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Esses espaços devem ser preenchidos pelo leitor.

Isso condiz com o posicionamento


crítico de Ana C. que prefere um leitor ativo a um passivo. Ela acha que o leitor deve
puxar os significantes a cada leitura, fazendo associações, as mais diversas possíveis.
Que o leitor pense, reflita. Dentro do corpo do texto, os signos deixam uma abertura
para que o leitor complete com a sua interpretação, como foi o caso exemplificado aqui
do pato.
Assim sendo, para a própria Ana não é interessante em seu texto e em literatura, no
geral, que procuremos o sentido original; o que o autor quis dizer, mas dentro do texto,
o que os signos nos permitem inferir. Ou, até mesmo, o que os signos nos permitem
produzir em nível de sentido. Principalmente quando se trata de um texto construído
como literatura.
A fragmentação encontrada em seus textos são saltos, silêncios produzidos
intencionalmente; manipulando o não dito, como já referido, a autora deixa brechas,
espaços em branco para que o leitor complete, contribuindo para a sua significação. Isso
vai ao encontro a seu pensamento crítico que prefere um leitor ativo a um passivo.
A cada leitura, uma nova atualização acontece; nunca lemos do mesmo modo. O campo
de virtuais do texto está pronto, à espera de um leitor que o atualize.

É necessário explicitar que seus poemas também são muitas vezes considerados
herméticos, devido ao intenso trabalho com a linguagem. À primeira vista parece que as
palavras foram colocadas ao acaso, à maneira surrealística. Isso seria o não senso, que é
objeto desta monografia. Certos críticos interpretam como se as palavras fossem
escolhidas aleatoriamente; outros buscam significados ocultos, as entrelinhas, que a
própria Ana C. já argumentou em diversas entrevistas, não existem. O que de fato existe
em sua poesia são os silêncios e os não ditos. Esses espaços devem ser preenchidos pelo
leitor. Isso condiz com o posicionamento crítico de Ana C. que prefere um leitor ativo a
um passivo. Ela acha que o leitor deve puxar os significantes a cada leitura, fazendo
associações, as mais diversas possíveis. Que o leitor pense, reflita. Dentro do corpo do
texto, os signos deixam uma abertura para que o leitor complete com a sua
interpretação. Nem todas as associações possíveis foram previstas pela autora. Como
conta em seu depoimento no curso de LITERATURA DE MULHERES NO BRASIL, em
1983, referindo-se ao significado de pato em seu último livro

Tem esse jogo... porque é um livro que tem várias... Como é que eu
podia dizer?... Eu não sei porque falei muito de pato. [...] Acho que
pode pegar esse significante e puxar por vários lados... Pato é uma
porção de coisas, é pathos, é um certo drama que você vive... [...] Pato
é uma coisa meio ridícula, não é? É um bicho meio ridículo. [...] Ele
não afunda na água. Às vazes quando você lê um texto você pode cair
que nem um patinho. [...] Sabe, tem aquela música do João Gilberto
também, o pato (cantando), sabe? Pato, por acaso é um significante
que puxa muitos outros. Acho que agente pode puxar. Quanto mais
puxar, melhor, não é? Ele migra...
Público: Não estaria caindo na entrelinha?
Ana C: Não, não é entrelinha isso. Acho que isso é puxar o
significante, é diferente. A entrelinha quer dizer: tem aqui escrito uma
coisa, tem aqui escrito outra, e o autor está insinuando uma terceira.
Não tem insinuação nenhuma, não. Fala em pato, você puxa as
associações que você quiser com aquilo. Eu posso lembrar de várias,
mas não vou chegar nunca na verdade de meu texto. Não vou dizer
nunca para você, que para mim, o símbolo pato significa... Dá pra
você puxar. Então, [...]
(CESAR.1999.P.263,264)

Assim sendo, para a própria Ana não é interessante em seu texto e em literatura, no
geral, que procuremos o sentido original; o que o autor quis dizer, mas dentro do texto,
o que os signos nos permitem inferir. Ou, até mesmo, o que os signos nos permitem
produzir em nível de sentido. Principalmente quando se trata de poesia.

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