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dentro de casa
Da Casa
Marília Garcia
9 de Abril de 2020 às 12:52
Cartão postal enviado do Rio de Janeiro para a França em novembro de 1914
a grippe”
Assim começa o Mez da grippe, de Valêncio Xavier, primeiro livro que peguei na
estante logo que começou a quarentena. Ontem saí depois de duas semanas em
isolamento e tive calafrios ao lembrar da cena descrita pelo “protagonista” do livro. A
rua deserta, as gentes nas casas, a gripe. Passou por mim um único homem durante
todo o trajeto que fiz, ele estava com um lenço na mão, me olhou e disse, meus olhos
estão ardendo muito.
“Como saber quantos morreram? O governo não ia dizer o número verdadeiro dos
mortos para não alarmar. Até hoje, ninguém sabe ao certo.”
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Neste momento emergencial, em que estamos suspensos por uma situação coletiva de
exceção, ficamos sem palavras. Uma pergunta que sempre fiz me volta agora: o que as
pessoas se dizem em momentos difíceis e extraordinários? Por exemplo, durante uma
guerra? Como a vida acontece nestes momentos? Estou falando do dia-a-dia, do rés-
do-chão, o que acontece na intimidade de casa, nas palavras entre dois? O que as
pessoas dizem umas para as outras?
Meus queridos
Queridos amigos
Neste momento de tanta dor, que alento seria receber notícias de vocês. Estou triste
mas cheia de confiança e coragem. Lamento não poder ajudar. Gostaria tanto de estar
perto e dividir o pesar. Penso muito e com todo o afeto em vocês. Um beijo nas
crianças.”