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Formação de

Mediadores de Educação
para Patrimônio

Design, cidades
e patrimônio
Robledo Duarte
SUMÁRIO
1. Apresentação............................................................................... 19
2. Design como ferramenta de transformação do patrimônio..... 21
3. Cidades, patrimônio e design..................................................... 24
4. Economia criativa e cidades....................................................... 26
5. As cidades criativas..................................................................... 28
Referências bibliográficas.............................................................. 31
1.
APRESENTAÇÃO
E a luz viu desconfiada
a noiva do sol com mais
um supermercado.
Era uma vez meu castelo
entre mangueiras
e jasmins florados.
(Ednardo em “Longarinas”)

Para começar, reflita sobre o


que o cantor Ednardo quer nos
dizer com seus versos acima
em “Longarinas”, música do ál-
bum Berro (1976)? Pense bem
antes de começar essa leitura.
Pois bem, a “noiva do sol”
cantada por Ednardo é a cida-
de de Fortaleza, capital do Ce-
ará, a cidade natal do músico
e compositor. Mas o castelo não é necessa-
riamente um bem arquitetônico. Pode ser
um metáfora para tratar dos afetos, aque-
les que todos nós carregamos na memória,
com a passagem do tempo.
Na realidade, todos nós estabelecemos
relações com as coisas que nos cercam. Elas
podem nos trazer boas lembranças, como o
primeiro brinquedo, a casa dos avós, a cape-
linha com seu belo altar. Memórias de coisas
intangíveis, como o cheiro do baião de dois Intangível
na panela ou a animação das festas de São Aquilo que é
incorpóreo, que
João. Lembranças que hoje podem soar en- não se pode tocar,
graçadas, como o medo do teatro de bone- pegar ou que não
cos ou de palhaços na mais tenra infância. pode ser percebido
E você? Lembra-se de objetos, sons, gos- pelo tato.
tos e/ou de cheiros que possuem alguma
importância simbólica/afetiva na sua vida?

Formação de Mediadores de Educação para Patrimônio 19


Todas as lembranças, boas ou más, ma-
teriais ou imateriais, nos trazem para a
discussão iniciada no primeiro módulo de
nosso curso: afinal, o que é o patrimônio?
O francês Hugues de Varine Bohan fez
uma análise bem abrangente acerca do pa-
trimônio. Segundo ele, três categorias o de-
finem: os elementos pertencentes ao meio
ambiente, que tornam o local viável para
habitar; os saberes e fazeres das comuni-
dades que habitam esse meio ambiente; e os
objetos construídos pela mão do homem, Transversalidades
desde uma colher até as edificações mais so- Possibilidades de
fisticadas. Esses três fatores dialogam entre compreensão de
diferentes áreas do
si e criam toda uma ambiência para a forma- conhecimento humano
ção do patrimônio cultural, que vai muito ao evidenciarmos as
além da “pedra e cal” ou de alguns saberes relações existentes
isolados, gerando transversalidades. entre elas.
Vamos saber um pouco mais sobre isso?
Ótimos estudos.

SE
LIGA!

Hugues de Varine Bohan


é historiador, arqueólogo e
museólogo francês, criador do
conceito de ecomuseus, colocado
em prática desde a década de 1971
na França e em outros lugares do
mundo, como o Brasil.
Um ecomuseu é formado
quando membros de uma
comunidade se reúnem e se tornam
atores protagonistas do processo
de preservação do seu patrimônio
cultural (material, imaterial, natural),
podendo ser assessorados por
especialistas como museólogos,
historiadores etc.

20 FUNDAÇÃO DEMÓCRITO
CRITO ROCHA
ROCHA| |UNIVERS
UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE
2.
DESIGN COMO
e esta pode se transformar, com o tempo,
em algo mais complexo.
Mas o que é design? Até hoje não se con-
seguiu uma tradução literal para esta palavra
inglesa, pois apesar de ser entendida como
FERRAMENTA DE “desenho”, tem muitas facetas, dependendo
que quem utiliza as suas funções. Nesse sen-
TRANSFORMAÇÃO tido, as considerações da dupla de suecos
Lowgren e Stolterman é bem instigante:
DO PATRIMÔNIO Em nosso cotidiano, com frequência lida-
A produção em massa, que hoje mos com diversos artefatos, que são pro-
deve ser tida em consideração dutos artificiais, fruto da inteligência e do
como a base para a arquitetura trabalho humano, construídos com deter-
moderna, existe na própria natureza e, minado propósito em mente. São artefa-
intuitivamente, no trabalho popular. tos, por exemplo, um copo, um pente, uma
(Lina Bo Bardi, arquiteta, casa, um carro. Um artefato não surge es-
pontaneamentedanatureza.Alguémdeci-
designer e cenógrafa).
de sua função, forma, estrutura, qualidade
e o constrói com seu trabalho (LOWGREN;
o filme 2001, uma odis-
STOLTERMAN apud Barbosa, 2011, p.115)
séia no espaço, do cine-
asta inglês Stanley Ku- O design tem vários segmentos. Pode ser
brick, existe uma cena gráfico, digital, cênico e de interiores. Ainda
antológica. Um grupo vão ser inventados outros tipos, dependen-
de homens primitivos do das nossas necessidades.
se degladiam. Um de- Em nosso dia a dia, compartilhamos vá-
les golpeia um inimigo rios tipos de objetos criados a partir de pa-
e, para simbolizar a sua péisepranchetas,eparecedependendermos
vitória, joga sua “arma” bastante deles, como copos, pratos, talheres,
(um osso) no ar. celulares, automóveis e computadores. Você
No mesmo instante, corta-se a cena e imagina a sua vida sem isso tudo?
surge uma espaçonave. No Brasil, temos vários designers famo-
Esta cena revela, em poucos minutos, sos. Mas aqui vamos focar em dois profissio-
a velocidade da transformação dos artefa- nais, em virtude da ligação do seu trabalho
tos, indo de uma forma “primitiva” de arma com a construção do chamado patrimônio
até chegar a uma espaçonave ultratecno- cultural brasileiro. São eles: Lina Bo Bardi,
lógica. Esse é um exemplo de como o de- arquiteta e designer italiana, radicada no Bra-
sign das coisas surge de uma necessidade sil; e o pernambucano Aloísio Magalhães.

Formação de Mediadores de Educação para Patrimônio 21


O que os une aqui é a busca de um de-
sign nacional, levando em conta toda a
história dos objetos populares, produzidos SE
a partir dos saberes e fazeres tradicionais de LIGA!
várias regiões do Brasil.
No início da chamada arquitetura
moderna brasileira, capitaneada por Lú-
cio Costa e Oscar Niemeyer, o design bra- A Staatliches Bauhaus é
sileiro seguia uma vertente alemã da mais considerada a primeira escola
famosa Escola de Design já conhecida: a de design no mundo. Surgiu na
Bauhaus. Lina e Aloísio quebraram este cidade de Weimar, Alemanha,
elo ao unir o tradicional e o moderno em preocupada com as chamadas
Vernacular um novo desenho para os artefatos que artes aplicadas, sobretudo as artes
O termo deriva do viriam a produzir no país. Ela com seu mo- plásticas, a arquitetura e o design.
latim vernaculus, biliário baseado nas peças de artesanato Foi fundada em 1919, pelo arquiteto
que significa  brasileiro e ele como presidente do Iphan alemão Walter Gropius (1883-1969),
doméstico, nativo. (Instituto do Patrimônio Histórico e Artísti- oferecendo também cursos de
Arquitetura
co Nacional), valorizando a tradição do tra- teatro, dança e fotografia.
vernacular é aquela
caracterizada balho artesanal como herança importante O termo Sttatliches Bauhaus,
pelo uso de materiais da cultura brasileira. cunhado por Gropius, significa
e conhecimentos Os dois arquitetos valorizavam o trabalho “casa de construção”.
locais. popular e vernacular, porém evoluindo para
as tecnologias que o movimento moderno já
trazia, principalmente com a tecnologia de
ponta da produção industrial em série.

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Lina Bo Bardi ficou conhecida pelo uso
de madeiras nacionais e tecidos populares
como a chita em suas peças de design, des- PARA OS SE
coberta em suas viagens pelo Brasil, princi- CURIOSOS LIGA!
palmente em suas andanças por Salvador,
na Ladeira da Misericórdia e no Solar do
Unhão. Dois exemplos de móveis projeta-
dos por ela, dentro de sua tese de criar um Fernando e Humberto Campana são Achillina Bo Bardi nasceu em
design com feições nacionais, são a “ca- dois irmãos com a mesma profissão: Roma, Itália, em 1914. Casou
deira de compensado e chita” e a sua designers. Eles conheceram o com o crítico e historiador de arte
“poltrona preguiçosa” com estrutura em mestre de cultura Espedito Seleiro Pietro Maria Bardi. Projetou duas
cedro e encosto de sisal. (80 anos), artesão de sandálias edificações que se tornaram ícones
O trabalho de Aloísio Magalhães como e bolsas de couro, morador de arquitetônicos no Brasil, como o Sesc
designer gráfico é reconhecido mundial- Nova Olinda/CE, cujo trabalho Pompeia (São Paulo) e a sede do
mente. Algumas de suas marcas são ines- é reconhecido oficialmente pela Masp (Museu de Arte de São Paulo).
quecíveis, como a da Petrobras (1970) e a Secretaria da Cultura do Ceará como Em 1962, idealizou a Escola de
do Correios e Telégrafos (1971). Tesouro Vivo e pelo Ministério da Desenho Industrial e Artesanato, que
No entanto, foi no seu trabalho como Cultura, que lhe outorgou a Ordem infelizmente ficou somente no papel.
coordenador do Centro Nacional de Re- do Mérito Cultural, em 2011. Aloísio Magalhães nasceu em
ferência Cultural (1975) e posteriormente Busque “Espedito Seleiro” na Recife, Pernambuco, em 1927. No
como presidente do Iphan (1979) que con- internet e veja quanta informação ano de 1960, após viagens pela
sagrou Magalhães ao consolidar uma polí- bacana aparece! Europa, abriu o escritório mais
tica de valorização e fomento do Design importante de design da sua época.
Nacional, baseado em tecnologias patri- Entre seus clientes mais importantes
moniais brasileiras, que ele carinhosamen- estavam a Caixa Econômica, o
te chamava de “prototecnologias”. Banco Itaú, o Metrô de São Paulo, a
Os estudos e ensinamentos desses dois Petrobras, entre outros. Foi um dos
grandes designers criaram vertentes para fundadores da Escola Superior de
outros profissionais buscarem ideias, tendo Desenho Industrial, onde lecionou
como referência o nosso rico patrimônio por muito tempo. Em 1979, presidiu
cultural, como os irmãos Campana, que o Iphan, com uma gestão voltada
absorvendo os artefatos feitos pelo mestre para a valorização da produção
Espedito Seleiro criaram a série “Cangaço” cultural imaterial brasileira.
de poltronas e cadeiras.

Formação de Mediadores de Educação para Patrimônio 23


PARA OS
CURIOSOS

3.
As Cartas Patrimoniais
são documentos com diretrizes
para o desenvolvimento de ações
de documentação, promoção e
CIDADES, preservação de bens patrimoniais (de
caráter material, imaterial, natural).
PATRIMÔNIO Consulte algumas no endereço:
portal.iphan.gov.br/pagina/
E DESIGN detalhes/226
A felicidade corre sem parar.
Bela é uma cidade velha.
(Petrúcio Maia, Fausto Nilo
e Ferreirinha, em “Frenesi”)

a Itália, em meados dos vos; e como a memória está ligada a fatos e


anos 1960, o arquiteto a lugares. A cidade é o ‘locus’ da memória
italiano Aldo Rossi escre- coletiva.” (ROSSI, 1995, p. 198)
veu um livro que mudou Desta forma, a cidade moderna come-
o pensamento sobre o çava a ser criticada pela falta de elemen-
que é uma cidade no tos simbólicos, principalmente ligados aos
sentido simbólico e dos bens materiais preservados, que não sus-
afetos coletivos. tentavam simplesmente a cultura de “pedra
A cidade moderna e cal”, mas também afetos e memórias.
começou a ser criticada, Ainda na década de 1960, foi elaborada
principalmenteporadotar uma carta patrimonial muito importante: a
um “estilo internacional”, que produzia e re- “Carta de Veneza”. Seu conteúdo é inovador
Anódino petia prédios anódinos em todas as cidades pela forma como os bens tombados são tra-
Sem importância pelo mundo, sem referências vernaculares tados. Eles não eram mais vistos de for-
ou interesse; banal, com as localidades onde eram implantados. ma isolada, mas dentro de seu contexto,
insignificante,
Com Arquitetura da Cidade, Rossi afir- considerando o seu entorno.
pouco eficaz.
mava categoricamente que os espaços ur- A proposta era a de que as intervenções
banos não podem ficar destituídos de sua com técnicas modernas deveriam preservar
história e de seus símbolos principais, que a história da edificação, mesmo que seus
ele chama de monumentos. Ele traça tam- seus usos não fossem os mesmos da época
bém as relações sociais entre as pessoas, a de sua origem, modificando-se com o pas-
geometria das edificações e outros elemen- sar o tempo. O importante seria requalifi-
tos: “A cidade é a memória coletiva dos po- car o bem para a fruição coletiva.

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O verso “Bela é uma cidade velha”, que ônibus aos seus assentos, até uma platafor-
inicia esse tópico, retrata bem esse senti- ma elevatória que faz com que pessoas com
mento nutrido pelo patrimônio, no qual as SE mobilidade reduzida acessem exposições,
pessoas se identificam com os bens tangí- LIGA palestras ou conferências em prédios que não
veis e os intangíveis de forma a perpetuar foram projetados com este olhar acessível.
a história das cidades. Daí surge o termo design universal,
Esse é o segredo: criar uma relação sus- ou seja, sem restrições, que todos possam
tentável entre as cidades e seu patrimô- Você já visitou museus, memoriais utilizar: as crianças, adolescentes, jovens,
nio, seja ele material ou imaterial. ou exposições? Como são os objetos adultos, idosos, pessoas com pouca mobi-
E como o design entra nessa relação? contemporâneos que se encontram lidade, baixa visão e com necessidades es-
Nos artefatos que dão vida aos novos ob- no interior destas edificações? Como peciais. É a democratização dos acessos
jetos e na manutenção dos usos pioneiros é a acessibilidade? É importante às edificações e também ao simples cami-
dos bens preservados. perceber que técnicas modernas nhar pelas cidades, permitindo o ir e vir sem
Sempre é bem-vinda a relação do imate- precisam entrar em equilibrio com maiores problemas.
rial sendo abrigado pelo material. O design edificações tombadas para que não Não podemos imaginar a utilização e
trazendo a contemporaneidade aos objetos fiquem descaracterizadas. fruição de nossos prédios tombados nas
que podemos ver no mobiliário urbano da Daí a expertise de arquitetos cidades, sem pensar nos objetos produzi-
cidade, como abrigos de ônibus, bancos, para projetar situações nas quais os dos por inúmeros segmentos do design, tra-
lixeiras, placas de sinalização, lanchonetes objetos agreguem valor ao contexto zendo conforto e segurança para quem os
ou mesmo ateliês de tatuagem. histórico do bem tombado. visita, desde as luzes da rua ou da ilumina-
Imagine você saindo de casa para visitar ção cênica dos objetos expostos, dos copos
um museu incorporado a uma edificação com logotipos de museus, elevadores, pai-
tombada. Imagine a quantidade de objetos néis computadorizados contando a história
que conduzem as pessoas a este destino, do dos bairros, das pessoas, das nossas urbes.

Formação de Mediadores de Educação para Patrimônio 25


4.
São atividades as quais resultam em
indivíduos exercitando a sua imaginação
e explorando seu valor econômico.
Pode ser definida como processos que

ECONOMIA envolvamcriação,produçãoedistribuição
de produtos e serviços, usando o
CRIATIVA conhecimento, a criatividade e o capital
intelectual como principais recursos
E AS CIDADES produtivos (HOWKINS, 2012, p. 106).
Para se entender o que Para termos uma ideia, segundo levanta-
são cidades criativas é mentos da Federação das Indústrias do Rio
preciso saber o que é eco- de Janeiro (Firjan), em pesquisa de 2017, a
nomia criativa.Você já economia criativa gerou no país 171,5 bi-
deve ter ouvido falar que lhões de reais e no mesmo período contou
a economia convencional com 837 mil empregos formais.
trabalha com vários tipos Um dos pontos mais significativos deste
de recursos. No caso da segmento é que ele caminha passo a passo
economia criativa, os re- com a sustentabilidade ambiental, pois a
cursos utilizados são o indústriacultural,utilizandoocapitalintelec-
capital intelectual e os tual e os recursos culturais, não é geradora
recursos culturais. O pioneiro neste setor de resíduos. Ela caminha também junto
é o inglês John Howkins, formado em pla- com o patrimônio cultural, principalmente
nejamento urbano e relações internacio- na requalificação e recuperação dos patri-
nais, autor e precursor do conceito de eco- mônio edificados, abrigando a produção de
nomia criativa, que assim a definiu: vários segmentos ligados ao setor.
Estes são os segmentos ligados à eco-
nomia criativa, chamadas também de in-
dústrias criativas:
PARA • Patrimônio: com suas expressões
CURIOSOS culturais tradicionais, como os sabe-
res e fazeres, os sítios históricos, ar-
queológicos,museus,bibliotecasetc.
• Artes: divididas em visuais (pintura,
Você conhece algum escultura e fotografia) e dramáticas
empreendimento criativo no seu (música, teatro, dança).
bairro ou cidade?
De que modo você poderia se
inserir nesse empreendimento?
E por que não criar o seu
próprio empreendimento?

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RTA DO
DONORDESTE
NORDESTE
inesgotável capital criativo de forma
sustentável, gerando emprego, trabalho e
renda, requalificando espaços e revitalizan-
do setores “esquecidos” nas cidades, princi-
palmente os centros históricos, onde sabe-
mos que existe uma grande infraestrutura de
• Mídia: audiovisual (cinema, TV, rádio mobilidade e serviços diversos.
etc), publicidade e mídia impressa. NoBrasil,nãoéraroassistirmoaaalgumas
• Criações funcionais: Design de inte- iniciativas ligadas ao conceito de economia
riores, moda, novas mídias (software, criativa gerando cidades criativas. Bom
jogos, conteúdo digital) e serviços lembrar que uma grande ferramenta para ala-
criativos (arquitetura, propaganda, vancar o segmento é a internet, conectando
cultura e recreação). o “local” com o “global”, aumentando ainda
a forma de gerar negócios com mais rapidez.
A economia criativa é a base para o surgi- Em nosso país podemos citar algumas
mento de cidades criativas. Utilizando cria- iniciativas geradoras de cidades criati-
tividade, imaginação e curiosidade, cidades vas, como: (1) o complexo de confecções
podemvencersuascrises,estimulandovárias (cosewing) Malha no Rio de Janeiro; (2) o Cosewing
soluções, entre elas a geração de trabalho e Mercado Iaô em Salvador; (3) a Travessa da O mesmo conceito
para coworking
renda, como também sua sustentabilidade Imagem, em Fortaleza. Tem algo bem inte-
(que veremos
sem desperdício de recursos naturais. ressante que une tudo isso, sabia? O design adiante), somado
O urbanista inglês Charles Landry, pri- sendo abrigado por edificações que esta- ao segmento
meiro teórico e precursor do termo cidade vam arruinadas e que conseguiram uma da moda.
criativa, resume o conceito de forma sim- sobrevida. Lembram quando falamos do
ples: “o lugar de inspiração”. material abrigando o imaterial?
A seguir o conceito de forma mais am- Cidades criativas sendo estimuladas
pla, pelo próprio Landry: “Cidades criativas pela economia criativa são uma boa saída
são aquelas onde há senso de conforto e para redução das desigualdades formadas
familiaridade, uma boa mistura do velho no tecido urbano, como também para a in-
com o novo, variedade e escolha e um clusão social, capacitando e treinando to-
equilíbrio entre o calmo e o vivificante ou dos os atores envolvidos usando criativida-
entre o risco e a cautela”. de e imaginação. Nesses casos, vale a pena
Imagine todos os segmentos que des- sonhar, pois a partir dos sonhos começam
tacamos acima produzindo e utilizando o grandes responsabilidades.

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5.
AS CIDADE
CRIATIVAS
Tudo o que é bom dura o tempo necessário
para ser inesquecível (Fernando Pessoa)

o dia 30 de outubro de
2019, a cidade de For-
taleza, no Ceará, ama-
nheceu com um título
inédito. Recebeu da Or-
ganização das Nações
Unidas para a Educa-
ção, a Ciência e a Cultu-
ra (Unesco) o prêmio de
Cidade Criativa, na ca-
tegoria “Design”, ao lado de Belo Horizon-
te/MG, na categoria “Gastronomia”, dois
segmentos da economia criativa.
Hoje, no Brasil, além de Fortaleza e Belo
Horizonte, temos também as seguintes ci-
PARA OS
dades e suas respectivas categorias pre- CURIOSOS
miadas: Belém, Florianopólis e Paraty (Gas-
tronomia); Brasília e Curitiba (Design); João
Pessoa (Artesanato e Artes Folclóricas); Sal-
vador (Música); e Santos (Cinema). O Plano Fortaleza 2040 é um
A rede formada pela Unesco, com essas planejamento para a cidade de
e outras cidades criativas pelo mundo, tem Fortaleza, com estratégias a serem
como objetivo “promover a cooperação in- implementadas em curto, médio e
ternacional entre localidades com potencial longo prazo (tendo como horizonte
de usar a criatividade como vetor estratégico o ano 2040), contemplando os
para impulsionar o desenvolvimento urba- planos urbanístico, de mobilidade;
no sustentável” (Unesco-UCCN, 2004, p.5). de desenvolvimento econômico e
Compartilhar ideias, projetos, promover in- social, entre outros. Curioso? Acesse:
tercâmbio profissional e artístico, elaborar fortaleza2040.fortaleza.ce.gov.
propostas e estudos para o desenvolvimen- br/site/assets/files/publications/
to urbano e sustentável são objetivos pro- fortaleza2040_planejamento_
postos para a Rede de Cidades Criativas participativo_17-08-2015.pdf.
Unesco. Durante 4 em 4 anos, todas elas te-
rão que elaborar relatórios de monitoramen-
to para que os compromissos assumidos se-
jam executados de forma local e global.

28 FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE


reconhecida pela sustentabilidade, inova-
ção e diversidade cultural dos seus bens e
serviços e pela inclusão social/produtiva
da sua população.”
No Plano estão contidas várias ações
para implementar segmentos ligados ao
Design, como também a preservação das
edificações em toda a cidade. Esse foi um
planejamento amplo, construído com parti-
Mas o que levou Fortaleza, por exemplo, cipação popular e construído nos conceitos
a ser escolhida como uma cidade criativa? E da economia criativa e do desenvolvi-
porque na categoria Design? mento sustentável.
Segundo Cláudia Leitão, diretora do Ob- Em Fortaleza, a ideia é promover vários
servatório de Governança Municipal do Ins- coletivos de artes, em todos os 120 bairros
tituto de Planejamento de Fortaleza (Iplan- de Fortaleza, “com” e “para” sua população.
for), foram as diretrizes do Plano Fortaleza No entanto, o centro da cidade foi idealizado
2040, especialmente o eixo “Cultura e Patri- como o vetor para onde serão direcionado
mônio”, que sensibilizaram os consultores todas as manifestações culturais, com um
da Unesco para a premiação. grande fórum de apresentações, gerando
Em entrevista ao O POVO (26 de feve- emprego e renda, principalmente pela cons-
reiro de 2018), ela afirma que o Plano For- trução do Distrito Criativo de Iracema,
taleza 2040 “propõe a transformação da requalificando e restaurando uma série de
capital em uma Cidade Criativa, inovadora, edificações históricas que servirão de abrigo
inteligente e empreendedora, conectada para as mais variadas manifestações ligadas
com as demais cidades criativas do mundo, às artes aplicadas e à economia criativa.

Formação de Mediadores de Educação para Patrimônio 29


Desse modo, não haverá apenas uma gera-
ção de empregos convencionais. O capital
intelectual e criativo deverá gerar postos e SAIBA
locais de trabalho ligados aos empreendi- MAIS
Hubs (de mentos modernos como coworkings, hubs Coworking
startups) e startups, todos ligados formando clusters Um novo modelo de
Também conhecidos em vários pontos, revitalizando e requalifi- trabalho, que tem o
como hubs de cando espaços urbanos degragadados. objetivo de incentivar “O Distrito Criativo Iracema, o
conectividade, são a troca de ideias,
As Aceleradoras são empresas cujo ob- compartilhamento
primeiro de Fortaleza, compreende
ambientes propícios
a dar acesso e
jetivo principal é investir financeiramente no e colaboração entre 2,9 quilômetros quadrados de
oportunidades desenvolvimento de startups, ajudando-as a diferentesprofissionais área (Centro e Praia de Iracema),
de conexão, um obter investimentos ou a atingir seu ponto que podem ser de com uma população de 15.286
dos fatores mais de equilíbrio, quando conseguem pagar suas diferentes áreas. habitantes. Ele é composto de:
importantes para os Tudo isso não apenas
próprias contas com as receitas que geram. E 7% de sua área em Zona Especial
empreendedores. virtualmente,
as Incubadoras oferecem apoio gerencial e mas em um de Interesse Social (ZEIS), que
Esses ambientes
são compostos por técnico, como serviços de recepção, internet, escritório físico. inclui as comunidades do Poço da
diversas startups, telefone, secretaria, salas de reunião, ou seja, Draga, Morro do Ouro e Graviola;
envolvendo grandes a estrutura física necessária para que se pos- 17% da Área de Zona Especial de
empresas, novos sa desenvolver um negócio, além de asses- Cluster PreservaçãodoPatrimônioHistórico-
empreendimentos, soria em questões jurídicas e financeiras. É uma concentração Cultural (ZEPH); e 55% de Zona
investidores de geográfica de
aceleradoras e
O trio tão comentado neste fascículo, de- Especial de Dinamização Urbanística
empresas e
incubadoras, sign, cidades e patrimônio, contribui de for- instituições e Socioeconômica (ZEDUS).
gerando valor e ma substantiva para a sustentabilidade dos interconectadas Esse misto de zonas de interesse
oportunidade em espaços urbanos. Aliás, o uso misto de vários em torno de um contribui para os objetivos centrais
ambientes que centros urbanos é uma tendência mundial, determinado setor. do Distrito, que busca aliar o
vão além de locais
para dar sobrevida não apenas ao comércio, empreendedorismo criativo,
compartilhados
de trabalho. mas aos clusters residenciais e outros. com inclusão social, inovação e
A ideia dos Distritos Culturais é exata- Startup sustentabilidade”(CláudiaLeitão,em
Companhias e
mente esta: uma grande rede de clusters in- artigo para O POVO: opovo.com.br/
empresas que estão
teligados uns aos outros, gerando vida, con- no início de suas jornal/opiniao/2018/02/fortaleza-e-o-
solidando novamente os centros urbanos atividades e que seu-primeiro-distrito-criativo.html)
diuturnamente.Imaginavocêindotrabalhar buscam explorar
no Centro e na hora do almoço caminhar e atividades inovadoras
no mercado.
encontrar várias opções gastronômicas e
de lojas onde você pode encontrar aquela
camisa pintada por um amigo seu, ou uma
tela, uma escultura... Voltar a trabalhar e,
depois, fazer um happy hour nas proximi-
dades, ir dançar com sua(seu) namorada(o)
e amigos(as), para depois voltar para casa.
Tudo próximo de seu trabalho ou então to-
mando um transporte com facilidade.
Após a leitura deste fascículo, você con-
seguiu perceber que criar, imaginar e so-
nhar são recursos inesgotáveis que podem
gerar patrimônio e design, de objetos sim-
ples aos complexos, como um clip para pa-
pel ou uma cidade?

30 FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE


REFERÊNCIAS AUTORES
BIBLIOGRÁFICAS Robledo Duarte é graduado
em Arquitetura e Urbanismo
BARBOSA, Simone D. J. Interação PMRJ (Prefeitura Municipal do Rio de pela Universidade Federal do
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3 - Cultura e Patrimônio. Disponível em: cultural. A experiencia internacional.
gráfico, com extensa produção em
https://fortaleza2040.fortaleza.ce.gov. Notas de aula, de 12/08/1974. São
projetos editoriais, sendo a maior
br/site/. Data de acesso: 3/1/2020 Paulo: Universidade de São Paulo;
parte destinada ao público infantil
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo;
LANDRY, Charles. Origens e futuros e infantojuvenil. Seu trabalho tem
Instituto do Patrimonio Histórico e
da cidade criativa. São Paulo, SESI-SP como base a pesquisa de materiais e
Artístico Nacional, 1975.
Editora, 2013. estilos, envolvendo estudo de técnicas
MAGALHÃES, Aloísio. Da invenção e tradicionais de pintura, desenho,
do fazer. Reflexão sobre o artesanato fotografia e colorização digital.
e o homem. In: Separata da Revista
Pernambucana de Desenvolvimento,
v. 4, n. 1, jan./jun., 1977, p. 125-135.

Formação de Mediadores de Educação para Patrimônio 31


Este fascículo é parte integrante do projeto
Formação de Mediadores de Educação
Patrimonial, em decorrência do Termo de
Fomento celebrado entre a Fundação Demócrito
Rocha e a Secretaria Municipal de Cultura de
Fortaleza, sob o nº 02/2019.

Todos os direitos desta edição reservados à:

Fundação Demócrito Rocha


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Cep 60.055-402 - Fortaleza-Ceará
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Presidente
André Avelino de Azevedo
Diretor Administrativo-Financeiro
Marcos Tardin
Gerente Geral
Raymundo Netto
Gerente Editorial e de Projetos
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UNIVERSIDADE ABERTA
DO NORDESTE (UANE)
Viviane Pereira
Gerente Pedagógica
Marisa Ferreira
Coordenadora de Cursos
Joel Bruno
Designer Educacional
Thifane Braga
Secretária Escolar
CURSO FORMAÇÃO DE MEDIADORES
DE EDUCAÇÃO PARA PATRIMÔNIO
Raymundo Netto
Coordenador Geral, Editorial e Revisor
Cristina Holanda
Coordenadora de Conteúdo
Amaurício Cortez
Editor de Design e Projeto Gráfico
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Diagramador
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Ilustrador
Thaís de Paula
Produtora

ISBN: 978-85-7529-951-7 (Coleção)


ISBN: 978-85-7529-953-1 (Fascículo 2)

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