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Agradecimentos
Agradeço ao professor e orientador da pesquisa Marcelo Jasmin pela oportunidade
apresentada, pelo apoio e pela bibliografia que ele nos apresentou durante a pesquisa. Ao
PIBIC/CNPq pela bolsa, tanto por seu valor financeiro quanto pelo estímulo acadêmico que ela
proporciona. Finalmente, ao grupo de alunos que participou comigo desta pesquisa, por seus
comentários e contribuições.
Itinerário breve:
Objetivos
Introdução
A pesquisa liderada pelo professor Marcelo Gantus Jasmin tem como objetivo a reflexão
sobre a crise, em nosso tempo, de grandes narrativas históricas. A partir da análise dos conceitos
de História e de universal, sob a luz de recentes teorias pós-coloniais, pudemos verificar que
tentativas pregressas de elaboração de uma narrativa de tal monta não eram de fato universais,
mas representações da Weltanschauung de uma fração de nosso ecúmeno, e que se afigurava
como ocidental e eurocêntrica.
1
As traduções presentes nesse texto foram feitas por mim; pelos erros, respondo sozinho.
2
Graduando do curso de História, PUC-RIO
Departamento de História
Resumidamente, o papel deste trabalho é analisar uma parte da produção desse grupo e
em que bases é realizada a crítica à História Universal. Será empreendida, outrossim, "a crítica
da crítica", isto é, serão apontados certos limites que esse pensamento subalterno encerra.
A experiência colonial tem como consequência uma precipitação para uma crise
identitária e –mal comparando- existencial, na qual esse povo colonizado se vê diante de
questões fulcrais como, por exemplo, "no que consiste ser latino-americano, africano, etc.",
"quem somos nós em relação aos outros", i.e., uma identidade construída a partir da diferença
e da alteridade, "como podemos agir politicamente no mundo", entre outras. Implícito nessas
perguntas está uma relação assimétrica, uma hegemonia e dominação que, na teoria e na
prática, o pós-colonialismo almeja problematizar.
O título desta parte, bem como seus primeiros parágrafos, devo-os ao texto As
armadilhas da história universal, do professor Marcelo Jasmin. Cito-o:
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Gayatri Spivak, que pode ser ligada – embora de forma frouxa – aos Estudos Subalternos, defende a
manutenção de uma diferença entre subalterno e outras categorias análogas.
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A partir desse desenho inicial, que se não me engano pode ser reconhecido por
qualquer um que tenha vivido as décadas anteriores aos anos 1980, eu
gostaria de trabalhar três hipóteses. A primeira delas é a de que essa
perspectiva sobre a história se difundiu tão amplamente no Ocidente moderno
que foi naturalizada e passou a operar como uma crença constitutiva da
autorreferência humana, servindo para responder perguntas relevantes como
o que somos, de onde viemos e para onde vamos. A segunda hipótese, de
caráter mais historiográfico, é a de que essa crença numa história universal
passível de ser conhecida em seus fundamentos e dirigida pela ação humana
só foi possível a partir de uma concepção particular, histórica e culturalmente
situada, concebida paulatinamente pelo mundo europeu entre os séculos XVI e
XVIII, e que adquiriu as suas formulações mais sistemáticas e representativas
nas filosofias históricas dos séculos XVIII e XIX. A terceira e última hipótese é
a de que os acontecimentos catastróficos do século XX, em particular os
experimentados na Segunda Guerra Mundial, e de lá até a Queda do Muro de
Berlim em 1989, fizeram com que não pudéssemos mais crer com a
naturalidade moderna no esquema universal e progressivo do tempo histórico,
o que ensejou a percepção de que aquilo que nos parecia uma dimensão
intrínseca à existência e natural à consciência humana era somente uma
dentre as formas culturalmente possíveis de se ordenar o tempo e engendrar a
autorreferência humana. O que em algum momento recente se chamou pós-
modernismo é, neste quadro hipotético, apenas um sintoma de que os modos
modernos de lidarmos com a história estão no limite de sua validade e
persuasão, o que propõe ao pensamento a tarefa de elaborar formas
alternativas de lidarmos com a estrutura temporal da história, as relações
entre o passado, o presente e o futuro."4
O trecho citado acima apresenta três hipóteses e uma concepção particular sobre o
conceito de História Universal. Ao longo desta seção, veremos como muito do que foi
exposto por Jasmin encontra eco nos Estudos Subalternos. Vale dizer que todas as hipóteses
4
In: Adauto Novaes (org.) Mutações: a invenção das crenças. Ediçoes SescSP, 2011, pp. 377-378.
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apresentadas perpassarão, em alguma medida, todo o texto que se segue (mas principalmente
nas críticas).
A primeira hipótese, sobre a difusão dessa crença, se verifica no Ocidente, mas não
somente nele; de fato, a hipótese poderia ser ampliada de modo a abarcar também o Oriente
(no caso particular, a Índia). A tradução-translação desse conceito, bem como do capitalismo,
sob a égide do colonialismo acarretou precisamente em uma mudança de autorreferencial não
só nesse sentido amplo, da ordem do gênero humano, explicitado pela passagem, mas também
em um escopo menor, nacional.
A segunda hipótese também se encontra em sintonia com os pressupostos dos Estudos
Subalternos, e abrange várias camadas de interpretação. Em um primeiro momento, o mundo,
até então largamente "europeu" (no limite, eurasiano) se viu, pela primeira vez, diante de
novos povos, "povos sem história", e da necessidade de caracterizá-los e classifica-los. Num
segundo momento, há a ascensão e a "conquista do mundo" pela burguesia. Finalmente, como
um reluzente ponto na história do pensamento europeu, o estabelecimento das filosofias
históricas do XVIII e XIX, com particular ênfase em Kant, Hegel e na Weltgeschichte, a
História Universal. Evidentemente, por sua universalidade, essas "armas" do pensamento
rapidamente transbordaram a circunscrição europeia.
Antes de terminar esta parte, vale trazer algumas palavras de François Jullien acerca
do universal e a sua universalidade. De acordo com ele, o universal é um conceito da razão,
de caráter necessário e prescritivo, que invoca um dever-ser. Trazendo Kant como um
exemplo paradigmático desse universal, Jullien ressalta a universalidade peculiar da filosofia
histórica de Kant, na qual "toda conduta humana é submetida por princípio à mesma lei, esta
concebida a partir da universalidade característica das leis da natureza." (JULLIEN, 2009, p.
23) Kant, pois, como outros representantes do pensamento iluminista, não se dava conta da
existência de um sujeito cultural. Mais do que isso, Kant não levantou uma questão fulcral
que é, segundo Jullien, se "esse universal não consagraria realmente a supremacia, hoje
vacilante e ainda mais inabordável, da razão ocidental e, sob ela, o imperialismo de uma
civilização?" (JULLIEN, 2009, p. 28) Ora, essa questão é precisamente um dos pontos
contenciosos dos Estudos Subalternos.
linguagem e seus modos de integração na prosa de seus mundos (ou em sua História 2) são
subjugados, pela força e pela persuasão de um colonialismo informado por uma história
universal-europeia.
Eis uma fissura inerente ao edifício filosófico dos séculos XVIII-XIX e à História
Universal, qual seja, ao tentar construir uma narrativa dotada de uma universalidade "forte",
baseada numa necessidade de princípio, ela acaba por representar apenas a consciência
europeia, a qual não suspeita que alguns conceitos e categorias não são universais, não são
pensados por outras culturas. Segundo Guha:
passou a ser ditado e definido por ele. O tempo torna-se "vazio, secular, homogêneo e
desencantado" (CHAKRABARTY, 2000, p. 15) – o mundo mergulha num mesmo regime de
historicidade – e começam a ser sentidas tensões temporais de retardamento e aceleração. Este
é, outrossim, o ambiente da prosa da história.
Guha responde à essa pergunta via Hegel. Segundo sua filosofia histórica, a prosa do
mundo dá origem à prosa da história, em um processo no qual "formas mais avançadas são
produzidas a partir da transformação de formas pretéritas e menos avançadas." (GUHA,
2002, p. 24). Como uma continuação do postulado renascentista que identificava a falta de
escrita com a falta de história, Hegel identificará a ausência de um Estado com a falta de
história. Em sua tipificação, o Oriente (Índia aí inclusa) é um exemplo de civilização sem
história. A filosofia histórica vai, pois, "legitimar políticas e a atualidade do mundo ao
concebê-lo filosoficamente." (GUHA, 2002, p. 39) Essa legitimidade, de fato espúria, relega o
não-Ocidental à Pré-história, lugar do "apolítico".
"Um assunto secular como a história encontra certos problemas ao lidar com
práticas nas quais deuses, espíritos e o sobrenatural apresentam agência no
mundo. Trabalho, a atividade de produzir, é raramente uma atividade
completamente secular na Índia; geralmente ela envolve, por meio de rituais
grandes ou pequenos, a invocação de presenças divinas ou sobre-humanas.
Histórias seculares são produzidas ignorando os sinais dessas presenças; para
a escrita da história, o sistema secular traduz o outro em si mesmo."
(CHAKRABARTY, 2000, p. 72)
Mais do que isso, essa Weltgeschichte que se arroga como única, como uma história
objetiva da humanidade, tem como uma característica estrutural o que Koselleck chama de "a
contemporaneidade do não contemporâneo" (KOSELLECK, O Conceito de História, 2013, p.
39), isto é, a coexistência de diferentes estratos temporais numa mesma contemporaneidade.
Dito de outro modo, e tendo sempre a perspectiva do progresso e o tempo histórico
desencantado em mente, é como se as diversidades sociais e culturais do globo pudessem ser
interpretadas sob a ótica de um relativo atraso ou modernidade.
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Ao serem "esquecidos" – por terem sua causa real falseada – esses fenômenos que
vão na contramão do capitalismo são situados fora da História. O próprio pensamento de
Marx é um exemplo de uma filosofia da história que carrega consigo certos conceitos
universalizantes e que engendra uma narrativa específica que vai relegar o mundo colonial ou
não-europeu o lugar da pré-história ou semelhante. Segundo o Manifesto Comunista, Anexo
1, como resposta à pergunta "Quais foram as consequências imediatas da revolução industrial
e da divisão da sociedade em burgueses e proletários?":
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A autodeterminação historiográfica, bem como os "desvios de tradução" de uma história para a outra são
explicitados como problema (e índice de sujeição/posição de subalterno) por Chakrabarty, ao dizer: Que a
Europa opera como um referencial tácito no conhecimento histórico se torna óbvio por uma maneira muito
simples. Historiadores pertencentes ao terceiro mundo têm a necessidade de sempre se voltarem para trabalhos
da história europeia; historiadores europeus, por sua vez, não precisam reciprocar. (CHAKRABARTY, 2000,
pp. 27-28)
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Grifo meu.
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Esse trecho tem muito a revelar, tanto explícita quanto implicitamente. Ele expõe
claramente o historicismo enquanto uma narrativa de transição12, bem como sustenta
Chakrabarty (CHAKRABARTY, 2000, p. 30). Também fica patente como o capitalismo é um
"espectro" que ronda toda a produção dos Estudos Subalternos, visto que o desenvolvimento
histórico, pelo viés marxista, se dá por meio da luta de classes e, principalmente, pela
ascensão da burguesia, cuja trajetória foi trabalhada extensivamente por Guha.
Ademais, a presença (ou ausência) do Estado também deve ser ressaltada. O caminho
do capitalismo seguirá apoiado largamente por uma iniciativa estatal, de modo que, se o
percurso histórico é medido pela disseminação e difusão do capital e de um lebenswelt
europeu específico para todo o mundo, bem como pela mudança na estrutura (no sentido da
teoria de Marx) econômica, tais medidas só podem ser tomadas integralmente tendo em vista
esse sustentáculo que é o Estado-nação.
12
Como digressão, a questão da transição nos traz à mente outras teorias, como a teoria da dependência de
meados do XX (cujo sujeito tácito também é uma Europa ou um Ocidente), a partir da qual o centro se sustenta
pela exploração dos países periféricos, que tem como saída dessa dependência a ruptura com esse centro. De
certa maneira, é também uma forma de "provincializar a Europa".
13
KOSELLECK, Reinhart. Op cit., p. 216.
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A diferença entre o Ocidente e o Oriente (ou entre uma esfera capitalista vs.
esfera colonial ou pós-colonial)
Quase como corolário da tese acima, afirmam que teorias europeias, ao
serem traduzidas para o Oriente resultam em um quadro distorcido.
Chibber enceta sua crítica distinguindo entre uma história, chamada de "história
convencional" e a história que os Estudos Subalternos pretendem construir. Essa história
convencional16 versa sobre a formação e o advento da era moderna, a Neuzeit. Da experiência
das navegações, já mencionadas, até o supremo e expansivo poder do Capitalismo, tais
momentos da "biografia" europeia contribuíram para a formação do par antinômico Ocidente
– Subalterno.
14
Expressão de Chakrabarty; (CHAKRABARTY, 2000, p. 8)
15
Essa crítica é exposta por Guha em sua obra Dominance without Hegemony, que infelizmente não será coberta
extensivamente por esse trabalho. Porém, ela vale pelo que ela representa, uma força universalizante/totalizante e
por salientar uma aparente diferença essencial entre Ocidente e Oriente, e sobre a reprodutibilidade do "caminho
histórico" europeu.
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Que podemos relacionar com a prosa da história de Guha ou com a História I de Chakrabarty exatamente pela
limitação à historicalidade ou à historicidade do lebenswelt colonial.
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Nesse sentido, é lançada uma crítica ao liberalismo, este sendo portador de uma
ideologia, um defensor ideológico de uma estrutura de poder hegemônica. A intelligentsia do
século XIX ocidental engendrava conceitos e pressupostos sobre a cultura política e sobre como
o mundo, o tempo e a história operam – resumidamente, a crença das filosofias históricas – num
afã nomotético, que emanavam da realidade da Europa, e que tais conceitos ou pressupostos
poderiam ser transplantados ou traduzidos para a esfera extra-europeia.
Essa dimensão nomotética vai chocar-se diretamente com as peculiaridades locais dos
povos colonizados. No caso da Índia, a ubíqua religiosidade pode ser contemplada como um
exemplo de obstáculo à essa "nomoticidade", pois vai contra o tempo histórico, agora vazio,
secular, homogêneo e desencantado. A relevância da religião para a compreensão "correta" da
Índia já foi salientada por Chakrabarty em um exemplo supracitado; para Guha, ela está "do
outro lado da cerca" que a História Universal construiu sobre o que é digno de historicidade e
o que não é – ela é uma expressão da historicalidade e da prosa do mundo.
A crítica de Chibber aqui incide sobre o caráter consensual da cultura política. Não havia
uma especificidade na experiência capitalista da Índia. Tanto na Europa quanto fora dela, o que
17
Levando em conta, evidentemente, a frase de Marx na abertura do Manifesto Comunista.
18
Nesse caso, também com o sentido de contemporânea.
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imperava eram dominações e hegemonias por parte da elite, de modo que o mundo parecia
caminhar pari passu. O que permeia toda esta questão é, ao fim e ao cabo, se o capitalismo ele
mesmo é um universal válido ou não. Ao tentar apontar uma diferença entre a história do
capitalismo no Ocidente e no Oriente, os teóricos subalternos minam sua universalidade e põem
em xeque um viés eurocêntrico da história. Chibber, por sua vez, aponta para sua
universalidade.19
Chibber dirá, por sua vez, que para se universalizar, o único princípio capitalista que
deve ser observado é o da mudança na economia, isto é, na estrutura, nos modos de produção.
Nesse caso, de fato é apenas uma questão de tempo até que eles se alinhem com os modelos
ocidentais (CHIBBER, 2013, p. 243). A tensão proposta por Chakrabarty entre a História e a
História 2 é equívoca pois ele confunde a universalização com sua uniformização; para ele a
História 1 deve erradicar todas as Histórias 2, não tolerando as diferenças as práticas e costumes
locais. (CHIBBER, 2013, p. 237)
19
Como uma pequena digressão, é curioso notar como a crítica marxista é flexível. A contenda aqui encerrada se
dá precisamente entre dois lados ambos de inclinação marxista. Ademais, retomando o próprio Marx, no
Manifesto Comunista o capitalismo parece que varreria todo o globo (é, propriamente, a História 1 de
Chakrabarty), de modo que as diferenças seriam solapadas - daí, por exemplo, a célebre frase "tudo que é sólido
se desmancha no ar." Podemos conjeturar, portanto, que ao apontar para essa universalidade do capital, Chibber
se aproxima de Marx, enquanto que os Estudos Subalternos, ao acenarem para a especificidade da história do
capital na Índia, se distanciaria do pensamento, digamos, "ortodoxo" de Marx.
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É a distinção entre o universalismo "fraco" e o "forte" exposta por Jullien.
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François Jullien também parece formular ideias que se prestam para uma crítica dos
Estudos Subalternos. Elas vão de encontro à suposição dos E.S. que há uma diferença quase
inefável, essencial, entre o Oriente e o Ocidente. Ao questionar-se sobre a questão da cultura, e
se seu plural (culturas) é pertinente, ele diz:
Além de ecoar também para a "conquista do mundo" e da História pelo Ocidente, Jullien
aponta para uma dimensão que o E.S. não vai muito à fundo. É exatamente questionar-se sobre
o porquê dessa defesa da diferença, da historicalidade, da História 2. Com a globalização e a
universalização de uma visão de mundo europeia, não seriam esses passados e historicalidades,
embebidos (supostamente) no que é mais próprio e idiossincrático da Índia, pouco produtivos
para a interpretação e compreensão de um mundo que é, a olhos vistos, cada vez mais algo
novo, fruto de um cadinho com ingredientes europeus (em sua maioria) e indianos? Nessa
perspectiva, ela é pouco produtiva em relação ao que as lentes europeias nos podem
proporcionar.
Como o próprio Chakrabarty diz, lançando encômios: "o pensamento europeu é uma
dádiva para todos nós. Podemos provincializá-lo apenas em um espírito de gratidão
anticolonial." (CHAKRABARTY, 2000, p. 255) Como exemplo mais próximo, em um
contexto de justiça social e luta democrática, temos a célebre frase de Sobral Pinto: "Não existe
democracia à brasileira.[...] a democracia é universal."
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Conclusões
Esta parte da pesquisa teve como foco apresentar o grupo de pesquisas denominado
Subaltern Studies, seus traços gerais e principalmente sua crítica. Esta crítica é feita tendo
alguns conceitos fundamentais como o de eurocentrismo e o de diferença (ou defasagem,
segundo Jullien), por exemplo, inseridos em um contexto que não pode prescindir de uma
estrutura de poder hegemônica na qual estão, sobranceiros, o capitalismo e a modernidade.
Contra essa perspectiva, na qual há uma conjunção entre História Universal e história
europeia, sendo esta última respónsavel por um papel condutor duplo - no sentido de
perscrutador e guia do processo histórico, sondando o futuro para si e informando os elementos
subalternos que este é o caminho a ser seguido – Chakrabarty atacará o historicismo e Guha a
filosofia histórica de Hegel, principalmente pela preponderância do Estado no seu sistema, cuja
falta é percebida no mundo Oriental.
Contudo, podemos concluir que apesar das novas perspectivas apresentadas pelos autores,
eles não refletiram sobre o que o arcabouço analítico pode perder ao recusarmos a “lente
ocidental”. O argumento deles parece se fundamentar na suposição de que o Oriente deve ser
analisado por suas próprias “lentes”, pois somente assim o exame seria adequado. Eles também
não sondaram os limites dessa nova outillage, e a bem da verdade, não fazem uma proposta
concreta de qual seria seu conteúdo exceto por alguns traços, como a indispensabilidade da
religião para essa nova perspectiva. Chibber afirmará, como crítica, que o desejo arrebatador
de querer sublinhar as diferenças entre Ocidente e Oriente acaba por trazer um essencialismo
ao debate.
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Referências bibliográficas:
1. CHAKRABARTY, Dipesh. Provincializing Europe: Postcolonial Thought and
Historical Difference. Princeton University Press, 2000.
2. CHIBBER, Vivek. Postcolonial Theory and the specter of Capital. Verso Books,
2013.
3. GUHA, Ranajit. History at the limit of World-History. Columbia University Press,
2002.
4. JULLIEN, François. O diálogo entre as culturas: do universal ao multiculturalismo.
Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2009.
5. KOSELLECK, Reinhart. O Conceito de História. Belo Horizonte: Autêntica Ed.,
2013.
6. WEINSTEIN, Barbara. História sem causa? A nova história cultural, a grande narrativa
e o dilema pós-colonial. História, Franca, v. 22, n. 2, p. 185-210, 2003.