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– Os que sofrem com sentido de corredenção serão consolados por Nosso Senhor. Devemos
compadecer-nos das dificuldades e dores dos nossos irmãos e ajudá-los a superá-las.
O Senhor não modificou as leis da criação: quis ser um homem como nós.
Podia ter suprimido o sofrimento, e, no entanto, não o evitou a si próprio.
Alimentou milagrosamente multidões inteiras, e, no entanto, quis passar fome.
Compartilhou as nossas fadigas e as nossas penas. A alma de Jesus
experimentou todas as amarguras: a indiferença, a ingratidão, a traição, a
calúnia, a dor moral que o afligiu em grau supremo ao assumir os pecados da
humanidade, a morte infamante na Cruz. Seus adversários estavam admirados
porque a sua conduta era incompreensível: Salvou outros – diziam em tom
irônico – e não pode salvar-se a si próprio6.
O Senhor quer que evitemos a dor e que lutemos contra a doença por todos
os meios ao nosso alcance; mas quer, ao mesmo tempo, que demos um
sentido redentor e de purificação pessoal aos nossos sofrimentos, mesmo
àqueles que nos parecem injustos ou desproporcionados. Esta doutrina
cumulava de alegria o Apóstolo São Paulo, que assim o manifestava da prisão
aos primeiros cristãos da Ásia Menor: Agora alegro-me com os meus
padecimentos por vós e completo na minha carne o que falta às tribulações de
Cristo pelo seu corpo, que é a Igreja7.
A dor não santifica aqueles que sofrem nesta vida por causa do seu orgulho
ferido, da inveja, do amor próprio, etc. Quanto sofrimento fabricado por nós
mesmos! Essa cruz não é a de Jesus, e surge precisamente por se estar longe
dEle. Essa cruz é nossa, e é pesada e estéril. Examinemos hoje na nossa
oração se levamos com garbo a verdadeira Cruz do Senhor.
Os que padecem com Cristo terão como prémio a consolação de Deus nesta
vida e, depois, a grande alegria da vida eterna. Muito bem, servo bom e fiel...,
vem participar da alegria do teu Senhor10, dir-nos-á Jesus no fim da nossa vida,
se tivermos sabido viver as alegrias e as penas unidos a Ele.
Além disso, aqueles que oferecem a Deus a sua dor são corredentores com
Cristo, pois Deus Pai sempre derrama sobre eles uma grande consolação, que
os enche de uma paz contagiosa no meio das suas penas. Porque, assim
como nos chegam em abundância os padecimentos de Cristo, assim também
por Cristo é abundante a nossa consolação13. Ao dirigir-nos essas palavras,
São Paulo sente-se consolado pela misericórdia divina, e isso permite-lhe
consolar e animar os outros, transmitindo-lhes a certeza de que Deus Pai está
sempre muito perto dos seus filhos, especialmente quando sofrem.
Pode às vezes acontecer que, perante uma situação dolorosa que atinge
determinada pessoa, não saibamos como actuar. Um bom meio para termos
luz abundante será recolher-nos por uns instantes em oração e perguntar-nos o
que o Senhor faria nas nossas circunstâncias. Umas vezes, bastará fazer um
pouco de companhia a essa pessoa, outras conversar com ela em tom positivo,
animá-la a oferecer a sua dor por intenções concretas, ajudá-la a rezar alguma
oração, escutá-la, etc.
Quando nestes dias tantas pessoas se esquecem do sentido cristão destas
festas, nós procuraremos usar da luz e do sal das pequenas mortificações, na
certeza de que assim daremos uma alegria ao Senhor e contribuiremos para
aproximar da paz do Presépio muitas outras almas.
(1) Mt 2, 16; (2) Rom 8, 28; (3) Frank J. Sheed, Conocer a Jesucristo, Epalsa, Madrid, 1981,
pág. 73; (4) Mt 5, 5; (5) Apoc 14, 4; Antífona da comunhão da Missa do dia 28 de Dezembro;
(6) Mt 27, 42; (7) Col 1, 24; (8) Colecta da Missa do dia 28 de Dezembro; (9) Antífona de
entrada da Missa do dia 28 de Dezembro; (10) cfr. Mt 25, 3; (11) Apoc 21, 3-4; (12) cfr. 2 Cor 4,
17; (13) 2 Cor 1, 5.