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TEMA TRABALHO NO FUTURO: COMO SERÁ A RELAÇÃO COM A TECNOLOGIA NAS PRÓXIMAS DÉCADAS?
De acordo com a Organização Internacional do Trabalho (OIT), existem 194 milhões de pessoas desem-
pregadas no mundo, quase um Brasil inteiro. O que poderá acontecer com as taxas de desemprego nos SAIBA MAIS!
próximos anos? Como a tendência implicada pela automação é certa e irreversível, a geração de empregos Diante da extinção de postos de trabalho gerada pelos
vai cair. Não se sabe para qual patamar, mas será uma situação dramática – e a sociedade precisa agir. avanços tecnológicos, a flexibilização da legislação
A situação embute um paradoxo. Por um lado, a solução deveria envolver as grandes empresas, princi- trabalhista em vários países é apresentada pelo
Estado como solução para o desemprego. As reformas
palmente as que mais estão se beneficiando das novas tecnologias. A preservação de postos de trabalho
trabalhistas de 2017 e 2019 foram implementadas pelo
precisa entrar na pauta da responsabilidade social corporativa. Além disso, se, por hipótese, todas as compa- governo brasileiro com essa promessa. Contudo, o que
nhias dispensarem seus empregados ou a maior parte deles, não haverá mercado consumidor. Por outro, se observou foi um recorde no aumento do número de
essas companhias não podem abrir mão da automação; ganhar produtividade é crucial para quem quer se empregados sem carteira assinada, de trabalhadores
manter vivo num mercado competitivo. Como consequência, investem em robôs, inteligência artificial, drones por conta própria e de subocupados. Será que a
etc., contribuindo para o desemprego. melhor solução para o problema é suprimir direitos
Uma das maiores dificuldades está na própria teoria econômica, que ainda não avançou o suficiente para da classe trabalhadora?
perceber que nem sempre o mercado resolve tudo: se deixarmos para o mercado, vamos assistir ao cresci-
mento cada vez maior das empresas gigantes, o que significará menos emprego e menos consumidores. O problema vem sendo pensado e discutido à exaustão em
alguns países, com destaque para Alemanha, França e Itália. A recomendação mais importante é a de que haja redução na jornada de trabalho. A própria OIT prioriza
essa iniciativa, e a frase “trabalhar menos para que todos trabalhem” virou um lema muito utilizado na Europa.
Paulo Feldmann. Era dos robôs está chegando e vai eliminar milhões de empregos. Folha de S. Paulo, 28 jul. 2018. Disponível em: https://bit.ly/2wxAlJt
TEXTO 4 U M A I M A G E M V A L E M A I S Q U E M I L P A LA V R A S . S E R Á ?
LEITURA 1 E S T E T E X T O V A I M U DA R A S U A V I DA !
Os filósofos Michel Hardt e Antonio Outrora, havia uma massa de trabalhadores assalariados; hoje, há uma multidão de Em “A condição humana”, a
Negri problematizam os efeitos trabalhadores precarizados. Os primeiros eram explorados pelo capital, mas a exploração era filósofa Hannah Arendt (1906-
comportamentais do neoliberalismo. mascarada pelo mito de uma troca livre e igual entre os proprietários dos bens. Os segundos 1975) problematiza os impac-
Os autores indicam que a relação de continuam a ser explorados, mas a imagem dominante de sua relação com o capital tos da Revolução Industrial
trabalho precarizada que existe hoje configura-se não mais como uma relação de igual troca, e sim como uma relação hierárquica sobre as relações de trabalho.
só é possível graças à subordinação entre devedor e credor. Conforme o mito mercantil da produção capitalista, o dono do capital O resultado dessa transforma-
do trabalhador ao consumo, que, com encontra o dono da força de trabalho no mercado, e os dois fazem uma troca justa e livre: eu ção tornou todas as coisas em
os avanços tecnológicos, tornou-se lhe dou meu trabalho e você me dá um salário. No entanto, as relações de trabalho produtos do trabalho, cujo
mais flexível e hipermoderno. Esse capitalistas mudaram. O centro de gravidade da produção capitalista não mais reside na destino final é serem consu-
sujeito passa a ser modelado como fábrica, mas se deslocou para fora de suas paredes. A sociedade se tornou uma fábrica, ou midos, ao invés de produtos
uma empresa, ou seja, espera-se que melhor, a produção capitalista se expandiu de tal maneira que a força de trabalho de toda a da obra, que se destinam a
ele trabalhe para a empresa como se sociedade tende a estar subordinada ao controle capitalista e, nesse sentido, a própria vida foi ser usados. Assim, segundo a
trabalhasse para si mesmo, já que é atrelada ao trabalho. A fim de sobreviver, o endividado deve vender todo o seu tempo de vida. filósofa, perdemos o caráter
a partir da relação de prazer experi- Dessa maneira, aqueles sujeitos à dívida aparentam ser, até para si mesmos, consumidores e produtor que nos humaniza e
mentada por meio do consumo que não produtores. Além disso, a importância da informação e da comunicação é salientada pelo fomos reificados em uma
esse trabalhador, cada vez mais fato de que as práticas laborais e a produção econômica estão se tornando cada vez mais mercadoria, com o fim de
endividado, é guiado por interesses mediatizadas. A mídia e as tecnologias de informação são progressivamente centrais para ampliar as necessidades de
econômicos que não são seus. todos os tipos de práticas produtivas e são decisivas para os tipos de cooperação necessários consumo.
para a atual produção biopolítica.
Antonio Negri e Michel Hardt. Isto não é um manifesto. São Paulo, N-1 edições, 2014. [Adaptado].
Ricardo Antunes. O privilégio da servidão: o novo proletariado de serviços na era digital. São Paulo, Boitempo, 2018. [Adaptado]