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E eu até compreendo que assim seja, mas não me peçam para aceitar. Cada um de nós é
vítima e parte do problema. Como tal, é mais do que lógico e razoável que queiramos e
procuremos ser parte da solução.
Não podemos fechar a porta à democracia nem a podemos deixar fechá-la na hora do
escrutínio. Uma democracia realmente democrática quer-se participativa e presente 365 dias
por ano, pelo que não podemos permitir que o futuro das nossas gentes dependa apenas de
um punhado de pessoas que pouco e mal conhecemos, ou melhor, de quem muito
desconhecemos.
Na minha opinião, a escolha consciente, honesta e racional dos estrategas da nação não é mais
do que o início de uma verdadeira participação, a qual em nada se esgota nesse passar do
testemunho.
Acredito bem que a minha opinião tenha pouco ou nada de consensual e que, ao lerem este
meu artigo, certas lanternas de bolso ou iluminados monofásicos começarão logo a dizer à
boca e de boca cheia, e com uma facilidade demasiado suspeita, que o povo não tem
discernimento suficiente para decidir sobre o que está certo ou errado e o que é melhor para o
bem comum.
Reconheço que, na actualidade, até possa ser correcta e legítima esta posição, mas acredito
que muitos desses iluminados pouco ou nada fazem para abrir os olhos e a mente deste povo
simultaneamente muito e pouco crítico, talvez por quererem ser a luz ao fundo do túnel e não
se aperceberem de que nunca serão mais do que o seu tosco, frágil e baço reflexo.
Nos dias que correm, ninguém pode deixar de exercer uma verdadeira e abnegada cidadania.
Nos dias que correm, ninguém pode evocar uma alegada ausência de opções para se subtrair
ao exercício da sua cidadania. O destino dos nossos filhos, netos e bisnetos não pode depender
dos “interesses” e “humores” de cada um nem se compadece com idealismos de bolso, até
porque as opções, quando não as há, devemos criá-las.