O passado de NOME

O seu passado é um mistério para você.

Você se lembra claramente do dia 21 de Dezembro de 2012,

principalmente como ele começou: você acordou.

Não acordou como todas as pessoas acordam num dia de verão

comum. Você acordou dentro do que parecia uma tumba.

Quando abriu os olhos, dezenas de botões coloridos tremeluziram a

sua frente. Você estava deitada em uma parte acolchoada de dentro do
túmulo e percebeu que os monitores na parte superior mostravam suas
condições corporais.

Batimentos cardíacos... 15bpm... 30bpm... 42bpm... 57bpm... 71bpm...

88bpm... Normalizando... 60bpm. OK.

Oxigenação da cabine... Medição O2 OK... SaO2 do componente... OK.

Recuperação de tecidos musculares... 20%... 34%... 53%... 78%...

85%... 99%... OK.

Avaliação sinais vitais... OK.

Avaliação sensorial... OK.

Componente liberado!

Como se uma camara de ar fosse aberta, a parte superior da tumba se

ergueu e você estava num campo aberto. Quando saiu da tumba ela se
fechou completamente e parecia uma perfeita rocha enorme. Perfeita em
demasia, pois era branca e tinha um formato oval polido.

Mais a frente você viu um grupo de pessoas e foi até elas.

- Olá, que lugar é esse? – você disse.

- Como? – falou um homem mais a frente.

- Este lugar. Onde estou?

- O Vale da Lua. Você se perdeu do seu guia?

- Onde fica o Vale da Lua?

- Como assim onde fica? Fica em Goiás, ora. Que pergunta é essa?
 Você sentia que algo terrível ia acontecer e que você deveria estar em
outro lugar longe dali. Uma grande cidade, com muitas pessoas.

- Qual a maior cidade desse país?

- São Paulo – disse o homem começando a cogitar a possibilidade de

uma doença menta.

- Eu preciso ir para lá!

Cinco horas depois você estava em um onibus que a deixaria na

rodoviária do tietê. Você havia convencido um homem de que ele deveria
dar a passagem dele à você, sem entender como fez isso. Mas a viagem era
longa demais.

Conforme as horas iam passando uma angústia grande apertava o seu

coração.

Às 21h do dia 21 de Dezembro de 2012, você estava a 50 km da

capital paulistana, seu corpo se arrepiou. Os céus tornaram-se negros. O
onibus freou bruscamente.

Foi como se uma rachadura do tamanho de um estado tivesse sido

feita naquele momento. A rachadura então foi se abrindo e multidões
pareciam descer do céu à terra.

Você já havia visto aquilo, mas tinha dificuldade de se lembrar onde.

A rachadura abriu até o ponto em que vocês estavam e foi além. Não
demorou muito para o panico ser instaurado ali também.

Criaturas horrendas desciam do céu e viraram carros, matavam

algumas pessoas, destroçavam outras. O onibus em que você estava virou.
Gigantes que pareciam estar em putrefação quebravam a terra. Luzes de
todas as cores passavam zunindo por todo o campo aberto.

Você tinha que lutar. E você sabia como! Sem memória alguma de seu
passado, você sabia a melhor forma de executar cada espécie de criatura. E
você não se cansava, pelo contrário, a cada criatura derrotada, você parecia
mais forte e mais preparada para a próxima.

Assim você veio, correndo com velocidade e executando criaturas no

seu caminho. Até que aconteceu o que você não esperava: você parecia
reconhecer todas as criaturas e isso te ajudava a saber o que fazer, mas
surgiu uma criatura que você nunca havia visto antes. Parecia um gárgula
comum, mas possuía três braços adicionais, o dobro do tamanho e estava
em chamas.

Nada do que você fazia surtia efeito e ele parecia estar vencendo.
Todo o ânimo e força que você ganhava a cada vitória, parecia funcionar
também de modo inverso e você estava fraca e cada vez conseguia fazer
menos.

Dois outros gárgulas identicos desceram perto e você estava cercada.

Você sentia cada golpe como se tivesse o dobro da força real. Era como se
sua alma também estivesse sofrendo. Você ia morrer.

De alguma forma, você se sentia antiga e pecebia que toda a sua

história seria perdida.

Foi quando alguém a abraçou e no segundo seguinte vocês estavam

cercados por uma bolha azul que lançou os gárgulas à distância. Seus olhos
se fecharam, mas não antes de olhar a face branca de um homem que
parecia sorrir.

Quando você acordou, estava deitada numa cama quebrada e ouvia

vozes de homens num outro comodo. Ouviu também o som de um animal
perto de onde você estava.

Quando olhou, percebeu um tipo pequeno de lobo que parecia se

equilibrar em duas patas. Estava um pouco escuro, mas você apertou os
olhos e percebeu que ali estava um lobisomem. Você não teve medo, mas
também não teve coragem de fazer algo.

Um homem entrou no quarto e percebeu o que acontecia.

- Fique calma.

O homem pegou o pequeno lobisomem e o levou para fora do quarto.

Quando retornou, disse:

- Ele é apenas uma criança. Ele já sofreu demais. Venha, estamos na

sala.

A sala tinha mais iluminação que o quarto e você pôde ver um grupo
de seis homens ali sentados. Você entrou acompanhado por outro e, quando
já estava lá, o homem que a salvou entrou no lugar.
 - Ah, então aí está você. Você dormiu por dois dias.

- Com o dano espiritual que ela sofreu, fico impressionado que tenham
sido apenas dois. – disse um outro.

- Muito prazer - disse o homem que a salvou -, meu nome é Luke. Qual
seu nome?

- Eu me chamo NOME.

Os homens te explicaram que estavam formando um grupo de

resistência para lutar. Disseram que ficaram impressionados com o que
Luke contou-lhes e gostariam que fizesse parte desse grupo. Você aceitou
imediatamente: sabia que precisava batalhar e ainda teria ajuda para isso.

- Aquilo que você fez... – você começou a pergunta para Luke

querendo se referir a bolha azul.

Luke repreendeu com o olhar e você entendeu que não deveria fazer
essa pegunta.

Esse grupo, dois meses depois, fundou a ARPA e você se tornou uma
das administradoras do grupo. Você ajudou a conseguir informações
importantes a respeito da situação da Terra. Dentre as informações que
você tem conhecimento, estão as seguintes:

Lea é a comandante dos demonios na terra, mas seu paradeiro é

desconhecido;

Vocês possuem o paradeiro aproximado de alguns dos outros sete

demônios que comandam ataques;

Todas as profecias religiosas tinham uma base verdadeira;

Você ajudou, pessoalmente, a desenvolver as primeiras armas

espirituais da Armada;

Esse portal já havia sido aberto há anos atrás por uma mulher
chamada Pandora;

Quando da primeira vez, houve uma grande batalha e o escolhido, ou

o Messias, como dizem outras religiões, ajudou a fechá-lo.
 Mas a maioria das informações que vocês possuem, foi adquirida
entre os anos de 2013 e 2049. Muitas mortes foram necessárias para juntar
todas essas informações. Muitas informações foram perdidas no processo.

Você tornou administradora da ARPA da rede metropolitana de São

Paulo. Você recebe ordens diretamente da central baiana e coordena todos
os comandantes de cada equipe.

O ano é de 2050 e você sente uma grande angústia em seu coração.