Académique Documents
Professionnel Documents
Culture Documents
blackout
blackout
blackout
blackout
blackout
blackout
blackout
este livro foi impresso em meados
do mês de fe vereiro, no ano de
2 0 1 8 , n a c i d a d e d e N ata l , r n .
sumário
Introdução .....................................................................pg 5
Black Out? .....................................................................pg 7
Apresentação .................................................................pg 9
Murilo Zatu .................................................................. pg. 12
Olga Hawes ................................................................... pg. 20
José Zapiski ................................................................... pg. 28
Ana Mendes ................................................................. pg. 35
Ian Itajaí ........................................................................ pg. 42
Gabrielle Dal Molin .................................................... pg. 46
Caroline Santos ............................................................ pg. 54
Maíra Dal’Maz ............................................................. pg. 65
Igor Barboà .................................................................. pg. 75
Maluz ........................................................................... pg. 85
Ionara Souza ................................................................ pg. 91
Pedro Lucas .................................................................. pg. 96
Folha Joice .................................................................... pg. 102
Jota Mombaça .............................................................. pg. 108
Gessyka Santos ............................................................ pg. 115
Ayrton Alves Badriyyah .............................................. pg. 122
Victor H. Azevedo ..................................................... pg. 129
Fulô ............................................................................... pg. 139
Os organizadores
BLACKOUT ?
VERSO PASSAGEIRO
Caminha ali
aqui...
coisas de um povo...
passa, grita, sussurra
e nada de novo...
Está completo, vivido,
ou vivida a branca cor
8 de um poeta esquecido
nas avenidas.
(poema de Blackout)
Os organizadores
APRESENTAÇÃO
10
Leonam Cunha
11
murilo zatu
paris
machuca
quando é hora de dizer
adeus
não parece um até logo
adeus para o quê?
adeus para isto?
tão fácil dizer adeus com porte
tão fácil dizer adeus quando em sua frente
eu me despedaço pouco a pouco
tão fácil
tão fácil
tão fácil dizer adeus
sem saber que adeus não existe
graças a deus, existe a memória
14 irei te assombrar nos seus piores pesadelos
pra quê adeus?
se é aqui que tu bebes o teu poderoso cálix;
jaz em meus braços
só eu sei do seu segredo
my sweet love, eu jamais ousaria.
***
Ergo os braços
para o azul translúcido do céu.
Hendrik partiu.
Disse que iria se perder em Santiago.
Desde sua ida,
ergo meus braços para o imenso céu
e meus olhos viram as cascatas do meu quintal.
Eu rezo.
Oh, Iago, por que partiste?
Não sabes que a Miranda não entende mais meu linguajar?
Seremos dois estranhos
que já não conduzem mais a mesma dança.
Sem ti, não há nós.
Por que partiste
e só deixaste um bilhete?
O céu derrama águas violetas
e eu me banho de novo, mais uma vez.
Ergo os braços para o azul translúcido do céu.
Como é suave as gotas da tempestade que se aproxima...
Eu ficaria aqui por anos
rezando sua partida e pedindo graças aos anjos
mas, bem, por que eu perderia meu tempo com fábulas?
***
15
No cangote, sinais.
No cangote, um cheiro delicado
(calêndula)
saturado na gola de zéfiro.
Aquele cheiro que
há mais de três semanas
ainda jaz lá
e eu lembro desse dia
há três semanas:
Manhattan,
tantra,
uma erupção...
Um ósculo rodopiante entre lençóis.
Dizem que as crianças amam genuinamente.
A criança dentro de mim, de braços retesados
clama socorro,
pelo teu socorro,
pelo porto dentro dos teus olhos
enigmáticos.
- Alguém me diz, sussurrando no ouvido:
quam pulchra visum vitae est at XC gradus –
e dou cambalhotas para ver a vida em 90°
lá naquele ponto
entre o ombro
e a pelagem
cor de anis.
***
***
Pissing
Ele me regou
Como eu rego as minhas variegadas flores.
De olhos fechados,
Um banho áureo.
***
Filhos
Filhos
pequenos cactos
que uma cópula concebeu.
Pequenos cactos
num ancho deserto.
Pequeno cactos,
pequenos brotos
que desabrocham dia após dia
- e desabrocham com selvageria...
***
um dia
quando me olhei no espelho
mal acreditei
o tempo realmente fez o seu trabalho
passei o dia chocada
e túrbida com os meus sinceros desejos
ser jovem
mãe de família
um dia
quando me olhei no espelho
mal acreditei...
***
Primeiro, eu deito.
O teto sobre a minha cabeça traz mais histórias
tanto quanto o baú empoeirado
na cachola do meu avô.
Segundo, fecho os olhos.
O silêncio que se faz dentro de mim
cuja calmaria
mais parece a quietude do universo particular do menino
no balanço
que de um extremo ao outro
sempre volta saltitando para dizer que ele
na verdade:
soy yo.
barravista
Para Ele.
Os dias de terror
não mais tanto diferem daqueles
na casa em frente ao mar
onde você me ensinou a sequência dos planetas
e como identificar constelações
***
21
(um poema sobre silhuetas, medo de mar de
madrugada e poesias inacabadas)
Roda gigante
o mundo girando
dois corpos aqui
eu estático olhando a tua
silhueta em alto mar
eu gosto desse seu jeito meio sei lá o quê vamos morrer juntos
dessa sua vontade de se afogar no mundo
no calor dos meus braços
ou no oceano que carrega nos olhos
E sem fim…
***
Questiona:
onde estaria se
não estivesse aqui?
onde estaria se, nos últimos 3 anos,
não estivesse aqui?
Mais um idoso sem objetivos fora do comum,
já saciado da sopa de todos os dias
antes mesmo de tomar a sopa do dia.
***
jornada
1.
Clarão no olho eles
agarram minha cabeça
(talvez arranquem fora)
2.
a gengiva coça a boca quer
cravar os dentes e
dizer o que guarda o peito
3.
hoje é dia de mostrar
24 minha lancheirinha nova.
4.
Por que mamãe fica estranha quando eu pergunto
por quê é bom pôr a mão na florzinha?
(menina não deixa seu pai ouvir isso!)
5.
Eles disseram que eu devo
gostar de rosa.
6.
Tem uma algema no meu dedo anelar.
ela coça.
7.
Hiperatividade se pega
por osmose
quem é esse do meu lado
afirmando que é neurose?
8.
Deixo-lhe flores feito um símbolo de comemoração
pela minha cama de solteira de volta.
9.
Quase não tenho forças quando ouço a batida
e preciso abrir a porta.
10.
É fim de papo. Abraço o eterno ócio.
meu pulso já não suporta mais o peso
do relógio.
***
petricor 25
1.
Dia nublado
Abro espaço
Para o peito
Sozinho e congelado
2.
Dia úmido
Anagramo eu:
Miúdo
4.
Dia chuvoso
O poema
É gozo
5.
Banho de chuva
Mergulho
A visão turva
6.
Já a tempestade advertiria:
Quem toma banhos de chuva
Corre o risco de nostalgia
***
Empasse natural
***
27
josé zapiski
Você é gente:
Uma mistura de terra e asa.
É gente.
Você é Gente:
Uma lesma sendo carregada pelo vento.
28 ***
Não,
nem o miolo
preto e redondo
da pupila
mais profunda
é capaz
de absorver tudo.
Observe,
olhe tudo;
será mesmo
que o mundo
passa todo
dentro de você?
Perceba;
a vida também
é a arte
de deixar passar
***
Percorri fundos de
mundos e
galopei horas e
dei voltas
-órbitas-
em minha vida de
-rotação -
Revolta idiota:
Demora tanto e
Acaba tão rápido.
Automático e caótico. 29
Aleatório e ordenado.
Fractal e limitado.
***
Caminho:
destino inacabado.
***
Um cachorro
revira lixo na rua
e minh’alma atirou-se
numa melancolia
de rasgar os olhos.
Minha vontade
era agarrá-lo
num abraço
despedaçado
pra prender minh’alma
qu’andava querendo
desgarrar-se do corpo.
Quando se baixa,
desce mais rente qu’o chão.
Quando sobe,
Eleva-se mais que pra lá.
Eu fico no meio
30 de cabo de guerra,
caboca fechada,
cococo fervendo.
Arre, Alma,
te aquieta!
Arre, Quorpo,
te acalma!
***
No porão,
um cofre de alegrias.
Não me cabe
varrer o sentido das coisas.
No lixo,
um quebra-cabeças
de emoções com
várias peças faltando.
Um labirinto aceso.
***
E se a fala falha,
faça então o que te cabe!
(...)
E na noite escura...
Seja a mão que te ajuda...
Que afaga, cospe e empurra...
E a faca; corta e cura!
§
32
(...)
E quando estiver só...
Se lembre que o pó...
Já foi teu pai!
***
Persona.
Lanço-me ao mar
e explodimos juntas
n’ alguma praça perdida.
E
no meio da rua,
na sala esquecida
dum prédio
prestes 33
a desmoronar,
compartilhamos a ruína:
Sumiremos um dia
entre gritos, risadas
y gemidos imbecis.
***
(prólogo)
***
E só assim
pude ir queimando aos poucos.
34
Com a ajuda do vento,
reduzi-me a cinzas.
***
35
poesia é o ápice da abstração
***
***
***
não me anulo
me empresto
sou enquantos
o outro me é
encontro e perda
***
Mãe
não adianta tá no mundo enquanto
teu sossego estiver sujo:
36 volte para casa
Cria
estou voltando
para mim a morada
e a poesia: sustento
***
- você é estranha -
o que ainda pode dizer o meu escândalo
o que ainda pode os clichês do nosso tempo
todas as coisas sinceras são bregas e sem jeito
o mesmo que nossa timidez teu riso e o primeiro encontro
e eu agradeço por este lugar na terra
onde os quadris ninam os olhos alimentam
e o silêncio e a luz baixa nos diz
saudade é um entardecer
uma crise de ansiedade
uma rede
que em espanhol é
extrañar...
***
esgrima de egos
e toda a boçalidade
que lhe é possível em
palcos palanques
púlpitos praças
poemas
e o topo do mundo
num punhados
de umbigos
cagando regra
há séculos que só
cabem em seu próprio cu
o que há de você na tua aparência?
38 o que não é orgulho e vaidade?
o que não é trauma na face?
o que nos difere a fuça
dos detritos da fossa?
setorizando felicidade
em sessões e por embalagens
nos exilando dos nossos
próprios corpos
convivendo
em um não lugar
de ondas de micro
afetos emoticons smiles
os quase mortos
de pernas e braços cruzados
outros de seu gesto em cruz
de seu medo teleférico
e a letargia de uma geração inteira
me perdoem meu juvenil libido
ainda desejo arrebentar
a vida dos átrios
***
***
***
Ouço estalos.
São suas vértebras que quebram, e dobram
E giram, e esticam os braços inanimados
E dobram-se os dedos e afundam toras de ti
***
A Fome
***
***
***
Quem és tu América
que passas por mim
como se fôssemos ainda
aquele tempo de chumbo?
És uma ferida aberta
um sentimento profundo
Os poros de tuas ruas
marcam em mim teus muros
O que tu queres América
se em ti ardem os sonhos
cerram-se os pulsos?
América, não falamos a mesma língua
mas posso entender-te
com as veias de meu coração ibérico
por onde corre nosso sangue bebido
Quem és tu América
que reconheço em linhas
mortes e santos?
Quem és América
tu que fazes de mim um desejo
doce e incestuoso
fraterna y sedutora
***
ela me diz:
que tempo bonito pra chover!
e eu me perco contando as nuvens
que pairam sobre sua cabeça insone
eu digo que não sei mais onde
procurar meus cometas
servir meu céu que tem fome
de mais água
e menos homens
o clima ameno me agrada
mas eu sinto o tédio violar meu corpo
quando chove pouco
e de nada me lembro
que não seja pingo me iluminando
na fonte dos meus desejos
ela me diz que a gente pode dar a outra face
quando cansar de bater de frente
a lua está em peixes
e eu sonhei com uma cama habitada
encharcada de leite
eu não bebo mais vacas nem as como
nem as louvo
mas sei que na Índia há deus na carne
sei que em mim há carne em deus
morto pela minha vontade
de saciar os lábios em outras santas
que de tanto rezar perderam os dedos
fazem de mim sua chuva
48 ***