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A Internet, que aumenta o acesso à informação, transfere o poder dos fornecedores para
os clientes, sobretudo nos mercados de consumo.12 Por exemplo, o setor de viagens nunca
mais será o mesmo, agora que os viajantes podem facilmente pesquisar alternativas e fazer
suas próprias reservas. Os agentes de viagem precisam se adaptar a essa nova realida-
de, buscando, por exemplo, oferecer informações mais detalhadas e especializadas que o
viajante comum teria mais dificuldade em obter, ou uma experiência presencial na entre-
ga de serviço que não possa ser imitada virtualmente; ou seja, é necessário oferecer sua
competência especializada e única como um serviço diferenciado. A distribuição eletrônica
está modificando relacionamentos e papéis entre fornecedores, intermediários e clientes
à medida que membros dos canais tradicionais (como as agências de viagens locais) são
substituídos por novos competidores inovadores como Orbitz, Travelocity e Priceline.13 No
Brasil, temos o Decolar, o Submarino Viagens, entre outros.
A Tabela 1.2 mostra exemplos específicos de cada uma dessas forças e seu impacto so-
bre a economia de serviços e até sobre a forma como os consumidores compram e utilizam
os serviços.
Tabela 1.2 Exemplos específicos de forças que transformam e impactam a economia de serviços
> Maior desejo de comprar > Mais gasto em serviços de luxo, como > Novos competidores surgem; centros
experiências versus objetos tratamentos em spa de estética e hotéis do tipo resort
agregam spas
> Número crescente de pessoas > Maior demanda por notebooks e > Maior necessidade de projetistas,
que têm computadores, telefones celulares 3G engenheiros e profissionais de
telefones celulares e marketing para esses tipos de
equipamento de alta tecnologia equipamento
> Facilidade de acesso a mais > Internet e podcast > Permite às empresas estabelecer
informações relacionamentos mais próximos
e focados com clientes e novas
oportunidades de fazer contato com
eles em tempo real
> Migração > Muitos indianos que emigraram para > Transfere talento para o país de
os Estados Unidos agora retornam ao origem, mas pode criar um vácuo no
país de origem mercado de empregos das economias
desenvolvidas
> População em expansão, porém > Países europeus maduros > Mais serviços para atender às
envelhecendo necessidades dos mais velhos,
incluindo cuidados com a saúde e a
construção de casas de repouso
> As empresas manufatureiras > Consultoria e serviços de TI da IBM > Concorrência com provedores de
agregam valor por meio de para mercados financeiros serviços de outros setores, como as
serviços e vendem serviços tradicionais consultorias em gestão
> Mais alianças estratégicas e > Companhias aéreas que formam > As rotas são racionalizadas para evitar
terceirização alianças, como a Star Alliance e a duplicações; os cronogramas e a
Oneworld emissão de bilhetes são coordenados;
o marketing é alavancado e a
eficiência operacional aprimorada
> Foco na qualidade e na > Hotéis de todas as categorias definem > Programas de treinamento para
satisfação dos clientes padrões mais rigorosos e buscam capacitar a equipe de atendimento;
atingi-los de modo consistente investimento em modernização das
instalações existentes e construção de
novas instalações que ofereçam mais
conforto
> Crescimento de franquias > Expansão mundial das redes de > Desafio de manter padrões de serviço
restaurantes de fast-food consistentes por todo o mundo sem
deixar de se adaptar às preferências
alimentares e culturas locais
> Ênfase no marketing por > Os museus buscam expandir seu > Levantamento de fundos para
organizações sem fins lucrativos público e gerar revisitas mais melhorar as instalações; acréscimo
frequentes, o que deve servir de novos serviços de geração de
de exemplo para as instituições receita, como restaurantes e locação
brasileiras desses setores de espaço
Será que os empregos na área de serviços serão perdidos para países onde o custo
é mais baixo? A nova tecnologia de comunicações permite que algumas atividades de
serviços sejam conduzidas longe de onde estão os clientes. Um estudo da consultoria
internacional McKinsey & Co. estimou que 11 por cento dos empregos de serviços no
mundo poderiam ser realizados remotamente. Mas, na prática, a McKinsey previu que a
porcentagem desses empregos efetivamente transferidos para o exterior será bem mais
limitada: somente 1 por cento de todo o índice de emprego de serviços nos países desen-
volvidos em 2008.14 É evidente que mesmo a perda de uma porcentagem tão pequena
afetará grande número de trabalhadores, incluindo alguns profissionais muito bem re-
munerados, cujo trabalho pode ser executado de modo mais econômico por, digamos,
engenheiros altamente qualificados na Índia.15
A visão histórica
As tentativas de descrever e definir serviços remontam a mais de dois séculos. No final
do século XVIII e início do século XIX, os economistas clássicos concentraram-se na criação
e propriedade da riqueza. Eles argumentavam que os bens (inicialmente referidos como
commodities) eram objetos de valor que podiam ter direitos de propriedade estabelecidos
e intercambiados. A propriedade implicava a posse tangível de um objeto adquirido por
meio de compra, escambo ou doação do produtor ou antigo proprietário e legalmente iden-
tificável como uma propriedade do atual dono.
O famoso livro de Adam Smith, A riqueza das nações, publicado na Grã Bretanha em
1776, fez a distinção entre produtos daquilo que ele denominou trabalho “produtivo” e “im-
produtivo”.16 Segundo Smith, o primeiro gerava bens que podiam ser armazenados após a
produção para posterior troca por dinheiro ou outros itens de valor. Por outro lado, o traba-
lho improdutivo, por mais “honroso, (...) útil ou (...) necessário” que fosse, criava serviços
que pereciam no momento da produção e, portanto, não contribuíam para a riqueza. Ou seja,
reconhecia como riqueza apenas o que permanecia como posse. Desenvolvendo esse tema,
o economista francês Jean-Baptiste Say argumentou que a produção e o consumo eram inse-
paráveis nos serviços, cunhando o termo “produtos imateriais” para descrevê-los.17
Atualmente sabemos que, dentro de certas condições, a produção e o consumo são
realmente separáveis para muitos serviços (como no caso de lavanderia, jardinagem e pre-
visão do tempo) e que nem todos os serviços executados são perecíveis (como no caso de
filmagem de shows e eventos esportivos). De modo bastante significativo, muitos serviços
destinam-se a criar valor durável para seus destinatários (sua própria educação ilustra esse
ponto!). Contudo, a distinção entre propriedade e não propriedade, que discutiremos na pró-
xima seção, permanece válida, enfatizada por diversos renomados estudiosos do marketing
de serviços.18
existem diversas empresas no Brasil que alugam bens de luxo, desde bolsas e roupas a car-
ros e iates, o que os torna muito mais acessíveis aos consumidores. A carioca BoBags, por
exemplo, é especializada no aluguel de bolsas de luxo. Além disso, alugar — sob taxas de
acesso ou uso — possibilita participar de sistemas de rede que os indivíduos e a maior par-
te das organizações possivelmente não teriam condições financeiras de possuir ou operar
sozinhos. A maioria das pessoas não deseja possuir uma máquina profissional de café ex-
presso, por exemplo, e prefere dirigir-se a uma cafeteria quando deseja tomar um expresso,
com vantagens adicionais: a bebida é preparada da maneira correta por um profissional e
servida em ambiente especial; não é necessário preocupar-se com o estoque de grãos ou pó
torrado, nem com as xícaras etc.
Podemos identificar cinco amplas categorias no âmbito da estrutura de não propriedade:
Serviços de locação de bens. Esses serviços permitem aos consumidores obter o direito
temporário de usar um bem físico que eles preferem não possuir. Exemplos: barcos,
trajes a rigor e colhedeiras de grãos.
Locação de espaços e locais delimitados. Nesse caso, os consumidores obtêm o uso de
uma porção delimitada de um espaço maior em um prédio, em um veículo ou em
uma área. Exemplos: um conjunto em um prédio comercial, um assento em um
avião ou uma mesa em um restaurante. Normalmente, designa-se o espaço em si
como localização, mas seu propósito pode variar amplamente. Em outras palavras,
alugar um espaço pode ser um fim em si mesmo (como um contêiner em um ar-
mazém), ou simplesmente um meio para atingir um fim (como uma mesa em um
restaurante ou a poltrona em um teatro).
Locação de mão de obra e experiência. Os consumidores contratam outras pessoas para
executar um trabalho que optam por não fazer eles mesmos (por exemplo, limpar
a casa) ou são incapazes de executar por falta de experiência, ferramentas ou ha-
bilidades necessárias. Em muitos casos, os clientes podem efetivamente alugar os
serviços de uma equipe inteira (como em um conserto de carro, uma cirurgia e uma
consultoria em gestão).
Acesso a ambientes físicos compartilhados. Esses ambientes podem localizar-se inter-
na ou externamente — ou ser uma combinação de ambos. Podemos citar como
exemplos museus, parques temáticos, feiras comerciais, ginásios, resorts, campos
de golfe e rodovias pedagiadas. Em troca de uma taxa, os consumidores alugam o
direito de compartilhar o uso do ambiente com outros clientes.
Acesso a sistemas e redes e seu uso. Nesse caso, os consumidores alugam o direito
de participar de uma rede específica, como de telecomunicações, serviços públi-
cos, bancos, seguros ou serviços especializados de informações. Com frequência,
os provedores de serviços criam um verdadeiro menu de termos para acesso e
utilização em resposta às diversas necessidades dos clientes e suas diferentes ca-
pacidades de pagamento.
Em muitos casos, duas ou mais dessas categorias podem ser combinadas. Ao tomar
um táxi, você estará alugando tanto um motorista quanto um veículo. Ao passar por uma
cirurgia, estará, na realidade, alugando uma equipe qualificada de profissionais médicos, li-
derados por um cirurgião, além de locar o uso temporário (mas exclusivo) de equipamento
especializado em uma sala de cirurgia em um hospital ou em uma clínica.
Definindo serviços
Os serviços cobrem um vasto leque de atividades diferentes e, com frequência, bastante
complexas, que os tornam difíceis de definir.20 Originalmente, a palavra serviço era asso-
ciada ao trabalho que os servos faziam para seus mestres. Com o tempo, uma associação
mais ampla surgiu, corporificada na definição do dicionário como “a ação de servir, ajudar
ou beneficiar; conduzir para o bem-estar ou a vantagem de outro”.21 As primeiras defini-
ções do marketing para os serviços contrastavam-os com os bens e descreviam os serviços
como “ações, feitos, desempenhos ou esforços” e argumentavam que eles possuíam carac-
terísticas diversas dos bens — definidos como “artigos, dispositivos, materiais, objetos ou
coisas”.22 Nessas definições iniciais, a intangibilidade e a perecibilidade eram as duas carac-
terísticas mais citadas para distinguir de modo crucial os serviços dos bens.