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seu filho
A colunista Andrea Werner faz uma reflexão sobre o preconceito
3 min de leitura
Andrea Werner
24 Out 2019 - 14h25 Atualizado em 24 Out 2019 - 14h25
(Foto: Pexels)
Recebi, esta semana, a seguinte pergunta no meu inbox do Instagram: "Como falar
para meninas de 7 e 9 anos que elas não podem excluir o coleguinha autista?".
Tenho falado de inclusão há vários anos. Esse tema caiu no meu colo no dia 9 de junho
de 2008, pesando 3,9 kg e medindo 43 centímetros: nascia o Theo, que seria
diagnosticado dois anos depois com autismo.
A necessidade de falar de inclusão começou a florescer na medida em que Theo
crescia e as demandas da vida social iam nos colocando na posição de quem sofre
preconceito. Algumas situações são sutis. Outras, nem tanto. Houve a vez em que ele
fazia seus barulhinhos no playground e uma mãe puxou o filho para longe dele dizendo
"fica aqui mais pertinho da mamãe". Também houve a vez em que dificultaram a
matrícula dele em uma escola conceituada "por não poderem dar o que ele
necessitava". Também aconteceram inúmeras ocasiões em que ele teve crises
por sobrecarga sensorial - bem comuns em autistas - , se jogou no chão enquanto
esperneava e gritava, e eu recebi olhares de reprovação de todos os adultos ao redor,
seja no shopping, em um restaurante ou andando na rua. Um desses olhares de
reprovação, em um supermercado, veio acompanhado do comentário "esse tipo de
criança deveria ficar em casa".
O contato subsequente com outras mães, pelo meu blog Lagarta Vira Pupa e as redes
sociais, foi me mostrando como isso era frequente. Como era comum. Eram centenas
de relatos de crianças com deficiências diversas "esquecidas" na hora do convite da
festinha de aniversário, não incluídas nos passeios da escola, deixadas de lado na
hora da brincadeira, ignoradas até por parentes na hora dos presentes de Natal. Fora
os relatos mais pesados sobre bullying, sobre crianças em depressão porque se sabem
diferentes e notam a exclusão a que são submetidas diariamente.
SAIBA MAIS
Como fingir que não li ou não ouvi esses relatos? Como continuar levando a vida como
se isso não acontecesse diariamente com tantas crianças e adolescentes?
Pois eu gostaria, agora, de responder à pergunta que recebi no Instagram. Afinal, como
falar para as crianças que elas não podem excluir o coleguinha autista?
Em primeiro lugar, deixando claro que não é ok excluir nenhum coleguinha. Somos
todos diferentes - e é isso que dá graça ao mundo. Uns andam com as pernas, outros
andam com a cadeira de rodas. Uns enxergam sem óculos, outros veem através dos
óculos. Uns falam usando palavras, outros usam gestos, e já há gente que usa até
aplicativos no tablet para se comunicar (meu filho é um desses). Cada um tem uma cor,
um formato de olho, um jeito. Mas todos têm duas coisas básicas: pontos fortes, coisas
que fazem extremamente bem, e pontos fracos ou dificuldades. E tanto as fortalezas
quanto as fraquezas são diferentes pra cada um.
Então, ensine seu filho a incluir todos os coleguinhas. Explique as diferenças de forma
simples. Ensine bondade, empatia. Diga a ele que devemos tratar os outros como
gostaríamos de ser tratados.