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Dispõe a atual Constituição Federal em seu art. 37, incisos XVI e XVII, como
regra geral, que é vedada a acumulação de cargos, empregos e funções públicas:
1
Redação dada pela Emenda Constitucional nº 34, de 2001.
2
Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998.
3
CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de Direito Administrativo. 16ª ed. Rio de Janeiro:
Editora Lumen Juris, 2006, p 549.
4
MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo. 11ª ed.. São Paulo: Malheiros,
1999, p.198.
3
5
DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. p. 451.
6
GASPARINI, Diógenes. Direito Administrativo. São Paulo, Melhoramentos, 1995, p.123, apud
GUERRA, Evandro Martins. Acumulação de vencimentos de cargo, função ou emprego público com
proventos da inatividade. Disponível em <http://200.198.41.151:8081/tribunal_contas/2001/04/-
sumario?next=2> Acesso em: 28 de maio de 2010.
7 Em sentido contrário ao nosso posicionamento: CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de
Direito Administrativo. p. 43
8
CARMO MADEIRA, Jasen Amadeu do; José Maria, PINHEIRO MADEIRA. Acumulação de cargos e
funções públicas na atualidade. Fórum Administrativo - Direito Público – FA, Belo Horizonte, ano 8, n.
86, p.40-50. abr. 2008.
4
9
GASPARINI, Diógenes. Direito administrativo. São Paulo: Saraiva, 2004, p. 176.
10
MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo brasileiro. 28 ed. São Paulo: Malheiros, 2006, p.
386.
11
CAVALCANTI, Themístocles Brandão. Tratado de Direito Administrativo. Rio de Janeiro: Freitas
Bastos. Vol. IV. p. 278, apud MARCON, Adriano Marcos. Limite de carga horária no desempenho de
cargos públicos acumuláveis. Disponível em
<http://www.sinteoestepr.com.br/files/juridico/texto_acumulo_de_cargos.pdf>. Acesso em: 28 de maio
de 2010.
5
3 Situações de permissividade
12
CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de Direito Administrativo. p. 550.
6
Art. 3º Será considerado cargo científico aquele para cujo exercício é exigida de seu
titular formação em nível superior de ensino e cargo técnico aquele para cujo exercício é
exigida de seu titular formação em nível de ensino médio, com habilitação para o exercício
de profissão técnica. (grifos e negritos nossos)
13
CARMO MADEIRA, Jasen Amadeu do; José Maria, PINHEIRO MADEIRA. Acumulação de cargos e
funções públicas na atualidade. p.42.
14
CARMO MADEIRA, Jasen Amadeu do; José Maria, PINHEIRO MADEIRA. Acumulação de cargos e
funções públicas na atualidade. p.42.
7
15
BITTENCOURT, Marcus Vinicius Corrêa. Acumulação de cargos públicos. Considerações sobre a
Emenda Constitucional nº 34. Jus Navigandi, Teresina, ano 7, n. 62, fev. 2003. Disponível em:
<http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=3717>. Acesso em: 09 dez. 2009.
16
Nesse sentido vale conferir DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. p. 444-445.
8
Frise-se que, para as atuais conjunturas essa regra não oferece qualquer
dificuldade de compreensão e aplicabilidade prática, pois o somatório das acumulações
permitidas está limitado ao teto já fixado, sendo sua aplicação imediata. Contudo, para
as situações anteriores a EC 19/98, nas quais o somatório das acumulações permitidas
ultrapassa o teto, a remuneração e os subsídios dos ocupantes de cargos, empregos e
funções públicas devem continuar sendo pagos, por se tratar de direito adquirido.17
No entanto, é importante lembrar que a EC 20/98 resguardou, no artigo 11, os
direitos de quem vinha acumulando proventos com vencimentos de outro cargo efetivo,
apenas proibindo que percebam duas aposentadorias com base no artigo 40 da
Constituição e impondo o teto salarial previsto no artigo 37, XI, à soma dos proventos
com os vencimentos do cargo.
Quanto à acumulação de mais de uma aposentadoria, somente será possível na
forma prescrita pelo art. 40, § 6º, da Constituição, nos casos em que o servidor estiver
em situação de acumulação lícita.18
Vale lembrar que, em todas as hipóteses em que a cumulação é permitida, há
necessariamente que ser atendido o disposto no artigo 37, XI, da Constituição Federal,
que estabelece:
17
CARMO MADEIRA e PINHEIRO MADEIRA comungam do mesmo entendimento.
18
A norma já decorria das disposições constantes na EC 19/98, mas foi repetida no § 11 do art. 40,
introduzido posteriormente pela EC 20/98.
9
danos à saúde dos próprios servidores e à eficiência dos serviços prestados pelo
Estado.21
Novamente citando o Estado de Minas Gerais, de acordo com o Decreto nº
44.031/2005, art. 11, para determinar a compatibilidade de horários, serão
obrigatoriamente considerados o tempo destinado à locomoção do servidor e o intervalo
para descanso e alimentação. E ainda, segundo a redação dos §§ 1º e 2º, deverá ser
somado ao tempo gasto para locomoção um período mínimo de quinze minutos
destinado a descanso e alimentação, sendo que, no caso de locais de trabalho diferentes,
mas no mesmo turno, será considerado apenas o tempo gasto para locomoção na
caracterização da compatibilidade de horários.
É sabido que o ser humano necessita de um intervalo para descanso, efetivo e
suficiente. Ignorar tal fato pode causar danos ao servidor e ao serviço público por ele
prestado. Diversos estudos já comprovaram a necessidade do sono, do repouso, da
alimentação adequada como fontes de equilíbrio e saúde do ser humano. Tais intervalos
para repouso e alimentação são fundamentais à preservação da higidez física e mental
do servidor.22
Além disso, a atuação da Administração Pública tem como corolários
princípios constitucionais insculpidos no art. 37, caput, da Carta Magna, são eles:
legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência. Portanto, deve
oferecer serviços com presteza, qualidade e perfeição, que visa o primado do interesse
público e o bem-estar da coletividade.23
Denota-se, portanto, que, tem-se como ilícita a acumulação de cargos ou
empregos em razão da qual o servidor fique submetido a dois regimes de quarenta horas
21
LEANDRO, Lívio Sergio Lopes. A demonstração de compatibilidade de horários no serviço público
como requisito à acumulação de cargos e empregos públicos de natureza efetiva. p. 6270-6271. Citação
interessante é a colacionada pelo mesmo autor, onde “a Advocacia Geral da União, considerando que a
sobrecarga de trabalho seria prejudicial às condições física e mental do servidor, bem como
impossibilitaria o regular desempenho das funções emitiu parecer concluindo pela ilegalidade do
exercício cumulativo de cargos cuja soma das cargas horárias ultrapasse 60 horas semanais. A limitação
da carga horária semanal se encontra em perfeita consonância com o princípio da razoabilidade. Não se
pode considerar que são harmônicas jornadas de trabalho levando-se em conta, apenas, a ausência de
choque entre elas”.
22
LEANDRO, Lívio Sergio Lopes. A demonstração de compatibilidade de horários no serviço público
como requisito à acumulação de cargos e empregos públicos de natureza efetiva. p. 6271.
23
LEANDRO, Lívio Sergio Lopes. A demonstração de compatibilidade de horários no serviço público
como requisito à acumulação de cargos e empregos públicos de natureza efetiva. p. 6273.
11
24
LEANDRO, Lívio Sergio Lopes. A demonstração de compatibilidade de horários no serviço público
como requisito à acumulação de cargos e empregos públicos de natureza efetiva. p. 6273.
25
Segundo o autor supra, nos casos onde já passaram a cumprir sessenta horas semanais, de segunda-feira
a sexta-feira, em vista dos cargos técnicos ou científicos e de magistério desnecessária a verificação do
acúmulo relativo ao período em que os servidores cumpriam a carga de trabalho de quarenta horas e, se
fosse o caso, a opção corretiva da acumulação irregular a que se refere o art. 133 da Lei nº 8112/90, na
redação dada pela Lei nº 9527/97, a qual resultaria na modificação do regime de serviço, no magistério,
de quarenta para vinte horas, pois as declarações de horários constantes dos processos indicam a
viabilidade da compatibilização.
26 “Art.133. Detectada a qualquer tempo a acumulação ilegal de cargos, empregos ou funções públicas, a
autoridade a que se refere o art. 143 notificará o servidor, por intermédio de sua chefia imediata, para
apresentar opção no prazo improrrogável de dez dias, contados da data da ciência e, na hipótese de
omissão, adotará procedimento sumário para a sua apuração e regularização imediata, cujo processo
administrativo disciplinar se desenvolverá nas seguintes fases: (Redação dada pela Lei nº 9.527, de
10.12.97)
12
6 Conclusão
Além dessas exceções, citamos ainda as disposições contidas nos artigos 38,
III, 95, parágrafo único, 128, § 5º, II, d, entre outras, desde que se observe, em todos os
casos, a compatibilidade de horários e o limite remuneratório constante do inciso XI do
mesmo artigo.
Vale frisar novamente que a vedação se refere à acumulação remunerada, ou
seja, em tese, inexiste impedimento legal à acumulação de cargos, empregos e funções,
se não houver duas remunerações.
De se observar que, não encontramos de forma explicita em nossa Constituição
Federal como será auferida a compatibilidade de horários, o que torna, conforme
dissemos, imprescindível a nós, operadores do direito, definirmos como se dará esta
compatibilidade.
Dessa forma, aplicar-se-á, por força do disposto no art. 39, § 3º da Constituição
Federal, tendo como justificativa a igualdade social, aos servidores ocupantes de cargo
público o disposto no art. 7º, incisos IV, VII, VIII, IX, XII, XIII, XV, XVI, XVII,
XVIII, XIX, XX, XXII e XXX; sendo, portanto, necessário que se observe a carga
horária de cada cargo, para que a Administração Pública paute sua conduta na
legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência, sob pena de embaçar a
norma constitucional, fazendo com que os serviços sejam oferecidos serviços sem
qualidade, sem perfeição e sem presteza, ocasionando danos irreversíveis ao primado do
interesse público e o bem-estar da coletividade.
A acumulação que não esteja compatível com os dispositivos constitucionais é
tida como irregular ou ilícita, viola a ordem constitucional, a lealdade às instituições e
os princípios, proibições e deveres aos quais os servidores estão submetidos.
A despeito disso, antes da instauração do processo administrativo disciplinar, é
dado ao servidor o direito de opção tempestiva por um dos cargos. Tão logo seja
declarada a ilicitude da acumulação, o servidor terá um prazo para optar por um dos
vínculos, solicitando exoneração, dispensa ou rescisão contratual do outro que ocupar, o
que caracteriza sua boa-fé, evitando-se, assim, a instauração do processo disciplinar.
Portanto, embora a acumulação de cargos públicos seja proibida pela
Constituição Federal, e seja, ainda, causa ensejadora da aplicação da penalidade de
demissão do cargo, o processo disciplinar somente poderá ser instaurado depois de ter
sido oferecida ao servidor a oportunidade de optar por um dos cargos, e somente nos
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casos de o servidor não fazer a opção ou de interpor recurso, o processo poderá ser
iniciado, restando, em tese, configurada sua má-fé.
Referências
CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de Direito Administrativo. 16ª ed. Rio
de Janeiro: Editora Lumen Juris, 2006.
DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. São Paulo, Atlas, 2001.
MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo. 11ª ed.. São
Paulo: Malheiros, 1999.