da região5, mesmo que por casamento, e a profissão deste


político revela sua posição econômica nesta sociedade.
E, a partir da leitura dos periódicos locais de Curitiba e demais
documentos do período, foi possível verificar a dinâmica eleitoral conduzida
pelos “clãs parentais” e a importância dos dois partidos políticos deste
momento, o Conservador e o Liberal, gerando os chamados, por Oliveira Viana,
“clãs eleitorais”.

VEREADORES E JUÍZES DE PAZ DE CURITIBA (1856 a 1889)

A Lei que regulou os processos eleitorais das décadas de 1850 a 1870
foi a de n.º 387, de 19/08/1846. Era a eleição indireta, em que votantes
deveriam escolher os vereadores e juízes de paz e, também, os eleitores, e estes
deveriam posteriormente votar nos deputados e senadores.

Tabela 1 – Vereadores e Juízes de Paz de Curitiba, 1857‐1860

VEREADORES – Curitiba Votos Idade Profissão Partido Esposa / Ano


casamento
1. Dr. Jesuíno Marcondes de 1013 29 Advogado, Liberal, Domitilia Alves de
Oliveira e Sá (Presidente) Tropeiro chefe Araujo, em 1855
2. Padre João de Abreu Sá 980 61 Padre, Liberal Solteiro
Sotto Maior, Alferes capelão Fazendeiro
3. Ignácio José Moraes, 964 43 Funcionário Liberal, Anna Francisca
Major, Tenente Coronel público, chefe Teixeira, em 1868;
Negociante
4. Benedicto Enéas de 959 31 Negociante, Liberal, Zeferina Candida do
Paula, Capitão Obras chefe Nascimento, em 1848

5 Por família tradicional considera‐se aquela que há muito tempo reside em Curitiba e região, e

com destaque econômico por possuírem fazendas, comércio, indústria de erva‐mate, madeira,
tropas de gado e mulas, e com profissões como funcionário público, advogado, médico, padre,
engenheiro, militar e professor.
Pág. 09 Memória Política de Curitiba

públicas
5. Joaquim Lourenço de Sá 954 33 Funcionário Liberal Solteiro
Ribas, Capitão público
6. Manoel [José] de Freitas 930 32 Funcionário Liberal Ilecta da Silva [Electa
Saldanha, Tenente público, Maria Caetano], em
Negociante 1846
7. Floriano Berlintes de 882 49 Funcionário Liberal Francisca de Paula
Castro, Tenente Coronel público, Alves, falecida em 1864;
Negociante 2ª núpcias com Maria
da Conceição Saldanha
8. Bento Florêncio Munhoz, 846 30 Industrial Conservador Maria do Céo Taborda
Major erva‐mate, Ribas
Negociante
9. Antonio Ricardo Lustosa 821 31 Funcionário Conservador Gabriella Franco
de Andrade, Tenente público
Coronel
Seguem os suplentes ‐
JUÍZES DE PAZ – Curitiba Votos Idade Profissão Partido Esposa / Ano
casamento
1. João Baptista Brandão de 542 41 Professor Liberal Theolinda Affonso
Proença, Capitão [Maria Theolinda de
Jesus]
2. Manoel Gonçalves de 533 56 Fazendeiro, Conservador Maria Rosa de Moraes
Moraes Roseira, Negociante Roseira
Comendador
3. Manoel Antonio Ferreira, 523 51 Fazendeiro, Liberal, Florinda Maurícia de Sá
Tenente Coronel Obras chefe Ribas, em 1832
públicas
4. Francisco Antonio 448 33 Negociante Liberal Rita Maria Miró,
Nóbrega, Capitão falecida em 1856; 2ª
núpcias, com
Escolástica Silveira
Miró de Miranda, em
1857
Seguem suplentes ‐
Fonte: O Dezenove de Dezembro, 17/09/1856 (para o resultado eleitoral); Lista de Votantes
qualificados de Curitiba, 1855 e 1861 (idade e profissão); NEGRÃO, 1926, 1927, 1928, 1929,
1946, 1950 (para as demais informações).


Pág. 10 Memória Política de Curitiba

A primeira eleição para a Câmara municipal de Curitiba, analisada neste


trabalho, aconteceu no dia 07/09/18566. Os votantes poderiam votar em nove
candidatos, que era o número de vagas e mais quatro candidatos a juiz de paz,
trazendo as duas cédulas preenchidas (para vereadores e para juízes de paz) e
devidamente assinada, entregando‐a para a mesa receptora, na Igreja Matriz da
capital7.
Desta tabela pode‐se observar as tradicionais famílias residentes na
região de Curitiba, como a família Sá Ribas e a família Lustosa de Andrade. As
demais famílias irão ser destacadas ao longo das outras legislaturas.
Sobre a família Sá Ribas, o patriarca desta família, o Dr. Lourenço
Ribeiro de Andrade talvez seja o primeiro filho de Curitiba a estudar em
Portugal, universidade de Coimbra, recebendo o título de licenciado por volta
de 1747, sendo capitão mor desta cidade entre 1765 a 1799 e depois seu filho
Antonio Ribeiro de Andrade assume esse cargo entre 1800 a 1821 (LEÃO, 1926,
p.1168‐1169).
Sobre a família Lustosa de Andrade, a referência seria o Sargento Mor
Ignácio Lustosa de Andrade que casou em Paranaguá com Maria Catharina de
Moraes Cordeiro. Ele faleceu em Curitiba a 20/09/1834 e ela em 1844. Ela de
família natural de Paranaguá, ele de família natural de Curitiba descendente do

6 Ocuparam o cargo de vereador no período de 1852 a 1856: Francisco de Paula Guimarães,

Ignácio José Moraes, Francisco Borges de Macedo, Floriano Berlintes de Castro, Vicente Ferreira
da Luz, Benedicto Enéas de Paula, Tobias Pinto Rebello, João Silveira de Miranda, Antonio
Ricardo Lustosa de Andrade, Padre João de Abreu Sá Sotto Maior e Bento Florêncio Munhoz. Era
juiz de paz Manoel de Oliveira Franco (Dezenove de Dezembro, 1855 e 1856).

7 A Lei geral de 01/10/1828, art. 23, restringia o voto para pessoas da mesma família: “Não

podem servir de Vereadores conjuntamente no mesmo ano, e na mesma cidade, ou vila: pai, e
filho, irmão, ou cunhados, enquanto durar o cunhadio, devendo, no caso de serem nomeados,
preferir o que tiver maior número de votos”.

Pág. 11 Memória Política de Curitiba

Capitão Balthazar Carrasco dos Reis, que se mudou com toda sua família para
Curitiba onde faleceu em 1697 com testamento. A genealogia dessa família está
disponível em: http://www.buratto.org/paulistana/Carrascos.htm. Acesso em
19/11/2015. Conferir, também, a Genealogia Paranaense de Francisco NEGRÃO
(1927).
Enfim, esta foi uma Câmara com as principais lideranças do partido
Liberal, agremiação política bastante forte no sul do Brasil, da qual pode‐se
dizer ser um grande “clã parental”, liderado pelos tropeiros da família do Dr.
Jesuino Marcondes de Oliveira e Sá, e pela família dos Sá Ribas em Curitiba; mas
com a presença de três políticos Conservadores, liderados por Manoel de
Oliveira Franco, em Curitiba, proveniente de uma dissidência dentro da própria
família Sá Ribas; no campo das profissões, destacou‐se a predominância de
negociantes e funcionários públicos, demonstrando a importância deles
ocuparem este cargo público. Quanto às mulheres, o exemplo de Gabriella
Franco, irmã de Manoel de Oliveira Franco (presidente da mesa receptora de
votos desta eleição e juiz de paz), casada com Antonio Ricardo Lustosa de
Andrade, juntando as famílias do português João Gonçalves Franco (pai de
Gabriella e Manoel) e que foi juiz ordinário em Curitiba, com a tradicional
família Lustosa de Andrade; outro exemplo seria Florinda Maurícia de Sá Ribas,
irmã do vereador Joaquim Lourenço de Sá Ribas, casada com Manoel Antonio
Ferreira, juiz de paz; e Escolástica Joaquina de Sá Ribas, irmã de Florinda e
Joaquim, casada com o próprio Manoel de Oliveira Franco, mas que por
desavenças em 1841 acabaram representando o partido conservador em
Curitiba (ALVES, 2015, p.54).
A próxima eleição municipal aconteceu quatro anos depois, no dia
07/09/1860, num período em que os Conservadores estavam no poder político
no Rio de Janeiro. E Curitiba demonstra ser mesmo um reduto dos Liberais,
Pág. 12 Memória Política de Curitiba

deste “clã eleitoral” da família do Dr. Jesuino Marcondes e dos Sá Ribas. A


renovação foi de cinco novos vereadores.


Tabela 2 – Vereadores e Juízes de Paz de Curitiba, 1861‐1864
VEREADORES – Curitiba Votos Idade Profissão Partido Esposa / Ano
casamento
1. Dr. Augusto Lobo de Moura 1088 50 Advogado Liberal Julia de Andrade
(Presidente)
2. Joaquim Lourenço de Sá Ribas, 1083 Reeleito – Liberal
Capitão
3. Tibúrcio Borges de Macedo, 1078 32 Negociante Liberal Anna Rufina Ribas de
Capitão Macedo, 1858 em
Castro
4. Benedicto Enéas de Paula, Major 1077 Reeleito – Liberal, chefe
5. Candido Martins Lopes 1077 58 Proprietário Liberal Gertrudes da Silva
do jornal Lopes, 1836 no Rio
Dezenove de de Janeiro
Dezembro
6. Manoel [José] de Freitas 1072 Reeleito – Liberal
Saldanha, Tenente
7. Floriano Berlintes de Castro, 1068 Reeleito – Liberal
Capitão
8. Francisco Pereira Alves, Coronel 1068 40 Negociante, Liberal Escolástica Maria de
Funcionário Lima, em 1858
público
9. Manoel Gonçalves dos Santos, 1065 33 Negociante Liberal Maria Ritta dos
Tenente Santos, em 1846
Seguem suplentes ‐
JUÍZES DE PAZ – Curitiba Votos Idade Profissão Partido Esposa / Ano
casamento
1. João Baptista Brandão de 754 Reeleito – Liberal
Proença, Capitão
2. João Manoel da Cunha, Tenente 745 40 Advogado Liberal Maria Elisa da Cunha
Coronel provisionado,
Professor
3. João José de Freitas Saldanha 742 43 Negociante Liberal Anna Maria do
Sacramento, em
1845; 2ª núpcias,
com Zeferina Maria
Luiza, em 1857
4. Dr. Jesuíno Marcondes de 741 Reeleito – Liberal
Oliveira e Sá
Seguem suplentes ‐
Fonte: O Dezenove de Dezembro, 24/10/1860 (para o resultado eleitoral); Lista de Votantes
qualificados de Curitiba, 1855 e 1861 (idade e profissão); NEGRÃO, 1926, 1927, 1928, 1929,
1946, 1950 (para as demais informações).

Pág. 13 Memória Política de Curitiba

Esta foi uma Câmara de vereadores composta por políticos Liberais,


mesmo sendo o Gabinete imperial dominado por Conservadores, no Rio de
Janeiro. E, novamente, há a predominância de funcionários públicos e
negociantes. Destaca‐se o tipógrafo jornalista Candido Martins Lopes,
proprietário do jornal Dezenove de Dezembro. Dentre as tradicionais famílias
podem‐se destacar os Borges de Macedo.
A família Borges de Macedo também era descendente de Baltazar
Carrasco dos Reis. A referência política foi o ajudante José Borges de Macedo,
natural de Castro, que transfere‐se para Curitiba sendo negociante, e torna‐se
prefeito em 1835, cargo criado mas logo extinto em 1838, além de ser eleito
várias vezes como juiz de paz. Portanto, considerado o primeiro prefeito de
Curitiba. Vários políticos ao longo do tempo no Paraná são desta família
(OLIVEIRA, 2001).
A próxima eleição municipal, depois de quatro anos, aconteceu no dia
07/09/1864. O Brasil, neste momento, era regido por um Gabinete Liberal, dos
chamados políticos da Liga ou Progressistas, que tinham assumido o poder em
maio de 1862.

Tabela 3 – Vereadores e Juízes de Paz de Curitiba, 1865‐1868
VEREADOR – Curitiba Votos Idade Profissão Partido Esposa / Ano do
casamento
1. Dr. Augusto Lobo de Moura 1387 Reeleito – Liberal
2. Dr. José Lourenço de Sá Ribas 1359 45 Advogado, Liberal, Felicidade Mourão de
Funcionário chefe Pinho
público
3. Tiburcio Borges de Macedo, 1346 Reeleito – Liberal
Capitão
4. João Manoel da Cunha, Tenente 1319 Reeleito – Liberal
Coronel
5. Floriano Berlintes de Castro, 1143 Reeleito – Liberal
Capitão
6. Candido Martins Lopes 997 Reeleito – Liberal
7. Fernando Martins França, 818 46 Negociante Liberal Emília Vidalina, no Rio
Tenente Coronel de tropas Grande do Sul
8. Sizenando de Sá Ribas, Capitão 794 31 Negociante Liberal ?
9. João José de Freitas Filho, 753 35 Funcionário Liberal Porfiria Maria da
Tenente Público, Conceição Freitas
Pág. 14 Memória Política de Curitiba

Negociante
Suplentes ‐
JUIZES DE PAZ – Curitiba Votos Idade Profissão Partido Esposa / Ano
casamento
1. João Baptista Brandão de 836 Reeleito – Liberal
Proença
2. Tiburcio Borges de Macedo 799 Reeleito – Liberal
3. Ildefonso Marques dos Santos 691 31 Negociante Liberal Solteiro
4. Antonio Augusto Ferreira de 596 20 Negociante Liberal Porcina Margarida de
Moura Oliveira Borges,
falecida em 1884; 2ª
núpcias com Brasília
Gonçalves;
Seguem os suplentes ‐
Fonte: Dezenove de Dezembro, 14/09/1864 (para o resultado eleitoral); Lista de Votantes
qualificados de Curitiba, 1855 e 1861 (idade e profissão); NEGRÃO, 1926, 1927, 1928, 1929,
1946, 1950 (para as demais informações).


Na Câmara de Curitiba os Liberais continuaram a predominar; as
profissões dominantes continuam a ser a de funcionários públicos e
negociantes; em relação às famílias, destaca‐se a família Ferreira de Moura e
Marques dos Santos.
O português Dr. Augusto Lobo de Moura chega em Curitiba em 1836, casa
com Julia de Andrade, de tradicional família Lustosa de Andrade, e seus filhos
também se casam com as tradicionais famílias paranaenses, como o capitão
Antonio Augusto Ferreira de Moura, casado com Porcina Margarida de Oliveira
Borges; já os Marques dos Santos são descendentes do português Miguel
Marques dos Santos, falecido em 1848 e de Generosa Luciana de Chaves,
falecida em Curitiba, em 22/07/1879. Generosa Luciana de Chaves é filha de
Maria Bandeira de Jesus e do capitão Luciano José de Chaves (NEGRÃO, 1926,
p.586). Isto os aproxima da mãe de outro importante político Benedicto Enéas
de Paula, filho de Francisca Luciana Chaves, provável irmã de Generosa Luciana
de Chaves. Elas são descendentes de Baltazar Carrasco dos Reis que faleceu em
Curitiba em 1697, com testamento.
E a segunda metade da década de 1860 no Brasil passou a ser bastante
intensa, principalmente devido ao acontecimento da Guerra do Paraguai (1864‐
Pág. 15 Memória Política de Curitiba

1870). E a próxima eleição municipal aconteceu dia 07/09/1868, em plena


Guerra do Paraguai. Neste clima de intenso conflito externo, D. Pedro II fez uma
mudança drástica de Gabinete no Rio de Janeiro, trazendo de volta ao poder os
Conservadores, em 16/07/1868, com o Visconde de Itaboraí como presidente
deste Ministério8.
Apesar desta mudança de Gabinete no Rio de Janeiro, em Curitiba os
Liberais venceram as eleições municipais de 07 de setembro, demonstrando
que ainda não tinham sido desarticulados pelos Conservadores paranaenses,
aparentemente desorganizados, sob a liderança em Curitiba de Manoel de
Oliveira Franco.
E, como demonstra a leitura dos periódicos da época, as lutas partidárias
entre Liberais e Conservadores passaram a ser muito mais acirradas e intensas
a partir da volta dos Conservadores ao poder no Rio de Janeiro. Oliveira Viana,
como dito, interpreta estas lutas partidárias como a dinâmica própria dos “clãs
parentais” tendo que vencer as eleições, para terem a seu favor os benefícios do
poder público. Para tanto, tinham que organizar seus “votantes” e combater os
adversários de outros “clãs parentais”.

Tabela 4 – Vereadores e Juízes de Paz em Curitiba, 1869‐1871
VEREADOR – Curitiba Votos Idade Profissão Partido Esposa / Ano
casamento
1. Dr. José Lourenço de Sá Ribas 810 Reeleito – Liberal
(Presidente)
2. Sizenando de Sá Ribas, 790 Reeleito – Liberal
Capitão

8 “Por decreto n.º4226, de 18/07/1868 foi dissolvida a Câmara dos Srs. Deputados, e por
decreto n.º4227, de 23 do mesmo mês e ano foi convocada outra, para cuja eleição foi marcada o
dia 31/01/1869, devendo neste dia proceder‐se em todo o Império a eleição dos respectivos
eleitores” (PARANÁ, 1869, p.2).
Pág. 16 Memória Política de Curitiba

3. Ignácio José Moraes, Tenente 789 Reeleito – Liberal


Coronel
4. Dr. Generoso Marques dos 788 25 Advogado Liberal Ana Joaquina de
Santos Paula, em 1871

5. Dr. Sergio Francisco de Souza 788 29 Advogado Liberal Francisca


Castro Gonçalves dos
Santos, em 1863
6. Dr. Joaquim Ignácio Silveira da 787 25 Advogado Liberal Etelvina dos Santos
Mota Junior de Oliveira Lima,
em 1874
7. Dr. José Joaquim Franco do 784 27 Médico Liberal Anardina Lecticia
Valle de Jesus Brandão,
em 1865
8. Tibúrcio Borges de Macedo, 781 Reeleito – Liberal
Capitão
9. Caetano José Munhoz, Tenente 780 52 Industrial Conservador Francisca de Assis
Coronel erva‐mate de Oliveira, em
1840
Suplentes: Dr. Tertuliano Teixeira de Freitas, 780, Conservador; Dr. Bento Fernandes de Barros, 779,
Conservador; Antonio Augusto Ferreira de Moura, Capitão, 775, Liberal; Candido Martins Lopes, 774,
Liberal; Francisco Pereira Alves, Capitão, 772; Francisco Ignacio da Rocha, 768, Conservador; Antonio
Enes Bandeira, Capitão, 767, Liberal; Antonio Jacintho Nóbrega, Tenente, 764; Fracisco Antonio
Nóbrega, Capitão, 763; Seguem‐se mais 40 nomes de cidadãos menos votados.
JUÍZES DE PAZ – Curitiba Votos Idade Profissão Partido Esposa / Ano
casamento
1. Dr. João José Pedrosa 474 24 Advogado Liberal Solteiro
2. Tiburcio Borges de Macedo, 467 Eleito também vereador – Liberal
Capitão
3. Dr. Generoso Marques dos 466 Eleito também vereador – Liberal
Santos
4. Bento Florêncio Munhoz, 466 Reeleito – Conservador
Major
Imediatos / Suplentes: Manoel Antonio Ferreira, Coronel, 455, Liberal; Lourenço Pinto de Sá Ribas,
Alferes, 442, Liberal; Manoel de Oliveira Franco, Tenente Coronel, 437, Conservador; Manoel José da
Cunha Bittencourt Junior, Capitão, 425, Conservador; Seguem‐se 25 cidadãos menos votados.
Fonte: Dezenove de Dezembro, 07/10/1868 (para os resultados eleitorais de vereadores);
Dezenove de Dezembro, 12/09/1868 (para os resultados eleitorais de juízes de paz); Lista de
Pág. 17 Memória Política de Curitiba

Votantes qualificados de Curitiba, 1855 e 1861 (idade e profissão); NEGRÃO, 1926, 1927, 1928,
1929, 1946, 1950 (para as demais informações).

A Câmara de Curitiba ficou composta por quatro advogados, sendo
três deles recém‐formados na mesma turma. E destaca‐se tradicional família
paranaense Munhoz.
A tradicional família Munhoz também tem ligações com Baltazar
Carrasco dos Reis, por parte de Luiza Licia de Lima, casada com Florêncio José
Munhoz, Tenente, natural de Paranaguá, proprietário de um campo de criação
de gado no Itinga (OLIVEIRA, 2001). Florêncio e Luiza são os pais de Caetano e
Bento, que por sua vez, tiveram casamentos estratégicos, Caetano com
Francisca de Assis de Oliveira, irmã de Manoel de Oliveira Franco e Bento com
Maria do Céo Taborda Ribas, filha do capitão Ricardo Jose Taborda Ribas e
Francisca Joaquina de Andrade, de famílias tradicionais. Muitos políticos foram
descendentes dos Munhoz, entre eles Bento Munhoz da Rocha Neto, governador
do Paraná entre 1951 a 1955, chegando a Ministro da Agricultura, em 1955
(OLIVEIRA, 2001).
Esta foi uma eleição bastante confusa e conturbada, como visto, principalmente
devido a mudança de Gabinete no Rio de Janeiro. E, posteriormente, esta eleição
foi “declarada nula” pelo Presidente da Província, mas dependia ainda “de
decisão do governo imperial” (PARANÁ, 1869, p.2) para se marcar nova eleição,
e que aconteceu apenas em 20/03/1870, mas que foi novamente anulada pelo
Presidente da Província (PARANÁ, 1871, p.1). O Dr. Agostinho Ermelino de
Leão, Vice‐presidente da Província, autorizou nova eleição para o dia
27/11/1870, mas que foi adiada. Dentro desta indefinição, certamente esta foi
uma gestão municipal bastante difícil. E, por fim, em 09/07/1871, outra eleição
foi realizada, como demonstra a Tabela 5, sendo eleita uma nova Câmara de
vereadores, agora toda Conservadora, tomando posse em 01/08/1871, para o
curto período de mandato de um ano e cinco meses. Outro fator da dinâmica
Pág. 18 Memória Política de Curitiba

das eleições no Império, em que os votantes do partido opositor acabavam


sendo excluídos das listas de votação para que os candidatos “oficiais”
pudessem sair vitoriosos com maior facilidade.
Eis o resultado da eleição municipal extraordinária de 09/07/1871:

Tabela 5 – Vereadores e Juízes de paz em Curitiba, 1871‐1872
VEREADORES – Curitiba Voto Idad Profissão Partido Esposa / Ano
s e casamento
1. Dr. Tertuliano Teixeira de 583 36 Advogado Conservador Helena Augusta
Freitas (Presidente) , chefe Teixeira de Lima,
sua sobrinha, em
1860, no RJ
2. Paulino de Oliveira Franco, 580 41 Negociante Conservador Mathilde Januária
Tenente Coronel de Souza, sua
sobrinha
3. Francisco Ignácio da Rocha 562 ? Negociante Conservador Maria da Conceição
4. João Baptista de Oliveira 546 ? Fazendeiro Conservador ?
5. João Bittencourt, Capitão 526 35 Negociante, Conservador Balbina Negrão
Funcionário
público
6. João Fabiano Cabral, Tenente 519 43 Fazendeiro Conservador Anna Maria da
Fontoura
7. Antonio Francisco Correia de 506 33 Negociante Conservador Maria Francisca da
Bittencourt, Alferes Cruz Biscaia, em
1866
8. José de Camargo Pinto, 500 ? Fazendeiro Conservador Leodobina
Tenente Francisca da Costa
9. Tristão da Silva Pereira, 490 37 Negociante Conservador Izabel Pereira; 2ª
Alferes núpcias com
Benedicta do Carmo
Britto.
Seguem os suplentes ‐
Juízes de paz ‐ Curitiba Voto Idad Profissão Partido Esposa / Ano
s e casamento
1. Manoel de Oliveira Franco, 604 57 Funcionári Conservador Escolástica Joaquina
Brigadeiro o público , chefe de Sá Ribas, em
1838
2. José Correia de Bittencourt, 590 41 Negociante Conservador Escolástica Ribas
Tenente Coronel , chefe Franco
3. Aurélio Ribeiro de Campos, 545 29 Funcionári Conservador Alexandrina Maria
Capitão o público, dos Santos
Militar
4. Norberto Nunes Barbosa, 520 66 Negociante, Conservador Rita de Oliveira
Capitão Fazendeiro Ribas, em 1831
Seguem os suplentes ‐
Pág. 19 Memória Política de Curitiba

Fonte: Dezenove de Dezembro, 15/07/1871 (para o resultado eleitoral); Lista de Votantes


qualificados de Curitiba, 1855 e 1861 (idade e profissão); NEGRÃO, 1926, 1927, 1928, 1929,
1946, 1950 (para as demais informações).


Há uma renovação total da Câmara de vereadores e de juízes de paz,
com a presença apenas de políticos Conservadores. Esta breve legislatura está
toda vinculada a Manoel de Oliveira Franco [Brigadeiro Franco] e à família
Bittencourt.
Quanto aos Bittencourt, também de avós portugueses (José Corrêa
Bittencourt e Rosa Mariana), seus dois filhos contraíram matrimônio com
mulheres das famílias tradicionais e, igualmente, seus netos e netas (NEGRÃO,
1929). Muitos políticos no século XX são descendentes destas duas famílias,
Bittencourt e Oliveira Franco (OLIVEIRA, 2001).
Porém, na próxima eleição municipal marcada para o dia 07/09/1872,
apareceu um forte desentendimento dentro do próprio Partido Conservador de
Curitiba, principalmente entre suas duas grandes lideranças, o Brigadeiro
Franco e o Dr. Tertuliano Teixeira de Freitas. E o grupo do Dr. Tertuliano Teixeira
de Freitas saiu vitorioso. A surpresa foi a presença de líderes Liberais em meio
aos Conservadores, como o jovem Dr. João José Pedrosa, o Capitão Antonio
Augusto Ferreira de Moura, entre outros, demonstrando uma aliança entre os
“clãs eleitorais”.


Tabela 6 – Vereadores e Juízes de Paz de Curitiba, 1873‐1876
VEREADORES Votos Idade Profissão Partido Esposa / Ano
casamento
1. Dr. João José Pedrosa 381 27 Advogado Liberal Solteiro
(Presidente)
2. Dr. Tertuliano Teixeira de 380 Reeleito – Conservador
Freitas
3. Lourenço Taborda Ribas de 360 38 Negociante Conservador Maria José dos
Andrade, Tenente Santos
4. Antonio Augusto Ferreira de 358 Reeleito – Liberal
Moura, Capitão
5. Tristão da Silva Pereira, 357 Reeleito – Conservador
Tenente
Pág. 20 Memória Política de Curitiba

6. Antonio Marçal de Oliveira 356 ? Negociante Liberal Hermancia Borges


Guimarães
7. Vicente Ferreira da Luz, Major 356 61 Industrial Conservador Florencia do Amaral,
erva‐mate em 1844
8. Joaquim Ventura de Almeida 351 42 Industrial Liberal Maria da Luz Osório
Torres, Tenente erva‐mate Borges
9. Antonio Enes Bandeira, 350 44 Negociante Liberal Felicidade Ferreira
Capitão Borges
Seguem suplentes ‐
Juízes de paz Votos Idade Profissão Partido Esposa / Ano
casamento
1. José Manoel Marques da Silva, 352 ? Funcionário Conservador Francisca Lourenço
Tenente público dos Santos, em 1861
ou 1871
2. Lourenço Taborda Ribas de 351 Eleito também Vereador – Conservador
Andrade, Tenente
3. Ricardo Affonso Coelho, 348 41 Negociante, Liberal Virginia Marques
Capitão Funcionário dos Santos
público
4. Manoel Gonçalves dos Santos, 337 Reeleito – Liberal
Capitão
Fonte: Dezenove de Dezembro, 11/09/1872 e 14/09/1872 (para o resultado eleitoral); Lista de
Votantes qualificados de Curitiba, 1855 e 1861 (idade e profissão); NEGRÃO, 1926, 1927, 1928,
1929, 1946, 1950 (para as demais informações).


Desta legislatura destaca‐se os conservadores divididos. Quanto às
famílias tradicionais, tem‐se a família Ribas. A família Ribas também é
descendente de Baltazar Carrasco dos Reis e de João Rodrigues Seixas, ambos
primeiros povoadores de Curitiba, desde o século XVII, e com muitos de seus
membros ocupando os cargos eletivos, inclusive avançando no tempo da
República (OLIVEIRA, 2001).
A próxima eleição municipal ocorreu no dia 01/10/1876.

Tabela 7 – Vereadores e Juízes de Paz de Curitiba, 1877‐1880
VEREADORES – Curitiba Votos Idade Profissão Partido Esposa / Ano
casamento
1. Dr. Tertuliano Teixeira de ‐ Reeleito – Conservador
Freitas (Presidente)
2. Lourenço Taborda Ribas de ‐ Reeleito – Conservador
Andrade
3. Antonio Ricardo de Souza ‐ 31 Funcionário Conservador Nercinda da Motta
Dias Negrão público Ribeiro
4. Aurélio Ribeiro de Campos ‐ Reeleito – Conservador
Pág. 21 Memória Política de Curitiba

5. Joaquim Ventura de Almeida ‐ Reeleito – Liberal


Torres
6. José Lourenço de ‐ 34 Militar Conservador Francisca de Sá
Vasconcellos Chaves Ribas, em 1871
7. Caetano José Munhoz ‐ Reeleito – Conservador
8. Florindo da Motta Bandeira e ‐ 26 Negociante Liberal Solteiro
Silva, Alferes
(Presidente/1880)
9. João dos Santos Biscaia ‐ 35 Industrial Liberal Maria José Ribeiro,
em 1866
Seguem os suplentes que assumiram o cargo de vereador ao longo deste quatriênio: Isaías Augusto Alves,
Conservador; Antonio Marçal de Oliveira, Liberal; Antonio Ennes Bandeira, Liberal; Antonio Augusto
Ferreira de Moura, Liberal; Tristão da Silva Pereira, Conservador; Manoel José Felix, Conservador.
Juízes de paz – Curitiba Votos Idade Profissão Partido Esposa / Ano
casamento
1. José Manoel Marques da ‐ Reeleito – Conservador
Silva, Capitão
2. José Antonio de Lima Castro, ‐ 64 Negociante Conservador Anna Joaquina dos
Capitão Santos
3. Antonio Ferreira da Costa ‐ ? Professor Conservador Francisca Ribeiro da
Costa
4. Joaquim José Belarmino de ‐ 38 Negociante Conservador Libânia Carneiro, em
Bittencourt, Capitão 1867
Seguem os suplentes ‐
Fonte: Almanak da Província do Paraná, 1876 a 1880 (para os nomes dos vereadores e juízes de
paz, sem a publicação do resultado do número de votos); NEGRÃO, 1926, 1927, 1928, 1929,
1946, 1950 (para as demais informações).


Novamente foi uma eleição em que vereadores dos dois partidos foram
eleitos. Destaca‐se, nesta dinâmica eleitoral local a família Almeida Torres.
Quanto à família Almeida Torres em Curitiba, descende do 2º Visconde de
Macaé, José Carlos Pereira de Almeida Torres, que teria tido um filho com uma
escrava, o senhor Mariano de Almeida Torres, quando exerceu a magistratura
nesta região de Curitiba. Mariano de Almeida Torres casou com Anna Maria do
Espírito Santo, no qual tiveram inúmeros filhos, todos influentes no
desenvolvimento econômico paranaense no século XIX, e também participantes
ativos na política local, casando com outras famílias tradicionais da região
(ALVES, 2015).
Pág. 22 Memória Política de Curitiba

Porém, nesta legislatura aconteceu a famigerada mudança de Gabinete


no Império, voltando os Liberais ao poder, em 05/01/1878. Isto causou
inúmeros problemas para esta administração municipal, a partir de 1878.
Neste clima de início de década, a próxima eleição municipal em Curitiba
aconteceu no dia 05/07/1880, sendo que os Liberais estavam no poder no Rio
de Janeiro.

Tabela 8 – Vereadores e Juízes de Paz de Curitiba, 1881/1882
VEREADORES – Curitiba Votos Idade Profissão Partido Esposa / Ano
Casamento
1. Dr. Generoso Marques dos 610 Reeleito – Liberal (Chefe)
Santos (Presidente)
2. João Baptista Ribeiro, 531 43 Negociante Liberal Maria Joanna
Capitão Gonçalves
3. Dr. Francisco de Almeida 511 33 Engenheiro Liberal Adelaide Maria do
Torres Nascimento, em 1877
4. Sizenando de Sá Ribas, 507 Reeleito – Liberal
Capitão
5. João Tobias Pinto Rebello 478 37 Negociante Liberal Virgília de Macedo
6. Antonio Augusto Ferreira de 474 Reeleito – Liberal
Moura
7. João Lustosa de Andrade 464 34 Negociante Liberal Anna Flora Rodrigo
8. Pedro Luiz de Souza Rocha 460 30 Negociante Liberal Maria Rita de Oliveira
9. João dos Santos Biscaia 424 Reeleito – Liberal
Seguem suplentes ‐
Juízes de paz – Curitiba Votos Idade Profissão Partido Esposa / Ano
casamento
1. Joaquim Ventura de Almeida 718 Reeleito – Liberal
Torres
2. Francisco de Paula Ribeiro 710 ? Funcionário Liberal Francisca Munhoz
Vianna público
3. João de Macedo Rangel 703 ? Tabelião de Liberal Maria da Luz Ozório,
notas em 1872; 2ª núpcias
com Maria da Glória
Craveiro, em 1884
4. Ignácio de Paula França 603 ? Negociante, Liberal Amélia Pereira Jorge;
Funcionário 2ª núpcias com Izabel
público Cortes
Seguem suplentes ‐
Fonte: Dezenove de Dezembro, 10/07/1880; NEGRÃO, 1926, 1927, 1928, 1929, 1946, 1950
(para as demais informações).


Pág. 23 Memória Política de Curitiba

Destaca‐se, nesta legislatura, a família Pinto Rebello. Os Pinto Rebello


são descendentes pelo lado paterno do português Nicolau Pinto Rebello, o
velho, e de seu filho Tobias Pinto Rebello, que era vereador em Curitiba entre
1852/55 e casado com Benedicta Francisca de Assis Andrade, da família do
Sargento Mór Ignácio Lustosa de Andrade, que os faz parentes de inúmeras
outras famílias. Tobias e Benedicta são pais dos vereadores João Tobias, Nicolau
e José Pinto Rebello. “Membros da família Pinto Rebello casaram‐se com várias
famílias igualmente importantes como os Macedo, Taborda Ribas e outros”
(OLIVEIRA, 2001, p.288).
Após esta eleição, aconteceu uma ampla reforma no sistema eleitoral
brasileiro, a chamada Lei Saraiva (Lei nº 3.029, de 09/01/1881 e
regulamentada pelo Decreto nº 8.213, de 13/08/1881), que exigiu
recadastramento dos eleitores, eliminando os chamados votantes, continuando
a renda ser a forma de acesso ao processo eleitoral e excluindo os analfabetos.
Neste sentido, como se verá adiante, o número de eleitores diminuiu
drasticamente e apenas gradativamente voltou a incorporar um maior número
de cidadãos.
E, a nova lei exigiu também uma nova eleição para vereadores que foi
realizada no dia 01/07/1882, no qual compareceram 251 eleitores (Gazeta
Paranaense, Curitiba, 01/07/1882). Eis o resultado:

Tabela 9 – Vereadores e Juízes de Paz de Curitiba, 1883‐1886
VEREADORES – Curitiba Votos Idade Profissão Partido Esposa / Ano
casamento
1. Dr. Trajano Joaquim dos 27 31 Médico Liberal Josephina
Reis (Presidente 1883/84) Drumond dos Reis
2. Fidelis Augusto de 25 32 Negociante Liberal Ubaldina de
Andrade Macedo
3. Augusto Stelfeld 25 66 Farmacêutico Liberal Carlota Sophia
Dorothéa
Kalckmann, em
1852
4. Nicolau Pinto Rebello 25 48 Negociante, Liberal Herminia
Industrial Leopoldina
Pág. 24 Memória Política de Curitiba

Marques
5. Joaquim José Belarmino 25 Reeleito – Conservador
de Bittencourt
6. José Inocêncio de França 24 ? Industrial Liberal Maria Clemência
erva‐mate Nóbrega
7. Joaquim Ventura de 23 Reeleito – Liberal
Almeida Torres
8. Mathias Taborda Ribas* 22 e 39 50 Industrial Conservador Balbina Licia
erva‐mate Munhoz
9. Isaías Augusto Alves* 20 e 39 ? Cartorário; Conservador Thomazia Carolina
Funcionário Pedrosa, em 1874
público
Seguem suplentes que assumiram o cargo de vereador:
Antonio Francisco Correia 20 Reeleito – Conservador
de Bittencourt
Manoel Gonçalves dos 13 Reeleito – Liberal
Santos (Presidente,
1884/85)
João Lourenço Taborda 58 29 Negociante Liberal Maria Catharina
Ribas* Taborda Ribas, em
1884
Emydgio Westphalen – 201 36 Advogado Liberal Joaquina de Paula
assume em nova eleição Xavier; 2ª núpcias
com Januária B.
Carvalho de
Oliveira, em 1877
Juízes de paz – Curitiba Votos Idade Profissão Partido Esposa / Ano
casamento
1. Pedro Luiz de Souza 133 Reeleito – Liberal
Rocha
2. João Tobias Pinto 132 Reeleito – Liberal
Rebello
3. Theophilo Moreira 133 ? Negociante Liberal Philomenia Vianna
Garcez
4. João Lustosa de Andrade 131 Reeleito – Liberal
Seguem os menos votados, como: Manoel José da Cunha Bittencourt, 112; João Carvalho de Oliveira
Junior, 113; Eduardo Augusto de Vasconcellos Chaves, 111; Guilherme Xavier de Miranda, 110;entre
outros.
Fonte: Gazeta Paranaense, 01/07/1882 (para o resultado eleitoral); NEGRÃO, 1926, 1927, 1928,
1929, 1946, 1950 (para as demais informações).
* Candidatos a vereador que participaram do 2º escrutínio, pois não obtiveram a maioria dos
votos prevista em lei.



Ficou visível o ínfimo número de eleitores que elegeu esta nova Câmara
municipal.
Pág. 25 Memória Política de Curitiba

O jovem médico Dr. Trajano Joaquim dos Reis era natural da Bahia e
chega a Curitiba junto com sua esposa em 1876. O farmacêutico alemão Augusto
Stellfeld possuía farmácia no centro da capital Curitiba, instalada desde 1856,
portanto, conhecido de toda a população local. Apesar dos dois novos
vereadores não pertencerem às tradicionais famílias curitibanas, os demais
seguem a mesma composição das legislaturas anteriores.
A volta dos Conservadores ao poder no Rio de Janeiro se deu em
20/08/1885, com o Barão de Cotegipe, em uma nova mudança de Gabinete.
Esta mudança influenciou a composição da próxima Câmara de Curitiba, sendo
também a última eleição municipal no Império, no dia 01/07/1886. Agora os
Conservadores estavam sob a liderança de um outro grande “clã parental”
paranaense, a família Correia e destaque a família Pinto Rebello.
Sobre a família Correia, o comendador Ildefonso Pereira Correia,
presidente da Câmara, negociante e industrial da erva‐mate, era irmão do
Senador pelo Paraná, Dr. Manoel Francisco Correia. O pai deles foi deputado
provincial na 1ª legislatura do Paraná em 1854/55, além de árduo batalhador
pela emancipação política desta região. Ildefonso Pereira Correia recebeu o
título de Barão do Serro Azul em 08/08/1888. Da família Pinto Rebello, José
Pinto Rebello, negociante e industrial da erva‐mate, casou com Francisca da Luz
dos Santos, filha do importante industrial da erva‐mate em Antonina e
Morretes, Coronel José Antonio dos Santos. A filha Etelvina Pinto Rebello casou
com o Dr. Affonso Alves de Camargo, que chegou a ser Governador do Paraná
em 1916/20 e 1928/30, além de outros cargos públicos e eletivos. Affonso
Alves de Camargo foi um dos mais importantes políticos da 1ª República no
Paraná. Outro vereador foi Fausto Bento Vianna, filho do capitão Floriano Bento
Vianna, natural de Paranaguá, cujo nome ficou gravado na História do Paraná
por pedir a emancipação política de Paranaguá e Curitiba em 1821.

Pág. 26 Memória Política de Curitiba


Tabela 10 – Vereadores e Juízes de Paz de Curitiba, 1887‐1889
VEREADORES – Curitiba Votos Idade Profissão Partido Esposa / Ano
casamento
1. Comendador Ildefonso 49 42 Negociante, Conservador Maria José
Pereira Correia Industrial Correia, em 1871
(Presidente) erva‐mate
2. Antonio Ricardo do 43 ? Negociante, Liberal Hermancia
Nascimento Industrial Borges
erva‐mate Guimarães (ela
em 2ª núpcias);
2ª núpcias com
Maria Rosalina
Caiut.
3. José Theodoro de 42 53 Funcionário Conservador Maria de Freitas
Freitas público
4. José Pinto Rebello 42 47 Negociante, Liberal Francisca da Luz
Industrial dos Santos, em
erva‐mate 1870
5. Dr. Francisco de 41 44 Engenheiro Conservador ?
Camargo Pinto (Vice‐ civil
presidente)
6. Tobias de Macedo 41 ? Negociante Liberal Rosa Fonseca
7. Eugenio Bendazeski 40 ? Negociante Conservador Olga Bendazeski
8. Guilherme Xavier de 39 43 Negociante, Conservador Anália Agner; 2ª
Miranda Industrial núpcias com
erva‐mate Maria Rosa de
Bittencourt
Seguem os menos votados que disputaram uma vaga no 2º escrutínio, no dia 04/08/1886:
Antonio Augusto Ferreira de Moura*, 28; Dr. Francisco de Camargo Pinto*, 24; Dr. Eduardo
Mendes Gonçalves, 15; João dos Santos Biscaia, 14; João Desiderio Baebler*, 4; José Carvalho de
Oliveira*, 3; Luiz Antonio Requião, 2; Gregório Affonso Garcez, 2. E o eleito foi:
9. Antonio Augusto 70 Reeleito – Liberal
Ferreira de Moura,
Capitão
Juízes de paz – Curitiba Votos Idade Profissão Partido Esposa / Ano
casamento
1. Antonio Francisco 231 Reeleito – Conservador
Correia de Bittencourt
2. Joaquim José 225 Reeleito – Conservador
Bellarmino de Bittencourt
3. Fausto Bento Vianna 218 ? Negociante Conservador Fortunata de
Oliveira Vianna
4. João de Almeida Torres 209 ? Negociante Liberal ?
Seguem‐se outros menos votados: João Tobias Pinto Rebello, 140; João Lustosa de Andrade, 140;
Manoel Gonçalves dos Santos, 140; Fidelis Augusto de Andrade, 139; entre outros
Fonte: Dezenove de Dezembro, 01/07/1886 (Em Curitiba teve duas seções de recepção de votos,
a primeira era presidente da mesa Theophilo Moreira Garcez, e da segunda era presidente José
Pág. 27 Memória Política de Curitiba

Pinto Rebello – foram somados os votos das duas seções com o resultado final acima exposto –
Dezenove de Dezembro, 02/07/1886);
* Vereadores que assumiram o cargo ao longo desta Legislatura.


Esta Câmara tomou posse em 07/01/1887.
Nesta Câmara chama a atenção que todos os políticos são das
tradicionais famílias curitibanas, exceto Eugênio Bendazeski, alemão, mas sua
irmã era casada com a família Lustosa de Andrade. E, em especial coincidência,
as figuras do Comendador Ildefonso Pereira Correia e Fausto Bento Viana em que
seus pais se destacaram pela luta em prol da emancipação política paranaense
desde o início do século XIX. E quanto à profissão destes vereadores e juízes de
paz, destaca‐se o grande número de industriais e negociantes ligados à erva‐
mate.
Porém, com a Proclamação da República as Câmaras foram dissolvidas
e formadas juntas administrativas para gerirem os trabalhos municipais, até a
próxima eleição.


CONSIDERAÇÕES FINAIS

No período de 1856 a 1889, na cidade de Curitiba, capital do Paraná,
ocorreram dez eleições municipais válidas, tendo sempre nove vagas para
vereadores e quatro para juízes de paz, sendo que 71 políticos ocuparam o
cargo de vereador e 24 os de juiz de paz, portanto, alguns sendo reeleitos ao
longo deste período e outros sendo substituídos por suplentes.
Foram destacadas as famílias destes políticos, em seus “clãs parentais”
e suas relações de parentesco. Ao longo do trabalho foram apresentados
algumas das tradicionais famílias que estes políticos pertenciam, Sá Ribas,
Lustosa de Andrade, Borges de Macedo, Ferreira de Moura, Marques dos Santos,
Munhoz, Oliveira Franco, Bittencourt, Ribas, Almeida Torres, Pinto Rebello,
Pág. 28 Memória Política de Curitiba

Correia, e igualmente a importância do laço matrimonial para ampliar as


ligações de parentela ou como forma de ingressar em uma determinada família.
Daí decorre, igualmente, o papel da mulher da elite no século XIX.
Enfim, as eleições em Curitiba podem ser um reflexo de como era o
processo democrático no Brasil Império, como um todo, com muitas rixas e
desentendimentos, fraudes, forte controle sobre o possível resultado desejado,
significativa disputa entre Liberais e Conservadores, representantes dos “clãs
parentais” postos em competição com a união em “clãs eleitorais” e o destaque a
uma classe dominante, de posse de recursos financeiros (renda) e formação
educacional e ligada às famílias tradicionais.



REFERÊNCIAS

ALVES, Alessandro Cavassin (2015). A província do Paraná e sua Assembleia
Legislativa (1853‐1889). A força política das famílias tradicionais. Curitiba:
Máquina de Escrever.

GENEALOGIA PAULISTANA (2015). Disponível em:
http://www.buratto.org/paulistana/Carrascos.htm. Acesso em 19/11/2015.

LEÃO, Ermelino Agostinho de (1926). Contribuições Históricas e
Geographicas para o Diccionário do Paraná. Curityba: Empresa Graphica
Paranaense.

NEGRÃO, Francisco (1926, 1927, 1928, 1929, 1946 e 1950). Genealogia
Paranaense. Curitiba: Imprensa Paranaense S.A.

OLIVEIRA, Ricardo Costa de (2001). O silêncio dos vencedores. Genealogia,
classe dominante e estado do Paraná. Curitiba: Moinho do Verbo.

PEREIRA, Magnus Roberto de (Org.) (1993). Livro dos 300 anos: Câmara
Municipal de Curitiba, 1693‐1993. Curitiba, Câmara Municipal de Curitiba.

Pág. 29 Memória Política de Curitiba

VIANA, Oliveira (1987). Instituições políticas brasileiras. Belo Horizonte:


Itatiaia; São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo; Niterói, RJ: Editora da
Universidade Federal Fluminense.

Documentos diversos
PARANÁ. (1854). Relatório do Presidente da Província do Paraná. O
Conselheiro Zacarias de Góes e Vasconcellos na abertura da Assembleia
Legislativa Provincial em 15 de julho de 1854. Curityba, Typ. Paranaense de
Cândido Martins Lopes.

PARANÁ. (1869). Relatório com que o Exmo. Sr. Presidente da Província Dr.
Antonio Augusto da Fonseca abriu a 2ª Sessão da 8ª Legislatura da
Assembleia Legislativa do Paraná, no dia 6 de abril de 1869. Curityba,
Typographia de Cândido Martins Lopes.

PARANÁ. (1871). Relatório apresentado ao Exmo. Sr. Presidente Dr.
Venancio José de Oliveira Lisboa pelo Exmo. Sr. Vice‐Presidente Dr.
Agostinho Ermelino de Leão por ocasião de passar‐lhe a Administração da
Província do Paraná. Curityba, Typographia de Candido Martins Lopes.

PARANÁ, Lista de votantes qualificados, 1855 e 1861. Disponível em:
http://www.arquivopublico.pr.gov.br/. Acesso em 15/11/2015. Link: Pesquisa
por itens documentais (on‐line). Digitar: Lista de votantes qualificados.

Jornal consultado: Dezenove de Dezembro. Disponível em
http://www.memoria.bn.br. Acesso em 15/11/2015.
Pág. 30 Memória Política de Curitiba

Grupo de Trabalho: Composição do


Legislativo

Mônica Helena Harrich Silva Goulart9

A partir dos anos 1990, a Sociologia Política retomou um objeto de


pesquisa caro às Ciências Sociais desde o início do século XX e que fora pouco
contemplado desde os anos 50. Objeto este que nunca deixou de existir em suas
práticas sociais, tão menos diminuiu seus impactos sobre a sociedade. Estamos
falando aqui da relação estreita e evidente entre política e seus atores,
sobretudo àqueles ligados a famílias tradicionais, que historicamente ocupam
posições de poder em várias esferas do Estado (cada vez mais racionalizado e
complexo) e conduzem, ao mesmo tempo, seus interesses particulares como se
fossem interesses coletivos.
O GT1, a partir de quatro estudos apresentados, tem como objetivo
apresentar atores políticos importantes (tanto individualmente como em
grupos) para se pensar a Câmara Municipal de (i) Curitiba e de (ii) Pinhais,
como também traz uma (iii) trajetória individual que fez história na Curitiba de
outros tempos. Além de (iv) destacar de que forma diferentes grupos, com
motivações demarcadas, podem interferir num projeto de construção de
identidade social de uma cidade, a mesma Curitiba, só que de “novos tempos”...

9 Professora Adjunta do Departamento Acadêmico de Estudos Sociais ‐ DAESO ‐ Universidade

Tecnológica Federal do Paraná, UTFPR. Endereço eletrônico: mharrich@uol.com.br


Pág. 31 Memória Política de Curitiba

O texto da professora e socióloga Natália Cristina Granato, Presidentes


da Câmara Municipal de Curitiba (1947‐1964): capitais políticos e
familiares, apresenta o perfil dos presidentes da Câmara Municipal de Curitiba
respectivos à cinco legislaturas entre os anos 1947 a 1964. Para tanto, a autora
se utilizou da perspectiva prosopográfica como recurso metodológico ao
destacar a trajetória política, a filiação partidária e atuação nos diretórios
municipais, a formação universitária e os vínculos familiares de cada
presidente. Conquanto, ao destacar em específico a atuação na CMC de cada
presidente da mesa, revela‐se a relação entre estes e os prefeitos municipais. Os
capitais políticos e familiares são destacados quando são identificados nomes
vinculados às famílias tradicionais do estado, assim como também atores
políticos que ascendem ao poder no referido período.
Dentre os vereadores que ocuparam a presidência da CMC, tem‐se: na
legislatura de 1947‐1951 ‐ João Kracik Netto (1947), Ubiratan Peixoto de
Mattos (1948), Roberto Plens Ferreira Barrozo (1949), Ernani Santiago de
Oliveira (1950), Myltho Anselmo Silva (1951); na legislatura de 1952‐1955 –
Myltho Anselmo Silva (1953), Roberto Barozo (1954‐1955); no parlamento de
1956‐1959 – Felipe Aristides Simão (1956 e 1958), Sebastião Darcanchy (1957)
e José Maria de Azevedo (1959); no período de 1960‐1963 – Aristides Athaíde
Junior (1960) e Erondy Silvério (1962, 1963 e 1965); e, na legislatura que
compreende o ano de 1963 (antes do golpe militar de 1964) – Elias Karan
(1963). Assim, para além dos capitais fundamentais para ocupação de tal cargo,
Natália Granato enfatiza que ao longo do tempo e, principalmente, do
restabelecimento do processo democrático e eleitoral na esfera do legislativo
municipal, obteve‐se uma maior estabilidade na composição da presidência da
CMC, assim como significativa relação política com o executivo municipal.
Na mesma perspectiva analítica, a socióloga e professora Glória Estevinho,
em Mulheres e Política na Região Metropolitana de Curitiba‐Pinhais,
Pág. 32 Memória Política de Curitiba

destaca o perfil das vereadoras da Câmara Municipal de Pinhais a partir das


dimensões sociais e econômicas demarcadas por aspectos como idade, estado
civil, escolaridade, profissão e filiação partidária. Para tanto, a autora apresenta
o histórico desde a fundação do município em 1992, a lista dos prefeitos e os
principais indicadores econômicos de Pinhais. Contudo, para enfatizar a
participação de mulheres no parlamento, Glória Estevinho lança mão de todo o
conjunto de parlamentares que até então ocupou cadeiras no legislativo.
Mesmo em meio a alterações no contingente de representantes, pode‐se
perceber que houve aumento de mulheres no legislativo municipal haja vista
que se estabeleceu, de forma expressiva, na sexta legislatura, a presença de
quatro vereadoras num universo de quinze cadeiras. Dentre as vereadoras de
Pinhais: Marly Paulino Fagundes (três mandatos consecutivos), Rita de Cássia
Cruz Romaniow (um mandato), Ivone Carvalho dos Santos (dois mandatos
consecutivos), Cecília Padovan Serafim (primeiro mandato), Marcia Regina
Ferreira da Silva (primeiro mandato), Maria Janeide de Souza Piacentini
(primeiro mandato) e Rosa Maria de Jesus Colombo (primeiro mandato). De
forma específica, pode‐se destacar: primeira legislatura, nenhuma mulher como
vereadora; segunda legislatura, 5,88% são vereadoras na CM de Pinhais;
terceira e quarta legislaturas, a presença feminina corresponde a 11, 76%; na
quinta legislatura corresponde a 9,09%; e, na sexta legislatura, tem‐se o
significativo montante de 26,66% de cadeiras ocupadas por mulheres.
Assim, vale também destacar que a referida pesquisa ainda enfatiza
biografias, entrevistas e trajetórias políticas das vereadoras em questão, como
também um quadro prosopográfico ao final da análise. Ainda são poucos os
estudos sobre a participação de mulheres nas esferas municipais de poder e,
dessa forma, o presente trabalho aponta contribuições significativas para tal
reflexão.
Pág. 33 Memória Política de Curitiba

Já o trabalho apresentado pelo jornalista João Cândido Martins, Por que


Curitiba esqueceu Ernesto Guaita?, apresenta a trajetória individual do
engenheiro italiano Ernesto Guaita que viveu na capital paranaense entre os
últimos anos do Império e as décadas iniciais da República, período que se
entende como fundamental para compreensão da origem urbana de Curitiba. A
pesquisa revela as várias convivências e tensões passadas por Guaita ao
transitar pela elite paranaense, seja entre os imigrantes ou entre os membros
das famílias tradicionais.
João Cândido apresenta as várias obras que demarcaram a atuação
profissional e conhecimento técnico do engenheiro na participação da
construção da estrada de ferro Paranaguá‐Curitiba, na intervenção no banhado
do passeio público, no desenvolvimento de plantas para construção da catedral,
na primeira intervenção urbana efetuada em Curitiba e também são arrolados
os trabalhos realizados para particulares onde muitos se encontram ainda
presentes como o Palácio Garibaldi, o Palácio da Liberdade, entre outras
construções.
Ao recontar a trajetória de Guaita o autor se utiliza de pesquisas e fontes
importantes que apontam fatos da vida do engenheiro de forma direta ou
indireta. Contudo, para além de uma biografia individual, o texto permite
compreender o que era Curitiba do período, bem como posiciona Ernesto
Guaita em meio ao contexto social o colocando como uma figura importante
para a época. As preocupações do engenheiro, em relatório apresentado quando
ocupava o cargo de secretário municipal de obras em 1908, revelam questões
sociais com a Curitiba da época marcada por problemas em relação a rede de
águas e esgoto, pela falta de limpeza, pela ausência de calçamento adequado e
de mictórios e latrinas públicas.
Para finalizar as apresentações do GT1, o texto do sociólogo e historiador
Marco Aurélio Barbosa, O 20 de novembro: a construção do feriado na
Pág. 34 Memória Política de Curitiba

Câmara Municipal de Curitiba, se configura numa significativa reflexão em


torno dos debates sobre o feriado do 20 de novembro, o qual contempla a
questão da comemoração que tem como centro a figura de Zumbi dos Palmares,
importante símbolo da resistência negra no Brasil.
Nesse sentido, o autor nos explica o porquê da relevância da data do 20 de
novembro e por ser esta mais significativa para o movimento negro do que a
comemoração do dia 13 de maio, ou seja, data em que ocorreu a assinatura que
abolia, em 1888, a escravidão no Brasil. Portanto, ao contemplar uma pesquisa
acerca das tensões estabelecidas em torno da implantação ou não do feriado do
dia 20 de novembro, que se coloca como marco importante para reafirmar a
presença negra na construção da identidade de Curitiba, Marco Aurélio aponta
que o embate ideológico perpassa também grupos que tomam tal questão com
indiferença. Mais do que isso, enfatiza que alguns grupos e instituições
importantes para o debate ainda se encontram firmados na perspectiva que
sinaliza uma visão de Curitiba como uma capital efetivamente europeia,
construída tão somente a partir da imigração de poloneses, alemães, italianos,
entre outros.
Assim, ao procurar compreender os argumentos e discussões pautados
por interlocutores que representam instituições diferentes – de um lado a
Associação Comercial do Paraná, que se posicionou contrária e, de outro, o
movimento negro, o sindicato de trabalhadores do comércio de Curitiba,
vereadores e a Câmara Municipal, que são favoráveis a implantação da data –
tem‐se um debate relevante a respeito da defesa na presença e importância do
papel do negro e, ao mesmo tempo, na tentativa de sua invisibilidade ou posição
secundária na história e cultura local. Para tal questão, o autor dispõe de várias
obras e discussões que se debruçam e lançam luz para compreensão da
presente disputa e, mais ainda, textos e estudos que comprovam efetivamente a
Pág. 35 Memória Política de Curitiba

importância e recorrente presença da população negra na cidade ao longo de


sua história.
De forma geral, pode‐se dizer que o presente texto nos propõe mais do
que uma discussão em torno de um feriado em específico e, sim, promove uma
relevante discussão em torno de um projeto de cidade que se pretende
continuar realizando. Afinal, ao se negar o feriado se reafirma um processo que
historicamente tem‐se valido em diminuir a importância de grupos que foram
fundamentais para construção social da cidade, seja do ponto de vista material
como também do ponto de vista simbólico.
Enfim, os trabalhos apresentados pelo GT1 correspondem a temas
importantes para a reflexão da política e seus representantes em Curitiba e no
município de Pinhais. Também expressam como atores políticos e sociais se
articulam em instituições relevantes e se colocam presentes nas esferas de
poder, quais capitais se sobressaem na configuração do jogo político, além de
apresentar, cada um a sua maneira, ferramentas teóricas e metodológicas
correspondentes para a análise de cada tema.
Pág. 36 Memória Política de Curitiba

Presidentes da Câmara Municipal de


Curitiba (1947‐1964): capitais políticos e
familiares

Natália Cristina Granato10





Resumo: O presente trabalho procura investigar o perfil dos 13 presidentes da Câmara
Municipal de Curitiba entre os anos de 1947 a 1964, anos do período democrático que
sucederam ao autoritarismo do Estado Novo e antecederam à ditadura militar. Tendo como
referência o poder legislativo municipal, analisaremos quais são os capitais políticos e
familiares dos presidentes da Câmara de Curitiba com o auxílio das reflexões de Pierre Bourdieu
a respeito do “campo político”. Também problematizaremos a relação entre os presidentes do
poder legislativo municipal e os prefeitos de Curitiba, bem como suas atuações frente aos
diretórios municipais dos partidos políticos dos quais os mesmos pertenciam.




Palavras‐chave: poder municipal, capitais políticos, poder legislativo;


10 Mestra em Sociologia pela Universidade Federal do Paraná. Membro do Núcleo de Estudos

Paranaenses (NEP‐ UFPR), coordenado pelo Professor Dr. Ricardo Costa de Oliveira. Bacharela e
Licenciada em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Paraná. E‐mail:
nataliagranato@hotmail.com
Pág. 37 Memória Política de Curitiba

INTRODUÇÃO

O presente trabalho procura investigar o perfil dos 13 presidentes da
Câmara Municipal de Curitiba entre os anos de 1947 a 1964, anos do período
democrático que sucederam ao autoritarismo do Estado Novo e antecederam à
ditadura militar.
O período analisado, de 1945 a 1964, foi caracterizado pela democracia
vigente a partir da queda da ditadura do Estado Novo. As instituições políticas
como os partidos políticos e o legislativo voltaram à regularidade com a
consolidação do novo regime. O próprio Getúlio Vargas exerceu grande influência
neste processo, fundando dois dos principais partidos políticos que tentavam
representar as mais importantes representações de interesses das classes sociais
do Brasil naquele momento: o Partido Social‐Democrático (PSD) e o Partido
Trabalhista Brasileiro (PTB). O PSD tendia a representar a base rural brasileira
ligada aos grandes proprietários de terras que se beneficiaram com as políticas
implementadas nos anos em que Vargas ocupou a presidência. Sua principal base
organizacional era a máquina dos interventores nos estados (SOARES, 2001,
p.89), montada nos anos da ditadura de Vargas. Os interventores eram homens de
confiança do presidente que adquiriram prestígio e poder nos seus respectivos
estados e tomaram para si a tarefa de organizar o partido próprio para eles, ou
seja, o PSD. Já o PTB seria um partido que ofereceria uma alternativa política ao
operariado brasileiro em ascensão frente ao Partido Comunista, pregando a
harmonia e a conciliação entre capital e trabalho. Sua principal base era
composta por sindicalistas e ocupantes de cargos no Ministério do Trabalho e
Institutos de Previdência Social. Essa burocracia, por sua vez, oferecia uma rede
de sustentação do PTB, que atuava diretamente em prol de benefícios e
assistência aos sindicatos organizados sob a estrutura corporativa construída
Pág. 38 Memória Política de Curitiba

durante o Estado Novo. O PTB também atuava como herdeiro e vigilante da


legislação trabalhista feita no governo Vargas para os trabalhadores urbanos.
Foram ainda fundados os partidos de oposição à política e ao legado
varguista, sendo eles a União Democrática Nacional (UDN) e o Partido
Republicano (PR). A União Democrática Nacional tem grande parte de seus
membros identificados com a política do período pré‐1930, vendo os governos de
Getúlio Vargas com muitas ressalvas e críticas. A refundação do Partido
Republicano teve as suas origens na União Democrática Nacional. Seus quadros
nacionais e regionais eram compostos principalmente de elementos que
pertenciam aos partidos republicanos regionais no período pré‐30.
No Paraná, as forças políticas identificadas com o legado de Vargas e as
forças antigetulistas disputavam entre si nas primeiras eleições pós‐
redemocratização. A principal delas, a de 1947, para o governo do estado, foi
disputada entre Moysés Lupion, do PSD, e Bento Munhoz da Rocha Netto, do PR. O
primeiro contava com a máquina do governo e da antiga interventoria de Manoel
Ribas a seu favor, além do apoio do PTB, integralistas e comunistas. Já o segundo
estava praticamente sozinho. Representava uma candidatura antigetulista e
antipessedista, contra a figura de Lupion localmente. Também representava os
valores tradicionais da política nacional e local do pré‐193011, ainda que se

11 Bento é proveniente de uma das mais tradicionais famílias estabelecidas na política, desde os

tempos coloniais, descendente de Mateus Leme e Baltazar Carrasco dos Reis (OLIVEIRA, 2000,
p.358). Importante quadro político da República Velha, Munhoz da Rocha perpetuou a
influência política da família após a Revolução de 1930 e a redemocratização de 1945. Casado
com Flora Camargo Munhoz da Rocha, filha do ex‐presidente do Paraná, Affonso Alves de
Camargo, também descendente dos primeiros povoadores do Paraná Tradicional, sua aliança
matrimonial consagra a união de velhas e tradicionais famílias políticas do Paraná, continuando
uma tradição que vem dos tempos coloniais, perpassa o império e a república velha e continua
no processo de modernização presenciada no estado e no país intensificada nas décadas de
1940 e 1950. Munhoz da Rocha é o símbolo do Paraná Tradicional e das forças estabelecidas no
decorrer dos séculos.
Pág. 39 Memória Política de Curitiba

tentasse associar a imagem de Bento Munhoz a uma política modernizadora e


progressista. Lupion, como era esperado, venceu as eleições de 1947, com 59,1%
dos votos, contra 29,3% de Munhoz da Rocha (IPARDES, 1987).
Em resumo, o Paraná e o Brasil viviam um movimento de
redemocratização e inserção de disputadas eleições nas quais os agentes
disputavam espaço dentro do campo político. Na próxima seção, verificaremos
como foi a composição dos presidentes da Câmara Municipal de Curitiba nas
legislaturas após o término do Estado Novo, utilizando‐nos da influência de Pierre
Bourdieu para a análise dos capitais políticos e familiares que tais agentes
políticos possuíam.

Presidentes da Primeira Legislatura da Câmara Municipal de Curitiba no
período pós‐estadonovista

O recém‐eleito governador do estado tinha a prerrogativa de nomear os
Prefeitos de Curitiba e exercia grande influência sobre o PSD e o PTB nos seus
anos de formação. Porém, com a consolidação do PTB, o poder de Lupion sobre a
vida partidária interna foi questionada por seus integrantes de maneira mais
efetiva. Na primeira legislatura pós‐redemocratização, que compreende o período
de 1947 a 1951, a Câmara Municipal de Curitiba foi presidida por 5 vereadores:
João Kracik Netto (1947), Ubiratan Peixoto de Mattos (1948), Roberto Plens
Ferreira Barrozo (1949), Ernani Santiago de Oliveira (1950) e Myltho Anselmo
da Silva (1951). Com exceção do republicano Ernani Santiago de Oliveira, todos
eles pertenciam ao PTB. O PTB no Paraná possuía grande prestígio junto ao
eleitorado e no Diretório curitibano era identificado com órgãos de representação
de classe dos empregadores e dos empregados. Nas eleições de 1950, por exemplo,
Getúlio Vargas obteve 61,6% dos votos no Paraná para presidente e em Curitiba
este número foi ainda maior: 66,7% (IPARDES, 1987).
Pág. 40 Memória Política de Curitiba

Tais agentes possuíam capitais políticos, partidários, econômicos, sociais,


entre outros, decisivos para as suas ações políticas que eram destacadas dentro da
Câmara Municipal de Curitiba. Verificaremos quais eram esses capitais para cada
presidente analisado, com o objetivo de mapear os poderes de influência dos
mesmos. Para isto, é necessário que apresentemos brevemente o conceito de
capital e campo político para Pierre Bourdieu.
Para Pierre Bourdieu, o campo político, como os demais campos, é um
campo de forças e de lutas, que possui agentes com determinadas condutas
correspondentes às suas posições na “estrutura da relação de forças” relacionadas
ao campo em determinado momento (BOURDIEU, 2011, p.201). O “campo
político” possui agentes dotados de capitais políticos desiguais.
Bourdieu relaciona o campo de poder com o conceito de “classe
dominante”, pois tal conceito refere‐se a uma “população verdadeiramente real”
que detém o poder devido à sua quantidade de “força social” (ou capital),
relacionada à sua posição social. Desta forma, esta classe possui vantagens em
relação às outras desde o momento de sua entrada nas lutas pelo “monopólio do
poder” (BOURDIEU, 1989, p.28). A análise da luta política deve levar em
consideração, portanto, aos determinantes econômicos e sociais dos agentes que
se encontram na política. Pesquisar a posição que os agentes políticos ocupam
no macrocosmo (social), relacionando os campos político, econômico, social,
cultural, etc; juntamente com as posições que os agentes políticos ocupam no
microcosmo (o campo político) é tarefa do pesquisador que pretende
compreender as práticas de tais agentes políticos. Visto estas considerações,
visualizaremos um perfil político de cada um dos presidentes da Câmara dos
Vereadores na primeira legislatura a seguir:
O primeiro presidente da Câmara Municipal de Curitiba no período pós‐
estadonovista foi João Kracik Netto. Nascido em Blumenau no ano de 1909, não
pertecia por nascimento as famílias tradicionais do Paraná presentes na política
Pág. 41 Memória Política de Curitiba

local de longa data. Kracik teve a sua entrada na classe politicamente dominante
em grande parte através de sua formação acadêmica como advogado.
Sua vida política foi marcada pela sua ligação com clubes como o Lions e
o Graciosa Country Club (GALERIA PRESIDENTES CMC), do qual foi presidente
entre julho de 1965 e julho de 196612. Tal título lhe confere uma grande
associação com a classe dominante local, em termos de prestígio e distinção.
Seu partido era o PTB (TRE‐ PR), sendo membro da sua comissão
executiva (DIÁRIO DO PARANÁ, 2 out.1947, capa) e possuía grande ligação com
órgãos de representação de classe patronal , ocupando em vários momentos de
sua carreira política a presidência de instituições como o SENAC (Serviço
Nacional de Aprendizagem Comercial), a Federação do Comércio Varejista, a
Confederação Nacional do Comércio e o Sindicato do Comércio Varejista de
Automóveis (GALERIA PRESIDENTES CMC), ocupando também a diretoria da
Volkswagen do Paraná (ÚLTIMA HORA, 03.ago.1962, p.3). Sua atuação incluía a
representação de classe dos empregados, sendo advogado da Federação dos
Trabalhadores da Indústria do Paraná (ÚLTIMA HORA, 07.jan.1959, p.9) e
presidente da Comissão do Salário Mínimo no Paraná (ÚLTIMA HORA, 26.
Set.1960, p.2).
Kracik também promovia a integração entre o Brasil e os Estados Unidos,
sendo membro do Comitê Companheiros para a Aliança do Programa Paraná‐
Ohio e presidente em quatro gestões do Centro Cultural Brasil‐Estados Unidos
(GALERIA PRESIDENTES CMC).

12 Galeria de Presidentes. Disponível em http://www.graciosa.com.br/sobre/presidentes/.


Pág. 42 Memória Política de Curitiba

João Kracik foi prefeito interino de Curitiba em 1947 e 194813, e durante a


sua gestão, trocou o nome da sede da Prefeitura de “Paço Municipal” para “Paço
da Liberdade”, após o fim da Segunda Guerra Mundial14.
Embora tenha exercido a Presidência da Câmara Municipal em 1947 e
ocupado interinamente a prefeitura de Curitiba por duas ocasiões, o único
mandato de Kracik como vereador foi o que compreende o período de 1947 a
1951. Kracik também não ocupou outros cargos políticos eletivos de relevância.
O segundo presidente da Câmara dos Vereadores foi Ubiratan Peixoto de
Mattos, nascido em 1915 em Curitiba. Pertencia ao PTB, era ligado a entidades de
representação de classe dos empregados, sendo fundador de diversos sindicatos,
entre os quais o dos gráficos. Foi presidente da União Sindical do Paraná Club
(GALERIA PRESIDENTES CMC). Sua ligação com a prefeitura de Curitiba deve‐se
principalmente ao fato de ser funcionário de carreira. A carreira política, no
entanto, não ascendeu para além dos poderes municipais, sendo candidato a
deputado estadual pelo PTB, não obtendo êxito. Também não obteve outros
mandatos de vereador na Câmara Municipal de Curitiba.
Ubiratan Peixoto de Mattos pertencia a uma ala do PTB paranaense
independente da influência política do governador Moysés Lupion e identificada
com a linha sindicalista (BATISTELLA, 2014, p.122). O seu sucessor na
presidência da Câmara dos Vereadores, Roberto Barozo, também pertencia a esta
linha política.

13 Relação de Prefeitos de Curitiba. Disponível em


http://www.curitiba.pr.gov.br/conteudo/relacao‐dos‐prefeitos‐de‐curitiba/4

14 Prédio do Paço da Liberdade comemora 100 anos de história. Disponível em:

http://www.sescpr.com.br/2016/02/predio‐do‐paco‐da‐liberdade‐comemora‐100‐anos‐de‐
historia/
Pág. 43 Memória Política de Curitiba

O terceiro presidente da CMC no período de redemocratização foi Roberto


Plens Ferreira Barrozo. Nascido em 1895 na cidade de Rio de Janeiro, antigo
Distrito Federal, Barrozo estabeleceu‐se em Paranaguá, onde foi advogado da
Prefeitura e vereador, e em Curitiba, onde foi diretor do jornal “Diário da Tarde”.
Também ocupou a inspetoria federal de Ensino Secundário (REHBEIN, 2009,
p.63). Possuía altas conexões com a estrutura local de poder no âmbito esportivo,
ocupando a presidência da Federação Paranaense de Futebol em 1937 (LAIBIDA,
2016, p.71). Ocupou a chefatura de polícia no governo Manoel Ribas, entre 1936
e 1937 (GALERIA CMC).
Em 1947, foi candidato ao Senado pelo PSP, sendo derrotado por Artur
Ferreira dos Santos, eleito pela coligação UDN‐PSD‐PTB‐PRP (IPARDES, 1987).
Neste mesmo ano concorre para a Câmara dos Vereadores de Curitiba, desta vez
pelo PTB, sendo o candidato que mais ganhou votos entre todos os partidos que
disputaram a eleição (TRE‐ PR). Porém, em 1948, foi expulso do PTB após
desentendimentos internos ocasionados após críticas à política de impostos
adotadas pelo petebista João Kracik Neto a frente da Prefeitura de Curitiba
(BATISTELLA, 2014, p.125). Barrozo acusava o PTB paranaense de
subserviência em relação ao governador Moysés Lupion (BATISTELLA, 2014,
P.125). Nas eleições seguintes (1951), não concorreu à reeleição do cargo,
lançando o seu filho pelo PST, obtendo êxito.
Por dois períodos, ocupou a Secretaria de Interior e Justiça, entre 1951 e
195315, no governo Bento Munhoz da Rocha Netto. Ambos faziam forte oposição
ao ex‐governador Moysés Lupion. Em 1954, foi candidato pelo PTN para a
Prefeitura de Curitiba, a primeira eleição direta após um longo período de

15 Galeria de Secretários da Justiça. Disponível em:


http://www.justica.pr.gov.br/modules/galeria/detalhe.php?foto=334&evento=30
Pág. 44 Memória Política de Curitiba

nomeação para o cargo pelo governador do estado. Foi o penúltimo colocado no


pleito, vencido por Ney Aminthas de Barros Braga (TRE‐PR).
O quarto presidente da Câmara Municipal na primeira legislatura pós‐
redemocratização foi Ernani Santiago de Oliveira, nascido em 1912, na cidade de
Curitiba. Pertencia ao Partido Republicano, agremiação que reunia muitos
nomes da classe dominante tradicional presentes na política paranaense há
séculos. Um dos seus avós era o Coronel João Carvalho de Oliveira, e uma de suas
avós era Maria Rufina Borges de Macedo, sendo signatário do título genealógico
Rodrigues Seixas (OLIVEIRA, 2000, p.407). Seus capitais familiares forma
incrementados através de seu matrimônio com a escritora Liamir dos Santos
Hauer16. Oliveira é o primeiro presidente da Câmara Municipal de Curitiba que
não pertencia ao PTB e representava as forças políticas tradicionais, identificadas
com um dos principais líderes do Paraná neste contexto: o republicano Bento
Munhoz da Rocha Netto. Derrotado por Moysés Lupion nas eleições de 1947, em
1950 conquistou o governo do estado, com 62,9%, mais do que o dobro do
candidato de Lupion, Ângelo Ferrari Lopes, que obteve 30,7% (IPARDES, 1987).
Com o afastamento de alguns setores do PTB com as políticas de Moysés Lupion,
boa parte dos trabalhistas apoiou Bento Munhoz da Rocha, alguns deles fizeram
parte do seu governo, e à despeito de diferenças de posicionamentos em
importantes momentos políticos da história do Brasil17, Munhoz da Rocha e

16 Presidentes do Clube Atlético Paranaense. Ernani Santiago de Oliveira. Disponível em:

http://www.furacao.com/historia/presidentes/ernani.php

17 O sogro de Bento Munhoz da Rocha, Afonso Camargo, foi deposto do cargo de presidente do

Paraná devido à Revolução de 1930. Segundo o livro de memórias de Flora Camargo Munhoz da
Rocha, Entre sem bater (1998), em um encontro entre Afonso Camargo e Getúlio Vargas no
início da década de 1950, ambos não apresentaram sentimentos de ressentimentos quanto aos
acontecimentos do passado.
Pág. 45 Memória Política de Curitiba

Getúlio Vargas mantiveram uma relação amistosa entre o governo estadual e


federal, respectivamente.
O presidente republicano da Câmara Municipal de Curitiba possuía
formação em Direito, e exerceu a profissão de Diretor de Ensino no Ginásio de
Palmas e Paranaguá, na década de 1930. Nessa época, ocupou a secretaria geral
do Instituto de Funcionalismo Público do Paraná (CORREIO DO PARANÁ, 10
jan.1938, p.4). Na década posterior, nos anos que sucederam ao governo Manoel
Ribas, foi diretor de Instrução Pública no governo Clotário de Macedo Portugal
(GALERIA PRESIDENTES CMC). Na recém refundação do PR no Paraná, foi
secretário do diretório municipal de Curitiba (DIÁRIO DO PARANÁ, 10. Out.1946,
capa), e no ano de 1947, candidatou‐se ao cargo de vereador de Curitiba, obtendo
êxito eleitoral. Em 1950, foi eleito Presidente da Câmara Municipal de Curitiba.
Em 1951, ocupou interinamente a Prefeitura de Curitiba. Não deu continuidade à
sua permanência no cargo de vereador na legislatura posterior, mas continuou
ativo na vida partidária e futebolística, sendo apoiador da eleição de Ney Braga
para a prefeitura de Curitiba, em 1954, presidente do PRT do Paraná (DIÁRIO DO
PARANÁ, 9. Jun.1955, p.3), apoiador da candidatura de Othon Mader para o
governo do Paraná em 1955 e Presidente do Clube Atlético Paranaense entre
1968 e 1969.
O PTB reconquistou a presidência da Câmara Municipal de Curitiba com
Myltho Anselmo da Silva, nascido na cidade de Curitiba, em 1917. Iniciou sua
carreira política como funcionário da Secretaria Estadual da Fazenda, na
Prefeitura de Curitiba, sendo eleito vereador em 1947 (GALERIA PRESIDENTES
CMC). Nas eleições de 1951, foi o candidato eleito com maior número de votos
(TRE‐ PR), e foi presidente da Câmara Municipal no ano de 1951e 1953, ano em
que substituiu interinamente o prefeito Erasto Gaertner. Foi reeleito no ano de
1955.

Pág. 46 Memória Política de Curitiba

Presidentes da Câmara Municipal de Curitiba na segunda legislatura pós‐


redemocratização

Na segunda legislatura pós‐redemocratização, que compreende o período
de 1952 a 1955, a Câmara Municipal de Curitiba foi presidida pelo republicano
Mário Afonso Alves de Camargo (1952), novamente pelo petebista Myltho
Anselmo da Silva (1953) e Roberto Barrozo Filho, do PST, nos anos de 1954 e
1955.
O sexto presidente da Câmara Municipal de Curitiba no período pós‐
estadonovista, Mário Afonso Alves de Camargo, nasceu em Curitiba no ano de
1919, filho do então presidente do Paraná Affonso Alves de Camargo, irmão de
Flora Camargo Munhoz da Rocha, então primeira‐dama do Paraná, e cunhado do
então governador republicano Bento Munhoz da Rocha. Eleito pelo Partido
Republicano em 1951, no ano de 1952 tornou‐se presidente da Câmara. Foi
reeleito para o cargo de vereador nas eleições seguintes, na condição de suplente.
A presidência da Câmara de Vereadores de Curitiba foi ocupada
novamente por Myltho Anselmo da Silva em 1953 e nos dois anos posteriores foi
ocupada por Roberto Barrozo Filho, nascido em Paranaguá no ano de 1922, filho
do ex‐presidente da Câmara Municipal de Curitiba, Roberto Barrozo (GALERIA
CMC). Advogado do estado e jornalista, seguiu a mesma carreira de seu pai,
atuando como jornalista político, dirigindo jornais como o “Diário da Tarde”, “A
Tarde” e o “Jornal de Curitiba” (GALERIA CMC). Foi eleito vereador de Curitiba
nos anos de 1951 (pelo PST) e 1955 (pelo PTN) (TRE‐PR). Ocupou interinamente
a prefeitura em 1949 e 1954. O seu pai, Roberto Barrozo, se desentendeu com o
PTB, e coube a ele organizar em Curitiba o pequeno Partido Social Trabalhista,
integrado por dissidentes do PTB.
Durante esta legislatura, percebemos o destaque dos republicanos, com a
influência do então governador do estado Bento Munhoz da Rocha, e dos
Pág. 47 Memória Política de Curitiba

trabalhistas, sendo representados pelo petebista Myltho Anselmo e pelo


integrante do PST, ex‐petebista, Roberto Barrozo Filho.


Presidentes da Câmara Municipal de Curitiba na terceira legislatura pós‐
redemocratização

A terceira legislatura pós‐redemocratização, que compreende o período de
1956 a 1959, foi influenciada pelo segundo governo de Moysés Lupion à frente do
estado, pelo PSD e também contou com a gestão de dois prefeitos eleitos pela
população curitibana: o primeiro, Ney Aminthas de Barros Braga, vitorioso em
1954, ex‐chefe de polícia no governo do seu cunhado, Bento Munhoz da Rocha, e
o segundo, Iberê de Mattos, petebista eleito em 1958. Os presidentes da Câmara
Municipal de Curitiba deste período foram Felipe Aristides Simão, do PL, em 1956
e 1958, o republicano Sebastião Darcanchy, em 1957 e José Maria de Azevedo,
em 1959 pelo PSD.
A influência do prefeito Ney Braga na eleição de Felipe Aristides Simão
para a presidência da Câmara Municipal de Curitiba foi decisiva. Nascido em
Curitiba, no ano de 1917. Com formação em Química Industrial, combateu na
Segunda Guerra Mundial como integrante da Força Expedicionária Brasileira. Em
1951, obteve o seu primeiro êxito eleitoral no cargo de vereador de Curitiba pelo
Partido Libertador (PL). Foi eleito novamente em 1955, e ocupou a presidência da
casa em 1956 e 1958, coincidindo seus mandatos com o seu aliado político Ney
Braga ocupando a Prefeitura de Curitiba, sendo o candidato da situação nas
eleições de 1958, não obtendo êxito mesmo com a máquina da prefeitura e o
apoio do prefeito em seu favor. O candidato vitorioso foi o petebista Iberê de
Mattos.
Pág. 48 Memória Política de Curitiba

Em 1959, foi reeleito para o cargo de Vereador de Curitiba. Assumiu em


1961 a Secretaria Estadual do Trabalho, cargo no qual permaneceu durante a
gestão de Ney Braga frente ao governo do estado. Durante este período, foi diretor
da COHAPAR. Ocupou também, durante a gestão de Paulo Pimentel, a Secretaria
de Estado de Governo. Sua atuação política esteve ligada à Casa do Expedicionário,
instituição que presidiu por anos em prol dos ex‐combatentes do Brasil na
Segunda Guerra Mundial (GRANATO, 2016, p.122).
Sebastião Penteado Darcanchy assumiu a presidência do legislativo
municipal em 1957. Nascido em Guarapuava no ano de 1914, filho de Conceição
Penteado Darcanchy, descendente da família Ribas Penteado (NEGRÃO, volume 3,
p.208) e Alcides Darcanchy. Membro de família tradicional, formou‐se um Direito
pela Universidade do Paraná e foi nomeado advogado da Prefeitura de Curitiba
(GALERIA CMC). Exerceu a presidência do Sindicato dos empregados do
Comércio de Curitiba (DIÁRIO DO PARANÁ, 16. Mar. 1946, p.2). Em 1955, foi
eleito vereador pelo Partido Republicano e reeleito em 1959. Em 1963, ficou com
a primeira suplência do Partido Republicano (TRE‐PR). Assumiu a presidência da
Câmara Municipal em 1957 e foi eleito 1º vice‐presidente em 1962.
O pessedista José Maria de Azevedo foi Presidente da Câmara Municipal de
Curitiba em 1959. Nascido em Curitiba no ano de 1921, foi eleito vereador de
Curitiba em 1955 pelo PSD, sendo reeleito em 1959 e 1963, também pelo PSD.
Azevedo era apoiado pelo recém‐eleito prefeito de Curitiba Iberê de Mattos, que
contrariou o seu próprio partido para apoiá‐lo (CORREIO DO PARANÁ. 22. Dez.
1959, p.2). Moysés Lupion, também do PSD, era governador do estado na ocasião,
e o PTB era oposição ao governo do estado.


Presidentes da Câmara Municipal de Curitiba na quarta legislatura pós‐
redemocratização
Pág. 49 Memória Política de Curitiba

A quarta legislatura pós‐redemocratização, que compreende o período de


1960 a 1963, teve como Presidentes da Câmara Municipal o petebista Aristides
Athaíde Júnior, em 1960 e Erondy Silvério, pelo PSD, nos anos de 1962, 1963 e
1965.
O então prefeito Iberê de Mattos manteve a sua influência junto à Câmara
Municipal de Curitiba com a eleição de Aristides Athaíde Júnior na presidência da
Casa. Nascido em Curitiba no ano de 1908, descendendo da família Taborda Ribas
(OLIVEIRA, 2000, p.410), formou‐se em Medicina e dedicou‐se a carreira militar,
exercendo a sua profissão na Polícia Militar do Paraná, no Hospital Militar de
Curitiba e no Hospital da Cruz Vermelha. Também se formou em Direito
(GALERIA CMC). Foi eleito vereador pelo PTB em 1959 e em 1960 exerceu a
presidência da Câmara Municipal. Nas eleições de 1965, foi apoiador de Bento
Munhoz da Rocha Netto.
O presidente da Câmara Municipal em 1961 foi Erondy Silvério, ocupando
a cadeira em 1962, 1963 e 1965. Nascido em 1923 em Guarapuava, foi eleito
Vereador por Curitiba pelo PSD em 1955, 1959 e 1963. Em 1959 e 1963 foi líder
de votos. Foi diretor do DETRAN e revendedor de carros. A partir dos anos 1950,
se tornou empresário do transporte coletivo de Curitiba, com o apoio de Ney
Braga (LAIBIDA, 2014, p.13). Nas eleições de 1966, foi eleito o deputado estadual
mais votado da ARENA. Foi reeleito para o cargo para as legislaturas de 1967‐
1971 (em 1968 ocupou a Presidência da Assembleia18); 1971‐1974; 1975‐1978;
1979‐1982, todas pela ARENA; 1983‐1986, 1987‐ 1990, 1991‐ 1994. Durante as
gestões de Paulo Pimentel, Ney Braga e Hosken de Novais foi líder do governo na
Assembleia (LAIBIDA, 2014, p.13). Destaca‐se a continuidade no poder político e
econômico deste agente em Curitiba e no Paraná.

18 http://www.alep.pr.gov.br/a_assembleia/galeria_de_presidentes
Pág. 50 Memória Política de Curitiba

Presidentes da Câmara Municipal de Curitiba na quinta legislatura pós‐


redemocratização

A quinta legislatura da Câmara Municipal de Curitiba no período pós‐
redemocratização foi eleita no ano de 1963. O Presidente da Câmara Municipal de
Curitiba em 1964 foi Elias Karam, nascido em 1902, na cidade de Curitiba. Com
formação em Direito, exerceu as profissões de advogado, professor, jornalista e
escritor, publicando diversas obras (GALERIA CMC). Em 1951, foi eleito vereador
de Curitiba pela UDN, sendo reeleito pelo mesmo partido nas eleições de 1955,
1959 e 1963 (TRE‐ PR). Foi ministro do Tribunal de Contas do Estado no governo
Paulo Pimentel (GALERIA CMC). Trata‐se de um presidente da Câmara dos
Vereadores que, juntamente com Felipe Aristides Simão e Erondy Silvério,
manteve‐se em altos cargos da política curitibana e paranaense após o golpe de
1964. Outros presidentes da Câmara dos Vereadores, visualizados neste artigo,
não obtiveram tal êxito de continuidade de seus capitais políticos.


CONSIDERAÇÕES FINAIS

Neste trabalho tentamos introduzir uma análise dos capitais políticos que
os presidentes da Câmara Municipal de Curitiba possuíam para ocupar tal
posição no período pós‐redemocratização, caracterizado pela efervescência das
eleições para o legislativo municipal após anos de proibição das mesmas durante
o Estado Novo. Concluímos que os capitais decisivos para ocupar altas posições
nesta instituição durante o período referem‐se ao pertencimento à famílias
tradicionais que comandam o Paraná há longa data (OLIVEIRA, 2000), bem como
uma destacada atuação partidária junto aos diretórios municipais, associando o
nome do político à legenda que o mesmo pertencia, o pertencimento aos órgãos
Pág. 51 Memória Política de Curitiba

de representação de classe, o relacionamento com os prefeitos de Curitiba e a


ação política desempenhada pelos vereadores no município. Tais estudos sobre o
legislativo requerem maiores análises por parte dos pesquisadores e demais
interessados no poder político municipal.



REFERÊNCIAS

BOURDIEU, Pierre. “O campo político”. In Revista Brasileira de Ciência Política,
n°5, Brasília, jan‐jul de 2011, pp.193‐216.

BOURDIEU, Pierre. O poder simbólico. Rio de Janeiro, Bertrand Brasil; Lisboa,
DIFEL, 1989.

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em: https://www.cmc.pr.gov.br/galeria_pres.php

IPARDES. Resultados Eleitorais no Paraná: 1945‐1982. Curitiba: IPARDES, 1987

GRANATO, Natália Cristina. O campo político paranaense no contexto do golpe
de 1964 e suas lutas políticas. Dissertação. Mestrado em Sociologia.
Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2016. Orientador: Prof. Dr. Ricardo
Costa de Oliveira.

GRANATO, Natália Cristina. PTB, Ministério do Trabalho e Governo João
Goulart: a trajetória política de Amaury de Oliveira e Silva. Monografia.
Graduação em Ciências Sociais. Universidade Federal do Paraná, 2013.
Orientador: Prof. Dr. Ricardo Costa de Oliveira.

LAIBIDA, Luiz Demétrio Janz. Futebol, poder e genealogia: a tríade estruturante da
doxa do campo futebolístico de Curitiba. Anais do V Seminário Nacional
Sociologia & Política 14, 15 e 16 de maio de 2014, Universidade Federal do Paraná,
Curitiba – PR. Disponível
em:http://www.humanas.ufpr.br/portal/seminariosociologiapolitica/files/2014
/08/24344_1397478225.pdf

Pág. 52 Memória Política de Curitiba

MUNHOZ DA ROCHA, Flora Camargo. Entre sem bater‐ memórias. Curitiba:


Governo do Paraná, Secretaria de Estado da Cultura, 1988.

NEGRÃO, Francisco. Genealogia Paranaense. Curitiba: Imprensa Oficial, 2004.
OLIVEIRA, Ricardo Costa de. O silêncio das genealogias: classe dominante e estado
no
Paraná (1853‐1930). Tese. Doutorado em Ciências Sociais. Universidade Estadual
de Campinas, 2000.

PREFEITURA DE CURITIBA. Relação de Prefeitos de Curitiba. Disponível em
http://www.curitiba.pr.gov.br/conteudo/relacao‐dos‐prefeitos‐de‐curitiba/4

SESC PARANÁ. Prédio do Paço da Liberdade comemora 100 anos de história.
Disponível em: http://www.sescpr.com.br/2016/02/predio‐do‐paco‐da‐
liberdade‐comemora‐100‐anos‐de‐historia/

SOARES, Gláucio Ary Dillon. A democracia interrompida. Rio de Janeiro: Editora
da FGV, 2001.

TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL DO PARANÁ. Resultados de eleições
municipais TRE‐PR. Disponível em: http://www.tre‐
pr.jus.br/eleicoes/resultados/resultados‐de‐eleicoes‐municipais‐tre‐pr .



Periódicos pesquisados na Hemeroteca Digital Brasileira

CORREIO DO PARANÁ
DIÁRIO DO PARANÁ
ÚLTIMA HORA

Pág. 53 Memória Política de Curitiba

Por que Curitiba esqueceu Ernesto Guaita?


João Cândido Martins de Oliveira Santos19





Resumo: O presente trabalho se propõe a trazer alguns dados biográficos sobre Ernesto Guaita,
engenheiro italiano que morou em Curitiba na virada do século XIX para o XX. Algumas das
construções mais marcantes do período foram de sua autoria e ainda pontuam a paisagem da
cidade. Ele também foi autor do primeiro planejamento urbano levado a efeito: o “Plano Nova
Corityba”, de 1885. Apesar disso, sua biografia é repleta de lacunas e as informações são
escassas. Às vésperas de se completar 100 anos de sua morte, pouco ou nada se sabe sobre
Guaita, portanto este trabalho visa formular um breve panorama sobre sua vida.




Palavras‐chave: Ernesto Guaita. Curitiba. Câmara. Construções. Plano.





19 João Cândido Martins de Oliveira Santos, bacharel em direito pela Faculdade de Direito de

Curitiba – Centro Universitário Curitiba (Unicuritiba) e bacharel em comunicação pela


Universidade Tuiuti do Paraná (UTP). Atua como jornalista na Diretoria de Comunicação da
Câmara. E‐mail: joaocandido1973@gmail.com
Pág. 54 Memória Política de Curitiba

INTRODUÇÃO

Por que Curitiba esqueceu Ernesto Guaita? Na iminência da passagem
dos 100 anos de sua morte, Curitiba desconhece o engenheiro italiano que por
41 anos (1875‐1916) deixou as marcas de sua presença no desenho da cidade e
em construções que até hoje permanecem como registros do seu legado. O que
teria motivado o quase total silêncio em torno do seu nome? O que justificaria a
pouca quantidade de informações sobre sua vida pessoal e profissional?
Quando chegou a Curitiba, Ernesto Guaita encontrou uma cidade com
pouco mais de 11 mil habitantes (distribuídos pelo núcleo urbano e pelas
chácaras do entorno) (IBGE, 2010). Apesar de algumas construções de maior
relevo (como a Santa Casa de Misericórdia inaugurada naquele ano), a capital
do estado assemelhava‐se a um vilarejo. A falta de estradas era apenas uma das
precariedades que impediam o crescimento de Curitiba. Quando Guaita morreu
em 1916, a situação era diferente. A cidade já contava com 60 mil habitantes,
bondes elétricos, serviço de telefonia e “carros‐de‐praça” (táxis) que utilizavam
ruas anteriormente intransitáveis.
Esse texto – resultado de uma pesquisa de quatro anos ‐ busca reunir o
maior número de dados sobre Ernesto Guaita e, de forma sistemática, dispô‐los
cronologicamente. Conhecer sua trajetória pode ser de muito auxílio para o
entendimento das transformações vividas por Curitiba na virada do século XIX
para o XX, pois Guaita foi agente ativo em muitas delas.


Origens e chegada ao Brasil

Sobre as origens de Ernesto Guaita na Itália (1843‐1874), praticamente
nada se sabe. Poucos textos fazem referência a esse período. Um deles é o do
Pág. 55 Memória Política de Curitiba

professor Newton Isaac da Silva Carneiro (1914‐1987), contido no Boletim da


Casa Romário Martins nº 23, publicado em 1978. De acordo com Carneiro, o
italiano Ernesto Guaita teria nascido na cidade de Turim (Piemonte), em 4 de
fevereiro de 1843. Formou‐se em engenharia militar pela Real Academia Militar
de Turim e chegou a ser condecorado com a medalha da Emancipação Italiana
em 1867. Ainda de acordo com Carneiro, Guaita desligou‐se do exército em
1870 (CARNEIRO, 1978). Este último fato (que teria acontecido em 4 de agosto
daquele ano) está também registrado no jornal italiano Gazetta Ufficiale, de 25
de agosto de 1870.
Também o arquiteto e memorialista João de Mio escreveu sobre este
período inicial de Ernesto Guaita. Ele mencionou fatos da vida do engenheiro
em um texto publicado em 1956 pelo Boletim do Instituto Histórico e
Geográfico do Paraná. Oito anos depois, foi aprovada a lei municipal (2.433/64)
que autorizava o poder Executivo a denominar um logradouro como
“Engenheiro Ernesto Guaita”. Durante as discussões desse projeto, João de Mio
endereçou duas cartas à Câmara Municipal com o intuito de prestar subsídios
sobre o engenheiro, de quem se dizia uma espécie de discípulo. A primeira das
cartas se perdeu, mas a segunda permanece guardada na seção de Arquivo e
Documentação Histórica da Câmara Municipal de Curitiba. Trechos deste
documento serão mencionados ao longo da presente pesquisa.
Ernesto Guaita chegou ao Brasil, de acordo com Newton Carneiro, numa
missão de caráter científico (ele não especificou qual seria a missão ou quanto
tempo ela duraria). O jornal O Globo de 18 de novembro de 1874 em sua
primeira página realmente traz a chegada de um Ernesto Guaita ao porto do Rio
de Janeiro, proveniente do porto de Marselha, na França (O GLOBO, 1874). Ele
estava acompanhado por sua esposa, cujo nome não é mencionado.
Na semana posterior, o casal Guaita se dirigiu ao sul e, nos dois anos
seguintes, Ernesto Guaita transitou entre o Rio de Janeiro e Paranaguá. Numa
Pág. 56 Memória Política de Curitiba

dessas viagens (O GLOBO, 1875), veio acompanhado pelo amigo italiano


Ludovicco Taddei (que viria a ter extrema importância em sua vida).

Revolta em Nova Itália

No início de 1877, Guaita era um dos agrimensores nomeados para atuar


na Colônia Nova Itália, em Morretes (O GLOBO, 1877). O local era administrado
pelo governo da província e, como todas as demais colônias de imigrantes, foi
planejado para o fornecimento de lotes, alimentação e uma ajuda de custo
temporária ao colono e sua família. A coordenação local da colônia Nova Itália
era feita a partir de um escritório dirigido pelo engenheiro Luis Azambuja
Parigot, que era auxiliado por Guaita e um outro assistente (praticante) de
nome Fumagalli.

Eles estavam sujeitos à fiscalização do inspetor de imigração que era,


naquele momento, o ex‐presidente da província Aphonso Lamenha Lins, famoso
justamente por suas políticas imigratórias. Lins era visto por alguns como
inovador, pois em seus relatórios presidenciais, alertava, entre outros fatores,
sobre a necessidade de dispor as colônias em locais próximos a estradas que
serviriam como canais de escoamento da produção rural (POLINARSKI, 2008, p.
30). Morretes era sua sede e ali ele participou da implantação de um engenho
de cana de açúcar nas proximidades da Colônia Nova Itália. O local foi
denominado Engenho Central.

Mas, a exemplo da Colônia Alexandra, criada anteriormente, a situação


da Colônia Nova Itália não era promissora, conforme lembram Antônio Sérgio
Palú Filho e Susete Moletta:


Pág. 57 Memória Política de Curitiba

Por muito tempo o dinheiro prometido como sustento demorou em


chegar e, sem reservas financeiras, muitos mendigavam nas casas em
busca de algo para comer. (...) Centenas de doentes e apenas um
hospital na região com 12 leitos. (...) mais de 800 famílias estavam
nas hospedarias ou barracões, algumas dela há 8 meses, desde a
fundação da colônia. Para o mês de março de 1878 estava prevista a
preparação de 150 lotes e 3 mil pessoas continuavam nos barracões.
(FILHO & MOLETTA, 2012, p. 135, 137, 139 e 140).

Em ofício do dia 16 de dezembro de 1877, Lamenha Lins, inspetor de


colonização, dirigindo‐se ao presidente da província, promove acusações contra
os funcionários do escritório da colônia Nova Itália. De acordo com ele, os
engenheiros Azambuja Parigot e Ernesto Guaita haviam incorrido nas seguintes
irregularidades: teriam admitido mensurações erradas por parte dos
agrimensores; teriam efetuado pagamentos indevidos de empreitadas a
feitores; teriam beneficiado famílias que receberam valores exorbitantes;
teriam explorado trabalho infantil; seriam responsáveis pela ausência de
documentos como recibos, livro‐caixa, lista dos colonos e datas dos
recebimentos dos lotes; teriam efetuado pagamento de gratificações indevidas e
pagamento de alimentação a falecidos.

Em uma carta publicada pelo jornal A Reforma nos dias 8 e 9 de março


de 1878, Parigot refuta cabalmente todas as acusações e tenta explicar os fatos.
Diz ele que Lamenha Lins foi relapso em suas atribuições como inspetor chefe:
além de não responder a nenhum dos ofícios encaminhados por Parigot, não
compareceu ao escritório para as habituais averiguações (A REFORMA, 1878).
Mas tudo indica que o principal ponto de discórdia se deu quando Parigot
denunciou o fato de que o agrimensor Evaristo Cícero de Moraes prestava
serviços de natureza particular no engenho de açúcar encabeçado por Lamenha
Lins, mas recebia pela folha de pagamento da Colônia Nova Itália. Essa denúncia
também é mencionada no texto Lamenha Lins e o Engenho Central de Morretes,
publicado no Boletim do Instituto Histórico, Geográfico e Etnográfico
Pág. 58 Memória Política de Curitiba

Paranaense, Volume XLIX (SANTOS, 1995). Em sua carta publicada no jornal A


Reforma, Parigot relata que:

(...) Quando fiz vêr a impropriedade do facto de estar o agrimensor


Evaristo Cícero de Moraes, empregado da comissão, a trabalhar para
a empresa na direção das obras do engenho central, taes como a
edificação do chalet destinado à residência do dr, Lamenha e a
reedificação do Engenho, o Inspector tomou a si a responsabilidade
deste escândalo, dizendo‐me que este empregado ficava adido a sua
pessoa, como seu secretário, continuando então este indivíduo a
trabalhar no Engenho. (A Reforma, 1878, p. 3)

As acusações de Lamenha contra Parigot e Guaita se deram,


aparentemente, em função dos fatos ocorridos na semana anterior (dia 7 de
dezembro), quando um numeroso grupo de colonos promoveu um levante em
favor dos empregados do escritório. Portando uma bandeira com os dizeres
“QUEREMOS PARIGOT! QUEREMOS GUAITA! FORA LAMENHA LINS!” e dizendo‐
se armados, os revoltosos cercaram o prédio do escritório. De acordo com Filho
e Moletta, muitos faziam parte do grupo conhecido como “a turma do padre
Cavalli”, referência ao padre Ângelo Cavalli, que foi responsável pela imigração
de 400 famílias e, posteriormente, seria um dos fundadores da Colônia Alfredo
Chaves (Colombo) (FILHO e MOLETTA, 2012). O jornal A Reforma, que publicou
três matérias (anti‐Lamenha) sobre os fatos do dia 7, sugeriu que o levante teve
de 200 a 300 participantes.

Está tudo em paz e harmonia; ninguém morreu, felizmente; nem


houve um só ferido: apenas o porta‐bandeira vai ser, ou a esta hora já
foi enviado à enxovia de Paranaguá, segundo no informa um dos
oráculos da situação na qualidade de prisioneiro de guerra. Coitado!
Por onde havia a corda de quebrar! E, no entanto, talvez seja ele
mesmo culpado. O certo é que não nos podemos convencer da
possibilidade de uma revolta na qual tendo tomado parte 200 ou 300
indivíduos, só aparece um culpado (A Reforma, 1877, p.3).
Pág. 59 Memória Política de Curitiba

Parigot, em sua carta de explicações de fevereiro do ano seguinte nega


qualquer envolvimento com o acontecido. Se essa foi sua atitude, o mesmo não
se pode dizer de Guaita. De acordo com o autor italiano Renzo Grosseli (apud
FILHO e MOLETTA, 2012), no calor dos eventos, Guaita teria intimado o
agrimensor Evaristo para um duelo, com o objetivo de “lavar sua honra”. Não há
notícias de que o confronto tenha acontecido. Apesar disso, a revolta teve
alguma repercussão, considerando que a exoneração de Guaita foi noticiada até
pelo jornal Correio da Bahia, em 12 de dezembro de 1877.

O Novo Tyrol

No ano seguinte, Guaita estava na nascente colônia Santa Maria do Novo


Tyrol da Boca da Serra, em Piraquara (a alguns quilômetros de Morretes).
Formada por imigrantes tiroleses que não quiseram se instalar na colônia
Alfredo Chaves (Colombo), o Novo Tirol era constituído por um pequeno núcleo
urbano e por 66 lotes rurais. O local existe até hoje, nas proximidades da BR
277.

Guaita passou a ter alguma proeminência junto aos tiroleses. Além de


subscrever vários ofícios ao governo da província solicitando melhorias para a
colônia, foi também o autor da planta do núcleo urbano:

Colonia Novo Tyrol – Esta colônia fundada em agosto do corrente


anno até o fim de dezembro será emancipada atento o seu grau de
prosperidade. Affastando‐se do systema até então seguido, o Exmo
Sr. Dr. Presidente da província, considerando as vantagens que
resultam do estabelecimento dos colonos em condições de formarem
o núcleo de uma povoação regular, ordenou que nesta e na colônia
Alfredo Chaves fossem os lotes rústicos separados dos urbanos,
constituindo estes uma villa. D’este modo o Novo Tyrol é hoje uma
Pág. 60 Memória Política de Curitiba

pequena villa de aspecto agradável e perfeitamente situada. (...) Na


praça Tavares bastos, a principal, estam colocados os edifícios da
administração, da escola e as grandes casas dos colonos Guaita e
Turra, reservado o logar em que deve ser levantada a igreja. (A
Reforma, 1878, p. 3)

De acordo com a pesquisadora Elaine Cátia Falcade Maschio, nesse


período Guaita teria solicitado ao governo da província 100 hectares para
desenvolver o cultivo do bicho da seda na colônia. Ela menciona um trecho do
requerimento:

Na introdução de novas plantações, aconselhar os colonos o melhor


sistema de usufructar o terreno, os amendamenctos chlinicos e
mecânicos próprios a melhorar a qualidade do terreno, convidar elles
a criação do bicho da seda, a cultivação da parreira e das plantas
texteis, e á fabricação dos productos que tem affinidade com a
agricultura. (Departamento Estadual de Arquivo Público do Paraná.
Requerimento. Livro 0558, 1878, p. 17 apud Maschio, 2012, p. 63).

Maschio informa que o governo deferiu o pedido, pois a colônia continha


elevada extensão de terras. A pesquisadora Lorena de Pauli Cordeiro em sua
pesquisa “Uma história ambiental dos mananciais da Serra do Mar – o
abastecimento de água para Curitiba (1870‐1920)” sustenta que “nenhum
documento ou história oral fala qualquer coisa da produção do bicho da seda,
em Novo Tirol ou arredores. Os 100 hectares foram concedidos pela província
ao engenheiro Guaita, mas não se sabe onde ficavam essas terras” (CORDEIRO,
2008).

Antonio Tomaz e Ariel Thomaz, autores do livro “Colônia Imperial Santa


Maria do Novo Tyral da Boca da Serra”, acreditam que Guaita teria outras
motivações. Para eles, o engenheiro foi o responsável pelo desvio da rota da
estrada de ferro, para que esta passasse pelos 100 hectares recém‐adquiridos
(TOMAZ & THOMAZ, 1998). A tese é corroborada por João de Mio em texto
Pág. 61 Memória Política de Curitiba

publicado pelo Instituto Histórico e Geográfico, em 1956. O desvio (que não


constava nos planos originais), obrigou à realização do túnel de Roça Nova, o
maior em extensão da estrada.


A estrada de Ferro

A construção da estrada de ferro Paranaguá‐Curitiba foi determinante
para que Curitiba se desenvolvesse. A estrada facilitou o transporte da erva‐
mate produzida no planalto para o litoral, fato que dinamizou os negócios e
atraiu investidores. A obra foi uma epopeia que envolveu milhares de
trabalhadores sendo que muitos deles morreram vítimas de acidentes e
doenças. Sua execução teve início em 1880, quando a primeira equipe foi
designada sob o comando do italiano comendador Antonio Ferrucci,
De acordo com o engenheiro civil Camilo Borges Neto, autor do “Manual
Didático de Ferrovias”, o comendador Ferrucci participou da construção de
diversas linhas ferroviárias na Itália como, por exemplo, o trecho Bologna‐
Ancona‐Roma. Ele também trabalhou na construção do Canal de Suez, no Egito
(NETO, 2012). Ernesto Guaita integrava essa primeira equipe de profissionais‐
técnicos da estrada de ferro (foi registrado como agrimensor) e trabalhou na
estrada durante menos de um ano: de 1º de março de 1880 a 31 de janeiro de
1881 (CINCOENTENÁRIO DA ESTRADA DE FERRO, 1935).
A participação dos italianos na construção dessa estrada é polêmica. Há
defensores da ideia de que eles fizeram uma parcela considerável da obra, o que
teria facilitado a conclusão pelas equipes comandadas pelo brasileiro Teixeira
Soares. É o que diz, por exemplo, Edilberto Trevisan:

Sob Ferrucci, ainda se estudava a melhor via de entrada no planalto
da ferrovia, cabendo‐lhe a responsabilidade pelo traçado que foi
adotado. Mesmo porque os serviços de construção civil, que se
Pág. 62 Memória Política de Curitiba

sucederam aos de locação da linha, foram atacados em toda a


extensão, de Paranaguá a Curitiba. Quando Teixeira Soares assumiu a
direção dos serviços, em janeiro de 82, encontrou toda a estrada
locada, com os canteiros de obras ao longo e todo o trajeto. (REVISTA
DO CÍRCULO BANDEIRANTES – nº 5, 1991, ps. 49 e 50)

Da mesma forma, o jornal “L'Italia” (publicado no Rio de Janeiro), por
ocasião das comemorações da inauguração da estrada de ferro Paranaguá‐
Curitiba, reclamou em 28 de março de 1885 do descaso em relação ao empenho
dos italianos nas obras. Para o jornal, não se estava dando o devido crédito aos
imigrantes italianos que participaram – ainda que de forma breve – da
construção da ferrovia. O exemplo citado é justamente o do engenheiro Ernesto
Guaita. De acordo com o jornal, ele teria sido o principal projetista do viaduto
Presidente Carvalho – o de realização mais complexa em toda a estrada (l’Italia,
1885). Conforme descreve Camilo Borges Neto no Manual Didático de
Ferrovias,

O viaduto tem 84 m de comprimento, com 6 vãos de 12 e 16 m,
apoiados em 5 pilares de alvenaria de pedra, precisou de 3.253 m 3
de alvenaria e 442 t de aço, para sua construção e foi executado por
empreitada pela empresa do engenheiro português Joaquim
Condessa. (NETO, 2012, p. 13)


Passeio Público e Catedral

A precoce morte do amigo Ludovico Taddei (em função de uma doença)
se deu em 2 de setembro de 1884 (GAZETA PARANAENSE, 1884). Ela
representou uma breve ascensão social e profissional para Ernesto Guaita, que
passou a ocupar os cargos antes exercidos por Taddei: agente consular da Itália
e engenheiro da Câmara Municipal de Curitiba (Guaita foi nomeado no mesmo
dia do óbito). Tais funções o colocaram em evidência, mas antes disso, Guaita já
tinha a atenção do público curitibano. É o que se depreende da leitura dessa
Pág. 63 Memória Política de Curitiba

nota sobre as condições da estrada da Graciosa publicada pelo jornal Gazeta


Paranaense alguns meses antes da morte de Taddei:

“O (Gotlieb) Willand e o Ernesto Guaita definem assim a Estrada da
Graciosa: “um monstro lamacento, medonho, voraz, afetando as
dobras convulsivas e espiraladas de horrendo dragão, cujas patas
repousam em Antonina e cuja língua ardente e chamejante carboniza,
destrói, aniquila tudo que encontra no percurso de 80 Km, rumo a
Curitiba” (GAZETA PARANAENSE, 1884, p. 2)

Quando Ernesto Guaita se tornou engenheiro da Câmara Municipal, a
figura do profissional com embasamento técnico ganhava valorização. De
acordo com Aparecida Vaz da Silva Bahls, na pesquisa “O verde na metrópole: a
evolução das praças e jardins em Curitiba (1885‐1916)”, até então os serviços
como demarcação de terras e emissão de licenças para construir ou reformar
eram realizados por leigos conhecidos como “pilotos” ou “arruadores”. Para
Bahls,

(...) a cientificidade atribuída ao engenheiro dava‐lhe um caráter de
neutralidade diante das questões urbanas. Mais do que melhorias
pontuais, a sociedade que se afirmava sobre a economia ervateira
desejava grandes obras, que retirassem de Curitiba aquela feição de
aldeia, para as quais a atuação de engenheiro era considerada
indispensável. (BAHLS, 1998, p. 103)


Uma das primeiras atividades de Guaita enquanto engenheiro da Câmara
foi a intervenção no banhado que depois viria a ser conhecido como Passeio
Público. É o que conta o construtor e memorialista João de Mio em uma carta de
1964 dirigida à Câmara (quando se postulou o nome de Guaita para a
denominação de uma rua). De acordo com João de Mio, essa primeira ação no
Passeio foi feita por Guaita e sua equipe.

(...) Em 1885, por autorização da Câmara Municipal, (Guaita) fez os
estudos para um Passeio Público, o atual, tendo como cooperadores o
Pág. 64 Memória Política de Curitiba

industrial italiano Francisco Fasce Fontana e o então presidente da


província o Visconde de Taunay, do qual era amigo. (...) Para aqueles
trabalhos, Guaita trouxe do Bigorrilho, onde morava, uma turma de
seus compatriotas pois o local naquela época era povoado por umas
30 famílias italianas, as quais conheci todas. Com aqueles esforçados
trabalhadores foram escavados os canais, formadas as ilhotas e tudo
o mais. Tanto pronto o logradouro do qual Curitiba orgulha‐se de
possuir. (MIO, 1964)

Essa informação é curiosa, pois quando se fala na construção do Passeio
Público, o nome mais citado pelos pesquisadores é o do engenheiro Giovani
Lazzarini. Também italiano e também egresso das atividades na estrada de
ferro Paranaguá‐Curitiba, Lazzarini ficaria famoso pelos trabalhos feitos na
Mansão das Rosas (propriedade de Francisco Fasce Fontana situada no
Boulevard 2 de julho, que viria a ser a avenida João Gualberto). Anos depois,
Lazzarini seria responsável pela conclusão das obras da igreja‐matriz, em
substituição a Guaita e ao engenheiro Rodolpho Pao‐Brazil (que entraram numa
severa polêmica, como se verá mais adiante).
A construção da nova igreja‐matriz começou em 1875, mas seu projeto
inicial não prosperou. Novo planejamento foi aprovado, desta vez, de autoria de
Afonso Conde Dês Plas, engenheiro francês. Este novo projeto foi adaptado por
Luigi Pucci (que se destacou na construção do Museu Paulista). Os três estudos
apresentados por Pucci foram posteriormente modificados por Ernesto Guaita
que “executou novas plantas, em que os defeitos do plano anterior foram
eliminados e a planta refundida em outra”, diz a pesquisadora Suzelle Rizzi na
dissertação “Cândido de Abreu e a arquitetura de Curitiba ‐ 1897‐1916” (RIZZI,
2003).
Guaita realçou as características góticas da nova igreja, mas ele não chegou a
implantar as mudanças. Sua permanência à frente das obras da matriz não
excedeu quatro meses. De acordo com Ruy Christovam Wachowicz em “As
Moradas da Senhora da Luz”,

Pág. 65 Memória Política de Curitiba

(Guaita) foi acolhido como preposto para modificar o projeto Pucci.


Acontece que Guaita negou‐se a fazê‐lo, por escrúpulos morais e
profissionais. Com sarcasmo, escreveu: ‘não me julgo competente
para modificar um projeto do Sr. Pucci, não me atrevo a fazê‐lo’ A
questão foi parar na imprensa. Um artigo assinado por um tal ‘Zero’
(seria o engenheiro Pau Brasil?), acusou Guaita de incompetência.
Guaita respondeu que se soubesse que um dia iria dirigir a
construção da matriz de Curitiba, não teria estudado numa Academia
Militar da Itália, e sim na Escola de Engenharia do Rio e Janeiro. (...)
Guaita terminou sua defesa no jornal afirmando que ‘Deveria me
assinar por um Duplo Zero, mas costumo assinar sempre – Guaita’.
(WACHOWICZ, 1993, p. 51 e 52)


O Plano Nova Corityba

Ainda dentro das atividades como engenheiro da Câmara, Guaita realizou
o primeiro plano de arruamento, bem como o primeiro cadastro da cidade e do
rocio (regiões do entorno). Algumas coordenadas haviam sido propostas pelo
francês Pierre Taulois, em 1857, mas nunca saíram do papel. O plano de Guaita
foi, de fato, a primeira intervenção urbana de larga escala efetuada em Curitiba.
Durante quase duzentos anos, o tamanho do núcleo urbano central da
cidade se manteve praticamente inalterado. Em direção ao sul, por exemplo, o
casario se estendia somente até o descampado onde hoje é a praça Carlos
Gomes. Tal situação mudou com a construção, em 1880, da estação ferroviária,
a 800 metros de distância da praça do mercado (atual praça Generoso
Marques). Isso criou a necessidade de se povoar a área ociosa entre o núcleo e a
estação.
Tomando por base a rua da Lyberdade (futura Barão do Rio Branco),
Guaita traçou paralelas e perpendiculares estabelecendo uma malha xadrez de
ruas e quadras. Esse projeto ficou conhecido como “Nova Corityba” (CADORE,
2010). Para o arquiteto e historiador Iran Dudeque em seu livro “Cidade sem
véus”,

Pág. 66 Memória Política de Curitiba

Os curitibanos entenderiam depois que em uma área vazia entre o


que a cidade era e o que se propunha a ser, tornava‐se possível
esculpir no vazio e com material de construção, um cenário, uma
mentalidade e um sonho de ‘modernidade’ que teriam seu ponto
focante e focal na estação ferroviária. Na vastidão de oitocentos
metros era possível a Curitiba moldar seu orgulho em uma rua longa,
larga, bem iluminada e pavimentada. (DUDEQUE, 1995, p. 131)


A rua da Lyberdade ‐ larga e bem iluminada aos moldes das amplas ruas
parisienses do prefeito Haussmann – se tornou o cartão de visitas de Curitiba, a
primeira paisagem com a qual se deparava o visitante que saía da estação. Essa
situação estratégica aqueceu o comércio da região e fez com que vários prédios
da administração pública fossem instalados ao longo da rua, tornando‐a
conhecida como ‘rua do poder’. Marcelo Saldanha Sutil destaca uma
correspondência enviada por Guaita para a Câmara em 26 de fevereiro de 1885,
que tratava do cadastro (e que continha expressões comuns nos documentos da
época como “ofensa à estética” e “respeito à simetria”):

Em construção sucede que em outras partes se devam abrir ruas que
ainda não estão entregues ao trânsito. Em relação a estas, para que se
deve entregar ao trânsito o prolongamento da rua conhecida por
"Viaduto" ou Schimidlin (João Negrão), bem como se deve abrir a rua
projetada entre o extremo leste do Largo da Estação e a rua da
Misericórdia, onde precisa desapropriar Francisco Antônio Ribeiro,
que ali tem uma casa e benfeitoria de pouco valor. Deixando como
está, fica o Largo da Estação sem a precisa simetria e com ofensa à
estética. (...) (ATAS, 26.fev.1885 apud SUTIL, 1996, p. 128)

O Plano Nova Corityba não tinha a metodologia dos planejamentos
urbanos que foram implantados em décadas posteriores, como foi o caso do
Plano Agache, em 1943, e dos demais “planos diretores”, contudo ele foi
importante como estágio embrionário das potencialidades que a cidade
posteriormente mostrou.


Pág. 67 Memória Política de Curitiba

Atrito com o padre Colbacchini

A credibilidade de Guaita estava em alta em 1887, quando ele foi


convidado a desenhar a planta da sociedade italiana Giuseppe Garibaldi. O local
escolhido foi um terreno no Alto São Francisco, cedido pela Câmara Municipal. A
Sociedade Garibaldi era classificada como de “mútuo socorro”, isto é, tratava‐se
de uma entidade que se propunha a garantir a manutenção financeira dos
sócios em casos de doenças, avanço da idade e impossibilidade para o trabalho.

É o que conta Elaine Cátia Falcade Maschio, autora da tese de doutorado


“A escolarização dos imigrantes e de seus descendentes nas colônias italianas
de Curitiba: entre táticas e estratégias de Italianità e Brasilità (1875‐1930)”,
Este estudo traz informações bastante específicas sobre a Sociedade Garibaldi
(Societá Italiana di Mutuo Soccorso Giuseppe Garibaldi). Além dessas atividades,
a Sociedade Garibaldi também pretendia estabelecer uma escola (Scuola Regina
Margherita) para atender filhos de italianos e brasileiros, aplicando os
ensinamentos recomendados pelo governo italiano pós unificação, isto é, os
princípios que norteavam a nova “italianità” (ensino laico e liberal).

A população estrangeira atendida pelas primeiras associações de


mútuo socorro era formada por famílias fixadas no centro da cidade
que representavam uma parcela da elite italiana emigrada. Estavam
vinculadas aos interesses na difusão da “italianità” promovida pelo
governo italiano, e preocupavam‐se em promover a cultura italiana.
As associações compartilhavam dos ideais nacionalistas para afirmar
o reconhecimento identitário, mantinham contatos com os agentes
consulares, realizavam frequentes viagens à Itália e movimentavam a
vida social e cultural da cidade. (MASCHIO, 2012, p. 258)

A “italianità” da elite que habitava o centro de Curitiba não correspondia


à “italianità ” dos imigrantes que viviam nas colônias agrícolas do entorno da
Pág. 68 Memória Política de Curitiba

cidade. Como lembra Maschio, os colonos agricultores não falavam o italiano


oficial, não cultuavam nomes como o Conde Cavour ou Garibaldi, não
comemoravam as datas cívicas instituídas após a unificação, não mantinham
contatos com a Itália e dificilmente conheciam representantes do estado
italiano. Para eles, importavam:

Aspectos relacionados às tradições familiares, às devoções religiosas


materializadas nos símbolos religiosos (quadros dos santos,
devocionários e orações conservadas de geração em geração em
imagens religiosas) que os acompanhavam durante toda a viagem.
(...) a “italianità” que buscavam preservar não era aquela forjada pelo
Estado Italiano que exalta os heróis da Unificação e ao comemorar
datas cívicas tentava inculcar o sentimento de consciência nacional
unitária. Os colonos estimavam manter vivos os costumes italianos e
a moral católica, ambos advindos do fazer cotidiano e cultivados no
interior das comunidades agrícolas de origem. (Idem p. 260)

Neste contexto, surge a figura de Pietro Colbacchini, sacerdote que


pertencia à ordem religiosa scalabriana e que se tornou uma liderança nas
colônias agrícolas de Curitiba. Lembrado por sua participação no
desenvolvimento inicial das colônias, o padre Colbacchini também ficou famoso
pela forma rígida com a qual defendia suas convicções. Maschio destaca que:

Segundo diversos autores que estudaram as missões scalabrianas nas


colônias italianas do sul do Brasil, o pensamento conservador e
autoritário do padre Pietro Colbacchini se apresentava claramente
nas suas homilias e sermões. As falas do religioso sempre enérgicas,
denunciavam atitudes, comportamentos e ideias contrárias à sua fé.
(Idem, p. 265)

Sua devoção à Cúria Romana era maior até do que sua ligação com a
Ordem Scalabriana. Isso explica a acirrada oposição que promoveu às escolas
laicas (caso da Scuola Regina Margherita). Entre outras acusações, ele disse que
Pág. 69 Memória Política de Curitiba

a sociedade Garibaldi era, na verdade, uma instituição maçônica. Maschio


lembra que por sua formação jesuítica, Colbacchini representava a vertente
conservadora da igreja católica: o “ultramontanismo”. Para o padre, de acordo
com Maschio, expressões como “maçom”, “liberal” e “anarquista” tinham o
mesmo significado.

No dia 30 de julho de 1887, data da inauguração da pedra fundamental


da sede da Sociedade Garibaldi, um dos discursos foi proferido por Ernesto
Guaita. Nele, o engenheiro piemontês citou indiretamente o padre Colbacchini:

Não posso deixar nessa circunstância de deplorar como haja de


passagem sobre o horizonte de Curitiba uma nefasta ave noctívaga,
que com perfídia jesuítica abusando da influência que exerce sobre a
ignorância, procura atravessar o desenvolvimento da Sociedade
Garibaldi, acusando‐a de maçônica e afastando dela os que mais
precisam de instrução. (GAZETA PARANAENSE, 1887, p. 2)

A resposta não tardou. No dia 11 de agosto, o mesmo jornal Gazeta


Paranaense publica um Protesto em favor do padre Colbacchini e contrário a
Guaita. O texto era complementado por centenas de assinaturas de imigrantes
sediados nas colônias agrícolas.

Os abaixo assignados italianos estabelecidos nas colônias dos


municípios da Capital, São José dos Pinhais e Campo Largo nesta
província, tendo notícia de haver o seu compatriota o senhor Ernesto
Guaita feito alusões ofensivas e manifestamente injustas e
apaixonadas ao muito respeitável missionário apostólico, o senhor
padre Pietro Colbacchini, em um discurso que pronunciou no dia 30
de julho passado, por ocasião de ser lançada a primeira pedra do
edifício da escola italiana, cuja construção promove nesta cidade a
sociedade Giuseppe Garibaldi, vem cumprir o dever de protestar
contra tão irregular procedimento do dito compatriota que de
nenhum modo exprime os sentimentos dos abaixo‐assignados, que
estão acostumados a respeitar o padre Colbacchini. (GAZETA
PARANAENSE, 1887, p. 2)
Pág. 70 Memória Política de Curitiba


No dia 21 de agosto, a Gazeta Paranaense publicou um contraprotesto.
Nele os signatários diziam terem sido enganados pelos colonos que recolheram
as assinaturas do primeiro protesto. De acordo com os contraprotestantes, foi‐
lhes informado enganosamente que a primeira lista seria uma espécie de
pesquisa para saber quantos imigrantes pertenciam à fé católica.

Apezar de algumas centenas de assignaturas para maior parte de


analfabetos, extorquidas com miserável arte de engano, nunca
possam representar os sentimentos de uma colônia, apezar de que o
abaixo‐assignado publicado no nº. 178 da ‘Gazeta Paranaense’ não
tenha valor algum senão contra os mesmos promotores visto nelle
existirem assignaturas obtidas na sobredita forma e além disso,
algumas delas serem de súbditos não mais italianos (pelos quaes se
torna ridículo um protesto contra o agente consular da Itália) os
abaixo‐assignados todos residentes nesta capital, protestão
indignados contra tal, não sabe‐se mais estúpido ou malvado
proceder e aproveitam a ocasião para publicamente, francamente e
espontaneamente declarar que não só se honrão de ter o senhor
engenheiro Ernesto Guaita como agente consular e representante do
reinado do rei Umberto, mas bem assim dividem as opiniões e os
sentimentos dele e com ele deplorão as causas de tanta desunião
entre os próprios patriotas. (GAZETA PARANAENSE, 1887, p. 3)

Maschio destaca que ao defender o padre, os colonos agricultores


negavam a “italianità” proposta pelo governo italiano por meio das escolas
laicas. Por sua vez, os italianos da elite financeira (que moravam no centro e
apoiaram Guaita no contraprotesto) fizeram questão de enfatizar que o
engenheiro era, na condição de agente consular, um representante do rei
Umberto.

O episódio resultou no afastamento de Guaita da função de agente


consular. Sobre isso escreve o próprio Colbacchini, em carta de 24 de maio de
1888 dirigida à Roma:
Pág. 71 Memória Política de Curitiba


Entre os nossos existem aqueles que aqui foram trazidos pelo
demônio. Destes sofri e sofro perseguições de toda espécie. Combati
e venci o agente consular senhor Ernesto Guaita que num discurso
público designava‐me como ave noctívaga perigosa para Curitiba.
Saíram diversos artigos no jornal e, por fim, impôs‐se a Guaita de
deixar e mais tarde perder o cargo oficial que ocupava. Agora aqui e
ali existem aqueles que me querem morto ou porque lhes tirei a
concubina, ou porque avisei a polícia das perturbações que traziam a
certos colonos. Temo apenas a Deus e prossigo no mesmo caminho.
(AZZI, Riolando, 1987, p. 236 Apud MASCHIO, 2012, p. 268)

Maschio lembra que em 7 de maio de 1916, a Sociedade Garibaldi


realmente se tornou uma loja maçônica, entretanto, segundo a autora, a
entidade já seria maçônica desde seu início. Diz a pesquisadora:


Desse modo, infiro que a Scuola Regina Margherita se tratava de uma
instituição laica, de cunho liberal e maçônica. Ela tinha um papel
claro a cumprir e uma característica específica: enquanto escola
mantida pelo governo italiano cumpria a ela difundir a “italianità”; e
enquanto instituição vinculada a uma ordem ideológica como a
maçonaria, se tornava por si só restrita a uma pequena parcela da
população emigrada. (MASCHIO, 2012, p. 265)

Quatro anos após esse incidente, Guaita rompe publicamente com a


Sociedade Garibaldi em virtude de um desacordo quanto à eleição para a
diretoria da entidade realizada em novembro de 1890 (A REPÚBLICA, 1891).
Colbacchini fugiu de Curitiba em 1894, em função de atritos com italianos hostis
à sua presença (SCARPIM, 2015).


As construções

Após o desenvolvimento do plano “Nova Corityba” e dos atritos com o
padre Colbacchini, segue‐se um período fértil quanto à produção construtiva de
Pág. 72 Memória Política de Curitiba

Ernesto Guaita. A pesquisadora Analu Cadore enfocou esse aspecto da vida do


engenheiro piemontês na dissertação de mestrado “A obra arquitetônica de
Ernesto Guaita”, de 2010. Para ela, “Guaita foi responsável por alguns dos
projetos dos edifícios mais importantes do fim do “oitocento” curitibano. Esta
referida importância está no fato de serem invulgares testemunhos da
arquitetura de um período que marcou profundamente o panorama urbano da
capital” (CADORE, 2010, p. 100).
Guaita se tornou um dos representantes mais conhecidos do movimento
“eclético” em Curitiba. O ecletismo arquitetônico foi marcado pelo resgate e pela
mistura de influências diversas. Entre suas características mais expressivas, o
ecletismo trazia o emprego de ornamentos como arcos plenos, vergas,
sobrevergas, frontões (triangulares e retangulares), platibandas, beirais,
cimalhas, balaústres, etc. Essa tendência se estendeu até o final dos anos 20,
com o advento do modernismo.
Para pesquisadores como Suzelle Rizzi, Ernesto Guaita foi o nome mais
representativo do Ecletismo em Curitiba. Seis prédios elaborados por Guaita
ainda pontuam a paisagem curitibana e um – demolido em 1965 – resiste na
memória popular. São eles:

a) Palácio Garibaldi – De acordo com o historiador Marcelo Sutil em sua
monografia “O espelho e a miragem”, a série de construções que deu fama à
Guaita teve início com a já citada sede da Sociedade Garibaldi. Ele destaca os
traços neoclássicos da construção, frisando que “as arcadas, os arcos plenos, o
frontispício e a escadaria garantem a leveza do prédio” (SUTIL, 1996). A
edificação foi concluída em 1904, mas a fachada teve sua construção terminada
somente em 1932, com autoria de João de Mio. A partir de 1943, o prédio foi
sede do Palácio da Justiça e também do Tribunal Regional Eleitoral, mas em
1962 voltou a ser a Sociedade Garibaldi. Foi tombado pelo governo do estado
Pág. 73 Memória Política de Curitiba

em 1988.

b) Sobrado Labsch – No dia 15 de outubro de 1887 foi entregue o
sobrado Labsch (GAZETA PARANAENSE, 1887), cuja localização era estratégica
para uma casa comercial: ficava em frente ao mercado na praça municipal (onde
hoje se localiza o Paço, na praça Generoso Marques). Esta construção,
posteriormente, seria a sede das Casas Hertel (especializadas em instrumentos
musicais) (CADORE, 2010).

c) Palácio da Liberdade (Palacete Weiss) – De acordo com Marcelo Sutil,
em 1889 foi entregue o Palacete Weiss, que serviu de sede para o governo
estadual, na rua da Liberdade (atual Barão do Rio Branco). Originalmente
projetado por Guaita para ser a residência da família de Leopoldo Ignacio Weiss
(engenheiro elétrico austríaco sediado em Curitiba), o imóvel acabou sendo
adquirido pela Fazenda Nacional e, depois, foi utilizado como sede do governo
do estado por mais de 30 anos. Atualmente o prédio desempenha a função de
Museu da Imagem e do Som.
Sua principal característica, ainda segundo Sutil, é a profusão de enfeites
na fachada: “pilastras, arcos plenos, cães ornamentais, sacadas em balaústres,
sobreverga e vasos sobre a platibanda vazada” (SUTIL, 1996). O fato de ser
originalmente planejado para ser uma residência explica a abundância de
ornamentos. Sutil esclarece que uma das características do ecletismo foi
justamente o emprego desses elementos decorativos por parte da burguesia,
com o intuito de transmitir “status”.

d) Escola de Artífices ‐ Outro prédio do mesmo período foi o localizado
na Praça da Proclamação (futura praça Carlos Gomes). O primeiro registro
sobre a construção data do final de 1892, quando ela foi escolhida como sede da
Pág. 74 Memória Política de Curitiba

10ª seção eleitoral de Curitiba (A REPÚBLICA, 1892). No ano seguinte, o prédio


passa a ser sede da Câmara: “desde ontem que a Câmara Municipal desta cidade
funciona no belo e magnifico prédio de propriedade do Dr. Ernesto Guaita à
Praça da Proclamação” (A REPÚBLICA, 1893).
Esta construção também seria sede do quartel general do Exército até
1909 e da Escola de Aprendizes Artífices entre 1910 e 1928 (embrião do
CEFET/UTFPR) (UTFPR, sem data). Sua fachada foi totalmente alterada entre os
anos 60 e 70, e hoje o prédio sedia a Coordenação da Receita do Estado.

e) Casa Gótica da Rua XV – O primeiro prédio com três andares da rua XV
foi construído na esquina dessa rua com a Monsenhor Celso (antiga 1º de
Março). De acordo com Marcelo Sutil em “O espelho e a miragem”, a obra, que
foi concluída em 1893, tratava‐se de uma encomenda do imigrante português
Manoel da Costa Cunha, que instalou no térreo uma loja de roupas, por longo
tempo conhecida como ‘o Cunha das roupas feitas’ (SUTIL, 1996). Durante a
revolução federalista, quando Curitiba foi invadida pelos revoltosos maragatos,
Cunha foi obrigado a ceder o prédio, bem como todo o seu estoque, o que o
obrigou a vender o imóvel para o ervateiro Manoel de Macedo. Posteriormente
o edifício foi sede da Agência de Rendas da Secretaria de Estado da Fazenda e da
Agência dos Correios e Telégrafos. Desde 1973 o edifício sedia agências
bancárias (Banestado e Itaú).
Guaita somente foi responsável pelo projeto. A construção ficou ao
encargo do construtor Henrique Henning, o mesmo que, sob a supervisão de
Giovanni Lazzarini, concluiu as obras da catedral. Marcelo Sutil destaca que a
Casa Gótica é conhecida por sua sucessão de dezenas de portas‐janelas, balcões
de ferro e pelo seu revestimento externo de lajotas e azulejos importados de
Portugal. Outras características são comentadas por Analu Cadore:

No edifício, são evidentes os traços neogóticos no ecletismo de sua
Pág. 75 Memória Política de Curitiba

arquitetura, sendo que em toda a cidade as construções que eram


erguidas, também pelo próprio Guaita, seguiam o ecletismo de
influência clássica. Este edifício sempre foi bastante enigmático e se
destaca de todo o conjunto do casario da Rua XV. (CADORE, 2010, p.
170)


f) Palácio do Congresso (Palácio Rio Branco) – Em 1890 começam as
obras do Palácio do Congresso, a sede da assembleia (atual sede da Câmara
Municipal). Já naquele momento, teve destaque a leveza do ecletismo
neoclássico. Para Marcelo Sutil, “de fato, as colunas coríntias, os arcos da
entrada e das portas e os elementos decorativos aplicados na cimalha e na
fachada garantem a leveza do conjunto, destacando‐o das pesadas construções
dos hotéis da praça ao lado (Eufrásio Correia)” (SUTIL, 1996).
Em 1891, Generoso Marques, então presidente do estado decide
inaugurar o prédio para a abertura dos trabalhos legislativos que resultariam
na primeira constituição do estado:

Congresso do Estado. Instalou‐se solenemente a 30 do (mês) passado
o primeiro Congresso Constituinte e Legislativo do Paraná. As
continências do estilo foram feitas por companhias das três armas da
guarnição deste estado. Em vários pontos da Rua da Liberdade
erguiam‐se arcos enramalhados com várias inscrições. Estavam
embandeirados todos os edifícios públicos. O edifício em que
funciona o Congresso é um prédio elegante, apropriado, banhado de
luz e de ar, e que faz honra aos conhecimentos do sr. Dr. Ernesto
Guaita. Instalados os congressistas nas respectivas cadeiras, declarou
instalado o congresso o sr. Generoso Marques, caindo de um dos
pontos da galeria esquerda muitas pétalas de flores, o que novamente
sucedeu logo após a terminação da leitura da mensagem, feita pelo sr.
Secretário de Governo. Apesar da crescida concorrência de povo,
correu tudo na melhor ordem e harmonia. (DIARIO DO COMMERCIO,
1891, p. 2)

No dia 15 de dezembro daquele mesmo ano, o prédio foi escolhido para
sediar a 11ª Secção eleitoral (A REPÚBLICA, 1891). Aparentemente as obras se
estenderam pelos quatro anos seguintes. A última parcela paga a Guaita pelos
trabalhos realizados no prédio foi de quatro contos novecentos e vinte e oito mil
Pág. 76 Memória Política de Curitiba

e oitocentos réis. (A REPÚBLICA, 1895).


Em 1902, dez anos após o início de sua construção, o prédio ainda
causava deslumbramento. É o que se depreende da leitura desta nota redigida
por Romário Martins, no Almanach do Paraná de 1902: “Palácio do Congresso. A
edificação do Palácio do Congresso do Paraná foi contratada em maio de 1891
com o engenheiro Ernesto Guaita que a concluiu em 1895. É um prédio
elegante, cômodo e que se presta perfeitamente ao fim a que se destina”.
(MARTINS, 1902, p. 266). Dois anos depois, o jornalista Arthur Dias descreve o
prédio em “O Brasil Actual”: “A pintura interna e externa do edifício, toda
‘grisperle’, destaca‐o fortemente do verde do jardim e o emoldura. Em uma
palavra, tudo gracioso e aprazível aos olhos, sem destoar da severa composição
de um edifício destinado ao seu objeto” (DIAS, 1904 apud SUTIL, 1996).
Para Sutil, a opção pela sobriedade se deveu ao fato de que o prédio foi
pensado para ser um órgão público. Sua quase ausência de ornamentos (em
contraste com o Palácio da Liberdade), enfatiza que sua força visual está mais
na composição geométrica do todo.

g) Palacete Macedo ‐ Em 1902, foi inaugurado o Palacete Macedo, no
cruzamento entre a avenida batel e a rua Benjamin Lins, no bairro Batel. A
construção pertencia ao comendador Manoel de Macedo, o mesmo que
adquirira alguns anos antes a casa Gótica da Rua XV. A exemplo do Palácio do
Congresso, o Palacete Macedo se caracterizava pela baixa quantidade de
ornamentações. De acordo com a descrição de Sutil, “a residência elevava‐se
alguns metros acima do nível da rua, mas era recuada e tinha acesso através de
uma escadaria que, encravada no muro, partia do próprio alinhamento predial”.
(SUTIL, 1996) Entre 1928 e 1965, o prédio sediou o Museu Paranaense, sendo
demolido na sequência.

Pág. 77 Memória Política de Curitiba

Secretariado e morte

Em 8 de outubro de 1908, na gestão do prefeito Joaquim Pereira de
Macedo, um já idoso Guaita foi nomeado secretário municipal de obras. Seu
desempenho foi curto e prejudicado pelo fato de que naquele mesmo ano sofreu
uma batida na cabeça de natureza gravíssima (A REPÚBLICA, 1908). O texto da
nota referente ao fato fala em “insulto cerebral”, mas não entra em detalhes. No
ano seguinte, ele solicitou licenças de dois meses em duas oportunidades: 11 de
fevereiro (A REPÚBLICA, 1909) e 29 de março (A REPÚBLICA, 1909). Sua
exoneração foi assinada no dia 14 de junho (LEIS, DECRETOS E ACTOS DA
CÂMARA MUNICIPAL DE CURITIBA, 1909)
São poucos os registros de Guaita (e sobre ele) enquanto secretário de
obras, mas um se destaca: o relatório produzido e lido no final de 1908 na
Câmara, referente ao último trimestre daquele ano. O teor do relatório consta
das Atas da Câmara e também foi publicado pelo jornal A Repúbica.
Inicialmente Guaita esclarece que não conseguiu executar a quantidade
de serviços que gostaria, pois encontrou a cidade em “péssimo estado de
limpeza”, tendo sido obrigado a priorizar o escoamento das águas pluviais.
Nessa tarefa que, segundo ele, não era visível para o público, foram empregadas
cinco turmas de operários.

A limpeza de valas e valetas, o entulho das depressões e certas ruas,
que formavam verdadeiros tanques de águas estagnadas e putrefatas,
foram as primeiras ocupações desta Diretoria, querendo afastar da
cidade o perigo de epidemias que, devido à estação cálida podiam
desenvolver‐se e ameaçar a salubridade pública. (...) Estes serviços
vão absorver, em quase sua totalidade, a verba destinada às obras
públicas. (Annaes da Câmara Municipal de Curitiba, 1909, p. 51)

Em seguida o relatório lista uma série de serviços que Guaita
considerava indispensáveis para o aprimoramento da cidade. De início, ele
menciona o calçamento, frisando que junto a ele deveriam também ser
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instalados os canais de escoamento. Ele sugere que esse serviço deveria ser
realizado nas ruas Barão do serro Azul, Aquidaban, Marechal Floriano e o
prolongamento das ruas Comendador Araújo e América. Guaita segue sua lista
lembrando que a cidade não dispunha de mictórios e latrinas públicas.

Agora que, com ou menos demora, funcionará a rede de água e
esgotos, se deus permitir que isso não fique em simples e pio desejo,
não será difícil instalarem‐se os sobreditos aparelhos construindo‐se,
para tal fim, alguns quiosques elegantes nas praças e jardins da
cidade. (Idem)


Essa necessidade só foi suprida quase dez anos depois. Os mictórios que
Cândido de Abreu mandou importar da França em 1915 (junto a outros
acessórios urbanos) não chegaram ao Brasil devido às dificuldades geradas pela
1ª Guerra. Na continuidade do relatório, Guaita sugere a desapropriação do
tanque do passeio público e da chácara anexa ao mesmo (provavelmente ele se
referia ao tanque Bittencourt, que ficava onde hoje é o Largo Bittencourt). Note‐
se no fim deste trecho, um primeiro projeto de arborização para a cidade

O resto da aludida chácara poderá servir para aumentar o Passeio,
quebrando com a acidentalidade do seu terreno, a monotonia que
nele se nota e, para instalarem‐se os viveiros municipais, afim de
poderem arborizar os largos e ruas da cidade. (Idem)

Um tema que ganhou bastante destaque no relatório de Guaita foi o
cemitério São Francisco de Paula:

Apresenta‐se também como reclamando a attenção da Camara o
melhoramento do Cemitério Municipal; com o aumento da população
caminha ‘pari‐passu’ o aumento do Cemiterio. A este respeito opina
esta directoria dever se formar um novo cemitério em situação mais
apropriada evitando que a cmada aquífera que acha‐se a pouca
profundidade da superfície do solo, como demonstram as excavações
da covas, corra em direção sul para a cidade, infiltrando‐se nos poços
e provocando, mais hoje, mais amanhã, o envenenamento da
população que ocupa aquella parte da cidade, como deu‐se em um
Pág. 79 Memória Política de Curitiba

quarteirão da cidade de Londres, que achava‐se em relação a um dos


cemitérios da grande metrópole em condições análogas ás de
Curityba. Alem do Cemiterio de Curityba não satisfazer a estas
condições hygienicas, tem a apparencia de um cemitério de aldeia,
uma frente e uma entrada pre‐adamítica e não de acordo com nosso
gosto artístico que a população curitybana demonstra diariamente na
construção de seus edifícios públicos e particulares. (Idem)

Na última parte de seu relatório, Guaita lembra que a cidade precisa de
um palácio municipal e de um teatro. Na opinião do engenheiro, o local mais
adequado para a construção desses prédios seria a praça Santos Andrade, na
esquina fronteira ao prédio da Universidade do Paraná (que ele achava ser o
futuro Palácio do Governo Estadual)

Ficaria o resto da Praça Santos Andrade, circumscripto pelos
prolongamentos das ruas 15 de Novembro, João Negrão, Senador
Laurindo e com uma área suficiente para a construção de um jardim
que comunicaria com o atual Passeio Publico, por uma avenida
arborizada e ajardinada em prolongamento da rua Senador Laurindo.
Es’as duas construcções acima indicadas (Palácio Municipal e teatro)
ocupariam o terreno mis baixo da praça Santos Andrade, evitando
uma enorme despeza com o nivelamento da mesma. Os grandes
subterrâneos que disso resultassem serviriam para deposito do
material de um corpo de bombeiros de um lado e do outro, retirando
com certas circumstancias a platéa para funcionamento de um circo
equestre. (Idem)

Ele reclama que o capítulo X das então vigentes posturas municipais,
referente ao quadro urbano, encontrava‐se defasado. Conclui mencionando a
insuficiência de pessoal. O texto que consta nas Atas da Câmara é abruptamente
interrompido: “Neste ponto termina o relatório do director das obras
municipaes por ter sido acometido de um insulto apoplético” (Idem).
Nos anos seguintes ele continuou sendo requisitado como parecerista
em questões de divisas e similares, mas de forma esporádica. Não há registros
oficiais de que tenha participado dos “Melhoramentos” urbanos promovidos
por Cândido de Abreu durante sua segunda gestão como prefeito (1913‐1916).
Em 1915, Abreu incluiu o engenheiro Guaita entre as despesas previstas no
Pág. 80 Memória Política de Curitiba

orçamento do ano seguinte. De acordo com o inciso 21 do artigo 3º da lei 449


de 2 de dezembro de 1915, a ele foi destinada a quantia de 0:960$000
(novecentos e sessenta mil réis) a título de auxílio/subvenção. (LEIS,
DECRETOS E ACTOS DA CÂMARA MUNICIPAL DE CURITIBA DE 1915 E
ORÇAMENTO PARA 1916, 1915)
Um ano e alguns dias depois (25 de dezembro de 1916) morreu Ernesto
Guaita. Nas observações que fez sobre Guaita em sua carta de 1964, João de Mio
diz que o engenheiro piemontês estava pobre e doente, morando numa casa no
bairro da Barreirinha. Os fatos que o levaram a estas circunstâncias ficam no
campo das especulações.

“Deu‐se hontem á tarde nesta capital a morte do sr. Dr. Ernesto
Guaita, conhecido architecto, constructor e que trabalhou na
construção dos nossos melhores edifícios. O respeitável ancião era
geralmente estimado sendo a sua morte muito sentida pelas pessoas
de sua amizade. Á enlutada família os nossos pezames”. (A
REPÚBLICA, 1916, p. 2).



CONSIDERAÇÕES FINAIS

Seria errado dizer que Guaita foi totalmente esquecido ou que se tornou
inacessível ao cidadão comum. Desde 64 uma discreta rua no bairro Santa
Cândida carrega seu nome. Ele é citado no site da Casa da Memória e em
dezenas de sites acadêmicos e não‐acadêmicos. Mas independente destas
menções e, em que pese a presença das edificações elaboradas e feitas por ele,
Guaita está longe de ser uma referência histórica para os curitibanos. Como
disse Marcelo Sutil em sua monografia “O espelho e a miragem”, “profissionais
como Guaita e Lazzarini resistem mais pela importância pública de suas obras
ou dos proprietários destas, que por seus nomes”.
Pág. 81 Memória Política de Curitiba

Quando Guaita morreu, Curitiba já vivia a pleno vapor seus dias de “belle
époque”: a cidade já contava com vários jornais em circulação, cinema,
restaurantes, e toda uma série de melhoramentos que soariam improváveis se
ditos a um habitante da cidade de 1875, quando Guaita chegou. Ele vivenciou
todas essas mudanças e foi artífice de algumas.
Não se trata de heroificar uma figura cuja vida ainda merece estudos
mais aprofundados, mas talvez esteja na hora de Curitiba reconhecer a
contribuição arquitetônica de Ernesto Guaita, até hoje presente na paisagem da
cidade.

REFERÊNCIAS

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dezembro de 1908, RELATÓRIO apresentado pelo director das Obras Publicas
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Dissertação apresentada como requisito a obtenção do grau de Mestre ao
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Círculo Bandeirantes, nº 5, 1991, ps. 49 e 50.

UTFPR. Da Escola de Aprendizes à Universidade Tecnológica. Sem data. Site
visitado no dia 16 de setembro de 2016, às 11:00. Disponível em
http://www.utfpr.edu.br/a‐instituicao/historico

Pág. 84 Memória Política de Curitiba

WACHOWICZ, Ruy Christovam. As moradas da Senhora da Luz. Gráfica


Vicentina. Curitiba, 1993.

Pág. 85 Memória Política de Curitiba

O 20 de Novembro: a construção do feriado


na Câmara Municipal de Curitiba


Marco Aurélio Barbosa20


Resumo: A pesquisa centrar‐se‐á em debates que envolvem a “negociação” em torno da
Construção do Feriado do dia 20 de Novembro em Curitiba. A proposição desta data deu‐se
pelo “ativista e poeta negro Oliveira Silveira” na qual salienta a importância simbólica desta
comemoração que, tem como centro a figura de Zumbi dos Palmares, símbolo de resistência e
elemento referencial para o Movimento Negro e a população negra. Neste sentido, a pesquisa
tem como ponto central os debates ocorridos na Câmara Municipal de Curitiba, acerca da
tentativa de efetivá‐lo como feriado na cidade, que gerou uma importante discussão em torno
do tema e sua implementação. Sendo comemorado pela primeira vez em 2013, e que após
pressão de alguns setores da sociedade, acabou suspensa. Os diversos grupos que representam
o movimento negro, bem como, os membros da Câmara Municipal de Curitiba, buscaram
intervir, com objetivo de alterar a situação e para a manutenção do feriado, sendo entretanto,
derrotados, impedindo a comemoração efetiva da data, como fora proposta. Contudo, o evento
marcou um importante passo dos representantes do Movimento Negro e da Câmara no sentido
de dar visibilidade a questão do Negro em Curitiba. Assim, a pesquisa buscará compreender
como deu‐se este evento, no sentido de historicizar como se deu o surgimento, a
implementação e as negociações em torno da criação do feriado na Câmara Municipal de
Curitiba.



Palavras‐chave: Consciência negra, Movimento Negro, Câmara Municipal de Curitiba, Feriado.

20 Graduado em Sociologia pela Universidade Federal do Paraná (UFPR); Licenciado em


História pelas Faculdades Integradas “Espírita” (UNIBEM); Especialista em Relações Étnico‐
raciais pelo Núcleo de Estudos Afro‐Brasileiro da Universidade Federal do Paraná (NEAB‐
UFPR); Mestrando em Sociologia pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Email:
barbosa.marco@gmail.com

Pág. 86 Memória Política de Curitiba

A Luta Pelo 20 de Novembro em Curitiba


No ano de 2013, foi decretado o Feriado da Consciência Negra21, tendo


como data comemorativa o dia Vinte de Novembro, entretanto, após forte
pressão da Associação Comercial do Paraná 22(ACP), o mesmo foi suspenso.

Para tanto, utilizaram‐se da via judicial, através de ação impetrada


alegando o enorme prejuízo ao comércio da cidade, caso houvesse a parada, fato
este que levou o judiciário a “cancelar” o feriado.

21 A proposição desta data em caráter nacional foi formulada pelo “ativista e poeta negro
Oliveira Silveira”, que a teria sugerido esta em oposição ao dia Treze de Maio, que é tido por este
como uma falsa data comemorativa, visto que esta data já era contestada pelo próprio
movimento negro,uma vez que, segundo Silveira (2003), o Treze de Maio não satisfazia, as
necessidades do Movimento Negro e nem tão pouco anseios da população negra, sendo assim,
portanto, “não havia por que comemorá‐lo. A abolição só havia abolido no papel; a lei não
determinara medidas concretas, práticas, palpáveis em favor do negro. E sem o treze era preciso
buscar outras datas, era preciso retomar a história do Brasil.” Neste sentido, Oliveira Silveira
teria sugerido em oposição ao dia Treze de Maio, o Vinte de Novembro, onde justifica esta
opção, apontando que: “circulava na época o fascículo Zumbi, o n° 6 na série Grandes
Personagens da Nossa História, da Abril Cultural. Essa publicação fortaleceu no frequentador
Oliveira Silveira a ideia de que Palmares fosse a passagem mais marcante na história do negro
no Brasil. Um século de liberdade e luta contra o escravismo imposto pelo poder colonial
português era coisa muito significativa e animadora. E lá estava o dia 20 de novembro de 1695,
data da morte heroica de Zumbi, último rei e líder dos Palmares, marco assinalando também o
final objetivo do Estado e país negro”. (SILVEIRA,2003, P. 25)
Salientando a importância simbólica desta comemoração que, tem como centro a figura
histórica de Zumbi dos Palmares, simbolo de resistência e luta em favor da igualdade, seu
principal elemento referencial para o Movimento Negro e a população negra, ensejando, ainda,
uma discussão sobre a importância deste como herói nacional negro, inclusive com a
reivindicação da adoção de um feriado em sua homenagem.

22 É importante salientar aqui, que havia a presença de outro importante ator a
SINDUSCON‐ Sindicato da Construção Civil‐ que junto a ACP trabalhou no sentido de
impedir a adoção do feriado, no que se opção apenas, pela Associação Comercial do Paraná,
devido ao seu caráter e relevância tradicional e simbólica junto à sociedade curitibana e
paranaense, entre outros aspectos.
Pág. 87 Memória Política de Curitiba

Os diversos grupos que representam o movimento negro, o Sindicato dos


Trabalhadores do Comércio de Curitiba, Vereadores e a Câmara Municipal de
Curitiba, buscaram intervir, com objetivo de alterar a situação, fazendo
mobilizações nas ruas e interpondo recursos junto ao judiciário, para a
manutenção do feriado, sendo contudo, derrotado nesta instância. Fato este que
impediu a comemoração efetiva da data, como fora originalmente proposta.

Por conta deste fato, a ACP foi acusada de racismo, por parte do grupo
derrotado, por impedir um feriado inédito, para este grupo.

Assim, a pesquisa centrar‐se‐á nos debates que envolvem a “negociação”


em torno da Construção do Feriado do dia 20 de Novembro em Curitiba, na qual
se acha em jogo o Dia Consciência Negra, importante feriado para o Movimento
Negro.

Contudo, parece lícito compreender, o que se entende por negociação,


uma vez que este termo se apresenta como elemento capital, dentro da
discussão que se pretende apresentar.

Inicialmente, quando se fala em negociação, a imagem que nos vem a


mente é a de dois indivíduos sentados à mesa tentado “negociar”, isto é,
tentando vender ou fazer o outro comprar algo que não necessariamente
deseja, ou ainda, que deseja arduamente, mas, que contudo, refreando o seu
desejo e seus reais interesses, e que assim agindo o faz, no intuito de ter a
melhor realização possível em um terreno que lhe e desfavorável. A fornecer
esta pequena, imagem o que se tem em mente é chamar atenção para a imagem
trivial que habita um certo imaginário pertencente ao senso comum, que à
princípio banal, mas, que entretanto, permite imaginar, sentir e perceber, ainda,
que de modo superficial o conflito e a tensão presentes em um ato tão trivial.
Pág. 88 Memória Política de Curitiba

Assim, negociação consiste no embate ou debate entorno de algo sobre o


qual indivíduos diferentes com interesses diferentes, apresentam‐se frente a
um campo de disputa, onde o objeto ou causa em questão se apresenta.
Contudo, para a surpresa de qualquer observador, que ao visualizar tal quadro,
logo imagina um intenso e encarniçado embate, espanta‐se ao perceber que
estes expõe seus interesses de modo cooperativo, o que não implica na ideia de
ausência de disputa, muito pelo contrário. Destarte, cooperação tem haver com
estratégias de ação complementar, isto é, em que estes atores se apresentam ao
embate servindo‐se das estratégias, armas e soluções, próprias do campo em
disputa, partindo de uma lógica tácita preestabelecida e consensual, pela qual
cada um dos lados tentará ao seu modo impor as suas preferencias, ao outro.

Neste sentido, a pesquisa terá como ponto central os debates, isto é, as


negociações em torno do feriado da Consciência Negra, no que tange a tentativa
de efetivá‐lo na cidade de Curitiba, que tem como ápice os eventos ocorridos em
2013, fato que gerou intenso debate sobre a legitimidade, a necessidade, a
importância desta data, para a cidade.

Entretanto, parece lícito apontar que este debate não se esgotou com a
interdição do feriado, sendo este ainda, objeto de disputa e debate nos campo
jurídico e legislativo, isto é, o projeto ainda está em discussão no Supremo
Tribunal Federal, bem como é objeto de arguições na Câmara Municipal de
Curitiba.

A comoção em torno desta questão, tem como um de seus eixos, a fama


amealhada pela Capital Paranaense ‐ graças em parte ao festejo dos 300 anos da
cidade ocorridos no ano de 1993 ‐ que a apresentam como “Cidade de Primeiro
Mundo”, “Cidade Europeia”, “A Cidade Mais Europeia do Brasil”, entre outros
epítetos.
Pág. 89 Memória Política de Curitiba

Não obstante, ao fato destes epítetos anuírem a imaginário construído da


cidade23, estes desempenham importante papel no imaginário dos agentes
envolvidos na disputa, uma vez, que estes são dotados de certa carga simbólica,
fato que pode ter desempenhado importante papel na negociação em torno da
adoção ou interdição do feriado. Este discurso que aponta Curitiba, como
“Cidade Europeia”, sendo assim, acaba por aludir ou mesmo reivindicar para a
cidade a ideia de uma cidade de população predominantemente branca, em que
os indivíduos de outras etnias e neste caso, a população negra teria tido pouca
expressão ou mesmo uma participação irrelevante na História e na cultura local.

No que Moraes e Souza (1999), em seu artigo, “Invisibilidade,


Preconceito e Violência Racial em Curitiba”, ao fazerem uma reflexão acerca da
sub‐representação do negro frente a uma “maioria” branca, tendo em vista a sua
representação negada frente a estes grupos, assevera que:

Mesmo que a população negra fosse uma “minoria”, e esperamos ter


demonstrado que não é assim, não seria motivo para ser esquecida.
Ao contrário, dever‐se‐ia atentar para a criação de condições que
alçassem esta população ao seu lugar de direito. Esta é a principal
violência cometida contra este grupo e certamente a produtora e
legitimadora de muitas outras. (MORAES e SOUZA, 1999, P. 14)

Destarte, Moraes e Souza (1999), apontam que a suposta sub‐


representatividade étnica do negro, não deve se constituir como barreira a sua

23 Sobre este assunto existe uma vasta bibliografia da qual pode‐se destacar: M. A.
SANCHES, O negro em Curitiba: a invisibilidade cultural do visível. , e a obra Paranismo, o
Paraná inventado : cultura e imaginá rio no Paraná da I Republica, de Luis Fernando Lopes
Pereira, entre outras obras que tratam da construção do imaginário no qual Curitiba se constitui
e se constrói como “Cidade Européia.

Pág. 90 Memória Política de Curitiba

representatividade face a outros grupos, sob risco de reforçar a exclusão e/ou


ocultamento deste grupo, frente a sociedade e a realidade que se mostra
contrária a ideia de cidade europeia, sem negros, entre outras questões
expostas pelos autores.

Curitiba Entre Dois Projetos

Ao observar a História Oficial da Cidade – embora, haja um grande


esforço nos últimos anos em mudar este quadro ‐24 o elemento negro na
conjugação e construção de sua identidade, quase desaparece como elemento
constitutivo desta.

Que entre outros aspectos, apontam para o ocultamento de


determinados vestígios que remetem a ideia de construção da invisibilidade do
negro nesta sociedade. Sendo a invisibilidade e/ou ocultamento do negro
descrita por Leite (1996), deste modo, “a invisibilidade do negro é um dos
suportes da ideologia do branqueamento, podendo ser identificada em
diferentes tipos de práticas e representações. Ellison procura demonstrar que o
mecanismo da invisibilidade se processa pela produção de um certo olhar que
nega sua existência como forma de resolver a impossibilidade de bani‐lo
totalmente da sociedade.” Ou seja, não é que o negro não seja visto, mas sim que
ele é visto como não existente.

24 Para mais informações consultar SILVA, P.V.B.; COSTA, H. (Orgs.). Notas de história e
cultura afro‐brasileiras. 2 ed. Ponta Grossa: UEPG, 2011
Pág. 91 Memória Política de Curitiba

Deste modo, olhar para o fenômeno da invisibilidade é compreender os


modos e/ou mecanismos mobilizados para ocultar socialmente elementos
“destoantes” de um projeto de cidade que se quer impor como verdade, no qual
o debate acerca do feriado da Consciência Negra pode ser encarado como
entrave. Neste sentido, Mário Antônio Sanches (1997), em sua dissertação de
mestrado “O Negro em Curitiba: A invisibilidade Cultural do Visível”, inicia seu
debate tendo como fundo a festa que comemora o aniversário de 300 anos da
cidade de Curitiba, dita como a festa das etnias, na qual os negros não se
achavam representados, de modo que:

Durante os festejos do tricentenário, produz‐se um discurso


apresentando Curitiba como cidade de “primeiro mundo”, “cidade
europeia”, e no qual os diferentes grupos étnicos de origem europeia
são valorizados. Excluídos desse discurso que sinaliza uma “cidade
de todas as gentes” os negros, principalmente aqueles que participam
de movimentos sociais, procuram resgatar sua visibilidade e
construir sua identidade de negros curitibanos. (SANCHES, 1997, P.
1)

Fato bastante curioso, já que em artigo de Jurandir de Souza (2011)


intitulado “Espaço e territorialidade afro‐descendente25 em Curitiba” o autor
evidencia uma população negra, bastante significativa na composição da
população curitibana aonde assevera que:

Segundo os dados oficiais, Curitiba e a Grande Curitiba compreendem


2,47 milhões de habitantes, divididos numa área de 432 km

25 É importante salientar que o termo afro descendente é aqui utilizado para caracterizar
as populações negras e /ou que partilhem deste fenótipo, ou seja, a população não branca que
residente na cidade, isto é, a população negra ou mulata residente em Curitiba.
Pág. 92 Memória Política de Curitiba

quadrados. No censo do IBGE de 2000, contavam com 22% de


pessoas que se declararam negras. Este dado repercutiu
positivamente no movimento negro, embora se acredite em um
número mais elevado. Mesmo assim, reiterou o que muitos líderes do
movimento negro local já haviam tomado como discurso, ou seja,
sobre o alto número de afro ‐descendentes em Curitiba. (SOUZA,
2011, P. 131)

Afirmação que de certo modo se opõe ao discurso de Wilson Martins ao


descrever o Paraná da “trança loira” onde este se construiu “Sem escravidão,
sem negro, sem português e sem índio, dir‐se‐ia que a sua definição humana
não é brasileira.(MARTINS‐1989)” ‐ que embora, alimente muitas crítica, e seja
objeto de muitas revisões‐ parece ter sido apropriado pela cidade, contrariando
os dados citados anteriormente que apontam para uma realidade muito
diferente do discurso advindo inclusive dos órgãos oficiais. Discurso este que
insinua um projeto de sociedade, no qual o feriado do Vinte de Novembro se
acha no centro do debate.

No intuito de dar estofo ao debate que se pretende explicitar, lançar‐se‐á


mão do método qualitativo, no qual se levará em conta elementos como campo
a ser pesquisado. Neste sentido, se tentará compreender o papel e qual as
motivações da ACP, além dos apresentados a imprensa, ao interditar a adoção
da efeméride, bem como, as ações das lideranças do Movimento Negro.

Ao abordar a temática relativa ao debate em torno do Vinte de


Novembro o que se observa no interior do debate é uma acirrada disputa que se
dá por conta da aplicação de uma chamada política afirmativa de ação
compensatória isto é, a adoção de políticas por parte do poder público que
visam o combate a discriminação.

Assim, as políticas afirmativas podem ser definidas como toda ação por
parte do poder público, entidades privadas e movimentos sociais, entre outros
agentes sociais, que visem a reparação, a afirmação destes sujeitos frente a
Pág. 93 Memória Política de Curitiba

sociedade e a correção de distorções de determinadas injustiças sociais e


históricas sofridas por estes grupos minoritários frente a sociedade , sendo
neste caso aplicadas as populações negra e indígena, no intuito de produzir um
ambiente que se paute pela redução das desigualdades e estímulo a cidadania.

Estas ações, de forma geral, vem se tem sido incrementada ao longo dos
últimos anos, sendo a validação destas política deu‐se de fato no ano de 2012,
quando o “Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu por unanimidade que as
ações afirmativas são constitucionais e políticas essenciais para a redução de
desigualdades e discriminações existentes no país.” (SEPPIR‐2016)26

No que, estas ações podem ser “divididas em três tipos: com o objetivo
de reverter a representação negativa dos negros; para promover igualdade de
oportunidades; e para combater o preconceito e o racismo”(SEPPIR‐2016)27,
deste modo, tendo em vista os pontos apresentados, pode‐se refletir que a
adoção do feriado tem com objetivo combater determinadas noções e
prenoções estabelecidas a respeito da participação do negro na sociedade
curitibana, dentro daquilo que seria entendido como uma política afirmativa.

Assim, no sentido de dar início a pesquisa frente a um objeto tão


complexo, isto é, a negociação do Vinte de Novembro, que parece aludir não a
uma questão meramente momentânea, mas, a um evento que tem como
elemento um debate sobre um projeto de cidade e mesmo de sociedade, pode‐
se lançar a seguintes questões de partida:

26 O que são Ações Afirmativas? Site da SEPPIR 07/08/2016. Disponível em:


<http://www.seppir.gov.br/assuntos/o‐que‐sao‐acoes‐afirmativas>. Acesso:07/08/2016

27 Idem
Pág. 94 Memória Política de Curitiba

Como esta a questão do Dia da Consciência Negra foi constituído em


Curitiba? Tiveram as ações ou leis de caráter afirmativo desempenhado algum
papel nestas discussões?

Delineando e Repensando o Objeto

Retomando que foi tratado até aqui o objeto que se pretende analisar, à
grosso modo, tem haver com as negociações em torno da implantação e
posterior interdição do feriado do Vinte de Novembro em Curitiba, que traz em
seu bojo a luta pelo reconhecimento da população negra frente a sociedade
curitibana.

Outro ponto a salientar‐se tem haver com informações colhidas


diretamente do site da Prefeitura Municipal de Curitiba, que dão conta de que o
debate a respeito da efeméride vem ocorrendo desde 2005, sendo proposta e
retirada de pauta em várias ocasiões, no entanto, não foi possível observar aí a
ação direta destes dois atores sócias, uma vez, que esta análise de cunho
exploratório foi apenas tópica, no sentido de abarcar com maior profundidade o
quadro de informações hora acessadas.

Neste sentido, a obra de Lenoir, tem bastante significado no que tange o


problema apontado, na medida em que ao adotar um certo conjunto de
classificações que pensam a respeito da construção de um objeto sociológico,
fornece elementos que indicam a elegibilidade ou não de um certo objeto.

Destes estes elementos ou característica, tem‐se ao tratar do debate em torno


da adoção ou não do feriado do Vinte de Novembro, a questão da durabilidade
Pág. 95 Memória Política de Curitiba

do problema aqui tratado, onde observa‐se em um primeiro momento, que a


discussão em torno deste não se dá de forma incidental.

Esta discussão é fruto de uma alocução e de uma construção que se dá ao


longo de certo período de tempo, tendo esta surgido em decorrência de temas
sobre o papel e o lugar do negro na sociedade brasileira, e foram agudizados
nos últimos anos por conta das políticas afirmativa e mesmo pela busca de
afirmação da importância da população negra frente a sociedade brasileira, e
neste caso em particular frente a curitibana. Contudo, observa‐se que esta
discussão se estabelece num momento importante no que tem origem nos 60,
devido ao contexto de mudanças e lutas sociais experimentados pelo ambiente
de contestação e contracultura na época.

Período no qual o elemento “raça” torna‐se algo caro ao movimento


negro, em decorrência de uma valorização da estética (Black is Beautifull), da
cultura e das diversas formas de expressão da população negra, que tem como
palco a sociedade estadunidense, assim como a luta pelos direitos civis que aí se
desenrolam e que terão forte influência no imaginário das populações negras,
no que tange a luta pela igualdade e reconhecimento.

Os ideais de igualdade e reconhecimento se constituirão em uma base


que para o Movimento Negro, se afigurando como uma bandeira, em torno da
qual o movimento buscará afirma‐se, frente a outros grupos da sociedade.

Estas reflexões darão origem aos elementos constituintes da busca pela


valorização do negro e o reconhecimento da participação do negro frente a
sociedade, por conta disto o Vinte de Novembro parece afigurar‐se neste
território, em que o componente “raça” está presente como um elemento de
classificação social e como elemento de distinção entre os grupos, e que terá
parte na construção daquilo que se compreende como Movimento Social, e
neste caso, do Movimento Negro.
Pág. 96 Memória Política de Curitiba

Por outro lado, utilizando‐se ainda de Lenoir, pode‐se lançar mão do


elemento raça, como uma das noções de análise subjacente ao tema trabalhado,
uma vez, que se observa que este, tido como condição “natural”, na verdade é
resultado de uma construção social, bem como, os movimentos sociais que se
estruturarão a partir desta noção, o que abre espaço para a desnaturação deste,
configurando‐o desta feita, em importante objeto para a compreensão do
mundo social e todos as indagações que dele possam surgir.

Assim:

Os princípios de classificação do mundo social , até mesmo os mais


naturais, referem‐se sempre a fundamentos sociais. Sem falar de
“raça” ‐ é conhecida a implicação social dessa noção e das categorias
utilizadas por ela ‐ os estigmas físicos e, de forma geral, as
particularidades biológicas, como sexo e a idade, servem, quase
sempre, de critérios de classificação dos indivíduos no espaço social.
Em geral, a elaboração de tais critérios de classificação está associada
ao aparecimento de instituições e agentes especializados que
encontram nessas definições a força motriz e o fundamento de sua
atividade na “natureza”, mas em um trabalho social de produção das
populações elaborado, segundo critérios juridicamente construídos,
por diferentes instituições – as mais conhecidas e estudadas são o
sistemas escolar, o sistema médico, os sistemas de proteção social, o
mercado do trabalho, etc. ( LENOIR‐1998, p.64)

É importante observar que, o que Lenoir (1998), entende por categoria


de classificação social, tem entre outros aspectos o objetivo delimitar e, a grosso
modo, dar estofo ao objeto.

Por outro lado, poder‐se‐ia lançar mão dos elementos explicativos


apontado por Bobbio, quando este ao inventaria e delimita o conceito de
Movimentos Sociais. Ainda, neste intuito o autor, classifica e tipifica estes
movimentos, apontando que não necessariamente os indivíduos marginais e
excluídos, se organizam com objetivo de fazer frente a um conjunto de ideias ou
situação que lhes é contrária, visando a transformação da sociedade.
Pág. 97 Memória Política de Curitiba

Desta feita, aponta que nem sempre os movimentos sociais emergem de


indivíduos excluídos ou ainda, de sujeitos que se encontram à margem das
relações sociais, mas, de sujeitos que experimentam e agem frente as
contradições encontradas em sociedade, deste modo, um sujeito não precisa
necessariamente pertencer a população negra para lutar pelos seus direitos,
isto é, precisa antes de mais nada, ter ciência das necessidades deste grupo, bem
como, contar com uma certa experiência política e social, estar ligado a
instâncias de participação política e contar com um aparato social e material
que lhe propiciem condições de organização e mobilização de interesses
comuns, e finalmente agir nesta direção. É importante salientar que, os
movimentos sociais apontados por Bobbio (2007) se classificam em três tipos:
movimentos reivindicativos, movimentos políticos e movimentos de classe,
onde respectivamente no “primeiro caso, trata‐te de impor mudanças nas
normas, nas funções e nos processos de destinação dos recursos. No segundo, se
pretende influir nas modalidades de acesso aos canais de participação política e
de mudança das relações de força. No terceiro, o que se visa é subverter a
ordem social e transformar o modo de produção e as relações de classe.”

No que, parece evidente que a disputa entre os dois grupos


apresentados, se enquadra melhor no segundo tipo, o dos movimentos políticos,
por conta da luta pela adoção ou implementação de um direito que busca
afirmar este grupo frente a sociedade, assim como, ao grupo antagônico.

Além, destes dois focos de análise acima apontados um outro se insinua,


o da disputa simbólica.

Neste caso, a ideia de simbolismo está ligada ao conjunto de valores


subjetivos atribuídos de modo individual ou coletivo pelos sujeitos a
determinados elementos sociais, materiais, religiosos, etc., e que são
imprescindíveis para o funcionamento da vida social.
Pág. 98 Memória Política de Curitiba

Sendo que os valores atribuídos a estes elementos em concurso, correspondem


a um conflito dentro do campo simbólico, no caso numa disputa de poder
simbólico que em um primeiro momento passa pela capacidade de determinar,
produzir e/ou reificar uma determinada visão de mundo, isto é, “é um poder de
construção da realidade que tende a estabelecer uma ordem” (BOURDIEU –
1998,p12), que em um segundo momento poderia ser interpretada, mas, não
confundida, com a negociação, ou mesmo troca, mesmo que desigual e
assimétrica das significações em debate.

Dos artigos que ilustram as relações da cidade de Curitiba com cidadão


negro tendo em mente a ideia de “Cidade Europeia”, destaca‐se o artigo escrito
pelos autores Pedro R. B. De MORAES e M. G. Souza , intitulado “Invisibilidade,
Preconceito e Violência Racial em Curitiba”, ao fazem uma série de reflexões e
apontamentos acerca da sub‐representação do negro na cidade de Curitiba em
relação a outros grupos étnicos, mesmo minoritários, do ponto de vista da
construção de monumentos e no imaginário que se desenvolveu em torno deste
grupo frente a população da cidade entre outros grupos.

Dentro deste viés é possível encontrar ainda o artigo de Jurandir de


Souza (2011) intitulado “Espaço e territorialidade afro‐descendente1 em
Curitiba” em que o autor evidencia uma população negra, bastante expressiva,
ao analisar a distribuição e o espaço de circulação deste grupo na cidade.

Partindo de um contexto cultural, M.A. Sanches, em sua tese nomeada “O


Negro em Curitiba: A invisibilidade Cultural do Visível” toma como objeto de
reflexão a festa que comemora o aniversário de 300 anos da cidade de Curitiba,
dita como a festa das etnias , na qual os negros não se achavam representados,
para discutir entre outros temas relativos ao imaginário da “Curitiba Cidade
Europeia” e o de “Cidade de Todas as Etnias”, onde o negro se acha imiscuído
das festividades. E finalmente, apresentam‐se ainda vários trabalhos sobre o
Pág. 99 Memória Política de Curitiba

assunto que tem um foco historiográfico e que servirão de base, para reflexões
em torno do tema, com objetivo de constituir um contexto que deverá dar
suporte a investigações de cunho mais aprofundado a elementos que perfazem
o imaginário sobre o qual a cidade se fundou entre eles Eduardo Spiller Pena
com “O jogo da Face (1999), Magnus Roberto de Mello Pereira com “Semeando
Iras Rumo ao Progresso” (1996), que tratam a questão do negro por uma
perspectiva Histórica na medida em que oferecem através evidências históricas
da participação do negro na construção da sociedade curitibana de fins do
século XIX e XX.

A questão da invisibilidade social do negro do negro frente aos demais


grupos étnicos, existentes na cidade, bem como, sua sub‐representação ou
mesmo a sua negação frente a realidade existente, outra abordagem leva em
conta a questão se refere a dificuldade na adoção e implementação de políticas
afirmativas para este grupo e a reação da imprensa frente a adoção do feriado
da consciência negra em várias partes do país e, neste caso em Curitiba.

Neste sentido a dimensão política assume um papel bastante relevante


neste debate. Debate este que tem seu ponto de convergência na Câmara
Municipal de Curitiba.

Deste modo, torna‐se relevante abordar o papel desta instituição frente a


este contexto, no intuito de melhor compreender esta situação é tornar‐lhe mais
inteligível, assim, faz‐se mister uma análise que contemple de modo empírica
esta questão.

Neste sentido, para fins de pesquisa foi utilizada a ferramenta de busca


chamada Sistema de Proposição Legislativa – SPLII, que consiste em um portal
com objetivo de dar transparência as ações dos Vereadores da Câmara
Municipal de Curitiba, de tal forma que o usuário (cidadão) possa ter acesso aos
trabalhos apresentados na Casa do Legislativo, onde pode se consultar
Pág. 100 Memória Política de Curitiba

informações sobre, proposições, legislação, sessões plenárias, diários,


comissões, instruções jurídicas, ofícios e informação ao cidadão, entre outros
aspectos.

Assim, para efeitos de pesquisa foram lançados no sistema duas palavras


chaves no intuito de ter acesso, sobre o trâmite a movimentação deste órgão e a
posição dos Vereadores em relação ao tema aqui apontado. As palavras chaves
utilizadas foram os termos Consciência Negra, que apontou 53 entradas e 20 de
Novembro, com 576 entradas, que foram lidas e filtradas no intuito de separar
apenas aquelas, que tinham de maneira mais direta haver com o a pesquisa aqui
proposta.

Contudo, é conveniente chamar a atenção para o fato de que, devido ao


tamanho e ao propósito deste artigo, não é possível esgotar o assunto, e nem tão
pouco o poderia, uma vez que, o esforço realizado seguirá no sentido de
historicizar e analisar brevemente as ações tomadas pelos membros da Câmara,
neste caso os Vereadores, no sentido de tencionar as questões relativas ao tema
do 20 de Novembro.

A primeira proposição a abordar o tema ocorre em 20 de novembro de


2001 o Vereador André Passos, faz um requerimento de inserção nos anais da
Assembleia a inserção de artigo vinculado pelo Jornal Gazeta do Povo, na sessão
cultural Caderno G, publicado no mesmo dia do texto intitulado Zumbi nas
Margens do Sul, escrita pelo jornalista Marco Zibordi.

O Vereador chama atenção para o fato do artigo fazer a importância


histórica do 20 de Novembro para a sociedade brasileira, bem como, do papel
do negro para Curitiba e o Brasil. Neste sentido menciona ainda, a questão do
respeito a diversidade.
Pág. 101 Memória Política de Curitiba

Esta é uma das primeiras falas a respeito do Dia da Consciência Negra


apontada nas entradas apontadas no portal da Câmara Municipal de Curitiba,
que apesar de tratar da questão da data em si não enuncia a ideia de feriado ou
mesmo da conversão desta data em um marco para o município, atem‐se apenas
ao interesse da preservação documental desta memória, fazendo menção a
reportagem e a intenção de sua preservação nos anais da instituição onde, lê‐se:


O dia 20 de novembro é o dia da Consciência Negra e celebrar esse
dia significa muito mais do que evocar Zumbi. Para além disto,
enfatizar o debate sobre as questões postas pelo Movimento Negro,
que explicitam as desigualdades raciais e étnicas vividas no Brasil.
Tendo como fundamento o respeito à pluralidade de culturas, etnias,
religiões e classes sociais, é preciso que neste dia se reflita sobre a
dívida que a sociedade brasileira tem para com os afrodescendentes
e marque‐se os artigos sobre o assunto, divulgando a história de Luta
da população negra. Por isso, acreditamos ser fundamental anexar
essas reportagens que torna visível as ações do movimento negro.

No que a ideia de feriado ou mesmo da criação deste, ainda, não se faz


presente, por outro lado esta ação é uma tentativa que evidencia o Dia da
Consciência Negra como algo relevante e passível de nota.

A segunda proposta verificada, foi o Projeto de Lei Ordinária de iniciativa


do Vereador Reinhold Stephanes Jr, que busca Institui o "Dia Municipal da
Consciência Negra", a ser comemorado no dia 20 de novembro, anualmente."
Dia Municipal da Consciência Negra", a ser comemorado no dia 20 de
novembro, anualmente.

Ao propor o feriado o Vereador tem em seu horizonte a adoção Dia


Nacional da Consciência Negra, instituído no dia 10 de Novembro de 2003, com
o Decreto lei nº 12.519, que oficializa a data proposta pelo Movimento Negro
em 1971 e divulgado nacionalmente em 1978.
Pág. 102 Memória Política de Curitiba

Propõe ainda, que com a adoção da data, seja realizado junto a população
um conjunto de eventos e atos públicos que visem esclarecer, dar visibilidade e
importância as contribuições e a participação da população negra da cidade.

Posteriormente, entre o período de 20 de Novembro de 2006 à 22 de


Dezembro de 2008, tramitou o Projeto de Lei Ordinária, desta vez por iniciativa
do Vereador Manassés Oliveira, outro projeto que também propõe a adoção do
feriado, desta vez, valendo‐se, de elementos históricos que evidenciam a
importância e a participação da população negra na sociedade brasileira,
recorrendo ainsa, a um breve histórico da data em questão. Chama ainda, a
atenção para o “Art. 1º ‐ Inclui‐se a Lei nº 10.921, de 18 de dezembro de 2003, o
inciso VI, dispondo a seguinte redação: VI ‐ Institui‐se como Feriado Municipal o
"Dia da Consciência Negra"., no intuito de buscar a aprovação de lei que fixe a
ocasião como efeméride adicta ao calendário da cidade.

Um ano mais tarde, em 18 de Novembro de 2009, a Vereadora Renata


Bueno, solicitou a inscrição da data nos anais da Instituição, evento que tem
importante relevância simbólica.

O período que se seguiu‐se durante os anos de 2010 e 2013, mais


precisamente entre 16 de Julho de 2010 e 21 de Janeiro de 2013, tramitou o
Projeto de Lei Ordinária, de iniciativa do Vereador Clementino Vieira, que
solicitava alteração da “ Lei nº 10.921, de 18 de dezembro de 2003, que dispõe
sobre o combate ao racismo no Município de Curitiba e dá outras providências”
para que passe a vigorar a seguinte redação conforme aponta o vereador:

Art. 1º ‐ O inciso V do artigo 1º da Lei nº 10.921, de 18 de dezembro


de 2003, passa a vigorar com a seguinte redação:
Pág. 103 Memória Política de Curitiba

"V ‐ institui o dia 20 de novembro como feriado municipal e "Dia da


Consciência Negra" no calendário oficial do Município de Curitiba, em
homenagem ao Dia Nacional da Consciência Negra."

Art. 2º ‐ Esta lei entra em vigor na data de sua publicação.”

No que, ao justificar a adoção da data e sua importância, alude ao fato de


que este já é considerado como feriado em “757 municípios ( dos 5.564
municípios brasileiros) que já se sensibilizaram com a luta pela inclusão racial,
comemorando a data com festividades específicas.” e ainda, que “no Mato
Grosso e no Rio de Janeiro, o feriado é estadual e, em 2008, o Mato Grosso do
Sul também tornou o dia feriado em todos os municípios.”. No que ressalta
ainda, a importância simbólica e social deste para a população negra em geral,
bem como, reforça que, “Mais do que a questão da folga ou não do trabalho e da
escola, o dia da Consciência Negra é uma forma de discutir o assunto da
igualdade racial”, rebatendo possíveis críticas de que este consistiria uma
parada imprópria ou desnecessária.

Já em 12 de Junho de 2012, tramita na Câmara projeto de Requerimento


de Encaminhamento de Sugestão ao Executivo, encaminhado pelo Vereador
Tico Kuzma, com autoria do Instituto 21 de Março ‐ Consciência Negra e
Direitos Humanos, que versa sobre a criação da Coordenadoria Municipal
Especial de Políticas Étnico Racial (COMEPER) , que em projeto bastante
extenso e elaborado, aponta elementos relevantes e que justificam a criação de
um órgão ou comissão junto à Prefeitura com objetivo de “formular, coordenar
e articular as políticas públicas de promoção da igualdade substancial e da
proteção dos direitos de indivíduos e grupos raciais e étnicos, com ênfase na
população negra, afetados por discriminação racial e demais formas de
intolerância” que tange a questão do feriado do 20 de Novembro, aponta como
um de seus papeis “ Organização das atividades do feriado de 20 de novembro
Pág. 104 Memória Política de Curitiba

em conjunto com as secretarias da Educação, Cultura, Saúde, Esportes, etc.”, de


tal forma que apresenta este evento como ponto focal de conscientização e
formação da população, bem como, salienta a importância da participação do
poder público através da Prefeitura e demais órgãos da municipalidade nesta
incursão.

Como base de sua fundamentação cita o Congresso de Durban, A Carta


dos Direitos Humanos, a Constituição Federal (Art. 3°, IV; Art. 208, IV) e a Lei
Federal 12.288/2010 que dispõe sobre o Estatuto da Igualdade Racial, entre
outros aspectos.

Chama a atenção para incumbência da Prefeitura ao asseverar que:

O Município de Curitiba é um estado que serve de espelho para todos


os outros estados da federação, e, diante desta assertiva a criação da
COMEPER ‐ Coordenadoria Municipal Especial de Políticas Étnico‐
Raciais, conforme prevê o Estatuto da Igualdade Racial (Lei Federal
Nº. 12.288/2010) e a Convenção de Durban Convenção Internacional,
com efeitos de Emenda Constitucional, demonstrará que o o
Município de Curitiba, por meio do seu Prefeito, a visão Gestor
Público moderno preocupado não apenas com seus eleitores, mas
com toda a sociedade, respeitando o Estado Democrático de Direito.
Isso significa que essas ações constituem relevantes medidas para a
implementação do direito à igualdade. Faz‐se, assim, emergencial a
adoção de ações afirmativas que promovam medidas compensatórias
voltadas à concretização da igualdade racial.

Outra proposta encaminhada foi o Projeto de Lei Ordinária de iniciativa


de Tito Zeglin, com autoria de Jonas Airton Miecznikowski do Gabinete do
mesmo Vereador que tramitou entre as datas 20 de Novembro de 2012 à 04 de
Janeiro de 2013, que propõe “a inserção da Festa da Igreja do Rosário no
Calendário Oficial de Eventos do Município de Curitiba, e dá outras
providências.”, festa esta que deve ser celebrada no “ final de semana mais
próximo ao dia 20, data em que se comemora o Dia de Zumbi dos Palmares, da
consciência e da luta do povo negro.” que chama atenção pelo seu caráter social
Pág. 105 Memória Política de Curitiba

e simbólico do evento que busca dar maior visibilidade à população negra da


cidade, bem como, ao Dia da Consciência Negra.

Posteriormente os mesmo autores propõe projeto de lei orçamentária


em 5 de Fevereiro de 2013 que tramita até a data de 25 de Abril do mesmo ano,
em novamente “ Dispõe sobre a inserção da Festa da Igreja do Rosário no
Calendário Oficial de Eventos do Município de Curitiba, e dá outras
providências.”, em que ligam o evento de modo mais direto ao Dia da
Consciência Negra, em que esta assevera que:

Art. 1º Fica incluída no Calendário Oficial de Eventos do Município de


Curitiba a Festa da Igreja do Rosário.

Art. 2º O evento que se refere o Art. 1º deverá ser realizado


anualmente no dia 20 de novembro, "Dia da Consciência e da Luta do
Povo Negro", data em que se comemora o "Dia de ZUMBI DOS
PALMARES."

Parágrafo Único. Caso o dia 20 de novembro venha coincidir com o


DOMINGO, a festa deverá ser antecipada para o dia 19, SÁBADO.

Este projeto, embora, não trate diretamente da questão do Dia da


Consciência, oferece estofo a esta questão, na medida em que ao visibilizar
atividades dos grupos negros e o de parte da população negra, rebate possível
critica a ideia de que não há população negra ou em número relevante e que
justifique o festejo na Cidade.

Projeto curioso e interessante é o proposto em Projeto de Lei Ordinária


de 12 de Novembro de 2013, de iniciativa do Vereador Professor Galdino, onde
este por meio de seu projeto “Institui o dia 20 de janeiro como feriado
municipal e "Dia da Consciência Indígena" no calendário oficial do Município de
Pág. 106 Memória Política de Curitiba

Curitiba.”, que aponta para a diversificação no que toca o princípio da inclusão


fato este bastante importante, contudo este parece relativizar a questão do
Feriado da Consciência Negra quando enuncia que:

Nesse dia, indígenas de todas as etnias vão estar unidos para


reivindicar por seus direitos, no momento em que o pais se encontra
em relevantes divergências sociais e raciais, visto que o índio é
excluído em alguns programas de igualdade racial, bem como é
deixado de lado pelos legisladores. Se foram criados dias como o da
Consciência Negra, por que não termos também o Dia da Consciência
Indígena?

Outro projeto que alude ao Feriado do 20 de Novembro é o de Emenda


Orçamentária Aditiva, proposto em 02 de Dezembro de 2013, pelo Vereador
Jorge Bernardi, que versa sobre a Festa da Lavação das Escadarias da Igreja do
Rosário dos Pretos de São Benedito, que como apontado anteriormente tem
vínculo direto com o Dia da Consciência Negra, no qual dispõe‐se a tratar da
inserção de recursos relativos à atividades da Secretária de Turismo a fim de
dar maior suporte ao evento, apontando para a importância turística e cultural
do mesmo, uma vez que, este adiciona incremento ao comércio que se faz
presente junto ao evento, fazendo alusão ainda, a atração do turismo produzida
pelo mesmo, apontando a necessidade da disponibilização de material de
propaganda e suporte ao evento.

Há ainda o Requerimento de Realização de Audiência Pública proposto


em 07 de Outubro de 2013, pela Vereadora Professora Josete, que tem como
escopo “Requer à Mesa na forma regimental, a realização de audiência pública
na data de 22 de novembro de 2013. Tema: Dia da Consciência Negra” na qual
se buscou avaliar as políticas públicas adotadas em relação a população negra,
tendo como interlocutores os “Representantes do Movimento Negro de Curitiba,
Pág. 107 Memória Política de Curitiba

Membros da Secretaria Municipal do Trabalho e da Secretaria Municipal de


Educação.”

No entanto, ainda naquele ano em 17de Janeiro de 201, o Vereador Paulo


Salamuni, na qualidade de Presidente da Câmara, sanciona a modificação na Lei
n° 10.921, que institui oficialmente o Feriado da Consciência Negra – Dia 20 de
Novembro‐ como feriado no Calendário Oficial da Cidade, evento este que
gerará toda a altercação já aludida, nas primeiras páginas deste artigo e que
gerará ainda, grande movimentação na Câmara e na Cidade em torno do tema.

No calor deste debate, quase um ano mais tarde, em 17 de Outubro de


2014, o Vereador Jorge Bernardi, propõe Requerimento de Realização de
seminário /simpósio, em que “Solicita a realização de Seminário na data de 27
de novembro de 2014. Tema: "Dia da Consciência Negra: Políticas afirmativas
para promoção da igualdade racial"., em que procura agregar de mesmo modo
os agentes da sociedade civil organizada e representantes de outras entidades,
representadas pela “Secretaria Municipal de Educação, Fas, Ministério
Público/PR, OAB/PR, TJ/PR, Docentes do Centro Universitário Uninter, UFPR,
PUC/PR, e comunidade civil organizada.” a fim de debater sobre o Feriado do 20
de Novembro, que toca os seguintes considerações:

Mais que um dia de comemorações a data também é dedicada à


reflexão sobre o papel do negro na sociedade brasileira, desde a
resistência contra a escravidão dos africanos trazidos ao Brasil,
iniciada em 1549, até a inserção do negro na sociedade atual, visto
sob o viés econômico, social, político, religioso, cultural, etc.
Cabe destacar que a data encontra comemorações, inclusive, em solo
Curitibano onde, apesar da colonização europeia, a cidade também
foi formada por indivíduos afrodescendentes que, em especial nesta
data, relembram a importância dos seus antepassados na construção
e Curitiba e do Paraná como um todo.
A Reunião Pública aqui requerida visa colaborar na discussão sobre a
condição do negro neste início do século XXI, relembrando o seu
passado, compreendendo o seu presente e planejando o futuro.

Pág. 108 Memória Política de Curitiba

Em sentido contrário se apresenta o Projeto de Lei Ordinária,


apresentado em 14 de Março de 2014, pelo Vereador Chicarelli, na qual
pretende aludir sobre a capacidade ou poder da Municipalidade em arbitras
feriados, do que apresenta a seguinte disposição:

Regulamenta a instituição de datas comemorativas em Curitiba na


forma que menciona.

Texto:

Art. 1º ‐ A instituição de datas para homenagear pessoas, santos,


profissões e outros temas de interesse comemorativo na cidade de
Curitiba não implicará na decretação de feriado.

Art. 2º ‐ Exclui‐se da obrigatoriedade estipulada na presente Lei,


todos os feriados nacionais, estaduais e municipais já existentes até a
data da publicação da presente Lei.

De parte do princípio de que os Estados e Municípios ao proporem


feriados e datas comemorativa que impliquem em paradas o fazem
por desconhecerem as disposições da lei que versam sobre o assunto,
no que aponta que:

Muitos são os municípios brasileiros em que, por desconhecimento


ou interpretação distorcida da lei, decretam, ainda que mediante
prévia autorização legislativa, feriados civis e ou religiosos indo
contra o que preceitua a legislação.

A Lei 9.093/95, dispõe sobre os feriados e dá conta de que os


feriados podem ser classificados em civis e religiosos, estabelecendo
de forma taxativa nos seus artigos 1º e 2º, as suas especificidades,
sua redação nestes artigos é a seguinte:

"O PRESIDENTE DA REPÚBLICA

Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a


seguinte Lei:

Artigo 1o ‐ São feriados civis:

I ‐ os declarados em lei federal;

II ‐ a data magna do Estado fixada em lei estadual;

III ‐ os dias do início e do término do ano do centenário de fundação


do Município, fixados em lei municipal. (Acrescentado pela Lei nº.
9.335/96).
Pág. 109 Memória Política de Curitiba

Artigo 2o ‐ São feriados religiosos os dias de guarda, declarados em


lei municipal de acordo com a tradição local, e em número não
superior a quatro, neste incluída a Sexta‐feira da Paixão."

Sendo assim em pesquisa, no site do Governo Federal


(http://www.brasil.gov.br/governo/2012/04/feriados‐nacionais/)
segue abaixo os feriados nacionais, onde vale a pena ressaltar que
nos dias em que se realizarem eleições em todo país ou municípios,
também é feriado nacional, especificado no artigo 1º da Lei nº.
1.266/1950.

Apontando, deste modo, a partir de sua exposição a ilegalidade de


Estados e Municípios ao arbitrarem sobre tal matéria.

Desta feita, tece críticas ao feriado da Consciência Negra, que segundo


este além de estar em inconformidade com a Lei Federal, ainda poderia
acarretar sério prejuízo financeiro a cidade, em oposição ao que relata
anteriormente o Vereador Jorge Bernardi, que aponta que o evento da Lavação
da Escadaria da Igreja do Rosário, atividade esta estreitamente ligada ao 20 de
Novembro, necessitava mais investimento devido ao potencial econômico
gerado por esta atividade, o que em muitos aspectos desmente a justificativa de
cunho econômico apontada pelo Vereado Chicarelli, quando este aponta que:

Este Projeto de Lei que apresento nesta casa legislativa se faz


pertinente, pois repercute em toda as camadas sociais da capital e
interfere no cotidiano de toda a sociedade. Em recente debate, o
feriado da consciência negra trouxe diversos pontos de vista a um
feriado votado e aprovado nesta casa de leis, porém que no
entendimento da justiça estadual e nacional foi impugnado. Um dos
pontos de vista apresentados pela Associação Comercial do Paraná,
foi que o feriado próximo as festas natalinas, traria como
consequência ao comércio, ou seja, deixaria de circular a quantia que
poderia chegar a R$160 milhões, o que de fato em qualquer outro
feriado votado, dependendo em qual dia da semana caia, pode
acarretar perdas de 4 dias na semana.
Defendo, entendo e respeito todos os feriados já existentes hoje,
porém acredito que já estejamos em um limite considerável, por
entender que desde a Constituição de 1988 já tenhamos tempo para
analisar todas as alusões e homenagens, devendo todos os
Pág. 110 Memória Política de Curitiba

legisladores e chefes do poder executivo, entender que a Lei


9.093/95 estabeleceu os limites prudenciais para estas datas.
Respeitando esta lei supra citada e em vigor, nenhum evento e
instituição, por qual importância que seja deve desrespeitar a
legislação máxima de um país.
Acredito que estabelecer dias alusivos a tais profissões, credo ou
raça, seja do bom entendimento de cada legislador, porém os que
podem ser julgados inconstitucionais e ilegais devem figurar no
calendário oficial do Município apenas como datas comemorativas,
referente às quais o município tem a legitimidade de decretar ponto
facultativo nas repartições públicas municipais.

Mais à frente, em 03 de Agosto de 2015, o Vereador Jorge Bernardi, faz o


Requerimento de Realização de Audiência Pública, onde vem a “Requer à Mesa
na forma regimental, a realização de audiência pública na data de 12 de
Novembro de 2015. Tema: "DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA", no qual vem a
Câmara debater a respeito dos temas relativos ao 20 de Novembro. Evento este
que contou com a presença dos representantes do Ministério Público ‐ Dra.
Mariana Seifert Bazzo; OAB ‐ Mesael Caetano dos Santos; Universidade Federal ‐
NEAB (Núcleo de Estudos AFRO‐Brasileiros) e Coordenadoria de Direitos
Humanos da Prefeitura Municipal de Curitiba o que aponta, para o fato de os
enfrentamentos e tencionamentos em torno do tema não se esgotaram e ainda
perfazem um debate relevante para a Cidade.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O tema da Consciência Negra ou o Feriado da Consciência Negra,


evidenciam uma questão importante, que tem em foco o lugar social e político
do negro na Cidade de Curitiba. Problema este, que tem se apresentado como
um elemento de longa duração no que toca o imaginário da Cidade, que como se
buscou apresentar até aqui, sempre ocultou a presença do negro e o seu lugar
Pág. 111 Memória Política de Curitiba

neste espaço, mas, que em um contexto de transformação social, modernização,


organização da população negra, e da adoção de política afirmativas, não tem
mais como conter e invisibilizar as questões e contradições expostas, na
tentativa da adoção do feriado.

O que se observa é que os debates em torno do tema, apesar de se


desenharem em um período de 16 anos, pelo que foi apurado até aqui, refletem
problemas centenários, que estão longe de serem resolvidos, apenas, pela
adoção de uma lei ou decreto, mas, que ao se evidenciarem denotam uma
mudança substancial no modo de se enxergar a Cidade e como ela pensa a si
mesma, assim como, a necessidades de maior enfrentamento destas questões e
pesquisas na área.

As pesquisa, na área se fazem necessárias, pois, um dos elementos


observados nos embates em torno da questão do feriado eram quase, senão a
maioria, os mesmos, o que engessa as discussões e impede a chegada à políticas
mais concretas no enfrentamento dos problemas aludidos e mesmo a
qualificação e ampliação das políticas já adotadas, de tal sorte, que com este
trabalho e possíveis pesquisas que possam se seguir, espera‐se ter ajudado a
lançar mais luzes, sobre a questão, que valem ressaltar , que mais do que um
feriado, aludem ao lugar ou ainda, ao não lugar ocupado pela população negra
na sociedade curitibana.

REFERÊNCIAS

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Santa Catarina: Letras Contemporâneas, 1996.

LENOIR, Remi. O objeto sociológico e problema social. In: CHAMPAGNE,
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Pág. 112 Memória Política de Curitiba


MARTINS, Paulo Henrique. A Sociologia de Marcel Mauss: dádiva,
simbolismo e associação. Revista Crítica de Ciências Sociais, Coimbra, n. 73, p.
45 ‐ 66, dez. 2005

MARTINS, Wilson. Um Brasil diferente (ensaios sobre fenômenos de
aculturação no Paraná). 2ªed. São Paulo: TA. Queiroz, 1989.

MORAES, P. R. B. de & Souza, M. G. Invisibilidade, preconceito e violência
racial em Curitiba. Revista de Sociologia e Política. Curitiba: nº. 13, Nov.1999.

MOREIRA, C. O Privilégio da Brancura: Uma etnografia no Colégio Estadual
Edvaldo Brandão em Cachoeira ‐ Ba. 1997. Dissertação (Mestrado) –
Universidade Federal do Recôncavo da Bahia . Cachoeira, 2014

ORTIZ, Renato. Cultura Brasileira e Identidade Nacional. São Paulo:
Brasiliense, 2006

PEREIRA, Magnus Roberto de Mello Semeando Iras Rumo ao Progresso:
ordenamento jurídico e econômico da Sociedade Paranaense, 1829‐1889.
Curitiba, Ed. da UFPR, 1996.

SANCHES, M. A. O negro em Curitiba: a invisibilidade cultural do visível.
1997. Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal do Paraná. Programa de
Pós‐Graduação em Antropologia. Curitiba, 1997

SILVEIRA, Oliveira . Vinte de Novembro: história e conteúdo. In: SILVA,
P. B. G.; SILVÉRIO, V. R. Educação e ações afirmativas: entre a injustiça
simbólica e a injustiça econômica. Brasília: Editora Inep: MEC, 2003. p. 21‐42.

SOUZA, Jurandir. Espaço e territorialidade afro‐descendente em Curitiba In:
COSTA, Hilton; SILVA, Paulo Vinicius B. (Orgs.). Notas de história e cultura afro‐
brasileiras. Ponta Grossa, Editora UEPG/ UFPR, 2007
SISTEMA DE PROPOSIÇÕES LEGISLATIVAS – SPLII
<http://www.cmc.pr.gov.br/wspl/system/MainMenu.jsp>


Pág. 113 Memória Política de Curitiba

Mulheres e Política na Região Metropolitana


de Curitiba‐Pinhais




Gloria Estevinho28



Resumo: Realizamos uma pesquisa com objetivo de analisar a participação política das
mulheres na Câmara Municipal de Pinhais, município da região metropolitana de Curitiba/PR
entre os anos de 1993 a 2016. Para tanto, um banco de dados dos candidatos eleitos foi
construído e, com ele, foi possível apresentar um balanço da participação das mulheres nas
eleições municipais, analisar o perfil das vereadoras a partir de dimensões sociais e econômicas,
tais como idade, estado civil, escolaridade, profissão e filiação partidária. Os resultados marcam
uma participação feminina muito baixa se comparada com a presença masculina. Em que pese
certa abertura e incentivo no sentido de maior participação das mulheres na vida político‐
partidária, como estabelece a lei de cotas, essa participação está muito aquém do seu
contingente populacional, como revelam os dados sobre a participação feminina no poder
legislativo local de Pinhais.



Palavras‐chave: Política e gênero; representação feminina; Pinhais.






28 Graduada em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Paraná. Especialista em


Sociologia Política pela UFPR. Endereço eletrônico: estevinho_gomes@hotmail.com

Pág. 114 Memória Política de Curitiba

INTRODUÇÃO

No último dia 20 de março de 2016 o município de Pinhais comemorou
24 anos tendo sido criado pela Lei Nº 9.906 de 1992 que foi promulgada pelo
presidente da Assembleia Legislativa do Paraná na época, deputado Aníbal
Khury. O município nasceu com uma extensão territorial de 60,92 km2, quando
foi desmembrado do município de Piraquara. Pinhais nasceu das ideias posta no
Projeto de Lei Nº 271/8629, apresentado pelo então Deputado Estadual Aníbal
Khury e inicialmente contemplava apenas 22 km de extensão. Essa proposta
deixava de fora bairros importantes como Maria Antonieta, Jardim Amélia,
Alphaville Graciosa, Parque das Nascentes e Parque das Águas e isso provocou
uma reação da população e dos partidos políticos. A Proposta de Lei Nº
9.906/92 nasce em substituição do referido projeto e contempla além dos
bairros citados a extensão que vai do rio Atuba e Irai (Antigo Leito) até o
encontro com o Rio Canguri na divisa do município de Quatro Barras e continua
a nordeste até a PR‐410 (Estrada da Graciosa), por esta direção a Oeste segue
até chegar ao rio Atuba, a partir de onde segue a Sul, até a confluência do rio
Iraí. Segundo Silva (2008, p. 8):


A emancipação de Pinhais não foi um processo isolado: faz parte de
um processo mais amplo de desmembramento dos municípios
brasileiros, apontado pela literatura como recorrente no país após a
promulgação da Constituição de 1988 ... Essa Constituição incentivou
os processos emancipatórios municipais, na medida em que exigia a
realização de um Plebiscito de consulta à população ligada
diretamente à área a ser desmembrada, sem consultar a população
do município como um todo. O parágrafo 4º do artigo de número 18,
do capítulo I ‐ da Organização Político‐Administrativo, da

29 Disponível em http://www.alep.pr.gov.br/web/pesquisa_projetos/pesquisa_projetos.php.
Acesso em 25.março.2016.

Pág. 115 Memória Política de Curitiba

Constituição Federal dispõe sobre a criação de novos municípios e


estabelece os trâmites legais ...

Os desmembramentos municipais multiplicaram‐se no país após a


promulgação da Constituição de 198830 e no Paraná, o grande articulador
político dos processos de emancipação foi o deputado estadual Aníbal Khury,
responsável por 15% da criação de novos municípios no Estado, ganhando a
alcunha de “Pai” das cidades que criou.

Pinhais tem a sua história bastante recente, mas a ocupação de seu


território remonta há vários séculos quando o Planalto Curitibano começa a ser
ocupado no final do século XVI e alguns povoados surgem em decorrência disso.
A área de Pinhais pertenceu ao território de Curitiba até fins do século XIX. No
ano de 1890, uma parte do território de Curitiba foi desmembrada, passando a
constituir o município de Colombo. A região que comportava Pinhais estava
inserida nessa área desmembrada, o que significa que Pinhais passou a
pertencer, administrativa e politicamente, a Colombo. Isso pode ser constatado
pelo decreto Nº 71 de 31 de janeiro de 189031, que fixou os limites do novo
município (SILVA, 2010).

A partir da década de 1930, o Paraná passou a ser administrado pelo


interventor Manoel Ribas, que realizou mudanças de cunho político‐
administrativo, interferindo inclusive na delimitação geográfica de vários
municípios do estado. Dentro desse processo, no ano de 1932, o território onde

30 Conforme Tomio (2002), entre 1988 e 2000, foram criados 1.438 novos municípios, isto é,

25% de todos os municípios existentes atualmente no Brasil.


31 Para acesso as leis estaduais consultar site do Arquivo Público do Paraná
http://www.arquivopublico.pr.gov.br/. Acesso em 29.fev.2016.

Pág. 116 Memória Política de Curitiba

se situa Pinhais passou a pertencer ao município de Piraquara, no mesmo


momento em que o município de Colombo foi extinto (seu território foi
reanexado ao de Curitiba, sendo recriado mais tarde). O município de Piraquara
havia sido desmembrado de São José dos Pinhais na mesma época em que a
área de Colombo foi desmembrada de Curitiba. O Decreto Nº 2.505 de 27 de
outubro de 1932, fixou os novos limites de Piraquara, anexando o território de
Pinhais32. Na década de 1960, a comunidade começou a reivindicar a instalação
de serviços públicos locais. Paralelamente, começaram a ser eleitos os
primeiros representantes pinhaienses que ingressaram na ordem política do
município de Piraquara. Devido à importância e a participação que o povoado
conquistou no cenário político municipal, Pinhais foi elevado à categoria de
Distrito em 21 de novembro de 1964. Nos anos 1970 e 1980, o distrito recebeu
um enorme contingente populacional, acarretando demandas em vários setores.
Assim, em 1991 foi realizado um plebiscito que revelou um alto índice de
aprovação da emancipação política, cerca de 20.456 de um total de 23.310
participantes (87% de aprovação)33 (XAVIER, 2000).

Atendendo a essa solicitação dos moradores do distrito, o deputado


estadual Aníbal Khury (então presidente da Assembleia Legislativa do Paraná),
determinou a criação do município de Pinhais, sendo o seu território
desmembrado do de Piraquara. O município de Pinhais foi oficialmente
instalado no dia 20 de março do ano de 1992. Sendo eleito como primeiro

32 Para acesso as leis estaduais consultar site do Arquivo Público do Paraná


http://www.arquivopublico.pr.gov.br/. Acesso em 29.fev.2016.

33 Consultar também
http://www.pinhais.pr.gov.br/acidade/FreeComponent16content289.shtml. Acesso em
29.fev.2016.

Pág. 117 Memória Política de Curitiba

prefeito de Pinhais João Batista Costa, que assumiu a prefeitura em 01 de


janeiro de 1993.

Mesmo sendo o menor dos 399 municípios paranaenses, em área


territorial, com 60,92 km², Pinhais figura entre as 14 cidades mais populosas do
estado, com uma população de 117.008 habitantes34. No município, distante 10
km de Curitiba, está localizado o Autódromo Internacional de Curitiba,
o Expotrade (um dos maiores Centros de Convenções e Exposições do estado),
a Granja do Canguiri (residência oficial do governador do Paraná) e grandes
condomínios horizontais, dentre os quais destacam‐se o complexo Pineville e os
loteamentos Alphaville Graciosa e Alphaville Pinheiros, ambos às margens da
centenária Estrada da Graciosa. O número de eleitores registrados no
município é de 89.28535.

QUADRO 2 – INDICADORES ECONÔMICOS DE PINHAIS


Indicadores Econômicos de Pinhais

IDH 0,815

PIB R$ 4.493.030,41 mil

PIB per capita R$ 38.347,56

Densidade Demográfica 1.913,48 habitantes/km2

Taxa de pobreza 14,18%

Fonte: Paraná em números.

34 Disponível em http://cidades.ibge.gov.br/painel/painel.php?codmun=411915. Acesso


24.março.2016.

35 Conforme http://www.tse.jus.br/eleitores/eleitores‐paraná/pinhais. Acesso em 29.fev.2016.
Pág. 118 Memória Política de Curitiba

Disponível
http://www.ipardes.gov.br/index.php?pg_conteudo=1&cod_conteudo=1. Acesso
24.março.2016


1. O PODER LEGISLATIVO EM PINHAIS

Pinhais foi um dos 42 municípios criados no Paraná em 1992 pelo


deputado Aníbal Khury36. Silva (2008) nos relata que o processo de
emancipação não foi tranquilo pois enfrentou a oposição do governador do
Estado na época, Roberto Requião que entrou na justiça para impedir a criação
de novos municípios, mas, apesar da confusão política a ALEP deu continuidade
ao processo conforme as exigências legais.37 Isso evidencia mais uma prática do
CURISMO, conforme aponta Oliveira (2001 e 2012) pois Aníbal Khury se
tornava o padrinho desses novos municípios e assim perpetuava seu nome
como figura de legitimidade pela população para representar a população de
Pinhais (e dos outros municípios criados) na ALEP. Com a criação dos
municípios eram criados “currais eleitorais”, a base de votos de Khury era
ampliada pois ele conseguia a simpatia tanto dos moradores como dos políticos
locais, garantindo assim as suas sucessivas reeleições e a de seu sucessor, o neto
Alexandre Khury.

36 Entre os outros podemos destacar Umuarama, Carambeí, Fazenda Rio Grande, Pontal do

Paraná, Doutor Ulisses, Tunas do Paraná, Itaperuçu, Jussara, Cianorte, Formosa do Oeste,
Altônia, Goioerê, Iracema do Oeste, Cafezal do Sul, etc. IN: Paraná perde o Senhor das urnas.
Revista Divulgação Paraná, Curitiba, Ano IX, N.106, Setembro de 1999.

37 Silva (2008) também destaca as notícias da imprensa da época da emancipação que

alertavam que Pinhais ameaçava Piraquara que com a emancipação do distrito perdeu 65 mil
habitantes, ficando com 30 mil, além dos estabelecimentos comerciais e industriais que resultou
numa queda brusca de arrecadação.
Pág. 119 Memória Política de Curitiba

A Câmara Municipal de Pinhais foi instalada em 1993. Inicialmente


funcionou no edifício onde hoje está a SANEPAR na Avenida Camilo de Léllis,
238. Depois passou para o local onde hoje se encontra a sede da Igreja Universal
Reino de Deus na Avenida Camilo de Léllis, 476. Desde 2002 ocupa as
instalações atuais na Avenida Camilo de Léllis, 393.

A primeira legislatura (1993‐1996) foi composta de 15 vereadores. A


segunda (1997‐2000) e a terceira (2001‐2004) legislaturas foram composta de
17 vereadores cada. Às vésperas da 4ª legislatura (2005‐2008) foi votada a
redução do número de vereadores para se adaptar a legislação vigente e a
Câmara Municipal de Pinhais (CMP) passou a contar com 11 vereadores. A 5ª
legislatura (2009‐2012) também contou com 11 vereadores. Na legislatura
atual, a 6ª (2013‐2016), a Câmara Municipal de Pinhais conta com 15
vereadores.


Pág. 120 Memória Política de Curitiba


Fonte: http://www.bocamaldita.com/tag/camara‐municipal/. Acesso 25.março.2016


2. AS MULHERES NO PODER LEGISLATIVO DE PINHAIS

MARLY PAULINO FAGUNDES


FONTE: http://www.pinhais.pr.gov.br/. Acesso 04.04.2016


Pág. 121 Memória Política de Curitiba

Marli nasceu em 7 abril 1965, na cidade de Goioerê, noroeste do Paraná.


Chegou em Pinhais no início da década de 1980. Casou aos 17 anos. Tem dois
filhos e dois netos. É formada em Gestão Pública.38

Iniciou a carreira política nas eleições de 1996 quando foi eleita a


primeira vereadora de Pinhais, para a 2ª legislatura do município (1997‐2000)
aos 32 anos de idade pelo Partido Socialista Crstão/PSC. Nessa legislatura
ocupou o cargo de 1ª Secretária da Câmara Municipal de Pinhais (CMP) no
biênio 1997‐1998. Na eleição seguinte, do ano de 2000, foi reeleita vereadora
para a 3ª legislatura do município (2001‐2004) agora pelo PMDB. Nas eleições
de 2004 se recandidata para o cargo de vereadora e é eleita para seu terceiro
mandato consecutivo para a 4ª legislatura (2005‐2008), ainda pelo PMDB e
ocupa novamente o cargo de 1ª Secretária da CMP no biênio 2007‐2008.

No ano de 2006 saiu candidata à deputada estadual pelo PV (Partido


Verde) mas não foi eleita. Nas eleições de 2008 saiu como vice‐prefeita na chapa
com o Professor Luizão e foi eleita. Dessa vez sua filiação partidária era com o
Partido Democrático Trabalhista/PDT.

Nas eleições de 2010 concorreu a uma vaga como deputada estadual,


pelo PDT. Obteve 20.908 votos, mas não foi eleita39.

Nas eleições de 2012 se recandidata como vice‐prefeita na chapa com o


Professor Luizão e é reeleita. Ainda pelo PDT.

38 Disponível em http://www.pinhais.pr.gov.br/FreeComponent2content172.shtml. Acesso


08.abril.2016

39 Disponível em http://www.pinhais.pr.gov.br/News7content9784.shtml. Acesso
29.março.2016

Pág. 122 Memória Política de Curitiba

Nas eleições de 2014 concorre novamente a uma vaga como deputada


estadual, pelo PDT. Obteve 26.317 votos mas não foi eleita, ficando com a
primeira suplência do PDT40.



RITA DE CASSIA CRUZ ROMANIOW


FONTE: http://drarita.site.med.br/. Acesso 04.04.2016

Rita nasceu em 09 de setembro de 1962 na cidade de Curitiba. Formada
em Medicina, desde 1986, atua na área de obstetrícia e ginecologia. Casada com
Paulo Romaniow41. Tem um filho42.
Iniciou a carreira política nas eleições de 2000 quando foi eleita
vereadora de Pinhais, para a 3ª legislatura do município (2001‐2004) aos 39

40 Ver Irregularidade de Sanson pode mexer na composição da Assembleia. Disponível em

http://www.gazetadepalmeira.com.br/politica/irregularidade‐na‐candidatura‐de‐sanson‐
pode‐mexer‐na‐composicao‐da‐assembleia/. Acesso 08.abril.2016 e Ficha Politica disponível
em http://www.fichapolitica.com.br/?fp=215766. Acesso 08.abril.2016

41 Paulo Romaniow faleceu em 24 de novembro de 2008. Disponível em

http://www.bemparana.com.br/noticia/88978/mortos‐em‐24‐de‐novembro‐de‐2008 e
http://www.consultasocio.com/q/sa/rita‐de‐cassia‐cruz‐romaniow. Acesso 09.abril.2016.

42 Disponível em http://www.quadropolitico.com.br/DadosCandidato/2678260/Rita‐De‐
Cassia‐Cruz‐Romaniow. Acesso 08.abril.2016

Pág. 123 Memória Política de Curitiba

anos de idade pelo Partido Socialista Brasileiro/PSB. Nessa legislatura ocupou o


cargo de 2ª Secretária da CMP no biênio 2003‐2004. Nas eleições seguinte, do
ano de 2004, foi candidata à reeleição, agora pelo Democratas/DEM. Obteve 960
votos e ficou na suplência.43 Não voltou à vida política e hoje atua apenas como
médica.



IVONE CARVALHO DOS SANTOS – IVONE DO PT


Fonte: http://eleicoes.uol.com.br/2012/candidatos. Acesso 29.fev.2016

Nasceu em Jaciara, estado de Mato Grosso, em 27 de abril de 1968, filha
de Aluisio Rodrigues dos Santos e Marina Carvalho dos Santos. Chega em

43 Disponível em http://www.radaroficial.com.br/d/17408059. Acesso 08.abril.2016



Pág. 124 Memória Política de Curitiba

Piraquara em 1974, aos 7 anos de idade, após ter morado no interior de São
Paulo e Norte do Paraná na cidade de Florestópolis, a 79 Km de Londrina. É
solteira, possui o ensino médio completo e atuou na área de auxiliar
administrativa antes de ser eleita vereadora.
Relata ter desde criança uma inclinação à liderança, rompendo barreiras
exclusivamente masculina, jogando futebol na escola e negociando junto à
direção uma agenda que incluísse os jogos femininos. Na igreja, foi uma das
primeiras coroinhas de Piraquara, ainda com 9 anos, na Paróquia Nossa
Senhora da Luz, antes Boa Esperança. Nessa igreja funcionava uma comunidade
eclesial de base e junto com Padre Alberto desenvolve sua fé e política, com sua
mãe ativa a solidariedade e com o pai a ação aos mais necessitados.44 Sempre
envolvida na comunidade, participa junto com Luizão e Marcia Ferreira do
grupo de jovens da paróquia.
Tendo como exemplo seu pai, um dos primeiros filiados do Partido dos
Trabalhadores (PT), acompanha a constante luta pelo atendimento as carências
da população, que entre outras demandas cria um clube de compras a preço de
custo para a população. Filia‐se ao PT em 1996. Auto define‐se como “uma
pessoa incomodada com as injustiças sociais” e acredita que a “política é para
melhorar a vida das pessoas”45. Atuando na CMP foi a primeira mulher
presidente da casa.
Iniciou a carreira política nas eleições de 2004 quando foi eleita
vereadora de Pinhais, para a 4ª legislatura do município (2005‐2008) aos 37
anos de idade pelo PT, com 1096 votos. Na eleição seguinte, do ano de 2008, foi

44 Conforme entrevista concedida à Glória Estevinho em 29 de fevereiro de 2016.


45 Conforme entrevista concedida à Glória Estevinho em 29 de fevereiro de 2016.


Pág. 125 Memória Política de Curitiba

reeleita vereadora pelo PT com 864 votos. Nessa legislatura ocupou o cargo de
1ª Secretária da CMP no biênio 2009‐2010 e foi a primeira mulher Presidente
da CMP no biênio 2011‐201246.
Nas eleições de 2012 concorreu à reeleição, pelo PT. Obteve 998 votos,
mas não foi reeleita. Atualmente está cursando a faculdade de Serviço Social e é
Diretora de DEPSE (Departamento de Proteção Social Especial) na Prefeitura
Municipal de Pinhais.47



CECILIA PADOVAN SERAFIM ‐ CECILIA DA SAÚDE


Fonte: http://eleicoes.uol.com.br/2012/candidatos. Acesso 29.fev.2016

Nasceu em Ocauçu, estado de São Paulo em 29 de novembro de 1945.
Aos 15 anos, em 1960, casa‐se e vai morar em Barbosa Ferraz, estado do
Paraná, onde dedica‐se ao trabalho na lavoura, num sítio do sogro de seu irmão.

46 Dados coletados pessoalmente na Câmara Municipal de Pinhais.


47 Disponível em http://www.pinhais.pr.gov.br/News7content9784.shtml. Acesso
29.março.2016

Pág. 126 Memória Política de Curitiba

É filha de Orlando Padovan e Inês Colombo Padovan, ambos trabalhadores


rurais. Em 1967 voltou para São Paulo, aonde concluiu o curso de Enfermagem,
trabalhou no Hospital Oswaldo Cruz e no Hospital Nossa Senhora de
Misericórdia em Osasco. No período em que morou em São Paulo, chegou a
residir numa favela em Carapicuíba, onde cria os quatro filhos sozinha: João
Everaldo Serafim, Júlio Everaldo Serafim, Jane Aparecida Serafim e Jackson
Edenilson Serafim48. É avó de oito netos.
No ano de 1984 veio morar em Pinhais que na época ainda era Distrito
da Cidade de Piraquara. Durante quatro anos trabalhou no Hospital e
Maternidade de Pinhais. Em 1988 presta concurso para a área de saúde da
Prefeitura de Piraquara. Em 1992, com a emancipação do município de Pinhais
foi aprovada no primeiro concurso público realizado no município, aonde
exerceu suas atividades na área da saúde de 1992 até 2012. Antes de ser
candidata a vereadora atuou como coordenadora da Unidade de Saúde do
Weissópolis por 21 anos.
Nas eleições de 2004 se candidata a vereadora, obtém 1126 votos e fica
como suplente do DEM. Nas eleições seguinte, de 2008 concorre novamente ao
cargo de vereadora, agora pelo PDT, obtem 1139 votos, mas não é eleita. Em
2012 é eleita vereadora pelo PDT, com 754 votos49. Sua plataforma eleitoral foi
apresentar projetos voltados à família, saúde e idoso.

48 Falecido, vítima de acidente, foi cinegrafista do programa Carlos Alborghetti. Disponível em

http://agoraparana.uol.com.br/sady/2689_maes.pdf. Acesso 29.fev.2016.



49 Disponível em http://www.quadropolitico.com.br/DadosCandidato/2311818/Cecilia‐
Padovan‐Serafim. Acesso em 29.fev.2016.

Pág. 127 Memória Política de Curitiba

Considera‐se uma mulher atuante na política com uma trajetória pessoal


marcada pela coragem e determinação e por ter um trabalho muito
gratificante.50



MARCIA REGINA FERREIRA DA SILVA ‐ MÁRCIA FERREIRA


Fonte: http://www.eleicoes2012.info/marcia‐ferreira‐pmdb‐15015/. Acesso 29.fev.2016


Márcia Ferreira nasceu em 17 de julho de 1974 na cidade de Cianorte,
região Norte do Paraná e veio morar em Pinhais aos nove meses de idade. É a
filha mais nova de seis irmãos. Filha de José Ferreira, filiado ao Partido dos
Trabalhadores, na década de 1980 e 1990 foi candidato a vereador pelo PT e
um dos fundadores do partido em Pinhais. Participou da associação de
moradores do bairro Maria Antonieta. Sua mãe, Terezinha Cristani era
professora. Marcia sempre foi atuante com o grupo de jovens que praticava
ações junto à comunidade sendo articuladora no movimento em prol de
atitudes de conscientização referentes a AIDS, drogas, DST e na prevenção e

50Conforme entrevista cedida à Glória Estevinho em outubro de 2015.


Pág. 128 Memória Política de Curitiba

cuidados com a saúde. Junto à comunidade promoveu o 1º Festival de Música no


município em 2009. Ainda estudante, foi à Cuba representando os estudantes de
Pinhais no ano 2000. É casada, mãe de um filho, Socióloga formada pela
Universidade Federal do Paraná e pós graduada em Política Nacional de
Assistência Social pela PUC/PR. Desde muito jovem se engajou nos movimentos
sociais, onde aprendeu sobre a importância da cidadania e desenvolveu seu
interesse pela política. Entre 1988 a 1999 participou do Grupo Teatral
Aquarela, do Grupo de Jovens da Paróquia São José Operário, do GEPEN – Grupo
Ecológico pela Natureza, da Associação de Moradores do Bairro Maria
Antonieta, foi presidenta da Juventude Socialista, dirigente da UNESPI – União
dos Estudantes de Pinhais e da UPES – União Paranaense dos Estudantes
Secundaristas. Entre 2000 a 2008 participou do DCE da UFPR, atuou também na
Pastoral Familiar, foi vice‐presidenta e coordenadora de projetos de
alfabetização de jovens e adultos na Federação das Mulheres do Paraná e uma
das fundadoras da UMP – União das Mulheres de Pinhais. Entre 2009 e 2012 foi
Secretaria Municipal de Assistência Social e neste período implantou o SUAS
(Sistema Único de Assistência Social) e formou uma grande equipe de trabalho
que levou Pinhais a ser considerada pelo Ministério do Desenvolvimento Social
como modelo em nível nacional em gestão de assistência social. Nesse período
ocupou também outras funções relevantes, como a de Secretária Geral do
CONGEMAS (Colegiado Nacional dos Gestores Municipais de Assistência Social)
e Representante Regional do COGEMAS PR (Colegiado Estadual dos Gestores
Municipais de Assistência Social). Fez parte da juventude Socialista do PDT,
sendo a presidente mais jovem de partido político com 23 anos. Saiu do partido
em 2004 por conta da entrada de Álvaro Dias.
Pág. 129 Memória Política de Curitiba

Concorreu nas eleições de 2008 para vereadora, mas conseguiu apenas


609 votos e ficou como suplente do PMDB51. Nas eleições de 2012 foi eleita
vereadora, com 982 votos, pelo PMDB e em seu primeiro mandato tem
apresentado diversos projetos direcionados para área social, às mulheres, ao
desenvolvimento da infância e juventude e para o fortalecimento das famílias,
além da construção de políticas públicas para fomentar a cultura, o esporte e
melhorar os serviços de saúde e segurança pública. Márcia Ferreira é também a
Primeira Secretária da Mesa Executiva da Câmara Municipal, titular da
Comissão de Justiça e Redação, da Comissão de Segurança Pública e Vice
Presidenta da Frente Parlamentar de Proteção Animal. Exerce ainda a
Presidência do Diretório Estadual do PMDB Mulher do Paraná, é Diretora da
Federação das Mulheres do Paraná e Conselheira Estadual do CONCIDADES‐PR.
Considera importante o papel da mulher na política e luta para atingir os 50%
de participação, “não basta cumprir a legislação é preciso mudar a cultura
política e incentivar a participação das mulheres”52. O foco de seus projetos é
voltado para a mulher empreendedora.






51 Disponível em http://www.quadropolitico.com.br/DadosCandidato/2311818/Cecilia‐
Padovan‐Serafim. Acesso em 29.fev.2016.

52 Conforme entrevista concedida à Glória Estevinho em 29 de fevereiro de 2016.


Pág. 130 Memória Política de Curitiba

MARIA JANEIDE DE SOUZA PIACENTINI ‐ JANE CARTEIRA


Fonte: http://noticias.uol.com.br/politica/politicos‐brasil/2008/vereador/25031967‐jane‐carteira.jhtm /. Acesso
29.fev.2016

Maria Janeide de Souza Piacentini nasceu em 25 de março de 1967, em
Sertânia, estado de Pernambuco. Filha de Isaías Galdino e Agda Batista,
trabalhadores rurais. Casada com Gilberto Piacentini, metalúrgico, é mãe de três
filhos: Alexandre Junior, carteiro em Piraquara, Gustavo Piacentini e Camila
Piacentini. Tem uma neta. Há 26 anos mora em Pinhais, no Bairro Vargem
Grande. Trabalhou como cabeleireira, costureira e vendedora. Aprovada em
concurso público trabalhou por 12 anos nos Correios, passando a ser a primeira
mulher Carteira do Município de Pinhais, onde ficou popularmente conhecida
como “Jane Carteira”. Nos Correios, atuava como Delegada do Sindicato dos
Carteiros. Jane foi à fundadora da feirinha de artesanato do município, que era
realizada na Avenida Iraí53.

53 Conforme entrevista concedida à Glória Estevinho em 29 de fevereiro de 2016.


Pág. 131 Memória Política de Curitiba

Concorreu para vereadora nas eleições de 2004, obteve 579 votos e ficou
como suplente do PR. Nas eleições seguinte, de 2008 obteve 732 votos e não foi
eleita. Foi eleita em 2012 com 1107 votos54.





ROSA MARIA DE JESUS COLOMBO


Fonte: http://www.eleicoes2014.com.br/professora‐rosa‐maria//. Acesso 29.fev.2016

Nasceu em Santa Fé, estado do Paraná, em 17 de setembro de 1965. Filha
de José Manoel Nunes e Joviana Maria Nunes, ambos trabalhadores rurais. É a
terceira filha do casal, de uma família de 5 irmãos. Casada com Jó Roel Colombo,
é mãe de 4 filhas e tem dois netos. Fez seus estudos iniciais em escola pública e
trabalhou como costureira e copeira, antes de graduar‐se em Letras pela
Faculdade de Jandaia do Sul (FAFIJAN). Também é pós‐graduada em
Metodologia de Ensino, pela Faculdade Espírita, e em Psicopedagogia pela
UNICURITIBA. Fez uma especialização, pela UTFPR, em nível de mestrado, a
qual deu origem ao artigo sobre a importância da leitura. Ainda cursou

54 Disponível em http://www.quadropolitico.com.br/DadosCandidato/2301968/Maria‐Janeide‐

De‐Souza‐Piacentini. Acesso em 29.fev.2016. Ver também https://apps.tre‐


pr.jus.br/files/resultados/20041003A75043.pdf.
Pág. 132 Memória Política de Curitiba

Magistério e Contabilidade, antes de ingressar no ensino superior. Professora


de Português e Literatura, lecionou durante 31 anos, para o ensino fundamental
e médio. Foi diretora, por dois mandatos, do maior colégio estadual de Pinhais,
o Arnaldo Busato e do Colégio Estadual Humberto de Alencar Castelo Branco55.
Filiou‐se ao PT em 2007. Iniciou a carreira política nas eleições de 2008
concorrendo ao cargo de vereadora pelo PT. Obteve 640 votos e ficou na
suplência. Na primeira gestão do prefeito Luizão, Rosa Maria foi Secretária
Municipal de Educação.56
Nas eleições seguintes, de 2012, concorreu novamente ao cargo de
vereadora, pelo PT e foi eleita para a 6ª legislatura (2013‐2016). Em 2015
deixou o cargo de vereadora para assumir como Secretária Municipal de
Administração da segunda gestão do prefeito Luizão.57 No seu lugar na CMP
assume o suplente Carlos Pereira Borges da Rosa (Carlinhos do Eliza). Em abril
de 2016 deixa o cargo de Secretária Municipal de Administração, no seu lugar
assume o novo secretário José Martins dos Santos Silva e reassume a função de
vereadora na CMP.58

55 Conforme entrevista concedida à Glória Estevinho em novembro de 2015.


56 Disponível em
http://www.panorama.com.br/index.php?option=com_k2&view=item&id=9730:pinhais‐nova‐
secret%C3%A1ria‐de‐educa%C3%A7%C3%A3o‐fala‐de‐prioridades&Itemid=12. Acesso
29.fev.2016

57 Disponível em http://www.quadropolitico.com.br/DadosCandidato/1854427/Rosa‐Maria‐

De‐Jesus‐Colombo e em http://noticiasparana.com/pinhais‐rosa‐maria‐assume‐secretaria‐de‐
administracao/. Acesso em 29.fev.2016.

58 Disponível em
http://www.pinhais.pr.gov.br/aprefeitura/secretariaseorgaos/administracao/FreeComponent
40content352.shtml. Acesso em 11.abril.2016.

Pág. 133 Memória Política de Curitiba

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A compilação de dados apresentada nos permite observar que apesar de
haver uma política pública institucionalizada através das ações afirmativas que
preconizava o aumento da participação de mulheres no poder, ainda temos uma
baixíssima representação feminina no legislativo municipal de Pinhais.
Passados vinte e um anos da Lei 9100/95, observa‐se que em Pinhais, somente
agora, na 6ª Legislatura (2013‐2016) tivemos a eleição de 4 mulheres
simultaneamente para o legislativo municipal ocupando 27% das cadeiras. Nas
legislaturas anteriores, na 1ª (1993‐1996) a eleição ocorreu sem cotas e não
teve nenhuma mulher eleita. A partir da 2ª legislatura (1997‐200), a eleição já
contava com a lei de cotas e temos a eleição da primeira vereadora de Pinhais e
única nessa legislatura representando 6% das cadeiras disponíveis. Para a 3ª
(2001‐2004) e 4ª (2005‐2008) legislaturas duas mulheres foram eleitas, em
cada legislatura, fazendo um total de 12% de ocupação das cadeiras por
mulheres. Na 5ª legislatura (2009‐2012) somente uma vereadora foi eleita e
volta‐se ao 6% de representação feminina na câmara municipal. Se
compararmos desde a primeira legislatura, que teve uma mulher eleita, com a
atual com quatro mulheres eleitas, percebemos que houve aumento de 20% no
número de mulheres eleitas para a câmara municipal59.
A política de cotas não pode ser considerada o instrumento principal
para a efetiva participação feminina no campo político institucionalizado. O fato
de haver uma lei que institui cotas para a disputa dos cargos legislativos não
garante as condições para as mulheres chegarem aos canais de poder de

59 Ver quadro Candidatos à Câmara Municipal de Pinhais – PR/Eleições 2012 ao final do artigo.

Nas eleições de 2012 dos 313 candidatos a vereador no município de Pinhais 94 eram mulheres
e somente 4 foram eleitas.
Pág. 134 Memória Política de Curitiba

decisão, o que ocorre é a problematização da inclusão das mulheres no campo


político. As candidatas eleitas para a Câmara Municipal de Pinhais já tinham um
histórico de participação política ou de alguma causa que as trouxeram para o
rol das elegíveis como o fato de serem médica, professora, agente de saúde,
profissões que permitem acesso a um público diverso.
O trabalho destacou a atuação das mulheres no cargo legislativo, mas
existem outros cargos que têm relevante poder de decisão, onde elas estão
presentes e ainda carecem de estudos como os secretariados municipais, a vice
prefeitura, etc. Também tem que se pensar que após terem chegado num dos
campos do poder, quais são os capitais necessários para se jogar o jogo e
aumentar as chances de continuarem nessa esfera de decisão.
Para a promoção da consciência política da mulher é necessário a
educação política relacionada com os direitos e deveres cívicos, sobretudo o
direito à participação. Os governos, parlamentos, partidos políticos,
organizações não‐governamentais e mídias podem todos contribuir para esse
processo. Das sete vereadoras apresentadas, evidencia‐se que existem
semelhanças entre elas e que por um lado isso as fazem estar no campo do
poder e que cada qual a seu modo utiliza os seus trunfos e capitais para se
estabelecerem no campo político. Mas, é necessário continuar as pesquisas em
torno do tema, pois o quadro exposto acima nos possibilita novas possibilidades
de pesquisa e que não foram contempladas neste estudo por razões de tempo.
Teria que se continuar pesquisando a trajetória política destas mesmas
candidatas eleitas, com o intuito de perceber com mais precisão os movimentos
delas no campo político, se permanecem na estrutura e quais as estratégias
utilizadas para que isso ocorra. Este artigo, não teve a pretensão de esgotar os
resultados, mas contribuir apontando possibilidades para apreensão das
relações que se estabelecem socialmente.


Pág. 135 Memória Política de Curitiba


REFERÊNCIAS

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das relações de parentesco e poder político no Paraná e no Brasil. Curitiba:
Editora Insight.
OLIVEIRA, Ricardo Costa de (2001). O silêncio dos vencedores: genealogia,
classe dominante e Estado do Paraná. Curitiba: Editora Moinho do Verbo.

SCHMIDT, Maria Auxiliadora e GARCIA, Tânia Maria F. Braga (2000). Recriando
histórias de Pinhais. Curitiba: TMFBraga Garcia.

SILVA, Márcia Regina Ferreira da (2008). A emancipação política do
município de Pinhais: entre a identidade territorial e a articulação política
das lideranças. Curitiba: Monografia de Graduação em Ciências Sociais.

SILVA, Rodolfo dos Santos (org) (2010). Identidade Pinhais. Curitiba: Top
Graf.

TOMIO, Fabrício Ricardo de Lima (2002). A criação de municípios após a
constituição de 1988. IN: Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 17, n. 48, fev.
2002. Disponível em: Acesso em: 24.março.2016.

XAVIER, Aarão de Paula (2000). Nos trilhos do tempo: história e memória de
Pinhais. Pinhais: Prefeitura Municipal.


SITES CONSULTADOS
Justiça Eleitoral. Disponível em https://apps.tre‐
pr.jus.br/files/resultados/19921003A74357.pdf. Acesso em 29.fev.2016.

Pinhais: candidatos à vereador nas eleições de 2012. Disponível
http://www.eleicoes2012.info/candidatos‐vereador‐pinhais‐pr/. Acesso em
25.março.2016.

Projeto Inicial de Emancipação de Pinhais. Disponível
http://www.pinhais.pr.gov.br/projeto20anos/FreeComponent329content3281
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Quadro político: candidatos do município de Pinhais. Disponível em
http://www.quadropolitico.com.br/DadosMunicipio/4178/Pinhais/2444747.
Acesso em 29.fev.2016.
Pág. 136 Memória Política de Curitiba


Quadro político: candidatos do município de Pinhais. Disponível em
http://www.quadropolitico.com.br/DadosCandidato/2094147/Marly‐Paulino‐
Fagundes. Acesso em 29.fev.2016.

Pág. 137 Memória Política de Curitiba

Empresários do transporte público na


Câmara Municipal de Curitiba


Fernando Marcelino Pereira60



Resumo: O presente trabalho analisa a trajetória de três famílias de empresários do transporte
público que viraram vereadores orgânicos na Câmara Municipal de Curitiba: Gulin, Silvério e
Bertoldi. A trajetória destes vereadores nos ajuda a compreender a ação política dos
empresários do transporte público e seus impactos na formação de redes de interesse e poder.
Avaliamos como a participação política destes vereadores faz parte de uma intricada rede de
relações familiares que assegura privilégios na concessão do transporte público nas mais
diversas conjunturas econômicas e políticas. Esta pesquisa tem como objetivo central dar
seqüência nos estudos sobre as genealogias das classes dominantes paranaenses.



Palavras‐chave: Empresários; Transporte Público; Vereadores; Genealogia.

60
Graduado em Relações Internacionais pela UniCuritiba, Mestre em Ciência Política e
Doutorando em Sociologia pela UFPR. Email: fernandomarcelinopereira@gmail.com
Pág. 138 Memória Política de Curitiba

1 ‐ Transporte em Curitiba

Em 29 de março de 1693, o Capitão‐povoador Matheus Martins Leme,


atendendo “aos apelos de paz, quietação e bem comum do povo” reuniu na
capela central a povoação dos “Campos de Curitiba” e promoveu a primeira
eleição para Câmara de Vereadores e instalação da Vila. Com a eleição e posse
de seis homens de “sã consciência” que ficaram encarregados pela
administração local, estava oficialmente fundada a Vila de Nossa Senhora da Luz
dos Pinhais, hoje Curitiba.

O desenvolvimento de Curitiba se deu devido ao fato dela estar situada


na confluência de duas importantes atividades econômicas: a mineração que
subia do litoral e os tropeiros que paravam por aqui, vindos de Viamão, no Rio
Grande do Sul, em direção às feiras de gado de São Paulo e Minas Gerais. A
cidade ainda não apresentava significativa população permanente, os tropeiros
permaneciam aqui apenas até o fim da estação fria, quando então levantavam o
acampamento e partiam rumo ao norte, deixando a cidade praticamente vazia.

Somente no segundo quartel do século XIX, durante os ciclos do mate e


da madeira, que coincide também com a chegada dos imigrantes europeus ao
Paraná, foi que Curitiba começou se desenvolver como metrópole. É desta
época, por exemplo, a construção da Ferrovia Curitiba‐Paranaguá. Os chamados
barões da erva‐mate instalaram seus palacetes nos arredores da Praça
Tiradentes ajudando alavancar o desenvolvimento central da cidade. Surgiram
as primeiras lojas, armazéns e pequenos escritórios de negócios ligados ao
produto, passando a empregar muitas pessoas. Os trabalhadores começaram a
se instalar nas regiões mais afastadas do centro, favorecendo o crescimento
horizontal da cidade. Apareceram as pequenas vilas que mais tarde se
transformariam em bairros, tais como Abranches, Água Verde, Batel, Portão,
Pág. 139 Memória Política de Curitiba

Rebouças e outros. Com o desenvolvimento econômico da cidade, a população


de Curitiba começou a crescer.

O aumento populacional trouxe consigo a necessidade da criação de


serviços públicos, dentre os quais, de um transporte coletivo que pudesse trazer
os trabalhadores das vilas mais afastadas paras as fábricas e comércios do
centro da cidade.

A história do transporte coletivo de Curitiba pode ser dividida em duas


partes bem distintas: a era dos bondes, que durou de 1887 até 1952, e o período
do transporte por ônibus iniciado no final da década de 1940 e que segue até os
dias de hoje, considerando que o metrô de Curitiba não sai do papel.

A infraestrutura viária de Curitiba no final do século XIX era bastante


precária. Haviam poucas e irregulares estradas e os meios de transporte
disponíveis eram veículos de tração animal. As mercadorias para abastecer
armazéns do centro da cidade eram transportadas por carroças puxadas por
bois e mulas. Também o transporte de pessoas era realizado por tração animal.
Logo, os primeiros veículos utilizados no transporte coletivo foram, também,
carroções de madeira, espécie rudimentar de bonde, puxado por mulas.

A primeira linha regular de transporte coletivo urbano de Curitiba foi


inaugurada em 08 de novembro de 1887. Ela ligava o palacete da família
Fontana, situado no Boulevard dois de julho (atual Rua João Gualberto) até a
residência da família Leão, que ficava no bairro Batel, e era operada por bondes
pertencentes à Empresa Ferro Carril Curitibano do empresário Boaventura
Clapp. Pouco tempo depois já havia um serviço regular de transporte coletivo
operado por bondes em Curitiba. Haviam três estações, além de uma “estação
central” na Rua 7 de setembro, próximo à estação ferroviária, de onde partiam
bondes em direção às regiões mais povoadas da cidade, tais como Matadouro,
Portão, Iguaçu.
Pág. 140 Memória Política de Curitiba

Em 1895, Clapp vendeu a Ferro Carril para o italiano Santiago Colle. Ele
fez um contrato com a Prefeitura para explorar o serviço de transporte coletivo
e de cargas por um período de 90 anos. Neste momento o serviço contava com
vinte bondes de passageiros, cerca de 18 quilômetros de linhas e uma estação
central, além de oficinas e instalações para depósitos de equipamentos e
forragens e duas estrebarias para acomodação e descanso dos cerca de 120
animais que eram utilizados na tração dos veículos.

Em 1885 começava a circular em Curitiba os primeiros bondes puxados


por animais. As passagens custavam 200 réis na primeira classe e 100 réis nos
bondes de segunda classe. Dois anos antes, em 1883, o brasileiro Boaventura
Clapp adquiriu a concessão para construir uma linha férrea urbana e fundou a
Empresa Ferro Carril Curitybano. Sua primeira linha partia da estação
ferroviária da Avenina 7 de Setembro até o Batel foi inaugurada em 9 de
novembro de 1887.

Em 1895 Boaventura vendeu a empresa para Amazonas & Companhia,


controlada por Santiago Colle. Em 1910, Colle a vendeu para o francês Eduardo
de la Fontaine Lavaleye, um dos fundadores da South Brazilian Railways que
assumiu a operação dos bondes em Curitiba. Em 1911, o grupo encomendou 29
bondes elétricos belgas, modelos conversíveis e com laterais removíveis, únicos
no Brasil. Em 1912 começaram a circular os primeiros veículos elétricos, que
eram abertos. A chegada dos bondes elétricos fechados, com tecnologia
francesa, cobrando tarifa de 300 réis, inaugurou um novo ciclo na história
local dos transportes, com a criação de novas linhas. Eram três, ligando o Asilo
da Avenida Marechal Floriano ao Cemitério Municipal; o Batel ao Centro; e o
Prado Velho à estação ferroviária da Avenida Sete de Setembro.

Em 1924, o município assumiu o controle da South Brazilian Railways.


Em 1928, a concessão dos bondes passaram para a Companhia Força de Luz
Pág. 141 Memória Política de Curitiba

Paraná, subsidiária da norte‐americana Electric Bond & Share. Em 1945, o


grupo vendeu seus 38 bondes e 28km de trilhos para a Companhia Curitiba de
Transportes Coletivos. Neste momento, começou a troca dos bondes por ônibus,
primeiro da linha Batel, depois Bacacheri, Guabirotuba e Trajano Reis.

Curitiba foi uma das primeiras capitais brasileiras a encerrar o sistema


de bondes dando lugar às autolotações de ônibus. Quando começou a ser
implantado o sistema de ônibus eram poucas as linhas e não existiam horários
fixos. Os condutores desses ônibus faziam as rotas que davam mais lucro. O
serviço realizado pelas novas empresas era extremamente precário e pouco
profissional. As lotações eram veículos com capacidade para 12 pessoas, mas
transportavam cerca de trinta ou quarenta e não havia obrigação de
cumprimento de horário nem de itinerário das viagens.

Em 1955, na gestão Ney Braga, o município estabeleceu contratos de


concessão. Encabeçadas por Erondy Silvério, foram criadas treze empresas.
Naquela época, a cidade era atendida por 50 ônibus e 80 lotações. A cidade foi
dividida em setores e cada empresa ficou com uma "parte" da cidade para
operar as linhas de ônibus. Com a regulamentação do serviço de transporte
coletivo de Curitiba, pelo decreto nº 503/1955, estabeleceram‐se duração e
periodicidade das viagens, o itinerário a ser percorrido pelos ônibus e a
continuidade do serviço aos finais de semana.

A partir do início dos anos 70, nas gestões de Jaime Lerner, todos os
bairros passaram a ser atendidos. Em 1974 foi implantado o Sistema de Ônibus
Expresso, com os coletivos circulando em vias exclusivas do sistema trinário. À
integração física somou‐se a integração tarifária a partir de 1980, com a criação
da chamada Rede Integrada de Transporte (RIT). Ela veio permitir
deslocamentos diversificados a quaisquer pontos da cidade com o pagamento
de uma só passagem.
Pág. 142 Memória Política de Curitiba

Na década de 1980, devido ao aumento da população as linhas do


expresso passaram a ser operadas por ônibus articulados e na década seguinte
por carros biarticulados com capacidade para até 270 passageiros. A operação
de embarque e desembarque nos novos ônibus biarticulados passou a ser feito
em estações tubo, semelhante às utilizadas pelos “ligeirinhos”, distribuídas a
cada 500 metros ao longo das canaletas.

Em 1986, Roberto Requião assume a prefeitura e encomenda um parecer


jurídico sobre a nulidade dos contratos prorrogados com as empresas em 1981.
Em 1987, a partir desse parecer, o prefeito baixa um decreto anulando as
concessões e outro com novo regulamento para o transporte coletivo. Com os
decretos, a remuneração passou a ser por quilômetro rodado e a arrecadação
controlada pelo município, parte dela empregada para a aquisição de uma frota
pública. A proposta de estatização do sistema também foi veiculada na época,
mas não se operacionalizou completamente. A propriedade da frota era pública,
porém sua circulação não o era. O confronto entre a prefeitura e os empresários
era aberto, a prefeitura também assumiu uma postura de confronto com os
vereadores que se opunham às medidas estatizantes. As mudanças, todavia, não
foram de tão grande impacto para a estrutura de concessões aos empresários
do transporte. A conseqüência mais permanente e visível dos confrontos foi a
constituição de um grupo na Câmara Municipal de Curitiba, fundamentado no
apoio dos empresários de ônibus, chamado “Pró‐cidade”. Erondy Silvério e
Donato Gulin, empresários do ramo, antigos vereadores e posteriormente
deputados, foram nomes atuantes na cooptação de vereadores.

Em 31/01/1996, através do Convênio firmado entre o Estado do Paraná,


o Município de Curitiba, a Coordenação da Região metropolitana de Curitiba
COMEC e a URBS, os benefícios da RIT foram expandidos para a região
metropolitana de Curitiba. O planejamento e o gerenciamento do transporte
metropolitano passaram a serem feitos pela URBS, com vistas a uma maior
Pág. 143 Memória Política de Curitiba

integração física e tarifária do transporte de Curitiba com os municípios


vizinhos. O convênio abrangeu mais de 2 milhões de pessoas de 14 cidades da
região metropolitana que passaram contar com tarifa única e integração com os
ônibus de Curitiba. Até o fim de 2014, moradores de 17 cidades gozavam dos
benefícios da RIT.

No início de 2015 a integração de Curitiba com a região metropolitana foi


rompida, devido a divergências entre a prefeitura de Gustavo Fruet e o
Governador do Estado Beto Richa, em razão do valor do subsídio da tarifa. A
desintegração, além de causar inúmeros problemas operacionais, conforme
amplamente veiculado na imprensa, retira o poder gerenciador e fiscalizador da
URBS sobre as linhas da região metropolitana. Sem um controle estatal mais
forte, o serviço, que é público, passa a sofre influência maior por parte dos
empresários, o que pode trazer prejuízos aos usuários e, principalmente, aos
trabalhadores do sistema.

2 ‐ Vereadores das empresas de transporte público

O presente trabalho analisa a trajetória e a genealogia de três famílias de


empresários do transporte público que tiveram vereadores orgânicos na
Câmara Municipal de Curitiba: Gulin, Silvério e Bertoldi.

Em 1955 foi a primeira legislatura na Câmara Municipal de Erondy


Silvério, empresário do transporte público ligado a Ney Braga. Em 1959, Marcos
Bertoldi, outro empresário do ramo, foi eleito vereador. Nos anos 1970, além de
Erondy Silvério, destaca‐se na Câmara de Vereadores Donato Gulin, outro
importante empresário dos transportes na cidade, ambos ligados com Jaime
Lerner.
Pág. 144 Memória Política de Curitiba

Já a partir de 1983, Donato Gulin emplaca seu sucessor Jairo Marcelino,


ex‐motorista da família Gulin, tendo sido reeleito desde então. De 1993 a 2004,
Osmar Bertoldi, sobrinho de Marcos Bertoldi, também ligado ao serviço público
de transporte coletivo, foi eleito vereador durante a prefeitura Greca e Cássio
Taniguchi.

Erondy Silvério

Erondy Silvério nasceu em Guarapuava em 1º de março de 1923. Filho de


Edmundo Silvério e dona Iolanda Almeida. De família pobre, Erondy Silvério
radicou‐se em Curitiba nos anos 40. Foi cobrador de ônibus e motorista antes
de se tornar empresário do transporte coletivo na capital, no início da década
de 50.

Diplomou‐se em Economia. Durante a Prefeitura de Ney Braga, Erondy


era secretário do Sindicato dos Condutores Autônomos de Veículos Rodoviários,
quando organizou a Auto Viação Nossa Senhora da Luz, Auto Viação Marechal e
Auto Viação Água Verde.

Foi diretor do DETRAN no Paraná. Em 1955 elegeu‐se a primeira vez


como vereador de Curitiba. Reelegeu‐se por mais duas vezes, presidiu a Câmara
Municipal e exerceu interinamente o cargo de prefeito, em três momentos, em
1961, 1962 e em 1966, totalizando dezesseis meses como prefeito. Em 1966,
elegeu‐se deputado estadual e dois anos mais tarde chegou à presidência da
ALEP. Silvério exerceu sete mandatos de deputado estadual, entre 1966 e 1994,
quando saiu da política para se dedicar a sua empresas Dono de reconhecida
habilidade como articulador político, cumpriu as funções de líder de governo
nas gestões de Paulo Pimentel, Ney Braga e Hosken de Novaes. Foi presidente
da ALEP em 1968. Durante sua vida parlamentar ficou conhecido como um dos
principais articuladores dos bastidores da política paranaense.
Pág. 145 Memória Política de Curitiba

Ampliou sua inserção empresarial com o controle de revenda de carros


Volks, Pavema e Revepar. Foi conselheiro dos clubes Pinheiros e Paraná Clube.
Faleceu aos 82 anos, em decorrência de traumatismo craniano provocado por
uma queda em sua casa. Foi cremado em Campina Grande do Sul. Quando
faleceu, sua empresa de ônibus foi adquirida pela família Gulin que ainda é
detentedora da maior parte da frota.

Erondy casou‐se com Iracy Langue Silvério, filha de João Langue e Ana
Binoer Langue. Um dos filhos do casal, Marcelo Silvério, foi ex‐titular do
Cartório Distrital do Portão em Curitiba e atual titular de Cartório em Fazenda
Rio Grande e designado para o 12º Tabelionato de Curitiba. Também trabalhou
na Assembleia Legislativa.


Donato Gulin
A família Gulin, tradicional em Curitiba, tem décadas de atuação no
transporte da cidade e forte influência política. A família Gulin é grande, com
vários desdobramentos, apesar de um ascendente em comum.
Donato Gulin nasceu em Curitiba em 16/05/1944. Foi o vereador da
família na Câmara Municipal de Curitiba entre 1973 e 1976, entre 1977 e 1980,
e por último entre 1981 e 1983. Por três períodos assumiu a presidência da
Câmara Municipal. Seu partido era a antiga Aliança Renovadora Nacional
(Arena) que mais tarde foi transformada em PDS, partidos de apoio à ditadura
militar. Na Câmara Donato Gulin tinha profundo entrosamento com o prefeito
biônico Jaime Larner, por serem do mesmo partido.
Donato Gulin é representante da viação Cidade Sorriso. Conforme dados
de 2015, a empresa tem capital social registrado na Junta Comercial no valor de
R$ 35 milhões, possui frota de mais de 280 ônibus. Somente em Curitiba são 80
veículos biarticulados, avaliados em R$ 1 milhão cada um. A Viação Cidade
Sorriso é considerada a maior empresa de transporte coletivo da América do
Pág. 146 Memória Política de Curitiba

Sul61. Além de atuar em várias cidades brasileiras, como Curitiba, Paranaguá,


Cascável, Foz do Iguaçu, Toledo, Ponta Grossa, Guarapuava, Valinhos, Itabuna e
Porto Seguro, a Cidade Sorriso é “sondada” por outros países, para operar o
transporte coletivo. “Nós já fomos procurados por representantes de Bogotá
(Colômbia), Santiago (Chile), África do Sul e Nova Iorque. O presidente do
Panamá veio pessoalmente até Curitiba, para conhecer nossa empresa e nos
convidar para disputar licitação naquele país”, ressaltou Gulin em matéria. O
faturamento anual do grupo é de R$ 200 milhões. O grupo está sob investigação
por fraude em licitações em diferentes partes do país62.
Donato se envolveu com negócios no ramo de energia também. Foi sócio
da comercializadora Tradener em julho de 1998, empresa em que a COPEL era
acionista majoritário, com 45% das ações. Um ano depois Lerner vendeu o
controle acionário da COPEL para a empresa de seu amigo e financiador Donato
Gulin.
Donato também tem negócios com a área de construção. Na lista de suas
empresas está a construtora MCTR Ltda e a Magno.
Os Gulins estão no centro do conflito em torno da tarifa de ônibus em
Curitiba. Das 11 empresas vencedoras do processo licitatório de concessão do
serviço, 5 são da família, que participa da exploração dos três lotes nos quais a
cidade foi dividida, cada um ganho por um consórcio diferente.
Segundo o relatório da CPI – Comissão Paralamentar de Inquérito – da
Câmara de Vereadores, aprovado em 2013, os Gulins têm 68,7% das ações das

61 http://www.gazetadopovo.com.br/vida‐e‐cidadania/manobra‐das‐empresas‐de‐onibus‐
indica‐sangria‐do‐lucro‐do‐sistema‐682vs51oapnfopexxy8zjluyz
62 http://g1.globo.com/bom‐dia‐brasil/noticia/2016/08/licitacoes‐de‐onibus‐sao‐alvo‐de‐
fraudes‐bilionarias‐em‐7‐estados‐e‐df.html
Pág. 147 Memória Política de Curitiba

empresas de ônibus concessionárias do serviço de transporte de passageiros


em Curitiba.
Além disso, dirige as entidades patronais da área, o Setransp – Sindicato
das empresas de Transportes de Curitiba e Região Metropolitana – e a Fepasc –
Federação das Empresas de Transportes de Passageiros do Paraná e Santa
Catarina, presididos respectivamente por Maurício Gulin e Felipe Busnardo
Gulin. A filha de Donato Gulin é casada com membro da família Constantino,
também dona de empresas de transporte.

Bertoldi

A família Bertoldi, dona de empresa de transporte público Auto Viação


Mercês e São Braz, teve dois vereadores em Curitiba.

Marcos Bertoldi, nascido em Curitiba, PR, em 11/11/1934, foi vereador


eleito em 1959 e reeleito em 1969. Seu sobrinho Osmar também veio a ser
vereador posteriormente.

Osmar Stuart Bertoldi nasceu em Curitiba em 20 de março de 1969.


Casado com Maria Cristina Casagrande, Osmar é formado em pedagogia pela
Universidade Tuiuti do Paraná, com especialização em Desenvolvimento
Sustentável pela Universidade da Califórnia/Berkeley. Aos 15 anos, começou a
trabalhar na empresa da família. Foi eleito vereador pela primeira vez em 1992
aos 23 anos. Na campanha seguinte duplicou sua votação, alcançando 7.442
votos, voltando a dobrar na eleição de 2000, fazendo quase 14 mil votos. Já em
seu segundo mandato como vereador Bertoldi foi eleito primeiro‐secretário do
legislativo municipal e ocupou novamente esta função em seu terceiro
mandato.
Pág. 148 Memória Política de Curitiba

Em 2004, Osmar foi candidato a prefeito pelo PFL. Em 2006, foi eleito
deputado estadual com 27.385 votos. Em maio de 2008 foi punido pela Justiça
Eleitoral por propaganda fora de época e irregular. Em 2013 é nomeado
novamente para o cargo de Secretário de Habitação de Curitiba pelo então
prefeito Gustavo Fruet, sendo que já havia ocupado o mesmo cargo na gestão
anterior de Luciano Ducci.

Em agosto de 2015 foi denunciado pela noiva, Tatiane Bittencourt, por


sequestro, estupro, cárcere privado, lesão corporal, ameaça, vias de fato e
constrangimento ilegal. Em fevereiro de 2016, foi preso em Santa Catarina. Em
setembro de 2016 foi absolvido, em 1° instancia, do crime de desobediência e
violação de domicílio, mas continua preso pelo demais crimes contra sua ex‐
noiva, que incluem, estupro, cárcere privado, lesão corporal, ameaça, vias de
fato e constrangimento ilegal.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A relação entre a classe política e o setor empresarial já foi delineada por


Oliveira (2000), quando descreve os interesses privados na gestão dos
investimentos públicos em Curitiba num “movimento de revezamento das elites
administrativas da iniciativa privada em seus postos e na direção das agências
públicas” (OLIVEIRA, 2000, p.39), e o grau de coesão desta parceria, levando à
“dependência estrutural da administração municipal frente ao capital privado.”
(OLIVEIRA, 2000, p.40) Como o autor nos indica, este corporativismo ocorre
tanto pela participação da arena decisória em caráter permanente e formal,
como nos conselhos de administração pública, como de maneira informal, no
financiamento de campanhas, partidos e candidatos. Acrescente‐se a este
quadro a eleição de representantes próprios no legislativo, como o caso
Pág. 149 Memória Política de Curitiba

emblemático do forte setor do transporte coletivo de Curitiba, que ao longo da


história da Câmara e da cidade teve representantes eleitos, numa simbiose
entre poder político‐empresarial e familiar, tendo em vista a concentração do
setor em duas famílias: Gulin, com o vereador Donato Gulin em três mandatos
na Câmara Municipal, três legislaturas como presidente da Câmara e três vezes
prefeito interino; Bertoldi, donos de empresa de transporte público, com o
representante Osmar Bertoldi (PSDB) em dois mandatos como vereador em
Curitiba. Vale o destaque neste ponto, pela atualidade do tema. A instalação de
uma Comissão Parlamentar de Inquérito72 em 2013 na Câmara Municipal de
Curitiba indica a cartelização do transporte coletivo na capital, e aponta 40
(quarenta) irregularidades na licitação do Transporte Público de Curitiba,
recomendando a anulação dos contratos, a realização de nova licitação e a
submissão do contrato ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica
(Cade), ao Ministério Público do Paraná (MP‐PR) e Federal (MPF).

Nos três casos estudados houve acúmulo de capital financeiro através de


concessão pública do transporte coletivo e também poder político no processo
eleitoral. Esta amostra aponta que o poder político da Câmara Municipal ajuda a
obter sucesso na concessão do transporte coletivo para determinas empresas.

REFERÊNCIAS

OLIVEIRA, Denisson de. Curitiba e o mito da cidade modelo. Curitiba: Ed. da


UFPR, 2000.

OLIVEIRA, Ricardo Costa de. Na teia do nepotismo. Curitiba: Insight, 2012.

Pág. 150 Memória Política de Curitiba

A atuação política das vereadoras na


Câmara Municipal de Curitiba‐ CMC (2013‐
2015)
Geissa Franco63

Maiane Bitencourt
64


Jussara Cardoso
65






Resumo: O objeto desse estudo empírico é avaliar a produção legislativa das vereadoras de
Curitiba entre 2013 e 2015. Assim, coloca‐se como objetivo geral avaliar a produção legislativa
das vereadoras na CMC. Utiliza‐se para avaliação do desempenho político‐institucional das
vereadoras a taxa de sucesso que as mesmas tiveram em suas preposições legislativas. A
produção entre 2013 e 2015 das vereadoras foi de 136 proposições legislativas, sendo que o
total no mesmo período foi de 1550 projetos produzidos.




Palavras‐chave: vereadoras, produção legislativa, CMC.

63 Bacharel em Ciência Política (UNINTER) e Pós‐graduanda em Sexualidade Humana: Educação

e Terapia (POSITIVO). Email: geissa_franco@hotmail.com



64 Graduanda em Ciência Política (UNINTER).


65 Graduanda em Ciência Política (UNINTER).


Pág. 151 Memória Política de Curitiba

INTRODUÇÃO

Nos posicionamentos e questionamentos sobre o papel da mulher na


sociedade a autora Beauvoir (2015, p. 13) cita que “on ne nait pas femme: on le
devient66. O que a autora debate com essa primeira frase do livro O Segundo
Sexo II é a construção social referente o papel da mulher na sociedade, ou seja,
Beauvoir (2015) avalia que à mulheres antes mesmo de nascerem (no ventre
materno) têm seus papéis sociais definidos, como por exemplo ter o casamento
como um dos principais objetivos em suas vidas (BEAUVOIR,2015).
Partindo dessa perspectiva, a entrada da mulher no habitat político, até
então composto apenas por homens, trouxe alterações significativas no papel
social da mulher. Essa mudança significativa começa a ser vista com a entrada
da primeira mulher em 1934 na Câmara Federal, seu nome era Carlota de
Queirós; Manifesta‐se naquele momento que as estruturas institucionais
políticas aos poucos sofreriam transformações de participação (AZEVEDO;
RABAT,2011).
A partir da inserção da mulher na política essa pesquisa surge tendo
como objeto desta a produção legislativa das vereadoras da Câmara Municipal
de Curitiba entre 2013 a 2015. Nessa perspectiva as problemáticas da
investigação são duas, sendo a primeira: quais temas figuram nas proposições
legislativas produzidas pelas vereadoras? E a segunda é: qual o desempenho
politico‐institucional das vereadoras de Curitiba?
Em relação ao objetivo geral é avaliar a produção legislativa das
vereadoras entre 2013 e 2015. Os objetivos específicos são avaliar o
desempenho político‐institucional das vereadoras; identificar e avaliar a agenda
governamental das vereadoras.

66 “Nós não nascemos mulheres, nós nos tornamos”. (BEAUVOIR, 2015, p.13).
Pág. 152 Memória Política de Curitiba

A metodologia utilizada é de cunho empírico, a partir da combinação dos


métodos quantitativo e qualitativo. Com as classificações em temáticas dos
projetos consegue‐se desenvolver uma classificação das proposições para
melhor organizar e analisar a pesquisa. O autor que desenvolve a questão das
agendas é o Kingdom (1995), sendo que o NUPP desenvolveu sua própria
classificação de temáticas. Para efeito de análise quantitativa, foi utilizada a taxa
de sucesso para avaliar o desempenho político‐institucional das vereadoras.
Espera‐se com essa pesquisa contribuir para o estudo sobre mulheres na
política, em particular na política curitibana.
Utilizar‐se‐á nessa pesquisa a taxa de sucesso na aprovação de projetos
das vereadoras, tanto nos projetos gerais (136 projetos) quanto os projetos
sobre mulheres (sete). Essa taxa foi criada pelo autor Santos (2001) ao estudar
a dinâmica legislativa no Rio de Janeiro.
É necessário expor que as proposições avaliadas são: os projetos de lei
ordinárias, projetos de lei complementar, projeto de lei ordinária: cidadão
honorário de Curitiba, projeto de lei ordinária: denominação de bem público
não especificada.

1.ANÁLISE DOS DADOS OBTIDOS

Em 3 anos (2013 a 2015) as vereadoras produziram 136 (centro e trinta


e seis) projetos de lei, sendo que a produção total na CMC neste período foi de
1550 (mil quinhentos e cinquenta e cinco) projetos. Quantitativamente, a
produção das vereadoras é da ordem de 8,77%, lembrando que elas são 5
(cinco) vereadoras em um universo de 38 (trinta e oito) vereadores (gênero
masculino e feminino). Na CMC, elas representam aproximadamente 13,16% de
representatividade, avaliando o número de mulheres que vivem em Curitiba.
As 5 vereadoras da CMC são: Carla Pimentel – PSC, a Dona Lourdes – PSB,
Julieta Reis – DEM, Noemia Rocha – PMDB e Professora Josete do PT. Como
Pág. 153 Memória Política de Curitiba

posto acima, a CMC não tem grande representatividade de mulheres em


número, já que comparada a população do gênero feminino na cidade, o
legislativo municipal está sub‐representado por mulheres vereadoras
(percentualmente).
Os dados referentes à produção legislativa (gráfico 1), revela que o tema
prioritário da agenda das vereadoras é o Social (28,68%), seguido pelos temas
de cunho Honoríficos (27,94%), ocupando o terceiro lugar o tema Gestão
(26,47%). O tema Social permite‐nos levantar a seguinte questão: estará dentre
essas proposições questões que tratam do tema Mulher como prioridade de
forma substancial? A partir da análise dos subtemas que será realizada
posteriormente conseguir‐se‐á responder essa questão.
Os projetos de lei de cunho honoríficos referem‐se à nomeação de ruas
entre outros. Os Projetos honoríficos não trazem direitos e políticas públicas
para os grupos sociais, isto é, não trazem impactos para a sociedade. Os projetos
de lei que tratam da gestão, que se encontra em terceiro lugar, destinam‐se por
exemplo declarar entidades da sociedade civil como de utilidade pública.

Gráfico 1


Pág. 154 Memória Política de Curitiba

No que tange os projetos de lei que foram promulgados e sancionados e


se tornaram norma jurídica, o gráfico 2 demonstra que os honoríficos se
encontram na primeira posição com 48,33% dos projetos promulgados e
sancionados. Esse posicionamento acontece pela facilidade em aprovar projetos
honoríficos, já que esses não trazem em si conflitos; em segundo lugar os de
gestão com 26,67% e em terceiro os projetos com temática social com 18,33%67
projetos de lei promulgados e sancionados.
Como se vê no gráfico 1, os projetos de lei de cunho social ocupam o
primeiro lugar na produção legislativa, porém quando se trata de transformar
esses projetos de lei em norma jurídica, verifica‐se que ocupa a terceira posição.
Do total de projetos de lei de cunho social de autoria das vereadoras, 28,21%
foram transformados em norma jurídica, logo, 71,79% foram rejeitados ou
vetados.
Gráfico 2

67 A diferença em relação ao dado do gráfico é porque consideramos o total de projetos de lei

promulgados e sancionados integralmente, da ordem de 15%, mais os projetos de lei


promulgados e sancionados com veto parcial da ordem de 3,33%.
Pág. 155 Memória Política de Curitiba

Sobre a produção legislativa das vereadoras por ano, é visto que a um


decréscimo significativo a cada ano. O gráfico 3 mostra que no primeiro ano de
governo (2013), as vereadoras produziram 63 projetos; no segundo,
produziram 45 projetos e no terceiro apenas 22 projetos.
Se considerar percentualmente a produção legislativa total das
vereadoras no período analisado (2013‐2015), no ano de 2013 as vereadoras
protocolaram 48,46%, em 2014 protocolaram 34,62% e em 2015 protocolaram
16,92%. Assim, os dados revelam um declínio significativo na produção
legislativa das vereadoras nesse período.



Gráfico 3

O gráfico 4 apresenta a produção legislativa das vereadoras referente à


temática Mulheres. No período analisado, as 5 (cinco) vereadoras produziram
um total de 7 (sete) projetos referentes ao tema Mulheres. Essa informação é
relevante, visto que comparando com os 136 (cento e trinta e seis) projetos
Pág. 156 Memória Política de Curitiba

produzidos no período, os 7 (sete) na temática de mulheres correspondem a


5,14% da produção das vereadoras mulheres.

Gráfico 4

A tabela 1 apresenta a situação dos projetos de lei de autoria das 5


(cinco) vereadoras no período analisado. Essa tabela é importante porque
avalia o sucesso das vereadoras no período. Mede‐se o sucesso na produção
legislativa através da razão entre os projetos de lei protocolados pelas
vereadoras que se transformaram em norma jurídica e o total da produção
legislativa pelas vereadoras no mesmo período. Quanto mais os projetos de lei
das vereadoras se transformarem em norma jurídica, maior o sucesso.

Considera‐se como a sucesso (transformado em norma jurídica),


conforme mostra a tabela 1, os projetos de lei das vereadoras de Curitiba que
foram promulgados com veto parcial mantido (1,47%) e promulgados e
sancionados (42,65%). Juntas totalizam 44,12%. Assim, a taxa de sucesso das
vereadoras é da ordem de 44,12%.
Pág. 157 Memória Política de Curitiba

Em primeira análise, coloca‐se que a taxa de sucesso é relativamente boa,


no entanto deve‐se lembrar dos dados apresentados no gráfico 2, que revelam
que 48,33% do sucesso das vereadores são projetos de lei de cunho honorífico,
considerados irrelevantes.

Tabela 1

A cerca da taxa de sucesso nos projetos das vereadoras pertinente a


temática de mulheres, considera‐se sucesso (transformados em norma jurídica)
o promulgado com veto parcial mantido e o promulgado/sancionado. O
resultado é que de um total de 7 (sete) projetos produzidos sobre o tema
mulher entre 2013‐2015 na CMC pelas próprias vereadoras, apenas 2 (dois)
deles foram sancionados. Deste modo, a taxa de sucesso das vereadoras é de
28,50%.
Os dados na tabela 2 abaixo mostram que quantitativamente a produção
legislativa das vereadoras referentes às mulheres é baixa. Considerando o total
de projetos de lei protocolados no período analisado, projetos de lei referentes
Pág. 158 Memória Política de Curitiba

à mulher foram da ordem de 0,45%. É importante destacar também que


nenhum dos 7 (sete) projetos de lei referentes ao tema mulheres sofreram, até
o momento de atualização dos dados, veto total do Poder Executivo.

Dados quantitativos mostram o desempenho político‐institucional das


vereadoras. Torna‐se imperativo analisar qualitativamente os 7 (sete) projetos
de lei referentes à mulher para analisar a importância desses projetos.

Tabela 2

2.ANÁLISE DOS PROJETOS DE LEI SOBRE A TEMÁTICA DE MULHERES

Como visto na tabela 2 acima, há poucos projetos sobre a temática das


mulheres produzidos pelas vereadoras, e em menor proporção os projetos na
temática de mulheres transformados em norma jurídica no período analisado.
Pretende‐se avaliar esses sete projetos propostos, e principalmente os
dois aprovados e sancionados, para analisar de forma qualitativa do que se
tratam esses projetos, e especialmente observar com os 2 (dois) projetos
aprovados/sancionados, quais direitos visam garantir para o gênero feminino.
A tabela 3 abaixo apresenta os 7 (sete) projetos que foram produzidos
na CMC pelas vereadoras entre 2013 e 2015.

Pág. 159 Memória Política de Curitiba

Tabela 3
Mulher 7
Aguardando sanção ou veto 1
5002102015 1
Anexada por semelhança 1
5001632014 1
Em análise pelas Comissões 3
1000012014 1
5001182014 1
5002542013 1
Promulgada com veto parcial 1
mantido
5000642013 1
Promulgada/sancionada 1
5000182015 1
Total geral 7

No tocante ao projeto 5002102015 que se encontra atualmente como
aguardando sanção e veto. O mesmo retrata sobre a temática da
obrigatoriedade da presença de vigilante do sexo feminino nos
estabelecimentos financeiros no Município de Curitiba. O projeto de lei colocava
que os estabelecimentos financeiros deveriam ter ao menos uma vigilante para
fazer a revista nas mulheres, sendo que caso o estabelecimento não cumprisse a
norma deveria pagar uma multa de 1.000 reais na primeira ocorrência,
aumentando o valor, podendo o estabelecimento ter suspenso o alvará por até
60 (sessenta) dias. A justificativa do projeto é que às mulheres se sentem
constrangidas ao serem revistadas por homens. A revista pessoal, muitas vezes,
é realizada por vigilantes homens, violando um direito constitucional da
preservação da intimidade.
O projeto de lei 500163/2014 protocolado em 2014: Institui os
Princípios e Diretrizes para a Humanização do Parto, dispõe sobre a
administração de analgesia em partos naturais de gestantes da Cidade de
Pág. 160 Memória Política de Curitiba

Curitiba, e dá outras providências. Essa proposição legislativa foi anexada por


semelhança; ela retrata sobre o direito que às gestantes têm de terem um parto
humanizado. Na justificativa do projeto coloca‐se que foi comprovado que as
parteiras são mais seguras que os médicos nos nascimentos de baixo risco. Os
partos realizados em casa são tão seguros quanto os feitos nos hospitais nesses
casos. O parto humanizado oferece mais escolhas para a gestante, focando em
suas próprias necessidades.
A proposição legislativa 100001/2014 é um projeto de emenda à lei
orgânica. O texto do projeto de lei cita que os cargos públicos em nomeação
devem ser preenchidos por no mínimo 30% de mulheres. O projeto se encontra
atualmente em análise pelas comissões, sendo que o mesmo foi protocolado em
2014, dando uma média de 2 (dois) anos em andamento. Na justificativa do
projeto aponta‐se que se faz necessário à concretização da igualdade de gênero,
por meio de ações afirmativas relacionadas à participação da mulher em cargos
de comissão.
Outro projeto que está em análise pelas comissões é o, 5001182014. Esse
foi protocolado no mês de maio de 2014; tem como tema a implantação da
tecnologia botão do pânico nas escolas e unidades de saúde públicas que se
encontrem em regiões ameaçadas pela criminalidade e violência contra mulher.
Sobre o funcionamento do botão, será acionado um sinal para a Guarda
Municipal. A justificativa da proposição legislativa é a de oferecer maior
segurança para às mulheres, às profissionais de saúde e profissionais da
educação, visto que atualmente essas profissionais trabalham com medo, se
fazendo necessário criar melhores condições de trabalho para essas
profissionais.

O (quinto) projeto de lei que tem como número 500254/2013 foi


apresentado em junho de 2013 e versa sobre a criação da procuradoria especial
da mulher no município de Curitiba. Atualmente o projeto está em análise pelas
Pág. 161 Memória Política de Curitiba

comissões. Em relação a matéria proposta no projeto, ela coloca que nessa


procuradoria haverá uma Procuradora Especial da Mulher e Três Procuradoras
Adjuntas, permanecendo no cargo pelo período de 2 anos. Novamente, a
justificativa do projeto se apresenta pela violência que às mulheres sofrem
mesmo com a criação da Lei Maria da Penha. Esta não pode ser o único
instrumento de combate; a procuradoria atuaria na produção de políticas para
o gênero feminino, realizando palestras, seminários; faria também a fiscalização
das políticas para às mulheres do governo estadual.
O (sexto) projeto de lei 500064/2013 foi promulgado com veto parcial
mantido, sendo protocolado em fevereiro de 2013. Retrata sobre um acréscimo
ao artigo 62 da Lei Municipal nº9000/96 – código de saúde de Curitiba. O
acréscimo coloca que o gestor da Guarda Municipal de Saúde deve ser
notificado sobre os atendimentos de casos de gestantes dependentes químicas.
Deve ser relatada ao gestor a espécie e classificação de droga utilizada pela
gestante. No corpo de justificativa do projeto coloca‐se que houve um aumento
no número de gestantes usuárias de drogas, e neste caso as drogas colocam em
risco à vida da mãe e da criança. Por isso, é necessário focar no bem‐estar e
tratamento de mulheres usuárias de drogas.
Em relação ao projeto 500018/2015, o mesmo se encontra promulgado e
sancionado. Este pondera sobre a obrigatoriedade de assentos posicionados em
locais de fácil acesso em teatros, cinemas, casas de show. As gestantes têm
dificuldade em acessar seus locais nesses espaços culturais pelo número de
lotação de pessoas, desta maneira é preciso oferecer maior conforto e
comodidade às gestantes.




Pág. 162 Memória Política de Curitiba

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalho pesquisou qual a agenda e o desempenho político‐
institucional das vereadoras da Câmara Municipal de Curitiba no período de
2013 a 2015. A partir da análise dos dados coletados constatou‐se que o tema
que mais apareceu foi o social, com 28,68% de participação na produção
legislativa. No primeiro momento, pela construção da tabela desenvolvida pelo
Núcleo de Pesquisa e Prática em Ciência Política – NuPP‐CiPol. Havia uma
expectativa a priori de que os dados revelariam que as vereadoras teriam
protocolado uma quantidade significativa de projetos de lei referentes à Mulher.
Todavia, ao analisar nos subtemas projetos referentes às mulheres, constatou‐
se que no período foram produzidos 7 (sete) proposições sobre a temática,
correspondendo a 5,14% da produção total das vereadoras.
Averiguasse com esses dados que as vereadoras têm interesse na
temática de mulheres, visto que corresponde a mais de 5 % das proposições
protocoladas pelo conjunto das vereadoras no período analisado, no entanto é
necessário saber sobre o que eram tratados esses temas.
O projeto 500210/2015 trata sobre segurança para mulheres que sofrem
violência; o segundo 5001632014 trata de direitos para gestantes relacionado
às doulas ou seja, é um projeto voltado a maternidade; o terceiro é sobre cotas
de 30% para maior participação das mulheres em cargos públicos
comissionados; o quarto apresenta outra vez a temática sobre segurança para
às mulheres vítimas de violência; o quinto cria uma procuradoria para
mulheres, retratando o tema de segurança para as mulheres; o sexto relata
sobre a notificação do guarda de saúde sobre gestantes que são usuárias de
drogas; e o sétimo sobre assentos para gestantes.
Dos 7 (sete) projetos, 3 (três) se referem a violência contra mulher;
3(três), sobre maternidade; e 1 (um) sobre a maior inserção das mulheres no
Pág. 163 Memória Política de Curitiba

funcionalismo público municipal. Não equacionando a taxa de sucesso que às


vereadoras tiveram na aprovação desses projetos, é nítido que as mesmas, no
período analisado, têm o foco na produção legislativa nas áreas violência e
maternidade.
Avaliando as necessidades que a sociedade tem por meio dos grupos de
pressões como no caso das questões de gênero: movimentos feministas,
coletivos de gênero, reuniões municipais por meio de conferencias, coloca‐se
para futuras pesquisas avaliar se esses projetos correspondem a necessidade de
todas às mulheres, ou apenas de um grupo de mulheres.
Os estudos de gênero, por exemplo na atualidade, discutem violência
contra mulheres transexuais ou a inserção das mesmas no mercado de trabalho.
Avaliando os projetos de lei, nenhum trata das questões relacionadas às
mulheres transexuais ou ao menos lhes cita nos projetos.
Outro ponto visto no artigo é que a taxa de sucesso das vereadoras de
forma geral, em relação aos 136 (cento e trinta e seis) projetos foi
aproximadamente 45%, visto que os promulgados com veto parcial mantido
somaram (1,47%) e os promulgados e sancionados (42,65%) dando uma soma
de aproximadamente 45%. Porém, acerca desse porcentual, só os honoríficos
correspondem a quase 49%, não mostrando a realidade do sucesso na
transformação em norma jurídica dos projetos, mas sim, que as vereadoras
legislam com grande ênfase com proposições legislativas de cunho honorifico.
No que toca a taxa de sucesso na temática de mulheres foi de 28,50%, ou seja, 2
(dois projetos) de 7(sete), sendo que dos projetos transformados em norma
jurídica ambos se referem à maternidade.
O desempenho político‐institucional das vereadoras, analisando o
número de cadeiras que ocupam e o número de proposições apresentadas, é
regular. No entanto, pensando na transformação dos projetos em norma
Pág. 164 Memória Política de Curitiba

jurídica, especialmente os relacionados à temática de mulheres não se encontra


um patamar tão positivo.
O desenvolvimento de novos estudos sobre a inserção de mulheres
inseridas em cargos políticos, avaliando sua representatividade não apenas em
número de cadeiras, mas também na produção de leis que as mesmas
produzem, é necessário para entendermos às perspectivas da participação da
mulher na política para os próximos anos, e se essas representam os interesses
das mulheres dentro do legislativo municipal, estadual e federal.


REFERÊNCIAS

AZEVEDO, Bithiah de; RABAT, Márcio Nuno (org). Palavra de mulher: oito
décadas do direito de voto. Brasília: Câmara dos Deputados,2011.

BEAUVOIR, Simone de. Le deuxième sexe, II. 37 ed. Collection Folio
Esssais,2015.

KINGDOM, John. Como chega a hora de uma ideia? Harper Collins College
Publishers, 1995.
SANTOS, Fabiano. A dinâmica Legislativa no estado do Rio de Janeiro: análise de
uma legislatura. Rio de Janeiro: FGV,2001.






Pág. 165 Memória Política de Curitiba

A trajetória eleitoral dos partidos em


Curitiba: um estudo sobre as coligações
proporcionais (1992‐2016)



Romer Mottinha Santos68




Resumo: O presente trabalho trata‐se de uma pesquisa sobre o panorama da trajetória nas
eleições proporcionais dos partidos políticos em Curitiba que polarizaram as disputas em
eleições municipais de 1992 a 2016. Os partidos selecionados para a pesquisa foram PMDB;
PSDB; PT; DEM; PSB; PDT; e PSC. O objetivo da pesquisa é identificar qual o desempenho nas
disputas eleitorais dos partidos e coligações no período. No mesmo, analisa‐se quais partidos
optaram por coligações proporcionais ou por coligações majoritárias, para verificar os
resultados eleitorais dos partidos coligados comparando com os não coligados. A metodologia
utilizada é de pesquisa quantitativa de análise de conteúdo e permite identificar quantos
candidatos foram inscritos para os pleitos por partido e quantos destes obtiveram sucesso
eleitoral por partido ou coligação. A hipótese do trabalho é que o sucesso eleitoral dos
candidatos a vereador em eleições proporcionais depende da coligação proporcional ou
majoritária que o partido optou para a disputa. Os resultados preliminares demonstram que os
partidos que optaram por coligação com o partido que elegeu prefeito ou o candidato a prefeito
mais votado no primeiro turno, também conquistaram mais cadeiras para vereadores. Afinal, no
período de 1992 a 2012 foram seis eleições municipais com resultados positivos em eleições
proporcionais para os partidos e coligações com prefeitos eleitos (ou mais votados).

Palavras‐chave: eleições proporcionais, partidos políticos, coligações.

68 Mestre em Ciência Política pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Pesquisador


do Grupo de Pesquisas Comunicação e Elites do Centro Universitário Internacional Uninter.
Email: romermottinha@gmail.com
Pág. 166 Memória Política de Curitiba

INTRODUÇÃO

Os partidos fazem alianças, formalmente, em dois momentos: na arena


eleitoral e na arena governamental. Na primeira, os partidos participam de
coligações tendo em vista maximizar o desempenho da candidatura, visando
sucesso eleitoral (votos para seus candidatos) ou pós‐eleitoral (cargos e/ou
políticas). Na segunda, os partidos buscam efetivar sua entrada no governo a
partir da participação na coalizão governamental. A primeira parte discute os
aspectos relacionados aos condicionantes das coligações eleitorais e a segunda
apresenta o debate acerca da formação de governos partidários, ou seja, das
alianças que geram a formação de coalizões de governo. Para analisar a
racionalidade dos atores políticos na arena eleitoral, deve‐se levar em
consideração o impacto do sistema eleitoral sobre a forma como os partidos
determinam as alianças nas eleições. O sistema eleitoral estabelece como os
votos são necessários para conquista de cadeiras, influenciando diretamente no
cálculo dos atores políticos, pois os condicionantes impostos pelo sistema
impactam no seu desempenho individual e do seu partido. Dependendo do
sistema e das regras eleitorais, as estratégias de coligações podem ser utilizadas
como forma de se maximizar o desempenho eleitoral (SANDES FREITAS, 2016,
p.3).

Visto isso, este estudo trata de uma pesquisa sobre o desempenho da


trajetória dos principais partidos políticos em Curitiba, capital do Paraná, em
eleições municipais de 1992 a 2016,69 com o objetivo de identificar qual o

69 Pelo fato da Eleição de 1º turno ter a data marcada em 02 de outubro de 2016 e a


Conferência Memória Política de Curitiba ter sua realização entre os dias 06 e 07 de outubro de
Pág. 167 Memória Política de Curitiba

desempenho nas disputas eleitorais dos partidos e coligações no período. A


escolha dos partidos (PMDB; PSDB; PT; DEM; PSB; PDT e PSC) é relacionada
com o número de eleições que já disputaram, o tempo de registro no TSE e a
relevância que os partidos têm na representação no Legislativo, no cenário das
disputas eleitorais selecionadas, no cenário político municipal, estadual e
nacional. Além disso, estes sete partidos têm ocupado cadeiras no Legislativo
municipal de Curitiba e todos estes partidos já indicaram candidatos que
concorreram para cargo de prefeito da capital paranaense, no período de 1992
a 2016.

A literatura sobre eleições municipais é relativamente escassa no Brasil,


com relação ao período que vigora o atual sistema partidário (CARREIRÃO,
2009, p. 36). Assim, com este trabalho pretende‐se contribuir para as pesquisas
sobre partidos políticos na capital paranaense, pois é destacada a importância
de estudar os partidos em âmbito municipal para discutir a coerência dos
partidos em contextos federalistas. As informações aqui analisadas foram
coletadas pela dissertação de Mauro Pioli Rehbein (2008), nos bancos de dados
disponibilizados pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e pelo Tribunal Regional
Eleitoral do Paraná (TRE‐PR), em seus respectivos repositórios eletrônicos.

Os estudos sobre coligações eleitorais no Brasil têm mostrado um


expressivo desenvolvimento desde o período de 1946 até o período
democrático atual.70 Um número significativo de trabalhos vem tentando

2016, os dados sobre os resultados eleitorais de 2016 não serão incluídos na análise de dados.
Apenas serão demonstrados os candidatos e coligações dos partidos selecionados
correspondentes a esta disputa.

70 Durante o período do fim do Estado Novo ao golpe militar (1945‐1964) as eleições
realizadas tinham a liberdade de se coligarem nas disputas proporcionais. Os legisladores do
Pág. 168 Memória Política de Curitiba

explicar as motivações, incentivos e racionalidade dessas coligações, que


consistem (de forma simplificada) na união formal de dois ou mais partidos
para efeito de contagem de votos e alocação das cadeiras no interior da aliança
(MIGNOZZETTI; GALDINO; BERNABEL, 2012, p. 741‐742). A ampla utilização de
coligações nas disputas eleitorais é uma das características marcantes da vida
política brasileira (MIGUEL; MACHADO, 2007, p. 759).

Há autores que já trabalham com pesquisas sobre sistemas eleitorais e


sobre sistemas partidários (CARREIRÃO, 2006; NICOLAU, 2012; CARREIRÃO;
NASCIMENTO, 2012), mas o papel dos partidos e as características dos sistemas
partidários locais têm sido pouco enfatizados (KERBAUY, 2009, p. 16). Com
relação às eleições proporcionais,71 um poderoso estímulo às coligações é que
elas facilitam o alcance do quociente eleitoral, que funciona como cláusula de
barreira. Para os cargos majoritários, as coligações são, muitas vezes, uma
consequência das alianças firmadas com vistas às eleições proporcionais; em
relação ao Poder Executivo, ainda há a possibilidade de que, em caso de vitória,
os partidos coligados sejam contemplados com cargos na administração pública
(MIGUEL; MACHADO, 2007, p. 759).

regime militar vetaram qualquer forma de coligação nas eleições (do executivo e legislativo).
Com a redemocratização do país, as coligações voltaram a ser permitidas. Desde 1985 os
partidos têm a liberdade de escolher se concorrem sozinhos ou se fazem coligações nas eleições,
tanto nas eleições proporcionais quanto nas disputas para o Executivo (NICOLAU, 2012, p. 130‐
131).

71 Vereadores brasileiros são eleitos por meio de um sistema eleitoral proporcional de

lista aberta, em que as sobras de cadeiras são alocadas utilizando uma versão do sistema
D’Hondt. Os eleitores podem votar tanto na legenda do partido como em um candidato. Os votos
são então agregados até o nível das listas eleitorais. Somente então é realizado o cálculo do
número de cadeiras a que cada lista tem direito (pela fórmula D’Hondt). Dentro de cada lista,
são eleitos os que obtiveram o maior número de votos individuais, até completar o número de
cadeiras às quais a lista tem direito. As listas eleitorais, por sua vez, podem ser compostas por
mais de um partido, e nesse caso são chamadas de coligações eleitorais (LEONI, 2011, p. 107).
Pág. 169 Memória Política de Curitiba

Alianças Partidárias

Na visão de Duverger (1970), em um sistema multipartidário, compostos
por partidos ideologicamente diferentes e que apresentam comportamentos
distintos, pode levar a uma desordem do sistema. Em relação às alianças, o
fenômeno é visto sob formas e graus diferentes, sendo algumas desorganizadas,
como coligações provisórias, realizadas para que os envolvidos se beneficiem de
vantagens eleitorais. Outro tipo são as alianças duráveis. O que justifica a
adoção de um ou outro modelo de aliança entre os partidos políticos pode ser as
regras eleitorais de um determinado sistema eleitoral, que podem influenciar a
formação de alianças num dado período. Outro fator explicativo para a
existência de coligações e o formato delas é o número de partidos e o tipo de
eleição majoritária ou proporcional.

Na visão de Panebianco (2005), são as características do sistema


partidário que justificam o comportamento dos partidos políticos. Os partidos
sofrem impactos de vários fatores, como as regras eleitorais e influência do
ambiente no qual se encontra. Ao realizar uma leitura do quadro partidário é
necessário somar a esses fatores as características dos partidos.

Em relação aos estudos realizados no Brasil sobre a temática, há uma


abordagem que se ocupa das motivações dos partidos ao realizarem as
coligações, que apontam para o objetivo dos partidos em ampliar as suas
próprias chances eleitorais, isso com base num cálculo de custos e benefícios
eleitorais (CARREIRÃO, 2006). Nessa mesma linha de pensamento Nepomuceno
da Silva (2003) parte da ideia de que as alianças e coligações eleitorais são
realizadas por partidos que buscam o melhor resultado em uma disputa
majoritária, tendo o tempo de sua existência definida pelo período do processo
eleitoral.
Pág. 170 Memória Política de Curitiba

Ao contrário dos argumentos que justificam a existência das coligações,


Coneglian (2002), enxergas essas alianças como algo negativo para o sistema
eleitoral, ele justifica essa ideia com base no argumento que as coligações vão
ao contrário do que os partidos propões, uma vez que não atende a concepção
clássica de partido político, que é união de pessoas com o mesmo pensamento e
ideais, ao contrário disso, une pessoas com o único objetivo de disputar e
vencer as eleições. Para o autor, as alianças levariam a desordem no
alinhamento dos partidos para governar no pós‐eleição.

Nicolau (1996) aponta que as coligações podem ser justificadas a partir


da magnitude do distrito, tamanho do partido, tempo no horário eleitoral,
número de candidatos que poderá lançar na chapa proporcional e a
desigualdade da força dos partidos em nível estadual. Carreirão (2006), por sua
vez explica que o aumento das coligações em eleições está atrelado ao fato de
que no início do período democrático brasileiro (1982) lançar candidaturas
isoladamente foi a estratégia preferencial de muitos partidos, almejando
consolidar suas bases organizacionais e testar sua capacidade eleitoral. Com o
passar do tempo, os partidos precisaram mudar de estratégia pois a
fragmentação do sistema partidário incentivou o aumento do número de
coligações (incluindo as menos consistentes ideologicamente), como estratégia
para reduzir o impacto dessa fragmentação sobre a competição eleitoral
(CARREIRÃO, 2006, p. 157).

Outro tipo de análise leva a relação entre a formação de coligações e a


consistência ideológica. Para Jorge (2004), a partir de seu estudo sobre as
eleições municipais na região metropolitana do Rio de Janeiro, há uma
diminuição nessa consistência ideológica dos acordos, que levaria desordem
ideológica e a um cenário local mais complexo.
Pág. 171 Memória Política de Curitiba

De um modo geral, uma das principais problemáticas que os trabalhos


sobre coligações eleitorais procura compreender são as vantagens e
desvantagens na formação e uso de alianças e coligações em eleições.

Trajetória Eleitoral e Coligações em Curitiba (1992‐2016)


Esta pesquisa e as informações aqui analisadas foram coletadas a partir


dos repositórios eletrônicos dos bancos de dados disponibilizados pelo
Tribunal Superior Eleitoral (TSE), pelo Tribunal Regional Eleitoral do Paraná
(TRE‐PR) e pela dissertação de Mauro Pioli Rehbein (2008).72 As coligações
partidárias dos principais partidos políticos em Curitiba (PMDB; PSDB; PT;
DEM; PSB; PDT e PSC) nos pleitos para prefeito e vereador no período entre
1992 e 2016 são analisadas a partir das trajetórias eleitorais, para que assim
seja possível identificar a existência de padrões nessas coligações.

Utiliza‐se o método quantitativo e a análise de conteúdo para o


desenvolvimento da pesquisa, que reduz a complexidade de uma coleção de
texto pela classificação sistemática, transformando uma grande quantidade de
material em indicadores (BAUER, 2003, p. 191). A análise de conteúdo é uma
técnica de pesquisa para a descrição objetiva, sistemática e quantitativa do
conteúdo. Ela se constitui em um conjunto de instrumentos metodológicos que
asseguram a objetividade, sistematização e influência aplicada a diversos
discursos (BARROS; LEHFELD, 2012, p. 96). A metodologia de análise de

72 O estudo é resultado de pesquisas acadêmicas iniciadas em 2012 no curso de


Graduação em Ciência Política do Centro Universitário Internacional Uninter. A coleta referente
ao período de 1992 a 2008 é oriunda de um trabalho produzido na disciplina “Análise da
Política Paranaense”, ministrada pelo professor Luiz Domingos Costa.
Pág. 172 Memória Política de Curitiba

conteúdo é destinada a classificação e categorização de qualquer tipo de


conteúdo, reduzindo suas características a elementos‐chave, de maneira com
que sejam comparáveis a uma série de outros elementos (CARLOMAGNO;
ROCHA, 2016, p. 175). Na atualidade, praticamente todas as pesquisas realizam
suas análises de dados por meio de procedimentos de informática. Os pacotes
de programas estatísticos têm a função de auxiliar os pesquisadores no
processo de análise de dados e para fins desta pesquisa é usado o pacote SPSS
(Statistical Package for Social Sciences), por ser o mais utilizado em ciências
sociais (BISQUERRA ALZINA; SARRIERA; MARTÍNEZ, 2004, p. 29‐35).

A coleta é sobre as estatísticas de resultados dos candidatos (1992‐


2016) e eleitos (1992‐2012), que disputaram os cargos de vereador e prefeito
no município de Curitiba. Os resultados das eleições municipais para o
Executivo também foram coletados a fim de relacionar os resultados eleitorais
de primeiro turno entre as eleições proporcionais e as eleições majoritárias.
Visto isso, no Quadro 1 abaixo é possível observar o número de candidatos, de
vereadores eleitos por partido e os partidos que optaram por coligação
proporcional e por partido único, chapa “puro sangue” de 1992 a 2016.

QUADRO 1 – CANDIDATOS A VEREADOR NAS ELEIÇÕES MUNICIPAIS DE CURITIBA

Partido Eleição

1992 1996 2000 2004 2008 2012 2016

PDT candidatos 98 36 60 54 70 28 47

C. Proporcional C C C C C C C

V. Eleitos 08 08 02 03 03 02 ‐

C. Majoritária C C C H H C C

PT candidatos 28 33 31 23 52 25 23
Pág. 173 Memória Política de Curitiba

QUADRO 1 – CANDIDATOS A VEREADOR NAS ELEIÇÕES MUNICIPAIS DE CURITIBA

Partido Eleição

C. Proporcional C C C C C C PT

V. Eleitos 03 03 05 03 02 03 ‐

C. Majoritária C C C C C C PT

PMDB 90 39 47 25 53 46 29
candidatos

C. Proporcional C PMDB C C PMDB PMDB C

V. Eleitos 03 04 03 04 02 01 ‐

C. Majoritária C PMDB C C PMDB PMDB C

PSC candidatos 80 42 41 38 44 62 53

C. Proporcional C PSC C PSC PSC C PSC

V. Eleitos 0 0 03 0 01 06 ‐

C. Majoritária C C H C C C C

DEM candidatos 97 41 58 40 51 10 06

C. Proporcional C DEM C DEM DEM C C

V. Eleitos 03 04 09 05 03 01 ‐

C. Majoritária C C H DEM H H C

PSB candidatos 28 09 50 38 54 24 24

C. Proporcional PSB PSB PSB C PSB C C

V. Eleitos 0 0 02 03 03 04 ‐

C. Majoritária PSB PSB H H H H C

PSDB candidatos 84 41 55 40 71 21 33

C. Proporcional PSDB C C PSDB C C C

V. Eleitos 02 02 03 04 13 04 ‐

C. Majoritária PSDB C C H H H C
Pág. 174 Memória Política de Curitiba

QUADRO 1 – CANDIDATOS A VEREADOR NAS ELEIÇÕES MUNICIPAIS DE CURITIBA

Partido Eleição

LEGENDA: C‐ Coligação / H – Coligação Majoritária Hegemônica


FONTE: Elaboração do autor a partir do TSE, TRE‐PR e Rehbein (2008).

Os padrões de coligações em Curitiba entre os partidos políticos nos
pleitos municipais são analisados neste trabalho da seguinte forma: I) coligação
proporcional e majoritária; II) partidos isolados; e III) partidos da coligação
hegemônica. A coligação hegemônica classificamos como a que agregou mais
partidos na coligação majoritária no respectivo pleito.73

Por meio dos dados apresentados é possível verificar além dos


resultados eleitorais outros padrões de comportamento partidário municipal
em Curitiba. Iniciando pelo PDT uma constatação é que o partido tem optado
pela preferência por coligações proporcionais e majoritárias em todas as
eleições de 1992 a 2016. O PDT elegeu prefeito na capital paranaense em 1992,
1996 e 2012,74 além de garantir 8 cadeiras na Câmara Municipal nas eleições
proporcionais de 1992 e 1996, ou seja, estas informações corroboram a
hipótese da importância das coligações, em especial para obter sucesso eleitoral
no Executivo.

73 Para fins desta pesquisa consideram‐se Coligações Majoritárias Hegemônicas as


eleições de: I) 2000 – PFL/PL/PPB/PRN/PRP/PSB/PSC/PSD/PSL/PST/PTdoB/PTB/PTN; II)
2004 ‐ PSDB / PSB / PDT / PP / PAN / PTN / PRONA / PSL; III) 2008 –
PSDB/PP/PDT/DEM/PSB/PPS/PR/PSDC/PRP/PTN; e IV) 2012 ‐ PRB/ PP/ PSL/ PTN/ PPS/
DEM/ PSDC/ PHS/ PMN/ PTC/ PSB/ PRP/ PSDB/ PSD/ PTB.

74 Na eleição municipal de 1988 o PDT também elegeu Jaime Lerner como prefeito de
Curitiba. Embora este dado não faça parte do recorte da pesquisa é importante para análise
histórica política.
Pág. 175 Memória Política de Curitiba

O Partido dos Trabalhadores trata‐se certamente de uma das


construções mais originais da política brasileira, pois as principais forças do
partido são oriundas do universo extraparlamentar. As bases sociais do partido
são basicamente de três setores: líderes do sindicalismo em ascensão, com
destaque para Luís Inácio Lula da Silva; intelectuais e pequenos grupos
marxistas; e militantes populares ligados ao trabalho pastoral da Igreja Católica
(MOTTA, 2008, p. 107‐108). Em Curitiba, nas eleições proporcionais, o PT tem
eleito vereadores em todas eleições de 1992 a 2012 e o partido, considerado de
esquerda (MENDOZA; OLIVEIRA, 2003, P. 176), disputou estas eleições optando
pelas coligações proporcionais e majoritárias. Todavia, há um comportamento
do partido distinto para a disputa eleitoral em 2016, pois o PT optou por lançar
a legenda como partido único na eleição proporcional e na majoritária, ou seja,
chapa “puro sangue”. Levando em consideração que a presidente Dilma
Rousseff (PT) teve o julgamento do impeachment em 31 de agosto de 2016 é
esperado uma redução de alianças com o PT. Mas essa hipótese só pode ser
comprovada em análise nacional, não apenas restrita a uma capital estadual.

O PMDB surgiu como o principal herdeiro do antigo partido da


resistência democrática. Após 1980 sua criação correspondia à intenção da
maioria dos políticos e militantes do MDB de manter unida a frente
oposicionista (MOTTA, 2008, p. 105). Sua significativa presença nos estados e
nos municípios tem sido notável (MENDOZA; OLIVEIRA, 2003, P. 161). E
também em Curitiba o PMDB mantém em cada eleição municipal seus
vereadores na Câmara Municipal. Embora o partido não tenha eleito nenhum
prefeito de 1992 a 2012, nos anos de 1980 esta cadeira foi ocupada por
Maurício Fruet e por Roberto Requião, ambos do PMDB. Os partidos nas últimas
seis eleições (1992‐2012) optou três vezes por coligações e três vezes pela
chapa “puro sangue”, conquistando cadeiras para o Legislativo em todos as
disputas. Todavia, foram 10 vereadores eleitos por coligações e 07 vereadores
Pág. 176 Memória Política de Curitiba

eleitos por chapa “puro sangue”, o que demonstra que até um partido da
magnitude do PMDB pode ter mais sucesso eleitoral caso opte por coligações.

O PSC (Partido Social Cristão) não tem resultados eleitorais que os


possam denominar como um dos protagonistas nas últimas duas décadas. Pois
nas eleições de 1992, 1996 e 2004 não elegeu nenhum vereador e na eleição de
2008 conquistou apenas uma cadeira. Todavia o PSC torna‐se o partido com o
maior número de vereadores eleitos em 2012, com seis eleitos. Mas não foi
apenas por disputar a eleição proporcional com coligação proporcional e
majoritária o sucesso eleitoral, pois em 2012 o candidato a prefeito mais votado
em primeiro turno foi Ratinho Junior (PSC), embora no segundo turno Gustavo
Fruet (PDT) tenha sido eleito. Ou seja, há uma correspondência de votos entre a
eleição majoritária e a proporcional.

O DEM (Democratas, ex PFL – Partido da Frente Liberal) tem


desempenho expressivo nas disputas eleitorais para as cadeiras de vereadores
em Curitiba. No entanto, desde a vitória eleitoral de Cássio Taniguchi para
prefeitura em 2000, a representação do DEM nas Câmara Municipal vem
reduzindo progressivamente. A coligação majoritária que elegeu Taniguchi em
2000 foi a primeira que podemos denominar hegemônica, com 13 partidos
coligados. O DEM (PFL) elegeu 9 vereadores neste pleito consolidando o ápice
em 2000 em termos de sucesso eleitoral nas disputas municipais em Curitiba.

O PSB nas eleições majoritárias e proporcionais em Curitiba de 1992 e


de 1996 entrou nas disputas sem coligação, ou seja, o PSB montou uma chapa
“puro sangue” (REHBEIN, 2008, p. 274‐276). E neste período não elegeu
nenhum vereador. Em 2000 o PSB não lançou candidato, no entanto há uma
primeira alteração nas características do comportamento do partido ao entrar
na coligação majoritária hegemônica que elegeu o prefeito Cássio Taniguchi
(PFL). Importante observar também que o PSB de Curitiba escolheu a coligação
Pág. 177 Memória Política de Curitiba

dominante liderada pelo PFL, sendo que o PSB nacional vinha de uma série de
coligações com o PT. A postura do PSB muda em Curitiba a partir de 2004, de
partido de oposição passa a integrar a coligação dominante, quando nesta
eleição e na seguinte, de 2008, o PSB entra com o candidato a vice‐prefeito
Luciano Ducci (REHBEIN, 2008, p. 320). Em 2008 o PSB lançou as candidaturas
da eleição proporcional como partido único, chapa “puro sangue”, no entanto na
eleição majoritária integrava a coligação dominante. Em 2012 o PSB opta por
coligação na eleição majoritária e na proporcional. Embora o partido não tenha
eleito prefeito em 2012 foi o ano de melhor desempenho eleitoral para os
vereadores do PSB, pois foi a maior votação conquistada com 4 vereadores
eleitos, a maior representação do partido na Câmara. Importante destacar que o
prefeito Luciano Ducci tentava a reeleição, após suceder o cargo de Beto Richa,
que assumiu o governo do Paraná após a eleição de 2010.

Observa‐se que o PSB na questão de vereadores eleitos consolidou‐se


como um partido em ascensão. O PSB obteve vereadores eleitos nas últimas
quatro eleições quando optou pelas coligações majoritárias hegemônicas (2000,
2004, 2008 e 2012), que consideramos uma variável pertinente neste estudo.
Fato este que remete a importância de uma coligação com o grupo de partidos
dominante e pode impor um direcionamento favorável aos partidos em uma
disputa eleitoral.

Dentre os vários partidos criados no período pós‐autoritário merece


destaque o Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), formado em
1987/88 a partir de uma cisão no interior do PMDB. O novo partido resultou da
reunião de um grupo de parlamentares descontentes com os rumos adotados
pelo PMDB durante as votações da Constituinte (MOTTA, 2008, p. 112). O PSDB
se constituiu em um dos principais agentes políticos no Brasil contemporâneo e
teve a capacidade de se adaptar ao ambiente em alteração do sistema político
Pág. 178 Memória Política de Curitiba

brasileiro e ao mesmo tempo afirmar‐se como uma força na arena de


competição eleitoral (MENDOZA; OLIVEIRA, 2003, p. 212‐213).

A trajetória do PSDB nas eleições municipais de Curitiba é toda com


resultados satisfatórios quanto a conquista de cadeiras no Legislativo de 1992 a
2012. Na eleição de 1992 foi o único ano em que disputou as eleições sem
coligações proporcionais e majoritárias e conquistou duas cadeiras para
vereadores. Nas demais eleições seguintes optou por coligações, compôs em
2004, 2008 e 2012 a Coligação Majoritária Hegemônica, sendo que conquistou a
eleição e reeleição com Beto Richa (2004 e 2008). Na eleição de 2008 foi o
partido que mais elegeu vereadores para a Câmara de Curitiba, com 13 cadeiras.
Isso significa uma representação importante da bancada governista no
Legislativo, pois na Câmara Municipal de Curitiba atualmente são 38 cadeiras
para vereadores. Este ano foi também foi a maior votação em 1° turno para um
candidato quando Beto Richa recebeu 778.514 votos e o PSDB disputou com
coligação proporcional e liderava a coligação majoritária hegemônica. Nesta
eleição o PSDB consolidou sua força política e eleitoral que exerce sobre os
poderes Legislativo e Executivo municipais da capital paranaense.

Prefeitos Eleitos em Curitiba e a Base na Câmara dos Vereadores (1992‐


2012)

A Câmara Municipal tem um papel essencial no processo decisório, o


qual implica uma certa independência do Legislativo em relação ao Executivo.
Essa centralidade pode ser mensurada primeiramente na relação entre os dois
poderes, considerando‐se o nível de dificuldade e/ou complexidade que o
Executivo encontrará para compor uma maioria estável que lhe conceda apoio.
Pág. 179 Memória Política de Curitiba

No início de cada gestão, a opção do prefeito quanto à forma de relacionamento


com o Legislativo vai determinar o grau de dependência estrutural ou
autonomia do Legislativo frente ao Executivo, tendo como parâmetro estrutural
a tendência à ação individualista e de conteúdo governista presente na
estratégia dos vereadores (PRALON, FERREIRA, 1998, p. 73‐74).

Por esta função de relacionamento do Legislativo com o Executivo o


número de vereadores eleitos do partido do prefeito pode ter efeitos positivos
ou negativos para a formação de uma coalizão. No Quadro 2 estão relacionados
os prefeitos eleitos em Curitiba e quantos vereadores os partidos garantiram
como base de governo.



QUADRO 2 – RELAÇÃO DE PREFEITOS ELEITOS EM CURITIBA (1992‐2012) E VEREADORES

Prefeito eleito Partido Total de votos Vereadores Ano da eleição


Eleitos pelo
partido
Rafael Greca PDT 324.348 08 1992
Cássio Taniguchi PDT 414.648 08 1996
Cássio Taniguchi PFL (DEM) 378.993 09 2000
Beto Richa PSDB 329.451 04 2004
Beto Richa PSDB 778.514 13 2008
Gustavo Fruet PDT 265.451 02 2012
FONTE: Elaboração do autor a partir do TRE‐PR, TSE e Rehbein (2008)

Um apontamento importante para a relação de vereadores eleitos pelo


partido do prefeito é que em Curitiba apenas Gustavo Fruet (PDT) não foi
contemplado com uma base significativa na Câmara. Na primeira eleição de
Beto Richa (2004) foram apenas 4 vereadores eleitos. Mas o PSDB teve a
votação mais expressiva das eleições municipais para prefeito da capital
Pág. 180 Memória Política de Curitiba

paranaense em 2008 com a vitória de Beto Richa sobre Gleisi Hoffmann (PT),
tendo 13 cadeiras na Câmara. Os prefeitos Rafael Greca (PDT) Cássio Taniguchi
(PDT/PFL) também foram eleitos com uma base significativa do partido no
Legislativo.

Então, a partir dos resultados eleitorais para o cargo de vereador verifica‐


se que o partido do prefeito eleito pode ter mais dificuldades para formam uma
coalizão de governo, caso não tenha um número expressivo de vereadores eleitos
do próprio partido, isso sem levar em conta as coligações eleitorais, onde as
alianças são apenas no período eleitoral. Deve‐se considerar como dificuldade
para governar não apenas o embate no Legislativo entre a situação e a oposição,
mas também a orientação partidária ideológica.

Por meio do Gráfico 1 pode‐se constatar que para os resultados eleitorais


positivos em relação ao prefeito eleito & vereadores eleitos, pois os partidos PDT,
DEM e PSDB conquistaram mais cadeiras no Legislativo no ano em que elegeu
prefeito com relação a eleição anterior.


Pág. 181 Memória Política de Curitiba

GRÁFICO 1 – PREFEITOS E VEREADORES ELEITOS PELO DEM, PDT E PSDB (1992‐2012)

FONTE: Elaboração do autor a partir do TRE‐PR, TSE e Rehbein (2008)

Apenas o PDT de 2012, que elegeu 2 vereadores, reduziu o número de


vereadores de 2008, quando foram 3 vereadores eleitos. Todavia, a eleição de
2012 foi atípica pois Gustavo Fruet chegou nas últimas semanas do período
eleitoral como 3° colocado nas pesquisas eleitorais, tendo este resultado
desfavorável revertido apenas na eleição do primeiro turno. A eleição de 2012
teve como ganhador do 1° turno na disputa para prefeito o candidato Ratinho
Junior, pelo PSC, que conquistou 6 cadeiras para vereador, fato este que
demonstra a relação do candidato mais votado da eleição majoritária com os
resultados da eleição proporcional. A disputa de 2012 pode ser também a maior
derrota do PSB na eleição majoritária com o candidato e ex‐prefeito Luciano
Pág. 182 Memória Política de Curitiba

Ducci, onde a coligação majoritária contou com 15 partidos. Todavia, foi a maior
vitória do PSB na eleição proporcional conquistando 4 cadeiras na Câmara
Municipal, que demonstra a força adquirida no cenário político da capital
paranaense.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalho procurou discutir os resultados das eleições municipais em


Curitiba, avaliando o desempenho dos mesmos a partir da eleição por partido
isolado “chapa puro sangue”, coligação proporcional e coligação majoritária.
Inicialmente foi necessário selecionar os partidos PT, PMDB, PSDB, PDT, DEM,
PSB e PSC pelos critérios de antiguidade, presença nas disputas eleitorais para a
prefeitura e representação no Legislativo e identificar o padrão dos resultados
eleitorais analisados, a fim de verificar os partidos e os tipos de coligações com
melhores resultados. Então foi possível direcionar a pesquisa para análise de
partidos, de coligações e alguns cruzamentos entre as variáveis.

A hipótese do trabalho é que o sucesso eleitoral dos candidatos ao


legislativo em eleições proporcionais depende da coligação proporcional ou
majoritária que o partido optou para a disputa. Os resultados da pesquisa
indicam que fazer parte das coligações é vantajoso para os partidos e
candidatos eleitos. Pois dos sete partidos selecionados os melhores resultados
eleitorais nas eleições proporcionais se deram por opção em coligações
proporcionais e coligações majoritárias (com exceção do PMDB de 1996, que
elegeu 4 vereadores por chapa puro sangue na proporcional e chapa puro
sangue na majoritária).

Os dados deste trabalho não deixam dúvidas de que os partidos que


Pág. 183 Memória Política de Curitiba

aderiram as coligações proporcionais obtiveram um melhor desempenho


eleitoral. Os resultados obtidos nesta pesquisa sobre eleições municipais podem
possibilitar a verificação da coerência dos partidos nos resultados para
deputados estaduais, deputados federais e senadores em outros pleitos e,
também, para as próximas eleições em 2018, embora a Lei 13.165/2015, o
Código Eleitoral, tenha apresentada várias alterações.

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Pág. 187 Memória Política de Curitiba

ANEXO

QUADRO 3 ‐ Partidos Políticos Registrados no TSE (2016)

Seq. Sigla Nome Deferimento N°


legenda

1 PMDB Partido do Movimento Democrático Brasileiro 30.6.1981 15

2 PTB Partido Trabalhista Brasileiro 3.11.1981 14

3 PDT Partido Democrático Trabalhista 10.11.1981 12

4 PT Partido dos Trabalhadores 11.2.1982 13

5 DEM Democratas 11.9.1986 25

6 PCdoB Partido Comunista do Brasil 23.6.1988 65

7 PSB Partido Socialista Brasileiro 1°.7.1988 40

8 PSDB Partido da Social Democracia Brasileira 24.8.1989 45

9 PTC Partido Trabalhista Cristão 22.2.1990 36

10 PSC Partido Social Cristão 29.3.1990 20

11 PMN Partido da Mobilização Nacional 25.10.1990 33

12 PRP Partido Republicano Progressista 29.10.1991 44

13 PPS Partido Popular Socialista 19.3.1992 23

14 PV Partido Verde 30.9.1993 43

15 PTdoB Partido Trabalhista do Brasil 11.10.1994 70

16 PP Partido Progressista 16.11.1995 11

17 PSTU Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado 19.12.1995 16

18 PCB Partido Comunista Brasileiro 9.5.1996 21

19 PRTB Partido Renovador Trabalhista Brasileiro 18.2.1997 28

20 PHS Partido Humanista da Solidariedade 20.3.1997 31

21 PSDC Partido Social Democrata Cristão 5.8.1997 27

22 PCO Partido da Causa Operária 30.9.1997 29

23 PTN Partido Trabalhista Nacional 2.10.1997 19


Pág. 188 Memória Política de Curitiba

24 PSL Partido Social Liberal 2.6.1998 17

25 PRB Partido Republicano Brasileiro 25.8.2005 10

26 PSOL Partido Socialismo e Liberdade 15.9.2005 50

27 PR Partido da República 19.12.2006 22

28 PSD Partido Social Democrático 27.9.2011 55

29 PPL Partido Pátria Livre 4.10.2011 54

30 PEN Partido Ecológico Nacional 19.6.2012 51

31 PROS Partido Republicano da Ordem Social 24.9.2013 90

32 SD Solidariedade 24.9.2013 77

33 NOVO Partido Novo 15.9.2015 30

34 REDE Rede Sustentabilidade 22.9.2015 18

35 PMB Partido da Mulher Brasileira 29.9.2015 35

FONTE: TSE (2016)



Pág. 189 Memória Política de Curitiba

A regulamentação dos serviços de água e


esgoto no século XIX: uma abordagem sobre
o desempenho institucional da Câmara
Municipal de Curitiba (1871‐1900)



Marcus Roberto de Oliveira75




Resumo: A sistematização dos serviços de abastecimento de água e coleta de esgoto no Brasil
passou a ocorrer a partir das últimas décadas do século XIX. Nesse contexto, as províncias
viabilizaram processos de concessões de tais ofícios às empresas estrangeiras. No entanto, a
baixa qualidade dos trabalhos (acerca das obras e atividades) oferecidos por essas companhias
influenciou, decisiva e significativamente, para o controle estatal dos quefazeres de água e
esgoto, que viria a ser consolidado no século XX. O presente trabalho denotará uma breve visita
ao município de Curitiba‐PR no período que compreende os anos de 1871 e 1900, pois nesse
ínterim ocorreram normatizações, obras, omissões, orçamentos e solicitações em relação aos
sistemas de água e esgoto que revelaram experiências controversas. Nesse sentido, a Câmara
Municipal de Curitiba exerceu uma interessante conduta enquanto campo do poder.



Palavras‐chave: Regulamentação dos serviços de água e esgoto entre 1871 e 1900; Câmara
Municipal de Curitiba no século XIX; Campos sociais; Agentes sociais; Campo do poder.

75 Doutorando em Sociologia pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e pesquisador do

Núcleo de Estudos Paranaenses (NEP). Endereço eletrônico: mr_olivei@yahoo.com.br



Pág. 190 Memória Política de Curitiba

INTRODUÇÃO

No Brasil, os processos históricos de urbanização e desenvolvimento


consolidaram uma interdependência humana. Desse modo, é possível
pensarmos a questão do saneamento ambiental. No contexto que vigora, a ideia
de saneamento ambiental passa a fazer sentido e torna‐se material quando:


O abastecimento de água tratada e própria para consumo, o manejo
de águas pluviais, o sistema de esgotamento sanitário76, o manejo de
resíduos sólidos, a limpeza urbana e o controle de agentes
patogênicos formam um conjunto de serviços que tem como objetivo
promover a saúde das comunidades envolvidas (OLIVEIRA, 2016, p.
1‐2).

É plausível afirmar que hoje há um consenso social em torno desta noção
de saúde pública77. Mas também é admissível concluir que nem sempre foi
assim. Na conjuntura da passagem do século XIX para o século XX, apenas os
serviços de abastecimento de água e coleta de esgoto compunham, de modo um
tanto disperso, a agenda dos poderes públicos e os anseios da sociedade desse
período.

76 “O esgoto sanitário, segundo definição da norma brasileira NBR 9648 (ABNT, 1986) é o
‘despejo líquido constituído de esgotos doméstico e industrial, água de infiltração e a
contribuição pluvial parasitária’”. Disponível em http://tratamentodeagua.com.br/artigo/o‐
esgoto‐sanitario‐a‐origem/; acesso em 18/09/2016.

77 “A expressão ‘Saúde Pública’ pode dar margem a muitas discussões quanto a sua definição,

campo de aplicação e eventual correspondência com noções veiculadas, muitas vezes, de modo
equivalente, tais como ‘Saúde Coletiva’, ‘Medicina Social/Preventiva/Comunitária’, ‘Higienismo’,
‘Sanitarismo’. Em geral, a conotação veiculada pela instância da ‘Saúde Pública’ costuma se
referir a formas de agenciamento político/governamental (programas, serviços, instituições) no
sentido de dirigir intervenções voltadas às denominadas ‘necessidades sociais de saúde’”.
Disponível em http://www.fiocruz.br/bibsp/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?sid=107; acesso em
13/09/2016.

Pág. 191 Memória Política de Curitiba

A imprescindibilidade dos ofícios de água e esgoto evidenciou‐se a partir


de problemas sociais que abarcaram as realidades dos grupos sociais desta
época. Num quadro em que insalubridades sanitárias foram compartilhadas no
conjunto da sociedade, ao final do século XIX já funcionavam serviços de
abastecimento de água via aqueduto78.

Entre “1857 e 1877”, o governo provincial de São Paulo engenhou “o


primeiro sistema” de “água encanada” junto à “empresa Achilles Martin
D´Éstudens”. Já em “Porto Alegre, o sistema de abastecimento de água encanada
foi concluído em 1861”79 e no “Rio de Janeiro, em 1876, o governo imperial
contratou o engenheiro Antonio Gabrielli para a construção da rede de
abastecimento de água a domicílio”80. Nessa época, tais empreendimentos
foram operacionalizados por empresas estrangeiras (em especial, companhias
inglesas) e estatizados no início do século XX81.

Sobre os serviços de esgoto, até a segunda metade do século XIX,

78 “Houve um tempo em que nem mesmo as melhores casas das maiores cidades brasileiras

contavam com água encanada. Eram os chafarizes públicos que cumpriam o nobre papel de
garantir aos moradores as condições mínimas de conforto, saúde e higiene, além de servir a
muitos para seu trabalho e sustento – em um passado não tão distante”. Disponível em
http://www.revistadehistoria.com.br/secao/artigos‐revista/agua‐pra‐dar‐ou‐vender; acesso
em 13/09/2016.

79 Disponível em http://www.aegea.com.br/portfolios/a‐historia‐do‐saneamento‐basico‐no‐

brasil/; acesso em 13/09/2016.



80 Disponível em
http://www.casadorio.com.br/sites/default/files/pdf/O%20Rio%20vai%20buscar%20%C3%
A1gua%20al%C3%A9m%20dos%20seus%20limites.pdf; acesso em 13/09/2016.
81 “No final do século XIX, ocorreu a organização dos serviços de saneamento e as províncias

entregaram as concessões às companhias estrangeiras, principalmente inglesas. [...] Com a


péssima qualidade dos serviços prestados pelas companhias estrangeiras, o Brasil estatizou o
serviço de saneamento no início do século XX”. Disponível em
http://www.aegea.com.br/portfolios/a‐historia‐do‐saneamento‐basico‐no‐brasil/; acesso em
13/09/2016.

Pág. 192 Memória Política de Curitiba

[...] o esgoto era retirado de cada casa de forma semelhante a como


hoje é recolhido nosso lixo. Depositado em barris, o material era
levado durante a noite e jogado no mar, à beira do cais, ou em fossas
cavadas para despejo. Os homens que levavam à cabeça as vasilhas
com os dejetos eram chamados de “tigres”82, em função da sujeira
que escorria dos barris e manchava suas roupas83.

No âmbito em questão, tal precariedade remeteu a um impasse


internacional em termos de comércio exterior. Diante dos “riscos de
contaminação das tripulações” de seus navios, “as nações europeias ameaçaram
retirar os portos brasileiros das suas rotas de atracação”. Nesse ponto, temendo
graves prejuízos devido à dependência econômica do Brasil, o imperador D.
Pedro II concluiu que, apesar dos “custos elevados das obras de construção das
enormes galerias transportadoras com vazões máximas para os dejetos”, seria
necessário elaborar e implantar “sistemas de esgotamento sanitário para os
dois principais portos: Rio de Janeiro e São Paulo”. Assim, “técnicos ingleses”
foram contratados para executarem os projetos. E para além dos portos, os
engenheiros ingleses contratados “acabaram criando o inovador Sistema
Separador Parcial”. Tal conjunto transportava “às galerias somente os dejetos

82 “[...] escravos que na calada da noite transportavam barris com fezes e urina para jogá‐los em

praias e valas”. Disponível em http://www.revistadehistoria.com.br/secao/por‐dentro‐do‐


documento/tampe‐bem‐o‐seu‐tonel; acesso em 14/09/2016.

83 Disponível em http://www.revistadehistoria.com.br/secao/artigos‐revista/agua‐pra‐dar‐ou‐

vender; acesso em 13/09/2016.



Pág. 193 Memória Política de Curitiba

domésticos”, juntamente com os escoamentos “pluviais provenientes das áreas


pavimentadas interiores aos lotes, como telhados e pátios”84.

Em 1879, o engenheiro militar estadunidense George Edwin Waring85


projetou “um sistema de esgotos para a cidade de Memphis, no Tennesee, EUA”,
que separava as águas residuais domésticas das “vazões pluviais”, denominado
“Sistema Separador Absoluto”86. No ano de 1912, por meio do engenheiro civil
Francisco Saturnino Rodrigues de Brito87, tal mecanismo foi difundido no Brasil,
passando “a ser adotado obrigatoriamente no país”88.

O mencionado panorama histórico abriu espaço para a instituição de


uma consciência coletiva social que definiu os serviços de água e esgoto como
soluções indispensáveis, visto que as consequências de suas faltas atingem a
comunidade como um todo.

Nesta lógica, tais ofícios passaram a ser paulatinamente compreendidos


como elementos consensuais numa estrutura de sociedade urbano‐industrial
(modelo esse que emergiria enquanto referência no Brasil em meados do século
XX). Além de apresentarem características de exterioridade, generalidade e
independência em relação aos indivíduos que a compõem (DURKHEIM, 2007),

84 Disponível em http://www.ilhacap.com.br/edicao_janeiro13/esgotos1.html; acesso em


14/09/2016.
85 Para maiores informações biográficas ver
http://www.dec.ufcg.edu.br/biografias/GeoEWrig.html; acesso em 14/09/2016.

86 Disponível em http://www.dec.ufcg.edu.br/saneamento/Historia.html; acesso em
14/09/2016.
87 Para maiores informações biográficas ver
http://www.historiaehistoria.com.br/materia.cfm?tb=alunos&id=435; acesso em 14/09/2016.

88 Disponível em http://www.dec.ufcg.edu.br/saneamento/Historia.html; acesso em
14/09/2016.

Pág. 194 Memória Política de Curitiba

e, ao longo do tempo e do espaço, somarem‐se aos demais serviços


reconhecidos na atualidade, constituindo a indispensável unanimidade do
saneamento ambiental (OLIVEIRA, 2016, p. 1‐2).

No entanto, especificamente, na realidade brasileira que versa a


passagem do século XIX para o século XX, o beneplácito dos quefazeres de água
e esgoto figurou difusamente (HOCHMAN, 1998). Assim, considerando tal
contexto, a finalidade do presente artigo reside em sobrelevar as iniciativas de
controle, financiamento, implantação e regulamentação dos serviços de
abastecimento de água e coleta de esgoto no município de Curitiba entre 1871 e
1900, bem como as interações relevantes junto às instituições e aos indivíduos
desse tempo e naquele espaço.

Tendo como referências fontes de imprensa disponíveis na internet e


atas de sessões legislativas da época89, a experiência curitibana apresentou
contornos autênticos e curiosos. Nesse sentido, a Câmara Municipal de Curitiba
exerceu uma interessante conduta.

A experiência curitibana (1871‐1900)

Os chafarizes eram os equipamentos mais arrojados em termos de


serviços de abastecimento de água no contexto averiguado90. E seguindo o
exemplo de outras capitais (como São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre e

89 Destes documentos, os referentes à Câmara Municipal de Curitiba estão disponíveis em


SCHUSTER, 1994.

90 Disponível em http://www.revistadehistoria.com.br/secao/artigos‐revista/agua‐pra‐dar‐ou‐

vender; acesso em 13/09/2016.



Pág. 195 Memória Política de Curitiba

Recife), as autoridades de Curitiba se mobilizaram para construir o seu


primeiro chafariz público. Assim, no ano de 1871, diante da necessidade de
melhorar o fornecimento de água potável em Curitiba, é inaugurado no Largo da
Ponte (local em que hoje fica a Praça Zacarias) um chafariz “com água
proveniente do Campo do Olho d'Água” na Praça da Misericórdia (hoje Praça
Rui Barbosa), “transportada através de tubulação subterrânea”91.

Planejada em 1870, a pioneira obra foi projetada e executada pelo


engenheiro Antônio Rebouças Filho92 com o aval de Venâncio José de Oliveira
Lisboa, então Presidente da Província do Paraná (SCHUSTER, 1994) e tornou‐se
“uma das principais fontes de água potável na época”, abastecendo a população,
“os aguadeiros profissionais e as carroças‐pipa, que vendiam água de casa em
casa”93.

Após o significativo impacto do empreendimento de Rebouças, em 13 de


fevereiro de 1877, um precursor sistema de abastecimento de água passa a ser
almejado pelo município, e planejado pelo engenheiro alemão Gottleb
Wielland94 a mando do então Presidente da Província, Adolpho Lamenha Lins95.

91 Disponível em http://www.curitiba.pr.gov.br/conhecendocuritiba/pracazacarias; acesso em

22/09/2016.

92 Para maiores informações biográficas ver http://www.bahia‐
turismo.com/cachoeira/antonio‐reboucas.htm; acesso em 22/09/2016.

93 Disponível em http://www.curitiba‐parana.net/patrimonio/chafariz.htm; acesso em

22/09/2016.
94 Para maiores informações biográficas ver
http://www.alteheimat.com.br/wp/pesquisa/imigracao‐alema‐no‐parana/; acesso em
22/09/2016.

95 Para maiores informações biográficas ver
http://triaquimmalucelli.blogspot.com.br/2013/06/adolpho‐lamenha‐lins.html; acesso em
22/09/2016.

Pág. 196 Memória Política de Curitiba

Mas o prógono projeto não se concretizou e “a situação do fornecimento de


água para a cidade não se alterou”. Três anos mais tarde, ainda no campo
teórico, uma nova tentativa foi feita, agora sob a regência do Presidente João
José Pedrosa96.

Nesta segunda investida, um contrato que previa a realização de


“estudos necessários” para viabilizar um novo projeto “para o abastecimento de
água à população” de Curitiba foi assinado em 1880, sem “ônus algum para a
Província”, sob a responsabilidade dos engenheiros Joaquim Rodrigues Antunes
e Edson Mendes Gonçalves. O objetivo do convênio residia na “concessão de
privilégio”, que “nada mais era do que o direito à exploração do serviço” por
parte de uma empresa privada (Idem, 47‐48).

Em meio a inúmeras controvérsias, a análise foi concluída em 1883 e um


relatório foi entregue ao Presidente da Província daquele ano, Carlos Augusto
de Carvalho que, devido aos altos custos da obra, rejeitou a proposta97. Em seu
relatório, o Presidente Carvalho conclui:

[...] por effeito do contracto celebrado com a província, o engenheiro


Joaquim Rodrigues Antunes apresentou os estudos feitos para o
abastecimento de agua potável á capital. [...] Creio que a vista do
orçamento das obras e que se eleva a Rs 880:000$000 (oitocentos e
oitenta contos de réis) por emquanto não será prudente adaptar o
projecto, que foi remetido, á directoria de obras públicas para dar
parecer (PARANÁ, 1883, apud, SCHUSTER, 1994, p. 48).

96 Para maiores informações biográficas ver http://curitibaspace.com.br/03‐de‐fevereiro‐

nascimento‐de‐joao‐jose‐pedrosa/; acesso em 22/09/2016.



97 Carlos Augusto de Carvalho “[...] foi presidente da província do Paraná de 6 de março de 1882

a 26 de maio de 1883. Ao assumir o cargo, logo verificou que a receita arrecadada era inferior às
necessidades previstas pelo orçamento”. Disponível em
http://cpdoc.fgv.br/sites/default/files/verbetes/primeira‐
republica/CARVALHO,%20Carlos%20Augusto%20de.pdf; acesso em 23/092016.
Pág. 197 Memória Política de Curitiba

A rejeição do projeto assevera um novo formato para a administração do


serviço de abastecimento de água da capital paranaense:

[...] o abastecimento de agua potável é um serviço de natureza


municipal, não devendo o governo provincial chamal‐o a si. A Câmara
Municipal, restaurado o seu crédito, poderá com vantagem
empreender trabalhos mais modestos que os apresentados. É uma
necessidade indeclinável (Idem, p. 52).

Com o relatório do governo provincial de 1883, a Câmara Municipal de


Curitiba foi chamada à responsabilidade para administrar o serviço de
abastecimento de água. Tarefa essa que ganhou seus primeiros traços formais
somente em 6 de abril de 1885, quando a casa legislativa “celebrou contrato
com o engenheiro Fernando de Mattos, prevendo o aproveitamento do Rio
Barigui ou de seus afluentes para” garantir a quantidade de água necessária
para atender a população da cidade (SCHUSTER, 1994, p. 52).

A municipalização do serviço de água, no contrato com Fernando de


Mattos, não fugiu à regra das iniciativas anteriores e também fracassou. A
recém‐missão da Câmara Municipal de Curitiba em prover o abastecimento da
cidade figurava de maneira difusa. Além das dificuldades financeiras, políticas e
técnicas98 que fulminaram a empreitada, é possível observar que o novo papel
da casa também foi permeado por diligências um tanto insólitas:

98 “Segundo os documentos da época, os constantes fracassos tinham suas origens: as empresas

eram fracas e o serviço muito grande. Além do que, ‘havia política de campanário e as rendas
municipaes pingues’” (SCHUSTER, 1994, p. 52).
Pág. 198 Memória Política de Curitiba

[...] Na sessão da Câmara Municipal do dia 10 de setembro de 1885, o


vereador João Taborda apresentou uma indicação pedindo melhorias
na “caixa d’água” que abastecia o chafariz da Zacarias. E, ao mesmo
tempo, começaram a ser feitas gestões junto ao comendo dos
soldados do 3º Regimento de Artilharia no sentido de se moralizar as
“atitudes” dos soldados na “Praça da Misericórdia”, onde se localizava
a fonte, já que estes, simploriamente, estavam utilizando o local como
mictório. [...] enviado no dia 14 de dezembro de 1885, pelo vice‐
presidente da Câmara de Vereadores, Nicolao Pinto Rebello, ao
comandante do 3º Regimento de Artilharia, tenente coronel Manoel
José Pereira Júnior, [...] o ofício pedia ‘necessárias e urgentes
providências” para coibir o abuso dos praças daquele regimento
(Idem, p. 50).

Do governo provincial do Paraná à Câmara Municipal de Curitiba, o


aperfeiçoamento do abastecimento de água permaneceu estagnado entre 1871
e 1888. Nesse ponto, cabe uma significativa pergunta: E os serviços de
esgotamento sanitários?

Fora da agenda dos presidentes de província, tais ofícios também


estavam sob a batuta do legislativo curitibano. As condições sanitárias eram
precárias naquela conjuntura. Pouquíssimas “casas do centro de Curitiba”
dispunham de “sanitários internos” (um autêntico “luxo” na época). A maioria
das residências “contava” com as famigeradas “casinhas”, que eram
arquitetadas nos quintais, “sobre fossas livres e abertas, cujos dejetos eram
simplesmente despejados em valetas que cruzavam os terrenos e desaguavam
em riachos próximos”99.

99 Disponível em http://www.tribunapr.com.br/blogs/dante‐mendonca/barao‐da‐bosta/;
acesso em 23/09/2016.

Pág. 199 Memória Política de Curitiba

Diante deste panorama, e muito próximo à abolição da escravatura100, a


Câmara Municipal formalizou um convênio para a coleta de lixo e a limpeza de
fossas e latrinas junto à Empreza Sanitária em dezembro de 1886. Praticamente
inexistem registros a respeito dos contratos municipais de coleta de esgoto, mas
em

[...] julho de 1888, o único concessionário dessa empresa era Karl


Westermann que, no dia 20 desse mês, pediu rescisão do contrato,
alegando motivos pessoais. Segundo registros da Câmara,
Westermann apresentou o “Sr. Boaventura Fernandes Clapp para
efetuar os mesmos serviços”, ou seja, “limpeza de latrinas e remoção
do lixo no quadro urbano”. [...] a Câmara Municipal contratou novos
estudos para o abastecimento de água e serviços de esgoto com
Boaventura Fernandes Clapp. [...] Contrato que, a exemplo dos
anteriores, deu com os burros n’água (Ibidem, p. 56).

Com o fim da escravidão e às vésperas da proclamação da República, o


mais novo fracasso apresentou uma novidade: a integração dos ofícios de água e
esgoto. Pela primeira vez ambos foram almejados conjuntamente. No entanto,
tal compreensão não orientou suas administrações no pós‐novembro de 1889.
Em 23 de setembro de 1899, autorizado pela Câmara Municipal de Curitiba, o
então prefeito Cícero Gonçalves Marques101 lançou o primeiro edital de
concorrência para propostas de implantação de sistema de abastecimento de
água potável, retirando a coleta de esgotos da agenda:

100 Vale relembrar que os serviços de coletas de esgoto e lixo domésticos eram realizados por

escravos. Disponível em http://www.revistadehistoria.com.br/secao/artigos‐revista/agua‐pra‐


dar‐ou‐vender; acesso em 13/09/2016.

101 Para maiores informações biográficas ver
https://historiadormorretense.blogspot.com.br/2016/08/conhecendo‐nossa‐historia‐
cicero.html; acesso em 24/09/2016.
Pág. 200 Memória Política de Curitiba

[...] o prefeito da cidade Cícero Gonçalves Marques lança o primeiro


edital de “concurrência” para a realização das obras do sistema de
abastecimento de água de Curitiba. O projeto previa a captação nos
rios Campinha e Queimados, no município de Deodoro (atual
município de Piraquara). O projeto nunca foi levado adiante102.

O novo malogro ocorreu pelo fato de “nenhuma proposta” ter sido


“apresentada até o dia 22 de novembro” daquele ano, “quando seriam abertos
os respectivos envelopes”. Assim, o prefeito Marques foi “obrigado a mandar
publicar novo edital nos jornais, prorrogando” o prazo “até o dia 28 de fevereiro
de 1900”. Mesmo com a prorrogação, a nova tentativa não obteve sucesso
(Ibidem, p. 65).

Na virada do século XX, concomitantemente, os serviços de água e esgoto


para o município de Curitiba passaram a ficar sob a responsabilidade do
governo Estado do Paraná. Em 2 de abril de 1903, por meio da Lei n. 506, de
autoria do deputado Vicente Machado103, os ofícios foram formalmente
instituídos (PARANÁ, 1905, p, 11‐17).

102 Disponível em
http://www.rioiguacu.pr.gov.br/arquivos/File/Historia_Saneamento_Parana.pdf; acesso em
24/09/2016.

103 Para maiores informações biográficas ver
http://www.casacivil.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=36; acesso em
24/09/2016.

Pág. 201 Memória Política de Curitiba

O legislativo curitibano e o impasse dos “tostões”

Diante dos inúmeros percalços que marcaram a experiência curitibana


acerca do abastecimento de água e da coleta de esgotos entre 1871 e 1900, em
relação ao primeiro ofício, ocorreu um impasse que envolveu os vereadores da
Câmara Municipal, a população local e “os chamados "pipeiros", ou
"aguadeiros"; aqueles que faziam o transporte e a venda de água pela capital
paranaense”104.

Naquela conjuntura:

A Câmara de Vereadores achou por bem lançar o “imposto de um
tostão” (100 réis) por pipa d’água105. Os pipeiros retrucaram e
aumentaram o preço do barrilote106 do precioso liquido. A Câmara
não deixou por menos, e aumentou em mais um tostão o preço da
pipa. O povo se revoltou. “Fatta la legge, trovatto l’inganno (feita a lei,
aventada a trapaça), pensavam os que passavam o tempo “semeando
a cizânia” (semeando a discórdia). A situação chegou a tal ponto que
soldados foram as ruas a fim de manter a ordem pública,
principalmente junto ao chafariz da Praça Zacarias [...], onde os
pipeiros sofriam ameaças de apedrejamento (SCHUSTER, 1994, p.
34).

Ocorreu uma “ciranda de aumentos” de impostos por pipa. O barrilote,


que antes custava 40 réis, chegou a custar 100 réis. A população se revoltou e
culpou os pipeiros. Nesse cenário, as autoridades da época acionaram as forças

104 Disponível em http://parquedaciencia.blogspot.com.br/2014/05/um‐barao‐inusitado‐


historia‐de‐chico.html; acesso em 24/09/2016.

105 Barril reservatório, transportado pelas carroças, que comportava de 600 a 720 litros d’água

(SCHUSTER, 1994, p. 35‐36).



106 Um barril com “cerca de 30 a 36 litros d’água”, que na época “custava 40 réis” cada um (Idem,

p. 36).

Pág. 202 Memória Política de Curitiba

policiais para conter as brigas e os tumultos que por lá se sucederam. Com os


preços das pipas altos, aqueles que não podiam pagar, passaram a buscar a água
no chafariz, situação que proporcionou grandes aglomerações no Largo Ponte
(Idem, p. 36).

O clima de levante só foi amenizado com a chegada dos imigrantes


poloneses na cidade. Nessa vinda, as mulheres polonesas

[...] afluíram em ondas das colônias à busca de colocação por via da


procura que havia por quem baldeasse a prestasse outros serviços
domésticos. O povo calculou: 5 a 10 barrilotes de água, diários,
importariam entre 5 a 30 mil réis, mensais, preço para ter uma ou
duas criadas naquele tempo (Ibidem).

Neste ponto, duas questões interessantes podem ser assinalas. A


primeira diz respeito à anistia concedida pela população de Curitiba à Câmara
Municipal, responsável pelos aumentos do imposto. No julgamento dos
curitibanos daquele tempo, os culpados pela situação foram os pipeiros e não os
vereadores. Tal situação pode indicar que uma sistemática incompreensão da
atuação legislativa municipal prevalecia na época107.

A segunda matéria refere‐se aos imigrantes poloneses, mais


especificamente, à inserção das mulheres dessa etnia em serviços manuais no
ambiente urbano, para além do “uso do arado e da carroça de cabeçalho móvel,
puxado a cavalo” (REIS, 2009, p. 6).

107 Dentro das devidas proporções é plausível supor tal lógica ainda persiste em nossa cidade

(grifos nossos).
Pág. 203 Memória Política de Curitiba

A curiosa história de Francisco Castellano.

A regulamentação dos serviços de coleta de esgoto esteve praticamente


fora da agenda de políticas públicas da cidade de Curitiba no período abordado
no presente texto. Nem governo provincial e nem Câmara Municipal trataram
da questão de modo sistemático. Conforme as informações levantadas, apesar
das precárias condições sanitárias da época, a questão do esgoto não figurou
enquanto um grave problema, sendo abarcada na capital paranaense de forma
efetiva somente no século XX.

No contexto que envolve o período 1871‐1900, “somente algumas casas


já possuíam sanitários, e na grande maioria das moradias era utilizada a famosa
‘casinha’ no quintal’”. Mas ao final desse intervalo, com “o avanço das técnicas
de construção, os sanitários foram inseridos dentro das casas, e o esgoto era
despejado em fossas através de encanamentos”, proporcionando frequentes
problemas de entupimentos, dada a vigente debilidade das instalações. E nesse
panorama surgiu “um personagem curioso, Francisco Castellano, que viu no
esgoto, uma forma de lucrar”108.

O cidadão fundou “uma empresa sanitária que, por um sistema mecânico


de sucção provido de alavanca instalada numa carroça, a qual abrigava uma
barrica, aliás, uma engenhoca puxada por dois pacientes burricos, atendia
qualquer chamado”. O empreendimento cresceu, e Castellano, conhecido pelos
moradores por “Chico”, tornou‐se um próspero empresário curitibano
(SCHUSTER, 1994, p.58).

Conforme o jornalista Dante Mendonça, Francisco Castellano

108 Disponível em http://parquedaciencia.blogspot.com.br/2014/05/um‐barao‐inusitado‐


historia‐de‐chico.html; acesso em 24/09/2016.

Pág. 204 Memória Política de Curitiba

[...] era proprietário de uma empresa sanitária e limpa‐fossas de


Curitiba. “El bostero” enriqueceu trabalhando e conduzindo
pessoalmente seus negócios, na boléia de uma carroça que recolhia
os produtos e subprodutos dos penicos. Se fosse hoje, seria o maior
acionista da Sanepar. Quando pobre, ou quando microempresário das
fossas, era chamado de Chico Bosta. No início do século passado,
porém, ficou tão rico que os invejosos começaram a tratá‐lo como
Barão da Bosta.
[...] enriqueceu: começou a se vestir com tecidos ingleses, dos
melhores alfaiates. Contudo, não entregou as rédeas da empresa.
Para os trabalhos mais fedorentos, contratou alguns ajudantes
também chamados de “los bosteiros”. Os historiadores não
confirmam, porém temos todos os indícios de que nasceu em Curitiba
o dito popular: “A inveja é uma bosta!”109.

A atonia dos ofícios de coleta de esgoto beneficiou Castellano


economicamente. Mas esta pitoresca história também revela que, mesmo
prosperando, Castellano (apelidado de “Chico Bosta”, antes de enricar) foi
preterido pelos abastados da época110. Pejorativamente seu “título de nobreza”
foi o de “Barão da Bosta”. Para a finesse curitibana daquele tempo, faltou
glamour111 ao precursor do indispensável serviço de limpa‐fossa na capital
paranaense112.

109 Disponível em http://www.tribunapr.com.br/blogs/dante‐mendonca/barao‐da‐bosta/;

acesso em 23/09/2016.
110 Os herdeiros destes ainda ocupam os mesmos postos na capital paranaense (OLIVEIRA,

2012).

111 “Para a burguesia da época que se encharcava de perfumes franceses e andava pelas ruas de

‘nariz empinado’ (especialmente em função do cheirume) aquele foi um pobre coitado que,
literalmente, ‘saiu da merda’: primeiro Castelhano de nome, depois Chico Bosta e, para os que
morriam de inveja, Barão da Bosta”. Disponível em http://www.tribunapr.com.br/blogs/dante‐
mendonca/barao‐da‐bosta/; acesso em 23/09/2016.

112 No bairro Cajuru, município de Curitiba, há uma rua com o nome Francisco Castellano (ver

https://www.google.com.br/maps/place/Rua+Francisco+Castellano+‐+Cajuru,+Curitiba+‐
Pág. 205 Memória Política de Curitiba

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O âmbito social é constituído por campos sociais; os quais são definidos


como microcosmos relativamente autônomos que dispõem de lógicas próprias
no conjunto e emergem das diferenciações sociais. Um campo é tanto um
“campo de forças”, uma composição que compele os indivíduos e grupos
(agentes)113 nele enredados, quanto um “campo de lutas”, em que os agentes
obram conforme suas posições junto às relações de forças. Nessa dinâmica, os
agentes operam no sentido de conservar ou transformar a estrutura dos
campos sociais a que cada um corresponde (BOURDIEU, 1996).

Tais espaços seguem entrelaçados e cada um deles apresenta interesses


que predominam em suas respectivas estruturas. Nesse sentido, tais proveitos
correspondem aos agentes sociais que dominam o campo. Essa situação
evidencia uma distribuição desigual de capitais econômicos, culturais, sociais e

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2!3d‐25.4695279!4d‐49.2253612; acesso em 25/09/2016), mas não foi possível confirmar se
seria uma homenagem ao “personagem” em questão.

113 O agente social é semiautônomo (ativo e passivo), incorpora as relações com a estrutura do

campo e reproduz as mesmas por meio dos habitus. Os habitus são definidos enquanto produtos
coletivos que orientam as ações dos agentes. É justamente por meio dos habitus que os agentes
interiorizam valores, normas e princípios sociais que asseguram a adequação entre suas ações
(enquanto indivíduos) e a realidade social objetiva (estrutural). O conceito de habitus pode ser
compreendido como um instrumento capaz de auxiliar na reflexão acerca da relação (e da
mediação) entre as sujeições sociais exteriores e a subjetividade dos agentes sociais. Ver
BOURDIEU, 1996 e THIRY‐CHERQUES, 2006.

Pág. 206 Memória Política de Curitiba

simbólicos114 entre os agentes que compõem o campo e, consequentemente,


proporciona a emergência de conflitos (THIRY‐CHERQUES, 2006, p. 39‐41).

A sociedade curitibana, no período delimitado pelo presente texto


(1871‐1900), foi compreendida à luz destes pressupostos.

A abolição da escravidão (1888), a proclamação da República (1889) e os


surtos epidêmicos do início do século XX (HOCHMAN, 1998) foram eventos
decisivos para que, no contexto abordado, os serviços de água e esgoto fossem
almejados, planejados, regulamentados e implantados no Brasil
sistematicamente.

Assim como nas demais cidades brasileiras, em Curitiba, indivíduos e


instituições mobilizaram‐se nesses processos. Conforme as informações
arroladas ao longo do texto, é possível identificar que governantes, legisladores,
engenheiros, comerciantes, imigrantes, funcionários públicos e, no geral, os
usuários dos serviços de água e esgoto, estiveram envolvidos nas iniciativas
sobre o tema entre 1871 e 1900. Da mesma maneira, instituições como o
Governo Provincial, a Câmara Municipal e, no pós‐1889, o Governo Estadual.

Neste raciocínio, campos sociais puderam ser assinalados. Portanto


vigoraram interesses, distribuição desigual de capitais (econômicos, culturais,
sociais e simbólicos) e conflitos. Essa equação é permanente quando se trata de
campos sociais. Desse modo, na experiência curitibana acerca da água e do

114 O capital será compreendido enquanto um recurso mobilizador que proporciona hierarquia

à estrutura de um campo social. Pode ser classificado como: “[...] econômico, que compreende a
riqueza material, o dinheiro, as ações etc. (bens, patrimônios, trabalho)”; “[...] cultural, que
compreende o conhecimento, as habilidades, as informações, etc.”; “[...] social, correspondente
ao conjunto de acessos sociais, que compreende o relacionamento e a rede de contatos” e “[...]
simbólico, correspondente ao conjunto de rituais de reconhecimento social, e que compreende o
prestígio, a honra etc. O capital simbólico é uma síntese dos demais (cultural, econômico e
social)” (THIRY‐CHERQUES, 2006, p. 38‐39).
Pág. 207 Memória Política de Curitiba

esgoto, destacam‐se os campos político, empresarial, profissional e social.


Assim, o prestígio de governantes e legisladores junto à comunidade, o lucro a
partir da implantação (e exploração) de vultosas obras de infraestrutura, a
proliferação de fossas das residências, a recusa em pagar mais impostos e a
economia por meio de baixos preços e salários, podem ser compreendidos
enquanto interesses que mobilizaram capitais e fomentaram conflitos na
Curitiba do final do século XIX.

Num panorama de campos, capitais e conflitos, a temática do poder é


inerente. Nesse cenário emerge um campo do poder. Não sendo “um campo
como os outros”, o campo do poder, “que não deve ser confundido com o campo
político”, é definido como “o espaço de relações de força entre os diferentes
tipos de capital ou, mais precisamente, entre os agentes suficientemente
providos de um dos diferentes tipos de capital”, cujo propósito é “dominar o
campo correspondente e cujas lutas se intensificam sempre que o valor relativo
dos diferentes tipos de capital é posto em questão” (BOURDIEU, 1996, p. 52).

A função do campo do poder consiste nos controles dos capitais


mobilizados e dos conflitos proporcionados. Nessa proposição, “sua
configuração determina, em cada momento, a estrutura de posições, alianças e
oposições, tanto internas ao campo, quanto entre agentes e instituições do
campo com agentes e instituições externos” (THIRY‐CHERQUES, 2006, p. 40).

Por meio da mediação de concordâncias e desavenças, bem como da


emissão de decisões formais sob o ponto de vista burocrático (orçamentos,
estudos, contratos, concessão, taxações), a Câmara Municipal de Curitiba
exerceu essa incumbência entre 1885 e 1903, sendo uma expressão do campo
de poder. E o fez independente dos sucessivos fracassos que, num contexto
embrionário de consenso social acerca de políticas de saúde pública, marcaram
a estagnação dos serviços de água e esgoto na cidade.
Pág. 208 Memória Política de Curitiba

Após a lei 506 de abril de 1903, a atribuição ficou sob a responsabilidade


do Governo Estadual.



REFERÊNCIAS


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Papirus.

DURKHEIM, E. (2007). As regras do método sociológico. São Paulo: Martin Claret.

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(SANEPAR) entre 2003 e 2014”. Revista NEP ‐ Núcleo de Estudos Paranaenses
da UFPR, v. 2, p. 415‐432.

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Pág. 209 Memória Política de Curitiba


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