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Primeiro Caderno
Rio, 20/11/1984
Rio, 21/11/84
Rio, 22/11/84
Rio, 27/11/84
Rio, 29/11/84
Rio, 3/12/84
Rio, 5/12/84
Rio, 10/12/84
Rio, 12/12/84
Rio, 20/12/84
6 km - Acordei às 4 da manhã e fiquei rolando na cama até 7 hs. Aí
resolvi correr. Depois de uma sinusite que me tirou de tempo, uma semana de
frio, um fim de semana super merdel no Hospital do Andaraí, com o Mazinho e
a Beth quebrados por causa da batida que deram, saí para correr hoje.
Resolvi fazer só 6 km por causa da corrida de domingo, e sem forçar.
Para minha surpresa, achei que estava indo razoavelmente devagar e terminei
em 31’20”, inteirão, com 170 bpm. Por volta do km 4 é que não fiqueimuito
confortável, com um pouco de pressão no peito, mas depois passou, e terminei
numa boa.
Rio, 22/12/84
6 km - Corri ontem e não relatei. Por isso, faço-o hoje. Foi uma corrida
que comecei bem lenta, só para descontrair. Fiz os 3 primeiros kilometros em
15 minutos e alguma coisa, sem novidades.
Na volta, vim devagar também, mas me preocupando com um cara que
acompanhei durante uns 1.500 m na ida, e resolvi não deixar passar na volta.
Mas ele foi por fora, e eu logo me distanciei. Cerca de 2 km antes do fim, senti
passos, muito pouco ruído, logo atrás de mim, e acelerei. Acelerei mais, e
comecei a bufar, mas mantive; os passos sumiram. Relaxei um pouco, e
novamente os passos. Aí acelerei e fiquei firme, não relaxei mais. Fui
calculando a distância que faltava para o fim da corrida, e dando tudo, sentei o
cacete. Quando cruzei os 6 mil, passou logo um negão imenso, magro e
descalço, eram dele os passos. E eu estava no máximo, a 190 bpm, e o tempo
foi de 31’15”. Foi a estréia do “tô na merda”.
Rio, 25/12/84
Rio, 26/12/84
8 km - Mais oito, em 40’25”, numa boa, a não ser pelos 300 m finais, com
um início de dor de viado bem forte, do lado direito. A próxima corrida será
em Recife, como nos velhos tempos. Terminei com 170 bpm. Não vejo a hora de
botar um bom pega com Vô em Boa Viagem, Candeias, passar pela minha antiga
casa na Barão de Amaragi, onde tudo começou. A morte e a nova vida, uma
passagem, difícil, mas, acredito, para melhor. Até Recife.
Recife, 30/12/84
Recife, 2/1/85
Recife, 7/1/85
8 km - Corrida do dia.
Saí só da casa da Maria. Com meu speedo novo, já que o To na merda
está na casa do Odilon. Realmente, o melhor tênis que já calcei até hoje. É
simplesmente fantástico. Saí em direção ao Pina, às 8.20. Fui correndo numa
boa, apesar do calor. Revendo meus lugares queridos, só comigo. Vi vários
locais conhecidos e muitos novos, fiquei chateado de vr o Forno de Lenha
desativado, o Kiss agora é Kiss-me, e muitos lugares simplesmente mudaram de
nome, o que me fez pensar que muitos francos-atiradores se metem em
negócio de restaurante, e sua descontinuidade e inconstância os leva a
desistirem ou a falir ou vender rapidamente seus negócios. Isso, conjecturei,
me explica o baixo nível de serviço, pouca qualidade no atendimento e até
mesmo na comida e bebida servidos, de pessoas que não entendem nada do
negócio e se metem nele, e só podem fazer merda. Mas isso só para passar o
tempo; vi o Acaiaca, prédio marco importante de Boa Viagem, vi os dois prédios
marrons e com vidros fume marrons, um deles o Catamarã, com dois totens
muito bonitos na portaria, o prédio que sempre achei o mais bonito de Recife.
Passei pelo Lobster, de tantos almoços gostosos e baratos, pagos com
ticket na época das vacas mais gordas.
Senti muito o esforço também, o esgotamento aumentando junto com a
temperatura, que chegou a cerca de 34º. A minha, interna, devia estar acima
do normal também. Foi muito desconfortável, o sol quente na cabeça, o ar
quente respirado, que não satisfaz, enfim, senti demais. Fui até uma placa
indicativa de 1.000m, depois do Lobster.
Calculo uma corrida de uns 8 km, um pouco mais, provavelmente. Levei
45 min., cheguei morto, com cara de moribundo, a 180 bpm, e tomei uma água
de coco que fiquei devendo ao Seu Cícero. Foi o melhor de tudo.
Recife, 15/1/85
8 km - Mais uma corrida interessante. Odilon e Eu. Depois de uma noite
de muita cerveja, dormindo mais de uma da manhã, o cara me aparece às 7.30
da manhã para me acordar. Foi meio difícil. Saímos para a Avenida, dispostos a
correr 8 km, devagar. Procuramos a placa de 3,5 km, à direita da rua da Maria,
em direção de Piedade. Partimos, com um sol escaldante, quase oito horas, e
fomos em direção ao Pina, até a placa de 500m depois do 0 e voltamos. Na
volta, uma briga de um coroa com um rapazinho, que o Odilon apartou, foi
realmente a única coisa digna de nota na corrida, além, é claro da imensa
beleza da praia de Boa Viagem,, da curtição de ver as construções, os novos
restaurantes, os antigos lugares, tudo motivo de muita saudade para mim.
Fizemos em cerca de 46 minutos, mas temos que descontar a parada da briga,
uns dois minutos. Faltando cerca de 1 km, comecei a apertar o passo, e,
faltando uns 500 m, dei tudo, corri mesmo, forçando bastante o ritmo, com o
Odilon na minha cola. Terminei com 170 bpm.
Jaboatão, 17/11/85
Recife, 27/01/85
Rio, 6/02/85
Rio, 12/02/85
Rio, 14/02/85
8 km - Corrida do Carnaval.
Com um ligeiro aquecimento, que originou um susto e ao mesmo tempo
uma novidade – câimbra na sola do pé esquerdo – comecei a corrida às 11 horas
e 20’.
Saí num ritmo rápido, sem forçar demais, mas nos 2 km já tinha um
tempo de 9’12”, o que me fez até reduzir um pouco, para não pagar um preço
alto no final. Foi tudo bem, só que tive um pouco de dor de viado já em Copa.
Encontrei o Jorge na Francisco Otaviano, entrando já na Atlântica. Dali ele
sumiu rápido. Chegou uns 6 ou 7 minutos na minha frente. Correu toda a equipe
da AFBNH, uns 20 caras. Meu tempo foi de 38’55”, com 160 BPM. Depois, o
tradicional chop no Varanda, Jorge, Jane e eu.
Rio, 16/02/85
Rio, 20/02/85
Não, não tenho nenhuma corrida a relatar! Não hoje, nem nenhuma
durante o carnaval. Mas dei umas nadadinhas razoáveis num dos locais mais
paradisíacos do mundo, ou melhor, do meu mundo: Garatucaia. Não é uma água
cristalina, mas é limpa e tem a temperatura da água de Recife, com a vantagem
de uma paisagem das mais belas que já vi, até mesmo se comparar aos diversos
cartões postais de outros países ou nacionais.
O litoral sul do Rio é um negócio do outro mundo! Une duas das maiores
belezas naturais na minha concepção: mar e montanha. Grandes enseadas
circundadas por altas montanhas de frondosas matas ou de vegetação tropical,
como bananeiras. Lindo, maravilhoso! Pois bati um bom frescobol com um novo
conhecido, Nico, e até me surpreendi com as boas jogadas que consegui fazer.
Dá prazer jogar sem errar muito, fazendo um jogo rápido e preciso. Por isso,
pelo prazer de nadar num lugar tão lindo e gostoso, por ter dado minhas
raquetadas, pela boa lembrança de ter passado dois dias em que não me
esqueci do meu corpo e da minha saúde, sem me exceder nem em comida nem
em bebida, embora sem me ligar num esforço maior e sistemático, como uma
longa corrida, não poderia deixar fora destas crônicas de corridas esses
momentos.
Rio, 21/02/85
Rio, 23/02/85
14,4 km - Inteirão e vibrando! Assim foi que terminei a minha primeira longa
preparatória para, como diz Jorgeta, “ o dia mais feliz da vida da Jane em 85”;
exatamente o mesmo percurso da longa do ano passado: saída da rua em
direção ao Leblon, entrada no Jardim de Alá até a Lagoa, volta pela Lagoa em
direção ao Corte de Cantagalo, completando a volta naquele sentido em frente
ao J. Alá, e continuando a correr até em casa, passando pelo mesmo percurso
da Lagoa (aproximadamente mais ¼ de volta), passando pelo Corte e descendo
a Miguel Lemos até a Av. Atlântica, encerrando o percurso no poste de sinal da
esquina, lado direito. Levei 1h16’55”, fiz a volta da Lagoa (começo e fim na
porta do clube em frente ao J. Alá), o mais próximo à água possível, em 40’,
praticamente não tive incômodo nenhum, a não ser uma ameaça de dor de viado
(lado esquerdo, o que é raro) nos 4 primeiros km, sem mais nenhum problema.
Terminei com 160 BPM, e cheguei em casa e ainda dancei o Banho de Cheiro,
com a Elba, numa boa. A verdade é que estava cheio de disposição para correr,
cheio de gana, e isso muda realmente tudo.
No ano passado, me lembro que fiz esse percurso com ais dificuldade,
cheguei a parar na subida do Corte de Cantagalo por não agüentar mais.
Cheguei, também, muito mais estafado. Aliás, eu estava retomando treinos
interrompidos praticamente há uns 3 meses. Esse ano não. Mesmo de férias,
mantive minha corridinha, e estou já há algum tempo intensificandomeu ritmo.
De qualquer forma, tive hoje a meu favor um tempo fresco, nublado, com 23º
de temperatura. Foi ótimo! Estou animadíssimo!!!
+- 8 km. Fiz uma corrida diferente na segunda. Saída no km 39, ida até o
J. Alah, e volta pela Lagoa, até a esquina da Alm. Gonçalves com Atlântica.
Qual a distância? Não sei, mas fiz em 46 min, sem correr muito. Me senti bem.
Não posso afiançar, mas tomei uma dose de Aurum Metalicum 0200 no dominto
e uma de Argentum Nitricum 0200 na própria segunda, (terminei com 160
BPM) o que pode ser a razão de minha melhora, reeditando antigos remédios
do Dr. José Laércio do Egito. Não tenho tido pique para fazer bons e
interessantes relatos das corridas, até porque o medo e a dúvida voltaram a
ser a tônica delas, o que me tem deixado pouco interessado em relatar coisas
pitorescas como a descoberta, numa corrida recente, do “homem da vassoura”,
provavelmente inspirado no homem da bengala.
8,6 km - dia 29, sexta. Não queria forçar muito, já que pretendia fazer a
clínica da maratona, no domingo às 7 hs. Por isso, resolvi fazer o percurso da
Jane e depois correr alguma coisa. Fiz 1200X400X1200X400X1200X400
(corrida e caminhada) bem lento, com a Jane. Daí fiz 5 km em 29 minutos,
como um esquentamento, suave e calmamente, me preocupando apenas em
espaçar bem as passadas, como uma experiência no estilo de corrida.
20 km - dia 31, domingo. Grande dia, minha primeira longa com vistas à
maratona. Saímos do aterro às 7h30’. No aterro me juntei a dois colegas:
Edson, gordo, sem correr há um ano, e Lívia, 46 anos, preocupada com o
próprio corpo desde os 40. Fomos juntos os 3 até o Alberico, quando Edson
parou. Continuamos nós dois, fomos ao Leblon e voltamos; fiquei na Figueiredo,
perfazendo os 20 em 1 h 58’, com 160 BPM. Tivemos água no posto
Marrequinho, depois em Ipanema i.v. e depois quando parei tomei um côco. O
cansaço foi grande, mas não como minha primeira longa do ano passado, quando
senti dores terríveis. Foi bem melhor.
Rio, 8/04/85
8,8 km - Não fiz minha longa do fim de semana. Sequer corri uma parte
disso, como cheguei a pretender. Faltou ânimo e, sobretudo, convicção.
Corri hoje com a Jane seus 1000X200X800X200X400 (corrida e
caminhada). Marquei 6’35” do seu km. Sentiu dores nos joelhos e não
completou seu programa.
Eu cheguei em casa podre. Via-se na minha cara o esgotamento. Fiz o
programa da Jane e, depois, corri 6 km. Saí dos 3.000, fui ao Leme, e voltei.
Corri bem. Meditei e orei durante todo o tempo. Minhas orações racionais.
Respirei pelo nariz todo o tempo. Terminei em 29’20” e 160 BPM.
Rio, 17/04/85
10 km - Saí para correr 12 km. De manhã cedo. Acordei às 6 hs. Cocô,
barba, me vesti e fui à luta. Depois de uns 10 minutos de aquecimento, parti do
29 às 6.30’, para o Leblon. Saí rápido. A manhã, quente e abafada, aliada ao
desgaste de minha longa de domingo, me fez sentir cansaço. Quase chegando
no canal, comecei a me aproximar de um cara, e achei que ia passá-lo. De
repente, ele começou a fugir, quando eu estava a uns três ou quatro metros
dele, algo como se ele tivesse percebido minha proximidade e tivesse resolvido
não se deixar ultrapassar. Comecei a tentar acompanhar e, logo, percebi que
não seria bom, pois ainda não tinha atingido os 6 km. Me segurei e o cara parou
no Leblon. Na volta, mantendo os 5 X 1, comecei a sentir aquela pressãozinha
no coração, e senti desejo, várias vezes de aliviar. No ALBERICO’S, km 37,
resolvi, após constatar os 8 km em 40’10”, reduzir. Fiz o nono em 5’45” e, aí,
achei melhor parar nos 49, fazendo só 10. Terminei com 51’30” e 160 BPM,
numa boa depois de fazer os últimos 2 km maid de leve. O presente do dia foi
uma morena ótima de roxo, correndo em direção ao posto 6, já na minha fase
de desaceleração, que me deu vontade de começar a correr de novo.
Rio, 23/04/85 - terça-feira
Desta vez, exagerei. Fiquei sem relatar duas corridas, a de sexta pela
manhã e minha longa de domingo. Começo, entretanto, pela de hoje:
Corrida de hoje.
Acordei às 6hs da manhã, frio e escuro. Me aqueci no hall do 11º andar,
para acordar. Depois de ter enfaixado o dedo machucado com bastante
algodão e esparadrapo, e colocar meu speed-o novo, desci para meus 10 km.
Senti dores nas canelas no aquecimento. Realmente, é difícil para mim correr
de manhã. Fiz o percurso 29 > 39. O dia estava lindo, a temperatura perto dos
20 º, muita gente bonita correndo, fazendo ginástica.
Saí meio forte, e nos 2 km iniciais estava em 9’30’’. Fui pela rua o tempo
todo, e senti, com isso, melhora na minha tração, já que não “escorregava” na
pedra portuguesa com areia da corrida de segunda à noite. Na volta do Leblon,
como voltei pela calçada, senti um pouco esse problema. Foi uma ótima corrida,
em que mantive o ritmo constante, sem sentir cansaço. Só tive problemas
quando ia chegando ao Leblon, quando um incômodo pigarro me atrapalhou a
respiração pelos esforços que fiz para expulsá-lo por mais de 500 m. Depois,
me recuperei. Corri o tempo quase todo em steady-state, numa boa.
Rio, 21/05/85
8km Primeiro, minha corrida de ontem. Depois de um dia de distonia branda,
em que inclusive tomei meio somalium, no intuito exclusivo de não sofrer à toa,
fui correr com a Jane. Já estava bem quando saí para correr, mas, como
estava com dores musculares, resolvi correr com a Jane, lento e macio.
Acontece que, simplesmente, ela correu QUATRO KILOMETROS, em pouco
mais de 20 minutos. Ela se confundiu e pensou que estava correndo três.
Ficamos contentes, vibrando mesmo. Daí eu prossegui até fazer meus oito, em
cerca de 45 minutos, com 130 BPM.
Hoje fui ao Dr. Sérgio Pasqualetti, um contato agradável. Uma boa pessoa, um
bom médico. Ficou cerca de uma hora comigo, com toda atenção, enfatizando
minha boa saúde e aspectos psicológicos de minha “doença” do coração. Muito
sutil, muito perspicaz, com aquela tendência do brasileiro para psicólogo.
Argumentos inteligentes e um tanto paternal, o que, afinal, me incomodou um
pouco. Não me examinou, fê-lo através dos exames que lhe apresentei,
elogiando meu estado de saúde, verdadeiramente de atleta, segundo disse.
Enfatizou, o que me impressionou grandemente, que o mais importante
para ele, 80 % do diagnóstico, acima de qualquer resultado de exames, é
fornecido pela história do paciente. E a miha história, ele sacou logo, é
distonia, em face do meu perfeccionismo que não admite uma falha que não
posso corrigir (o “prolapso”), a consciência da morte, de que vou morrer,”de
preferência” igual a Papai – meu inconsciente.
Colocou-se à disposição para o que puder fazer para ajudar. Quando saí,
a casa cheia indicava o tempo acima do normal que me dedicara. Gostei, me
afagou o ego, me fez sentir mais seguro.
Rio, 25/05/85
Um grande dia – Cerca de 32 km em cerca de 3h 5’, sem as terríveis dores do
final das longas. Jóia.
Porém, antes um retrospecto, porque fiquei devendo o relato de quinta-
feira:
12 km – Depois de terça, quarta e até a própria quinta com dores nas canelas,
no ombro esquerdo e na coluna (?), fui para os 12 com o Johny. Ele com os
problemas no joelho, depois de mandar preparar um Nike num sapateiro daque
de perto com uma cunha para hiper pronação.
Passamos o dia juntos, fomos buscar a Barbarela e fomos ao Fizman.
Não consegui ser examinado, mas marquei para terça-feira. Fizemos 29
>40>39, devagar, numa boa, sem problemas maiores. No início, senti a canela
esquerda, a mesma que quase me arrebenta no ano passado. A dor nas costas
não atrapalhou e do ombro idem. Penso que são fruto de friagem. Quando
vínhamos voltando, pensei em correr só dez, mas acabei resolvendo ir em
frente. Terminamos em 1 h 9’, alongamos, cervejei eu, sucou o Johny, sopamos
de feijão e pimentamos. Tudo maravilhoso.
32 km – Hoje acordei de ressaca. Bebi pouco ontem, mas não comi, enfim,
fiquei com dor de cab Eça pela manhã. Dei o primeiro banho na moto, ficou
linda e saí já atrasado para me encontrar com o Johny, não sem antes brigar
com a Jane, por causa do atraso, culpa minha por ter-me desligado e dela pela
cera na escolha da roupa.
Tinha tomado duas aspirinas e comi um galeto com uma coca pequena,
para não pesar, por volta de uma hora.
Fiquei preocupado com minhas pernas, e me prometi não exagerar. Saí
bem, estreando meu CASIO JOGGING J.30 que ganhei ontem.
Fiz os primeiros 2 km em 10’ e qualquer coisa, e logo parti para reduzir
mais. Fiquei nos 5’30’’, longamente, e me sentindo maravilhosamente bem, sem
problemas nas pernas, apenas o mal estar incomodando um pouco até por perto
do Yatch, me tentando até a voltar, principalmente, creio, por já estar só, com
todo mundo me ultrapassando. Logo em compuz, e comecei a me sentir bem por
estar fazendo uma experiência válida, de regularidade numa razão km/min, que
me faria completar a Maratona em menos de 4 horas, que seria um sonho.
Oir fui muito bem, medindo minhas passagens e fazendo contas de
cabeça para saber minha média. Lá pelos 15, 16, 17, estava na programação.
Como sempre, a energia começa a falhar na descida da perimetral; é o gás se
esvaindo. Mantive, entretanto, o ritmo dentro do possível.
No km 20, a surpresa ruim, e apreensão. Faltou água, e eu grilei. Mas
veio a surpresa ótima: um rapaz de Passat me deu água no morro da Viúva, que
bebi com sofreguidão, comi a água!
Depois dessa beida, decidi: vamos pros 32. Achei que devia ter essa
experiência a 20 dias da Maratona, para saber e me recuperar a tempo, em
caso de zebra.
Passei no Rio Sul, km 26, com 1 h 26’. Passei pelo túnel na contra mão,
mas pelo meu lado direito, muito melhor do que pela esquerda. Quando virei à
direita na Atlântica, me assustei um pouco em ver o Othon lá longe, mas
encarei, pela rua. Lá, recebi um litro dágua, bebi paca, me banhei, me
encharquei, fui até a Mikel Lims e voltei, com frio, fome e exausto, já
preocupado com as dores na chagada. Quando passei na lixeira 2.000, vi o
tempo: 2h 53’. Queria saber a quanto estava meu km. Aí, a merda. Cocei as
costas com a mão do relótio e O ZEREI, entre a 2000 e a 1000, no Meridien.
Logo que passei na 1000, acionei de novo o Casio, e o parei na chegada com
5’45”. Daí o cerca de 3h 5’, bem como o cerca de 32 km, que pretendo medir
com a moto. A grande novidade do dia, ou da noite, entretanto, foi a quase
total ausência de dores nas pernas, aquelas que me prostram, me fazem ficar
agoniado, gemer, remexer, enfim, sem solução. No carro, voltando para casa,
perguntei: como é que pode? Cadê a dor? Johny respondeu: vai ver que é o
remédio que você está tomando... dei uma porrada na testa, não com muita
força, a esta altura já doendo de novo, e tive que concordar: só podem ser as
vitaminas do stress tab com zinco, entre outras coisas, com 600 mg de Vita C
diários. Foi fantástico e já me permite mais segurança para armar uma
estratégia para a Maratona. Sábado darei minha última super longa, para
confirmar minhas previsões. Ou seriam intuições?
Quando penso que a negada tá no BNH trabalhando e que eu estou aqui numa
boa, curtindo um mato jóia, um frio maravilhoso, um ar puríssimo, chego a
achar ótimo ser funcionário do BNH.
Mas, vamos ao que interessa. Cheguei ontem pela manhã, tipo 11 h, ao
Arcozelo Palace Hotel. Encarei logo uma piscina gelada. Consegui nadar uns 23
minutos apenas, parando por absoluta falta de condições. Fiquei pregado –
nadei 400 de peito e 100 krawl e enregelado, tiritando de frio, sem controle
sobre os meus tremores. Fiquei ainda muito tempo tentando me controlar, e só
voltei ao normal depois do banho e de uma caipirinha.
Hoje saímos a pé. Fomos até Paty do Alferes e rodamos umj pouco por
lá. Tomamos um ônibus até Portela, e de lá viemos a pé, acelerado, até Javary.
Uma marcha de uns 20 minutos. Lá pegamos um pedalinho e ficamos pedalando
por meia hora, mais eu do que a Jane. Aí partimos para Miguel Pereira,
acelerado, por uns 45 minutos.
À tarde, marquei 40 minutos no relógio e preenchi esse tempo com
calistênica, incluindo 60 abdominais, 40 marinheiros, 30 tesouras e, inclusive,
4 minutos de isocinéticos para a cervical. Alongamentos, enfim, tudo que tenho
direito, procurando ficar em forma sem prejudicar a perna. Amanhã tentarei
nadar novamente, e vou ver se resisto mais.
Vassouras, 7/09/85
+- 20 km?
Quase meio dia. Fiz uma corrida inesquecível, e não pude deixar para depois o
registro, até com medo de deixar passar a forte impressão que estou vivendo.
Corri numa estrada, pela primeira vez. Só eu, numa manhã um pouco fria, mas
com aquele sol gostoso que esquenta o suficiente, não impedindo de se sentir a
aragem fresquinha de uma manhã de inverno com sol. Algumas nuvens
tamparam o sol por algum tempo, algumas vezes. Mas a maior parte do tempo o
tempo esteve lindo, agradável. Corri quase todo o tempo me sentindo bem.
A estrada está em bom estado, no sentido contrário ao Rio, e fiquei
sempre na contra-mão, o maior tempo possível na linha de separação com o
acostamento, por ser o terreno mais plano.
Logo, logo, saquei que eu ia correr em aclives e declives, e gostei, por
tornar o treino mais puxado; Uma vez que eu não ia correr contra o tempo,
achei bom correr contra a estrada. Mais ou menos a uns 3 km do início do
percurso, peguei um ladeirão brabíssimo, daqueles em que os caminhões colam
um na bunda do outro, por causa da inclinação. Pude me certificar de que era
mesmo um trecho da pesada na volta, quando, ao me deparar com o início de
declive, li:”experimente os freios”, “longo trecho em declive”. Putz, pensei,
ainda bem que essa barra eu enfrentei logo no início!
Mas foi maravilhoso! O ar bem mais puro, certamente mais oxigenado,
me fez cansar menos; além disso, como corri numa velocidade confortável, sem
forçar, atingi logo um steady state beleza, desde o início.
Achei o maior barato quando comecei a notar a solidariedade de alguns
choferes, desviando até a contra-mão para não me por em perigo. Acenei para
vários. Alguns, impossibilitados de desvio, por vir outro caminhão em sentido
contrário, me sinalizavam com faróis, e eu ia para o acostamento. Alguns filhos
da puta simplesmente não ligavam e iam em frente, me fazendo pular fora.
Teve até um, na volta, que me gritou algo, certamente um incentivo, por causa
de seu sinal de polegar erguido.
Lá pelo km 8 encontrei uma marca de kilometragem de estrada – 229.
Aproveitei para marcar meu tempo e no 227 passei com 10’40’’. Como eu não
estava sentindo forçar, e ainda pelo sobe desce contínuo, achei ótimo. Na
volta, fiz o mesmo, e do 230 ao 234 marquei 22’, já chegando. Foi um bom
tempo.
Como eu não dispunha de meios de marcar distância, marquei tempo.
Corri 56’ de ida e 1 hora de volta. Fiz a volta em 2 minutos a menos (voltei ao
ponto de partida em 54’), depois corri mais 6’, porque vim até o hotel. E estou
ótimo!