Exercício de Revisão para a AV1 – Direito Penal II
Profa. Gisela França Leia o texto abaixo e produza uma Resenha Crítica: (15 a 20 linhas) Pergunta - é possível haver concurso de agentes em crime culposo?
Publicado por Fabricio da Mata Corrêa
É POSSÍVEL HAVER CONCURSO DE AGENTES EM CRIME CULPOSO?
Antes de se apresentar aquilo que a doutrina tem entendido
como sendo majoritário, é preciso dizer que o tema é por certo controvertido. No entanto, abordaremos apenas aquilo que tem se apresentado como de maior força na doutrina. A saber, inicialmente, só existem duas maneiras de se praticar uma infração penal (crime ou contravenção), que é justamente por meio de uma conduta dolosa - quando o agente realmente deseja algo e molda sua conduta visando este fim, ou então quando por não prever um resultado que até então era previsível, seja por ter sido negligente, imprudente ou ainda por ter ele ignorado um dever objetivo de cuidado. Resumindo, a lei penal brasileira só admite a prática de uma infração penal, quando houver dolo ou culpa.
Partindo desse princípio, e considerando que duas ou mais
pessoas podem perfeitamente por meio de união de desígnios assentirem para a prática de um ato, conclui-se, portanto, que havendo dolo não há problema, o concurso de agentes se dá tranquilamente na forma prevista no artigo 29 do CP. E o mesmo vale para a participação dolosa. Agora, respondendo à pergunta feita, e relembrando que esse tema é por deveras discutido na doutrina, mas ressaltando a majoritária. É possível notar que o problema surge justamente quando se retira o dolo do agente e passa-se a analisar sua conduta apenas na modalidade culposa.
A resposta positiva não está errada, mas também não está
completamente certa. Isso porque, é preciso que se faça uma diferenciação do concurso de agentes pautado na figura da co-autoria, daquele visto na forma da participação, posto que em se tratando desta última para sua verificação no caso em concreto, deve-se dividi-la em dolosa e culposa.
Desta forma, considerando o concurso de agentes em crime
culposo, na modalidade co-autoria, ele se faz perfeitamente possível vez que duas pessoas podem perfeitamente, por meio de condutas culposas, quebrando com o dever objetivo de cuidado, agredirem bem juridicamente tutelado. Neste caso, os envolvidos responderão conjuntamente pela infração. Exemplificando tal questão, vale citar o que aconteceu com a menor Grazielly de 3 anos, que morreu após ter sido atingida por um Jet ski, neste caso em especial, o delegado verificou um concurso de culpa e por isso indiciou 4 pessoas.
Deixando de lado a figura da co-autoria, doravante, o
problema sobre esse tema surge justamente quando se fala na participação em crime culposo, considerando que é preciso verificar a natureza dessa participação, ou seja, se foi culposa ou dolosa. A participação dita culposa, embora haja resistência por parte da doutrina, é sim possível de ser verificada, pois se uma pessoa estimula, incita ou provoca outra a ter uma conduta imprudente, a partir desse momento fica certo que ambos quebraram um dever objetivo de cuidado. Embora tenha sido um quem efetivamente realizou o núcleo do tipo, aquele que o inspirou em sua conduta será tido como participe e deverá responder a título de culpa.
Como exemplo de tal situação, vale dizer o que foi dito
pelo professor Rogério Greco (2012), descrevendo a situação onde num veículo aquele que esta como carona induz o motorista a imprimir alta velocidade, só para que assim cheguem mais rápido a determinado lugar, ocorre que no trajeto o carro atropela um pedestre. Nesse caso, ambos não faziam previsão daquilo que era perfeitamente previsível, o que impõe ao motorista a devida imputação por crime culposo, assim como também ao carona que instigou o motorista a praticar tal fato, de forma que igualmente responderá pela infração praticada na modalidade participação culposa.
Até aqui tudo bem, o problema surge quando se fala da
participação dolosa em crime culposo. Sobre isso, realmente não se tem como aceitar a participação dolosa em crime culposo, posto que se alguém, DOLOSAMENTE, incita outra pessoa a adotar determinada conduta que sabidamente ensejará a prática de um ilícito penal, ainda que a pessoa instigada tenha realmente agido com culpa, aquele que o incitou, assim o fez já esperando a produção de um resultado, de forma que este deverá responder pelo mesmo crime, porém, na sua forma dolosa.
Exemplo: Mevelina sabendo que Tício deseja pregar uma peça
(brincadeira) em Caio, seu inimigo mortal, entrega uma arma àquele dizendo que embora ela não funcione (não dispara!) serviria para assustar Caio. Acreditando nisso, Tício desejando assustar Caio e acreditando no que foi dito por Mevelina, imprudentemente aperta o gatilho que para sua surpresa dispara e mata Caio. Veja, embora Tício realmente tenha agido com culpa, o mesmo não pode ser dito sobre Mevelina que utilizou Tício com seu instrumento para a prática do crime, por isso que nesse caso, Tício responde por Homicídio culposo e Mevelina por homicídio doloso. Resumindo, é sim possível a co-aoutoria em crime culposo, já no que tange a participação ela só será possível se for uma participação culposa.
Esta obra versa sobre a incidência do concurso de pessoas em crimes culposos.
É notório que há divergência entre os doutrinadores no tocante a esta temática. Alguns entendem que não é possível a ocorrência do concurso de pessoas em crimes na modalidade culposa, defendendo que, os indivíduos que causam um resultado danoso pela inobservância de cuidado, devem necessariamente responder individualmente, paralelo a sua parcela de culpa, vez que, novamente, fica evidente que os agentes não acordaram sua vontade para realizar tal delito, havendo a chamada concorrência de culpas, conforme explicita Luiz Flávio Gomes em suas obras. Todavia a maioria admite o concurso de pessoas em crimes culposos somente na forma de coautoria, não admitindo a participação, conforme explana o Professor Damásio em suas obras. Entendemos de tal forma pois sendo o tipo do crime culposo aberto, composto sempre de imprudência, negligência ou imperícia, não é aceitável dizer que uma pessoa auxiliou, instigou ou induziu outrem a ser imprudente, sem ter sido igualmente imprudente. Portanto, quem instiga outra pessoa a tomar uma atitude imprudente está inserido no mesmo tipo penal. Não há de se falar em participação em uma finalidade que o autor não tem anseio, seria totalmente incoerente, conforme entendimento do jurista Celso Delmanto.