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Módulo 04 – Professora Maria Helena Zamora1

Professora Irandi Pereira2

Vídeo Aula 53
Adolescentes em Conflito com a Lei e a Escola

Maria Helena Zamora


Na reflexão sobre o adolescente em conflito com a lei e o espaço da escola, é
importante pontuar alguns comportamentos que estão associados ao adolescente em
conflito com a lei e que, não necessariamente, são apenas deste adolescente. É
fundamental que não continuemos um caminho que a sociedade em geral trilha, que é
o caminho da discriminação. Quantas vezes nós temos, dentro de sala de aula,
meninos que são altamente desafiadores, ou muito dispersos, ou que estão, na
verdade, entediados com o conteúdo, enfim, que acabam sendo vistos como
problemas. O ponto é que eles podem ou não ser adolescentes em conflito com a lei.
Além disso, é preciso que pensemos na escola que estamos apresentando, a forma
como estamos trabalhando, se está sendo interessante ou não, se está fazendo
sentido para os adolescentes.

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Maria Helena Zamora é doutora em Psicologia e professora da Pontifícia Universidade
Católica do Rio de Janeiro. Também é professora convidada da especialização em Psicologia
Jurídica da Universidade do Estado do Rio de Janeiro e da Psicologia Jurídica da Universidade
Potiguar (RN) e vice-coordenadora do Laboratório Interdisciplinar de Pesquisa e Intervenção
Social (LIPIS/PUC-Rio).
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Irandi Pereira. Graduada em Pedagogia, e doutora em Educação pela USP. É docente no
mestrado profissional "Adolescente em Conflito com a Lei" da UNIBAN, foi membro do
Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente / CONANDA (gestão 2002-2004)
e é ativista do movimento dos direitos da criança e do adolescente.
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Foram feitas apenas as adaptações necessárias à transposição do texto falado para o texto
escrito. 1
Muitas vezes as pessoas pedem que levantemos ou assinalemos um perfil do
adolescente em conflito com a lei, também com quais comportamentos podemos
esperar dele ou prever dele em sala de aula, como se, necessariamente, ele viesse
trazer para a sala de aula um problema, como se, necessariamente, ele fosse se
destacar dos demais. Eu diria que isto depende, em grande medida, de como ele é
recebido pela escola. Como a escola, os pais dos outros alunos, os pais do próprio
adolescente em conflito com a lei, seus colegas, enfim o que é que toda a comunidade
escolar faz ou como se porta para receber este adolescente, não importando muito se
ele já cumpriu medida ou se ainda está cumprindo.
A minha reflexão aqui é para que não fiquemos esperando um perfil de
comportamento. Algumas vezes nós ouvimos professores ou diretores dizendo: “Estou
com um adolescente que está cumprindo medidas, e ele se destaca porque pega um
lápis e diz que é um estilete, porque fala palavrão, chuta a carteira, cutuca o outro...”
Eu pergunto: O que é que ele está pedindo? O que ele ainda está pedindo para a
escola? Será que a escola é capaz de ouvir e responder? Será que a escola consegue
perceber o caráter reivindicatório deste tipo de comportamento? A exigência de um
tipo de atenção diferenciada? Ele quer que as pessoas se importem com ele
realmente, e ele, sobretudo, não quer ser discriminado.
O Estatuto da Criança e do Adolescente prevê o direito de que as pessoas
vivam sem discriminação. A criança ou adolescente não pode viver sob discriminação
em relação à sua raça ou etnia, em relação a que lugar do Brasil ele veio, ou por estar
em situação de pobreza ou miséria. Nada disso justifica a discriminação. Da mesma
forma o fato de um adolescente ser ou ter sido um jovem em cumprimento de medidas
sócio-educativas, não justifica que ele seja discriminado, que seja visto comum um
bandido, como alguém que, necessariamente, vai nos causar problemas.

Irandi Pereira
Eu acho que talvez nem seja tão difícil lidar no cotidiano com este adolescente
na escola. Primeiro porque serão poucos. Dois, três, quatro, cinco adolescentes no
contexto geral da escola. Segundo porque este adolescente, que está em
cumprimento de medida sócio-educativa, também tem outro programa social, ou sócio-
educativo que o atende. Talvez resida ai a grande questão da educação escolar:
buscar no programa sócio-educativo, fora da escola, este caminho de parceria. A
escola trabalha com este adolescente aquilo que é ‘mister’ da educação escolar, e o
programa sócio-educativo trabalha, lida com este adolescente, com aquilo que
também é a sua competência. O que eu percebo é que há uma distância entre o
programa sócio-educativo, no qual o garoto e a garota estão inseridos, e o cotidiano
da escola. A escola deve buscar esta aproximação, se o programa não o fizer, e vice-
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versa. O adolescente em conflito com a lei, necessariamente terá uma atenção a mais
do que aquele outro que também pode, ao olhar da escola, ter problemas, ser
indisciplinado, não fazer as tarefas escolares, desobedecer as regras e as normas da
convivência escolar. É preciso que haja esta aproximação entre o programa sócio-
educativo no qual o adolescente, após receber a medida sócio-educativa foi
encaminhado, e a sua relação com a educação escolar, até porque há uma decisão
judicial que todas as instituições têm que cumprir. A escola tema sua obrigatoriedade e
o programa sócio-educativo também.
O programa sócio-educativo, entre outras coisas, deve encaminhar relatórios à
justiça e verificar se o Plano Individual de Atendimento deste adolescente está se
dando de acordo com aquilo que foi deliberado entre as parte. E quem são estas
partes? O adolescente, os profissionais dos programas, entendendo também as
demais políticas públicas de educação, saúde, esporte e lazer, e a própria família. Ou
seja, a escola ao está sozinha. Precisamos redimensionar o papel da escola e dos
educadores.

Maria Helena Zamora


A escola, também, muitas vezes, não trabalhou a questão do preconceito, do
tipo de olhar que ela vai ter para com o menino ou a menina que é o adolescente em
conflito com a lei. E ela não trabalhou porque a maior parte da sociedade não faz isso.
Nós carecemos, neste sentido, de uma formação para o professor.
Como é possível construir uma relação realmente pedagógica, que tem que ser
prazerosa, que não pode importar em coerção, nem na fabricação de relatórios nos
quais se confirme uma profecia negativa a respeito do adolescente. É preciso que
desenvolvamos formas de construir uma relação de outra ordem, parceira, amiga,
alegre, incentivadora, que vai apostar nesse adolescente, não importa o que ele tenha
feito. Como isso pode ser construído, se o professor, por exemplo, tem medo do aluno,
se o professor continua julgando o adolescente, algo que não é seu papel, se o
professor começar a pensar cada ato deste aluno como uma peça condenatória,
quando tantas vezes, tantos e tantas adolescentes querem nos dizer alguma coisa
com o seu comportamento, considerado rebelde. Eu quero apontar aqui para a
necessidade da formação dos professores em relação a estas questões.

Irandi Pereira
Ainda existem outras questões que são correlatas à nossa prática. Por
exemplo, mesmo a escola sendo uma comunidade, geralmente os problemas com

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relação à educação parecem ficar sempre só em sala de aula, nos destinos da prática
do professor. A escola é mais do que isso.
O Estatuto é muito claro quando cita a direção da escola, e não os professores,
no caso de comunicação de evasão ou de violência, pois o previsto é o trabalho da
comunidade escolar. Nós temos os conselhos de escola, as Associações de Pais e
Mestres, os Grêmios Estudantis. Não é possível que só caiba ao professor lidar com
esta temática, com esta dinâmica na atenção ao adolescente em conflito com a lei. A
comunidade escolar tem que se antecipar a esta proposta de atenção. Para isso, nós
temos os momentos de planejamento, as reuniões pedagógicas, as reuniões com os
pais e com a comunidade, Além de uma pessoa, um profissional da educação, que faz
parte do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente. Este
profissional deve estar atento à proposta de se lidar com os adolescentes em conflito
com a lei, de se avançar, e também de se antecipar a uma proposta pedagógica de
outra natureza.
Eu acho que todo este debate, toda esta discussão sobre os direitos de
crianças e adolescentes na escola, mudou muito, e eu acho que nós temos que buscar
ser melhores enquanto escola. A escola tem que se antecipar ao problema da prática
de ato infracional. Claro que não sozinha.

Maria Helena Zamora


O professor não está sozinho, ele conta com uma comunidade escolar, e
quanto mais ele envolver outras pessoas, para todos empreenderem uma ação sócio-
educativa, mais bem-sucedida esta ação vai ser.

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