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PROGRAMA DE

CURSOS POSITIVO 2011


O LAZER COMO TEMA: EXERCITANDO A
EDUCAÇÃO FÍSICA
CRIATIVIDADE NAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA

Uma das finalidades do ensino da Educação Física é refletir criticamente sobre o uso dos
conhecimentos das práticas corporais no tempo livre. Dessa maneira, pretende-se discutir o
potencial do conceito de lazer na organização da prática pedagógica, por meio do Livro Integrado
Positivo e de seus recursos tecnológicos, principalmente no que se refere à aprendizagem de
processos criativos.

Coordenação
Davi Marangon Arilson Sartorelli Ribas
dmarangon@positivo.com.br aribas@positivo.com.br

0800 725 3536


Educação Física

IDENTIDADE ORGÂNICA: PATRIMÔNIO DA


CULTURA ESCOLAR. Este texto compõe o material entregue no
momento da realização do Programa de
Caro (a) Educador (a): Cursos Positivo 2011. Este Programa
destina‐se às Escolas Conveniadas ao Sistema
Positivo de Ensino (SPE). O texto apresenta
Nossas ações são capazes de mostrar ao aprofundamento didático‐metodológico da
mundo quem somos. À forma pela qual os Proposta Pedagógica dos Livros Didáticos
outros nos reconhecem chamamos de Integrados Positivo e do Portal Positivo. A
identidade. seguir, conheça a equipe de assessoria da
área de Educação Física:
Assim como as pessoas, cada escola possui a
sua identidade que aqui definimos como
Compõem a equipe de assessoria da área de
identidade orgânica, um composto de valores, Educação Física:
conhecimentos e práticas que são a essência
da instituição e tornam-se, ao longo do
tempo, em valioso patrimônio da cultura Davi Marangon
escolar. dmarangon@positivo.com.br

É nesse sentido que o Programa de Cursos


2011 privilegia esta temática composta por Coordenação: Arilson Sartorelli Ribas
reflexões sobre as diferentes áreas do
aribas@positivo.com.br
conhecimento e do campo da gestão escolar
para nos conectarmos em permanente troca
de saberes e ações.

Atitudes essenciais para renovar e imprimir a


Identidade orgânica: patrimônio da cultura
escolar.

Acedriana Vicente Sandi


Diretora Pedagógica

FALE CONOSCO
0800 725 3536

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Educação Física

A temática do lazer se reveste de importância e pertinência para a área da Educação Física, tanto em
sentido amplo, quando se fala, por exemplo, nas atividades recreativas com as práticas corporais que se
desenvolvem no âmbito de clubes e hotéis, quanto em sentido restrito, quando se refere ao contexto
educativo da Educação Física escolar.
Pode-se considerar o lazer como um tema transversal do currículo escolar, mas existem alguns
componentes curriculares que se aproximam dele de forma mais intensa. É o caso de Artes e de Educação
Física, que têm seus conteúdos vinculados às atividades que acontecem de forma privilegiada nos momentos
de lazer.
No entanto, para que haja compreesão ampla do fenômeno lazer no âmbito da Educação Física
escolar, é necessário entendê-lo sob o ponto de vista da complexidade que entrelaça as práticas corporais
aos aspectos históricos, sociais, políticos e econômicos que orientam hábitos, comportamentos e
expectativas de consumo nos sujeitos.
Apesar da pertinência e da relevância do tema para a área da Educação Física escolar, há tensões
decorrentes de diferentes concepções a respeito do conceito de lazer e, consequentemente, do
ententimento de como as atividades relacionadas a essa dimensão da vida devem ser trabalhadas nas aulas.
Questões como as que seguem ajudam a posicionar essas tensões:

 As aulas devem ser de recreação ou ter caráter recreativo?


 Os alunos podem escolher as atividades que quiserem ou elas dependem das escolhas anteriores
do professor?
 Os alunos fazem as atividades quando quiserem e se quiserem ou têm o dever e a
obrigatoriedade de realizá-las no momento destinado às aulas?
 A aula de Educação Física é o momento de lazer e de descontração dos alunos ou ela é um
momento de realização de práticas corporais que, por serem típicas do tempo de lazer, podem
ser abordadas reflexiva e criticamente sobre os diferentes sentidos e relações que se
estabelecem com elas na sociedade em que vivemos?

Percebe-se, pela problemática apresentada, que há necessidade de um posicionamento claro dos


professores em relação às suas escolhas concepcionais, para que a prática pedagógica da Educação Física na
escola possa se orientar de forma consciente.
Portanto, o tema do lazer não pode ser pensado de forma descolada de uma concepção de
Educação, de Educação Física, de ensino e de aprendizagem. No caso específico da Educação Física escolar, a
reflexão sobre o lazer precisa, necessariamente, se vincular ao projeto de formação que se deseja por meio
desse componente curricular.
Os livros de Educação Física para o professor estão pautados em princípios de sistematização do
conhecimento e da formação dos alunos que vão na mesma direção apontada pelas Diretrizes Nacionais de
Educação em relação ao projeto político pedagógico almejado pela sociedade brasileira, principalmente no
que diz respeito à formação crítica, autônoma e criativa dos nossos alunos e alunas.
Esses aspectos podem ser evidenciados, por exemplo, em alguns trechos selecionados dos livros,
entre tantos outros, em que a reflexão crítica sobre o tema do lazer encontra centralidade:

 Reconhecer as diversas possibilidades de movimento a partir dos conteúdos da cultura corporal como
recursos para o lazer e a manutenção da saúde. (Fundamental 2)
 (...) proporcionar uma ação autônoma, oportunizando apropriação e utilização de tudo o que abrange o
movimento, tanto nos momentos de lazer quanto no tempo livre, sempre com posturas solidárias,
cooperativas, participativas, críticas, criativas e que propiciem discernir e assumir as responsabilidades
dessa prática. (Fundamental 2)
 Lazer: direito de todos, possibilidade de poucos? (Ensino Médio)

Nessa perspectiva, espera-se por meio do estudo das práticas corporais nas aulas de Educação Física
entendidas como produções culturais alocadas no tempo de lazer – que os alunos recebam conhecimentos e
vivenciem situações nas quais possam exercitar a cidadania democrática.

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Educação Física

Essa possibilidade se dá por meio de reflexão crítica sobre essas práticas, bem como pela elaboração
criativa de novas práticas, como resposta autônoma de superação das dificuldades de realização conjunta
delas. A dificuldade apresentada por cada sujeito, em sua singularidade, deverá ser sentida como problema
de todos e ser resolvida cooperativamente no coletivo pelo diálogo construtivo, no qual todas as vozes são
ouvidas e respeitadas.
É nesse contexto que o tema do lazer ganha força como conhecimento e se constitui como uma das
grandes finalidades do ensino da Educação Física na escola. Articulado de forma complexa a outros temas de
igual relevância, como, por exemplo, a saúde, se legitima e se justificativa como conhecimento necessário na
escola.
A prática pedagógica da Educação Física, que trabalha criticamente o conceito de Lazer, permite aos
alunos o conhecimento amplo da realiade social na qual estão inseridos, quando possibilita não só a
realização das práticas corporais, mas também a reflexão crítica sobre elas. Isso ocorre pela problematização
do tema que convida os alunos a se sentirem responsáveis pela transformação das relações contraditórias
embutidas nessas práticas, como resultado das relações sociais.
O processo reflexivo-crítico desenvolvido nas aulas de Educação Física sobre as atitudes e
intencionalidades na realização das práticas corporais no tempo de lazer deve permitir a compreensão do
que venha a ser “qualidade de vida” na complexidade do contexto atual da sociedade capitalista em que
vivemos.
Sendo um espaço e um tempo de aplicação dos conhecimentos desenvolvidos nas aulas de Educação
Física, as práticas corporais realizadas no momento do lazer exigem que se criem alternativas aos modelos
impostos, como únicos, de realização delas.
É sob esse pano de fundo que o tema da criatividade será desenvolvido no curso, como mais uma
possibilidade de formação ampla dos alunos, dada pela transferência do aprendizado dos processos criativos
para outras esferas de suas vidas.
Para tratar dessa temática, o presente texto está estruturado em duas partes integradas. Na
primeira, pretende-se desenvolver o conceito de lazer, procurando apontar limites e superações nas
concepções, por meio do cotejo de diferentes abordagens que constituem o campo de estudos do lazer,
articulando-o a outras esferas da vida. Na segunda, o empenho teórico concentra-se em localizar o lugar das
práticas corporais nesse espaço/tempo e em demonstrar como o tema do lazer afeta a organização do
conhecimento da Educação Física escolar. De forma privilegiada, a reflexão tratará dos processos criativos
relacionados ao desenvolvimento da autonomia dos alunos para elegerem atividades corporais em seu
tempo de lazer.

1. O conceito de lazer

Os estudos no campo do lazer são desenvolvidos em diferentes áreas do conhecimento,


caracterizando-o como tema multidisciplinar. Os profissionais do lazer podem ser oriundos de diferentes
áreas de atuação, como o Turismo, a Pedagogia, a Terapia Ocupacional, a História, a Geografia e a
Educação Física, entre outras.
Apesar de crescerem os trabalhos em nível acadêmico, não é tarefa fácil conceituar o lazer,
devido à grande profusão de concepções e de definições que coexistem no campo.
A primeira noção sobre o conceito de lazer o coloca em oposição ao mundo do trabalho.

Um olhar atento sobre a literatura filosófica nos mostra que desde Aristóteles (1996) havia certa
preocupação em relação às práticas realizadas pelos trabalhadores (escravos) fora de seu trabalho rígido,
as quais, de acordo com o referido autor (1996) materializavam uma maneira de os escravos recuperarem
suas energias físicas para a realização de novas atividades laboriosas PICCOLO, 2009, p.3).

A dimensão do trabalho sempre foi o polo mais valorizado nessa oposição, sendo o lazer
considerado o polo negativo.
Essa perspectiva de oposição entre trabalho e lazer ficou marcada de forma bastante intensa no
início dos estudos do lazer no Brasil, pela influência do sociólogo francês Joffre Dumazedier; para ele

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Educação Física

o lazer é um conjunto de ocupações às quais o indivíduo pode entregar-se de livre vontade, seja para
repousar, seja para divertir-se, recrear-se e entreter-se ou, ainda para desenvolver sua informação ou
formação desinteressada, sua participação social voluntária ou sua livre capacidade criadora após livrar-se
ou desembaraçar-se das obrigações profissionais, familiares e sociais (2000, p. 34).

Apesar de ter infuenciado muitos trabalhos acadêmicos, a definição desse autor sofreu críticas
em seus fundamentos básicos, principalmente por ter um caráter, ao mesmo tempo, funcionalista,
utilitarista e individualista.
Entre os críticos, Piccolo menciona que o autor naturaliza e idealiza o conceito de lazer por não
vinculá-lo à realidade social, ignorando as diversas formas de exploração humana, frutos das relaçãos de
poder na sociedade.

[Dumazedier] desconsidera a cruel realidade presente nas sociedades capitalistas que manipulam,
exploram e deterioram o homem a tal ponto que ele não consegue se desvincular de seus problemas.
Como não pensar na família se seus filhos não são contemplados por algumas necessidades básicas como
moradia, alimentação, trabalho, saúde, entre outras? Como pensar na diversão se incorporo em minha
própria carne uma situação miserável e degradante? (2009. p.7)

Marcellino (1990, 2001) destaca a complexidade das relações que se estabelecem entre o lazer e
outras esferas socioculturais. Alega que, historicamente, o lazer tem servido tanto como instrumento de
dominação social quanto de instrumento questionador de relações econômico-culturais produzidas pela
própria atividade humana, eminentemente social e coletiva. Portanto, o lazer não pode ser
compreendido fora do sistema de relações sociais e culturais que o configura, nem como mera
ferramenta de conformação dos sujeitos à estrutura social da qual fazem parte.
Essa perspectiva supera a visão que dicotomiza trabalho e lazer como oposições, entendendo-as
como duas dimensões da vida das pessoas, necessárias e relacionadas interdependentemente. O lazer
não tem seu valor apenas na compensação das energias gastas com o trabalho. O seu valor é
intrínsceco, principalmente como fator de autorrealização do ser humano.
É com esse sentido que o lazer ganha destaque na Constituição Federal de 1998, compreendido
como uma dimensão que deve ser garantida a todo cidadão e a toda cidadã, juntamente com outras
necessidades inalienáveis do ser humano, tais como: a saúde, a educação, a segurança, a infância, a
moradia, entre outras.
O lazer se relaciona com cada uma dessas dimensões, que, interligadas e realizadas de forma
plena, garantem a dignidade ao ser humano.
Porém, isso exige que cada sujeito e a sociedade de uma maneira geral reivindiquem dos
governantes uma política pública de lazer, que seja participativa, democrática e se desdobre nos âmbitos
federal, estadual e municipal, assegurando o exercício de vivência do direito ao lazer.
Falando da relação do lazer com a educação, pode-se dizer que os processos de reprodução e de
produção socioculturais que se dão no espaço/tempo do lazer são fundamentais para a formação dos
sujeitos que são chamados a interagir no plano da dimensão lúdica, que é altamente educativa. Quando
se trata da educação escolarizada, mais especificamente, o tema pode e deve ser trabalhado de acordo
com o duplo aspecto educativo do lazer, assim como o entende Marcellino (2000):

 Educação para o lazer: o lazer é entendido como objeto de educação. Implica em mostrar a sua
importância pela vivência dos seus conteúdos culturais, o que permitirá a possibilidade de as
pessoas escolherem, mais livremente, aquilo que querem fazer, no seu tempo disponível.
 Educação pelo lazer: o lazer é entendido como veículo de educação. Implica em vivenciar o lazer
como forma de transformação dos sujeitos e da sociedade. No plano individual contribui para o
aprimoramento do movimento, da sensibilidade e do espírito crítico; e no plano social contribui para
o aprimoramento das relações interpessoais, do conhecimento do meio, das culturas, das
diferenças, entre outros.

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Educação Física

Essa dupla referência da educação articulada ao lazer pode se concretizar, segundo esse mesmo
autor, por meio de uma pedagogia da animação na escola, que, em síntese, propõe a recuperação do
lúdico no processo de ensino/aprendizagem.
Dando maior clareza em relação à noção do conceito de lazer, vale elencar os seus principais
elementos constitutivos, que, segundo Marcelino (2000), são os seguintes:

a) Tempo: “livre” ou “disponível”.


b) Atitude: a possibilidade de adesão, prazer propiciado e condições de descanso, divertimento e
desenvolvimento pessoal e social.
c) Interdependência: ocorre de modo não isolado nessa ou naquela atividade, mas relacionado com as
outras esferas de atuação humana, como, por exemplo, o trabalho, a escola e a família, entre outras.
d) Gêneros: praticar, assistir e conhecer.
e) Conteúdos: artísticos, físico-esportivos, sociais, intelectuais e turísticos.
f) Níveis: elementar, caracterizado pelo conformismo; médio, caracterizado pela criticidade; e superior,
caracterizado pela criatividade.

Dos aspectos elencados, os três primeiros já foram contemplados nas discussões dos parágrafos
anteriores. Sendo assim, as próximas reflexões serão sobre os conteúdos, os gêneros e os níveis de
relação das pessoas com o lazer.
Com relação aos conteúdos do lazer mencionados, aquele que possui maior interesse para a
Educação Física escolar diz respeito aos aspectos físico-esportivos, que compreendem não só os
esportes, mas também todas as outras manifestações culturais das práticas corporais, como os jogos e
brincadeiras, as ginásticas, as danças e as lutas. Portanto, deve-se atentar no ensino da Educação Física
para a diversificação dos conteúdos das práticas corporais, assim como para as suas dimensões
conceituais, procedimentais e atitudinais.
A inserção das práticas corporais, em todos os gêneros apontados no tempo de lazer – o
conhecer, o praticar e o assistir – possibilita um leque de alternativas didáticas e metodológicas para as
aulas de Educação Física na escola. Conhecer criticamente como a sociedade usufrui, reproduz e produz
as práticas corporais deve interferir na forma como as pessoas se portam ao praticá-las e ao assistir a
elas.
Nos níveis que caracterizam a relação das pessoas com o lazer podem ser trabalhados os
aspectos educativos que orientem saltos qualitativos em direção a uma relação crítica e criativa com as
práticas corporais no tempo de lazer.
Esses aspectos serão mais bem explorados no próximo tópico.

2. As implicações didático-metodológicas do conceito de lazer para a Educação Física escolar

Reforçando o que foi mencionado anteriormente, o lazer é um espaço/tempo que pode ser
vivido e vivenciado pelos sujeitos em diferentes atividades que promovam a sua autorrealização.
Entre os vários conteúdos e atividades constitutivas do tempo de lazer estão as práticas
corporais, objetos de estudo da Educação Física escolar. Portanto, uma das finalidades do ensino da
Educação Física na escola é justamente para que os alunos se conscientizem da importância dela e
valorizem a realização de práticas corporais por toda a vida, no seu tempo de lazer.
No entanto, deve-se perguntar criticamente sobre o sentido que deve orientar a realização das
práticas corporais no tempo de lazer.
Diekcert (1984) fez a contraposição de sentidos na realização do esporte, comparando as
características do esporte competitivo de alto rendimento com o esporte de lazer. Apesar de ambas as
formas de esporte serem realizadas no tempo de lazer, o autor as distingue com base em dois critérios:
(1) o esporte de alto rendimento é realizado por poucas pessoas e considerado uma forma de trabalho
para os atletas que participam de competições oficiais, sendo obrigatórias para eles; o caráter
descompromissado e lúdico do lazer perde espaço; (2) no esporte com características de lazer, também
chamado “esporte de massa” ou “para todos”, as pessoas têm maior liberdade de escolha sobre as
condições de sua realização, preservando-se o caráter lúdico e de divertimento.

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Educação Física

Uma síntese dessa comparação pode ser visualizada na tabela abaixo.

Esporte de lazer Esporte de competição


Objetivos, motivação, Busca de alegria, Desempenho máxima,
necessidades, interesses, divertimento, prazer, ambição de recorde, busca
ambições sociabilidade, comunicação, de reconhecimento público,
relaxamento, compensação, distinção, ascensão social,
restauração, saúde. ganhos financeiros.
Meios e formas Conteúdos de exercícios, Modalidades e provas
jogo (brincadeira) e sujeitas a regras impostas;
competição sujeitos a regras unilateralidade;
que podem ser modificadas; discriminação e
multiplicidade de práticas; diferenciação segundo a
agrupamentos sem distinção idade, o sexo e o nível
de idade, sexo e nível técnico, em face da absoluta
técnico; adaptação a comparabilidade.
condições situativas.
Condições e pré-requisitos Extensivo a todos os níveis e Limitações biológicas a
faixas etárias de faixas etárias pela
performance. performance.
Ofertas gerais e Busca de talento e sua
possibilidade para todos. promoção eletiva.
Liberdade de Imposição de performance
comportamento através do pelo público e pelo
anonimato. financiador.
Independência de Obrigatoriedade de
competição, competição.
despreocupação.
Consequências e resultados Individualização como Isolamento, concorrência,
liberação do sujeito, rivalidade.
desabrochar da
espontaneidade e da
criatividade.
Consequências e resultados Interação social, Interação social,
comunicação, solidariedade, comunicação, solidariedade,
companheirismo, companheirismo, como
cooperação para fatores para a maximação
alargamento da vida da performance.
(elevação da qualidade de
vida)
Fonte: Adaptado de Dieckert (1984, p. 74-75).

Analisando o quadro comparativo, percebe-se que o conteúdo do esporte de lazer revela outro
sentido para a prática do esporte, ou seja, um sentido que abre possibilidades de participação para
todos, propõe a diversificação das práticas corporais e sugere modificações e adaptações de espaços, de
tempos e de materiais, para que todos possam ter atendidos suas necessidades e seus interesses na
realização da atividade.
Com base na comparação feita por Dieckert, é possível inferir que o esporte, como também
qualquer outra manifestação da cultura corporal de movimentos que assume as características lúdicas, é
mais coerente com o conceito de lazer.
Portanto, o encaminhamento metodológico das práticas corporais deve levar em consideração
os fatores mencionados, buscando coerência com as finalidades de uma educação para o lazer e pelo
lazer.

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Educação Física

As dimensões conceituais, procedimentais e atitudinais das práticas corporais realizadas com a


finalidade de instrumentalizar os alunos para o seu uso crítico, autônomo e criativo no tempo de lazer
ganham características específicas, conforme se evidenciou na comparação feita na tabela.
No plano conceitual, a compreensão das características das práticas corporais do tempo de lazer
contribui para emancipação dos sujeitos, pois a ampliação do sentido dessas práticas alarga o conceito e
favorece a escolha daquelas práticas que proporcionam o prazer na sua realização pela possibilidade da
vivência do sucesso1. Além disso, os aspectos conceituais em relação ao consumo passivo das práticas
corporais no tempo livre podem ajudar os alunos a compreenderem as influências da mídia na formação
de opiniões e visões de mundo das pessoas, como, por exemplo, pelo processo de mercadorização das
práticas corporais e pela alienação dos sujeitos pela indústria cultural do entretenimento.
No plano procedimental, a maior flexibilidade na realização das práticas corporais lúdicas
possibilita a modificação das regras de acordo com a exigência da participação de todos e da
diversificação dessas práticas. A aprendizagem dos alunos é mobilizada pelo processo de resolução de
problemas que se desencadeia. É aqui que os processos criativos se tornam importantes.
A relevância da temática da criatividade está na necessidade de adaptações e resoluções de
problemas originários da imposição social de sentidos que reforçam valores sociais de concorrência
exacerbada e rendimento máximo que precisam ser questionados e reelaborados.
No plano atitudinal, as características das práticas corporais realizadas no tempo de lazer exigem
postura solidária, respeitosa e cooperativa entre os praticantes.
Diante da característica das atividades lúdicas, de que todos deverão participar em igualdade de
condições, independentemente do nível de capacidade física, de habilidade motora, de idade, de
gênero, de etnia, de orientação sexual, entre outras, a atitude de aceitação das diferenças permite que a
interação se dê por meio de um processo de comunicação dialógica, no qual os eventuais conflitos são
superados pelo diálogo construtivo.
A finalidade de educação para o lazer e pelo lazer nas aulas de Educação Física põe em evidência
a necessidade do exercício e da aprendizagem da autonomia por parte dos alunos. O desenvolvimento
da autonomia implica em encaminhamentos metodológicos nos quais a problematização e a resolução
criativa de tarefas e problemas seja o elemento central do ensino.
Em todas as dimensões apresentadas, a autonomia estará sendo exercitada, tanto
intelectualmente quanto moralmente em decorrência da constante interação e da articulação dos
pontos de vista mobilizadas pela necessidade de resolução dos problemas sentidos pelos alunos ou
provocados pelo processo de ensino.
A intenção é que os alunos exercitem a cidadania democrática, tomando iniciativas e assumindo
responsabilidades perante o grupo. Assim sendo, podem perceber que são capazes de ações
transformadoras, pela análise crítica das contradições da realidade imediata, posta pelas práticas
corporais, relacionadas às contradições da realidade social mais ampla.
O processo de ensino da Educação Física na escola, orientado pela perspectiva de educação para
o lazer, deve desenvolver a criatividade e, juntamente com ela, a autonomia e a criticidade, de forma
intencional e clara.
Procurando elaborar um conceito de criatividade mais próximo da realidade da Educação Física
escolar, Dieckert desenvolveu a seguinte definição com base em outros autores:

(...) criatividade é a habilidade de todo ser humano de produzir qualquer tipo de resultado mental, ou
corporal, novo e desconhecido para quem o produziu, desenvolvida de forma intencional e objetiva,
podendo formar novos sistemas e combinações de informações conhecidas, bem como o domínio de
referências conhecidas para uma situação nova e a formação de novos correlatos, podendo ser o produto
uma forma artística, literária ou científica ou uma execução de forma técnica ou metodologia, não sendo,
necessariamente, aplicado de imediato, ou perfeito e totalmente executado” (APUD TAFFAREL (1984, p. 9).

1
O prazer é um dos elementos constitutivos do conceito de lazer que vai depender da atitude da pessoa que realiza a atividade. Muitas vezes as
pessoas que participam de jogos ou esportes no seu tempo disponível dão maior valor ao resultado do que à participação na atividade; se o resultado
não for o esperado, isso não trará prazer ao praticante. Compreender essa concepção é um dos objetivos da educação para o lazer.

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Educação Física

Uma constatação importante do ponto de vista pedagógico, valendo-se dessa definição de


criatividade, é que o produto do processo criativo deve ser novidade para quem o criou,
independentemente de ser ou não do conhecimento de outras pessoas.
Dessa forma se justifica o aprendizado da criatividade por meio de métodos e técnicas que
estimulam o processo criativo. De acordo com Taffarel, a criatividade, definida como a produção
divergente de respostas e como a diversificação no uso de locais e materiais, é um processo que pode
ser desenvolvido com a utilização de métodos que visam estimular a produtividade de ideias (1984, p.
63).
Porém, vale o alerta de que existem bloqueios perceptivos, afetivos e culturais que interferem
no ato criativo nas aulas de Educação Física.

Para eliminar ou minimizar bloqueios de um modo geral, o professor de educação física deve desenvolver
e aplicar um estilo de aula específico. O ensino autoritário impossibilita o desdobramento da criatividade.
Da mesma forma, a pressão de rendimento, o medo pelas notas, a disciplina rígida com permissões e
proibições, bem como pressão de tempo não comedido, destroem o clima positivo e alegre, necessário
para atos criativos. (...) O trabalho criativo só é possível numa atmosfera psíquica agradável (DIECKERT,
1985, p. 129).

Outro bloqueio pode vir da forma como se apresenta a tarefa. Simplesmente solicitar aos alunos
que criem alguma coisa não facilita o surgimento de novas ideias. Por isso é importante lançar mão dos
métodos que estabelecem parâmetros claros e definidos para que as ideias possam surgir.
No clássico livro “A criatividade nas aulas de educação física”, resultado da dissertação de
mestrado da professora Celi N. Z. Taffarel, são apresentados métodos especiais de criatividade, que se
revestem de grande valia quando analisados e incorporados pelos professores de Educação Física, de
acordo com as suas necessidades, e adequados à sua realidade.
Na sequência, descrevem-se, sinteticamente, os métodos desenvolvidos nesse estudo da
referida autora, procurando selecionar aqueles que possuem maior possibilidade de aplicação às aulas
de Educação Física, para a consecução dos objetivos da criatividade.

Para os propósitos do curso serão apresentados os seguintes métodos:

1. Método das perguntas operacionais.


2. Método da análise.
3. Método da análise-síntese.
4. Método de tempestade de ideias (brainstorming).
5. Método de lista de checagem (checklist).

Método das perguntas operacionais

Este é um método simples que serve para iniciar o trabalho de criatividade com os alunos,
servindo de base para todos os outros. Ele estimula muitas respostas possíveis. “A partir de uma
determinada situação-porblema identificada ou apresentada, os alunos seriam estimulados a buscar
soluções, através das perguntas propostas pelo professor (TAFFAREL, 1984, p. 16).

Tomando como exemplo a corrida que normalmente ocorre em círculo de forma monótona, com
um aluno atrás do outro, pode-se estimular os alunos com perguntas como estas:

 Vocês só sabem correr em círculo?


 Só sabem correr para frente?
 Existe apenas uma velocidade?
 Por que vocês só correm sozinhos?
Com essas perguntas os alunos saem de um modelo de corrida unidimensional para outro
pluridimensional. As respostas podem ser variadas e devem ser exploradas por todos.

9
Educação Física

Método da análise

Segundo Taffarel, “(...) o método de análise facilitaria a identificação, por parte dos alunos, das
características próprias de um determinado material, local, ou ainda, do conteúdo e de sua
multifuncionalidade” (1984, p.16).
Consiste, basicamente, em desdobrar o material em suas partes constitutivas, com a finalidade de
perceber as relações entre elas e os modos de organização.
Como exemplo pode-se pedir para os alunos que criem possibilidades de ação tendo como material
de análise os movimentos de puxar e empurrar. Devem buscar quais os seus elementos estruturais e os
fatores que determinam possíveis variações.
O processo de análise pode ser desencadeado, por exemplo, por uma pergunta operacional como a
seguinte, elaborada por Dieckert: “Vocês encontram formas de puxar e empurrar em duplas?” (1985, p.
132). A análise dos elementos estruturais pode evidenciar as diferentes possibilidades, como, por exemplo,
puxar e empurrar:
 com as mesmas partes do corpo (pé com pé); com partes diferentes (mão-cabeça); na mesma posição
corporal (em pé); em posições corporais diferentes; usando aparelhos manuais (corda, bastão), entre
outras possibilidades.

Método da análise-síntese

Este método é decorrente do método de análise simples. Consiste em unir de outra maneira os
elementos que foram desdobrados em partes estruturais no processo da análise.
“O método pressupõe a combinação, a composição das partes, para formar uma nova estrutura,
uma configuração, uma nova forma, uma nova solução” (TAFFAREL, 1984 p. 17).
É possível, por exemplo, combinar dois materiais para criar um jogo: bola e bastão. Depois das
análises das características estruturais dos materiais, segue-se a síntese, na qual algumas combinações serão
descartadas e outras serão testadas, como, por exemplo: equilibrar a bola com o bastão de diferentes
formas, individualmente ou em duplas; lançar e pegar a bola com dois bastões; quicar e bater, entre outras
possibilidades.

Método da lista de checagem (checklist)

A lista de checagem é um método que procura, por meio de uma categoria de perguntas, definir
uma área de abrangência do problema, visando à elaboração de ideias mais criativas (op.cit, p. 18). Esse
método pode ser associado a outros métodos de criatividade, e aplicado ou adaptado em diversas situações.
Exemplos de categorias que podem ser usadas em relação a espaço, tempo, movimentos e
participantes:
 Aplicar de outro modo; adaptar/adequar; modificar/mudar; aumentar/maximizar; reduzir/minimizar;
substituir/trocar; reformar/reagir; voltar/contrastar; reunir/combinar, entre outras possibilidades.
Essas categorias podem ser seguidas das seguintes relações: quem, com quem, o que, como,
quando, quantos, onde.

Método de tempestade de ideias (brainstorming)

Basicamente, o método estimula a expressão livre de ideias, porém as tarefas devem ser de
estrutura clara e não muito abrangentes. Existem, fundamentalmente, quatro regras que devem ser
mantidas:
1. É proibida qualquer crítica às ideias.
2. Toda ideia é bem-vinda.
3. Deve ser produzido o maior número possível de ideias.
4. É desejável combinar e aumentar as ideias já existentes.
A tempestade de ideias pode ser realizada em pequenos grupos ou individualmente, de forma oral
ou escrita.

10
Educação Física

A experiência com os métodos criativos com o objetivo de desenvolvimento da criatividade nas aulas
de Educação Física possibilita a vivência da integração e da cooperação, além de criar um clima lúdico na
realização das práticas corporais, altamente desejável para o aprendizado da atitude esperada no âmbito do
tempo de lazer.
O texto quis chamar a atenção dos professores das Escolas Conveniadas ao Sistema Positivo de
Ensino (SPE) para a necessidade de a escola preparar os alunos para o lazer, da mesma forma que o faz para
o trabalho. E, como foi afirmado anteriormente, a Educação Física é responsável por desenvolver atividades
com um dos conteúdos constitutivos do lazer, que são as práticas corporais. Portanto, é tarefa desse
componente curricular vincular o aprendizado das práticas corporais a uma efetiva educação para o lazer,
que possibilite o desenvolvimento do juízo crítico, moral, autônomo e criativo de nossos alunos e alunas,
como condição de sua formação emancipada para a cidadania democrática e responsável.

Referências Comentadas

DIECKERT, Jürgen. Criatividade em educação física. IN: DIECKERT, Jürgen et ali. Elementos e princípios da
educação física: uma antologia. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, 1985.
O autor trata do tema da criatividade aplicada às aulas de Educação Física, por meio de levantamento do
conceito em vários autores. Desenvolvem estudo sobre os métodos de criatividade dando exemplos de
como realizá-los nas aulas.

____________. Peculiaridade e autonomia do esporte de lazer. IN: DIECKERT, Jürgen. Esporte de lazer:
tarefa e chance para todos. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, 1984.
O autor estabelece uma contraposição das características do esporte de alto rendimento com as
características do esporte de lazer. Sua preocupação é justificar e evidenciar que o esporte de lazer é
diferente do esporte de alto rendimento, sendo mais coerente para ser praticado pela maioria da população.

DUMAZEDIER, Joffre. Sociologia empírica do lazer. São Paulo: Perspectiva, 1979.

Obra pioneira e clássica nos estudos sociológicos do lazer. O autor levanta questões sobre o que as pessoas
podem fazer com o seu tempo livre. Discute sobre as dimensões reais do lazer e as relações entre o lazer e a
dinâmica das mudanças culturais, sociais e do mundo do trabalho.

MARCELLINO, Nelson Carvalho. Lazer e educação. Campinas: Papirus, 1990.

O livro é uma adaptação do estudo apresentado como dissertação de mestrado. O autor formula uma
alternativa pedagógica para as escolas, a qual chama de “pedagogia da animação”. Tem como principal
objetivo verificar quais as relações existentes entre o lazer, a escola e o processo educativo, procurando
analisar de que forma as possíveis relações existentes podem ser consideradas tendo em vista a formulação
desta alternativa pedagógica.

______. O conceito de lazer nas concepções da educaçào física escolar: o dito e o não dito. 8º Congresso de
Educação Física e Ciências do Desporto dos Países de Língua Portuguesa, 2000. Disponível em:
http://www.ufsj.edu.br/portal-repositorio/File/dcefs/Prof._Adalberto_Santos2/13-
o_conceito_de_lazer_nas_concepcoes_da_ef_escolar-o_dito_e_o_nao_dito10.pdf. Acesso em 13 de janeiro
de 2011.

Tendo como problema os enfoques e perspectivas teóricas do lazer subjacentes às concepções pedagógicas
da Educação Física Escolar, o autor se propõe a efetuar um trabalho de investigação sobre as implicações das
diversas concepções e tendências pedagógicas da Educação Física escolar, na perspectiva do entendimento
dos conceitos de lazer presentes na produção científica da área.

______. Pedagogia da animação. 3. ed. Campinas: Papirus, 2001.

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Educação Física

Neste livro destinado a educadores de uma maneira geral, o autor debate algumas bases da Educação,
propondo que se redescubram suas origens na alma. Propõe que recuperar a alma do ensinar e do aprender
na escola é sair do abismo de alienação e perceber o direito de todos ao prazer. A base dessa pedagogia é o
lúdico, no qual o jogo e o brinquedo tornam-se instrumentos de um mundo melhor a ser construído.

PICCOLO, Gustavo Martins. A escola como ferramenta à educação para o lazer. Licere, Belo Horizonte, V.12,
N. 2, Jun./2009.

O autor procura nesse artigo, destacar o lazer como um componente essencial da Educação Física. Para isso
faz levantamento crítico do conceito de lazer que o relaciona como o oposto do trabalho. Advoga que uma
Educação Física, cujo objeto de estudo se manifesta na movimentação corpóreo-cultural, se apresenta como
palco privilegiado para a arquitetura de um entendimento crítico da prática cultural denominada lazer.

TAFFAREL, Celi N. Z. Criatividade nas aulas de educação física. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, 1985.
A obra é uma síntese da dissertação de mestrado da autora, com a orientação do professor visitante da
Alemanha, Jürgen Dieckert. A autora faz levantamento teórico sobre o conceito de criatividade e descreve
diferentes métodos de criatividade que podem ser aplicados nas aulas de Educação Física nas escolas.

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