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MASSAO OHNO EDITORA AUGUSTO BOAL REVOLUGAO NA AMERICA DO SUL CAPA DE ACACIO ASSUNGAO COLEGAS BOS Novissimos Ne 7 RUA VERGUEIRO, 688 - 91-3572 EXPLICACAO Ao contrério do que se costume afirmar, creio que o autor deve explicar sua era. Poueas obras serdo suficientemente clar iginas ue seré suficiente para dar wma idéia do que pretend: Diante desso tarefa, 0 problema do contesido se apresenta inicial, Fd tem- ‘bom, wm eritico afirmou que nao se deve meter politica evn teatro, Esco Jamais teve rasdo. Teatro ndo ¢ forma Procede- Baste que 0. ou lade ¢ simpatia dos neprac, aos operdrios ot ara que a sua obra seje encarada com serieda- de” Gostaria de acentuar gue a simples idéia ‘de defender 0 operd- ro contra 9 imperialicma é, enquanto opénas boo vontade, 120 vasia Como a defera do delicado’ Tom Lee contra a brutalidade pseud Chegamos ao porto fundamental: “revolugao” tem idéia? Imodestamente consigo pensar que sime, Talves nao seja copas de verbal ‘smulado tipo cio crime ndo compensa”, ou "véde como sofrem os, gue 0 conteiide positive de w sonnenr”, como tapouco de io, se a paca no é nada 2 que pretende ser, ofinal? Parece-me gus wm Powco de tudor ¢ i seja bise 0 seu grande mal. tos ne. vos do operdria: todo o seu exfarco converge Ancaments pare ton almdeo meltor, ¢ tss0 the basta, Nas pousae Uses tm te ion existem politicos honestos, na introdugo do capital ¢ distus a faler, Eu quis apenas fotografar o desastre.B certo que num ou notitro momento cedi @ vontade juvenil de gritar por af que tudo etd errodes Wece seiam ésses os Pioree momentos da pega. Se i es ats or os ee th et Si Saint fe, ee tt She lewa ates, igd-los ‘por nenhum enrédo que nio fésse a simpler 7H < eay ‘Bag Chuan, “Ha ( 2 epee Re do de um “show” por uma equipe circense Dei a proliferacao de cenas que pods ‘excluidas @ que se mantiveram residuais dentro da cfual cena dos play-boys a mais conspicua. Contudo, a grande variede- de de cenas e cendrios & predeterminada Quis escrever whe bega de wm personagem defrontado com. sn sidos pelo cinema, p a a anoramica incompot binete. Embora a pega ndo (eanta). BENEMERITO DO ESPIRITO - © senhor me chamou? LEIDER - Quem? Eu? BENEMERITO DO ESPIRITO - Falou em tristeza. Somos todos Pobres sofredores © pecadores. Esta vida é um vale de Migrimas. O Povo precisa sofrer. Através do sofrimento, através da dor, ganhare- mos o reino dos eéus. E para a peniténcia nada melhor do que uma catedral de ouro, 0 ouro & 0 simbolo da virtude, a virtude é necessatia ao Dove, e, para poupar a votsa atenglo, sate’ do. pove ao ulptor do Plipto 26 massas, das mansas 2 Precidénca, Como vedee todos oo caminhos condazem as urna. LEDER (piedoso) ~ Eu também tenho sofride muto, sabe? Pensa aue é bom estar no meu lugar? if muito tste ter daheita, Teaho due obedecer Aquela sibia let que die: «Dat a César 0 que € de Co, sat dal nim oe ¢ mean. Por iss, ndo por itentar& worn Subyengio da minha taxa, contudo rogai por nén, pecadoren, ese na hora das eleigées. * Mo ros r pecadores, 38 SECRETARIO Amém (Benemérto do Eepleto assina), LIDER - Muito obrigado, santo homem, e fete! © pove wotrer para Que tio mais cedo chegue aos cbus ¢ do la ore por mim, nego nesta carne imunda e triste e... peeadora, JOSE “Agora que alo tom mats ningun, amon nba LODER ~ Agora que nfo term mais ninguém, fecha 0 expedient JOSE - Tem o préximo svt fae © roca LIDER - Quem é ¢ préximo? JOSE - José da Silva, desempregado pede emprégo LIDER - Que ¢ iss, meu filo? Por que voed estldobrado assim? JOSE = Dor de barra que perma- 3 I 5 / LIDER - Vai lé dentro, filho. Ultima porta & esquerda. JOSE - Fazer 0 qué? Eu ndo como ha quinze dias LEDER - Nao come por que? Ora essa! JOSE - Pedi aumento de salirio. LIDER - Mas eu dei! JOSE - Pois é: deu! E 0 patrio me despediu! LIDER - Esta vendo? Bem que eu era contra essa mania de aumen- tar salério minimo todo fim de semana! JOSE - Vim aqui porque o senhor disse que a politica € 0 povo. LEIDER - Lingiagem cabal cada um interpreta pelo seu credo. JOSE - E como eu nao posse trabalhar nem morrer, porque entérro fest caro, vim pedir emprégo. LIDER - Vocé vota? JOSE - Se agiientar até 1. LIDER - Entdo nio me fale em J niio faz tanto mal & Patria, Que é que wer agora? JOSE - Exceléncia, eu néo posso jogar futebol de barriga vazia, néo posso cantar tristeza nfo tem fim morrendo de fome, e mesmo pra sofrer € bom estar bem alimentado. LIDER - Os Beneméritos j4 levaram tudo. Espera. Espera trés de outubro (nesse meio tempo ja entraram outros esfarrapados). ESFARRAPADOS - Exceléncia, Estou com fome. Eu quero comer. Eu quero enterrar a minha mulher ¢ néo tenho dinheiro, Eu fui des- pedido, Eu nfo tenho emprégo, Meu pai esti de cama! (José da Silva, Zéquinha Tapioca ¢ os trés Esfarrapados cantam a «Congo do povo que espera dias melhores»). LIDER E BENEMERITOS - Tenham paciéncia esperem mais um pouo porque dias melhores virdo 36 — apertem mais 0 custo remendem um pouco as calgas porque dias melhores virgo resem wma oragio porque dias methores virdo esqueca de comer de rir e de vestir porque dias melhores virdo bense 0 que vai ser 2 dia que hd de ar porque dias methares viréo LIDER ~ E entéo, quando o dia chegar Foparemos fleres sdbre o 7iso tio feliz deste povo tao valente e confiante que canstedi nosso grande pais. LIDER E _- Mas tentam pociéncia BENEMERITOS experen-mais no’ Pouco forge das melhores coro Forgue dias melhores cite (Sogem) POvO ~ Esperar é uma palavra ‘que diz tudo co mesmo tempo Som dizer cerlo 0 que diz ‘quers espera desespera Gem espera sempre alcanca & bom esperar sentado Botque assim ndo cansa... E bom esperar sentado borgue assim nao canta... Porgue assim... no cansa..~ ESFARRAPADO — Té tudo errado, ESFARRAPADO - A gente precisava é de uma revolusio, oe ZROQUINHA (destumbrado) - Meus irmios! Aré ai ESFARRAPADO - Por que? Vocé também acha? ZEQUINHA (excitad{ssimo) - J4 esté tudo pronto. Ten! planos aqui comigo. Pra fazer revoluglo nfo € preciso m enfim vos todos o a gente hao, porque 0 povo adere logo, Pra ser revolucionério basta ter pas~ sado fome, e eu passei fome, Eu no passei fome, José dla Silva? JOSE - Nés dois. ZEQUINHA - Nés dois. Irmanados. JOSE - Ble nem sabia o que era sobremesa. Lembra? ZEQUINHA - Eu nem sabia o que era sobremesa, ESFARRAPADO - © que é sobremesa? JOSE - Se vocé tiver uma al, eu explico como & que come. ESFARRAPADO - O povo nfo sabe © que & sobremesa, ZEQUINHA - Portanto vamos fazer a revolugio. ESFARRAPADO ~ Topado. ZEQUINHA - E pra revolugéo nada? TODOS - Tudo, ZBQUINHA - Entio como 6 como é que é? TODOS - £. ZEQUINHA - Psiuuut, Cuidado com a polfcia (fala em sussurro). Nés nZo podemos ser apanhados.-. (todos fazem psiuuuu © otham fem tOmo, vigilantes). Agora s6 tem uma coisa: o chefe sou ev. ESFARRAPADO - Topado: e 0 responsavel & vocé. ZEQUINHA (corrigindo) - Responsiveis somos nés todos, mas 0 chefe sou eu. Quem mais que vocés conhecem? ESFARRAPADO - Vamos fazer uma reunifo que ei trago todo mundo, O filho do meu patrdo é estudante © conhece uma porsio de gente. ZEQUINHA - Vamos na casa déle? ESFARRAPADO - Nao na boite. ZEQUINHA - Que boite? ESFARRAPADO - & onde éle se distrai com os amigos ZEQUINHA ~ Mas nds vamos fazer uma revolugio na boite? — 38 ESFARRAPADO - Li é melhor p melhor porque a policia nto descontia, JOSE - Olha, se revolugéo da cadeia, é melhor eu ir pra c: " ZEQUINHA - Meus amigos: chegou a nossa hora. v ‘oF a revolugSo, Vamos nos unir a tod m distingso a todos os interessadon, sem distings de classe, ou credo, ou cér. E para comecar, procureme “ae, essa nossa juventude di to fu no feponsa 0 futuro da pate E wentude, aida, porque no futuro dos nossos fi hE Procaremos os nesses ovens femens Ge mr FIM DA CENA TRRS oe CENA QUATRO - COMO V&DES, TORNOU-SE INADIAVEL ‘A NECESSIDADE DE UMA REVOLUCAOZINHA Entra um crock-and-roll tocando fortissimo, ainda no escuro, Luzes: boite intima, duas ou trés mesas, poucas cadelras. Huminagéo azul com pinceladas vermelhas, nitidas. Playboys e playgirls em cena, dan- sando frentticamente. Marcagées grotescas, super-kazanianas. Alguns gritam coisas sem nexo, desarticuladamente, tentando imitar Elvis Presley. A dansa dura apenas 0 tempo de introducio da cena. Sabre tum pequeno praticavel, diante do microfone, o ANIMADOR acom- tmo, A mésica cai em BG, os cassis sentam-se nas cadeiras, nas mesas ¢ no chéo, TARADO - Quando acaba essa misica eu sinto um vazio. ARADO - E a chuva, Quando chove é que eu sinto que o mundo esta perdido, ‘TARADO - Hei, pessoal, eut tive uma idéia, Vamos fazer uma curra? ‘TARADO - Parou a chuva (Algazarra, Sai todo mundo correndo, empurrando José e os Esfarrapados. Ficam apenas os revolucioné- rios, filhos do Patedo. Uma prostituta ainda esta sentada e outra vem voltando com um homem que se despede) PROSTITUTA - E apareca, vin? PROSTITUTA - Esse ndo vem mais, Também, vocé cobrou tabela CITUTA - O que é que voc’ queria? Com mais ésse aumento de salério minimo: PROSTITUTA - O jeito é arranjar uma boa colocagio. Se bem que tab: cate rende muito mais PROSTITUTA - B... mas coronel té dificil hoje em dia.. PROSTITUTA - Minha avé, que foi quem me iniciou nos segredos da profissio, costumava dizer que nos tempos da monarquia, ab 90 PROSTITUTA - Eu por mim, sempre nostdigica dos velhos tempos). ESFARRAPADO - B aguéle. REVOLUCIONARIO - Vio entrando, REVOLUCIONARIO - Esté todo mi REVOLUCIONARIO - nda vio veio. monarquista... (Senta, iem & que voed disse que & 0 ch judar. Com elas aqui a policia néo a, chega pra ca de 3 somos revols fo vamos logo regatear, Se ndo «1 PROSTITUTA - Oia que € tabela nova ESFARRAPADO - Si que 0 Chefe vem af (entra o Zaquinha ‘Tapioca, Comprou um terno novo em prestagdes, penteou 0 cabelo, fé2 a barba, engraxou os sapatos, e pés até gravata, Tem voz de pro- fessor, sacerdote e diretor do centro de pesquisas atémicas). ZEQUINHA - Meus amigos, Estamos aq © futuro desta nagdo vilipendiada e depauperada pelos con ais © estrangeiros que paulatinamente estrangulam a sua econo- mia ainda incipiente, Preclaros confrades. JOSE (apalermado) - Zéquinha, como vocé mudou REVOLUCIONARIO - Isso no serve pra chefe da revolugéo REVOLUCIONARIO - Vocé néo contou que éle era as: ESFARRAPADO - Ele nfo era assim. ZEQUINHA - Nao sirvo? Por que? (at6nito), PROSTITUTA - Eu s6 queria saber que pito eu toco isso tudo. REVOLUCIONARIO - Pra ser chefe, voc tem que dé um jeito no cabelo, deliberar ZEQUINHA - Eu dou (descabela-se imediatamente). REVOLUCIONARIO - Precisa trocar de roupa. ZEQUINHA (afoito) - Eu troco (tira 0 paleté. Por dentro tem uma camisa esfarrapada que dé o tom de homem do povo. Faz 0 mesmo com as calcas ¢ com os sapatos). REVOLUCIONARIO - Agora fala um pouquinho pra ZEQUINHA (exaltado, violento) - Durante téda a sua nossa patria {l,roubada, espoliada, conspurcada pelos nossos gos na guerra e amigos da paz. Chegou a hora de dizer abastals Ja fizemos 35 revolugées, 87 golpes de estado sem sangue... (fala r&- pida ¢ enérgicamente). JOSE - Conclusio: 0 hbito faz o monke. REVOLUCIONARIO - Agora sim. REVOLUCIONARIO - Agora pode contar qual é 0 seu piano. ZEQUINHA (animado) - © plano € 0 seguinte, © nosso povo passa fome, JOSE (um rompante de admiracdo ¢ aplauso) - Bravo. Apoiado. ZRQUINHA - O pais esta cada vez mais pobre, os pobres esto cada, vez mais pobres. PROSTITUTA ~ Nés estamos cada vez mais pobres.. ZEQUINHA - Todo mundo € pobre, pobre, pobre de mar de sim, E tédas as revolugGes falharam. Falharam por que? Por que? PROSTITUTA - Sei 1a eu. ZEQUINHA - Muito simples: por que sim, Porque foram tdas re Volugbes corruptas. Revolugées sem idéia, Mas a nossa, ah! a nossa revolugéo, essa sim, tem uma idéia, se chama: Honestidade, REVOLUCIONARIO - O que é isso? ZEQUINHA - A economia do pais 6 devorada por amigos ¢ igos, a nagio esté a beira da faléncia, e qual é a solugdo? A Revolugio. da Honestidade, JOSE - Mas, o que € que vai mudar? . ZEQUINHA - Néo vai mudar nada, vai ficar tudo como esta. JOSE - E qual 6 a diferenca. ZBQUINHA - Que diferenca? JOSE - Se a gente vai fazer uma revolugio é pra mudar alguma coisa. ZBQUINHA - Ah, claro, Vai mudar, Vai todo mundo ser honesto, JOSE - E eu nfo vou mais passar fome? ZBQUINHA - Sei la... Mas se passar fome, vocé seré um fam hionesto. nto 2 PROSTITUTA - E eu nio vou precisar mais de. ZEQUINHA - A senhora sera uma prostituta hon JOSE - Quem sabe se a gente arranjasse uma maneira de me dar de. REVOLUCIONARIO - Vocé parece que nao entende as coisas? En- Yo nfo sabe o que significa uma reforma moral? JOSE - Desculpe. Eu estou com fome. Eu faco qualquer revolugio. ‘que vocés quizerem, mas de barriga cheia, ZEQUINHA (para os Revolucionérios) - Nzo reparem, éle ji esti embrutecido, Tem essa idéia fixa: comer, comer, comer. REVOLUCIONARIO - Agora sé falta marcar a data histérica para a nossa revolugio. JOSE (quase para si mesmo) - Todo mundo honesto: 0 operitio, o banqueiro 0 dono do cartério, o juiz, 0 ladrio, ZBEQUINHA - Até a data jé esté marcada. Amanh& ao meio REVOLUCIONARIO - Amanha? ZEQUINHA - Ao meio-dia em ponto, Vamos atacar 0 palicio do govérno. Matar os vendilhées da pétria. Vamos fuz REVOLUCIONARIO - Amanhé eu ndo posso, ZEQUINHA (quebra 0 tom) - Nio pode? REVOLUCIONARIO - Meu pai embarca pra Paris, tenho que le var éle na estacio. ZRQUINHA ~ Que horas é 0 embarque? REVOLUCIONARIO - A tarde. ZEQUINHA « Entéo no pode, que pena. E amanhé & noite? No escuiro & até melhor. As cite. OUTRO REV. - Ih, vetho, oito néo dé, ZEQUINBA - Por que? OUTRO REV. - Marquei um encontro com o meu broto justo pra essa hora, ZEQUINHA - Desmarea OUTRO REV. - De jeito nenhum. Eu estava controlando essa me- nina, € ontem ela aderiu. Nao posso dar mancada logo no primeiro: x Pe ida logo no pr ZBQUINHA - Quem sabe ela pode entrar pra revolugio? OUTRO REV, - Els é de familia, né? ‘enforcar. 8 ZRQUINHA - Bem ,se nfo pode ser amanha a tarde, nem amanha hor & néo fazer logo essa revolucao. REVOLUCIONARIOS - Isso & que nio. Agora que eu ja compre! é as bandeitas, nzo vamos fazer mais revolugio? ZEQUINHA - Que bandeira voc’ comprou? REVOLUCIONARIO - A revolugéo precisa de uma bandeira, ZBQUINHA - Como é que é? £ bonita, & REVOLUCIONARIO - Foi minha mae que bordov. Quer ver? Tem uum franzido lindo. ZRQUINHA - Quero sim, REVOLUCIONARIO (para José) - V: JOSE - Eu vou comer essa bandeira, REVOLUCIONARIO - Vamos marcar logo a data. OUTRO REV. - De mai perto. ZEQUINHA - De madrugada minha mo REVOLUCIONARIO - Térga-feira? ZEQUINHA - Todo mundo pode? REVOLUCIONARIO ~ Posso. ZEQUINHA - Entéo esti combinado. Quando 0 governador sair do paldcio, a gente joga uma bomba no carro déle © todo mundo sai de perto. REVOLUCIONARIO - Vai matar também o choter? (condofdo). ZEQUINHA (alucinado) - Vamos matar todo mundo, Nés somos honestos. Vamos fazer a revolugéo da honestidade. Triturar, truci- dar... (as duas Prostitutas j4 tinham safdo devidamente acompanha- as por seus cavalheiros. Uma delas volta afobada). PROSTITUTA = Th, gente, a conversa esté muito animada, mas va- mos picar a mula que a policia vem ai (gritaria: Ak, meu Deus. Ab, minha Nossa Senhora, Socorro. Pega ladrdo. O resto «Ad Libitum». ‘Saem todos. Entram dois guardas, um déles puxando uma Prostita- ta pelo braco). GUARDA (wos nortista) - Mas mi pode andar fazendo essas coisas? PROSTITUTA - A ada é melhior: eu estou muito mais des- no me deixa sair de filha, voo’ mio sabe que no . seu guarda, larga mio, todo mundo faz. GUARDA - Mas num pode cobra, Seno eu vou ser forgado a prem dela pra vesiuila ao bom eamiaho (ana Yout da Siva, alegre sorridente). x GE JOSE" Sabo que essa bandeira da revlugio & muito mais bosita do Qe o exiandate do meu bloco? (odo entende a ausénca dob compe. theron). Hel Onde @ que est 0 resto do pessoal? GUARDA = Que pessos!® JOSE - Bes fram sudo embora? (0 guarda ext parado observando, inGvel com a prostite pondorada pel. ptcoge. GUARDA- E'voré onde € que penta que vat JOSE = Vou pra cava que jhe tarde (eattogandorthe a bandeira). Se im sujeto chamado.Ziquinha Tapioca poreuntar assis, Gaitand, infantil). «Onde @ que est4 aquela banc r ai ve et genes, bom? José). ‘ da revolusios, 0 senhor FIM DA CENA QUATRO «CENA CINCO — NUM S6 DIA, JOS# DA SILVA # PRESO, ‘TORTURADO E EXPULSO DA CADEIA “Delegacia, mesa com telefone. Policial sentado, tomando notas. Vé- tios papéis amarrotados, no chio, perto déle. POLICIAL (eserevendo) - Pois no, minha senhora. Jé tomei nota ide tudo (conferindo). Roubo, vinte contos, Bento Freitas, 37. A Rix dio-Pateulha ja vai, Té logo, passar bem (desliga, amarrota o papel fe joga no chio perto dos outros. Toca o telefone). D ram o seu marido? Néo me diga. Mas se éle morre senhora vai ao cinema hoje & noite? Enderéco? Vou tomar providén- cias pessoalmente, pode ficar descansada. TE logo, querida (guarda © papel cuidadosamente no bolso. Telefone) Ald, Delegacia (tomando notas). Chegue sem fundos. Nome e enderéco. Passar bem (amarro- tao papel, joga no cho, vai desligar quando ouve qualquer coisa. ‘Muda completamente de atitude). Senhor Deputado? Pois nio, Ex- celéncia. Vou movimentar até 0 FBI e a Gestapo, Exceléncia (de gatinhas procura © papel no chio. Sirenas Id fora). A pol na rua, Chegaram af? Prenderam 0 homem? Obrigado, Exceléncia, de fato nés somos muito eficientes. Feliz Natal (entra o Delegado acompanhando © milionério). DELEGADO - Esta é a sala dos interrogatér do mundo, Isto é 0 Detector de Mentiras. Uma MILIONARIO - Extraordindtio. DELEGADO - Dizem que a nossa terra é 0 pais do futuro. Mas no ue se refere aos métodos policiais, garanto que j somos 0 pais do presente. Imagine que jé temos até métodos indolores. Por exemplo, este Detector. MILIONARIO — Isso no d6i? DELEGADO - Absolutamente. 6 — MILIONARIO - £ 0 facinora confessa assim mesmo? DELEGADO = Claro que contesa: é a verdade eletonica. Vou fax er uma pequena demonstrasao (rules fora). Oe € avo? (etea Jostie 0 Guarda). JOSE” Oba, efi poéso, Vou pra eadela, Ate que enfim GUARDA ~ Seu Delegado, Isso saul é um feveluconare DELEGADO = Gtimo Pde éle sentado. agut (pura © Milionétio). ‘Azo oseior vi ver aun mare, que pei ae teen ma JOSE - Oba, dba, wou fess em cana (Coloca © Detector na eabesa de Joes. pads pode con din reas, uma verde ¢ Ota vr DELEGADO - Faso a pergunta ¢ 0 condensdo responde sim ou no. Se iér vewdade acende a lus verde, Montrt © vermelna MILIONARIO- Ab, o que € 2 Ciencia. DELEGADO - 0 Detector veio substiuir © Pau-de-Arara, que era um miétodo anti-psicolégico, e € hoje uma raridade de muscu JOSE « Isso esta com jet de cadeira cletica DELEGADO - Bs fago una pergunta e vocd feaponde sim ow nko (© Guarda acerta os fos na eabega de Jost, que alles, se sents muito pouco 2 vontade). Vore alguna ver roubou'6 Banca de beset? JOSE (pensativo) = Nao... Cus verde, placa piss), DELEGADO (vitoriogo, como auc Tazene uma expanagio) ~ Ago- 1 temos a eertera eletonicn de que dle nko roubou o hanes 40 Bes MILIONARTO - Mar éa Oitava Maravita do: Mundo, Ants DELEGADO™ Voce mato 0 Ghani? JOSE (muito sincero) = Nunea vi mats gordo... (hi verde). MILIONARIO = O senkor val me desculpey, mas da mronima veo ue 4 minha mulher disser gue estéve na costureta, vou cui pra rar iso 2 impo DELEGADO ~ £ uma bela iia, Fot vost que Griston JOSE = Nao due vermetha. MILIONARIO = Extraordiivi, DELEGADO - Fantisticn, GUARDA ~ Acendeu 4 vermeba 7 MILIONARIO - Entio foi éle (José esconde a limpada). DELEGADO ~ Vem cé, seu safado, Foi voce que crucificou Jesus Cristo. JOSE - Eu nem cot le, juro. GUARDA - Fala a verdade. A cletrénica JOSE - Nao fui ev. DELEGADO - Tira a prova dos nove (Guarda leva José para o- interior da sala, sob protestos do mesmo. Muito envergonhado). Pa- rece que desta vez a eletrénica falhou. Nao ereio que tenha sido éle © desalmado que matou Jesus (vio saindo). Hoje em dia jé nao se cometem mais essas atrocidades (José da Silva, 1d dentro, dé um urro de dor). MILIONARIO (ponderado) - Certamente foi um ep histéria do Homem, Bles née deviam ter feito isso... (saem. Entra © Guarda seguido de José). GUARDA - Eu sabia que no tinha sidlo vod JOSE - Mas eu néo sabia que ainda existia pau: logo qual é 0 nimero da minha cela. GUARDA - Por.que essa vontade de ser preso? JOSE - Porque estou com 666me, nZo me agiiento mais de pé, © 0 linico lugar onde ainda tenho esperancas de comer de graga é na ca- dei, GUARDA - Dé wma cela pra éle af (Policial procura a chave). JOSE - Ji falei com a minha mulher € com os mevs filhos. Bles vio. mater, roubar, assaltar, fazer o diabo pra vir a familia inteirs se ren~ mente, bio negro na ‘arara. Agora diz POLICIAL - Cela 16. GUARDA - Nio pode. POLICIAL « Ja est cheia? GUARDA - Tem uinas quarenta © nove pessoas POLICIAL - Dezessete? GUARDA - Superlotada. JOSE - Nao tem importincia: eu fico préso agui no corredor mesmo. Prometo que née fujo. COZINHEIRO (entrando) - Seu Delegado. Assim o orgamento acaba estowrando, Té tdda a populagéo vindo comer na cadeia. Se 48 — vocés prenderem mais alguém a Pi POLICIAL (pata José) - Vocé esti em liberdade por falta de provas, JOSE (desesperado) - Mas eu son perigoso, GUARDA - Vocé & um homem livre. JOSE - Eu sou um temivel facinora. Grerr... (faz carta), POLICIAL - Pode dar o fora que na cadsia no tem tugar. Vecé ‘esta livre, vues JOSE - Me prende pelo menos até amanhd, Eu matei o Ghandi. A ‘lotrSnica estava certa: eu erucifiquel Jesus Cristo. POLICIAL - Que diabo de homein que nio quer a Hberdade GUARDA - Vocé é um homem livre (ogam-no para fora pelo fune lho das calgas). JOSE (canta a «Cangio da Liberdades), ZB DA SILVA - Passo a vida trabethando Ponda dura no batente ‘omer de vez em quando ‘eo Evid mia genie? Nao basta sor tore noon” coro - 26 0 ZB DA SILVA - Pro petyao pedi aumento ‘58 tevet wm pontape Sem dinketrove sem vinta Egora sou ost? Nao basta‘ser tare door coro + Zé do Silva & um homem livre © swe, 0 gue, 0 gues 26 da Siten & fom hopiem lore © que ele vai fuser? a SILVA = No sadrés ndo me guiseram 78 DA Stl Passe fome la bra i, into “Gem a bari dandy hora cm coma 8 tberdade, Ementiray ndo ¢ verdade, 0 = Zé da Sitoe ¢ wm homem lore cons O que, o que, 0 que.. Bi Sie Sol hase tore Ge tle vo fazer? 28 DA SILVA - 0 quét coro « & livre, & ior, & ore, & ore, & ive 28 DA SILVA - 76, que ou sou loret FIM DA CENA CINCO E DO PRIMEIRO ATO SEGUNDO ATO CENA SEIS — ENQUANTO JOSE DA SILVA SE DESESPERA, OS POLITICOS TRATAM DOS SAGRADOS INTERESSES DA NACAO Sede do Partido da Maioria, Estio em cena os chefes dos diferentes artidos, designados como «magro» e «Baixinho». Além aéles, 0 Jor, nalista ¢ 0 Lider que toma posicéo na tribuna: circunspecto, sério, ponderado, enérgico, Discrepancia entre a sua mancita de falar ¢ o onte(ido. Também presente o anjo da guarda sentado no seu trono, LIDER (depois de agradecer uma ligeira salva de palmas, curvando. se) - Conterraneos, © homem ¢ um homem, e 0 gato é um bicho. Isto significa que hoje vamos fazer politica (fazendo uma revelacio), somos p © que é a politica? Politica néo si fica trabatho, porque quem trabalha é 0 trabalhador, e 0 trabalhador s¢ divide em operdrio € camponés, sendo considerados votantes ape. nas os maiores de 18 anos. Politica néo é futebol, porque futebol jum esporte, e nés aqui estamos por profissio. Portanto, o trabalha- lor trabatha, 0 jogador faz goal, o padre reza, 0 condutor a mulher tem fiho, 0 filho cresee ¢ se transforma num belo eleitor: cos... politicam. Porém, para o bom desempenho das suas fungées, € necessirio conhecer os principios fund: tticagem, que sio em nimero de trés, a saber: eleigdes de qualquer maneira; segundo: nfo decepcionar os amigos; terceiro: itudir 0 povo (discursa com base interior, serissimo). Para er as eleigdes € preciso unio, porque a unio faz a forca. Para 10 decepcionar os amigos, existem as autarquias. Para iludir © povo, & preciso muita boss: JORNALISTA - Muito bem, muito bem (os demais no se mani- festam, Jomnalista perde o clan). Ele falou muito bem, no falou? LADER - Sem mais delongas passo a palavea a mim mesmo para pto- ‘por uma proposta, O meu Anjo da Guarda, al presente (0 ajo agraece com a cabees) me aconslhow a nfo fazer eligi aoe rere ge wosta sto une, como divi? Ceipus. E sem ‘ifon compan, Pesos 0 noo candidatol MAGRO ” Nao apeado BAIXINHO - Apsio 0 nfo apoiado TANGKO outs Exeelnea € arta for do batho, NASER. rondo bara? © povo me ama 0 povo se diverts con EIDER “guctenon« muah é a fondo da police se mio a de ainda W aigetso do pov? MCAGRO Ajudar 0 povo 8 comer LIDER - Sow digestivo MAGRO ~ Descsipe Votsa Excelénca . aa tmcaitnea €0 que se cama em tinguagem bi ad ideo ado, olka 0 Anjo al ; sare nse Bueclenc, mew aobre cola, em 26da 4s vide MACRO «Vom noe neetve de roubor © peculatos..> (ala em usar de circunléquios, pm). Fey midado pela violnca) - Ota 0 Anio. net TIDE nn et cansado de Batsnagem, rapinagem © rae cenferatinho) - © me sobre clege vai ter aie LID (enteeaito ome Mido pensamento, numa 26 p Vee Bacctenc € am lade ; ossa Excelent © Gonfunto, O Anjo da Guarda permanee tanati- Tovtestando doe nhs) " SEINE com dinidade paclamentat) ~ Nob BADOINHO Coens tara a miepitria (prostegue o «Ad Libis Se a aa) No invocst 0 nome dos vosos ances oes & a ne aludir desairosamente & vene- fe, nabre, nom: em vo. Prometei da genitora déste dignatirio. LIDER - TA bom, son ladrko, MAGRO - V LIDER - Prometo s6 comecar roubando depois de eleito, MAGRO - Jé é um progresso. BAIXINHO - Vamos votar no nosso candidato a candidate, LIDER - Ja. TODOS - Eu, LIDER - Ev, quem? Eu? \ TODOS - Nao, eu. LIDER - Eu, quem? Vocés JORNALISTA - Eu voto em mim, LIDER - Chega de palhacada. Basta de individualismo, O meu Anjo da Guarda nfo esté gostando nada (para 0 Anjo). Vocé esta gos tando? ANJO - No. LIDER - Viu? Ble disse «nos, MAGRO - Nés temos que eleger alguém desconhecido, 0 povo i conhece Vossa Exceléncia ¢ 0 povo sé vota ras novas, precisamos «New faces», ido. Precisamos ca- LIDER - Se conhece, sabe que nunca roubei um conterraneo meu (explodem os risos). Quer dizer: um conterrineo pobre, A nacio ndo conta porque a nagio é rica, BAIXINHO - Vamos fazer uma nova votagéo, mas no vale votar em LIDER - Um, dois, trés, j& MAGRO - Em branco, BAIXINHO ¢ JORNALISTA - Ble (apontam 0 Magro). MAGRO - Obrigado, compatriotas, Eu sabia que seria 0 eleito dos vvossos coragSes, principalmente depois que fui obrigado a fazer ta tas promessas, ¢ assinar sabe Deus 0 que as: BAIXINHO ¢ JORNALISTA - Parabens, fel boas festas, MAGRO - Vou fazer minha proclamacio de candidato (toma posi 80 de discurso). Povo, meu amigo, povo, pov, pov... (engasga. Batem-the nas costas). ANJO ~ (indignado) - No, no, no, no, no, no, LEDER (gozando) - Té vendo? Ble disse eno». E agora? No vamos perder tempo, a gente precisa chegar a um acdrdo. fades, feliz Natal, —3— MAGRO - J& chegamos: 0 nosso candidato a candidato sou ev. LIDER - E eu ia fazer uma coligagdo pra eleger voc’, minha bésta? E te dava 0 meu. Anjo da Guarda de graga? JA entrei em conchavos, ia comprei mais de um milho de votos, j... (geste). T6. ANJO (na deixa) - Good, good. LIDER - £ a Giltima chance. Eu sou 0 nosso candidato ¢ voces en- tram na mamata comigo, ou vio fazer coligagio Ii com as suas négas. Agora confabulem! (retira-se para perto do Anjo). MAGRO - A gente precisa de um candidato desconhecido: eu. JORNALISTA - O povo esti farto de saber quem éle 6. MAGRO - Ladrao de galinhas. JORNALISTA - Até o meu jornal mete o pau néle. E olha que nés Somos unha e carne. MAGRO - Sim, porque € preciso dizer um minimo de verdade. JORNALISTA - N&o tem mais crédito na praca. MAGRO - Nem moral BAIXINHO (quebra) - Mas tem dinheiro. MAGRO - E se a gente fizesse uma campanha pra eleger eu? JORNALISTA - Eu tenho um jornal, sei fazer discurso. MAGRO - Jé planejei uma «Campanha da Recuperacio Moral ¢ Fi BAIXINHO (quebra) - Mas néo temos dinheiro, Nem Anjo da Guarda, E quem nfo tem Anjo da Guarda nfo se meta em eleigio (0 Lider, no seu canto estica o onvido e reage de acérdo com 0 que ales dizem). MAGRO ~ Entio vamos fazer 0 qué? BAIXINHO - Votar néle. MAGRO - Mas eu sou 0 nosso candidato, BAIXINHO - Sem propaganda, ninguém fica sabendo se voct é bom ou mau, E propaganda, s6 com 0 Anjo. LIDER - Na sua terra também é assim, é? ANJO (orrindo) - Well. BAIXINHO - Decidimos fazer nova votasio. JORNALISTA - De fora nfo fico: ps LIDER - Sapeca 16. ica € profissio que rende ee OS TRRS - O nosso candidato ¢ Vosea Exceléncia (declamam mo- ndtonamente). O nico candidato honesto, integro, honrado, amigo do povo, ete, ete, JORNALISTA - Agora vamos a0 «ponte nimero doiss! LIDER - Que ponto doi JORNALISTA - «Nao decepcionar os amigos», Assina aqui edta pa- eleta, LIDER - Isso € 0 que? JORNALISTA - Nomeasées, LIDER - Espera eu ser eleito MAGRO - Quero ser Secretirio de Finangas (eitmo em crescendo). JORNALISTA - Eu quero o SESC, o IAPI, o SENAI, o IAPETEC, BAIXINHO - Chega. Me dé a Secretaria da Fazenda, MAGRO - Espera ld: Secretaria da Fazenda fui ew que pedi pri- BAIXINHO - Entio vai a Caixa Econémica JORNALISTA - Deixa de ser bébo: pede 0 Banco do Estado. BAIXINHO - Correios ¢ Telégrafos ser que dé dinheiro? (a cena vai rapidamente atingindo o frenesi). JORNALISTA - Pode tirar no sélo. MAGRO « Secretaria de Viacdo ¢ Obras Pablicas j& tem dono? BAIXINHO - Eu quero ser Embaixador no Paraguai. JORNALISTA - Quer trocar a COFAP ¢ 0 IPESP pela Caixa Eco- BAIXINHO - Se der 0 SESC de quebra, vou pensar... (0 Lider vai assinando tudo). JORNALISTA - Eu troco 0 SESC ¢ o IAPI pela sua Secretaria. MAGRO - Se voc8 me dé. o IAPETEC também eu dou o IAPB de quebra, mas éle vai ter que trocar tudo pela Caixa Econdmica. BAIXINHO (no telefone) - Al6. Folhas InformagSes? Quanto € que ganha 0 Presidente do Banco do Estado? (o¢ outros dois continuam Jogando figurinhas). F quanto é mais ou menos que eu posso roubar por més? Obrigado (desliga). Otha, se voc? quizer, eu te dou o Banco do Estado mais a Caixa Econémica, pela Secretaria da Fazenda, © vocé me volta a COAP. oe MAGRO - &, bébé, mamar na gata tu num qué JORNALISTA - Ai, ex fui roubado. BAIXINHO - Quem roubou vocé? JORNALISTA Onde é que esta o meu SESC, SENAI, TAPI? MAGRO - Nao sabe jogar, depois reclama. JORNALISTA - Estou com a impressio de que alguém aqui € de- LIDER (anunciando) - Ponto niimero trés: . ‘Vamos tratar apenas da nossa campanha eleitoral, JORNALISTA - Nossa, virgula, que eu vou fazer a p LIDER - Vai onde? JORNALISTA - Guinar pro outro lado. E 14 vou exigir a Caixa, 0 Banco ¢ a Secretaria. Bye, bye, Anjo (sai). LIDER - O plano, aliés importado do estrangeiro, & 0 seg 0 Magro). Vocé vai ter que nos fazer um favor mais MAGRO - Ab, nfo, isso é que LIDER - Voeé ¢ 0 maior inimigo pi MAGRO - E da LIDER - E vai dai que vamos quebrar a sua cara ¢ por a culpa no adversério. MAGRO - Jé é a terceira vez, ninguém mais acredita LIDER - Vai ld pra dentro. MAGRO ~ Seria muito mais publicidade quebrar a sua caral LIDER - Preciso fazer discurso. Fica bonzinho (entra um Secreté- rio ¢ arrasta 0 Magro lé pra dentro). Pode levar (0 Magro berra 0 seu protesto). Agora vamos fazer a propaganda do adversario, BAIXINHO - Propaganda pra éle? LIDER - Esté aqui o texto, «Nao vote no Lider». Eu, JOSE - Doutor, o senhor ver aqui pra cagoar da gente? tas, repouso, MEDICO - Ou entéo o remédio ¢ operar.. JOSE - Melhoral nfo resolve? MEDICO - Quanto é que voc ganha? JOSE - Salétio minimo. MEDICO - Com ou sem aumento, MEDICO - Cinco contos e novecentos, MEDICO - Entéo precisa operar urgente. MULHER - Quanto &? MEDICO - Cinco contos ¢ novecentos MULHER - Deixa a pedrinha af mesmo, porque éle no vai operar, MEDICO - Vai no Instituto, Vocé paga em dia? JOSE - O dinheiro j& vem descontado, MEDICO - La tudo € de graga. Operag&o, enfermeira, hospital. O Instituto € uma maravilha. Ba Gniea coisa que funciona certo nessa terra, JOSE « Essa ve MEDICO - Pode ir sossegado. O senhor vai ser tratado meravilho- samente bem. Cena muda para a enfermaria. Esti trée médico deitados, no chio mesmo. José entra com a enfermeira). JOSE (esperancoso) - Essa idéia de Instituto € muito boa, sabe. Os médicos so uns exploradores. Cobram muito mais caro do auc o Pai Joaquim. E aqui tudo € de graga, né? Posso até repetir a sobre. iste que € Gloera, #4 aqui a re- ‘ula nem pai de santo curoy, ¢ olha que eu tenho ENFERMEIRA - Sintomas? eo JOSE - Dor de barriga. Déi.. ENFERMEIRA - A sala dos médicos é essa. Pode entrar. JOSE - Qual déles? (a Enfermeira ja saiu). Serd que eu devo inco- nodar? Uuuiii, minka barriga... (aproxima-se do primeiro. Hesita fantes de chamar). Doutor, doutor... Desculpe estar incomodando a essa hora da noite, mas € que o meu estOmago esté doendo muito, ‘Ai, meu Deus, uma pedrinha tfo pequenininha © como déi MEDICO (acordando sobressaltado) - Que foi? Onde € que eu es- tou? Quanto é que est 0 jogo? JOSE - O senhor esté de plantio no Instituto. MEDICO - Me acordar pra qué? Acabou 0 jéga? Que é que voce quer? JOSE - # a minha vesicula, Se o senhor puder dar uma olhadinha, feu fico muito agradecido, MEDICO - Nao ¢ comigo. Eu sou um m JOSE - Mas é que. MEDICO (irritado) ~ Obstetra. Obstetra. O senhior vai ter um filho? JOSE - Eu nic. MEDICO (dormindo) - Entio néo é comigo (ronca). JOSE (afastando-se) - Desculpe qualquer coisa (0 segundo médico acorda). MEDICO - Que barulhada 6 essa? A gente néo pode nem dormir sossegado. JOSE (assustado) - Vesicula. \EDICO (de.mau humor) - Que é que tem 2 vesicula JOSE (gesto) - Uma pedrinha.. MEDICO.- Feu com isso? JOSE - O senhor ndo quer me exar MEDICO - A minha especialidade ¢ a otorrinola mos lé fazer 0 exame... JOSE (enche o peito, alegre, ¢ fala sem pausa) - Trinta e trés, trinta fe trés, trinta e trés MEDICO (sentado, sem nem olhar para éle) - De fato é vesicul. Vai operar? = Se 0 senhor achar conveniente, e como aqui tudo é de graca fico obstetra (deta). igologia, mas va~ MEDICO - Isso € perigoso. Vocé jf esté nas ltimas, vai morrer JOSE (alarmado) - Depressa, doutor, pelo amor, de Deus... (tie 2 camisa). MEDICO - Pra que é que vocd est tirando a roupa? JOSE - Pra operar, rapido, en no posso morrer j8, MEDICO (bocejando) - Eu no sou operador (deitando-se). Fala (ronca. José, transtornado, procura o terceiro mé- JOSE - Por favor, me acuda. Esto com uma pedra que vai me ma- TERCEIRO MEDICO (quase acordando, fala abracando-te a José ¢ continuando a sonhar) - Mew amor... quem diria que a tua doenga JOSE (mui digno) - Espera 4, doutor.... Eu io sou essa que 0 se= hor esté pensando, MEDICO (no mesmo estado) - Quando € que vai ser o seu préximo filme? JOSE - Eu? Fazer um filme? MEDICO (acordando) - Eu estava sonhando com a Kim Novak. Vocé nio acha ela meio fria? JOSE - ® um pouco, sim. MEDICO - Nao € pra me gabar, mas o meu broto pe a Kim no chinelo. JOSE (tentando um tom infantil ¢ brincalhdo) - E que tal fazer uma operacdozinha heim? Uma vesiculazinha que eu tenho aqui. E en- Quanto 0 senhor opera a gente pode ir conversando... MEDICO - Otha, nfo ¢ mé vontade, se voeé quizer posso operar. Pra tanto faz. JOSE - Quero, sim, doutor. MBDICO - Sé-tem um problema: hé muito tempo que nenhum pa- ciente meu tem pedra na vesicula. JOSE - Aproveita agora, aproveita MBDICO ~ Estou meio destreinado. Nao opero vai pra uns quinze anos... (levanta-se). Enfim, seja o que Deus quizer.... (faz 0 da cruz. José que J4 estava deitado, levanta-se inguieto), MEDICO - Deus ajudando... E Dreciso ter £8. MEDICO - Eu tenho um amigo que é especialista, 8 . zee © en va { aindo). No querem usar o Instituto, que ¢ de gracga, ¢ depois FIM DA CENA NOVE CENA DEZ — OS CANDIDATOS APRESENTAM AO POVO 0S SEUS PROGRAMAS POLITICO-ECONOMICOS Em cena o Jomalista segurando um microfone ou transmissor por- *4til usado em campos de futebol. Seu estilo de sper esportivo, Na entrada dos candidatos 6 possivel ut ense, 0 mesmo acontecendo com algumas marcagdes, JORNALISTA - E agora, senhores telespectadores, vamos apresen« far a maior atragao politica déste ano de eleigées. Com vocés, dentro em pouco, nada mais nada menos do que os dois candidatos & pre. sidéncia da Repiblica, Ambos estario aqui assessorados pelos seve respectivos segundos. Ai vem... 0 candidato do Partido Ou Vai om Racha: (entra 0 Lider, vai até ao meio do ringue, cumprimenta platéia com os bracos levantados). Pode ir sentando no seu corner (onde hé um banquinho usado pelos pugilistas). E agora, em carne £ ,2880, © candidato do Partido Comando Sanitério (frenético), tam. bém eonhecido como Honestidade Futebol Clube. Entram em campo os segundos dos dois contendores (entram 0 Magro, completamente enfaixado, 0 i © Anjo da Guarda), Neste @ honra de apresentar aos senhores telespeciadores, g iui da partida, o Sr. Anjo da Guarda, Como todos sabem, Senhoria é © Embaixador de um pais tio nosso amigo, may 120. ‘édas as nossas campanhas leitorais. Isso habito: é uma verdadeira tradigao da nossa vida politica. E agora, espectador, tomarei a rigir algumas perguntas indiscretas aos dois candidate Girige-se face a face a José, que assiste 0 program, sagrados didato. Q povo escolas, hospital JORNALISTA - £ um bel Exceléncia, 0 que fara? ZBQUINHA - Sot ita. Estou com 0 povo. Se fér eleito, da- rei a0 povo escolas, hospitais, transporte © comida. SanReGtaeeey bravnsime, B ja que n6s exams com 8 seen gue t ques seer pens dose avers DEQUIIEA Cons wise Soerate soops sia Ivete em CS caer Sigan polees na vide do mew ver TORMACISIN Uns pasbsdtes va vida do seu advert so RUnELA = Deeviow the da nasio pra 0 Dolo dos ses nie a JORMALISTA « Itemente ou ino 500 se6 amigo seR Unita» Portnto pecsamoe seber com dle FORNALISEA -Aeahor com fleet caterva. Admire, Adi Pa ST acants nde tem goose ma ting Getsimo pss 2a eintgsen vgeroune & epee SIDER Ba ambem aueo fst “ces ss ach TaDER C1StA Chau Bapea a ves, qv le ainda no asabou Seqguintta Lenbra aque bans? FORNALiGrA [Como alo fot sn esindalo gue sbulou a opinizo bible rome WeEGitta ~ Roi de oronésto JORNALISTA. - Serk verdad? JORUINHTA © Sa stem rma an Fearn «Hoe fi eu ave osblqel masse verdad? ZQouanita = Deve set eek , FORNALISTA » Denes de densi Ete eine 80 LRN de Vaasa Beclnca va ae esa? srr tatnin, Pitn, evs lhc, asin mesmo: Hoje eu CIDER «Toei Cogs buice, amb le start por bala = Se see etn ple sempre descobre ua cos Ale tinha depositado dinheire do ido pai —n- JORNALISTA - O senhor nos tira um péso da consciéncia(para o Lider). Ble no sabia que o banco ia quebrar, LIDER - Légico que sabia: pois se fui eu quem deu a idéia, JORNALISTA - Senhor candidato, mas isso ndo se faz, LIDER - O ordenado ¢ pouco: a gente tem que fazer uma negocia: tazinhas a titulo de verba de representacdes, JORNALISTAS - Bem raciocinado! LIDER - Mas 0 que vocé nio sabe, € que esta estagio de televiszo ‘que esté me sabotando, foi comprada com di piiblico porque © dono, vocé, com vérios titulos protestados, t4 do lado déles, ZEQUINHA - Calinia! JORNALISTA - Claro que nfo passa ZRQUINHA - Mentira ndo & mas éle nheiro pra uma fabrica de pipocas. JORNALISTA - Que mal hé nisso? ZEQUINHA - Hi que o dono da fabrica era éle! (confidencial). E sabe quem é que esta pagando a campanha eleitoral déle? MILIONARIO - ZEQUINHA, cala a béca. Nao toca nesse as- sunto, uma vasta mentira! andow emprestando di- ZRQUINHA - Sio os gringos que andam emporcalhando a cidade, enchendo de cartazes, faixas, volantes.. MILIONARIO - Zéquinha, néo mete a m&o em combuea ZRQUINHA (aparte) - Que é que tem? Deixa meter 0 pau! MILIONARIO - E a nossa, quem & que paga? ZRQUINHA - Vocé, no &? MILIONARIO - Nés somos um pais sub-desenvolvido, O capital native néo dé pra essas orgias de propaganda, JORNALISTA - F por isso que todo candidato viaja para o estran- geiro (os dois tratam Zéquinha com infinita bondade, como uma pro- fessora priméria explicando a uma crianca que dois e dois nao sio absolutamente sete). ZRQUINHA - Mas se pagam, levam o que em troca? JORNALISTA - Bem, isso esté fora do tema da nossa reportagem. ZEQUINHA - Quer dizer que o neséci ¢ de honestidade, comando sanitério... nessa altura... laralilaral -B- JORNALISTA - Funciona. Funciona nas faixas que a gente poe na MILIONARIO - Voct estava dizendo que éle deus dinheiro a uma fabrica de pipocas. Continua, ZEQUINHA - Perdi a bossa. LIDER - Difamagdes. Emprestei dinheiro porque 0 proprietario era tum homem digno, honrado, como hé poucos nesta pétria infeliz espoliada: Eu. MAGRO (embucado) - J4 g: Ja ganhou. LIDER - Mas como a tara é botar tudo em pratos limpos, entfo va- mos jf fazer uma Comissio de Inquérito pra descobrir a origem da fortuna désse milionério (para o Magro). Vai passando a lista (para (0s demais). Vou provar que éle é apenas um testa de ferro dos gran- des consdrcios internacionais. MAGRO (tom de vendedor de amendsim) - Comissio de Inq Comiseio de Inquérito. Vai assinar ai JORNALISTA (afobado) - Néo é possivel. Essa reunido em fami lia esth se tornando muito grave! © patrocinador do programa néo vai gostar. MAGRO (para o Anjo da Guarda) - Jé tem némero, Vai querer en- trar num acérdo? ANJO (contrariado) - Well... (entrega-Ihe um papel). JORNALISTA - Por favor, retire 0 seu projeto. LIDER - Vai ter que me cantar muito, MAGRO (para 0 Anjo) - Sessenta mil por més? Nao dé pra aumen- tar um pouco, no? ANJO - No, MAGRO (para o Lider ©. 7.) - Escuta aqui, eu estive pensando methor LIDER - E pra MAGRO - Esqu LIDER - Volta 1é (para os Jornalistas). Aqui esti a bomba que eu queria revelar & nago estarrecida. Vern c4, meu filho (o Magro se aproxima depois de terminadas as novas negociagées com 0 Anjo). ‘Vede 0 que éle fez, Bspatifou a cara do meu companheiro de chapa (deseobre a cara do Magro, téda avermelhada, aparte). Pré mim jim, quanto? 4 quanto é.que le deu? (todos fazem «Oh». © Magro faz cara de que esti A morte. Todos se penalizam). MAGRO - Quarenta por més. Vocé vai ser advogado da firma. Anjo da Guarda S.A. LIDER - Pensa que eu no vi? Pra vacé, que nfo é candidato, ses senta, © pra mim quarenta. No accito. Vou fazer a comisséo de in- guérite MAGRO - Espera ai, vou dar um jeitinho (corre para o Anjo mas para no meio do caminho ¢ fala). Véde o que fizeram & minha cétis, Estragalharam-na (recomega a corrida. Coloquial, para o Anjo). Ele do topay quer mi ANJO ~ Those natives:.. (pe a mio no bolso). MAGRO - Thank you, ZEQUINHA (lendo) - «Se s6 existissem dois bancos, em qual voeé depositaria o seu dinheiro, el JORNALISTA - No sex, ZEQUINHA - Porque sou 0 chefe do Comando Sanitério, da Cam- panha das Orelhas Limpas, porque quem tem os ouvidos entupidos ho ouve as reclamagSes do povo. Sou o Sabonete da Alma (baixo ara 0 Miliondrio). Vamos também ameagar uma comissozinha qual- quer? Ble arruma emprégo pra nés. LIDER - Trabalhador: se s6 existissem duas fAbricas, em qual voeé trabatharia? Na minha ou na déle? MAGRO - Na sua, Exceléncia. LIDER - Porque sou 0 amigo dos fracos e oprimidos, e a indastria nacional é fraca e oprimida. Se ex f6r eleito 0 petréleo seré nosso, ou, como diz o vulgo no seu linguajar poético: cara que mame beijou, vagabundo nenhum poe a mio. MAGRO - Nao fala assim que éle se chateia ¢ te tira o emprégo. LIDER - Depois a gente se explica, ZEQUINHA - Té vendo? Ble é um ladrio! LIDER - E voeé um batedor de carteiras ZEQUINHA - Desmoralizador do patriménio piblico. LIDER - Entreguista confesso, ZEQUINHA ~ Acsaltante fantasiado de nacionalista, LIDER - Agente de Wall Street. BH ZEQUINHA - Cavalo de aluguel dos trusts internacionais LIDER - Pega ladrio. _ ZEQUINHA - Cachorro (0s dois ficam de gatinhas no chio). TIDER e ZRQUINHA - Auauauauauauau, LIDER - Ble me mordew, | ZEQUINHA ~ Pega, Pega (sobe a misica que entrou no jnicio na cena enquanto os dois tentam miituamente morder-se. Ladram, wi- vam, miam, escoicelam-se). JORNALISTA (vor de conselheiro sentimental) - E agora, amigo telespectador, voce j& sabe qual escolher (fala para José). Nao he- site na resposta. Qual o mais sem vergonha? Qual é 0 menos sem vergonha? E no esquega que da sua resposta dependerd o futuro da nage, Quem vencerd? FIM DA CENA DEZ —%— CENA ONZE — ABANDONADO PELA NACAO, JOSE DA SILVA VAI MORRER NA FLORESTA ‘Nenhum cenitio, Apenas uma pedra ou duas, Rufdo de grilos sig- nificando floresta. Entram José da Silva e sua Mulher, JOSE - Aqui eu acho que esta bom, MULHER (chorosa) - Pelo menos & bem longe. A limpeza piblica nfo vai sentir © cheiro. JOSE (triste) - Vocé tem mesmo certeza? MULHER - De qué? JOSE - Que eu devo morrer? MULHER ~ Morrer no deve, mas que vai, vai JOSE - A minha pedrinha j4 virou paralelepipedo na vesicula, Quase do posso andar, MULHER - Seré que nfo tem um lugar methor? JOSE - Puxal Eu nfo tenho nem onde cair morto! MULHER - Pée a cabega em cima dessa pedra, que serve de tra- JOSE (hesitante) - Néo seria melhor morrer 1d em casa mesmo? MULHER - Bem que eu queria... (chora). JOSE - Nao chora, meu bem. MULHER - Queria que vocé morresse na nossa: cama jonde nasce- ram 0s nossos filhos. Por falar nisso, na semana passada nasceu mais tum, vocé ainda néo viu, JOSE - Com essa histéria de procurar emprégo, nem tenho tempo. MULHER - & uma gracinha. Todo enrugadinho (fala sorrindo em tom de chéro). JOSE - Entko vamos voltar pra casa: en morro MULHER - Voc sabe que nfo pode. JOSE - Por que? MULHER ~ Por sua culpa Quem mandou pedir aun fa gente nao tem mais pra comprar a madeira JOSE - Entdo vai aqui mesmo, porque de hoje eu ago paso, sito? Agora jo caixao, MULHER - Um posco pra 14 ,0 cho é mais macio, JOSE (deitando-se) - Escuta: antes de voltar pra casa, no esquece de procutar emprégo pro nosso filho, MULHER - Qual? Bsse ltimo? JOSE - Sei que nds jA estamos atrasados, mas antes tarde do que MULHER - Segura a vela (€é-the uma velinha de aniversério). JOSE - Nao tinha uma maior? MULHER - Nao tinha é dinheiro pra compr, mesmo (ela acende a vela). Desculpe ter qu: de dar de mamar. JOSE - Esté desculpada (deita de todo com a vela acésa. A luz vai anoitecendo), Olha (a mulher que ia saindo, para). Ed Filhinko pra nunca pedir aumento de salario. E nao esquecer de bei- jar os pés do patrio. MULHER - Adeus (vai JOSE - Dizer ). Morreu de berriga Morreu de berriga Morren de barriga vasia (bis) Nés somos gente infeliz Que morrew de barriga vosia Enchendo a barriga dos outros Enchendo a barriga dos outros Passamos. pela vida endo vivemos Porque viver & luter Para wn dia poder Bow vellio morrer Feliz e contente Depois do jantar 64 Cuidado 5 gente Que ainda asté viva Cuidem da vida & preciso Iutar Para nao ter 0 castigo De morrer como nbs De barrige vasia De barriga vasia De barriga vasia FIM DA CENA DOZE 85 CENA TREZE -- JOSH DA SILVA & SALVO MILAGROSAMENTE Floresta, José continua deitado no mesmo local. Resta um toco de vola. As infos postas sébre o peito, em atitude de quem jé mio esté entre nés ve demora tanto? (sor Est com médo de mi 4 ir pro infei de mim, heim? Nosso Senhé8éérr? (sério). Pode ficar sossegado que Wo vou dar bronea ndo. Sé queria que vocé me explicasse umas ue eu no entendo, mesmo. Vai ver, vocé também néio en inguém entende, mas todo mundo vai levando, vai levando sem pensar, ¢ vai tode munde morrendo, morrendo que nem eu, vai todo mundo roubando, ¢ se de repente alguém pergunta por posta que vem é ¢eu nfo entendos, Nao dou bronca nao, morrer (O. T.). Ah, v4, deixa eu morrer (chateado). Vocé, heim, vo! te contr... Tudo que eu pedi, vocé nunca atendeu. Me faz ésse fa vor agora: deixa eu morrer (torcendo-se). Té doendo... (ouve-se a vor do Lider, 20 longe, chamando . ZEQUINHA - Agora compreendo a minha antiga condiglo, Mas se @ verdacle que tudo depende do operirio, o que que vamos fazer, i& que ésse morreu? LIDER - Parece que entramos bem. ZEQUINHA - Precisamos descobrir outro operdrio que & pra gente continuar roubande, LIDER - Claro que precisamos. ZEQUINHA (ebservando 0 coveiro que euida de José) - Coveiro € operdrio? LIDER - B. Coveiro € operério. ZBQUINHA - Entio achamos (precipitam-se todos atrés do co- veiro, que foge assustado, Ficam apenas o narrador do coméco da. peca © uma atriz. Os dois cantam simultineamente). NARRADOR - Morren de barrie Morreu de barriga Morten de barriga vazia (bie) ATRIZ ~ Eu sou pobre, pobre, pobre de marré, marré de sim (bis) NARRADOR - José é um que morreu. Mas voeés ainda nao, Aqui acaba a Revolugio, ra comeca a vida; € compreender. a, ide vi 102 Podeis esquecer a pea Deveis apenas lembrar que se teatro é brineadeira, Hi fora... € pra valer. (cantando enquanto sai) La se vio os governantes aqui nio fica ninguém Fica 0 homem que morreu © a mulher que diz amém, (A LUZ SAI EM RESISTENCTA) — 103

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