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RESUMO
O presente estudo é do tipo descritivo e foi realizado em duas Unidades de Terapia Intensiva(UTI) de um hospital
privado em Natal - RN, com 40 pacientes, com o objetivo de identificar a incidência de úlceras de pressão (UP) e
verificar a associação entre os fatores de risco. A coleta dos dados foi realizada com um formulário para
observação e exame físico da pele. A maior ocorrência de UP foi do sexo masculino (70,0%); a hipótese
diagnóstica predominante foram as doenças respiratórias (42,3%), 60,0% apresentaram de 1 a 2 UPs após sete
dias e as localizações mais freqüentes foram as regiões sacral (40,0%) e calcânea (36,0%). Foram
diagnosticadas 25 UPs, com incidência de 50,0%, e verificou-se associação de 17,3% entre os fatores de risco
intrínsecos, extrínsecos e condições predisponentes (p=0,0384). A incidência de UP nos pacientes das UTIs da
instituição hospitalar pesquisada foi elevada. A associação de fatores, verificada neste estudo, denota a
relevância de buscar, em cada situação ou contexto em que se encontre o paciente, a influência da
multiplicidade de fatores e as condições que aumentam o risco de ocorrência de UP.
Palavras-chave: Úlcera de pressão. Unidades de Terapia Intensiva. Assistência ao Paciente.
explicitado, está relacionado a vários fatores de sua participação autorizada pelo responsável. A
risco. Os estudos de vários autores(1-11) que pesquisa foi apreciada pela Comissão de Ética
focalizam a incidência de UP em pacientes em Pesquisa/UFRN (Parecer n.100/2004),
hospitalizados no Brasil mostram que essa atendendo às normas da Resolução 196/96(12) do
ocorrência fica em torno de 10,6% a 55,0%. MS, que estabelece critérios éticos para
No Rio Grande do Norte não dispomos de pesquisas envolvendo seres humanos.
números referentes a UPs em pacientes O paciente era acompanhado diariamente
hospitalizados em UTIs ou fora delas, portanto durante a sua internação, e para o diagnóstico da
estamos diante de uma questão que é preciso úlcera utilizamos como parâmetro a
investigar, com vista à quantificação da identificação de hiperemia na pele nas áreas
magnitude dessa complicação no ambiente susceptíveis de desenvolver UP. Uma vez
hospitalar, principalmente nas unidades de identificada a hiperemia, solicitávamos a
terapia intensiva. mudança de posição e, após 30 minutos de
Partindo dessas considerações iniciais, este observação o paciente era submetido a uma nova
artigo objetivou identificar a incidência de úlcera avaliação, para afastar a possibilidade de
de pressão em pacientes internados em UTIs de presença de hiperemia reativa, que poderia ser
um hospital privado em Natal/RN e verificar a confundida com UP. Após esse tempo, caso
associação de fatores de riscos. permanecesse a hiperemia era confirmado o
Para investigar os fatores de riscos diagnóstico da UP em estágio I e comunicado à
relacionados à ocorrência de UP em uma UTI se equipe o surgimento da lesão, encerrando-se
faz necessário uma visão sistêmica dessa então a coleta de dados nesse paciente.
complicação. Corroborando essa visão Foram excluídos da amostra 38 pacientes: 20
multifatorial para a ocorrência de UP, com permanência inferior a 48 horas, 15 que
concordamos com alguns estudos(4,12) que apresentavam UP na admissão nas UTIs e 3
apresentam os fatores de risco para ocorrência de menores de 18 anos. Portanto, foram incluídos,
UP em três grupos: as condições predisponentes para acompanhamento no estudo, 40 pacientes
(CP), os fatores intrínsecos (FI) e os fatores de ambos os sexos, sendo 14 (35%) na UTI geral
extrínsecos (FE). Cada um desses grupos é e 26 (65%) na cardiológica, durante o período de
composto por variáveis que lhe são pertinentes, coleta de dados (50 dias).
o que reforça nosso entendimento das várias Para coleta de informações inerentes à
causas que podem levar ao surgimento dessa hipótese diagnóstica, idade, resultados de
lesão, além de possibilitar melhor compreensão exames laboratoriais, registro da evolução,
da complexidade da associação dos referidos prescrição médica e de enfermagem foram
fatores no momento de uma avaliação clínica do utilizados como fonte de dados os prontuários
paciente. dos pacientes; para as informações relativas à
incidência e fatores de risco intrínsecos e
extrínsecos e condições predisponentes, foi
METODOLOGIA
utilizado um formulário estruturado, adaptado
Trata-se de um estudo descritivo, com com prévia autorização da autora(4), no qual
abordagem quantitativa e delineamento promovemos algumas modificações na
longitudinal, realizado em duas UTIs de um seqüência de verificação das variáveis e formato
hospital privado localizado em Natal/RN. do instrumento.
A população do estudo foi constituída por 78 A coleta foi realizada após a aprovação do
pacientes, de ambos os sexos, internados nas Comitê de Ética em Pesquisa e assinatura do
duas UTIs no período de 04 abril a 24 de maio Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
de 2005. Para compor a amostra foram por parte dos participantes selecionados para o
selecionados pacientes admitidos nas UTIs com estudo (pacientes e/ou responsáveis) e foi
base nos critérios: ter mais de 18 anos; não realizada diariamente nas UTIs, nos três turnos,
apresentar UP no momento de admissão na UTI; pela equipe responsável, composta pela
permanecer internado na UTI no mínimo por 48 pesquisadora e seis acadêmicas concluintes do
horas; consentir em participar da pesquisa ou ter Curso de Graduação em Enfermagem/UFRN
previamente treinadas. Os dados foram obtidos idade pode ser explicado pelas mudanças das
por meio da técnica de observação e exame características da pele e do tecido subcutâneo.
físico da pele dos pacientes buscando identificar Essas transformações fisiológicas corporais
a presença de UP. alteram a espessura epidérmica, o colágeno
As informações coletadas foram transferidas dérmico, e levam à atrofia muscular, tornando
para a planilha do aplicativo Microsoft Excel mais proeminentes as estruturas ósseas(13-14).
2000 XP e submetidas à análise estatística Com relação às hipóteses diagnósticas, um
descritiva e inferencial, com utilização dos testes estudo(10) sobre UP em pacientes críticos
de Razão de Chance (RC) e Qui-Quadrado (χ2) hospitalizados identificou que as doenças
no programa Statistic 5.5. neurológicas, cardíacas, respiratórias e
neoplásicas representaram mais de 85,0% dos
diagnósticos de internação. Ressalta que essas
RESULTADOS E DISCUSSÃO
patologias são bem freqüentes em pacientes
Dos 40 pacientes acompanhados no estudo, críticos, o que traz instabilidade hemodinâmica e
limita a mobilidade, levando esses indivíduos a
14 (35%) estavam na UTI geral e 26 (65%) na
permanecerem em repouso absoluto em seu
cardiológica. Do total, 21 (52,5%) eram do sexo
masculino e 34 (85,0%) tinham idade superior a leito.
Em se tratando do número de lesões, foram
60 anos. As hipóteses diagnósticas de internação
mais freqüentes foram as doenças respiratórias diagnosticadas 25 UPs, todas em estágio I, em
(39,6%), cardíacas (20,8%) e neurológicas 20 (50,0%) dos pacientes, dos quais 15 (75,0%)
apresentaram uma lesão e 5 (25,0%) duas lesões.
(17,0%).
A internação em UTI aumenta o risco para o Dos 14 pacientes na UTI geral, 9 apresentaram
desenvolvimento de UP se comparada com a UP, e dos 26 internados na cardiológica, 11
tiveram a lesão, cuja incidência foi de 64,3% e
internação em outros setores do hospital, o que
se deve ao maior número de fatores de risco a 42,3%, respectivamente. A incidência geral foi
que está exposto um doente nessa unidade. de 50,0% nas duas UTIs.
Algumas pesquisas(2-3,14-15) realizadas em
Estudos realizados por alguns autores(1,3-4,6,9,13)
fazem referência a esse fato. vários setores, como clínica médica, cirúrgica,
Algumas pesquisas(3,9) evidenciaram o sexo unidades de reabilitação, UTI geral, médica,
cirúrgica e neurológica mostram uma incidência
masculino como fator de risco para o
desenvolvimento de UP, embora não tenham de UP no âmbito internacional variando de 3,5%
encontrado diferença estatística significante na a 33,0%.
No âmbito nacional, estudos sobre a
formação de UP entre os dois sexos,
diferentemente do que foi encontrado neste ocorrência de UP em UTIs de hospitais
estudo, no qual identificamos uma diferença universitários e públicos diagnosticaram
incidência variável de 19,2%(3), 41,0%(7),
estatisticamente significante (p=0,0267), com
chance 4,3 vezes maior de desenvolver UP no 44,0%(5) e 55,0%(8) e de 29,6%(7) em pacientes de
sexo masculino. unidade semi-intensiva. Já em um estudo(7)
Outros estudos(1,7,9) identificaram maior realizado na UTI de um hospital privado,
incidência de UP no grupo de idade superior a encontrou-se uma incidência de 10,6%, diferente
60 anos, mostrando que essa faixa etária é fator da encontrada no presente estudo e considerada
de risco para o desenvolvimento de UP, pois, elevada em comparação com as detectadas nos
estudos realizados em instituições privadas, as
quando hospitalizados, o tempo de ocupação do
leito é maior se comparado ao de outras faixas quais normalmente apresentam índices mais
etárias(19), o que também diverge do resultado baixos.
obtido no nosso estudo, em que, apesar de a A elevada incidência encontrada neste estudo
maioria (85,0%) dos pacientes investigados ter pode estar associada ao conjunto de fatores e
condições presentes nos pacientes com UP nas
idade superior a 60 anos, não foi detectada
UTIs pesquisadas, o que denota a reflexão acerca
diferença estatística significante (p=1,000) entre
a idade e a surgimento de UP. da qualidade da assistência prestada.
O aumento do risco de UP com o avançar da O tempo de internação variou de 2 a 20 dias,
Tabela 3. Variáveis que apresentaram significância estatística e razão de chance nos pacientes com e sem UP.
Natal/RN, 2005.
Pacientes
Variáveis Sem UP Com UP Razão de chance (RC) p-valor (p)
N % N %
Força de cisalhamento 6 30,0 16 80,0 3,3 0,0393
Força de pressão 9 45,0 19 95,0 4,1 0,0006
Agitação psicomotora 1 5,0 6 30,0 5,8 0,0375
Leucocitose 12 60,0 18 90,0 5,0 0,0285
Masculino 7 35,0 14 70,0 5,0 0,0267
Sedação 6 30,0 16 80,0 9,3 0,0015
60,0%
55,0%
Os especialistas da Agency for Health Care
50,0% 37,3% 36,5% Com UP Policy and Research – AHCPR (1992-1994)
Sem UP
40,0%
30,0%
recomendam mudança de decúbito a intervalos
20,0% mínimos de duas horas(4).
10,0% p = 0,0099
RC = 2,3
p = 0,8475
RC= 0
p = 0,0000
RC= 4,5 Alguns pesquisadores(20) identificaram
resultados semelhantes aos nossos no que diz
0,0%
C F F
P I E
respeito a focos infecciosos, anemia, deficiência
Figura 1. Condições predisponentes, fatores nutricional, diminuição da mobilidade,
intrínsecos e extrínsecos nos pacientes com e sem diminuição da percepção sensorial, aumento da
UP. Natal/RN, 2005. umidade, edema e hipertermia como fatores de
risco para pacientes com UP.
Ao analisarmos as relações entre as variáveis Em pesquisas(4) sobre fatores de risco para o
no grupo FE, verificamos ainda uma associação surgimento de UPs, as causas intrínsecas mais
estatisticamente significante (RC=11,2, freqüentes foram a alteração da umidade da pele
p=0,0190) entre colchão inadequado e forças de (78,8%) e do turgor e elasticidade da pele
cisalhamento/fricção e de pressão. (77,9%) e idade maior de 60 anos (61,5%). Os
No total, foram identificadas 75 variáveis fatores extrínsecos mais freqüentes foram a força
presentes nos 40 pacientes investigados, das de pressão no corpo/rubor (80,8%), condições
quais 29,3% foram condições predisponentes, inadequadas de roupa de cama (72,1%) e
36,0% fatores intrínsecos e 34,7% fatores mobilização inadequada (67,3%). Torna-se
extrínsecos. Verificamos entre essas variáveis evidente, portanto, que a prevenção e o
uma associação de 17,3%, estatisticamente tratamento da UP exigem mais do que a
significante (p=0,0384), nas CPs (anemia, redistribuição mecânica do peso corporal, sendo
Endereço para correspondência: Niedja Cibegne da Silva Fernandes. Av. Amintas Barros, 3386, Ed. Itapiru,
Bl “A” Ap. 104, CEP: 59063-250, Lagoa Nova, Natal, Rio Grande do Norte. E-mail:
niedjacibegne@hotmail.com