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Lisana Bertussi

L4ITERATURA
GAUCHESCA
do cancioneiro popular à modernidade

N.Cham.: 869.0(816.5)-82 B55212. ed.


Autor: Bertussi, tisana Teresinha

1iiffil1íli1liil1i,milfn1f cancio1;Iits 0
Ex .l FEEVALE C-U
© de Lisana Berrussi
l' ed . 1997
21 ed . 20 16

lidoro Lima
Revisão: Izabete Po
Diferencial
Editoração: Traço
SUMÁRlO
na Publicação (C
IP
ais _de Catalogação Jli ed iç ão I 7
Dados Inrernaci~n Su l ) Apresentação da
Uruvers1dade de Ca
xias do la / 9
ento Té cn ico Introduzindo a ch ar ndense / 11
- BI CE - Processam
UCS alista sul-rio-gra
PRIMEIRA PART
E: Literatura region e do Su l:
-- er at ur a re gi on al is ta do Rio G ra nd .
Pa no ra m a da lit da Ca lif ór ni a / 13
Teres inha, 1950- pu la r ao s po et as a na po es ia
do Cancioneiro Po
ana
B552L Berrussi, Lis pu lar à mo d 'd
d
im ag em fe m in in
: do cancioneiro po erru ª e. 2. ed . he r: a ev ol uç ão da
Llterarura gauchesca l, Educs, 20 16. D e pr en da à m ul 31
arualizada - Caxia
s do Su
region al ist a do Rio G ra nd e do Su l /
318 p.; 21 cm . ar ca / 43
: a co rte do m on
Do gu as ca ao tatu
ISBN 978-85-7061-8
21-4
besca do século X IX / 52
SE GU ND A PART
E: A literatura gauc
tol og ias 2 L '
io- gr an de ns e - An · • Heratura pu la r / 53
l. Li ter atu ra su l-r
e crí tic a. I. Tí tu lo . O cancioneiro po
stó ria 74
Os românticos /
gauchesca - Hi
ão / 75
Vale Ca ld re e Fi
l.J 34 .3( 81 6. 5)_ 82 Jo sé A nt ôn io do
CD U 2. ed .: 82 A le gr e / 89
Apolinário Po rto
sistemático: 107
fodice para o catálogo M úc io Teixeira /
Jú ni or / 11 7
og ias )-82 Be rn ar do Taveira
grandense -A nt ol 82 l.l 34 .3( 81 6.5 133
l. Literarura sul-rio- e crí tica 81 6.5 )-0 9 Lo bo da Co sta /
hesca - Hi stó ria l.l 34 .3( X / 149
hesca do século X
82
2. Literatura gauc a ga uc
A lit er at ur
TE RC EIR A PARTE:
0
Os escritores / 15
bibliotecária N et o / 151
te elaborada pela Simões Lo pe s
Catalogação na fon B l O/ 14 60
reira - CR 169
Ana Guimarães Pe Ramiro Ba rc el os /
ei re do Pi nt o / 185
A ur el ia no de Fi gu
Vargas N et to / 20
l
/ 205
D ar cy A za m bu ja
Direitos reservados
à: au n / 21 9
Ja ym e Ca et an o Br
llo / 23 5
A pp ar íc io Silva Ri
7
•oi ro" " AFI LIA DA Cyro M ar tin s / 25
Caxias do Sul a / 27 9
da Universidade de Ba rb os a Le ss 7
EDUCS-: Editora Sul - RS - Brasil U ru gu ai an a / 29
70-560 - Caxias do Ca nç ão Nativa de
~~~~a nc it ~erúlio Yargas, 1130 - CEP 950
20-972 -: Caxias do
- CEP 950
Sul - RS - Brasil
21 97 A po es ia da Ca lif ór ni a da
Tel~fon;;Te~: ~./ 352 - DDR: (54 ) 3218
· (
54 2
a,l· )
edu3 cs@ 2l 00
l8 ucs. br - Rama
is: 2197 e 22 81 Referências / 309
www.u cs. br - E-m
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foi
m1
rei
do 1
De prenda à mulher: a evolução da
qu
fel imagem feminina na poesia regionalista
pa
fin
do Rio Grande do Sul
dii ,
so
na
Saint-Hilaire, viajante francês, que este
íO! ve no Rio Grande
do Sul, no século XIX, na obra Viagem ao
SP Rio Grande do Sul ,61
destacou a mulher gaúcha da imagem depr
,/ eciativa que imputava
à brasileira em geral, quando comparada com
a europeia, porque
perc ebe u que aqu i ... "As sen hor as
con vers ava m sem
constrangimento com os homens" 63 e não
se ocultavam como
em outras regiões, quando chegava o visit
ante masculino.
Essa potencialidade de fala, que o mei
o não sufo cava
inteiramente, dava então à gaúcha um luga
"'soª nacional, segundo o cronista.
r à parte no cenário
po No entanto, hoje, um dos mai s polê
id1 mic os críti cos do
Movimento Tradicionalista, Tau Golin,
pa 1
em seu "Po r baixo do
.\
1
poncho" 64 diz:
M1
da
de Os tradicionalistas institucionalizaram uma
palavra que
cri expressa realmente o conceito social e
emocional que
co poss uem em rela ção à mul her: " pren
da'·. O seu
re! sign ifica do qual quer dicio nári o nos
1 dá : aces sório ,
adorno, coisa que se possui, que se usa,
se ocupa, etc.
pe ,,1
Lc 62
SAINT-HILAIRE, Auguste. Viagem ao
Rio Grande do Sul. Pono Alegre:
N1 Martins, 1987 .
63
ga Ibidem, p. 66.
64
Rc GOLIN, Tau. Por baixo do poncho. Pono
Alegre: Tchê , 1987 .
cri
31
ativa contradiz a percepção de Saint-Bit .
Essa afirm . . a1re
º'
ei quan to a
. s possibilidades femmmas.
, Noutro motivo de fandango, a "Chimarrita", temos já ª
e Vamos, en ,
~0 observar que percurso e este da evoluç~ao d
ta mulher coletivizada como velha ou pobre, mas que, sonhadora,
CC . da gaúcha de prenda à mulher; qual o papel da po .ª
Ai imagem ' d es1a inventa um mundo mentiroso e melhor:
. ali·sta neste processo, se, por um 1a o, ela, a literat..
SE reg10n . . d • d .. •ura
realidade femmma , enunc1an o .cnticament e a'
to retra tou a . Chimarrita é altaneira
m . ~ da mulher se estimulou uma cammhada rum o à
condiça0 ' . Não quebra nunca o corÍr!cho
re emancipação ou se, por outra, reafirmou a ideologia romântica Diz que tem trinta cavalos
d< · ho.6s
qt que a mascara. E não tem nenhum capmc
te No século XIX, na literatura oral, no Cancionerio gaúcho 65
pí compilação de Augusto Meyer, temos o "Tatu", motivo d Nesta composição, temos o homem-poeta, cantando a
tir fandango popular, em que o ~erói é o homem haragano, que corr: mulher, a pedido de uma moça, gesto do qual, no final, espera o
di mundo com liberdade, por tnnta e tantas estrofes, pretensamente seu "galardão", que, portanto, não é gratuito. A cbirnarrita morre,
se sem vínculos familiares, mas que, no final, desvela-se como marido mas sua morte e vida são produtivas, porque dão motivo para
ílí
e pai de vários tatuzinhos e, voltando machucado do percurso se pensar.
espera que a "tatua", que só então é nomeada, faça o papel d~
rc tradicional enfermeira que cuida do seu homem. E o "Tatu" é ainda Chimarrita morreu ontem
SE pretensioso, desafiando a mulher, no sentido de substituí-la, se E ainda hoje tenho pena
q1 ela não assumir este papel. Observe-se: Do corpo da Chimarrita
d• 1 Vai nascer uma açucena
Se quiser curar, me cure, Chimarrita morreu ontem
Não lhe faltando vontade Mas há sempre que durar;
As penas da Chimarrita
Que senão eu vou-me embora
Fazem a gente pensar.69

p,
I Lá pra casa da comadre.66

Ainda, na literatura oral, a composição intitulada "O


O"tatu" morre e, curiosamente, a "tatua" que sobrevive a ele,
id Bala!o''., de origem nordestina, expressa o preconceito do mito
mesmo necessitando substituir o marido , passa por uma
P• da virgmdade, limite imposto à mulher pela ordem social que
M transformação, pois permite-se uma escolha consciente. Diz o poeta:
lhe recorta um mundo diminutivo e fechado. Observemos:
d;
d,
CI
A tatua está mitrada Recorta, meu bem recorta
e, Quer marido doutro jeito recorta o teu bordadinho
re Que não viva longe dela Depois de bem recortado
Seja um tatu de respeito.67 guarda no teu balainho.7º
p,
L,
68
N : MEYER, Augusto. Cancioneiro gaúcho . Porto Alegre: Globo, 1952. MEYER, op. cit., 1952, p. 46.
69
g MEYER, op. cit. p. 43 Ibidem, p. 48.
10
67
Ibidem, p. 44.
' ' Ibidem, p. 60.
R
CI

32 33
A galinha e a mulher
or
Não se deixa passear Registrável é a enfática quase ausência da figura feminina,
es
C< A galinha o bicho come 75
no Cancioneiro da Revolução de 1835, compilado por
11
CC A mulher, dá que falar. Apolinário Porto Alegre, em que os homens são os únicos
Ac grandes heróis poetizados, quando sabemos da importante
S€ Quero dar a despedida participação da mulher, que cuidava da estância na ausência do
to Como deu a Saracura
m, marido, doava bens à Revolução, confeccionava uniformes,
re Os ciúmes da mulher quando não tinha um papel ainda mais relevante: acompanhar
72
de Com o chicote é que se cura. os homens na guerra, lutando, como Anita Garibaldi, ou
qL participando como espiã. Apesar disso, este cancioneiro mostra
te Reparemos, por outra, como a mulher é considerada ob· a mulher como vaga referência do homem saudoso do lar, ou
pé . . • d ~eto
fir
do mundo mascu lmo, me 1us1ve ocupan o posição m enos apenas como procriadora de soldados.
di elevada que aquela do cavalo, como, por exemplo, em quadrinh
se do Cancioneiro gaúcho: a Mimosas rio-grandenses
Criai bem vossos filhinhos
ílé Que a pátria bem precisa
Estou velho tive bom gosto
Morro quando Deus quiser Do vigor de seus bracinhos. 76
ro
s~ Duas penas levo comigo
Cavalo bom e mulher.73 No romantismo, essa imagem apequenada da mulher não
sofre transformações e até é reforçada. Bernardo Taveira Júnior
em p rovznczanas,
. . 77
ao lado do engrandecido herói masculino:'
E é curiosíssimo como o poeta, ao considerar a mulh ?

I como "~~enda" do seu amor, dº1storce essa realidade, invertendo
os papeis de ambos, homem e mulher, para colocar-se
er
o vaqueano, ?oleador, o laçador e outros desdobres típicos,
sempr~ a~olog1cos, abre espaço diminuto para a mulher, em
p~u~u1s~1mos momentos, nos quais ela é figura frágil e
fals~ente, na posição de escravo. Observe-se a quadrinh~ mm1atunzada. Observe-se a composição "O Casamento":
se ,,
tambem do Cancioneiro gaúcho:
p1
id Lá ~em montada em seu formoso
pé A fita do teu cabelo Roctm, altivo e brioso
M
di
É buçal maneia e laço A noivinha que a seu noivo
d, Descogotado e lunanco Entregou seu coração.
CI Inda por ti movo O passo. 74
CI
re
p, 1s PORTO ALEGRE, Apolinário Ca . .
MEYER, op. cít., 1952 p 66 Alegre: Cia. União de Seguros i98;c1oneiro da Revolução de 1835. Porto
L, 11
72
Ibidem, p. 73. ' . · 76 PORTO ALEGRE o . , .
N 73 77 TAVEIRA ' ' p. cit., p. 89 ·
Ibidem, p. 85 . JUNIOR , Bemard o. Provincianas.
.. Porto Alegre ·• M ovunento,
.
g 74 1986 ·
Ibidem, p. 89.
R
e
34 35
É belo da camponesa
e e com des trez a ª da" pel o
ntif icad a se fior " ac·h d ] ·'
Ver-se lev A qm,• na "Boru·ta " , só ide
O pezinho manear-se icional figur~ da cm ere a, Ja
homem temos esb oça da a trad
oló gic a ma chi sta .
ível tão carr~gada de con ota ção ide
, , -lhe O corpinho . flex ha crio ula e gad o _xuc ro,8º
, Em Vargas Netto, no seu Trof!i~
78
ver
Com graça indescntiv el. etiv1zada, des per zon ahz a~ na
a mulher é figura acessória, col
und ário do mu ndo ma scu lmo ,
"china" sem nome, elem ent o sec
opõ e-s o roc im "fo nno s o,,
. e. . o o índ io vag o, o an_darengo ,
Nes tes versos, à "no ,
ivin ha" XX em que ~essalta-se o hom em com
u.1o
.'
, m1cia. 1me nte ' a Poe s1a , exp res so num ~, rela çao ,?.e uso
1 . ,, "bn ·oso " · No sec. . que lhe dedica um am or egoísta
"a t1vo e ma chi sta que a vem os o poe ma Ne gad a .
finna pela imagem dfem mm a a ide olo gia d, . e descomprometimento. Ob ser
" b . t
rea o sec un ano no universo
considera como "pr en a , o ~e
per cur so evo luti vo, que acabará Eu não agüento a car ona
masculino, mas haverá agora um
por delineá-Ia mulher por inteiro. Que o teu cap rich o req uer
gem vag a, pretexto para Sempre fui pas sar inh eiro
Em Augusto Meyer, ela é ain da ima
ou, ref orç ada sua falta de Pra volteio de mulher.
falar dos sentimentos do poe ta Não largues a tava pra mim
nas par cia lme nte por uma
' l identidade, a mulher é vis ta ape Que não eng ord as a chi ba
cia . Lei am os o poe ma , não
qualidade ext erio r: a apa rên Mesmo que "m osc a de ven da"
":
gratuitamente, intitulado "Bo nita Só bebo can ha de arri ba ...
81

J Bonita, Bonita
quem foi que te ach ou

Ninguém não me ach ou


Em Au reli ano de Fig uei red o
poucos poe ma s ded icad os à mu
já c?~eçam a_ser motivo de poe
e docll, ant eno rme nte con figu
Pin to, em bor a apa reç am
lhe r, os sen tim ent os fem inin os
sia e, de sua figu ra pla na, pas siv
rad a, com eça a del ine ar-s e um a
de
a

em ers ão de traç os aut ênt ico s


meu bem Ma drin ha maior esf~ricidade, atra vés da "D a cria vel ha" .

r \i
meu bem não che gou espontaneida de prim itiv a, com o no poe ma
Observe-se:
/i
1 Bonita, Bonita
1: Linda ma cia, mo ren a
Não vês quem che gou
mais ma nsa que ma te doc e
num carro de pra ta
que a gen te per to se baba.
com vinte tordilhos. bec e
Ah! ··· Amigos! qua ndo em bra
a bugra ant iga apa rec e
Na volta da estrada
que nuvem de poe ira peleando à por ta da taba. 82
o vento alevantou?79 8
·
º VARGASNETTO ManoeldoN asc1mento. Tropilha crioula e gado xucro.
Porto. Alegre: Glob , /d
o, s. .
81

. . Ibidem, p. 33-34 grifo nosso


TAVEIRA '
78
nossos). 82 · ' . . .
~ 79 JUNIOR, op. cit., p. 83-90. (grifos . Rio de Janeiro.
PINTO ,
, Aureliano de Figueiredo .. Romance.s de estanc,a e querência :
1

. ln: . Poesias M
1 _ME~ER , Augusto . Poemas de Bilu . --
.
marcas do tempo · Porto AI egre . artms, 198 J. p. J20.
L1vrana São José , 1967 . p. 185-186

37
36
. iva agressiva , opondo-se à docilidact
e aqui.da ra Ih Aº d e
Veja-se qu d humana à mu er. m a, no rnes Illo Chinoca que o embalo das cantigas
. - dá identt a e d &: • •
e mans1dao, ocupação com a mu ez 1eminina e fez esguia como os juncos,_
' o
be-se a prelo à sua fala no poema "Toa das da noit
poeta, perce , e de olhos grandes cor da n01te,
etiza O estirou
autor po . ta. boca sempre de pitanga
linda". Isto diz o poe . coração sempre feliz.··
se elas cantassem sob as ramadas
E eu ~ends?-:am· do amor dos andarengos! Por que será que os poe~as
que nao tn·ssem uma cordeona sob as estrelas que as cantigas
Se e1as abrl . _ .. Por que será · ? 85
funda angústia nao lhes vma gostam tanto de mentir .
que em eco pelo silêncio dos que se foram e
na voz s
não voltaram ...
83 Esse poeta inclusive , dedica todo um livro só para a ~~lher.
. , . 'de Rosa86 título em que ironiza a trad1c10n
É o l tmerarw , al·
porque configuração da prenda como flor, enfeite, adorno. Rosa e anti-
Mas esses Sa-0 . sua poesia,
apenas raros momentos de
. tem verdadeiras recaídas machistas, como se pode heroína coletiva e, já no poema "Portal"' podemos perceber :
Aure 11ano
"Fogo do diabo", falando da mulher:
ver no poem a
Um símbolo direis de tantas quantas
87
Se sofrer, teus cílios finos - iguais rota e derrota, linha e traço.
São juncos na tarde
no espelho de uma lagoa E o texto queApparício chamou de "Novelinha passional",
Porque és tão boba e tão boa conta a estória de uma adolescente campeira que, perdendo a
. covarde. s4
Para o destmo virgindade, é expulsa de casa e acaba por prostituir-se na cidade.
Mas, mesmo neste universo de degradação, Rosa sonha com
Aqui, a passividade é elogiada em "tão boa" e "tão boba". uma vida melhor que lhe é negada, pois sua condição evolui
Noutro poema, a "Décima do despachado", a mulher é vista para um impasse trágico, em que a pobreza é reforçada pela
nada menos do que como "bonecra", brinquedo do gaúcho. perda de valor como mercadoria, com a chegada da velhice. E
Já em Apparício Silva Rillo, há um importante salto em mais uma vez Rosa é expulsa do mundo. Leiamos o poema
"Transição":
direção ao desmascaramento da condição real da mulher que a
prenda oculta e vela. Ouçamo-lo em "Chinoca":

Chinoca que a legenda dos poemas


fez morena, fez bonita
vestida sempre de chita
cabelo sempre trançado, 85
na trança sempre uma flor. RILLO, Apparicio Silva. Cantigas de tempo velho. Porto Alegre: Martins,
1981. p. 66.
86
83 · ' · de Rosa. Porto Alegre: Martins Liveiro - Editor, 1981 .
Jtinerar,o
--·
PINTO, op. cit., 1981 , p. 163. 87
RILLO, op. cit., p. 11.
84
Idem, grifo nosso.

39
38
Balaio de anos pesados
Seios frouxos, celulite . M .a" de Pedro Emílio Roch a:
ou, ainda , "Man a... an '
Ventre balofo de graxa
e risco de apendicite. Maria que é preta , Maria que é,b~anca
Maria que é pobre, Maria que e nca
A cicatriz disfarçada
Maria que varre o rancho c~ta ndo
nas rugas fundas da cara
Maria que fica socando canJ1ca
De rosinhas foi a Rosa ,
Maria querida, imagem do Pam pa.
de Rosa foi a Rosaura. 88
Aqui a ironia é clara na coletivização da misé ria
Vejam que ele, faz alusão ao motivo de fandango fe~ ª-
"balaio" Mais recentemente, a conh ecida letra "Cam pesm
em "Balaio de anos pesados". a" de
, . N e Mári o Barb ará faz impo rtan te pape l
Desta forma, o poeta desvela a degradação social da Serg10 app
mulher desmascarador, ao traba lhar com a contr apos · - de dois
1çao . -
ulo para ~
mas não há, ainda , aqui, a poetização de um estím . do poeta crítico desv elado r da s1tua çao
di scursos p arale los · 0
'
busca de emancipação, mesmo que tenha mos, sem . .
real e o do gaúcho machista, rnitificador. Pnrn
dúvida, um eiram ente, o poeta
respeitável avanço. fala da mulher.
Será um movimento musical, a Califórnia da Canç
ão Nativa Bate a roupa, torce o corpo, enred a o camp o
de Uruguaiana que, abrindo espaço para a poesia, cumprirá
o papel bebe o sonho, esfrega a vida, enxu ga o temp o,
de estimulador do processo de libertação femi nina.
foge o riso, enrola o sonho, esfre ga os olho s,
Já nos primeiros festivais, denunciou-se a condição
limitada torce a vida, bate o medo , esfol a as mãos .
da mulher no universo machista. Observe-se a músi
ca "Janaíta"
de Cláudio Boeira Garcia e José Valdir S. Garcia: E, em seguida, o campeiro:

Janaíta sete innãos Que mulher valente, buen a comp anhe ira
Janaíta pai peão Suas mãos são asas, seu olhar me guar da
Janaíta, não diz não Que mulher valente, buen a comp anhe ira
Janaíta, não diz não, Me repara a casa e me enfeita a cama. 89

ou, ainda, a "Leontina das Dores", de Luiz Coronel Aqui, se insiste no falseamento do sofrimento femi
e Marco nino e
Aurélio Vasconcelos: na miniaturização do seu papel, cons idera ndo- a
enfeite.
P~nt o _ culm_inante do perc urso de poet izaç
ão da
Pra dentro Maria Leontina emanc1paçao da _imagem da mulh er, na poes ia
regio nalis ta-
Menina não vai pro galpão gauchesca do Rio Gran de do Sul, pode ser cons
idera do o
Leontina de quarto e sala mom~~to em que a mesma abre espaço para a sua
fala, na poesia,
Leontina de quarto e prisão, adqumndo , por um lado, plena cons ciênc ia de
seus papé is
89
88
RILLO , op. cit., 1981, p. 47 . Grifo nosso .

41
40
. . r outro desmitificando o feminismo estereot·
soc1a1s, po ' . . - ti .
do uma part1c1paçao e ehva e madura no lPado e
rec laman . "M 1h ,, , d Illunct
Observemos, para finalizar, u er ' títu1o e música de Sé;·
Napp e Marlene Pastro: 0

As mãos que afagam o teu corpo


também te curam as feridas
a mesma boca que beijas Do guasca ao tatu:
serviu de aviso às intrigas.
a corte do monarca90
Contigo lavrei essas terras
com meus braços de alegria
não abro mão dos meus dengos
buscando minha alforria
. . C ar 91 um dos mais eminentes historiadores
Gmlhemuno es , , 1875 -
Se em mim apagas teu fogo da literatura gaúcha, considera o penodo d: 182~ ª.
chegada dos imigrantes alemaes e italianos ao
e o teu gozo de viver marcado Pela - 1· ' · ·t
Rio Grande do Sul - como o início da produçao iterana escn a
: 1
sou feita do mesmo barro no estado. Tudo que se produziu antes, representad o P~_la
também quero ter prazer contribuição de paulistas, lagunenses, portugueses , espanh01s,
guaranis e negros, é um grande texto de literatura oral a ser
Matei a sede que tinhas explorado.
domei as tuas canseiras O Cancioneiro guasca 92 (1910), de Simões Lopes Neto, o

r
j plantei, pari, fui teu pouso
não sou rama, sou figueira
Cancioneir o gaúcho 93 ( 1952), de Augusto Meyer e o
Cancioneiro da Revolução de 183.594 (1936), de Apolinário Porto
1
Alegre, são as compilaçõe s mais importantes dessa fase,
1
Me enfeito pro teu agrado reunindo composições representad as por quadras, décimas,
me entrego se me acarinhas trovas, motivos de fandango, 95 e motivos da guerra dos farrapos,
1
1 1 me nego se vens de espora
me querendo por bainha
90
Porque apresentada para um público de outro estado, a Paraíba, essa
Por certo não fui criada comunicação contém explicitações de termos regionais.
91
apenas para ser fêmea CESAR, Guilhermino. História da literatura do Rio Grande do Sul. Porto
Alegre: Globo, 1972.
ou pra enfeitar teus fogões 92
LOPES NETO, Simões. Cancioneiro guasca. Pelotas: Livraria Universal,
quero ser tua alma gêmea. 1910.
93
MEYER, Augusto. Cancioneiro gaúcho. Porto Alegre: Globo, 1927.
94
PORTO ALEGRE, Apolinário. Cancioneiro da Revolução de 1835. Porto
, Pena Saint-H1·1 aue
· nao
- estar aqm· para ver que a
mu Iher Alegre: Globo, 1935.
gaucha fala mesmo! 91
Motivos de fandango são composições para serem cantadas e dançadas.

42 43
valiosos documentos para retratar O un; o fato de esse tipo social,
e represen taro , -~ . •1..1VersO a atenção para . I "retrógrada e
homemsu-l n·o-grandense da epoca, emahcamente confi1~ do d 99 E c a h ma I' · colon.Ia
gado alça ~-o ser fruto de uma po iuca dam as condiçõe~ ~a
. do espaço rural, onde sonha, ama e guerreia ªdo
a partrr · assim descnt , . se modificar quando ~u . io1 De gaudeno
Nes Se mundo ficcional, tem hegemonia o tipo re . " que vai - d s estancias. -
g1on rnanca ' ioo com a formaçao a re ado e ao peao_-
tado pelo pastor de gado, pe1a mulher, pelo gue . ai, carnpanha, se lentamente ao ag ~ s e ao guerreiro
represen . . rre1ro
t'pos ~ d passa- .d campeira - ,
pe los 1 folclóricos, ao .
lado dos ammais, como O cav
. , . E , aIo e e norna e, petentes nas 1i as . . termo gaucho
96 seus companheiros mseparaveis.
cusco, . . e o homem , e na~ 0 o trab~lbad;:;~;;:ndas bélicas, pa~sando~ a:5:;.;iência dessas
a figura mais consistente e o enussor da mensag a coraJoso h " de regeneraçao qu
muIher, . fi ti . . , eill na "ban o
maioria dos textos, nos quais a igura emmma e apequenada e P or um •
·as lhe confere. sse resgate foi
inexpressiva. categon . - literatura para e
A contribuiçao da . . popular, encontramos ~m
E nesse campeiro, construído a partir da apologia de . ·á no canc10neiro , grandec1do
, d d ' ' da natureza sua significativa e, J . ~ do o homem rural e en
destreza nas lidas com o ga o, no , omiruo . , e na rnovimento nessa direçao, qu~n des como trabalhador, am~nte
maestria e coragem nas contendas behcas, est~ ?genne para a rtir do elogio das quahda, d nu·nação qualificativa,
configuração da imagem exageradamente positiva do gaúcho ap E axaea ~o
sensual e soldado. ~ nfiguração apológica, para
representada pelo mito regional, segmentado no centauro do; lhida como alegona dessa co
esco . ·onal
pampas e no monarca das coxilhas, ~ela segura~ça, pelo gosto representar o tipo r~gi . . forte valente, saudável, mas que
da liberdade e pelo profundo sentimento antimonarquista Guasca, que s1gmfica :t resistente é um vocábulo
arraigado à fonnação do sul-rio-grandense. ' , , t · a de couro mm o ' . , . d
tambem e uma _rr na "idade do couro"' fase h1stonca a
Essa mitificação do tipo regional é uma resposta cultural à que tem sua o~gem d d S l em que esse material era
acepção pejorativa da palavra gaúcho, nas origens do seu formação do Rio Gran e o . u ' e até barcos e casas.
percurso e foi grandemente reforçada pela literatura de cunho utilizado para fazer objeto~, ca1x~s, pregos dessa
romântico, que aproveitou suas raízes populares. Mas também Da1,, a proJ· eção na quahficaçao da figura humana
~ d mundo que e
lh
vem dessa mesma fonte o antídoto para esse processo, potencialidade de construção e sustentaçao o d ,
confere, alegoricamente, força e poder inabalável, adequa os a
responsável pela dessacralização desse mesmo mito.
busca de sua heroicização.
Examinemos, pois, seu itinerário.
E será_ na literatura oral do cancioneiro popular - gu~sca
Augusto Meyer, escritor e crítico da literatura gaúcha,
0 pastor; guasca , o amante sensual; guas:ª • o coraJOSO
num estudo intitulado Gaúcho: história de uma palavra,97 revolucionário e o guerreiro de nossas revoluçoes. Um guasca
demonstra que, nos primeiros documentos oficiais dos só vulnerável na figura do anti-herói, representada pelo Tatu,
primórdios da formação do estado, os sul-rio-grandenses que examinaremos mais adiante. Observemos essas facetas.
eram vistos como gaudérios, 98 vagabundos, nômades, que
O guasca-pastor de gado, constitui-se, fundamentalmente,
viviam em condições semibárbaras, matando e coureando
pelo forte vínculo com o cavalo, animal inseparável nos
96
Nome dado ao cachorro pelo campeiro do Rio Grande do Sul. 99
97 Gado bravo, selvagem.
MEYER, A~gusto. Gaúcho:história de uma palavra. Porto Alegre: Instituto 100
Zona rural do Rio Grande do Sul.
Estadual do Livro; Divisão de Cultura/SEC 1957 101
98
Pessoª que nao
• tem trabalho fixo e Extensão de campo destinada à criação de gado, cercada por arame, com
vive à' custa· dos outros, passando de casa do proprietário, dos empregados, com galpões, etc.
casa em casa.

45
44
início da fonnaçào do
-
trabalhos do dia a dia, _desde o
01
tura regionalista , estado . peitabilidade e nobreza ao
Carlos Reverbel, estud10dso daficul gaucha, llo Aqui, o que dá estatuto de res
ho: aspectos e sua ormaça-o no Rio Gr,
e:
, olvido em "altas cav ala ria s",
1e C<
seu O gau c
e n_o Prata, ~ cita p~ a~ de Fel
11 ix Azara, fun dad o~: e ~o S4/
guasca é o fato de estar env
acompanhado do seu pingo.
105 E é seu posicionamento físico
a
gaucba de Sao Gabnel , dizendo:
cidade que contribui grandemente par
A
elevado, que o animal permite,
SI
te firmar sua postura heroica.
mpanhado pelo cavalo nas
rr paç-
Muito repugnava ao gaúcho toda ocu aoquen- seja O guasca-amante também é aco
. se não sabe andar aªº , que se elogia sua potência e
íE [s1cJ a cavalo e a galope. Qua suas empreitadas amorosas, em
" . pa Pe e , ele aparece metamorfoseado
d, quando o 1az, mesmo que seJa apenas ra atra Vessar a' sensualidade, e em que, não raro
q, rua, mostra-se desgostoso e de má
vontad sua força na rela ção . Há , no
nesse animal, o que reforça
fe pulper ias ou em e. Quando .se quadrinhas intituladas "Cavalo
reúnem os gaú cho s nas outros J0 ca,s, cancioneiro gaúcho, uma série de
p; sempre a cavalo, mesmo que aconversa , cionamos as que seguem, por
pennanecem e mulher", entre as quais sele
106
ti, ,· h Q Çao
d,
dure vanas oras . uando vão pescar, é se mpreaca sua exemplaridade.
, a tirar á Valo,
s, ate para lançar a rede na água. Par gua de UJn
cincha do cav alo e
poço atam a soga na puxam- na selJJ
botar o pé na terra. 103 Da tropilha que te adora
Eu sou o mais extremoso
, d Tenho tranco mui seguro
campeiro , e tam bem
E .essa ligação centauresca do • - 0 Sou parelheiro fogoso
nte das com
guerrer ro com o cavalo, é tema domina pos1çoes do
.
· • nse . Vejam
canc10nerro popular sul-rio-grande os as quadrin has Campeio a tua presença
intituladas "Monarquia" :104 Em todo esse rincão
Relinchando de saudades
rr
Dando patadas no chão
Vi Nas altas cavalarias
p. Eu, que sou guasca largado h .
s,
Tenho sempre à mão o relho E o cavalo ocupa um lugar di: tal egemorua , nesse universo
p, gauchesco , que é sup erio r à mu
E O pingo rinchando ao lado er, por exemplo. Observemos
ic ,, o velho gaúcho p and o nas perdas da morte :
ens
p,
N Quando ato a cola do pingo,
d, E ponho O chapéu de lado Estou velho tive bom gosto
d E boto O laço nos tentos ... ' Morro quando Deus quiser
C/ 1

Por Deus, que sou respeitado/ Duas penas levo comigo


c1 Cavalo bom e mulher.
íE

p 1

102 REVE
l, RBEL, Carlos. Ogaúcho ·. aspectos de sua fonnação no Rio Grande do
Sul e no Prata . Porto AJ .
N Ib1·dem, p. 34 . LPM 1986
egre .
ioJ , ,os Nomina -
g 104 MEYE . 106 ME YE iªº da~a ao cavalo no Rio Grande do SuI.
R R, Augusto. Cancion . gau,cho . Porto Alegre: Globo, 1952. p. 83. 1952, p. 79.
'op . c1t.,
eira
e
-
46 47
. aru·mal , que inclusive vem qualificado pe1o act · .
Aqui, o
erpõe à figura apequenada da mulher _ despr~etiv 0
[... ] .lh
bom se sup . . 0 .
r identificação - por vir nomeado em pn...... . Vida S r monarca das cox1 as
de qua1que . ~=1e1r0 lu e. empre O meu galardão
nas perdas do campeiro. &ar FOIS 'd
E quando alguém m~ duv1 a
tra sobreface do mito, construído na literatur
AoU . ~ a Popu1 Descasco logo o facao.
. do monarca das coxzlhas, configuraçao cultural dec ar,
ea . . orrent
.á foi dito, do forte sentimento antunonarquista-tr dic1on . e,
comOJ . a [... ]
. cho _ do seu amor pela liberdade e segurança O a1 .
no gau . a relação Sou livre como a senema
com O mundo circundante. E nem reconheço tirano
Apolinário Porto Alegre, escritor regionalista gaúcho do , Criei-me nas esc'ramuças
.
. . lado ''Monarca das coxilhas", 101 diz:
secuJo • 108
XIX, num conto mtitu Ao sopro do rmnuano.

Os rio-grandenses têm em nenhuma.monta os tronos e [...]


Eu sei que os reis, sobre os tronos
cetros. Para eles uma boa equitação vale uma
. b Ih . , Zombam de mim, eu bem sei
monarqma; um om cava erro e um grande monarca
Mas não troco o meu pingo
Quem não conhecer os costumes de nossas vastíssim~~
Pela cabeça de um rei,
campanhas, há de estranhar que uma só família às vez~
.. d Esses palhaços c'roados
seja o trono duma sene e monarquias. E por Deus'
valem mais que os testas coroadas os valentes campeiro~ Que toda a vida odiei.
do Rfo Grande, ao menos sob cada poncho palpita um
coração onde a liberdade entronizou-se, em cada pulso Aqui, o gaúcho define-se como "sem governo", "livre como
lampeia uma espada ou uma lança que fará tremer a a seriema", sem "reconh[ecer] tirano" algum e, portanto, guiado
tirania. por sua própria lei": "o coração". Para ele o "pingo" vale mais
que os "palhaços c'roados", portanto o monarca é ele nesse seu
universo.
Colocar-se na posição de monarca é alçar-se à posição de
segura e completa dominação de seu universo, é elevar-se à Mas à corte do narciso monarca das coxilhas e centauro
altura de herói supremo. Em nosso cancioneiro, é com essa
dos pampas serve de corretivo realista à figura do anti-heroi,
representada pelo "Tatu", motivo de fandango dos mais
roupagem que o mito se veste, em inúmeras aparições.
populares na cultura gauchesca, recolhido por Simões Lopes
Observemos o guasca-monarca se autodefinindo:
Neto e Augusto Meyer nos seus cancioneiros.
~a versão do Cancioneiro gaúcho , 109 em quarenta
Sou valente como as armas qua~as se narra a sina trágica do herói, introduzida pelos
~ou guapo como um leão! seguintes versos:
Indio velho sem governo
Minha lei é o coração.

io1 PORTO ALEG . ,. . . :: M~YER, op. cit., 1952, p. 80.


Brasil" . Mº _RE, Apohnano. Paisagens. Porto Alegre: Movimento, Ibidem, p. 37.
1
ª· mC/Pro-Memória, 1987.
49
48
. pra contar a história
Eu vun o Tatu foi encontrado
OI Dum tatu que já morreu Pras bandas de São Sepé,
e: Passando muitos trabalhos Mui aflito e muito pobre,
e Por esse mundo de Deus.
CC De freio na mão e a pé.
A
SI (... ] E esse gaúcho "de freio na mão e a pé", tão corajosamente
te o tatu foi mui ativo
1T expondo sua carência e miséria, afrontando com sua pobreza a
Pra sua vida buscar;
rE imagem mítica dos monarcas e centauros, que sonegam a
Batia casco na estrada,
o
Mas nunca pôde ajuntar. realidade do povo gaúcho, nessa configuração romântica do
q
paraíso campeiro habitado pela boa gente , aponta
fE
p metonimicamente para uma nova visão do universo regional
Convém observar o quanto estamos distantes, aqui d que tomará corpo no século XX, na literatura regionalista su1-
fi
d centauro dos pampas e do_rico monarca das coxilhas_ pa;a 0~ rio-grandense, a partir da obra romanesca de um marco do neo-
s quais a vida e o trabalho sao uma festa-, com esse Tatu "qu . , realismo gauchesco, Cyro Martins, com sua Trilogia do gaúcho
tr b lh / eJa
morreu'' eque vinh a "passando mmºtos a a os por esse munct0 a pé.Ili
de Deus". Aplenitude e satisfação do campeiro tradicional sã
E para nós fica patenteado que a fonte popular é capaz de
aqui substi~ída~ pela carência de nad_a pos_suir, reforçada pel~
criar mitos duradouros, mas também é capaz de desbancá-los
apresentaçao física do Tatu e de sua s1tuaçao de miséria.
com os antídotos bem-dosados. Daí, a importância de recorrer
a ela como instrumento de interpretação do percurso histórico
O Tatu foi homem pobre das literaturas regionais.
Que apenas teve de seu
Um balandrau 110 muito velho
V Que o defunto pai lhe deu.

[...]
O Tatu foi encontrado
No cerro do Batovi
Roendo as unhas de fome
Ninguém me contou eu vi.

· - o de carência vê-se
· s1tuaça
herói ' nessa exc essiva
· 1E. o d , ,
me us1ve desprov id
mito O c~v 1 °.
e seu bem, e emblema fundam ental do
a o, essencial element de sua postura de centauro e
'
monarca. °
i11 Nomeação d d ,
(1937);
Porteira fecha;a a;~~ tr~s romances de Cyro Martins : Sem rumo
percurso real' t ~ d 4), Est_:ada nova (1954), os quais representam o
gaúcho. is a egradaçao e recuperação das condições humanas do
no Balandrau é
poncho pobre e velho. (N. de LB).

-50
FÊEVALE BIBLIOTECA

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