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KM 39 – INÍCIO EM 25 DE AGOSTO DE 2007.

Primeiro Caderno

Rio, 20/11/1984

8 km - Dia do aniversário do tio Cláudio. Faria 64 anos hoje. Não fez


porque morreu do coração. Subitamente! Como meu pai.
E foi exatamente neste dia que comecei este meu diário de corridas.
Corrida que comecei a praticar, talvez em primeiro lugar, para não morrer
assim. Em segundo lugar, levado pela necessidade de me cuidar, sob todas as
formas. Levado pela crença nos efeitos benéficos, sobre meu corpo e meu
espírito, da corrida, de exercício físico, enfim. Embarquei numa onda que
acreditei ser boa, e ainda acredito. Tenho tido, inclusive, experiência nesse
sentido. Já não é mais uma esperança, uma ilusão; sei que me faz sentir bem.
Procuro me orientar para não ser só me sentir bem, mas me fazer bem.
Uma idéia um tanto ou quanto antiga de colocar no papel minhas
impressões sobre cada corrida que já fiz, e foram tantas experiência
importantes, tanto sentir, tanto viver, tanta coisa, e eu deixei escapar. Talvez
um dia eu me dê ao trabalho ou tenha a força de vontade suficiente para
exercer minha memória e falar de algumas dessas coridas que representam
tanto para mim, tanta riqueza de luta, vida interior, desabrochar de
pensamentos, sentimentos, projetos, reflexões... um verdadeiro manancial!
Mas esta foi a primeira que registrei, e numa data muito especial. Em a
homenagem a uma pessoa muito cara, um pai para mim, segundo ele o filho que
não teve.
Saímos Jorge e eu, de frente de minha rua, Almirante Gonçalves, km 39
da Maratona, em direção ao Leme. Ida e volta daria uns 6 km, a serem
percorridos sem pressa, porque estou cansado e sem forma, não podendo nem
querendo forçar; e o Jorge, na semana anterior ao Triatlon Golden Cup,
preocupado só em manter o corpo aquecidso, sem se expor. Jorge, junto com
Odilon, é meu companheiro predileto de corrida com quem tenho o prazer de
ter corrido algumas das minhas melhores corridas. Combinamos
maravilhosamente e, apesar da diferença de idade, eu com meus 38 e ele com
seus 20 e poucos, tem coincidido, nas nossas várias experiências, que nossas
formas físicas se equiparem, quando chegamos, então, mais ou menos juntos,
às vezes ele na frente, outras vezes eu. Mas, nos nossos treinos,
invariavelmente, corremos bem juntos, conversando, trocando confidências,
fazendo planos, rindo juntos. É um bom amigo e um bom companheiro de
corridas. Não acredito que se possa conseguir essa simbiose com muita
freqüência.
Mas, como disse, corremos, ouvi mais do que falei, e só do Triatlon.
Jorge fissurado na prova do próximo fim de semana. Corremos lentos, me senti
bem até perto do km 3,5, quando começou a pintar a sempre presente dor de
viado, fraquinha por causa da velocidade reduzida, mas constante por causa do
preparo pouco. Corremos contra o vento, fraco na ida, e a vafor, na volta.
Acabamos resolvendo correr os 8 km, indo até o posto 6 e voltando até minha
rua.
Na volta do posto 6, Jorgeta avisou que ia forçar um pouco, e eu
acompanhei. Ele correu bem, embora não tudo, e eu também. Estava com o
corpo bem quente, e não senti o esforço. Cheguei logo depois dele e ele me deu
o tempo: 46’34”. Voltamos, aquele banho, um natural de cenoura, suco de
laranja, mas uma certa sensação de afrontado não me deixou até dormir, assim
como se eu estivesse meio desconfortável. Muita sede, e bebi bastante água.
Foi uma boa corrida, e me senti bem de ter iniciado este diálogo comigo
mesmo.

Rio, 21/11/84

0,6 km - Cheguei em casa animadão para correr; se tivesse companhia,


talvez partisse para uns 16 km hoje, apesar de, no fundo, não achar isso muito
prudente. Como não tinha, tratei de ir animando a Jane para começar de vez
suas corridas, que ela tanto diz querer, acho mesmo que quer praticar, mas não
tem tido muito ânimo para continuar.
Afinal, fomos. Ventando um pouco, meio frio, caminhamos em direção ao
Leme, bem rapidamente, e chegamos até o Copacabana Palace. De lá, voltamos
contra o vento, e começamos a correr na Figueiredo, km 40, mas a Jane não
conseguiu ir até o 39, porque sentiu o joelho esquerdo. Acho que corremos uns
600 m, lentamente. Tudo bem, o que importa é que ela começou, e até já se
animou a repetir amanhã. Tomara que esse tenha sido, realmente, um começo
que tenha continuidade, e, principalmente, que lhe faça bem, como parece que
ela espera que faça.

Rio, 22/11/84

8 km - Novamente 8 km, no calçadão. Para o outro lado, hoje. Comecei em


direção ao posto 6, para não ter que correr aquele finalzinho quando chego de
volta do Leme. Na verdade, é só a velha necessidade de variar.
Corri bem lentamente no início, a pança cheia de comida dos turcos,
depois de um almoço que me fez pesar tanto a barriga quanto, principalmente,
a consciência. Tenho vacilado muitonesta de comer demais, quando sei que a
manutenção da regularidade na temperança é que vai manter minha saúde,
minha tranquilidade, minha beleza.
Mas, fui em frente. Arrotando e peidando horrores, fui me sentindo
cada vez melhor, sempre devagar. Na volta do Leme, comecei a aumentar a
velocidade, com bastante disposição. Cheguei mesmo a me segurar para não
faltar gás no final. Marquei o tempo nos dois últimos kms, fiz em cerca de 9’
30”, forcei bastante, sem chegar ao limite, entretanto. Acabei os 8 km com
170 bpm, e uma pequena dor no joelho esquerdo, acima da rótula. Também
estou com o músculo abaixo da panturrilha meio dolorido.
Bacana foi ver a Jane animada e indo à luta, começando realmente a
viver uma de quem se cuida. Ela caminhou e andou e correu hoje, só, sem minha
companhia, e, mesmo tendo passado a chuva que estava caindo, ela estava
animada e sei que correria mesmo com o chuvisco chato que estava caindo.
Vida que segue.

Rio, 27/11/84

8 km - Em plena madrugada, depois de um bom dia, pelo menos no


começo, com uma corrida meio sfrida, em que forcei um pouco para conseguir
um resultado melhor de tempo. Saí para o posto seis, começando em ritmo
mais acelerado do que tenho corrido nos últimos tempos. Não medi os
primeiros kms, mas senti logo no início que comecei muito forte para minha
forma atual, e tive que ir aliviando e retomando ritmos mais fortes,
sucessivamente. Foi uma barra. Não tive dor de viado, mas senti cansaço logo,
logo, assim como um esgotamento. Procurei estabilizar numa velocidade
constante, e foi bem difícil conseguir, porque estava buscando uma
estabilização em velocidade alta de mais, daí as acelerações e desacelerações
constantes. Foi um bom teste da minha experiência nesse controle, mas
presumo pouco saudável. Afinal, chegando ao Leme e na volta, uma dorzinha
aguda no ombro, perto do pescoço, quando decaí bastante de rendimento e
fiquei fazendo exercícios com o braço direito e mexendo o pescoço para
tentar melhorar. Fui fazendo, também, controle mental para melhorar meu
estado e, depois de uns 300 ou 400 me de “recessão”, forcei no final dos 6 km,
que fiz em 30’3”, praticamente dando tudo. Decaí de novo e corri uns 500 m
tentando me refazer, quando comecei a puxar de novo, preocupado com o
tempo nos 8 km que me propus a completar, meio na moral. Acabei com 41’12” e
200 bpm. Fui trotando até desacelerar bastante, ficando com 170 bpm dois
minutos depois, 130 bpm cerca de 4 ou 5’ depois, até parar de correr, fazendo
alongamento já na porta de casa. Fiquei atento para as sensações e estado
geral durante o dia, um pouco preocupado. Depois de um maravilhoso banho, me
senti ótimo, e passei bem o dia.
Foi também, à noite, o primeiro dia de curso para deixar de fumar, uma
tremenda indagação quanto à validade do curso, meio para o radical-terrorista,
me causando uma certa desconfiança em função da paixão com que foi
apresentado e tema, sem muita preocupação com a coerência e serenidade
imprescindíveis para mim quando da apresentação de qualquer tema. De
qualquer forma, me aguçou a curiosidade e a vontade de participar até o fim,
embora sem aquele posicionamento de neófito fanático que me pareceu o
esperado pela organização. No fundo, tive medo de me passar para o papel de
um “nazistazinho” ouvindo falar o Fuehrer...

Rio, 29/11/84

6 km - O resultado da corrida de ontem, 28, pela manhã, se faz sentir


hoje: dores nas pernas, os músculos totalmente tetanizados. A corrida também
não foi lá essas coisas. Fiz 6 km em 31 minutos, e foi com esforço. Mantive
uma regularidade maior, com menos altos e baixos, mas sofri, principalmente lá
pelos 4.800 m, quando tive que reduzir muito, até cerca dos 5.200, quando
retomei o ritmo. Finalizei com 170 bpm. Me senti bem todo o dia, só um pouco
cansado.

Rio, 3/12/84

8 km - Segunda feira; depois da última corrida, na 4ª, foram dois dias de


muitas dores musculares. Só corri de novo hoje à noite. Saí com a Jane, em
direção ao posto 6. Corremos lentamente 1.200 m, ida e volta. A Jane sem
fumar há uma semana correu noma boa, só sentindo um pouco o joelho. Deixei-
a em frente à nossa rua e continuei mais depressa, sem forçar muito. Meta: 8
km. Perto dos 4 km, um coelho: um cara de cerca de 45 para 50 anos passou
por mim e eu não forcei, mas não fiquei muito longe. Na volta do Leme, me
interessei em persegui-lo, e comecei a correr mais. Faltando ainda 2,5 km,
comecei a me aproximar, programando passá-lo faltando uns 1.000 ou 800
metros: passa por nós um garoto de uns 12 anos, mulatinho, descalço. Logo
depois o coroa para, ainda na minha frente. Continuo apertando o passo, e
resolvo marcar os 2 km finais, do 41 ao 39. O garoto cola comigo e corre ao
meu lado, passando a ser meu coelho. Não forço mais, mas também não reduzo.
Atinjo meu “steady state” e o garoto lá, juntinho. Corremos assim por uns
1.000 metros, eu me perguntando se ele vai agüentar, e se eu, forçando, vou
agüentar. Mas quem não segurou foi ele. Faltando uns 800 m, o Othon logo à
frente, ele vai ficando para trás. Aí aumento mais um pouco e, passando o
Othon, começo a sentir cair a velocidade. Chego bem, fiz os 2 km finais em 10
min, e terinei com 140 bpm. Estiquei perto de casa, comi uma almôndega
maravilhosa com maionaise.

Rio, 5/12/84

8 km - Oito km. Os primeiros 1.200 m, de novo, com a Jane. Lentamente;


8 minutos. Na volta do posto 6, deixei-a na lixeira dos 3.600m. Continuei
devagar, curtindo uma corrida lenta e desintoxicante. Uma corrida bem
confortável, agradável, daquelas que “não dão trabalho”. Na volta do Leme, uns
garotos partiram à toda, um deles dizendo que demoraria meia hora para ir e
voltar. Me animei para aumentar a velocidade, sem levar muita fé na garotada,
achando que iam morrer logo. Não dei tudo, mas intensifiquei o ritmo,
procurando não perdê-los de vista; sumiram...
Continuei num ritmo mais forte do que vinha usando, mas confortável,
dono da situação. Aumentei sempre, sem dar tudo, bem controlado. Cheguei
aos 8 com 160 bpm, e levei 47 min no percurso. 3 min. depois, sempre
correndo, 130 bpm. Agora vou ao teatro com Genival e Glorisvalda.

Rio, 10/12/84

8 km - Fiquei devendo a escrita da corrida de sexta feira, dia 7. Estava


meio gripado, mas não quis falhar. Corri os primeiros 1.200 m com a Jane, em
oito minutos. Depois me soltei e fui até os 8 km em 42 minutos, sem maiores
problemas e sem forçar muito.
10 km - Hoje comecei a correr 10 km. Saí do km 29 da maratona, em
frente ao Cabral 1.500; saí muito bem, depois de uns alongamentos. Não estava
muito a fim, principalmente depois de um suco de alho que me deixou com o
esôfago queimando. Mas, logo, logo, vi que estava com uma tremenda forma.
Acho que atingi o meu “steady state” logo, e ele permaneceu comigo, eu quase
surpreso, mas muito contente. Corri Ipanema e Leblon numa ótima. Os
primeiros 5 km fiz em cerca de 25 min, não pude ver com precisão onde estava
o ponteiro de segundos.
Chegando ao fim do Leblon, pintou um pouco de cansaço, acho que mais
psicológico. Continuei no meu ritmo, bom, e bem. Me senti com Beta, que eu não
via há muito tempo. Não forcei nada, nem reduzi. Simplesmente me senti
naquele estado de graça que é o privilégio não muito freqüente de um corredor
solitário como eu. Em 50 metros, chegando ao km. 37, pintou e desapareceu
uma dor de viado que parecia vir com tudo, e eu controlei. Me senti muito bem
por ter sabido contornar um problema, o que acho que é, acima de tudo, fruto
de minha experiência e conhecimento de minha fisiologia. Lá pelo 38, pintou a
dor no ombro direito, minha velha conhecida em longas distâncias, que também
superei baixando um pouco o ritmo. Um pouco de sacrifício e já meio no
bagaço, corri o último quilômetro sem forçar mas sem me entregar, dono da
situação. Inclusive, os últimos 300m foram bem agradáveis, um final de
corrida emocionante que me fez ficar repetindo pra mim entre lábios: Corrida
Fantástica!!! Fantástica!!! Fantástica!!!
Detalhe importante: não sei se poderia ter influído no resultado bom
que tive, mas me esforcei, e muito, em só respirar pelo nariz, com bastante
dificuldade por causa da secreção nasal e da narina direita semi-obstruída,
mas com a impressão de ritmo e dosagem correta no esforço por causa disso.
Só na volta do Leblon para cá é que cedi algumas vezes em respirar pela boca,
porque estava ficando muito difícil manter o ritmo, mas logo que podia voltava
ao nariz. Só mesmo no final é que quase não consdgui, até mesmo por falta de
controle e afobação. Terminei com 51’ 30”, e 160 bpm, ótimo. Agora estou meio
cansado. Nota: no início da corrida, a planta do pé esquerdo incomodou, no local
onde fica a palmilha.

Rio, 12/12/84

10 km - Corrida de 10 km com Jorgeta. Do 29 ao 39. Foi mais difícil do


que a última. 24º e mais cedo, uma hora antes. O trânsito muito intenso, a
poluição braba. Continuei tentando respirar só pelo nariz, e consegui melhor e
mais tempo. Novamente, no 37, aquela dor de viado. Desta vez não aliviei
muito, só o sificiente para não perder o Jorge de vista. O resultado foi que
corri os dois km finais num verdadeiro supl~icio, a dor indo bater no ombro nos
500 m finais. Terminei com 53’15” e 170 bpm. Estou sentindo cada vez mais
sede, o que me leva a crer que o ritmo está se intensificando e me sinto
voltando à época da preparação da maratona. Comemos um maravilhoso angu
que eu fiz com uma carne moída que a Jane fez. Comemos como animais, o
Jorge e eu, principalmente eu, que fiquei afrontado e com remorços. Umas
cervejas maravilhosamente geladas acompanharam, sobremesa banana
caramelada e Fla 1 X 0 Vasco.

Rio, 20/12/84
6 km - Acordei às 4 da manhã e fiquei rolando na cama até 7 hs. Aí
resolvi correr. Depois de uma sinusite que me tirou de tempo, uma semana de
frio, um fim de semana super merdel no Hospital do Andaraí, com o Mazinho e
a Beth quebrados por causa da batida que deram, saí para correr hoje.
Resolvi fazer só 6 km por causa da corrida de domingo, e sem forçar.
Para minha surpresa, achei que estava indo razoavelmente devagar e terminei
em 31’20”, inteirão, com 170 bpm. Por volta do km 4 é que não fiqueimuito
confortável, com um pouco de pressão no peito, mas depois passou, e terminei
numa boa.

Rio, 22/12/84

6 km - Corri ontem e não relatei. Por isso, faço-o hoje. Foi uma corrida
que comecei bem lenta, só para descontrair. Fiz os 3 primeiros kilometros em
15 minutos e alguma coisa, sem novidades.
Na volta, vim devagar também, mas me preocupando com um cara que
acompanhei durante uns 1.500 m na ida, e resolvi não deixar passar na volta.
Mas ele foi por fora, e eu logo me distanciei. Cerca de 2 km antes do fim, senti
passos, muito pouco ruído, logo atrás de mim, e acelerei. Acelerei mais, e
comecei a bufar, mas mantive; os passos sumiram. Relaxei um pouco, e
novamente os passos. Aí acelerei e fiquei firme, não relaxei mais. Fui
calculando a distância que faltava para o fim da corrida, e dando tudo, sentei o
cacete. Quando cruzei os 6 mil, passou logo um negão imenso, magro e
descalço, eram dele os passos. E eu estava no máximo, a 190 bpm, e o tempo
foi de 31’15”. Foi a estréia do “tô na merda”.

Rio, 25/12/84

8 km - Ontem, como presente de Natal, me dei uma tremenda corrida de


8 km. Tremenda talvez seja exagero, afinal eu apenas voltei à minha forma
antiga, o que não é nada demais. Não deveria tê-la perdido e acho que poderia
até tê-la melhorado. Fiz em 40’20”. Mas foi numa boa. Copacabana vazia, só o
Bolero e o Maxim’s abertos, tudo fechado e escuro. Corri com o “tô na merda”.
O tempo todo me pareceu que eu estava com passadas largas e boas, mas
entre o km 40 e 39 penso ter feito o tempo de 4 minutos, o que não posso
garantir pela dificuldade de ver o relógio correndo. Terminei com 170 bpm.
Não senti sede e tive que beber água por decisão, não por desejo. Depois,
aquela picanha no Rincão, com valsa e tudo, Mamãe, Jane e eu. Foi ótimo.

Rio, 26/12/84
8 km - Mais oito, em 40’25”, numa boa, a não ser pelos 300 m finais, com
um início de dor de viado bem forte, do lado direito. A próxima corrida será
em Recife, como nos velhos tempos. Terminei com 170 bpm. Não vejo a hora de
botar um bom pega com Vô em Boa Viagem, Candeias, passar pela minha antiga
casa na Barão de Amaragi, onde tudo começou. A morte e a nova vida, uma
passagem, difícil, mas, acredito, para melhor. Até Recife.

Recife, 30/12/84

4 km - Última corrida do ano. Em Recife, com Odilon. Como é uma época


de festas, significa cana, saímos para correr 10 e corremos, talvez, uns quatro,
porque o Odilon pediu arreglo, e eu até que achei uma boa, depois de mais de
quarenta horas de viagem, com uma série de coisas para fazer, cheio de
agitação. Não marquei tempo e nem sei a quilometragem, exata, mas foi uma
volta gostosa aos velhos tempos. Depois, voltei correndo da praia até a casa do
Odilon, uns 80mm, corri de sandálias havaianas, com aquela lua. Aliás, não é
mole correr com esta temperatura e esse sol, sem uma brisa.

Recife, 2/1/85

12 km - Doze quilômetros, mais ou menos, 1 h 5” mais ou menos, 180 bpm


na chegada, depois de uns 300 m de esticada.
Percurso – saída da casa do Odilon, Abdo Cabuz, viramos à direita pelas
3 pistas, até Barra de Jangada, voltamos pela Bernardo Vieira de Melo até a
entrada para Prazeres (a da padaria), voltamos pelas três pistas até a Abdo
Cabuz, e daí à casa do Vô. No caminho, tive de parar para tirar a meia, por
bolha. Não adiantou muito, e continuou doendo, mas vim firme. Senti muito o
calor, o mormaço, já que não havia sol aberto. Mas o bom foi a chegada. Aquele
banho de mangueira, subimos no coqueiro, tiramos dois cocos e tomamos com
gelo. Pareceu a melhor água de coco que tomei na vida. Estava realmente
deliciosa. Corremos conversando sobre nossa vida, sobre a Marta, o Paulo, o
Pedrão, nossa amiga Maria, os últimos acontecimentos dos dias anteriores,
enfim, começamos a botar em dia nosso papo. Foi uma boa corrida.

Recife, 7/1/85

8,8 km - Fiquei devendo a corrida de sexta-feira pela manhã. Saímos,


Odilon e Eu, da casa dele, e já correndo. Como a maré estava baixa, fomos pela
areia, até a Igrejinha de Piedade, e voltamos. Não há muito a relatar, porque
não foi uma corrida confortável. O que marcou foi um cansaço, um
esgotamento enorme e, na volta, um ouço antes da curva dos pescadores,
começou a me dar uma forte pressão no peito, melhor dizendo, no coração, uma
sensação de dor mesmo, persistindo com o esforço. Pedi logo ao Odilon para
reduzirmos o ritmo, o que melhorou logo a sensação de opressão. Depois, o
Odilon continuou correndo e eu parei na marca dos 8 km; somado aos cerca de
800 metros, foi o total que eu corri, sem marcar tempo e sem medir as batidas
do coração. A sensação de esgotamento foi grande, mas minorada pela água de
coco maravilhosa que tomei, dos cocos que eu mesmo peguei no coqueiro do
Odilon. Depois, um mergulho em Candeias, que afinal desencabulou, mas não
rendeu nada, só cansaço e frustração talvez um pouco de experiência.

8 km - Corrida do dia.
Saí só da casa da Maria. Com meu speedo novo, já que o To na merda
está na casa do Odilon. Realmente, o melhor tênis que já calcei até hoje. É
simplesmente fantástico. Saí em direção ao Pina, às 8.20. Fui correndo numa
boa, apesar do calor. Revendo meus lugares queridos, só comigo. Vi vários
locais conhecidos e muitos novos, fiquei chateado de vr o Forno de Lenha
desativado, o Kiss agora é Kiss-me, e muitos lugares simplesmente mudaram de
nome, o que me fez pensar que muitos francos-atiradores se metem em
negócio de restaurante, e sua descontinuidade e inconstância os leva a
desistirem ou a falir ou vender rapidamente seus negócios. Isso, conjecturei,
me explica o baixo nível de serviço, pouca qualidade no atendimento e até
mesmo na comida e bebida servidos, de pessoas que não entendem nada do
negócio e se metem nele, e só podem fazer merda. Mas isso só para passar o
tempo; vi o Acaiaca, prédio marco importante de Boa Viagem, vi os dois prédios
marrons e com vidros fume marrons, um deles o Catamarã, com dois totens
muito bonitos na portaria, o prédio que sempre achei o mais bonito de Recife.
Passei pelo Lobster, de tantos almoços gostosos e baratos, pagos com
ticket na época das vacas mais gordas.
Senti muito o esforço também, o esgotamento aumentando junto com a
temperatura, que chegou a cerca de 34º. A minha, interna, devia estar acima
do normal também. Foi muito desconfortável, o sol quente na cabeça, o ar
quente respirado, que não satisfaz, enfim, senti demais. Fui até uma placa
indicativa de 1.000m, depois do Lobster.
Calculo uma corrida de uns 8 km, um pouco mais, provavelmente. Levei
45 min., cheguei morto, com cara de moribundo, a 180 bpm, e tomei uma água
de coco que fiquei devendo ao Seu Cícero. Foi o melhor de tudo.

Recife, 15/1/85
8 km - Mais uma corrida interessante. Odilon e Eu. Depois de uma noite
de muita cerveja, dormindo mais de uma da manhã, o cara me aparece às 7.30
da manhã para me acordar. Foi meio difícil. Saímos para a Avenida, dispostos a
correr 8 km, devagar. Procuramos a placa de 3,5 km, à direita da rua da Maria,
em direção de Piedade. Partimos, com um sol escaldante, quase oito horas, e
fomos em direção ao Pina, até a placa de 500m depois do 0 e voltamos. Na
volta, uma briga de um coroa com um rapazinho, que o Odilon apartou, foi
realmente a única coisa digna de nota na corrida, além, é claro da imensa
beleza da praia de Boa Viagem,, da curtição de ver as construções, os novos
restaurantes, os antigos lugares, tudo motivo de muita saudade para mim.
Fizemos em cerca de 46 minutos, mas temos que descontar a parada da briga,
uns dois minutos. Faltando cerca de 1 km, comecei a apertar o passo, e,
faltando uns 500 m, dei tudo, corri mesmo, forçando bastante o ritmo, com o
Odilon na minha cola. Terminei com 170 bpm.

Jaboatão, 17/11/85

8 km - Uma corridinha sensacional. Não sei ao certo o ritmo, nem a


distância exata, só sei que foram 44 min causticantes, e acabei em 170 bpm.
Saí pelas três pistas em direção a Barra de Jangada, virei à esquerda,
na Bernardo, voltei em direção a Recife, entrei à direita logo que vi que podia,
em direção à praia, e vim pela areia, melhor dizendo pelos sargaços. O
desempenho do tõnamerda foi excelente, um trator, como disse o Odilon. Corri
só, por falar nisso. Ele viajou ontem à tarde, e me deixou a casa.
O mar, de tão parado, parecia um espelho, as pessoas àquela hora (+- 8
hs) com água no máximo pela cintura, indicando a maré baixíssima que estava.
Uma paisagem exótica, plácida, gostosa. Como eu não tinha noção da distância,
já que não guardei as marcações que fiz com a moto quando morava aqui, corri
pelo tempo. Atravessei a areia fofa e saí no bar do Rege, de boa memória.
Atravessei a Bernardo, fui até as três faixas e voltei, até a esquina da Abdo
Cabus. Depois, aquele banho de mangueira, tirei dois cocos no pé, bebi aquela
aguinha maravilhosa que misturei com gelo. Da carne do coco, fiz depois uma
boa batida com uma cana jóia que surrupiei do Odilon e tomamos eu, Chefinha
e Vicente, seu irmão. Foi um bom dia. Ótima corrida.

Jaboatão (Candeias) 22/1/85

5,5 km - A corrida foi ontem, mas para variar, adiei o registro.


Acontece que acordei de caganeira. De churrilho, como diria o Fifi. Mas
não estava na pior, e fiquei na dúvida: correr ou não correr? That’s the
question. Aí pensei: tenho que ir à cidade, e preciso de uma atividade cedo e
rápida, para não perder a hora. Além disso, se não correr hoje, preciso correr
amanhã e, aí, não poderei mergulhar. Enfim, mil conjecturas todas baseadas na
minha rigidez. Pode isso, não pode aquilo, tenho disso não tenho aquilo; oh,
céus, quando aprenderei? Minhas imposições a mim mesmo e aos outros me
deixam puto! Mas desta vez estou pagando caro. Ter feito uma corrida,
debaixo do tremendo sol de Recife, nas más condições de saúde em que me
encontrava, me fudeu a alma. Até que corri direitinho, me preocupando em
correr pela sombra, no início. Desci pela Abdo Cabus, começando a correr no
início do asfalto. Logo entrei pelas três faixas, devagar e pela sombra, ou
melhor, o que pude descolar de sombra, que, aliás, não era muita.
Passei pelo Lakadoro, me lembrando da farra do dia, melhor, da noite
anterior, na discoteca com a Martinha maravilhada pelos seus primeiros passos
na vida noturna. Continuei correndo por trás do Coração de Maria, e passei
pelo km 0 das minhas primeiras corridas, com um tênis topper de futebol de
salão. Cheio de medo e de disposição para enfrentar os medos.
Voltei para a praia e vim pela areia dura da beira mar, até depois do bar
do Dudu, quando voltei ao asfalto e atravessei a Bernardo e subi a Abdo, até o
ponto do início. Devem ter sido uns 5,5 km, em meia hora; terminei a 160 bpm.
Mais tarde fui ao BP, e já voltei na pior, só indo cada vez mais para o
fundo do buraco. À noite, estava horrível e passei mal, com febre, a noite toda.
Agora, pela manhã, tudo parece ir melhorando.

Recife, 27/01/85

6,5 km Acordei às 6 hs da manhã, cheio de disposição, após um excelente


sonho. Também, pudera. Depois de esvaziar a piscina do Odilon com baldes e
bacias, num trabalho de estivador, à noite, depois de um dia de churrasco e
cerveja, eu só podia apagar de uma vez. Dormi como um rei.
Saí pela Jequitinhonha, em direção à minha antiga casa. Subi pela
pracinha Ivo Borges, entrei na Ulisses Montarroios, atá a Barão de Amaragi,
onde entrei, passando pela minha casa, cada vez mais esculhambada. Desci até
a Bernardo, voltei até a Beira Mar, e cheguei ao ponto de partida 34 minutos
depois, a 170 bpm, um solão brabo na cuca, mas satisfeito. Levei 15 minutos da
partida, até minha casa, como antigamente.

Rio, 6/02/85

8 km Como sempre, devendo. Minha última corrida da temporada em Recife, à


noite, na véspera da partida para o Rio, dia 29/1, terça feira.
Corri oito km, bem marcados, pelo menos com placas indictivas de B.
Viagem. Parti do km 3000, em direção ao Pina, e fui até o 1.000, depois do 0,
que ninguém sabe onde é, não se sabe porque. Fui e voltei numa boa, não me
senti forçando muito, mas sabia que estava correndo bem. Foi uma ótima
corrida. Fiz em 40’30 “, com 170 BPM no final.

Rio, 12/02/85

6,6 km Minha rentrée nos preparativos a sério para a Maratona do Rio 85


foi sábado, dia 8.2.85. Acordei bem “cedo”, chamei o Pedrão, e caí na reta. Fui
ao Leme e voltei, em 37’20”, o Pedrão na minha cola, de bicicleta. Terminei com
180 BPM.

6,8 km Minha segunda corrida nesta fase de preparativos, ainda


incipiente, foi o mesmo percurso de sábado passado; corri na segunda feira de
manhã cedo, senti o calor, aquela dorzinha em cima do coração, que sumiu logo
que diminuí o ritmo. Terminei em 36’ cravados, uns 7.200 m, aliás 6.800
metros. Fiquei meio temeroso de sentir o esforço durante o dia, mas fiquei
ótimo. Só bem no início do dia é que fiquei meio desconfortável.

5,2 km Véspera da corrida do Carnaval, amanhã, ás 23 horas, fiz apenas


um aquecimento hoje. Corri 1200 m com a Jane e depois corri mais 4.000m,
bem devagar. Não marquei o tempo, corri super descontraído, balançando,
sacudindo os braços, rebolando, dando passadas largas e saltitantes. Uma
higiene mental e muscular. Corri e terminei não sei em quanto tempo e terminei
em 130 BPM. Fui em direção ao posto 6 com a Jane, que correu ida e volta até
lá, fazendo os 1.200 m. Depois, fui até o 41 e voltei. Tudo jóia. Vamos ver
amanhã.

Rio, 14/02/85

8 km - Corrida do Carnaval.
Com um ligeiro aquecimento, que originou um susto e ao mesmo tempo
uma novidade – câimbra na sola do pé esquerdo – comecei a corrida às 11 horas
e 20’.
Saí num ritmo rápido, sem forçar demais, mas nos 2 km já tinha um
tempo de 9’12”, o que me fez até reduzir um pouco, para não pagar um preço
alto no final. Foi tudo bem, só que tive um pouco de dor de viado já em Copa.
Encontrei o Jorge na Francisco Otaviano, entrando já na Atlântica. Dali ele
sumiu rápido. Chegou uns 6 ou 7 minutos na minha frente. Correu toda a equipe
da AFBNH, uns 20 caras. Meu tempo foi de 38’55”, com 160 BPM. Depois, o
tradicional chop no Varanda, Jorge, Jane e eu.

Rio, 16/02/85

4 km - Corridinha faceira e sem compromisso na praia do Pepino. É uma


praia que não tem mais de dois km de extensão. Fomos em turma para lá;
Jorge, Ciba, Jane, eu, Meg, mais uma lourinha “gasguita” e um paulista até bem
simpático, Ba. Fui com a moto do Beto. Um sol da porra e uma água divina, não
muito limpa, mas agradável. Fizemos uma corrida de farofeiro, ao meio dia, no
meio de uma multidão. Fomos em direção ao Hotel Nacional sem pressa.
Chegamos lá e demos aquele mergulho! Uma curtição fantástica! Refrescados,
partimos de volta, escapando dos banhistas em pé na beira da praia, e das
crianças correndo das mães para a água ou das ondas mais fortes para a areia,
uma aventura. Mas valeu! A gente não queria deixar uma oportunidade de fazer
alguma coisa passar. Chegando ao outro lado, onde descem as asas delta, novo
mergulho. Pausa para uma boa refrescada, com direito a observar uma mulher –
ou um ser – sem sutiã e com biquíni tão sumário que não se podia chamar mais
do que biq. Muito musculosa, realmente chamava a atenção, e ficou-se
discutindo se seria uma bicha ou uma mulher. Embora eu tenha me fixado mais
na última hipótese, até porque estava difícil imaginar “as partes” do cidadão
(se o fosse) num pedaço tão exíguo de pano; concordo, pela pinta da pessoa que
a mais apropriada definição foi a do Jorge: aquele ser.

Rio, 20/02/85

Não, não tenho nenhuma corrida a relatar! Não hoje, nem nenhuma
durante o carnaval. Mas dei umas nadadinhas razoáveis num dos locais mais
paradisíacos do mundo, ou melhor, do meu mundo: Garatucaia. Não é uma água
cristalina, mas é limpa e tem a temperatura da água de Recife, com a vantagem
de uma paisagem das mais belas que já vi, até mesmo se comparar aos diversos
cartões postais de outros países ou nacionais.
O litoral sul do Rio é um negócio do outro mundo! Une duas das maiores
belezas naturais na minha concepção: mar e montanha. Grandes enseadas
circundadas por altas montanhas de frondosas matas ou de vegetação tropical,
como bananeiras. Lindo, maravilhoso! Pois bati um bom frescobol com um novo
conhecido, Nico, e até me surpreendi com as boas jogadas que consegui fazer.
Dá prazer jogar sem errar muito, fazendo um jogo rápido e preciso. Por isso,
pelo prazer de nadar num lugar tão lindo e gostoso, por ter dado minhas
raquetadas, pela boa lembrança de ter passado dois dias em que não me
esqueci do meu corpo e da minha saúde, sem me exceder nem em comida nem
em bebida, embora sem me ligar num esforço maior e sistemático, como uma
longa corrida, não poderia deixar fora destas crônicas de corridas esses
momentos.

Rio, 21/02/85

9 km - Saída às 6.50, em direção ao Leblon. Objetivo: ida da minha rua


até a Niemeier e volta ao ponto de partida. Dia nublado, vento contra na ida,
refrescando mas atrapalhando; tempo de ida 28’30”. Volta em 27’, com o calor
incomodando por causa do vento a favor (o que faz que não se sinta nada da
ventilação). Chegada com 175 BPM. Corrida tranqüila, com ameaça de dor no
lado do coração (na ida), substituída pela maesma sensação no lado direito, na
volta. O que sempre alivia alguém grilado como eu. É uma sensação que não
tinha há mais de dois anos, essa de mudança do lado da dor, que já me serviu
para tranqüilizar na ocasião. Enfim, tudo bem, inclusive passei um dia bom,
apenas um pouco cansado, mas sem nenhum mal maior. Estou planejando uma
“longa” para este sábado, começando uma série de longas para os próximos fins
de semana, com vistas à Maratona.

Rio, 23/02/85

14,4 km - Inteirão e vibrando! Assim foi que terminei a minha primeira longa
preparatória para, como diz Jorgeta, “ o dia mais feliz da vida da Jane em 85”;
exatamente o mesmo percurso da longa do ano passado: saída da rua em
direção ao Leblon, entrada no Jardim de Alá até a Lagoa, volta pela Lagoa em
direção ao Corte de Cantagalo, completando a volta naquele sentido em frente
ao J. Alá, e continuando a correr até em casa, passando pelo mesmo percurso
da Lagoa (aproximadamente mais ¼ de volta), passando pelo Corte e descendo
a Miguel Lemos até a Av. Atlântica, encerrando o percurso no poste de sinal da
esquina, lado direito. Levei 1h16’55”, fiz a volta da Lagoa (começo e fim na
porta do clube em frente ao J. Alá), o mais próximo à água possível, em 40’,
praticamente não tive incômodo nenhum, a não ser uma ameaça de dor de viado
(lado esquerdo, o que é raro) nos 4 primeiros km, sem mais nenhum problema.
Terminei com 160 BPM, e cheguei em casa e ainda dancei o Banho de Cheiro,
com a Elba, numa boa. A verdade é que estava cheio de disposição para correr,
cheio de gana, e isso muda realmente tudo.
No ano passado, me lembro que fiz esse percurso com ais dificuldade,
cheguei a parar na subida do Corte de Cantagalo por não agüentar mais.
Cheguei, também, muito mais estafado. Aliás, eu estava retomando treinos
interrompidos praticamente há uns 3 meses. Esse ano não. Mesmo de férias,
mantive minha corridinha, e estou já há algum tempo intensificandomeu ritmo.
De qualquer forma, tive hoje a meu favor um tempo fresco, nublado, com 23º
de temperatura. Foi ótimo! Estou animadíssimo!!!

Rio, terça, 26/02/85

8 km - Dia de muito, véspera de pouco! Depois de toda a animação de


sábado, um domingo tranqüilo, sem problema algum, com planos de intensificar
os treinamentos, veio a segunda feira tétrica. Pelo meio da manhã, os velhos
sintomas surgiram e se intensificaram, culminando num almoço horrível (a
picanha até que tava boa), com tudo que tinha direito em matéria de mal estar
no mediastino, sobretudo na região do coração, um nervosismo crescente,
medo, enfim, o quadro completo. Fui ao ambulatário do BNH, atendido pelo Dr.
Homero Bruce, que constatou estar tudo bem com o coração, apenas a pressão
um pouco elevada – 14,5 por 8,5 – quase no limite máximo da normalidade, o que
tanto ele como eu mesmo atribuímos à tensão nervosa. Conversamos um bocado
sobre o velho e insuportável assunto – minhas crises de “distonia” (?), suas
possíveis causas, enfim, o velho e tedioso problema – minha cruz. Resolvemos
investigar uma possível causa orgânica e ele me mandou fazer um exame de
sangue completíssimo e também de urina. A conversa me relaxou muito, saiu
pelo lado da somatização e eu levei alguns somaliuns no bolso. Não o usei,
porque fiquei bem, Voltei no fim do expediente e a pressão já estava em 12,5
por 7,5, me parecendo, assim,. Constatada a tese do nervosismo como causa de
sua subida.
Fiquei melhor, dormi bem e acordei hoje cedíssimo (5,30), disposto a
correr. Fui para a Av. Atlântica, e parti em direção ao posto 6, voltei, sem
correr muito rápido. Perto do km 3,5, ia ultrapassando um coroa, e este
começou a apertar o ritmo. Sustentei, ele sustentou. Eu aumentava, ele olhava
de rabode olho, aumentava. Não forcei, me segurei no “vácuo” dele, fui até o
Leme assim, colado, passei do 0, fui até a parede, voltei, sempre colado. Ele
nitidamente preocupado em ficar na frente, eu preocupado em não me
esforçar demais, inclusive não o ultrapassando num pique para não ter que, logo
depois, perder a frente.
Já na volta do Leme, senti bem forte uma sensação de exaustão, as
pernas pesando, muito depauperado. Pela altura do Meridien, resolvi deixar o
coroa definitivamente para trás. Com toda sensação de exaustão que sentia, o
espírito de competição foi mais forte e cresci o ritmo um pouqinho, apenas o
suficiente. Passei-o e tive a impressão de que ele foi para a rua, depois tive a
impressão que parava. Me desliguei completamente do cara e fiquei só com
meus problemas, pensando na utilidade ou não da corrida, em estar sendo ou
não benéfica, enfim, naquelas dúvidas todas de quem quer ser saudável, bonito,
forte, mas não tem certeza de estar no caminho certo disso.
Completei o percurso – 8 km – a 25,8º, 41”40”, com 160 ou 170 BPM, e
bem.
O dia não foi bom, mas também não foi mau. Ficou meio cinza por volta
da hora do almoço, de novo, e um pouquinho uma hora ou outra, mas levei bem.
Vamos ver como fica daqui pra frente. Preciso, isso sim, encontrar uma
resposta, um caminho, a verdade.

Rio, 28/02/85 – Quinta


10 km - A briga continua. Acordei cedo, depois de um dia melhor ontem, e
fui à luta. Dez km – 39 > Leblon > 29, em frente ao Cabral. Em 51’20”, sem
sentir que estivesse forçando. Terminei com 165 BPM, temperatura de 22º,
templo, ou melhor, tempo nublado. Saí devagar e marquei o 1º km em 5’ 25”;
cheguei ao 4º e 5º mantendo 5 X 1. Senti um pouco de cansaço no início, aquela
falta de saco, mas depois tudo bem. Terminei bem, mas logo veio o receito de
algum mal estar, que eu já percebia ou “inventava”. Nada muito forte, mas
estava lá. Tomei só dois mates e parti. Daí pra frente, descendo no elevador,
no ônibus, só senti um grande cansaço, esgotamento. O almoço trouxe uma
ameaça de piora, mas sempre sob controle. O dia transcorreu assim, sempre na
cabeça o problema,rondando, rondando, elocubrações sobre a merda que é
conviver com esta porra, o que fazer para pôr um termo a isso, como
pesquisar, como quem. Bem, vou fazer os exames pedidos e partir para achar
um cardiologista que me dê respostas (mais um), ou melhor, que pesquise junto.
É foda!!!

Rio, 3/3/85 – Domingo


8 km - Fica até meio difícil relatar a corrida de hoje. PAINEIRAS.
Depois de uma noitada de sexta para sábado com muita cerveja, um sábado de
ressaca e “distonia”, e, ainda por cima, com uma visita do Luiz Antônio que
rendeu um papo até 2 da matina, com cerveja, é lógico, acordei pontualmente
às 6, com aquele dia seguinte de um temporal que inundou a cidade. Encarei,
meio temeroso, mas encarei. Fomos eu, Jane e Maria, e chegamos ao Hotel das
Paineiras 7 da manhã. Deixei a Jane e a Maria e fui de Kombi com a equipe do
BNH e alguns caronas para a largada, na pracinha do Alto. No meio do caminho,
após ultrapassarmos uma s barreiras caídas deixando meia pista, nos
deparamos com uma verdadeira catástrofe, uma avalanche de barro com várias
árvores caídas, tomando a pista em uns 50 metros. Os que tentaram
atravessar a pá atolaram até o joelho. Ficou-se no impasse de ter ou não a
corrida. Até que pintou a Eleonora Mendonça, dirigindo os trabalhos, e mandou
todo mundo ir para a largada, dando a volta, porque a corrida teria largada e
chegada no mesmo local. Pegamos a Kombi, fomos até o Hotel, peguei a
Barbarela, e fizemos uma verdadeira tournée turística, indo pelo Sumaré até
quase a pracinha do Alto. O tempo não estava nada bom, meio frio, talvez uns
20º, mas a mata molhada estava linda. Foi um belíssimo passeio.
A largada foi bem informal, a Eleonora contou até três e lá fomos nós,
ladeira acima. Tempo fechado, pista bem úmida, árvores copadas fechando e
escurecendo em cima, e a turma desaparecendo aos poucos na minha frente.
Dizer que eu ofegava era sacanagem, eu bufava, sentia os músculos da perna,
da coxa, por causa do ângulo de inclinação. Nunca subi tanto correndo, nem
com tanta inclinação por tanto tempo. Dava vontade de parar em cada curva
que eu fazia e só via subida na minha frente, e o bloco se distanciando. Duelei
por uns dois km com uma mulher meio gorda e não muito nova, que deixei para
trás afinal mas que me passou e sumiu na volta, lá pelo 5,5. A metade da prova,
que devia ser de 8 km e presumo que tenha sido era de subida, subida íngreme.
Na volta, me deparei com os retardatários, não mais que 6 ou 7. Aí é que me
senti uma bosta, e procurei correr bastante na descida, bem mais fácil. Mas
logo, lá pelo 5º km, comecei a sentir o esforço, e uma violenta dor de viado,
sempre do lado direito, quase me fez parar. Aí fui passando pela tal corredora,
perdi de vista mais uma outra coroa que eu vinha perseguindo e, pior, o
Lordeiro, coroão gordo e pesado, de 56 anos, me deixou bem pra trás,
parecendo que passou por mim como um raio; que nada, eu é que me arrastava
como uma tartaruga. Meu tempo de ida foi de 22’30” aproximadamente, e
cheguei com menos de 40’. Quando conferi o tempo é que saquei que não tinha
sido tão má corrida, o pessoal com quem corri é que era do melhor. Afinal, no
Carnaval, no plano, eu tinha feito o mesmo percurso em apenas 1 minuto a
menos, e fiquei em 464º lugar, mais ou menos no meio dos participantes. Hoje
fiquei em 77º lugar, e fui seguramente um dos 10 últimos. Imagino que, depois
de um temporal, subir o morro com chuva, enfrentar queda de barreira, tudo
isso numa manhã de domingo, só poderia reunir um grupo de feras, gente que
realmente preza a corrida e que a pratica sempre, mesmo em condições
adversas, sendo, portanto, muito bem preparada. Pelo menos esse raciocínio
me consolou.
Terminei, corri uns 100 m e tirei a pulsação – 150 BPM. Ensaiei um mal
estar, mas penso que foi mais medo. Comi umas laranjas, bebi água, uma
pequena dose de coca, e fui à luta. Rodei com as duas toda a floresta da Tijuca
e depois comi AQUELA DOBRADINHA na voróvia. Tudo bem, fora o cansaço.
Rio, 6/03/85 – Quarta

10 km - Corrida de ontem. Depois de um dia em que senti claramente os


efeitos da corrida (de domingo), sem, contudo, grandes mal estares, na terça
fiquei um pouco pior dos meus males. Quando falo meus males fico querendo
achar uma palavra, melhor, uma definição para o que sinto. Às vezes chamo
meus males, às vezes distonia, sei lá, às vezes minha cruz. Talvez seja essa a
melhor, minha cruz! Não existe nada na minha vida, desde aquela fatídica
segunda feira de março ou abril de 82, que me tenha feito sofrer mais na
minha vida, pelo mal em si e pelas agravantes de medo, enccucação, frustração
que o acompanham. Que tenho eu? Efeitos de um prolapso de válvula mitral
como suspeitaram alguns médicos, como até foi diagnosticado em exame
ecocardiográfico, ou somatização cardíaca dos meus problemas, como
diagnosticaram outros tantos, e do que fui tratado e até apresentei sensíveis
melhoras através da homeopatia? Inclusive com o forte apoio da tese do não-
prolapso após um cuidadosíssimo exame clínico (como nunca tinha sido
examinado) apoiado também em ecocardiograma de dedicado e
impressionantemente seguro cardiologista, Dr. Djair Brindeiro Filho, mais
tarde ratificado por outro seríssimo exame clínico do mesmo. Quem sabe
mesmo, suspeito eu na minha ansiedade, prolapso e somatização combinados?
Estou decidido a investigar isso até o fim, e parti nessa direção com a
realização de completíssimo exame de sangue e urina, o começo dessa busca
que vou empreender.
Mas o papo é corrida. Não tive uma boa terça e, por isso inclusive,
resolvi correr à noite.
Saí debaixo de chuva, poucas pessoas correndo, do 39 para o Leblon. Saí
bem devagar, na intenção de não me preocupar com o tempo, me
descondicionar, enfim, fazer aquela corrida relaxante e armazenadora de
energia. Foi tudo indo bem, inclusive logo nos 1500 m comecei a sentie um bem
estar enorme, sensação gostosa de equilíbrio, enfim, uma beleza. Fui até o 35
e comecei a voltar. Senti, do 4º ou 5º em diante, uma espécie de dor de viado
generalizada na boca do estômago, que não foi muito forte mas se fez
presente sempre, evoluindo para o que passou a parecer dor de estômago
mesmo, aliviando um pouco chegando já no Arpoador, quando arrotei bastante.
Tive oportunidade de me preocupar especialmente com o retão que sai do
Country até o Barril 1800, quando aumentei um pouco o ritmo para fazer 5 X 1,
quando contei o tempo de cerca de 10’, o que me fez concluir que aquela
maldita reta deve andar perto dos 2 km. Entrei na Fco. Otaviano mais devagar,
e, em Copa, me sentindo bem cansado, sem, contudo, notar o esgotamento de
algumas corridas recentes. Diante da dúvida de parar de vez no 39, ficando,
assim, nos 8 km, ou ir ao 40 e voltar, perfazendo os 10, meu psique fez merda
e ensaiei uma boa dor de viado em frente à Alm Gonçalves. Continuei, no
sacrifício, fui até o 40 e voltei, muito cansado. Terminei em cerca de 56’ e com
155 BPM.
Hoje, de saco cheio dos vai e vem do meu estado quanto aos meus
“males”, apelei e tomei meio Somalium, por absoluta falta de saco de resistir e
“sublimar” minha “somatização”. A melhora se fez sentir junto com certa
sensação de aparvalhamento quando tomo a droga e me fa pensar se não é tudo
ou uma grande parte do que sinto, realmente, distonia!?

Rio, 10/03/85 – domingo


10 km - Hoje foi a corrida da Ilha,mas ainda não falei da corrida que fiz
quinta, dia 7, pela manhã, de 10 km. Menos de 48 h depois da anterior, saí pela
manhã cedo, no esquema dos 39 até 35, volta ao 38 e até o 39 de novo. Por
algum motivo, não me lembro muito de detalhes, apenas sei que fiz em cerca de
56 min., bem devagar, e terminei em 160 BPM, cansado, mas numa boa. Passei
um bom dia mas uma sensação de mal estar bem brabo pintou lá pelas 1.30 da
manhã, depois de um bom dia de trabalho, um excelente jantar no La Mole, uma
esticada no Oviro do Ipiranga; mas foi na Fiorentina, no final da noite, que
pintou a “distonia” braba. Eu louco para chegar em casa, com medo até de
dirigir do Leme ao Debret. Enfim, aquela merda na minha cabeça. A sexta foi
normal, sem problemas, o sábado com a criançada, com a cabeça na corrida de
hoje.
12 km - Há muito tempo eu não fazia uma corrida tão boa. Depois de uma
temporada tão filha da puta, fazer uma corrida me sentindo tão bem durante e
depois é, no mínimo, para ser regiamente comemorado. Saímos do Largo da
Ribeira e fomos, pela orla, mais 6 km adiante, voltando pelo mesmo caminho.
Um dia de sol, temperatura a cerca de 34º, mas fui muito bem. Não senti
nenhum desgaste, dor de viado ou mal estar cardíaco. Fiz o primeiro km em
4’45” e todos os outros em 5’, pois levei exatamente menos 15” que uma hora.
Um relógio! Nos últimos 300 ou 400 m, o Johny veio ao meu lado, me dando a
maior força, e cheguei acelerado. Tentei medir a pulsação, e acho que estava a
170 ou mais BPM. O trajeto era maravilhoso, casas lindas aparentando lugares
do interior pacíficos e bucólicos. Gostei demais. A equipe do BNH foi em
grande número, e eu fiquei em 313º no total; ainda na equipe, creio que deixei
para trás pelo menos dois.

Rio, 13/03/85 – Quarta


9,8 km (?) - A corrida foi ontem. Como sempre, a falta de tempo não me
deixou relatar minhas impressões na hora. Sinto, com isso, que perco muita
coisa. Mas, vou-me educando aos poucos e vou acabar levando um gravador e
um microfone enganchado na boca feito piloto de filme americano, contrato
uma secretária para datilografar tudo que eu gravar enquanto corro e um
crítico literário para, junto comigo, ir elaborando a obra do século em matéria
do assunto que trato aqui. E, talvez, eu ainda me sinta insatisfeito comigo
mesmo. Ah! Minha rigidez, como diz a Jane! Esse stress ainda me mata! Digo
eu...
Bem, saí às 7.40’ da M. Lemos com A. Saldanha, bem em frente à
padaria. Fui em direção à Lagoa e, lá, fui para a esquerda. Foi uma excelente
escolha, porque comecei a corrida no sol e acabei na sombra.
Foi uma corrida muito boa, como as últimas que tenho feito. Nada de
sensações ruins, tudo em paz. Apenas comecei a sentir a contusão do sóleo
esquerdo que tive no ano passado, preparando-me para a Maratona. Também
fiquei muito cansado, na volta, para subir o Corte de Cantagalo e, detalhe
interessante, um pequeno mal estar que comecei a sentir no coração um pouco
antes de chegar à subida do corte desapareceu completamente com o enorme
esforço que fiz para subi-la, sentindo o coração pular pela boca, mas de um
jeito com que estou acostumado desde pequeno, e não do jeito que estou
tentando me acostumar desde 82. A verdade é que, na descida para casa, eu já
estava ótimo, e terminei a corrida muito bem, em 51 minutos e 155 BPM, no
mesmo local.

Rio, 16/03/85 – Sábado


Hoje eu deveria estar fazendo uma longa, talvez uns 20 km; pelo menos, era o
que eu imaginava na semana passada. Em vez disso, estou aqui curtindo uma
crise das mais brabas dos últimos tempos, daquelas inesquecíveis.
10, 2 km - Corri na quinta de manhã, 10.195m. Saí devagar em direção à
chegada da maratona, para voltar do 42, mas passei e voltei quando atingi a
chegada mesmo. Fui até o 37 e voltei, num total de 58 min. Fiz os dois últimos
km em 10 minutos, e terminei a corrida bem, com 170 BPM. Passei um bom dia
e, à noite, fui ver Oh! Calcutá. Esticamos ao La Mamma e fui dormir por perto
das 2 hs. Acordei sexta cansado, mas bem, e mantive meus abdominais (30) e
flexões (30), indo para o trabalho. Lá, pela manhã, começou a pintar a crise. No
almoço piorou e, terminando, eu estava na pior. A tarde foi mais ou menos e a
noite foi, simplesmente, terrível. O mal-estar acompanhado de um
esgotamento, uma astenia terrível.
Acordei hoje um pouco melhor, andei bastante pela manhã, o que foi
bom, almocei uma lula à espanhola no Bismark muito boa e, agora, estou meio
barro meio tijolo, carregando esta cruz que me revolta.
Rio, 20/03/85 – Quarta

+- 8 km. Fiz uma corrida diferente na segunda. Saída no km 39, ida até o
J. Alah, e volta pela Lagoa, até a esquina da Alm. Gonçalves com Atlântica.
Qual a distância? Não sei, mas fiz em 46 min, sem correr muito. Me senti bem.
Não posso afiançar, mas tomei uma dose de Aurum Metalicum 0200 no dominto
e uma de Argentum Nitricum 0200 na própria segunda, (terminei com 160
BPM) o que pode ser a razão de minha melhora, reeditando antigos remédios
do Dr. José Laércio do Egito. Não tenho tido pique para fazer bons e
interessantes relatos das corridas, até porque o medo e a dúvida voltaram a
ser a tônica delas, o que me tem deixado pouco interessado em relatar coisas
pitorescas como a descoberta, numa corrida recente, do “homem da vassoura”,
provavelmente inspirado no homem da bengala.

Rio, 21/03/85 – Quinta

10 km - Atrasado, mas sem falhar. Minha corrida de ontem: 10 km, em 58’


30”, terminando com 165 BPM.
Saí em direção ao 38, com um certo mal-estar cardíaco. Na volta, já não
sentia mais nada, quando entrava na Atlântica. Isso me fez um tremendo bem.
Fui até o Leme e, na volta, perto do 39,5, pintou um pouco de dor de viado, que
passou logo depois. A curva para voltar no posto 6 marcou o início de um
cansaço tão grande que quase parecia uma paralisia: eu correndo em câmera-
lenta e fazendo um esforço enorme para manter os movimentos. Foi outra
corrida péssima, com muita dificuldade e até depressão. E os questionamentos
de sempre: qual o valor de uma corrida assim? Estou podre.

Rio, 26/03/85 – Terça

Parei! Dei um tempo, desde quarta passada, já não agüentava mais a


tensão. Meu rosto mesmo já estava congestionado, não conseguia nem
desanuviar meu semblante, eu mesmo sentia claramente isso.
Acho que foi uma prova de maturidade das mais importantes que me dei,
uma quebra de minha rigidez idiota e stressante. Resolvi relaxar mesmo! E
relaxei. Ao lado dessa decisão, a volta aos remédios homeopáticos de outras
crises: Moschus C.30 e Ignatia Amara C.200, os dois 5 drágeas por semana.
Mesmo sábado, que eu me sentia bem disposto e tive vontade de dar
uma corridinha, fazer uns abdominais, resisti e me mantive em repouso total. E
foi ótimo. Tudo deu certo. Senti nítida descontração e rápida melhora, me
senti seguro, despreocupado. Tudo mudou.

10 km - Aí, ontem, parti para meus 10 km, repetindo meu trajeto 39 a 29


da maratona. Saí devagar até o Leblon, sem forçar, mesmo nas horas em que
tive tesão de puxar mais. Só marquei o primeiro km., cerca de 5’30”, e depois a
chegada, que ocorreu com 55’30”, e 155 BPM. Quer dizer, com muitíssimo
menos esforço., completei me sentindo ótimo um percurso que, na última vez,
fiz em 58’, aos peidos.
A nota feliz do dia de ontem e de hoje é o início, pela Jane, de um
programa de treinamento progressivo, que pretendo seguir com ela nos meus
dias não, como fiz hoje.

Rio, 1º de abril, Segunda

Tenho que falar de três corridas. A de quarta, dia 27, a de sexta, 29 e a


de domingo, ontem, dia 31. Por partes:

10 km - dia 27, quarta. Voltei a fazer meus 10 km num percurso meio


estranho que até errei e tive que improvisar. Explico: para não fazer trajeto
monótono, imaginei fazer os 8 km em copa, iniciando e acabando no km 39;
depois, iria até o 38 e voltaria, perfazendo mais dois. Quando chegou o km 4
de Copa, depois de eu já ter feito os 8, ou seja, quando, após terminar os 8 e
ido do 39 até o 38, interrompi no posto 6 o percurso e voltei. Quando me
lembrei, tive um lampejo, continuei correndo em direção posto 6 > Leme, fui
até a lixeira 3000 e voltei até o 39. Fiz em 54’30”, com, acho, 160 BPM.

8,6 km - dia 29, sexta. Não queria forçar muito, já que pretendia fazer a
clínica da maratona, no domingo às 7 hs. Por isso, resolvi fazer o percurso da
Jane e depois correr alguma coisa. Fiz 1200X400X1200X400X1200X400
(corrida e caminhada) bem lento, com a Jane. Daí fiz 5 km em 29 minutos,
como um esquentamento, suave e calmamente, me preocupando apenas em
espaçar bem as passadas, como uma experiência no estilo de corrida.

20 km - dia 31, domingo. Grande dia, minha primeira longa com vistas à
maratona. Saímos do aterro às 7h30’. No aterro me juntei a dois colegas:
Edson, gordo, sem correr há um ano, e Lívia, 46 anos, preocupada com o
próprio corpo desde os 40. Fomos juntos os 3 até o Alberico, quando Edson
parou. Continuamos nós dois, fomos ao Leblon e voltamos; fiquei na Figueiredo,
perfazendo os 20 em 1 h 58’, com 160 BPM. Tivemos água no posto
Marrequinho, depois em Ipanema i.v. e depois quando parei tomei um côco. O
cansaço foi grande, mas não como minha primeira longa do ano passado, quando
senti dores terríveis. Foi bem melhor.

Rio, 3/4/85 – Quarta.

8 km - Rádio Cidade: como é bom ouvir você, logo ao acordar. Tão


significativa de bons momentos, tanto aqui no Rio quanto em Recife. Que bom
me lembrar de ligar o rádio hoje, e em você! Coisas simples que fazem tanto
bem!
Corri ontem. Depois de um dia meio barro meio tijolo, em que não tive
propriamente uma crise, nem foi nada tão ligado ao coração, mas ao aparelho
digestivo. Melhor dizendo, algo como uma espécie de ardor, quentura, na altura
da boca do estômago, logo abaixo do externo; mas, estranho, não parecia nada
dentro do estômago, tipo azia, mas fora nos tecidos dentro de mim, mas fora
dos órgãos. Assim tipo uma distenção profunda. Um negócio de doido,
incomodando sempre que eu dou uma respirada bem profunda. Estou cada vez
mais pinel! Senti tambémaquele bolo para engolir, coisa antiga e esquecida, que
já me motivou uma radiografia em Recife. Cansaço também, astenia, mas fui à
luta.
Saí às 7.32’ da lixeira 3.400 e fui com a Jane até a 3.800 devagar; daí
ela ficou no programa dela e eu aumentei minha velocidade para meu ritmo, não
muito rápido, mas bom.
Não fiz uma corrida solta, alegre, descompromissada, mas não me liguei
em hora e tentei me desligar. Fui fazendo uma boa corrida, não fosse por uma
inusitada dor de viado no lado esquerdo, entre o umbigo e a virilha, que
permaneceu entre o km 4 e 6, mais ou menos. Uma corrida meio cinza, sem
vibração, mas sem problemas, eu diria eficiente. Constatei isso no final, quando
marquei 43’30”, com 160 BPM.
Desacelerei devagar, fiz um bom tempo de relaxamento, com
alongamentos, saltitando e caminhando bastante. Dormi melhor do que ontem e
estou bem, embora só vá saber isso mesmo durante o dia. Hoje é dia do
Phosphorus. Espero que me alivie!

Rio, 8/04/85

8 km - Duas corridas a relatar: a primeira, na quinta feira, em Marica.


Ampliei meu plantel de locais onde corri com essa cidade. Foi uma corrida
inesquecível; pelo incômodo e pelo mal estar mais do que por qualquer motivo
interessante. Saí às 10 para as 6 da tarde de quinta feira, dia 4, numa estrada
de terra, muito irregular, com carros passando e levantando muita poeira. Fui
da casa do Flávio até Ponta Negra, ou melhor, até um pouco antes. Até Ponta
Negra e volta seriam 10 km. Porém, como já estava escurecendo e eu estava
sem saco, fui até um entroncamento 1 km antes, o que daria 8 km ida e volta.
Fiz a ida em cerca de 22 min e resolvi voltar mais rápido, e fiz em 20 min +-.
Corri no escuro, com carros na minha traseira, terreno super irregular, ora
com partes fofas, ora com buracos mil. A toda hora eu achava que estava
chegando, cada prédio parecia o do Flávio. Forcei bastante, e terminei com 175
BPM.

Rio, 8/4/85 – Segunda.

8,8 km - Não fiz minha longa do fim de semana. Sequer corri uma parte
disso, como cheguei a pretender. Faltou ânimo e, sobretudo, convicção.
Corri hoje com a Jane seus 1000X200X800X200X400 (corrida e
caminhada). Marquei 6’35” do seu km. Sentiu dores nos joelhos e não
completou seu programa.
Eu cheguei em casa podre. Via-se na minha cara o esgotamento. Fiz o
programa da Jane e, depois, corri 6 km. Saí dos 3.000, fui ao Leme, e voltei.
Corri bem. Meditei e orei durante todo o tempo. Minhas orações racionais.
Respirei pelo nariz todo o tempo. Terminei em 29’20” e 160 BPM.

Rio, 11/04/85 – Quinta.

10 km - Corri ontem 10 km, do 29 ao 39. Passei um dia meio ruim, com


piora no fim do expediente. Cheguei em casa na pior. Só imaginava me deitar e
relaxar. Fui correr nem sei porque. Mas valeu a pena. Saí no cacete, e mantive,
numa boa, cheio de gana. Respirei pelo nariz, talvez fosse melhor dizer, pela
narina esquerda, o tempo todo. Só de vez em quando, para aliviar, dei umas
respiradas pela boca. Passei um cara no Maria e vim voltando com ele no meu
encalço até a minha rua. Cheguei 2,5 minutos na frente dele aqui. Senti que
reduzi um pouco nos dois últimos kms. Terminei com 160 BPM e em 58’30”. Me
estiquei bastante, fiz muito relaxamento, subi, tomei um banho quente e
pronto.
Passei hoje um dia bom, com alguns senões à tarde. Algumas dores
musculares.
2,4 km - Corri 3 X 800 m e andei 3 X 400 com a Jane. Vamos ver amanhã.
Estou animado.
Rio, 14/04/85 – Domingo.
25 km - Não corri mais desde quinta. Estive bem estes dois dias, a não ser
ontem, depois de um dia todo na cama, com batida de limão e feijoada, a
primeira verdadeira feijoada da Jane, uma delícia. À tardinha, quando me
levantei,não estava muito bem; fiz uma caminhada calma, tipo ver vitrine, até a
Figueiredo, e voltei. Dormi à ½ noite.
Hoje fiz minha longa. Saí às 6.45’30” do MAM, fui ao Leblon, fui ao
Leme (42) e voltei até o 39. 25 km em 2h 20’. O tempo que levei para
completar os 20 km foi 6’ inferior do que na última longa.
O detalhe bacana da longa de hoje é que me encontrei com a turma que
fazia as 10 milhas, Leme, Leblon, Leme. Quando eu voltava do Leblon, cruzei
com os primeiros colocados, Benedito Porto, Baltar, e outros que não conheço.
Na Francisco Otaviano, o 1º (do Bangu) e o 2º (Porto) me passaram. Aí, comecei
a participar da corrida, apesar de como retardatário. Fui até o 42 e voltei. Aí
encontrei o grosso dos corredores, e remei contra a maré. Cheguei inteiro, fiz
alongamentos; a 150 BPM.
Tive as tradicionais dores, mas um banho quente bem demorado me
ajudou.
Vamos ver o resultado.

Rio, 17/04/85
10 km - Saí para correr 12 km. De manhã cedo. Acordei às 6 hs. Cocô,
barba, me vesti e fui à luta. Depois de uns 10 minutos de aquecimento, parti do
29 às 6.30’, para o Leblon. Saí rápido. A manhã, quente e abafada, aliada ao
desgaste de minha longa de domingo, me fez sentir cansaço. Quase chegando
no canal, comecei a me aproximar de um cara, e achei que ia passá-lo. De
repente, ele começou a fugir, quando eu estava a uns três ou quatro metros
dele, algo como se ele tivesse percebido minha proximidade e tivesse resolvido
não se deixar ultrapassar. Comecei a tentar acompanhar e, logo, percebi que
não seria bom, pois ainda não tinha atingido os 6 km. Me segurei e o cara parou
no Leblon. Na volta, mantendo os 5 X 1, comecei a sentir aquela pressãozinha
no coração, e senti desejo, várias vezes de aliviar. No ALBERICO’S, km 37,
resolvi, após constatar os 8 km em 40’10”, reduzir. Fiz o nono em 5’45” e, aí,
achei melhor parar nos 49, fazendo só 10. Terminei com 51’30” e 160 BPM,
numa boa depois de fazer os últimos 2 km maid de leve. O presente do dia foi
uma morena ótima de roxo, correndo em direção ao posto 6, já na minha fase
de desaceleração, que me deu vontade de começar a correr de novo.
Rio, 23/04/85 - terça-feira
Desta vez, exagerei. Fiquei sem relatar duas corridas, a de sexta pela
manhã e minha longa de domingo. Começo, entretanto, pela de hoje:

12 km - Saí para correr 12 km; e corri. Em 65’25”, terminando com 150


BPM. Fiz 39>40>39>29. Comi demais no almoço, no Turquinho, a comida
deliciosa e a fome enorme porque almocei tarde. Vim em casa para tratar do
conserto do banheiro da empregada, comprei uma tv Sharp, ou melhor, agendei
a compra, que quem fez foi a Jane e só comi às 2.30. Resultado: comecei a
correr meio afrontado. Tive um pouco de dificuldade no início, o estômago
pesado, e falta de saco para correr os 12. Quando cheguei ao 37, a coisa
melhorou, e corri bastante bem, entrei no “steady state”, que perdurou até a
volta aos 37, quando comecei a sentir de novo o cansaço. Mas terminei bem.
8 km - Corrida de sexta, pela manhã. Fiz 8 km em 41’30”. Fui a favor do
vento, para o Leme, e, na volta, encontrei um vento forte, que me fez forçar
muito. Meus ouvidos zumbiam com a força do vento. Não me lmebro com
quantos BPM terminei.
26,5 km - Corrida de domingo – 21/04. Cheguei no MAM às 6.40. A surpresa
do dia: Johnny. Saímos em direção ao silo nº 7 do Tupy (km 15), no primeiro
treino da Clínica pela perimetral. Um dia bom, sem sol, mas sem chuva, fresco.
Um número enorme de maratonistas, mais de 100, eu acho. Fomos até o
Meridien, depois até o Leme, e voltamos ao MAM. Viemos na fumaça de uma
corrida Leme-MAM, de 10 km. Não passamos pela praia vermelha. Fizemos
mais de 26 km, menos de 27. Em 2 h 25’ cravados, o que dá cerca de 5’30” X
km. Terminei cansado como sempre, mas não esgotado. Como estava com a
putada, fui à praia, meio entrevado, mas a água gelada me ativou. Joguei
frescobol de montão e, após o almoço, à tardinha, tornei a jogar. Tudo numa
boa. Eu me surpreendi com minha forma física e meu bem estar geral. Foi uma
surpresa maravilhosa!!!

Rio, 27/04/85 – Sábado


Corrida de quinta-feira – quase chegando a hora de minha longa de amanhã, e
eu ainda não escrevi sobre minha última corrida.
10km – Foram 10 kilômetros, que fiz sem querer saber de tempo, BPM, nada.
Me preocupei apenas com minha dor no quadril direito, que vem me
incomodando sempre nas últimas corridas, e se agravou com um problema
lombar ou de coluna porque andei me abaixando muito na quarta-feira,
consertando a cama. Tenho dormido no chão, em colchonete, porque tenho a
forte impressão de que o problema é do colchão; isso, quanto à dor nas costas.
Nada a ver com a dor que senti na espinha nem com a dor no quadril. Por isso,
corri devagar e sempre, para poder fazer uma boa longa. Estou melhor, mas
não 100%. Vou me poupar amanhã. O dedão do pé direito melhorou, porque
deixei o “to na merda” e voltei a usasr o “velhão”. Talvez a dor no quadril
também seja proveniente do uso do “to”. Vou insistir no velhão e ver o que que
dá.

Rio, 28/04/85 – Domingo


26,5 km - Realmente é lindo! Toda aquela gente saindo junto para correr,
fazendo um grupo compacto e coeso de mais de 100 pessoas. Cheguei em cima
da hora e já desci do ônibus correndo, pegando a turma na largada. Fiz o
mesmo percurso da semana passada, com uma desvantagem. Não peguei o
Johnny, que só vi na volta da perimetral e, depois, No Meridien; corri sozinho.
Talvez por isso, por ter ficado mais entregue aos meus pensamentos, senti
algum malestar, um certo aperto no coração. Mas não acho que tenha forçado.
Fiz a corrida em 2h 22’, e ainda “comi” alguns trechos, já que tangenciei no
aterro atravessando as pistas algumas vezes. Só respirei pelo nariz o tempo
todo e senti uma grande disposição na volta pela perimetral, quando aumentei
um pouco a velocidade, inclusive pensando em pegar o Johnny. A turma correu
passando pela Praia Vermelha, o que eu preferi não fazer.
Estava uma manhã linda, um sol brilhante, sem calor; me lembro de uma
vez que olhei para o relógio digital e vi 24º.
Depois, praia, frescobol, um bom almoço; inauguramos o galeto da
Bolívar, tudo isso acompanhado de um certo mal estar que sempre incomoda e
preocupa.

Rio, 4/05/85 – Sábado


12 km – Depois de uma gripe braba, volto a escrever sobre corrida. Minha
última foi na terça passada. Era a primeira corrida depois da longa. Resolvi
correr 12 km: Othon > Leme > Othon > Leme. Saí com a Jane, e corremos jutos
2 km em 16 minutos – até o Meridien. Lá prossegui sozinho. Na volta, a
primeira, encarei vento, e de chuva. Logo choveu, e me encontrei completando
os primeiros 6 km com chuva. Voltei ao Leme e, na volta, aquele temporal.
Divino! Uma deliciosa chuva forte e fria. Com os 16 minutos gastos nos
primeiros 2 km e o forte vento contra durante 6 km, só consegui fazer os 12
em 1 h 12’ 30”, mais de 6 minutos por km.
Fui ao cinema de bermudas e camiseta e meu organismo se ressentiu.
Fiquei gripado. Piorei na quarta e quinta nem fui trabalhar, com febre.
Hoje foi feita a clínica pelo percurso da maratona, saindo do Leme e
voltando ao Leme, 28 km. Eu não fui. Não quis me arriscar, em vista da gripe, e
também quis dar um tempo, um descanso.
Enquanto esperava o Johny, senti umas pontadas finíssimas e esparsas
bem no local do coração. Novidade ruim. Nítidas pontadas, acutíssimas. Passou
depois, mas estou sentindo agora de novo. Ting,...ting...ting, aí para. Daqui a
pouco, novamente; do lado esquerdo, meio fraca, como se uma fina agulha
sempre penetrasse pelo sovaco esquerdo e fosse tocar, simplesmente tocar um
ponto muito sensível lá dentro; algo semelhante a quando uma lâmina de papel
metálico toca uma obturação no dente. Mas preocupa! Dá medo!

Rio, 6/05/85 - segunda-feira


8 km – Oito quilômetros em 40’ 10”. De volta aos bons tempos? Depois de um
fim de semana meio esquisito, com aquela sensaçãozinha de dor ao respirar
fundo, além das pontadinhas referidas no sábado, com a continuação hoje da
dor ao respirar, saí para correr; fui até como um grito de socorro. Depois de,
mais uma vez me aborrecer com a impossibilidade de diálogo com a Nilda –
hoje foi a respeito do médico do Paulo – angustiado com a dor, medo,
preocupação com minha vida e com as crianças, saí com gana: muito frio (19 º
+-), o céu limpo, e um luar digno de filme de lobisomem me deram aquela força
para partir com ímpeto; sem vento, respirando só pelo nariz, como tenho feito
desde Recife (nunca mais senti dor de viado, teria alguma relação?), fiz km 39
> Leme > posto 6 > km 39, e terminei com 165 bpm, sem forçar tudo, até
porque estou achando que tenho que me guardar para 10 amanhã, 12 terça, 14
quarta e 16 quinta, para sair para os 29 no sábado. Será que vai dar?
Terminei bem, apenas a sensação fraca de dor, a mesma, mas um estado
geral melhor, mais controladao, mais calmo, enfim, o de depois de uma boa
corrida. Sim, foi uma boa corrida.

Rio, 7/05/85 – Terça.


10 km – Uma das melhores corridas que já fiz, daquelas inesquecíveis. Não foi
nem um tempo tão bom e até me senti bem cansado no final. Mas, em função do
mal estar que tenho sentido essas últimas semanas, agravado pelas dores
musculares com que estive hoje o dia todo e, ainda, considerando que foi uma
corrida logo no dia seguinte de outra, o que não faço há não sei quanto tempo,
o resultado foi excepcional!
E me senti bem o tempo todo, logo desde o início. Uma noite também
fria, a 23 º, já meio tarde – 20.20hs, saí do 29 até o 39. Como me senti bem, o
nariz completamente desentupido, enfim, tudo às mil maravilhas, aquela
corrida que faz a gente se sentir corredor. Terminei com 160 bpm.

Rio, 08/05/85 – Quarta.


12 km – O exame está normal. Essa frase do Dr. Velasco me surpreendeu um
pouco. Acho que, no meu natural pessimismo, esperava ouvir o contrário. Depois
de fazer o que era devido, ele me fez virar para a máquina e me mostrou meu
próprio coração, em corte, no visor: “veja, disse ele, você não tem prolapso de
válvula mitral, porque essas linhas aqui estão convexas e não côncavas, o que
indica que o s folipos da válvula não se viram para dentro – está normal”. Saí
vibrando, embora não tando como da vez em que ouvi o mesmo do Dr. Djair
Brindeiro. Mas me enchi de confiança, almocei com a Jane no Bar Luís, tomei
um excelente chope preto e até comi sobremesa, “helas”!
Agora à noite, fiz a corrida da vingança, da forra. Parti para os 12 km
com gana; comecei bem rápido, e fiz os primeiros 6 km (Othon > Leme > Othon)
em 29 m. Mas não pude sustentar essa velocidade, em parte porque senti
cansaço e em parte porque, no fundo, também me preocupei em me poupar para
os 14 km de amanhã, e até para não incorrer no erro de ir com muita sede ao
pote e me machucar. Isso me levou a terminar com 61’ 30”, um tempo que
considero excelente, de qualquer forma. Terminei com 160 bpm, apesar de, nos
últimos quilômetros, ter dado uma boa forçada.

Rio, 12/05/85 – Domingo. Das mães.


28 km – Ontem foi o dia Longa. Talvez tenha sido a mais sensacional que fiz,
pelas características. Três dias depois de saber que não tenho prolapso, aliás
saber não, confirmar, o que me encheu de confiança, passei simplesmente a me
preocupar tão somente com minha forma, meu desempenho, como qualquer
atleta. Atleta... é assim que estou me sentindo: um atleta, meio veterano, mas
atleta. É uma palavra imponente, muito importante para mim. Significa vida,
saúde, desempenho, vitória. Como preciso dela!
Eses dias alteraram significativamente minha vida. Nenhuma sensação
ruim que pudesse ser notável ou alarmante. Segurança – essa a diferença.
E foi com toda segurança quanto à minha saúde que saí do Leme, pé no
asfalto, para correr 28 km. Fui com o Johny, saímos forte. Cruzamos o km 8
com 40’ 54”, o km 15 com 1h 16’, sempre colado no Johny; corremos o tempo
todo embolados com o casal 20, um gordinho e uma baixinha que surpreendeu
pelo desempenho. Na volta, no aterro, deixamos os dois para trás, e, no morro
da Viúva, percebi a baixinha colada em nós, sem o gordinho, que deve ter
“morrido”. Pois ela nos passou e escapou em Botafogo, enão a vimos mais. Eu
cruzei os dois túneis por honra da firma, um moribundo. Corri a Princesa
Isabel fugindo dos ônibus, carros e pessoas aglomeradas para subir nos ônibus.
Entrei na Atlântica como um zumbi, mal mesmo. Cheguei com 145 bpm e degluti
6 copos de coca, guaraná, tudo que pintou. No Meridien, tinha ganho um copo
dágua que, literalmente, comi, tanta fome e fraqueza sentia.
Tive minha crise dos 32 km na chagada dos 28 km. Dores insuportáveis
nas pernas, que fui acabar de sentir no Mister Pizza da Av. Copacabana, com o
Johny e a Jane, onde tomei dois chops e comi uma pizza, desesperado de dor
que não passava, até que, de repente, em 3 ou 4 minutos, passou a níveis
normais: tanto que voltei a pé para casa. Foi uma corrida memorável.
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Rio, 15/05/85 – quarta.


Primeiro, minha corrida de segunda à noite.
Depois dos 28 de sábado, até achei que ia ser meio difícil. Não foi. Fiz
um excelente aquecimento com a Jane, na lixeira dos 3000. Parti para o Leme,
em ritmo bem forte. Forcei tanto que precisei reduzir o ritmo várias vezes,
numa delas, inclusive, com uma dor de viado prometendo. Foi uma corrida
irregular, de acelerações e desacelerações. Mas me senti em grande forma. A
temperatura estava em 22º, excelente para correr. Tenho corrido
maravilhosamente bem, sem qualquer sintoma ruim, e me sentindo ótimo o
tempo todo. A nota dessa corrida foi a unha do dedo médio do pé direito
doendo e toda roxa. Muito dolorido o negócio. Fiz no tempo de 39’30’’, em 160
BPM – 8 km.

Corrida de hoje.
Acordei às 6hs da manhã, frio e escuro. Me aqueci no hall do 11º andar,
para acordar. Depois de ter enfaixado o dedo machucado com bastante
algodão e esparadrapo, e colocar meu speed-o novo, desci para meus 10 km.
Senti dores nas canelas no aquecimento. Realmente, é difícil para mim correr
de manhã. Fiz o percurso 29 > 39. O dia estava lindo, a temperatura perto dos
20 º, muita gente bonita correndo, fazendo ginástica.
Saí meio forte, e nos 2 km iniciais estava em 9’30’’. Fui pela rua o tempo
todo, e senti, com isso, melhora na minha tração, já que não “escorregava” na
pedra portuguesa com areia da corrida de segunda à noite. Na volta do Leblon,
como voltei pela calçada, senti um pouco esse problema. Foi uma ótima corrida,
em que mantive o ritmo constante, sem sentir cansaço. Só tive problemas
quando ia chegando ao Leblon, quando um incômodo pigarro me atrapalhou a
respiração pelos esforços que fiz para expulsá-lo por mais de 500 m. Depois,
me recuperei. Corri o tempo quase todo em steady-state, numa boa.

Rio, 20/05/85 – Segunda


8 km – A corrida atrasada a relatar foi a de quinta à noite. Saí para correr 14
e corri 8, em 42 min, por conta de dores nas canelas que, além de me
preocuparem, me abateram muito. Quando completei os oito, quase que
prossegui, até porque estava já quente. Mas tive juízo e me segurei; acho que
foi mais prudente. Ah! Que falta faz um técnico, um orientador! Me sinto uma
cobaia de mim mesmo. Acho que terminei com 150 BPM.

Longa de Sábado, 18/05


28 km. Fui com a putada toda para o Leme, e já cheguei no meio do
aquecimento. Depois do repouso de sexta e de sábado pela manhã, quando
apenas bati um fresco de leve, porque as canelas doíam.
Por conta disso, e como o João também estava com dor no joelho,
resolvemos ir devagar, eu morrendo de medo de repetir a contusão do ano
passado. Aliás, a falta de orientação me tem deixado inseguro, por exemplo,
quanto ao sapato: ora corro com o tônamerda (aliás já não o uso desde que
arrumei uma unha preta), ora uso meu speed-o velho de guerra com as
palmilhas de aço, apesar do sapato estar meio deformado, principalmente o
esquerdo. Na semana passada, corri com o speed-o novo. Não sei se foi isso ou
foi o fato de ter forçado que me fez ter canelite. A verdade é que, pelo sim
pelo não, estou insistindo no velho, com as palmilhas.
Saímos fazendo 5/1, graças ao entusiasmo inevitável. Logo propus que
diminuíssemos. Fomos mantendo perto de 5 ½ a 6x 1.
No aterro, perto do Glória, ganhamos um companheiro de corrida,
Valter, ginecologista de 49 anos, que correu comigo do 9 ate o 15, tendo o
Johnyh escapado na perimetral. Senti uma dor de viado forte no lado esquerdo
bem no 11, quando apertei forte o local e corri encurvado por uns 50 metros,
tendo passado.
No 22, encontrei o Edson, que tinha voltado do MAM, e puxei papo.
Senti uma dor aguda, bem na boca do estômago, estranha, meio dor de viado,
sei lá, um negócio estranho. Também não durou muito, mas me retive desde o
fim do aterro até o início de Botafogo. Aí comecei a puxar um pouco, cheio de
gás. Corri bem assim até o Rio Sul, quando comecei a me esgotar muito. A
passagem pela princesa Isabel foi dura, e, pior ainda, pela Atlântica. Fechei em
2.45’26’’, não tão morto quanto a semana passada; enchi os cornos de coca,
sprite, tudo. Estava com fome desde o 26, uma fraqueza braba.
Vieram as dores de parto pelas pernas, que se espalham pelo corpo.
Reagi mugindo, gemendo, urrando o tempo todo da viagem que o Johny fez até
minha casa, depois no banheiro num demorado banho quente, depois morno, e
no final, gelado.
À noite, cervejado com Luiz Antonio e Cia., com uma farra danada da
turma.

Rio, 21/05/85
8km Primeiro, minha corrida de ontem. Depois de um dia de distonia branda,
em que inclusive tomei meio somalium, no intuito exclusivo de não sofrer à toa,
fui correr com a Jane. Já estava bem quando saí para correr, mas, como
estava com dores musculares, resolvi correr com a Jane, lento e macio.
Acontece que, simplesmente, ela correu QUATRO KILOMETROS, em pouco
mais de 20 minutos. Ela se confundiu e pensou que estava correndo três.
Ficamos contentes, vibrando mesmo. Daí eu prossegui até fazer meus oito, em
cerca de 45 minutos, com 130 BPM.

Hoje fui ao Dr. Sérgio Pasqualetti, um contato agradável. Uma boa pessoa, um
bom médico. Ficou cerca de uma hora comigo, com toda atenção, enfatizando
minha boa saúde e aspectos psicológicos de minha “doença” do coração. Muito
sutil, muito perspicaz, com aquela tendência do brasileiro para psicólogo.
Argumentos inteligentes e um tanto paternal, o que, afinal, me incomodou um
pouco. Não me examinou, fê-lo através dos exames que lhe apresentei,
elogiando meu estado de saúde, verdadeiramente de atleta, segundo disse.
Enfatizou, o que me impressionou grandemente, que o mais importante
para ele, 80 % do diagnóstico, acima de qualquer resultado de exames, é
fornecido pela história do paciente. E a miha história, ele sacou logo, é
distonia, em face do meu perfeccionismo que não admite uma falha que não
posso corrigir (o “prolapso”), a consciência da morte, de que vou morrer,”de
preferência” igual a Papai – meu inconsciente.
Colocou-se à disposição para o que puder fazer para ajudar. Quando saí,
a casa cheia indicava o tempo acima do normal que me dedicara. Gostei, me
afagou o ego, me fez sentir mais seguro.

Rio, 25/05/85
Um grande dia – Cerca de 32 km em cerca de 3h 5’, sem as terríveis dores do
final das longas. Jóia.
Porém, antes um retrospecto, porque fiquei devendo o relato de quinta-
feira:
12 km – Depois de terça, quarta e até a própria quinta com dores nas canelas,
no ombro esquerdo e na coluna (?), fui para os 12 com o Johny. Ele com os
problemas no joelho, depois de mandar preparar um Nike num sapateiro daque
de perto com uma cunha para hiper pronação.
Passamos o dia juntos, fomos buscar a Barbarela e fomos ao Fizman.
Não consegui ser examinado, mas marquei para terça-feira. Fizemos 29
>40>39, devagar, numa boa, sem problemas maiores. No início, senti a canela
esquerda, a mesma que quase me arrebenta no ano passado. A dor nas costas
não atrapalhou e do ombro idem. Penso que são fruto de friagem. Quando
vínhamos voltando, pensei em correr só dez, mas acabei resolvendo ir em
frente. Terminamos em 1 h 9’, alongamos, cervejei eu, sucou o Johny, sopamos
de feijão e pimentamos. Tudo maravilhoso.

32 km – Hoje acordei de ressaca. Bebi pouco ontem, mas não comi, enfim,
fiquei com dor de cab Eça pela manhã. Dei o primeiro banho na moto, ficou
linda e saí já atrasado para me encontrar com o Johny, não sem antes brigar
com a Jane, por causa do atraso, culpa minha por ter-me desligado e dela pela
cera na escolha da roupa.
Tinha tomado duas aspirinas e comi um galeto com uma coca pequena,
para não pesar, por volta de uma hora.
Fiquei preocupado com minhas pernas, e me prometi não exagerar. Saí
bem, estreando meu CASIO JOGGING J.30 que ganhei ontem.
Fiz os primeiros 2 km em 10’ e qualquer coisa, e logo parti para reduzir
mais. Fiquei nos 5’30’’, longamente, e me sentindo maravilhosamente bem, sem
problemas nas pernas, apenas o mal estar incomodando um pouco até por perto
do Yatch, me tentando até a voltar, principalmente, creio, por já estar só, com
todo mundo me ultrapassando. Logo em compuz, e comecei a me sentir bem por
estar fazendo uma experiência válida, de regularidade numa razão km/min, que
me faria completar a Maratona em menos de 4 horas, que seria um sonho.
Oir fui muito bem, medindo minhas passagens e fazendo contas de
cabeça para saber minha média. Lá pelos 15, 16, 17, estava na programação.
Como sempre, a energia começa a falhar na descida da perimetral; é o gás se
esvaindo. Mantive, entretanto, o ritmo dentro do possível.
No km 20, a surpresa ruim, e apreensão. Faltou água, e eu grilei. Mas
veio a surpresa ótima: um rapaz de Passat me deu água no morro da Viúva, que
bebi com sofreguidão, comi a água!
Depois dessa beida, decidi: vamos pros 32. Achei que devia ter essa
experiência a 20 dias da Maratona, para saber e me recuperar a tempo, em
caso de zebra.
Passei no Rio Sul, km 26, com 1 h 26’. Passei pelo túnel na contra mão,
mas pelo meu lado direito, muito melhor do que pela esquerda. Quando virei à
direita na Atlântica, me assustei um pouco em ver o Othon lá longe, mas
encarei, pela rua. Lá, recebi um litro dágua, bebi paca, me banhei, me
encharquei, fui até a Mikel Lims e voltei, com frio, fome e exausto, já
preocupado com as dores na chagada. Quando passei na lixeira 2.000, vi o
tempo: 2h 53’. Queria saber a quanto estava meu km. Aí, a merda. Cocei as
costas com a mão do relótio e O ZEREI, entre a 2000 e a 1000, no Meridien.
Logo que passei na 1000, acionei de novo o Casio, e o parei na chegada com
5’45”. Daí o cerca de 3h 5’, bem como o cerca de 32 km, que pretendo medir
com a moto. A grande novidade do dia, ou da noite, entretanto, foi a quase
total ausência de dores nas pernas, aquelas que me prostram, me fazem ficar
agoniado, gemer, remexer, enfim, sem solução. No carro, voltando para casa,
perguntei: como é que pode? Cadê a dor? Johny respondeu: vai ver que é o
remédio que você está tomando... dei uma porrada na testa, não com muita
força, a esta altura já doendo de novo, e tive que concordar: só podem ser as
vitaminas do stress tab com zinco, entre outras coisas, com 600 mg de Vita C
diários. Foi fantástico e já me permite mais segurança para armar uma
estratégia para a Maratona. Sábado darei minha última super longa, para
confirmar minhas previsões. Ou seriam intuições?

Rio, 29/05/85 – Quarta.


8 km – A longa me deixou uma herança: dores nas pernas, agora nos dois
sóleos. Ontem fui correr, depois de me poupar domingo, segunda e o dia todo
de terça. Senti que não estava bem, e resolvi correr com a Jane. Estive no
Fizman, que deu mais atenção à minha coluna do que às pernas. Me receitou um
exercício para fortalecer a cervical, e muito abdominal. Malhar, disse ele.
Quanto às pernas, andar de dia com o tênis com a palminha, e correr sem ela.
O Speed-o novo. Pichou o tônamerda e me mandou aposentar o Speed-o velho.
Pois foi com o novo, sem palmilha, que corri com a Jane. Quatro km só, mas
veloz, uns 5’30’’/km. Terminei dolorido.
8 km – Hoje acordei com maiores dores ainda. Fui correr com o Jorge e o
João. No aterro. Os três com a camisa brinde da Maratona, áspera e própria
para assar o peito e os sovacos. Botei o tônamerda com a palmilha. Fomos pela
grama o tempo todo, para pouparmos eu as pernas, o Johny o joelho. Tive
dores mais ou menos o tempo todo, e terminei com mais dor ainda; suspeito
que não farei a longa de sábado, para não piorar as dores, agravando a
contusão. Vou experimentar, sei lá, não vou experimentar nada. Apliquei gelo
hoje durante meia hora, o que aliviou as dores. Vamos ver. Amanhã decido. É o
problema de sempre. O que fazer? Como? A falta de orientação e eu tendo de
inventar. Que merda da porra!!!
A corrida de hoje tinha todo para ser um encontro como no ano passado,
nós três juntos numa noite bonita, fresca, o aterro lindo. Em vez da alegria,
descontração, a preocupação, stress, dor. Mas amanhã é um novo dia, e com
meu braço farei meu viver...

Rio, 4/06/85 – Terça.


A única coisa que fiz foi um longo passeio sábado com a garotada. Fizemos uma
subida desde a cascatinha até o lago das fadas. Ida e volta, quase três horas.
Fiquei com um pouco de dor, principalmente na descida.
Domingo, frescobol na praia, meio devagar, com dor sempre, e uma
nadada até a esquina da Francisco Sá, e volta, nuns 6 minutos.
Ontem, uma noite negra. Estranha, solitária e lúgubre noite.
Inesquecível. Não pretendia correr muito, apenas uns três ou quatro km,
devagar, perto de casa.
Aí o Johny me ligou. 6 da noite. Vamos correr, e tal e coisa, se encontra
com a gente na casa do Jorge... Fui.
9km – Marquei o objetivo de 6 km. Corri cerca de nove, em 53 minutos.
Saímos juntos do km 6, eu e Jorge e João, rumo ao Flamengo, na grama
no início e pela pista depois. Começamos juntos, mas dispensei logo os dois,
pois não pretendia mesmo ir depressa. Fui o mais que pude pela grama, e logo
fiquei só. Aí, chuva caiu. Caiu para caceta! Putz! Os óculos cheios dágua, e
embaçando. Os caminhos se alagando, e quase desertos. Surrealista!
Pouquíssimos corredores, algumas figuras estranhas pelos cantos, debaixo das
árvores, em bocas de passagens subterrâneas. E eu correndo, eu minha dor,
minha preocupação, minha frustração. Os pés, encharcados. “Terrorismo”,
diria Jane... Em alguns trechos não tinha opção, seguia dentro de poças dágua.
Fui até o primeiro stand de aeromodelismo e voltei. A dor melhorou com o
tempo, até me animei. Tive um pouco de medo, melhor dizendo, fiquei meio
apreensivo com a possibilidade de um assalto. Devo ter cruzado com vários
marginais, inclusive alguns fardados de PM (de trânsito, pode??) numa
gaiolinha perto da Marina, mas nenhum me incomodou.
Cheguei no túnel de passagem por baixo da pista e atravessei só. Mais
marginais,ou mendigos, sei lá, abrigados. O cheiro de mijo disputando com o de
bosta e, eu, passei direto. A surpresa é o melhor ataque e, por isso, passei
incólume. Além disso, de calção e camiseta, todo ensopado, não era mesmo um
alvo apetitoso caso os caras pretendessem me ganhar.
Quanto à dor, na mesma. Constante e não aguda. Melhor do que na
quarta feira passada. Também, corri com novo speed-o, de palmilhas, e sem o
tônamerda.
Hoje fui ao médico. Liguei para o Fiszman, que me recomendou ondas
curtas. Parti para o consultório do Dr. Francisco Vasquez, e encontrei um
substituto, Dr.Rinaldo, japona. Me impressionou muito bem, parecendo
entender do troço. Me ffez tirar os sapatos, suspender as calças e caminhar,
até correr. Me chamou a atenção para minha colocação do pé direito, mais
aberto que o esquerdo; em conseqüência, explicou: em vez de eu apoiar o
impulso para cima/frente em toda a frente do pé, o faço mais na almofada do
dedão, forçando o músculo doente, que ele disse não ser o solear, e sim plantar
delgado.
Comecei as ondas curtas, e um anti inflamatório novo para mim que
comprarei amanhã: Clorax. Disse que posso fazer água quente úmida e não quer
que eu corra até segunda. Fiz mais de meia hora de ginástica hoje, animado.
Faço meu viver... com minha perna.

Rio, 7/06/85 – Sexta. ARCOZELO

Quando penso que a negada tá no BNH trabalhando e que eu estou aqui numa
boa, curtindo um mato jóia, um frio maravilhoso, um ar puríssimo, chego a
achar ótimo ser funcionário do BNH.
Mas, vamos ao que interessa. Cheguei ontem pela manhã, tipo 11 h, ao
Arcozelo Palace Hotel. Encarei logo uma piscina gelada. Consegui nadar uns 23
minutos apenas, parando por absoluta falta de condições. Fiquei pregado –
nadei 400 de peito e 100 krawl e enregelado, tiritando de frio, sem controle
sobre os meus tremores. Fiquei ainda muito tempo tentando me controlar, e só
voltei ao normal depois do banho e de uma caipirinha.
Hoje saímos a pé. Fomos até Paty do Alferes e rodamos umj pouco por
lá. Tomamos um ônibus até Portela, e de lá viemos a pé, acelerado, até Javary.
Uma marcha de uns 20 minutos. Lá pegamos um pedalinho e ficamos pedalando
por meia hora, mais eu do que a Jane. Aí partimos para Miguel Pereira,
acelerado, por uns 45 minutos.
À tarde, marquei 40 minutos no relógio e preenchi esse tempo com
calistênica, incluindo 60 abdominais, 40 marinheiros, 30 tesouras e, inclusive,
4 minutos de isocinéticos para a cervical. Alongamentos, enfim, tudo que tenho
direito, procurando ficar em forma sem prejudicar a perna. Amanhã tentarei
nadar novamente, e vou ver se resisto mais.

Arcozelo, 9/06/85 – Domingo

Nadei mais 500 m, no maior sacrifício, e depois de alongamentos,


abdominais, marinheiros, etc. e terminei bem mal, enregelado. Isso ontem na
hora do almoço.
Hoje pela manhã fizemos uma caminhada de uns 5 km, por matas nunca
dantes vistas, inclusive com a companhia do Paulo Henrique e família,
maratonista de 1ª viagem, machucado como eu e cheio de vontade de viver, e
viver bem. Um cara legal. Agora vou malhar 40 min., como ante ontem.

Rio, 11/06/85 – Terça .


Malhei oe 40 minutos numa boa. Se a maratona fosse de calistênica, eu
até me daria bem.
4 km - Ontem corri, depois de uma semana parado. Corri quatro
quilômetros bem devagar, com a Jane no início, sozinho depois. Corri com um
pouco de dor logo no início, que passou completamente depois, mas me mantive
bem lento, e terminei os 4 km em 27’ 40’’. Antes, malhei meia hora aqui em
casa.
Hoje subi os 15 andares do BNH, pela manhã. Agora à noite, fui buscar
minha camisa da Maratona, nº 3033. Ano passado fui 615. Peguei uma camiseta
preta e abóbora, meio chinfrim, tipo ralador.

Rio, 14/06/85 – Sexta. Véspera.


8 km. Primeiro, a grande surpresa de ter corrido 8 km : 39>34>39, em 41’47’’
na quarta, com um mínimo de dor no início, nenhuma na meio, nem no fim, nem
depois. Uma corrida matinal divina, com o sol nascendo, um frio de 17 º, um mar
verdinho, um reencontro comigo, uma Ipanema e um Leblon maravilhosos,
incríveis, inesquecíveis.
Fiz o tempo todo oração científica, e me senti maravilhoso, divino.
Segundo, malhei ontem pela manhã uma meia hora, numa ótima.
2 km. À noite, a porrada: saí para correr oito, achando-me até curado e, no
início com dor, parei logo no segundo quilômetro, ou melhor no um e meio, parei.
Andei, corri, de volta, alonguei, decepcionado, e me recolhi à minha
insignificância, puto e preocupado. Hoje fiquei meio dolorido, fiz minhas ondas
curtas, comprei meu saco de água quente e continuo animado, porque ano
passado a dor era maior. Só que eu pretendo não ligar e, daí, saindo rápido,
pifar logo. Vamos ver.

Rio, 19/06/85 Quarta.


42.195 m A MARATONA

Pretensão, vaidade, imaturidade, na melhor das hipóteses inexperiência,


essas as palavras que encontro para definir minha atuação na VI Maratona do
Rio de Janeiro.
Depois de tantas incertezas, saí meio na de ou vai ou racha para correr,
e rachou.
Larguei bem, junto com o Jorge e o Anselmo, o Johny lá na frente se
destacou logo.
O Leme, uma festa! Fotos antes, uma organização monstruosa. Rádio
Cidade nas paradas, enfim, aquele auê. O detalhe cômico, mas sem deixar de
trágico, era o banheiro dos homens. Um barracão sem teto, com as privadas
lado a lado, e todo mundo cagando na maior, uns intimidados, constrangidos,
outros mais à vontade, e os que entravam para mijar rindo paca e fazendo
piada diante do quadro.
A ginástica de duas gatas, num tablado, foi acompanhada com uns ôôô, e
outros grunhidos por milhares de pessoas, num nervosismo crescente, que
terminou com um hino nacional vergonhoso em matéria de gravação e um tiro
de canhão pior ainda, dando a largada.
O primeiro quilômetro foi em 6’ e algo mais, impedido de desenvolver os
5’30’’ que imaginara, um pouco por causa da dor e muito pela massa compacta
de corredores à nossa frente. Na entrada para a Praia Vermelha, já
dispensáramos o Jorge, Anselmo e eu, depois de sermos fotografados na saída
do túnel, pelo JB (domingo, fls 36). Tudo às mil maravilhas, fomos eu e
Anselmo, sempre juntos, descendo o Aterro, subimos a perimetral, eu quase
caí ao tentar apanhar um litro de água na mureta central, e me assustei com o
esforço que fiz para me equilibrar. Me sentia ótimo, e meti o cacete. Passei
pelo Quincas ainda na perimetral, muito rápido em relação a ele. Continuei
forçando e só fui sentir um pouco no aterro, já meio cansado. Mas fiquei
firme. Passei no Rio Sul (26 km) às 2.21 hs, com lucro de cerca de 3 minutos
sobre os 5’30’’/km. Cruzei o 27 e recebiminha mação e minha camisa, como
tinha combinado com a Jane. Devorei a maçã e lamentei não ter pedido duas.
Depois vesti a camisa, o que também foi excelente idéia, devido ao frio que
começava a incomodar. O pior era, ainda pelo começo de Copacabana, fazer a
conjectura: estou acostumado a chegar aqui mais ou menos nessa velocidade,
mas faltando apenas 2 ou 3 km para o fim da longa (clínicas); hoje, entretanto,
tenho que percorrer mais 14 km. Será que vai dar? E, no íntimo, eu já achava
difícil. Alguma coisa estava para acontecer. Daí prá frente, eu já não me
lembro com clareza da corrida, era só chão, luzes difusas, gente correndo ou
andando, e o peso de uma enorme distância a percorrer. Me lembro de passar
em frente a minha rua (29,2 km) e imaginar estar com a chave no bolso para ir
para casa. Me lembro da pior reta do mundo, os dois km maiores que conheço –
Barril 1800 > Country – que venci. Depois, eu olhava para o relógio, via se
aproximarem as três horas de corrida, e pensava em parar. Parar, parar,
andar, era o que eu queria. Muito forte essa vontade. Prometi que não pararia
antes das 3h 10’, e cumpri. Mas, aí, parei, e deve ter sido por perto do km 34.
Fiz a volta do Leblon andando, e mal, e, logo depois, me atirei na grama. Pus os
pés para cima, em um coqueiro, e me entreguei. Veio um cara do staff e me
atendeu. Pedi-lhe algo que me hidratasse e ele me arranjou uma tangerina.
Maravilhosa, cheia de suco e caroços. Comi tudo, com medo de me engasgar e
sufocar, já que eu estava meio leso, de olhos fechados e barriga para cima.
Fiquei assim uns oito ou nove minutos, me contraí todo, doía tudo, e voltei à
prova. Foi como sei lá o que, foi terrível. Tive que tomar muita coragem para
descer do canteiro para a rua novamente, e me senti meio tonto. Forcei, e
forcei, e andei, e quis me jogar em outro canteiro, e resisti, resisti, tive medo
de passar mal, me alienei de tudo à minha volta e fiz meu esforço sobre
humano como nunca tinha feito na vida: não parei e ainda fui firmando e
acelerando os passos. Não tinha coragem nem de tentar correr. Foram
momentos dramáticos para mim. O frio aumentava, e resisti. Fui em frente e
tudo foi melhorando, fui estabilizando, entrando num “steady-state” falido,
mas estável. Ensaiei umas tentativas de corrida, que me renderam dores
horrorosas, principalmente no joelho direito, lado externo. Algumas vezes,
caminhei acelerado, mas não conseguia sustentar por muito tempo. Consegui
chocolate de um corredor(?) que caminhava com outro, convencendo-o a comer
um chocolate, afirmando que ele estaria “fazendo uma hipoglicemia”. Comi dois
tabletes e dei outros dois, com medo de piorar um enjôo que começava a
pintar. Passou por mim, lá pelo 36, a coroa com quem disputei ano passado
desde o Leblon, e que perdi. O visual ao meu redor era do exército de
Brancaleone depois da peste. E fui em frente, cada vez mais refeito e
confortável. Estabilizei mesmo. Só não conseguia correr, por mais que
tentasse.
E vieram o 49, 40, 41, as luzes cada vez mais fortes, a aglomeração
aumentando, e, por volta do 42, parti correndo para não passar vergonha.
Martinha pulou para me tocar, foi aquela festa, o fiscal do staff tentando
contê-la, o Pedrão correu comigo burlando a vigilância, e eu cruzei a chegada
com os dedos das duas mãos em V, fazendo pose para a foto história. Eram
decorridos 4h 57’ 20’’, talvez algo menos, porque não apertei o relógio logo na
chegada. Recebi minha linda medalha, mais merecida que já ganhei até hoje, e
parti para o lanche que não consegui comer – acabou – e a coca que custei a
tomar, pela imensa fila.
Encontrei o Quincas, e ele veio conosco para minha casa, para a Sopa da
Maratona, que foi o maior sucesso. Johny, Anselmo, Jorge, Quincas, eu, Jane,
Ciba, Raimundo, todos curtiram muita sopa quente, muita cerveja gelada, numa
confraternização gostosa e íntima, dos heróis do dia 15/06/85. Johny fez
3h31’, Anselmo em 4 h28’ e o Quincas um pouco mais. Jorgeta, para variar, foi
o lanterna.

Rio, 4/07/85 – aliás, 5/07, pela hora.


Poucas corridas até agora. A primeira, com a Jane, em que caminhamos mais do
que andamos, digo, corremos, cerca de 2 ou 3 kms. Foi Assim dia 22 ou 23/06.
Domingo – 30/06 – +- 6km; corri do Othon até o Leme e voltei atá a
Almirante, pela areia, junto ao mar. Fiquei puto com a criançada e a Jane e saí
correndo, o que foi ótimo. Não marquei tempo.
Segunda – 1/07 À noite, 8 km, em 45’ 38’’. Não forcei, e acabei com o músculo
doendo, o mesmo da maratona.
Terça – 2/07 Ginástica e corrida de 2 km com a Jane. Perna doendo.
Quarta - 3/07 8 km sofridos, depois de um almoço de excessos alimentares,
quando eu fiquei meio sambado. Fui na moral, e completei em 49’17’’.

Rio, 10/07/85 – Quarta.


2 km. Hoje saí para correr oito quilômetros, sendo que os dois primeiros com
a Jane. Acabei me impacientando, discutimos e eu perdi completamente o
tesão de correr. Voltei para casa.
2km. Ontem corri dois km intercalados com a Jane e malhei um pouco aqui em
casa.
8 km. Segunda fiz uma corrida maravilhosa. Corri oito em 42’23’’28c (os 28 c é
só para curtir por causa do meu relógio novo que tem centésimos de segundo)
Fiz 39>35>39, num ritmo bem cadenciado, sentindo que poderia me dar mais,
mas segurando. Resultado: uma corrida perfeita, sob todos os pontos de vista,
em que eu parecia uma máquina. Tudo bem!

Rio, 15/07/85 – Segunda.


8km . Me lembro agora do aniversário do Papai. Faria hoje 63 anos. Uma idade
em que muitos “coroas” chegam na minha frente na maratona. Que pena que ele
não está aqui, correndo comigo. Acho que ele sempre correu sozinho, e na
direção errada. Um desperdício.
Minha corrida hoje foi de 8 km. O primeiro km com a Jane, em 8’.
Completei os 8 em 47’51’’15c, numa boa. Tive um mau dia, cheio de distonias,
cheguei mesmo a tomar meio somalium. Será que, inconscientemente, me liguei
na morte do papai? Conscientemente, não me lembrei de jeito nenhum, apesar
da Marta ter-me lembrado hoje de manhã, quando a levei ao médico para
entalar o pé direito, que fraturou sábado.

Rio, 17/07/85 – quarta.


8 km. 41’08’’09c – O excelente tempo em que fiz os 8 km – 39>35>39 de hoje à
noite. Noite fria, 20º, escura, nublada e chuvosa. Uma chuvinha fina, fria,
muita umidade, mas com o ar limpo, sem nebulosidade baixa que impede a visão.
Quando entrei no Arpoador, vi nitidamente a Rocinha no fim do Leblon, uma
visão muito bonita, aquele tapete luminoso se derramando no morro, visto por
cima do mar escuro e bravo daquela hora.
Corri tranquilamente, forte, mas sem forçar. Cheguei a refrear meu
ímpeto de acelerar para não exagerar. Virei os 4 km em 21’ e alguma coisa.
Voltei tentando achar meu bip certo no meu Casio Jogging, e cheguei à
conclusão de que é o 15. Terminei com 160 bpm, alonguei, tomei um bom banho
frio e comi o melhor angu que já foi feito aqui em casa.

Rio, 5/08/85 - segunda-feira


Problemas que hoje nos parecem de extrema gravidade e até sem solução,
amanhã poderão estar superados ou equacionados sem maiores tensões e
aflição.
Em outras palavras, o tempo é o melhor remédio. A paciência em
suportar a dificuldade presente pode ser a chave da paz no futuro, da
felicidade. Parecem frases de pára-choque de caminhão. Mas não são. São
minha vida, minha experiência pessoal.
Pensei nisso hoje, quando me lembrei da situação aflitiva em que me
encontrava quanto a minha saúde, e quanto a meus filhos, minha preocupação
com eles. Hoje, após não muito tempo, tudo está sob controle e estou
tranqüilo, porque minha visão dos problemas já não inclui o desespero. Ah!
Sabe esperar...

Rio, 15/08/85 – Quinta.


11h 6’.
6 km. Prá variar, atrasado no meu diário. Reiniciei segunda feira minhas
corridas depois de quase um mês. Pois foi uma corrida cheia de boa vontade e
cheia de má vontade. Paradoxal, mas verdadeiro. Aquele desejo de recomeçar,
retomar o fio da meada, mas aquela dificuldadel, falta de saco, despreparo.
Enfim, querendo, mas sem tesão.
Fiz uns alongamentos e uns aquecimentos e fui para o Othon, no 3000.
Parti em direção ao Leme, sem forçar. Estava bem frio, e senti já no início do
terceiro km a falta de preparo, um desconforto geral.
Quando retornei do 400, a surpresa: muito vento, e frio. Logo meu corpo
foi esfriando, a ponto de incomodar. Isso sem falar no esforço de correr
contra o vento. Fiquei firme, mantive o ritmo, e cheguei mesmo a estabilizar lá
pelo 4º ou 5º km. Fechei em 33’17’’, sem contar BPM. Alonguei mais e fui para
casa, cansado.
Terça. Ginástica em casa, cerca de 25’.
14/08 – Quarta.
6 km. Repeti os 6 km, desta vez para o outro lado. Fiz 39>35>39. Foi melhor,
porque estava ventando de novo e para o lado de Ipanema não venta tanto
quanto no Leme.
Procurei manter o ritmo dos 5,5 min/km, fiz até um pouco menos. Também
senti bastante o incômodo do esforço, corri mesmo por honra da firma, já que
passei um dia meio ressacado, com dores musculares bem incômodas das
pernas, fruto da volta aos treinos e à ginástica. Terminei em 32’10’’, alonguei
(Tb. Fiz antes) fui para casa e armei uma tremenda decoração nos capacetes
até ½ noite. Terminei com 170 bpm
Hoje – ginástica de 30 minutos.

Rio, 19/08/85 Segunda.


-- Corrida do Aniversário –
Sábado, 17/08, 39 anos, fiz a minha corrida pela manhã. Só, como quase
sempre, dei a VOLTA DA LAGOA RODRIGO DE FREITAS, pela parte mais
interna. Saí da frente da cabine dos pedalinhos, em direção a Ipanema, numa
manhã belíssima e mais quente do que tem sido estes últimos dias. Deixei as
crianças no pedalinho, Marta e Bruno num e Paulo e Pedro em outro e fui à luta.
Senti muito a falta de forma física, principalmente porque estava muito
quente, uns 30 graus, como vi num dos relógios termômetros por que passei.
Para quem tem corrido pouco, e à noite, com 18 º a 20º de temperatura, foi
realmente um esforço grande. Senti um desconforto muito grande nos 3 ou 4
km, que demorou a passar, ou melhor, diminuir. Cheguei literalmente aos
peidos, com 180 bpm, em 39’03’’49c. Preciso medir essa distância de moto o
quanto antes.
Depois, uma cervejinha gelada que não desceu redonda. Fiquei mesmo
abalado. Tanto que, depois do almoço no La Mole Tijuca, com a putada e a
mamãe, fui para casa dela e dormi, exausto. É lógico que tudo isso não foi só
pela corrida, pois estou numa maré de cansaço, mas ajudou muito.

Rio, 20/08/85 – Terça.


8 KM – 41’10’’ – Foi o tempo que levei para correr os 8 km (39>35>39), numa
noite de 24º, muito vento contra na ida para o Leblon e uma volta ajudada pelo
mesmo vento. Fiz a ida em 21’20’’ e voltei em menos de 20’, sem forçar, apenas
mantendo o ritmo.
Foi uma corrida regular, sem grande tesão, e sem maior dificuldade. O
toque pitoresco foi um carro com o alarme disparado desde que saí para correr
até voltar. Foi muito mais tranqüilo correr os oito hoje que a volta da Lagoa no
sábado, quando botei os bofes para fora, vim respirando pela boca desde o
meio do percurso. Hoje não. A respiração ficou um pouco forçada no início, mas
fui o tempo todo respirando só pelo nariz. Terminei com 170 bpm.

Rio, 22/08/85 – Quinta.


8 km. Um dia chuvoso como os de assassinatos em filmes franceses de polícia
e gangsters. Frio, chuva fina, constante; pensei até que não iria correr, quando
saí do BNH. Fiz uma viagem que mais parecia de diligência no 125, e cheguei às
7h 25’ em casa.
Fiz meu aquecimento aqui e saí, sem chuva, na direção do Leme. Saí
forte, e senti, logo nos primeiros 200m, forte dor de barriga, onde começam
as costelas, do lado esquerdo. Comprimi o local algumas vezes e fui em frente.
Passou o mal estar e comecei a me sentir bem, muito bem, fazendo uma corrida
ótima, num calçadão seco e deserto, com frio mas um frio que me ajudava.
Inclusive, o mal estar da barriga, aquela sensação incômoda de vontade de
evacuar, uma espécie de pressão, ardência, que tenho sentido estes dias,
desapareceu.
Quando fiz a volta no 0000, no entanto, a porca torceu o rabo. Peguei
um vento forte pela proa, e logo começou a chover. O frio se tornou incômodo
demais, por causa do vento e da chuva. O esforço passou a ser redobrado, e
procurei segurar a barra. Lá pelo Hotel Olinda, comecei a me sentir bem
forçado, abri o bico, o cansaço foi se instalando. No Othon, dor de viado, que
eu segurei legal, embora tenha diminuído um pouco a velocidade.
No posto 6, fiz a volta, e um pouquinho antes dei uma olhada e saquei
que faltava menos de 1 km e eu estava com 35’20 e poucos segundos. Aí resolvi
terminar num tempo abaixo dos 40, e meti bronca. Com a respiração ofegante,
aumentei a passada e cruzei a “linha de chegada” em 39’49’’42c, com 180 bpm,
numa temperatura de 21 º, e numa noite histórica, a volta aos 8 km abaixo dos
40 minutos.

Rio, 25/08/85 – Domingo.


1h 14’ 8” tempo para cerca de 14.400m, ou seja, saída nos 39, ida até o Jardim
de Alá, entrada para a Lagoa, volta na Lagoa pela parte mais interna (sempre
pela beirada), começando no Caiçara, sentido Cantagalo, completando a volta e
vindo de novo pelo corte de Cantagalo, descendo a M. Lemos até a esquina da
Atlântica, no posto com o nome dela. Repeti a corrida de 23/2/85, quando
levei quase 3’ a mais. Foi ontem, sábado, umas 9.30 da manhã, depois de dias de
chuva e muito frio. A temperatura estava a 24º na Lagoa, um sol muito bonito,
mas o ar bem frio, sem poluição, a atmosfera límpida, uma beleza. Fui bem,
embora meio sem saco, o que me fez correr por obrigação, como um meio de
fazer bem a ponte. Foi meio forçado do meio em diante da Lagoa, e, no corte,
quase botei os bofes pela boca, inclusive com uma dor de viado das melhores;
aí desci aliviando, sem diminuir demais – estou cada vez melhor nessa dosagem
– e cheguei inteiro na Atlântica, com 170 bpm.
À tarde, peguei a moto e fui medir o percurso da Lagoa, aliás o percurso
todo. Do 36º km, entrando pelo J. Alá, são 1200 m, até a Lagoa. A volta da
Lagoa dá 7500 m e, do Posto Ypiranga do Corte até a Atlântica, pela M. Lemos,
são 1000m. Mais o trecho do ponto em frente ao Caiçara a te o posto,
totalizam 14.400 m.

Rio, 29/08/85 – Quinta.


Duas corridas:
1. Terça – de manhã – 10 km.
Tempo muito abafado, mormaço, 25 º. Trajeto 39>35>40>39. Foi bastante
difícil a corrida. Apesar dos 25º marcados nos relógios, parecia muito mais. O
calor estava sufocante. No final, principalmente, foi brabo. Terminei com 170
bpm, em 52’9’’28c.
2. Hoje de manhã. 10 km. Larguei do 39, até 42>37>39. Manhã
fria,gostosa, ar leve, puro, tempo nublado. Aqueci meu corpo já na cama com a
Jane: “comme il faut”; saí quente em direção ao Leme, vento contra e, no 42 ,
estava com 5’07”/km. Na volta, me limitei a manter. Me senti muito bem na
parada. 19º de temperatura. Subi Francisco Otaviano ótimo. Foi um steady
state só. Moleza. Quando entrei na V. Souto, saquei o relógio da rua e vi: 18º.
Frio e vento fraco contra. Quando virei os 8 km, no 37, o tempo era 40’38”. Me
deu um troço e resolvi: vou fazer os 10 km em 50’ ou menos. Raciocinei e saquei
que deveria descontar 20” em cada km seguinte, para fazer os 2 km restantes
em 9’20’’. Consegui! Dei um pique de 2 km, a partir do Alberico, até Almt.
Gonçalves, em 9’04’’92c. E o fiz numa boa. Apenas “abri o bico” e respirei pela
boca o tempo todo. Fiquei radiante! Terminei os 10km em 49’45”8c. Uma
beleza e as bpm em 165/min. Grande dia!!!

Rio 1º/09/85 – Domingo.


Domingo de chove, pára, chove... Mas a corrida foi ontem.
Sábado – 31/08 – 20 km.
Acordei tarde, depois de ter despertado às 6.30 da manhã, mas eu
estava morto e o tempo uma merda. Levantei lá peças 9, tomei café, o tempo
melhorou e parti para meus 20 km. Nem me lembro há quanto tempo não corro
isso, e tive que lutar comigo paca para enfrentar essa. Só mesmo a perspectiva
da Ponte, no dia 15/9.
Pois é. Saí do 39, sem chuva, a 25º; peguei um chuvisco aqui e ali, mas o
tempo ficou bom o tempo todo. Só no final é que choveu um pouco, mas sem
problemas. Corri muito bem. Fechei os 10 km em 50’30’’, um tempo excelente
para quem vai correr mais 10 km. Meu percurso foi 39>Leblon>Leme>39 (16 km)
>37>39.
Passei um certo tempo discutindo comigo mesmo: paro no 16, que já tá
bom! Não – preciso me preparar melhor para a Ponte. Bem, se eu fizer 18 já é
ótimo... no próximo fim de semana faço 20, e faço os 22 na ponte. Isso depois
de ter brigado comigo mesmo para transferir para a tarde de sábado, domingo
de manhã, etc. Ainda bem que não fiz, porque sábado foi de chuva a tarde
toda, e domingo só fez tempo bom pela hora do almoço. Deu tudo certo, enfim.
A corrida em si foi ótima, o desempenho bom, apesar do tempo, embora com
25º, estava meio abafado. Só senti um pouco de dor de viado nos 16 km. Os 2,5
km finais foram brabos, mas não caí, mantive a velocidade. Me senti bem o
resto do dia, apenas com dores musculares nas pernas, bem exigidas, e
esgotadas. Terminei com 1h44’37”68c, a 170 bpm, os 20 km. Tudo bem.

Rio, 3/09/85 – Terça.


12 km – 3000>Leme>Posto 6 >1.000>3000 – 59’38’’67c 170 bpm no final.
Fiz os primeiros 3 km (contra o vento) em quase 15’. Depois senti o
cansaço e vim caindo um pouco, fechei os 6 em 30’, os oito em 40 e alguma
coisa, os 10 em 50’30’’, com dor de viado. Aí, resolvi barbarizar. Vim dos 1.000,
no Méridien, aos 3000 (2 km) em 9’10’’ mais ou menos. Senti toda minhja força
e toda minha pujança nesses 9 minutos. Foi um barato. O tempo, muito frio e
úmido, com 18º, 19º, 17º, dependendo do relógio, ajudou. Depois de uma noite
de chuva, uma manhã gelada, muito boa para correr. Um bom começo de dia,
com um banho gelado revigorante me fazendo sentir super saudável. Que bom!
Agora à noite fui com a Jane ao La Mama para um Filet a Pariscope,
festejar seu primeiro salário. Ganhei um disco, Mad Max, do filme, por causa
de minha recente paixão pela Tina Turner. Gravei todo e vou trocar pelo LP
dela só. Ganhei ainda um chocolate ao rum da kopenhagen e o jantar.
Maravilha! Na volta, passando de moto pela Lagoa, cruzando o Jardim de Alá,
me dei conta de como é bom reconhecer os lugares por onde corro
habitualmente. Como é bom ser corredor, ter familiaridade com esses locais
onde passo correndo distâncias tão longas que chegam a me espantar quando
as percorro de carro, de ônibus, de moto!

Rio, 5/09/85 – Quinta.


12 km – Passei a noite toda lutando com a gripe. Aliás, desde ontem. Tomei
redoxon, trimerdal. Acordei todo dolorido, como, aliás, passei o dia ontem,
provavelmente sentindo o esforço da corrida de terça, que foi uma das
melhores dos últimos tempos...
Por isso, saí para correr os 12 de hoje sem relógio. Foi difícil o
aquecimento, e mesmo me esticar. Doía tudo. Ainda bem que o tempo estava
ótimo. Um solzinho maneiro, dia claro. Saí para curtir o dia, mais devagar. Fui
para Ipanema, curtindo tudo que tinha direito. O mar calmíssimo, uma manhã
clara, realmente uma beleza. Logo na entrada do Arpoador cruzei (no bom
sentido) com uma surfista que era de se ver só... Uma gata rotunda e com uma
lordose digna de um otorrino, não era nem de ortopedista. De colant
justíssimo, prancha e nadadeiras verde-amarelas, uma graça. Foi um colírio! Fui
até o Leblon, voltei, sempre sem forçar, numa Nice, fui até o 28 e voltei ao 29.
Aí vim andando, o tempo esfriando, e eu senti a gripe de novo. Aí, aquele banho
gelado, tudo bem, BNH, E “vida que segue”.

Vassouras, 7/09/85
+- 20 km?
Quase meio dia. Fiz uma corrida inesquecível, e não pude deixar para depois o
registro, até com medo de deixar passar a forte impressão que estou vivendo.
Corri numa estrada, pela primeira vez. Só eu, numa manhã um pouco fria, mas
com aquele sol gostoso que esquenta o suficiente, não impedindo de se sentir a
aragem fresquinha de uma manhã de inverno com sol. Algumas nuvens
tamparam o sol por algum tempo, algumas vezes. Mas a maior parte do tempo o
tempo esteve lindo, agradável. Corri quase todo o tempo me sentindo bem.
A estrada está em bom estado, no sentido contrário ao Rio, e fiquei
sempre na contra-mão, o maior tempo possível na linha de separação com o
acostamento, por ser o terreno mais plano.
Logo, logo, saquei que eu ia correr em aclives e declives, e gostei, por
tornar o treino mais puxado; Uma vez que eu não ia correr contra o tempo,
achei bom correr contra a estrada. Mais ou menos a uns 3 km do início do
percurso, peguei um ladeirão brabíssimo, daqueles em que os caminhões colam
um na bunda do outro, por causa da inclinação. Pude me certificar de que era
mesmo um trecho da pesada na volta, quando, ao me deparar com o início de
declive, li:”experimente os freios”, “longo trecho em declive”. Putz, pensei,
ainda bem que essa barra eu enfrentei logo no início!
Mas foi maravilhoso! O ar bem mais puro, certamente mais oxigenado,
me fez cansar menos; além disso, como corri numa velocidade confortável, sem
forçar, atingi logo um steady state beleza, desde o início.
Achei o maior barato quando comecei a notar a solidariedade de alguns
choferes, desviando até a contra-mão para não me por em perigo. Acenei para
vários. Alguns, impossibilitados de desvio, por vir outro caminhão em sentido
contrário, me sinalizavam com faróis, e eu ia para o acostamento. Alguns filhos
da puta simplesmente não ligavam e iam em frente, me fazendo pular fora.
Teve até um, na volta, que me gritou algo, certamente um incentivo, por causa
de seu sinal de polegar erguido.
Lá pelo km 8 encontrei uma marca de kilometragem de estrada – 229.
Aproveitei para marcar meu tempo e no 227 passei com 10’40’’. Como eu não
estava sentindo forçar, e ainda pelo sobe desce contínuo, achei ótimo. Na
volta, fiz o mesmo, e do 230 ao 234 marquei 22’, já chegando. Foi um bom
tempo.
Como eu não dispunha de meios de marcar distância, marquei tempo.
Corri 56’ de ida e 1 hora de volta. Fiz a volta em 2 minutos a menos (voltei ao
ponto de partida em 54’), depois corri mais 6’, porque vim até o hotel. E estou
ótimo!

Rio, 14/09/85 – Sábado.


Véspera da corrida da Ponte. Minha estréia nessa corrida. Estou
animado!
Não relatei ainda minhas últimas corridas preparatórias, nesta semana:
Terça – 9/9 - 10 km
À noite. Não senti maiores problemas depois da longa de sábado, o que me faz
concluir que estou bem preparado. A não ser pela bolha no é, que dá para sanar
com o emplastro sabiá, tudo bem. Então saí sem muita pressa, para fazer
39>29. Noite fria, de 19º, 20º, tempo maravilhoso – noite de recordes. Saí sem
querer puxar, para não forçar, e me prejudicar. Nos 6 km, 30’28’’, e aí achei
que devia recuperar esse ½ minuto nos 4 km restantes, já que eu estava bem
quente e animado. Meti o cacete, decidido a fazer cada km faltante em 4’50’’.
Bufando, cheguei com 49’40’’03c, e 160 bpm. Depois, alongamento, aquele
banho gelado e a sensação gostosa do programa cumprido.
Quinta – 11/9 – 8 km
Saí para fazer 8 km, meio sem saco, com um frio puto, com encontro marcado
para ir conhecer o banheiro do Jorgeta. Resolvi fazer 39>Leme>Posto6>39.
Bem devagar, meio brincando, dando passadas largas, longas e lentas, acabei
encontrando Sandra, lá no Leme. Reduzi e pedi carona. Foi ótimo. O papo durou
até o fim da minha corrida, sobre ginástica, corrida, enfim, papo de corredor.
O tempo passou, e eu cheguei com o “recorde” de 49’55’’, com 130 bpm.
Alonguei, banhei, fui para a casa do Jorgeta, conheci seu AP, tomamos cervas
e depois fomos comer. Na dúvida, fomos ao Lamas, mas partimos por falta de
opção, além do ambiente terrivelmente enfumaçado que teríamos que
agüentar. Conheci, então o El Bodegon, onde tomei uma caipira maravilhosa e
comi uma pezza fantástica, boa mesmo. Resultado. Fomos dormir às 1.30 da
matina e passei uma sexta bem pregado.

Rio, 16/08/85 – Segunda.


--------------CORRIDA DA PONTE / 85 --------------
Domingo, 15 de setembro. +- 22 km, 1h51’, 165 bpm, em 1075º lugar.
Largada às 7.30 da matina, de Niterói. Um dia extremamente bonito,
com ar fresco e sol quente. Não estava daqueles dias claríssimos tipo depois
da chuva, mas, em comparação com os últimos dias, nublados, chuvosos, estava
uma beleza.
Depois de um despertar madrugoso, um susto às 6.30 quando a mãe do
Jorgeta me disse que ele não iria nos levar e acompanhar na corrida; isso me
deixaria, pela hora, sem condições de chegar em Niterói a tempo de largar.
Ainda bem que, em seguida, o Jorge ligou, com voz de sono, dizendo que era
engano. Saímos correndo, e chegamos bem, a garotada curtindo tudo, e eu mais
ainda.
Largada pontual, saí na minha, sem forçar.
Rio, 18/09/85
Aniversário da D. Olga, de onde cheguei agora, já 10.30 da noite, com uma
crise braba de minha cruz, minha distonia, ou sei lá que porra é essa. Fica até
difícil falar sobre o que foi a corrida da ponte, tão maravilhosamente bem
corrida, tudo tão certo, tão gostoso, um desempenho tão bom, sentindo-me
como estou agora.
Mas meu objetivo é registrar esse momento tão esperado, e não vou
deixar de fazê-lo.

Como comecei ante-ontem, saí sem forçar. Uma multidão enorme ia à


minha frente, o que pude constatar logo que me vi perto de um viaduto cheio
de gente, de acesso ao vão do pedágio. Ali uma turma grande respondeu aos
gritos dos garotos de “papai, papai”..., com “-meu filho, meu filho”..., entre
risadas generalizadas. Encarei logo a ladeira do vão central, e numa boa. Não
tinha nenhum ponto de referência para medir minha velocidade, mas achei que
estava perto dos 5 x 1. Nos 10 km, eu vi que estava com 51’30’’, mais ou menos.
Na subida já vi um cara pendurado em dois sujeitos, tonto e vomitando.
Mantive o ritmo na descida, sem acelerar, deixando para o final. Acho que essa
foi minha grande arma, minha tática que deu certo: não forçar muito na
descida como também não tinha esticado demais na subida; com isso, mantive
um tempo bom nas duas, com a vantagem de ter-me refeito um pouco na
descida. No final da descida, há um ligeiro aclive bem prolongado, onde eu me
lembrei muito de Beta, porque ela estava comigo. Entrei num steady-state
acompanhado de uma sensação maravilhosa, que só pode ter sido o “barato da
corrida”, Beta.
Fui encontrar de novo Jorgeta e Cia. Lá pelo km 13 ou 14, onde recebi
água deles, que bebi, como todas as vezes sem sede, só para prevenir
necessicade futura; despejei um meio copo na minha cabeça, lentamente, o que
foi, sempre uma sensação muito gostosa. A partir daí, comecei a ver a turma
morrendo, e eu cheio de vigor. Comecei a sentir o ímpeto da luta por melhorar
meu tempo, e fui forçando. Na marca do 18 (faltando quatro, pela informação
de que dispunha, então) eu estava em 19 min para fazer 4km e resolvi
descontar 15’’ por km, e, aí mesmo, comecei a sentar o cacete. Quando saímos
do viaduto em direção à praça Mauá, silo de cimento da maratona, etc., colei
em um cara alto, às suas costas, e senti o que é vácuo numa corrida. Devo ter
corrido assim perto de 1 km, sentindo a diferença entre sair detrás dele –
vento de cara – e correr no seu vácuo – sem vento contra. Aí eu estava já
muito confiante, e saí para o lado do grandão, disposto a deixá-lo para trás. Aí,
ele ficou bem do meu lado, e corremos juntos até um pouco antes da subida à
direita na gaiola, em cima da Pça, Mauá, onde ele desistiu de me acompanhar, e
se despediu. Disse-lhe que ia gelando a cerveja e meti o cacete, ainda mais
animado! Quando, na Perimetral, sobre a Pça. XV, encontrei de novo a patota,
aos gritos de “vamos, Marqueta”, “aí, Papai”, já bem perto, embalei de vez. Aí
já bufando, na esperança de alcançar Pêga e Nêga, que eu vinha perseguindo
desde que me passaram antes da opção para o viaduto da Pça. Mauá, duas
figuras que pareciam dupla de show de boate, ou qualquer coisa parecida, com
roupa igual – macaquinho preto e colant roxo – e, detalhe marcante, cabelos
cortados bem rente na base – tipo reco – e grande e espetado em cima.
Magrinhas e esbeltas, embora baixinhas, as duas chamaram muito a atenção,
como duas vedetes corredoras. Não consegui alcançá-las, mas terminei a mil,
com 1h 51’, e 165 bpm, inteiraço, continuando a correr, saltar, fazer
exercícios, super bem disposto, feliz, alegre, vibrante., com meu resultado
ótimo. Tomei um sprite, tentei saber a distância correta – ficou entre 21 e 22
km, mais para 22, e eu fiquei em 1075º lugar.
Tive um resto de domingo ótimo, com prais, frescobol, bem disposto,
tudo nota 10.
Na segunda, primeiros sintomas de distonia, da “coisa”. Mãos geladas,
sensação esquisita no peito, enfim, tudo meio bosta.
Na terça, ontem, a coisa piorou, sobretudo por volta da hora do almoço,
como sempre. Já o mal estar havia se instalado e cheguei a me arrepender de
não ter tomado um ansilive. À tarde, melhorei, porque nitidamente me senti
relaxar, no curso que estou fazendo, me entregando àquela sonolência própria
do hipnotismo por fala monótona de professor.
À noite, resolvi não correr normalmente, apenas alonguei e corri cerca
de 1700 m com a Jane, e fomos ao cinema. Vale lembrar que os efeitos
musculares da Ponte também se fizeram sentir bastante. Fiquei todo
tetanizado e cheguei a tomar uma vitamina C 2g para me recuperar.
Ontem fui melhorando no decorrer do período, hoje acordeimelhor,
passei um dia de razoável para bom, para normal, até que, na saída do curso,
identifiquei de novo o processo da crise, que foi-se agravando até pintar dor
mesmo, um pouco antes do jantar. Fui visitar a Tia Amália e pegar a mamãe par
levar para jantar com a putada, e estava brabo o negócio. Serenou durante o
jantar no Parmê, piorou após, e vim para casa quase como nos velhos tempos, a
diferença principal na ausência de medo e nervosismo, mas com grande dor no
peito, lógico que na altura do coração. Felizmente aquele pavor não existe mais,
e sou capaz de perceber que, me distencionando, a dor diminui e até some.
Mas, como sempre, é UMA MERDA!!!

Rio, 28/09/85 – Sábado.


50’23’’32c. – foi meu tempo na TERÇA, para 8 km, aqui em Copa, no calçadão, e
me senti muito bem. Estava frio, com vento e fez 39>35>39. De lá para cá,
estou sempre melhorando. Vou começar de novo a correr na próxima semana.

Rio, 12/10/85 – Sábado.


Três corridas a relatar:
1 - terça-feira feira passada – 7 km.
Fui à casa do Jorge, à noite, na primeira visita particular, só eu e Jane.
Fizemos uma corrida de 7 km, saindo da casa dele pela Pinheiro Machado, cheia
de carros, até Botafogo, indo pelo Aterro até o km. 1000 e voltando pelo
mesmo caminho. Fomos devagar, batendo mil papos, sobretudo sobre minha
última crise, o Jorge perguntando detalhes, eu explicando. Foi uma excelente
corrida, lenta e gostosa, eu me senti ótimo, voltamos fazendo planos de um
treinamento para uma corrida de 12,9 km para daqui a 4 ou 5 semanas. Sem
tempo, foi uma S.P.T.
2 - quinta-feira pela manhã – 8 km 44”
Pensei que nem correria, estava até meio temeroso, suspeitando de
crise, que ameaçou. Quarta à noite, eu estava exausto, na pior, porque, depois
da corrida de terça à noite, bebemos e jogamos palavras cruzadas até 1 da
madruga. Fui dormir, na quarta, às 9 da noite. Mas corremos, eu e Jorge, aqui
em Copa. Êle pintou às 6.30 da matina e saímos para correr 8 km em 44
minutos. Fiz em 43’56’’52c, numa boa, sem forçar muito. Fizemos
39>Leme>Posto 6>39. Ótimo correr acompanhado, estou me sentindo melhor.
Só ontem à noite, no fim do expediente, comecei a sentir os sintomas e tomei
½ ansilive, e melhorei. Mas estou sob suspeita.
3 – Hoje. 10 km
Depois de um dia muito agradável, com a putada, resolvi correr hoje os
10 km da programação, para não furar. Fiz 30>29, em 54’38’’, numa boa, a 21º,
com 160 bpm no final. Tive um dia sem crise, ótimo. Preciso ficar assim. Não
agüento mais a convivência com essa porra de distonia, piradice ou que merda
seja.
Rio, 15/10/85 – Terça.
8 km – 40’18’’.
Corri ontem 8 km com Jorgeta. No nosso plano de treinamento para a
corrida das 8 milhas, tínhamos bolado 42 minutos. Os dois primeiros km
fizemos em 10’15’’, depois reduzimos um pouco e, quando adverti que
estávamos um pouco lentos, o Jorgeta puxo bem, e eu senti dificuldade em
acompanhar, mas forcei e fui em frente.
Foi uma corrida gostosa no início, mas, do meio para o fim, com o forçar,
ficou desconfortável. Fizemos o percurso do buraco do 6 em direção aoaterro,
por dentro, pela pista de corrida. Tempo, 40’18’’, com um sprint no final que me
levou a 180 bpm. Na quarta, amanhã, tenho programado 10km/53’, e não vou
forçar. Hoje, perto da hora do almoço, comecei a identificar o processo de
distonia, que se estendeu pela tarde, até agora. Mãos geladas, palpitação, etc.

Rio, 17/10/85 – Quinta.


10 km – 52’29’’ – Ontem corri os 10 km do programa. Fiz 39>36>41>39 em
52’29’’. Foi uma corrida boa, que fiz tranqüilo, economizando 31’’ do tempo
programado, 53’’. No início, corri um pouco demais. Deveria manter 5’18’’/km,
mas fiz o primeiro km em 5’10’’, o segundo em 4’58’’; aí procurei diminuir, mas
mantive sempre um tempo por km menor do que o previsto, mas
confortavelmente. Logo que passei da Almte.Gonçalves, encontrei o Beto
correndo com um amigo, mais devagar que eu. Peguei carona até o 41, batemos
um bom papo sobre corridas, e voltei. Aí acelerei um pouco para chagar na
hora, não muito, e terminei numa boa, com 150 bpm.

Rio, 21/10/85 – Segunda.


Corrida de sexta – 8 km. Pela manhã, só, em Copa. Oito quilômetros, ou quase.
O problema é que fiz 39>38>42>39, mas, no 42, acho que me enganei e voltei
do 42 da Maratona do ano passado. Deveria ter feito 5,5/km, mas me
atrapalhei o tempo todo com a regularidade. Não foi uma corrida agradável.
Terminei com 155 bpm.
Sábado – 12 km de Quiçamã. Depois de uma noite dormindo tarde, acordando à
4.20 da manhã, viajamos para Quiçamã, Jorge, Ciba, Beto, Nailma, Jane e eu.
Um dia maravilhoso, sol quente, uma beleza. Fizemos uma viagem ótima.
Quando saímos da estrada BR-101 e entramos na terra, o Beto parou o carro +-
12 km antes da fazenda Trindade, para corrermos dentro da nossa
programação.
Logo no início, saquei que Jorgeta estava vendido. Tão vermelho que já
ficava roxo, fui puxando o tempo todo a corrida, sabendo que estávamos
abaixo dos 5,5 programados. O sol estava quente, mas eu não sentia nenhum
incômodo. O Jorge teve, várias vezes, dor de viado, e eu tive que reduzir bem
nessas horas, para dar uma força. O caso é que ele passou a semana em Maceió
caneando e comendo paca, e ainda não correu. Vai daí... Mas, tirando isso, a
corrida foi maravilhosa, um bom teste, mesmo para o Jorge. Terminei com
1h9’11’’, uma distância próxima dos 12 km planejados, acho que um pouco mais,
165 bpm.
Aí, cerveja e churrasco, todo o sábado, isso depois de eu perder umas
três horas consertando a cagada do Beto, que quebrou a chave de ignição da
Barbarela na porta da mala. Viemos para o Rio com ligação direta. Conheci uma
fazenda de verdade, bonita e antiga, com gente boa comandando um casarão
com pé direito de uns 5 metros, chão de taboa corrida, portais de toras de
madeira, móveis antigos pesadíssimos, escuros e com mármore integrando seu
visual.
Bebi uma água filtrada em pedra pome, enorme bacia de pedra
porejando água numa talha de barro, mais parecendo uma pia batismal.
Bebi leite tirado da vaca na hora, vi uma vaca berrando seu bezerro
morto pela madrugada de diarréia.
Fomos a uma praia de mar marrom, perto de uma lagoa escura e
malcheirosa.
Foi um fim de semana ótimo. No sábado, um porre geral. Conheci o
Capitão, que apanhava da D. Ana, sua mulher, sempre que chegava bêbado em
casa; um dia, fingiu-se de bêbado, lambuzou-se de cachaça e, ao ser agredido,
tomou o pau com que lhe batia sua mulher e abriu-lhe uma brecha na cabeça.
Falei com seu Heitor, seu irmão, que tem um calendário e o segue
religiosamente, só que adiantado em relação ao mundo. No sábado, dia 19, era
dia 30/11 para ele. E, se não coincidir o dia da semana, azar. Pode ser domingo,
que ele trabalha. Ou, então, fica de bobeira enquanto todo mundo dá duro,
basta que seja domingo para ele.
Andeio entre paredes e dormi sob o teto que abrigou e abriga a família
descendente do Visconde de Araruama. Um barato!
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FIM DO PRIMEIRO CADERNO

Anotações na contra capa:


Primeira P.V.L. – 20.03.85
Primeira G.V.L – registrada 23.02.85
Medição G.V.L. – 25.08.85 14.4 km

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