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BALÍSTICA FORENSE
Salvador
Julho de 2008
ÍNDICE Pag
1 INTRODUÇÃO 3
2 ARMAS DE FOGO 3
5 PROJÉTEIS 12
6 RESIDUOGRAMA DO TIRO 18
7 BALÍSTICA EXTERNA 19
8 BALÍSTICA TERMINAL 20
9 IDENTIDADE E IDENTIFICAÇÃO 22
11 REFERÊNCIAS 29
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1 INTRODUÇÃO
Como ciência que estuda o movimento dos corpos no espaço, a Balística surgiu a
centenas de milhares de anos, no exato momento em que o homem, em seu processo de
evolução, teve liberados os membros dianteiros, com os quais passou a arremessar pedras
para caçar animais e enfrentar os inimigos. Daí em diante o homem se especializou, digamos
assim, na produção e utilização de armas de arremesso de um modo geral (com as quais podia
atingir e ferir gravemente um inimigo, sem se aproximar dele), das quais as armas de fogo
constituem estágio tecnológico mais contemporâneo.
Voltada para a aplicação da Lei Penal, a Balística Forense foi criada para o estudo
das armas de arremesso de um modo geral e das armas de fogo em particular, tendo o seu
embrião, segundo renomados autores, surgido na primeira ocasião em que alguém,
examinando as características de uma flecha retirada do corpo de um guerreiro morto, logrou
determinar a tribo, ou o clã, a que pertenceria aquele que a desferira.
Aplicada no trabalho policial, a Balística Forense constitui importante ramo da
Criminalística, que é a disciplina geral. Estuda as armas portáteis de um modo geral (e não
armamento militar), exatamente por serem estas as armas e munições normalmente
empregadas no cometimento dos delitos penais.
2 – ARMAS DE FOGO
Armas de fogo disparam projéteis que produzem, nos seres vivos, contusão e
perfuração, de modo que tais projéteis são considerados instrumentos pérfuro-contundentes,
os quais produzem feridas pérfuro-contusas. De um modo geral, poderíamos classificar as
armas de fogo da seguinte maneira:
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• Quanto ao raiamento do cano: Raiadas – O cano possui espiras laterais internas, em
alto relevo, por onde passam os projéteis sólidos sob forte atrito (Ex. revólver, pistola,
carabina, rifle, metralhadora, fuzil).
Figura 01. Armas curtas. Da esquerda para a direita: revólver, pistola, sub-metralhadora e pistolão.
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MOSQUETÃO (repetição manual, calibre de alta
energia)
FUZIL (opera em regime automático = rajada)
Figura 02. Armas longas. De cima para baixo e da esquerda para a direita: carabina, rifle, mosquetão,
fuzil e espingarda.
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3 – O CALIBRE DAS ARMAS DE FOGO
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CALIBRES DAS ESPINGARDAS
(DIÂMETRO DO PROJÉTIL)
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Browning) poderia ser confundido com o 7,65 mm Roth-Sauer, 7,65mm Borchardt, 7,65mm
Mas, ou o 7,65mm Luger.
Nas munições, deve-se considerar, ainda, que os cartuchos +P (recurso utilizado pela
indústria apenas para velhos calibres, dotando-os de mais energia, conforme permite a
tecnologia das armas modernas) não caracterizam novos calibres nominais. Ex.: cartucho do
calibre nominal .380 Auto, com inscrição (ou carga propelente) +P.
O cartucho de munição para arma de fogo foi criado por volta da metade do
século 19, a mais de 150 anos, por ocasião do desenvolvimento da armas de retrocarga. O
surgimento da unidade completa e compacta de munição produziu uma verdadeira revolução
tecnológica no sistema operacional das armas de fogo, que evoluíram rapidamente do tiro
singular para o tiro de repetição manual e, deste, para a operação semi-automática e
automática. Era a tecnologia proporcionando um enorme ganho de poder de fogo para
exércitos e usuários. A Figura 5 ilustra três tipos básicos de cartuchos.
Virola ( crimp)
Graxa
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contemporaneamente três tipos básicos de cartuchos: de caça, para as armas de canos lisos ou
espingardas, de fogo central e de fogo circular, os dois últimos destinados às armas de cano
raiado, conforme mostra a Figura anterior.
Basicamente, o cartucho de munição é composto por quatro elementos: estojo,
espoleta iniciadora, pólvora e projétil (ou conjunto bucha + bagos de chumbo, nos cartuchos
de caça). Vide Figura 6:
Estojo
Pólvora
Espoleta
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estojos: precisam ter bases maleáveis e frágeis para se deformar com o impacto do percussor
da arma e, simultaneamente, ter bases robustas o suficiente para resistir à pressão dos gases
do disparo. Por este motivo, cartuchos de fogo circular ficaram restritos aos pequenos
calibres, sendo o .22 Long Rifle (.22 LR) o seu mais conhecido exemplo (Figura 7).
Os estojos para cartuchos de caça têm sempre uma base metálica com um orifício
no centro, para montagem da espoleta iniciadora. No Brasil estes cartuchos empregam um
tipo de espoleta diferente, denominada “Bateria”, e que são constituídas por uma espoleta do
tipo Berdan, porém completamente montadas num copo que se insere pela base do estojo.
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Os atuais cartuchos de munição utilizam apenas as pólvoras químicas ou
nitrocelulósicas, criadas em 1885 para substituir as pólvoras negras, até então empregadas
nos primeiros cartuchos. No disparo, a grande pressão dos gases produzidos faz com que
estojo e projétil sejam então brutalmente separados, sendo que o primeiro esbarra logo contra
o percussor e a culatra da arma, enquanto o projétil é disparado no sentido da saída do cano
da arma.
5 PROJÉTEIS
Figura 8. Projétil ogival disparado por cano liso. Trajetória instável por conta do centro de gravidade
deslocado no sentido da própria base.
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Para garantir a estabilidade dos projéteis ogivais ao longo de toda a sua trajetória,
foi necessário acrescentar-lhes uma aceleração tangencial durante o disparo, dotando-lhes
então de um movimento de rotação em torno do próprio eixo. É o que se chama de
estabilidade giroscópica. Para isto a indústria bélica inventou o raiamento das armas de fogo,
de uso exclusivo para o disparo de projéteis ogivais, e constituído por espiras helicoidais em
alto relevo no interior do cano. É por este motivo que o diâmetro dos projéteis vai até o fundo
das raias do cano, fazendo com que a sua passagem seja forçada, mediante forte atrito contra
estas espiras em alto relevo, conhecidas também como ressaltos do interior do cano da arma.
A estabilidade pode ainda ser melhorada mediante a remoção de massa da base
dos projéteis (a base oca desloca o centro de gravidade no sentido da ogiva), como ocorre nos
projéteis do tipo “canto-vivo” (utilizados nas competições de tiro ao alvo), e nos balotes para
espingardas de calibre 12. Estes últimos, embora disparados por canos lisos, adquirem ainda
certa rotação durante a trajetória, propiciada pelo atrito do ar contra as estrias externas,
inclinadas e em alto relevo, que são propositalmente acrescentadas em suas paredes laterais.
• Tipos básicos
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forças armadas dos países ocidentais, inclusive o
Brasil. Alguns tipos são mostrados na Figura 9.
Projéteis expansivos são muito comuns no uso civil e no trabalho policial, vez
que raramente ricocheteiam e têm como característica a perda de grande quantidade de
energia quando eventualmente atravessam um corpo humano ou animal. A ponta da ogiva
destes projéteis é desenhada de modo a se deformar durante o impacto, produzindo aumento
de até 100% no seu diâmetro original. Com a expansão da ogiva, produzem aumento do canal
de ferimento e de sangramento com conseqüente destruição de tecidos e transferência de toda
a sua energia cinética para o alvo. A expansão da ogiva não ocorre completamente em baixas
velocidades, e depende da constituição do alvo atingido. A indústria utiliza vários métodos
para obter um projétil expansivo, sendo os principais:
• Abertura de um orifício na ogiva (ponta oca ou hollow point)
• Abertura de entalhes ou rachaduras no revestimento da ogiva ou redução da espessura
da jaqueta de cobertura neste local.
• Exposição do núcleo de chumbo na extremidade da ogiva (ponta mole ou soft point)
Figura 10. Projéteis expansivos, da esquerda para a direita: Jacketed Soft Point (JSP), Jacketed Hollow
Point (JHP), Semi- Jacketed Hollow Point (SJHP), Winchester Silvertip e Federal Hydra-Shok.
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Projéteis fragmentáveis são projetados para se desintegrarem completamente
durante o impacto contra o alvo, produzindo então inúmeros fragmentos de pequeno tamanho,
que funcionam como projéteis secundários. Requerem alta velocidade para a completa
desintegração, apresentam pouca penetração e seu uso é normalmente restrito a pequenos
calibres. Não são fabricados industrialmente no Brasil. Vide Figura 11.
Figura 11 . Projéteis fragmentáveis. CCI Shot Shell para revolver e projétil Glaser da COR-BOM. As
esferas de chumbo são disparadas dentro de uma cápsula plástica no primeiro caso, e prensadas no
interior de uma jaqueta de liga de cobre (que recebe uma tampa plástica ogival), no segundo.
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• Constituição e configuração
Figura 13. Molde para fundição de projéteis ao lado de unidades artesanais fundidas, e projétil industrial
prensado (à direita).
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indústria bélica criou os projéteis de base afunilada (boattail ou taper heel, em inglês), os
quais são dimensionados conforme mostra a Figura 14.
0,4D
de 7º à 10º
D
0,5 à 1,00D
Figura 14. Projétil de base afunilada (Boattail), para disparos em alta
Figura 15. Cartuchos com projéteis “copper bullets” produzidos pela CBC nos calibres 9mm Luger,
.40S&W e .45ACP.
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6 – RESIDUOGRAMA DO TIRO
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7 – BALÍSTICA EXTERNA
VÁCUO
AR
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8 – BALÍSTICA TERMINAL
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4. Fragmentação – Partes do projétil ou fragmentos de ossos que são impelidos
da cavidade permanente, podendo danificar tecidos, vasos sanguíneos, etc.
Fragmentação pode ou não aparecer numa ferida por arma de fogo, e deve ser
considerada como um efeito secundário do tiro.
Figura 19. Ferimentos balísticos produzidos por disparo de arma longa (acima) e arma curta.
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psicológicos afeta a probabilidade de
incapacitação. Considere-se que a
hemorragia leva à incapacitação, mas não de
modo imediato. Estudos mostram que um
homem tem oxigênio no cérebro suficiente
para mantê-lo em ação durante 10 a 15
segundo após ter o seu coração destruído por
um tiro. Figura 20 mostra áreas vitais do
corpo humano.
Fatores psicológicos são muito
importantes para alcançar uma rápida
incapacitação mediante tiros no torso. Figura 20. Estrutura cardiovascular humana
Consciência do ferimento, medo da morte,
sangramento e dor. O problema é que fatores psicológicos também causam de falha na
incapacitação. Força de vontade, instinto de sobrevivência e fortes emoções como ódio ou
fúria pode estimular um indivíduo a continuar lutando mesmo após gravemente ferido.
Produtos químicos podem retardar a incapacitação. Adrenalina, estimulantes,
anestésicos, eliminadores de dor e tranqüilizantes podem retardar a incapacitação, pela
supressão da dor ou inconsciência do ferimento. Um dos efeitos de drogas como cocaína e
heroína é fazer com que o indivíduo sinta-se dissociado do seu corpo. Ele vê e experimenta o
ferimento em seu corpo, mas, como um observador externo não afetado ele continua a usar o
corpo para lutar ou resistir.
9 – IDENTIDADE E IDENTIFICAÇÃO
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características próprias, intrínsecas de um ser, as quais permitem estabelecer sua
identidade. (TOCCHETTO, 2003, 3.ª Edição, p. 93).
A identificação de uma arma de fogo pode ser efetuada pelo processo direto, ou
indireto. O processo é direto quando realizado sobre ela própria, nas suas características e
peculiaridades distintivas. Como referência para uma identificação direta ou imediata, temos
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os elementos cunhados exteriormente no corpo da arma, como o nome e o logotipo do
fabricante, o calibre, o número de série e a naturalidade e nacionalidade. Estes elementos
constituem os chamados sinais propositais de identificação, alguns deles apostos pelo
fabricante para garantir a autenticidade do produto e orientar o usuário sobre o tipo de
munição a utilizar. Além destes elementos, comuns, podem ser cunhados nas armas de fogo
outros elementos qualificadores como marcas de bancos de prova, brasões de armas de
Estados e marcas relativas à sua vinculação com corporações policiais civis e militares. Estes
sinais propositais, aliados às características físicas da arma, como a forma, dimensões, tipo de
cano e acabamento, permitem ao perito a identificação segura da arma para futura referência.
Já no processo de identificação indireto ou mediato de uma arma de fogo, os
elementos utilizados como referência são as características gerais e particulares das
deformações impressas pela arma considerada nos projéteis e estojos por ela disparados. A
identificação indireta é feita não mais pelo exame da arma em si, mas mediante a análise
comparativa, macro e microscópica, das deformações constatadas nos padrões produzidos
pelo disparo da arma, com as marcas examinadas nas peças questionadas, extraídas de vítimas
ou coletadas em local de crime. Um resultado conclusivo dependerá sempre das condições
das peças questionadas, do número e valor das deformações pesquisáveis nestas evidencias.
Os fundamentos técnicos para a identificação indireta de uma arma de fogo estão
na própria dinâmica do disparo, nos fenômenos que ocorrem durante milésimos de segundo,
tempo que separa a percussão da espoleta ao instante em que o projétil sai do cano da arma. A
espoleta é constituída por uma mistura iniciadora (um explosivo) que detona e inflama a
pólvora (um propelente) no interior do estojo. Neste processo será produzida uma grande
quantidade de gases, em alta temperatura e alta pressão, tendo como resultado a dilatação das
paredes laterais do estojo da munição e a violenta aceleração dos dois elementos já separados:
o projétil, que é empurrado violentamente para o exterior do cano, em passagem forçada e
mediante forte atrito contra o raiamento; e o estojo, que recebe a mesma força na porção
interna da sua base, e é também violentamente projetado contra o percussor e contra a
superfície da culatra da arma, recebendo ali a estampa das irregularidades destas superfícies,
sob a forma de micro-estrias.
A Figura 21 ilustra o processo de produção das deformações produzidas nos
elementos de munição durante o processo de disparo.
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Figura 21. Produção de deformações durante o disparo de uma arma de fogo.
O confronto balístico, entre projéteis ou estojos disparados por uma arma de fogo
pode ocorrer entre evidências coletadas no local do crime (ou extraídos de vítimas) e as peças
obtidas através do disparo, em local adequado, de uma arma suspeita apreendida pela Polícia
(estojos ou projéteis que passam, então, a ser denominados de “padrões” daquela arma). É
importante proceder, ainda, ao confronto entre projéteis ou estojos relativos a dois ou mais
diferentes delitos, quando ainda não se tem a arma, mas suspeita-se de correlação.
Pode-se afirmar que o primeiro exame de micro comparação balística da história
da Balística Forense ocorreu em 1927 nos Estados Unidos, quando o Major Calvin Hooker
Goddard (1891-1955) empregou pela primeira vez microscópios comuns - devidamente
adaptados para visualização de duas imagens simultâneas - para proceder à identificação
indireta de uma arma de fogo. Isto ocorreu no desfecho do famoso caso dos anarquistas
italianos Sacco e Vanzetti, ocasião em que Goddard determinou que o revolver apreendido
com Nicola Sacco havia sido efetivamente empregado no caso do roubo fatal ao carro forte.
Em 1932 Goddard coordenou os trabalhos da Polícia Federal Americana (FBI) na criação do
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primeiro Laboratório de Ciência Forense Criminal dos Estados Unidos. A Figura abaixo
mostra Goddard com seu pioneiro microscópio balístico, uma adaptação de dois microscópios
comuns para visualização simultânea de duas imagens, ao lado de um aparelho
contemporâneo:
Figura 22. Goddard e sua pioneira adaptação de 2 microscópios comuns, ao lado de micro
comparador moderno
Figura 23. Micro-comparações entre peças disparadas por arma de fogo. PQ = Projétil
Questionado; PP = Projétil Padrão; EQ = Estojo Questionado; EP = Estojo Padrão.
Fonte: Coordenação de Balística Forense. ICAP. DPT. SSP/Ba.
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gerais do raiamento de milhares de armas de fogo fabricadas em todo o mundo. Trata-se do
software conhecido como GRC (iniciais de General Rifling Characteristics, em inglês) que
permite, senão a identificação específica da arma de fogo que disparou determinado projétil
questionado, pelo menos a restrição a um pequeno universo de armas suspeitas.
Também estão disponíveis bancos de dados para utilização no processo de
identificação direta de uma arma de fogo, com imagens, dimensões, dados técnicos e de
acabamento, calibres e capacidade de munição, etc, de milhares de armas de fogo já
produzidas pela indústria de todo o mundo.
Para a identificação individual, a tecnologia ainda não produziu um sistema
completo de identificação. Todos os sistemas hoje disponíveis operam, digamos assim, no
regime semi-automático de identificação, exigindo a confirmação final pelo perito no
microscópio balístico.
O Estado da Bahia adquiriu para o ICAP o equipamento fabricado pela empresa
Canadense FTI conhecido pela sigla IBIS (Integrated Ballistic Identification System), o qual
compara não as imagens, mas a “assinatura” delas, apresentando um escore de possibilidade
de correlação. Em verdade o IBIS, através de um algorítimo matemático, transforma as
imagens das deformações estampadas nos elementos nele cadastrados (de projétil ou de estojo
de munição disparada), num Polinômio, elemento que ele armazena em sua memória. Quando
uma nova peça das mesmas características é adquirida, ele procede então a uma comparação
matemática:
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1. BrassTRAX – É a estação para aquisição de imagens de estojos de
munição disparada.
2. BulletTRAX - É a estação para aquisição de imagens de projéteis de
munição disparada.
3. MatchPoint – É a estação que permite interagir com o IBIS e analisar os
resultados da comparação automática feita pelo equipamento.
No ICAP estão instaladas 2 estações BulletTRAX e uma estação BrassTRAX,
para atender a demanda vigente. A Figura 24 mostra um arranjo das estações IBISTRAX:
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Integrated Ballistic Information Network). A rede NIBIN foi criada em 1998, está em todos
os 50 Estados americanos, e já proporcionou 12.500 Hits (correlação levantada pelo IBIS e
confirmada posteriormente pelos peritos).
11 REFERÊNCIAS:
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