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ALBERTO VIEIRA
CEHA-MADEIRA
avieira@avieira.net//avieira@madinfo.pt
Na verdade, a cana sacarina começou por ser uma cultura do mundo insular, e
em todo o processo de expansão nos diversos espaços as ilhas foram importan-
tes áreas de aclimatação, mas foi nos continentes que adquiriu maior dimensão
e pujança. As grandes inovações relacionadas com a cultura e tecnologia do
açúcar aconteceram nas ilhas. A primeira muda de cana é originária das ilhas,
pois foi na ilha Papua da Nova Guiné que o homem iniciou o processo de
domesticação, mas hoje é conhecida mais pela expressão que tem nos espaços
continentais do que no mundo insular. Cuba, por exemplo, que durante muito
tempo ocupou uma posição cimeira na produção açucareira, perdeu protago-
nismo.
O açúcar é, entre todos os produtos com valor comercial, o que foi alvo de
maiores inovações tecnológicas para o fabrico, por força da pressão do mercado
e do ciclo vegetativo da cultura. No caso do vinho a tecnologia pouco ou nada
mudou desde o tempo dos Romanos. Várias condicionantes favoreceram a
2 Existe um conjunto variado de textos que valoriza o papel da cana como motor do progresso em vários sectores: Luiz
del Castilho, A Fabricação do Assucar de Canna. Notas e formulas…, Rio de Janeiro, 1893, p.5; P. Horsin-Déon, Le Sucre et
L’Industrie sucrière, Paris, 1894, p.5 ; D. Sidersky, Manuel du Chimiste de Sucrerie, Paris, 1909 ; IDEM, Aide-Mémoire de
Sucrerie, Paris, 1936, pp.3 ; F. A. Lopez Ferrer, Fabricación de Azúcar de Caña Mieles y Siropes Invertidos com su Control
Técnico-Quimico, Habana, 1948, p.V; IDEM, Maquinaria y aparatos en los Ingenios de Azucar de Caña, La Habana, 1949 ; A.
C. Barnes, Agriculture of the Sugar-Cane, Londres, 1954, p. IX ; Andrew Van Hook, Sugar its Production, Technology and
uses, N. York, 1969, p.III .
3 O Mediterrâneo e o Mundo Mediterrânico, Lisboa, 1983 [1ª edição em 1966], p.178
4 Mito e Mercadoria Utopia e Prática de Navegar. Séculos XIII-XVIII, Lisboa, 1990, p.478
necessidade de permanente actualização da tecnologia de fabrico do açúcar,
situação que se tornou mais clara no século XVIII com a concorrência da beter-
raba. Mesmo assim ainda hoje persistem em alguns recantos do Mundo, na
China, Índia ou Brasil, onde a tecnologia da revolução industrial ainda não
entrou.
7 João José Carneiro da Silva, Estudos Agrícolas, Rio de Janeiro, 1872, p.94
8 António Aragão. A Madeira Vista por Estrangeiros.1455-1700, Funchal, 1981, 85-86.
fornalhas ou apenas uma. No engenho de Cristóbal Garcia del Castilho em Tel-
de refere-se que “as fornallas que son todas juntas en el…” 9
9 Manuel Lobo, El Ingenio en Canárias, in História e Tecnologia do Açúcar, Funchal, 2000, p.110-112
economia. Deste modo a França e a Inglaterra assumiram a posição pioneira no
desenvolvimento da tecnologia. Os Franceses detinham importantes colónias
açucareiras nas Antilhas, enquanto os Alemãs apostavam forte em Java. Os
ingleses surgem por força da colonial nas Antilhas e Índia e os Estados Unidos
da América com New Orleans e, depois o Havai. Cuba foi um dos espaços açu-
careiros onde mais se inovou em termos tecnológicos. As primeiras décadas do
século XIX foram de plena afirmação da ilha, que se transformou em modelo
para a indústria açucareira.
Em França tudo começou com o químico Charles Derosne (1779-1846) que mon-
tou em 1812 uma fábrica de construção de aparelhos de destilação continua.
Nesta empresa passou a trabalhar em 1824 J. F. Cail na qualidade de operário
de carvão, que em 4 de Março de 1836 passa à condição de associado. A socie-
dade Derosne et Cail manteve-se até 1850, altura em que passou a chamar-se J. F.
Cail et Cie, que em 1861 passou a cooperar com a nova Cie Fives-Lille, especiali-
zada no fabrico de equipamentos para fábricas de açúcar e caminhos-de-ferro.
Os equipamentos, saídos da empresa Cail, chegaram às colónias holandesas,
espanholas, inglesas e francesas, México, Rússia, Áustria, Holanda, Bélgica e
Egipto. À indústria francesa juntaram-se outros complexos industriais na Euro-
pa: Inglaterra (Glasgow, Birmingham, Nottingham, London, Manchester,
Derby), Holanda (Breda, Roterdão, Schiedam, Ultrecht, Delft, Hengelo, Ams-
terdam), Estados Unidos da América (Oil City, Ohio, Denver, New Jersey),
Alemanha (Magdeburgo, Zweibruecken, Halle, Dusseldorf, Sangerhausen,
Ratingen, Halle), Bélgica (Bruxelas, Tirlemont).
Na Inglaterra foi desde meados do século XVII um dos mais importantes cen-
tros de refinação de açúcar na Europa. As refinarias proliferam nas cidades de
nas cidades de Bristol, Essex, Greenock, Lancaster, Liverpool e Southampton 10 .
Isto justifica o desenvolvimento tecnológico. Aqui, merece destaque a iniciativa
de Mirless Watson. A abertura às inovações tecnológicas, como forma de tornar
concorrencial o produto, acarreta algumas consequências para a indústria ao
nível nacional. Os investimentos são vultuosos e, por isso mesmo só se tornam
possíveis mediante incentivos do Estado. A inovação e recuperação da capaci-
dade concorrencial só se tornaram possível à custa da concentração. Tanto em
Cuba como no Brasil a década de oitenta foi marcada pelos grandes engenhos
centrais.
10 . John M. Hutcheson, notes on the Sugar Industry of the United Kingdom, Greenock, 1901; Frank Lewis, Essex and sugar,
1976.
ções a produção madeirense dos séculos XV e XVI nunca ultrapassou as 1584,7
toneladas, atingidas em 1510. Apenas no século XX, com a expansão dos cana-
viais, de novo a toda a ilha, se conseguiu suplantar este valor, tendo-se alcança-
do em 1916 as 4943,6 toneladas. O incremento da produção açucareira foi tra-
vado nos anos imediatos por meio dos decretos de 1934-1935 e 1937 regulamen-
tadores da área de produção.
Diversa é também a estrutura fundiária que serviu de base à cultura nos distin-
tos espaços insulares. Enquanto na Madeira a orografia e o sistema de posse da
terra definiram a plena afirmação da pequena e média propriedade, em S. Tomé
ou nas Antilhas estávamos perante a grande propriedade, activada pela grande
força de trabalho escrava. Em Barbados, entre 1650 e 1834, 84% dos proprietá-
rios de canaviais era detentor de mais de cinquenta escravos, enquanto na
Madeira apenas 2% era possuidor de mais de 10 escravos. Por outro lado a área
dos canaviais assumida por cada proprietário era também elevada, pois 64%
destes possuíam canaviais cuja extensão ia de 40 a 121 hectares, situação que es-
tava muito aquém da assumida pelos produtores madeirenses. Na Madeira
apenas um produtor se aproxima deste valor (Pedro Gonçalves com uma área
de 36,9 hectares), sendo os demais com valores inferiores. Os lavradores com
mais de 22 toneladas de produção e com uma área de terreno superior a 14 hec-
tares representam em 1494 apenas 1,3% e 5% para o período de 1509 a 1537.
11 Na Madeira os encargos sobre o açúcar chegaram a 25% enquanto nas Canárias não ultrapassava os 4,5%. A. Bernal e
a. M. Macias, Factor Institucional y Crecimiento Económico. El Ejemplo de Canárias, Congresso Internacional Las Econo-
mias Insulares en Perspectiva História, La Laguna, 2005.
12
António Aragão, A Madeira Vista por Estrangeiros, Funchal, 1981, p.84
Cadamosto: "As suas terras costumavam dar a princípio, sessenta por um, o que pre-
sentemente está reduzido a trinta e quarenta, porque se vão deteriorando dia a dia " 13 . A
situação resulta da solicitação para a exploração intensiva por obrigação geral
dos madeirenses em abastecer as cidades do reino e praças africanas de cereal.
O cereal, que no início da ocupação do solo havia sido a cultura da prosperida-
de, rapidamente cedeu lugar aos canaviais, que em pouco tempo dominaram o
espaço agrícola. A indústria para o fabrico do açúcar exigiu muito do quadro
natural, lançando a ilha para um processo de desflorestação, de consequências
imprevisíveis, e o solo agrícola para a quase total exaustão. A situação é teste-
munhada em 1689 John Ovington: "A fertilidade da ilha decaiu muito relativamente
ao período das primeiras culturas. A cultura sem descanso dos terrenos tornou os fracos
espaços em muitos lugares e de tal modo que os abandonam periodicamente, tendo de
ficar de poisio três ou quatro anos. Depois desse tempo, se não crescer nenhuma giesta
como sinal de fertilidade futura, abandonam-nos, com estéreis. A aridez de muitas das
suas terras atribuem-na simploriamente ao aumento dos seus pecados".
13
Ibidem, pp.36-37
14 O eng. Amaro da Costa fixou em 22.500 Ha a área cultivável e em 50.300 Ha a de florestas e terrenos incultos, mas o
Eng.o. Júlio Augusto de Leiria refere 30.750 Ha, e o Engº Mota Prego em 30.000 Ha. Cf. Ramon Honorato Correa Rodri-
gues, Questões Económicas, vol. I, Funchal, 1953, p.34.
15 Cf. Orlando Ribeiro, A Ilha da Madeira até Meados do Século XIX. Estudo Geográfico, Lisboa, 1985, cap.III; José Manuel
Azevedo e Silva, A Madeira e a Construção do Mundo Atlântico (séculos XV-XVII), Funchal, 1995, vol. I, pp.56-65.
16Agustin Naranjo Cigala e outros, Características Bioclimáticas del Território Antiguamente Cultivado de Caña de
Azúcar en las Islas Canarias, in Açúcar e Quotidiano, Funchal, 2004, pp.271-299; Octávio Rodríguez Delgado, Evolución y
Aprovechamientos de la Vegetación Canaria, Derivados del Cultivo de la Caña de Azúcar, in Açúcar e Quotidiano, Fun-
chal, 2004, pp.283-302.
equilíbrio entre a área dedicada aos canaviais e a disponibilidades de recursos
florestais.
AÇÚCAR E FLORESTA
Área florestal
Produção
Arquipélago Lenha
de açúcar
(ilhas) toneladas Área % em
arrobas
cortada relação
em ha ao total
AÇORES 2.000 3 0,01
(Terceira, S. Miguel)
CABO VERDE 4.000 6 0,03
(Boavista, São Nicolau, Santo Antão e Santiago)
CANÁRIAS 320.000 4.800 24,00
(Gran Canaria, Tenerife, La Gomera, La Palma)
MADEIRA 144.000 2.160 10,80
(Madeira)
S. TOMÉ e PRÍNCIPE 250.000 3.750 18,75
(S. Tomé)
SICILIA 3.030 45 0,22
CRETA
CHIPRE
17 Ob.cit., p.113.
meridional, restando para Machico apenas uma ínfima parcela área e todo um
vasto espaço acidentado impróprio para a cultura.
A fase ascendente, que poderá situar-se entre 1450 e 1506, não obstante a situa-
ção deprecionária de 1497-1499, é marcada por um crescimento acelerado. Esta
forte aceleração do ritmo de crescimento nos primeiros anos do século XVI irá
marcar o máximo, atingindo em 1506, bem como o rápido declínio nos anos
imediatos. Note-se que apenas em quatro anos se atingiu valor inferior ao do
início do século. A situação agrava-se nas duas centúrias seguintes. Mas, a par-
tir de 1521 a tendência descendente é global e marcante, de modo que a produ-
ção do fim do primeiro quartel do século situava-se a um nível pouco superior
ao registado em 1470. Na década de trinta consumava-se em pleno a crise da
economia açucareira e o ilhéu viu-se aos poucos na necessidade de abandonar
os canaviais e de os substituir pelos vinhedos. Giulio Landi, que na década de
trinta visitou a ilha, refere que os madeirenses, levados pela ambição da riqueza
se dedicam "apenas ao fabrico do açúcar, pois deste tiram maiores proventos" 19 .
18 António ARAGÃO, A Madeira Vista por Estrangeiros, Funchal, 1981, p.37; Crónica de Guiné, Porto, 1973, cap.II, p.17.
19 António ARAGÃO, ob.cit.p.86.
Lobos, declara em testamento um chão que "sempre andou de canas e agora mando
que se ponha de mallvazia para dar mais proveito...". Depois, em 1583 Álvaro Vieira
vende a Diogo Pires no Caniço um serrado que fora de canas "e agora anda de
pão" 20 .
Não é fácil estabelecer o número exacto de engenhos que laboraram nas ilhas.
As informações disponíveis são, em muitos dos casos, díspares. Assim, para a
Madeira em 1494 são referenciados apenas 14 engenhos, quando noutro docu-
mento de 1493 se dava conta da existência de 80 mestres de açúcar. Note-se
ainda que Edmund von Lippmann 21 refere para o Funchal 150 engenhos no iní-
cio do século XVI, número que não se coaduna com os valores razoáveis para a
extensão arável da ilha e a produção dos canaviais. Depois, em finais do século
XVI, Gaspar Frutuoso refere-nos 34 engenhos, sendo nove na capitania de
Machico e os restantes na do Funchal 22 . No século dezassete o número de enge-
nhos era reduzido. Assim, em 1602, Pyrard de Laval 23 refere a existência de 7 a
8 engenhos em laboração.
AÇORES. As primeiras socas de cana deverão ter chegado aos Açores a partir
de 1474 por mão de Rui Gonçalves da Câmara, filho do capitão do Funchal,
João Gonçalves Zarco, que na mesma data adquiriu a capitania da ilha de S.
Miguel e se instalou em Vila Franca com a sua família. Os canaviais chegaram
às ilhas de Santa Maria, S. Miguel, Terceira e Faial, mas só temos notícia da
produção para os anos de 1502 e 1510 em que os valores não ultrapassaram um
terço da produção madeirense 24 .
20 Fernando Jasmins PEREIRA, Ibidem, p. 158; Em 26 de Março de 1527 (ARM. CMF, nº.1305, fl.23vº) os funchalenses
fizeram ver ao Rei o prejuízo que lhes causava a concorrência do açúcar de S. Tomé, mas a resposta evasiva da coroa só
surgiu a 8 de Fevereiro de 1528 (ARM. DA, nº.66); Isabel Drumond BRAGA, "A acção de D. Luís de Figueiredo de
Lemos. Bispo do Funchal.1585-1608", III CIHM, 1993, p.572; ARM, JRC, fls. 499vº-500vº, 30 de Maio; fls. 52vº-88, 20 de
Agosto.
21 História do açúcar desde a época mais Remota até ao começo da Fabricação do açúcar de Beterraba, 2 tomos, Rio de Janeiro,
1941-1942.
22 ARM, RGCMF, T. I, publ. in AHM, Vol. XVI, p. 87, doc. 21 Junho 1493; História do Açúcar desde a época mais remota até ao
começo da publicação do açúcar de beterraba, Rio de Janeiro, 1941, p. 13; Livro Segundo das Saudades da Terra, Ponta Delgada,
1979, pp. 99-135
23
François Martin Pyrard de Laval, Voyage de François Pyrard, de Laval, Contenat sa Navegation aux Indes Orientales, aus Malu-
ques e tau Brésil, Paris, 2 vols, 1615.
24 Alberto Vieira, O Comércio Inter-insular nos Séculos XV e XVI, Funchal, 1987, 114.
25 Tenha-se em conta que na Madeira os direitos senhoriais oneravam em cerca de 25% e nas Canárias não ultrapassa-
vam os 5%. Cf A. Bernal e a. M. Macias, Factor Institucional y Crecimiento Económico. El Ejemplo de Canárias, Congres-
so Internacional Las Economias Insulares en Perspectiva História, La Laguna, 2005.
A mesma dificuldade surge quando pretendemos reconstituir os engenhos das
Canárias, pois não existem dados precisos sobre o número exacto, sendo as
informações avulsas. Talvez, a mais precisa seja a de Thomas Nichols em 1526 e
Gaspar Frutuoso na última década do século XVI. Todavia, enquanto os dados
fornecidos pelo primeiro podem ser considerados fiáveis, os de Gaspar Frutuo-
so não parecem corresponder à verdade 26 . O mesmo refere para Gran Canaria
vinte e quatro engenhos, enquanto Tenerife surge apenas com três.
TENERIFE - - 16 12 - 12 8 3 - 2
LA PALMA 2 - 4 4 - - - 5 - 3
LA GOMERA - - 6 1 5 - - 1 - -
TOTAL 2 25 64 29 5 24 16 33 5-9 7
26 Vide A. CIORANESCU, Thomas Nichols, Mercador de Azúcar, Hispanista y Hereje, La Laguna, 1963; Livro Primeiro das
Saudades da Terra, Ponta Delgada, 1984.
27 A. Bernal e a. M. Macias, Factor Institucional y Crecimiento Económico. El Ejemplo de Canárias, Congresso Internacio-
cio Canrio Europeo Bajo Felipe II, Funchal, 1981, p.115] refere apenas 12.
30 Segundo Elisa Torres Santana [El Comercio de las Canárias Orientales en Tiempos de Felipe III, Las Palmas, 1991, pp.295-
32 Cf. António Carreira, Estudos de Economia Caboverdiana, Lisboa, 1982, pp.237-287; João Lopes Filho,”Fabrico do mel e
do grogue”, Cabo Verde. Retalhos do Quotidiano, Lisboa, 1995, pp.155-169
33 Livro Primeiro das Saudades da Terra, Ponta Delgada, p.117
34 Arquivo dos Açores, III, pp.200-201.
AS ILHAS. Não é fácil estabelecer uma comparação do conjunto das ilhas refe-
rido. Primeiro somos confrontados com a questão do número de ilhas e a super-
fície disponível para a cultura. A Madeira apresenta-se apenas com 738 Km2 de
superfície, enquanto as quatro das Canárias surgem com 4672 Km2. Assim, nas
Canárias a área disponível para a cultura subdivide-se em pelo menos quatro
ilhas, podendo jogar aqui a seu favor a lógica da complementaridade económi-
ca, que permite um avanço confortável da cultura, sem qualquer dificuldade de
orientação de política económica de subsistência. Perante isto a cultura terá
maiores condições para se desenvolver. E se juntarmos as isenções fiscais esta-
belecidas, teremos uma situação marcadamente desigual que penalizará a
Madeira a partir do momento que estas ilhas atingem a sua plenitude, isto é, no
segundo decénio do século XVI.
As possibilidades comparativas surge apenas com a ilha de São Tomé, com 859
Km2 de superfície, que, embora os dados não o espelhem correctamente terá
atingindo os níveis de produção de açúcar mais elevados. Segundo alguns auto-
res teríamos aí arrobas de açúcar, só que este era de inferior qualidade e de
menor valia no mercado europeu. O grande momento foi a segunda metade do
século XVI em que temos referências de 200 a 400 engenhos e uma produção de
cerca de 450.000 arrobas 38 , valor que se aproxima das Canárias em 1502, com 4
ilhas ocupando uma superfície cinco vezes superior.
37 . A. T. Matos, Os Donos do Poder e a Economia de S. Tomé e Príncipe no Início de Seiscentos, Mare Liberum, 6, 1993,
182.
38 . Carlos Agostinho das Neves, S. Tomé e Príncipe na Segunda Metade do Século XVIII, Funchal, 1989, pp.22-23
800000
700000
600000
500000
Madeira
400000
Canarias
300000 S. Tomé
200000
100000
0
1502 1510 1520 1534 1583
MADEIRA 16 48 34 4
SÃO TOMÉ 14 49 60 50 70 51 45 52
CANÁRIAS 2 25 64 29 5 24 16 33 5-9 7
39 . Em 1501
40 Em 1517
41 Em 1529
42 Em 1535
43 Em 1580
44 Em 1591
45 A. Bernal e a. M. Macias, Factor Institucional y Crecimiento Económico. El Ejemplo de Canárias, Congresso Internacio-
cio Canrio Europeo Bajo Felipe II, Funchal, 1981, p.115] refere apenas 12.
48 Em 1494
49 Em 1517
50 em 1550
51 em 1595
52 em 1625
não ultrapassa as 30.000 arrobas de produção de açúcar. Entre 1472 e 1517 os
valores oscilam entre o referido e as 10.000 arrobas.
53 Cf. Alberto Vieira, A Madeira, a Expansão e História da Tecnologia do Açúcar, in História e Tecnologia do Açúcar, Fun-
Desde tempos imemoriais que a água foi o motor da História. Saciou a sede os
sedentos, serviu para aproximar os homens, ou para substitui-lo em algumas
tarefas e dar vida e riqueza aos campos. Por tudo isto a água assume uma fun-
ção vitalizadora da economia. Desta relação dominante da água chegou-se à
teorização de que os grandes empreendimentos hidráulicos são resultado de
teocracias despóticas. O despotismo egípcio e oriental foi uma necessidade
premente resultante da subjugação à água. Para Wittgofel 56 as necessidades
resultantes do sistema de irrigação obrigaram a formas de governo despóticos.
Segundo Fernand Braudel a cultura de sequeiro identifica-se com a liberdade e
56
A. Wittfogel, Despotismo Oriental. Estúdio comparativo del Poder Totalitário, Madrid, 1966.
a de regadio com a escravatura. Foi isso, na verdade, que aconteceu nas ilhas,
pois o Homem para dispor da água de regadio amordaçou-se a si próprio. Os
escravos traçaram as levadas e os heréus envolveram-se numa subjugação total
à água, alimentada, por vezes com querelas.
Desde muito cedo que temos noticia de medidas das autoridades no sentido da
preservação da floresta e de evitar o desbaste acelerado das terras, de forma a
evitar a erosão dos solos. Mas de pouco serviram estas medidas para travar o
desastre ecológico. Foi o engenho do homem que contribuiu para travar o pro-
cesso, com o chamado sistema de fornalhas agrupadas, que ficou conhecido a
partir do século XVII como trem jamaicano, uma inovação no sistema de forna-
lhas e de disposição das caldeiras que permitiu uma notável poupança de
lenhas. Apenas com uma fornalha era possível levar calor às cinco caldeiras. A
isto juntou-se em muitos sítios, excepto no Brasil, o uso do bagaço da cana como
combustível. O homem serve-se da própria cana para atear o fogo que a con-
sumirá, contribuindo assim para a preservação da floresta.
60Antonio Malpica Cuello, El Médio Físico y sus Transformaciones a Causa del Cultivo de la Caña de Azúcar en época
Medieval. El Caso de la costa de Granada, in História e Tecnología do Açúcar, Funchal, 2000, 103.
61 Acarga de lenha era a quantidade de lenha que um animal podia transportar, sendo o seu peso variável. António
Santana[Revolución del Paisaje de Gran Canaria(siglos XV- XIX), Las Palmas, 2001] que cada carga corresponderá a cerca
de 11,5 kgs. ]Eduardo Aznar Vallejo, Ana Viña Brito, El Azúcar en Canárias, La Caña de Azúcar en Tiempos de los Grandes
Descubrimientos. 1450-1550. Actas del Primer Seminário International, Motril, 1989, p.180.
62 Warren Dean, A Ferro e Fogo, São Paulo, 1996, p.97.
63 ibidem, p.191
64 Manuel Moreno Fraginals, O engenho, vol. I, S. Paulo, 1988, p.109. Cf. J. F. Dutrône de la Couture, Précis sur la Canne et
sur les Moyens d’en extrair ele sel essentiel, suivi de plusieurs Mémoires sur le sucre, sur le vin de canne, sur indigo, sur les habita-
tions & sur l’état actuel de Saint-Domingue, Paris, 1790.
A devastação da floresta causou efeitos destrutivos considerados catastróficos.
A situação foi mais evidente nas ilhas onde o hinterland era reduzido. A primei-
ra imagem disto está na ilha de Chipre, onde a construção naval e a exportação
de lenhas e madeiras levaram a que perdesse rapidamente o epíteto de ilha
verde, dado pelos antigos. A situação repete-se na Madeira, Canárias e na maio-
ria das Antilhas. As primeiras consequências da cultura açucareira para a flores-
ta ocorreram já nas ilhas e costas do Mediterrâneo. Chipre ficou conhecida pelos
antigos como a ilha verde, pela abundância de floresta, mas rapidamente per-
deu o epíteto com a exploração açucareira 65 . Na Sicília, Carmelo Trasselli 66
chama a atenção para o facto de a cultura açucareira ter acabado com o equilí-
brio precário que existia entre o homem e a natureza, conduzindo ao paulatino
desboscamento do entorno de Palermo e, por consequência às alterações climá-
ticas do século XV. O mesmo sucedeu na costa espanhola, nomeadamente em
Motril, Salobreña e Algeciras 67 .
Foi nas ilhas, onde o espaço florestal é limitado, em que o equilíbrio entre este
recurso e a agro-indústria de exportação é precário. A história do Açúcar reve-
la-nos que o período médio de afirmação das culturas não chegava a um século.
Sucedeu assim na Madeira, como em nalgumas ilhas das Canárias e nas Anti-
lhas, como foi o caso de Jamaica.
65 J. V. Thirgood, Man and the Mediterranean Forest. A History of Resource Depletion, Londres, 1981, p.124. Sobre o açúcar
veja-se: Sidney M. Greenfield, Cyprus ant he Beginnings of Modern Sugar Cane Plantations and Slavery, in La Caña de
Azucar en el Mediterraneo. Actas del Segundo Seminario International, Motril, 1992, 23-42; Marie-Louise Von Wartburg,
Desing and Technology of thr Medieval Refineries of the Sugar Cane in Cyprus. A Case of Study in Industrial Ar-
chaelogy, in Paisajes del Azucar. Actas del Quinto Seminario International, Motril, 1995, 81-116.
66 Gloria de lo Zucchero Siciliano, Roma, 1982, pp. 96-99; Antonino Morreale, Lo Zuccherificio e l’impatto sull’ambiente in
Sicília tra XV e XVII secolo, in História e Meio-ambiente o Impacto da Expansão Europeia, Funchal, 1999, 159-180; Cf. Henri
Bresc, La Canne a Sucre Dans la Sicile Medievale, in La Caña de Azucar en el Mediterraneo. Actas del Segundo Seminario
International, Motril, 1992,43-57.
67 Antonio Malpica Cuello, Médio Físico y Territorio: el Ejemplo de la Caña de Azúcar a finales de la Edad Media, Actas
del Quinto Seminario de la Caña de Azúcar. Paisajes del Azúcar, Granada, 1995, 11-40; Idem, El Médio Físico y sus Transfor-
maciones a Causa del Cultivo de la Caña de Azúcar en época Medieval. El Caso de la costa de Granada, in História e
Tecnología do Açúcar, Funchal, 2000, 87-104.
montes próximos do Funchal, com excessivo prejuízo para os lavradores do
açúcar e, por isso, D. Manuel repreendeu-o, solicitando que tais concessões
deveriam ser feitas na presença do Provedor. E, finalmente, em 1485, o mesmo
proibiu a distribuição de terras de sesmaria nos montes e arvoredos do norte da
ilha, para em princípios do século XVI (1501 e 1508) acabar definitivamente com
a concessão de terras em regime de sesmaria, a única ressalva eram as terras
que pudessem ser aproveitadas em canaviais e vinhedos.
Para os dados acima referidos temos que o fabrico de açúcar entre 1455 e 1698 condu-
ziu ao corte de mais de 5.000 Ha de floresta da ilha, sendo a média anual de cerca de
106Ha ano. O período de maior produção, de 1493 a 1537, foi também o de maior
depredação das zonas altas da vertente sul, com mais de 3.834Ha, atingindo de forma
especial a vertente sul. Deste modo redobraram-se as atenções das autoridades munici-
pais e as medidas determinadas em vereação no sentido de controlar o abate desmedido
de árvores.
92(1977), 7-10; James J. Persons, Human Influences on the Pine and Laurel Forests of the Canary Islands, in Helen
Wheatley, Agriculture, Resource Exploitation and Environmental Change, Hampshire, 1997, 169-187; Richard Grove, Con-
serving Eden. The (European) East India Companies and their Environmental Policies on St. Helena, Mauritius and in
Western India, 1600-1854, in, ibidem, pp. 319-320; Agustin Naranjo Cigala e outros, Características Bioclimáticas del
Madeira, tiveram grande incremento nas ilhas de Gran Canaria, La Gomera, La
Palma e Tenerife, as únicas do arquipélago onde a reserva de água e floresta foi
suficiente para manter a cultura num curto lapso de tempo. Na ilha de Gran
Canaria a cultura dos canaviais aconteceu numa faixa abaixo dos 600 metros de
altitude, compreendendo Las Palmas, Telde, Guia La Aldea, Agaete, Tirajana e
El Ingenio. A floresta vizinha, nomeadamente em Las Palmas, Tamaraceite,
Telde, Arucas e Palmital de Guia, sofreu rapidamente o efeito devastador da
produção açucareira. Assim, de acordo com o Libro Rojo 71 “toda la madera que ay
en las mantañas de la dicha ysla se reparten entre elllos(os engenhos) para fabricacion de
azucares”. As ordenanzas de 1531 72 insistem no estado deplorável dos montes
da ilha, em especial a montanha la Lentiscal, que se encontrava “ muy cortada y
muy talada y en toda ella no hay leña gruesa a cuasa de que los señores de ingenio han
cortado”. Passados trinta anos o inglês T. Nichols referia que a madeira era a
coisa mais desejada na ilha 73 . Perante esta situação as autoridades insulares
foram forçadas a estabelecer medidas de preservação da floresta, regulamen-
tando o abate para lenhas e madeiras a serem usadas nos engenhos de açúcar 74 .
Os Acuerdos do Cabildo de Tenerife 75 e as ordenanzas 76 de algumas das ilhas evi-
denciam-se bem desta luta das autoridades pela preservação da floresta, em que
o principal carrasco é o açúcar.
Território Antiguamente Cultivado de Caña de Azúcar en las Islas Canarias, in Açúcar e Quotidiano, Funchal, 2004,
pp.271-299;
71 P. Cullen del Castillo, Libro Rojo de Gran Canaria, Las Palmas, 1947.
72 F. Morales Padrón, Las Ordenanzas del Concejo de Gran Canaria(1531), Las Palmas de Gran Canaria, 1974.
73 Alejandro Cioranescu, Thomas Nichols, mercader de Azúcar, Hispánista y Hereje, La Laguna, 1963.
74. Cf. Ana Viña e Manuela Ronquillo, El Control Normativo del Azúcar en Canarias, in O Açúcar e o Quotidiano, Fun-
Acuerdos del Cabildo de Tenerife (1514-1518), La Laguna, 1965; E. Serra Ráfols, e L. De La Rosa Olivera, Acuerdos del Cabildo
de Tenerife(1518-1525), La Laguna, 1970; L. De La Rosa Olivera e M. Marrero, Acuerdos del Cabildo de Tenerife (1525-1533),
La Laguna, 1986; L. De La Rosa Olivera e M. Marrero, Acuerdos del Cabildo de Tenerife(1525-1533), La Laguna, 1986; M.
Marrero, M. Padrón e B. Rivero, Acuerdos del Cabildo de Tenerife(1538-1544),La Laguna, 1996; M. Marrero, M. Padrón e B.
Rivero, Acuerdos del Cabildo de Tenerife(1545-1549),La Laguna, 2000;
76 J. Peraza de Ayala, Las Antiguas Ordenanzas de la Isla de Tenerife, La Laguna, 1935; F. Morales Padrón, Las Ordenanzas
del Concejo de Gran Canaria (1531), Las Palmas de Gran Canaria, 1974; A. Viña e E. Aznar Vallejo, Las Ordenanzas del
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Canárias nos séculos XV e XVII, VII Colóquio de Historia Canário Americana, vol. II, Las Palmas de Gran Canaria, 1990,
677-711.
77 Deverá ter-se em conta que a arroba nas Canárias equivalia a 11,5 Kgs, enquanto na Madeira até 1504 era de 12,852
A crise açucareira da segunda metade do século XVI não surge apenas como
resultado da concorrência do açúcar de novas áreas, mas acima de tudo das
dificuldades internas da própria cultura. O espaço da ilha é de recursos limita-
dos que facilmente se esgotam. Sucedeu assim na Madeira como nas Canárias.
As ilhas, pela limitação do espaço, foram os primeiros espaços a ressentir-se da
realidade. Sucede assim em ambos os lados do Atlântico, apontando-se como
única excepção as ilhas de S. Tomé e Príncipe. Nas Caraíbas a situação é igual.
Na então ilha de Santo Domingo, hoje Haiti e Rep. Dominicana, a cultura da
cana teve um apogeu curto de pouco mais de cinquenta anos, pois que em 1550
a notória escassez de lenha conduziu ao abandono de muitos engenhos desde
1570. Já em Jamaica, a promoção pelos ingleses da cultura, levou à busca de
soluções. Primeiro o trem jamaicano que terá sido a solução mais eficaz. Com
este sistema de fornalha o aproveitamento de lenha era evidente, pois apenas
com uma só fogueira se conseguia manter as três fornalhas. Concomitantemen-
te tivemos o recurso ao bagaço como combustível. Note-se que ambas as situa-
ções difundem-se primeiro nas Antilhas inglesas a partir da década de oitenta
do século XVII e só depois atingem as demais áreas açucareiras. A generaliza-
ção do sistema aconteceu primeiro nas ilhas, carentes de lenha, e só depois che-
gou ao Brasil. A sua entrada definitiva na indústria açucareira do Brasil é de
1806, altura em que Manuel Ferreira da Câmara, na Baía, adaptou o seu enge-
nho a esta nova situação. Todavia nesta época a grande inovação era já a
maquina a vapor, que começou a ser usada no Brasil a partir de 1815. Entretan-
to a Caldeira de vacum, inventada em 1830 por Norbert Rillius de New Orleans,
foi a técnica que revolucionou o fabrico do açúcar e que mais contribuiu para a
economia de combustível.
78 Gaspar FRUTUOSO, Livro Quarto das Saudades da Terra, Vol. II, pp. 59, 209-212; V. M. GODINHO, ob. cit., Vol. IV, F.
Carreiro da COSTA, "A cultura da cana-de-açúcar nos Açores. Algumas notas para a sua História" in Boletim da Comissão
Reguladora do Comércio de cereais dos Açores, nº 10, 1949, 15-31.
79Conquista de la Isla de Gran Canaria, La Laguna, 1933, p. 40; José PÉREZ VIDAL, Los Portugueses en Canarias. Portugue-
sismos, Las Palmas, 1991; Felipe FERNANDEZ-ARMESTO, ob. cit., 14-19; Pedro MARTINEZ GALINDO, Protocolos de
Rodrigo Fernandez (1520-1526). Pimera parte, La Laguna, 1982, pp. 67, 84-90; Guilhermo CAMACHO Y PÉREZ GALDOS,
"El cultivo de la cana de azúcar y la industria azucarera en Gran Canaria (1510-1535) in AEA, nº 7, 1961, 35-38; Maria
LUISA FABRELLAS, "La producción de azúcar en Tenerife" in Revista de História, nº 100, 1952, 454/475; Gloria DIAZ
PADILLA, e José Miguel RODRIGUEZ YANES, El Señorio en Las Canarias Occidentales..., Santa Cruz de Tenerife, 1990, p.
316.
80 CF. José PEREZ VIDAL, "Canarias, el azúcar, los dulces y las conservas", in II Jornadas de Estudios Canarios-America,
81 Isabel Castro Henriques, O Ciclo do açúcar em S. Tomé nos séculos XV e XVI, in Albuquerque, Luís de (dir.), Portugal
Historia de las Indias, Vol. I, México, Fundo de Cultura Económica, 1986, p. 497.
ções de ser oferecido ao melhor preço. Francisco Pyrard de Laval testemunha a
situação: “Não se fale em França senão no açúcar da Madeira e da ilha de S. Tomé, mas
este é uma bagatela em comparação do Brasil, porque na ilha da Madeira não há mais de
sete ou oito engenhos a fazer açúcar e quatro ou cinco na de S. Tomé” 85 . E refere que
no Brasil laboravam 400 engenhos que rendiam mais de cem mil arrobas vendi-
das como da Madeira.
car" in B. Açúcar, nº 32, 1948, pp. 165-168; Arquivo Geral da Alfândega de Lisboa, livro 54, fl. 41; Documentos para a História
do Açúcar, ed. I, A. A. Vol I, Rio de Janeiro, 1954, pp. 121-123, 5 de Outubro 1555; ARM, RGCMF, T. I, fl. 372vº.
90 ARM [Arquivo Regional da Madeira], Misericórdia do Funchal, nº.711, fls.114-115: 7 de Março.
91 ARM, JRC [Julgado de Resíduos e Capelas], fls. 391-396: 11 de Setembro de 1599.
especializados era controlado pelas autoridades, no sentido de evitar a concor-
rência de outras áreas com o Brasil. Sucede que em 1647 92 Richarte Piqueforte
vendera um escravo, “oficial de asucares”, a um mercador francês que o preten-
dia conduzir a S. Cristóvão. A coroa entendia que a saída não deveria ser auto-
rizada e que o escravo deveria ser adquirido e embarcado para o Rio de Janeiro
às ordens do Provedor da Fazenda, para aí ser vendido.
CONCLUSÃO.
92 NA [Arquivos Nacionais]. PJRFF [Provedoria e Junta da Real Fazenda do Funchal], nº.980, fls. 182-183: 3 de Setembro.
93 Em 1579 (ARM, Misericórdia do Funchal, nº 711, fls. 114-115) Gonçalo Ribeiro refere ser devedor a Manuel Luís, mestre
de açúcar, "que agora está em Pernambuco". José António Gonsalves de MELLO, João Fernandes Vieira. Mestre de Campo do
terço da infantaria de Pernambuco, Vol. II, Recife, 1956, pp. 201-267. ARM, J.R.C., fls. 391-396: Testamento de 11 de Setem-
bro de 1599.
94 Cf. David Ferreira de Gouveia, ibidem, p.127.
95 Cf. John G. Everaert, Les Lem, Alias Leme Une Dynastie Marchande d’ origine Flamande au Service de l´Éxpansion
Portugaise, in Actas do III Colóquio Internacional de História da Madeira, Funchal, 1992, pp.817-838.
exploração da cultura e, depois, porque jogou papel fundamental na sua expan-
são ao espaço exterior próximo ou longínquo, desde os Açores e Canárias, Cabo
Verde, S. Tomé e Príncipe, até ao Brasil e, de forma indirecta, às Antilhas.
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