Académique Documents
Professionnel Documents
Culture Documents
AUTORES
Joaquim Rubens Fontes Filho, 39. Bacharel e Mestre em Engenharia da Produção pela
COPPE/UFRJ e Mestre em Administração Pública pela Escola Brasileira de Administração Pública
da Fundação Getulio Vargas (FGV/EBAP). MBA em controladoria pela Universidade de São Paulo
(FIPECAFI/USP). Vem atuando na área de Planejamento Estratégico e consultoria organizacional,
prestando serviços a organizações públicas e privadas. Autor de diversos trabalhos acadêmicos e
publicações sobre planejamento estratégico, competitividade, avaliação de desempenho de
organizações e gestão do conhecimento. Prêmio Expert Brasil, categoria menção honrosa, conferido
pela Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Administração (ANPAD). Foi
professor do departamento de Administração da Universidade de Brasília, e consultor da Escola de
Administração Fazendária (ESAF). Atualmente é Professor-colaborador dos cursos de Pós-
Graduação da FGV/EBAP. Gerente de Planejamento Estratégico da PREVI, Diretor da Sociedade
2
FOCO EM QUEM?
IDENTIFICANDO STAKEHOLDERS PARA FORMULAÇÃO DA MISSÃO ORGANIZACIONAL
RESUMO
FOCO EM QUEM?
buscamos uma operacionalização do modelo proposto por Mitchell, Agle & Wood mediante: a)uma
descrição do modelo e definição de suas principais variáveis; b)o desenvolvimento de um roteiro
metodológico de identificação de stakeholders; e c)a apresentação de algumas considerações sobre
implicações da aplicação e desenvolvimento futuro do modelo proposto.
O ponto comum é que todos os conceitos (amplos ou delimitados) têm como pano de fundo as
seguintes questões: Em função de quais interesses as organizações são geridas? A quem e para que
realmente interessam (ou devem interessar) as organizações? Os sistemas de gestão organizacional
contemporâneos tendem a fazer prevalecer quais interesses em detrimento de quais outros? Quais
interesses deveriam prevalecer ou ao menos não serem ignorados ou segregados? Nesse sentido, a
teoria dos stakeholders vem ao encontro destas questões em duas principais perspectivas:
a)descritiva (quais interesses prevalecem e quais são negligenciados nos atuais sistemas de gestão
organizacional); b)prescritiva (que interesses devem ser privilegiados ou não segregados para a
sustentabilidade da organização no longo prazo).
admitindo-se outros mais orientados em maior ou menor extensão para o interesse de stakeholders
tais como financiadores, empregados e comunidade.
A grande contribuição da teoria dos stakeholders para a teoria das organizações é permitir um
tratamento mais abrangente sobre os múltiplos campos de racionalidade envolvidos na trama
organizacional. Uma ampliação deste campo de visão é especialmente útil porque há uma grande
quantidade de abordagens de gestão reducionistas, focadas no interesse do acionista/investidor
(teoria da firma, por exemplo) ou focadas no interesse do cliente (gestão estratégica da qualidade,
por exemplo).Conforme observa Selznick (1996: 272):
organizações seriam variáveis dependentes do meio onde atuam e, na medida em que o meio se
tornasse crescentemente instável, a covariação estrutural correspondente apontaria para um padrão
de organização e gestão interna mais flexível, de modo que as rápidas e imprevisíveis mudanças
ambientais pudessem ser respondidas. Organizações que não estão sujeitas a fortes pressões ou
instabilidades ambientais, poderiam operar segundo um padrão de organização mais rígido, baseado
em regras, estruturas e procedimentos estáveis. O planejamento estratégico ocasional, baseado na
suposição de que os ambientes pudessem ser extensivamente mapeados, e o desenvolvimento
organizacional (DO), baseado na suposição de que em função destes possíveis mapeamentos as
estruturas pudessem ser coerentemente moldadas, são decorrências desta visão.
Em sentido oposto, um tipo ideal de contexto externo instável, construído a partir do discurso
gerencial contemporâneo presente na teoria e na prática organizacionais, e proclamado como o
advento de uma sociedade do conhecimento, pós-industrial, pós-capitalista, etc., pressupõe:
integração preço-qualidade, desenvolvimento de nichos de mercado, busca da competência
essencial, formação de alianças estratégicas, orientação para o cliente, descentralização e autonomia,
internacionalização e gestão estratégica. Do ponto de vista das contradições estruturais, a
instabilidade será decorrente da perda de controle sobre as contradições organizacionais,
conseqüência da adoção de sistemas de gestão organizacional segregatórios, que privilegiem
determinados interesses e expectativas em detrimento de outros percebidos pelos atores que os
portam. A FIGURA 1 ilustra a correlação entre as principais variáveis abordadas e indica quatro
diferentes modelos de gestão, ou padrões de covariação estrutural, a partir das características nas
quais idealmente se apoiam:
DINÂMICA DO CONTEXTO
ESTÁVEL
GESTÃO GESTÃO
MECANICISTA MECANICISTA
GESTÃO GESTÃO
ESTRATÉGICA ESTRATÉGICA
INSTÁVEL
sentido da transformação organizacional– depende cada vez mais da sua capacidade de adequar seu
modelo de gestão à dinâmica do contexto e das contradições onde atua.
Por outro lado, quanto mais estáveis e previsíveis as expectativas dos stakeholders, maior a
possibilidade de estabelecimento de regras duráveis de funcionamento relativas a produtos,
tecnologias, resultados e recompensas, o que implica na possibilidade de estabelecimento de
estruturas mais rígidas. A estabilidade característica da velha sociedade industrial impunha, com
efeito, um modelo de gestão tipicamente mecanicista, baseado numa segregação entre planejamento
(cúpula) e execução (demais gerentes e empregados), estrutura piramidal verticalizada, padrão de
liderança autoritário, processos meticulosamente programados e regulamentados e visão
fragmentada do trabalho. O modelo mecanicista está presente na descrição de burocracia que Weber
utilizou. Hoje, o modelo mecanicista não está superado; funciona bem dentro de certos limites em
12
organizações estáveis, bem entendido, aquelas que operam em contextos relativamente estáveis,
onde não se vislumbram mudanças bruscas na demanda e na oferta tecnológica e nos mercados.
Nos processos de discussão/revisão estratégica, há, de alguma forma, uma inter-relação fulcral
entre a visão, missão, objetivos e metas (não necessariamente nesta seqüência), elementos essenciais
de um banco de dados gerencial altamente relacional. O que é crítico é que a formulação inadequada
de um campo afeta os demais. O que nos interessa acentuar é que formulações inadequadas da
missão organizacional podem levar ou decorrer de formulações inadequadas de objetivos, metas e
visão.
Uma segunda categoria de problemas com a formulação da missão consiste em que a missão
organizacional deve espelhar um propósito apenas (“a missão sócio-econômica”, “a razão de ser”,
“o propósito básico”). Este tipo de crença acaba por levar a declarações de missão baseadas
exclusivamente na perspectiva de um determinado stakeholder (4), seja cliente (caso de missões que
refletem a necessidade do cliente), seja dos gerentes ou acionistas (caso das missões relacionadas a
produtos e sobrevivência institucional). Esta tradição ignora o fato de que, segundo a visão
institucional da teoria dos stakeholders, não existe uma única missão organizacional, senão várias
missões mais ou menos conflitantes que se posicionam e reposicionam conforme atributos próprios.
15
A limitada racionalidade linear e isomórfica da unimissão torna-se cada vez menos útil à percepção
de multimissões impostas pela complexidade ambiental, que disputam diferentes focos de atenção.
Uma terceira categoria de problemas com a formulação das missões organizacionais reside na
sua verdadeira utilidade relativamente aos processos de formulação estratégica. O núcleo do
problema é que as declarações de missão tornaram-se mais retórica, discurso organizacional de
marketing e endomarketing que elementos ativos da agenda de discussão e pensamento estratégico
necessários à sustentabilidade organizacional. Por um lado, “muitos executivos ficam perdidos em
meio a declarações de missão e de visão. A maioria dessas declarações se transforma em uma
miscelânea de valores, metas, finalidades, filosofias, crenças, aspirações, normas, estratégias,
práticas e descrições. São em geral um amontoado de palavras chatas, confusas, desconexas e vazias
que provocam a reação: ‘é verdade, mas e daí?’.” (Collins & Porras, 1996:42)
Por outro lado, muitas organizações formulam missão para ostentá-las nas paredes dos
recintos, nas homepages, nos panfletos e na ponta da língua dos funcionários como “prova” de
pensamento estratégico, como demonstração de modernidade gerencial. Esta síndrome de
brincadeira estratégica contamina organizações e pode ser um caminho eficaz para a banalização do
pensamento estratégico. Representa, na verdade, a materialização de uma lógica utilitarista que, ao
trabalhar o conceito de forma superficial impede a o verdadeiro pensamento estratégico que poderia
ocorrer através da efetiva reflexão, possibilitando, inclusive, aberturas ao debate substantivo..
Nesse sentido, é importante firmar que uma missão prioritária deve refletir, de forma
implícita ou explícita, os interesses e expectativas dos stakeholders definitivos (1º lugar) e
expectantes (2º lugar), mas nunca seu enunciado, tampouco a ação organizacional, devem
negligenciar os demais. Esse fato reafirma a importância de se conhecer os stakeholder e suas
expectativas sobre a organização.
Embora muitas vezes o pano de fundo conceitual da teoria dos stakeholders seja atraente pelo
alargamento que induz à visão organizacional, a impossibilidade de se definir stakeholders de forma
mais precisa ou sistemática dificulta a operacionalização dos conceitos-chave e reduz sua
contribuição aplicada (à identificação de quem realmente conta em tempo e espaço delimitados),
quer porque, nos pólos, se deduzirá que todos (amplo) ou apenas alguns (primários ou arranjos
arbitrários) contam ou devem contar nos sistemas de gestão organizacional. A operacionalização do
modelo conceitual de identificação de stakeholders de Mitchell, Agle & Wood que propomos no
próximo segmento visa a proporcionar formulações de missão mais adequadas.
Mitchell, Agle & Wood (1997) propõem uma teoria de identificação de stakeholders que
equaciona esta dificuldade e possibilita a operacionalização de um conceito (não restrito, nem
amplo) de stakeholder baseado na sua ênfase ou preponderância (salience) –conceito este não
apriorístico, em função da natureza ou da posição relativa de certos atores pré-identificados no
cenário organizacional interno ou externo, mas em função da reunião de certos atributos em atores
que afetam ou são afetados pelos objetivos ou resultados de uma dada organização.
Segundo a proposta de Mitchell, Agle & Wood, stakeholders são atores (internos ou externos),
que afetam ou são afetados pelos objetivos ou resultados de uma dada organização em diferentes
extensões na medida em que reúnem entre um e três atributos básicos: poder, legitimidade e
urgência. Atores que não reúnem ao menos um destes atributos (não afetam os resultados e/ou não
são afetados pelos resultados) não são stakeholders.
17
Este conceito tem, pelo menos, três vantagens sobre os demais: a)é político, pois considera a
organização (bem entendidos seus propósitos racionalmente definidos) como uma resultante (pacto)
de interesses conflitantes e desiguais; b)é operacionalizável, pois permite a identificação de
stakeholders na medida em que se possa avaliar o quantum de poder, legitimidade e urgência que
certos atores têm em determinados tempo e espaço; e c)é dinâmico, não determinístico, pois
considera a resultante de interesses conflitantes como móvel no espaço-tempo social, segundo a
praxis dos atores. O conceito de Mitchell, Agle & Wood proporciona uma equiparação das
perspectivas prescritiva e descritiva, na medida em que sugere que a finalidade (real e ideal) das
organizações é satisfazer as expectativas dos stakeholders. A questão é quais expectativas
prevalecem sobre outras e o que isto implica.
Nessa perspectiva, Mitchell, Agle & Wood propõem a tipologia ilustrada na FIGURA 2, que
implica em diferentes graus de dominância de interesses na direção dos quais a organização volta-se
(ou deverá voltar-se):
PODER
ADORMECIDO
PERIGOSO DOMINANTE
DEFINITIVO
EXIGENTE ADORMECIDO
E
D
U
DEPENDENTE
R
ID
G
IM
ÊN
IT
C
G
IA
LE
NÃO-STAKEHOLDERS
Poder: Trata da existência ou possibilidade de obtenção por um ator social –ou uma parte no
jogo social, para usar a nomenclatura de Matus (1993)– de recursos coercitivos (força física,
armas), recursos utilitários (tecnologia, dinheiro, conhecimento, logística, matérias primas) e
recursos simbólicos (prestígio, estima, carisma) para impor sua vontade sobre outro(s) em uma
relação (jogo social). Esta definição foi adaptada de Mitchell, que se baseou no conceito de Etzioni
(1964).
Cada recurso de poder deve ser pesado segundo o grau de sensibilidade da organização, que
deve refletir a importância devida ou suscetibilidade ou vulnerabilidade em relação a determinados
recursos. Organizações que dependem de recursos financeiros em maior escala, estarão mais
suscetíveis a atores que detenham estes recursos. Organizações cuja imagem pública é altamente
sensível estarão mais atentas à opinião de atores que detêm muito prestígio social. Por outro lado, o
alto poder coercitivo do estado não é ameaçador se uma organização cumpre as leis.
O Grau de poder dos atores pode ser classificado segundo uma escala de disponibilidade do
recurso, que avalia os recursos de poder que os atores detêm. O grau é um índice, sensibilidade
multiplicado pela disponibilidade.
que os atores sociais nem sempre têm claramente definido o que é desejável em certas
circunstâncias.
Imaginemos um ator cujas ações são amplamente reconhecidas como desejáveis para a
organização e para a sociedade: uma organização não-governamental, na qualidade de cliente ou
comunidade. Por outro lado, um cliente que utiliza armamentos numa guerra pode ser desejável para
a organização que os produz, mas pode não sê-lo para a sociedade. Um fornecedor que polui o meio
ambiente pode não ser desejável para a organização ou para a sociedade.
Urgência. Consiste no clamor por atenção imediata em função de diferentes graus de:
a)sensibilidade temporal da não aceitação do atraso; e b)criticalidade, ou a importância do clamor
tendo em vista a possibilidade de dano à propriedade, sentimento, expectativa e exposição.
A urgência é certamente o fator que confere maior dinâmica a essa metodologia. Toda a
análise aqui descrita estará ocorrendo em determinado contexto segundo um momento específico de
tempo. Eventuais mudanças de contexto ao longo do tempo provavelmente estarão demandando
reconfiguração das análises.
Stakeholders LATENTES:
Discricionário: com legitimidade, mas sem urgência e poder. A atenção a esta categoria
de stakeholder depende do reconhecimento discricionário da organização, o que
normalmente se dá em bases filantrópicas.
Stakeholders EXPECTANTES:
Perigoso: urgência e poder sem legitimidade. Há, neste caso, espaço para o uso da coerção
por esta categoria de stakeholder, sob a forma de aquisições hostis, sabotagem, greve,
terrorismo etc.
Stakeholders DEFINITIVOS:
Possuem os três atributos. São stakeholders expectantes que, ao reunirem o atributo que
falta, seus interesses passam a ser prioritários sobre os demais.
21
5. OPERACIONALIZANDO O MODELO:
Para cada potencial stakeholder, os formuladores buscam dois tipos de ação: a)sondar sobre a
existência dos atributos (em que grau ocorrem, a forma, extensão, intensidade); e b)sondar qual a
demanda, o interesse, a expectativa sobre a organização.
Entretanto, deve-se considerar que tais sondagens podem elevar de tal forma os custos e
dilatar cronogramas, que poderiam inviabilizar economicamente o processo. Uma solução seria
trabalhar com um pequeno grupo, uma amostra formada à semelhança do universo de atores que
interagem com a organização, em analogia à metodologia do focus group. O fundamental é que a
identificação das expectativas e interesses dos potenciais stakeholders não fique limitada aos
sentimentos ou intuição dos formuladores.
22
RECURSOS DE PODER
Meios coercitivos Meios utilitários (recursos) Meios
simbólico
s
Força Armas Materiais Financeir Logístico Tecnológ Reconhec Grau de
física* e físicos os s icos & imento e Poder
Intelectua estima
is
Grau de Sensibilidade
dos Recursos Æ
Ator 1
Grau de Disponibilidade
Grau de Poder
Ator 2
Grau de Disponibilidade
Grau de Poder
Ator N
Grau de Disponibilidade
Grau de Poder
• Força física = capacidade de gerar ou agir com violência para constranger ou reter;
• Armas = capacidade de gerar destruição física
• Meios materiais e físicos = matéria-prima, equipamentos e instalações
• Financeiros = crédito, valorização de ativos
• Logísticos = localização, distribuição, fluxo de produtos e insumos
• Tecnológicos & intelectuais = conhecimento, marcas, patentes
Atribua valores de 0 a 3 para o Grau de Sensibilidade aos diversos recursos, anotando 0 caso
não haja qualquer sensibilidade ao recurso (insensível) e 3 para sensibilidade extrema (recurso
crítico). O grau de sensibilidade, por ser relacionado exclusivamente ao recurso, será o mesmo para
todos os atores.
23
Atribua valores de 0 a 3 para o Grau de Disponibilidade dos atores com relação aos recursos,
assinalando 0 caso o ator não possua o recurso em análise, e 3 quando o possui na quantidade
máxima de influência.
Para calcular o Grau de poder total dos atores, multiplique o Grau de Poder do Ator calculado
anteriormente para os diversos recursos. Certamente o número final será bastante grande e de pouca
utilidade prática em termos de comparação. Isso entretanto será corrigido um pouco mais à frente
pela normalização.
Um ator terá maior grau de poder na medida em que detiver mais recursos de poder e, ao
mesmo tempo, tais recursos forem críticos relativamente às necessidades/vulnerabilidades da
organização.
...
Ator n
Atribua valores de 0 a 3 para o Grau de Desejabilidade das ações dos atores para com a
organização (legitimidade micro-social). Pontuar 0 significa que as ações do ator são percebidas
24
Atribua valores de 0 a 3 para o Grau de Desejabilidade das ações dos atores para com a
sociedade (legitimidade macro-social). Pontuar 0 significa que as ações do ator são percebidas como
indesejáveis, e 3 como altamente desejáveis e legítimas pela sociedade.
Avaliação do clamor por atenção imediata de cada ator identificado relativamente à suas
expectativas e demandas, segundo a tabela abaixo:
Atribua valores de 0 a 3 para o Grau de Urgência dos atores. Com relação à sensibilidade
temporal, pontue 0 para baixa sensibilidade (total aceitação do atraso), e 3 para alta sensibilidade
com não aceitação de atraso. Para a criticalidade, marque 0 para assinalar fatores não críticos (não
implicam em perdas) e 3 para fatores altamente críticos (implicam em perdas).
25
O Grau de Urgência Total dos atores é calculado pela multiplicação do nível de sensibilidade
temporal e criticalidade percebidos.
Segundo os critérios definidos, um ator terá tanto mais o atributo da urgência, quanto mais
críticas e sensíveis temporalmente forem suas demandas.
Para o cálculo do valor normalizado, totalize o grau de poder dos atores, o número de atores e
encontre a média do grau de poder. O valor normalizado do atributo para o ator será dado pelo valor
individual atribuído (grau de poder do ator) dividido pela média. A normalização produzirá como
resultado um número que, caso seja maior que 1, indicará que o grau de poder daquele ator está
acima da média, estando abaixo da média para valores menores que 1.
26
Os mesmos passos deverão ser aplicados para o cálculo do índice de preponderância que, na
verdade, será uma normalização do total dos diversos atributos.
O embasamento conceitual proposto no trabalho de Mitchell, Agle & Wood (1997), associado
a uma metodologia que permita classificar a importância dos atores com relação aos diversos
atributos, pode estimular novas aplicações da teoria dos stakeholders no contexto das organizações.
De modo geral, as discussões sobre stakeholders detém-se nos aspectos conceituais, trazendo poucas
possibilidades de aplicação prática.
• não pode ser o somatório da pontuação individual dos atores, porque a proporção de atributos
entre diferentes atores é diferente;
27
• não pode ser o somatório dos atributos, porque a pontuação de um atributo não deve contar para
outro, não devendo, portanto, valorizar sobremaneira um ou dois atributos, ainda que com
valores altos;
• deve valorizar principalmente os que têm os três atributos, ainda que em valores baixos.
PODER
ADORMECIDOS
PE E
RIG NT
OS
O MINA
DO
DIS
S CR
TE ICI
EN ON
IG Á RIO
DEPENDENTES
EX S
URGÊNCIA LEGITIMIDADE
DEFINITIVOS
Os eixos Poder, Legitimidade e Urgência podem ter escalas gráficas que permitam a
localização de pontos referentes aos valores para cada ator ou todos. Os valores das escalas gráficas
28
devem estabelecer um ponto mínimo (arbitrário ou uma porcentagem da maior pontuação) a partir
do qual o atributo seria contado/considerado.
A aplicação da metodologia que propomos também pode permitir uma avaliação (interna ou
externa) do desempenho organizacional (corporate social performance), tomado em sentido amplo e
relacionado aos atores diretamente implicados no processo de geração de resultados organizacionais
(desejáveis ou não). O desempenho organizacional é, sem dúvida, um dos campos mais férteis a ser
explorado nos estudos organizacionais, uma vez que a dinâmica e o poder em torno e a partir das
organizações contemporâneas traz possibilidades inacessíveis de geração de resultados econômicos,
sociais e humanos em escala individual, grupal, global.
29
NOTAS
(1) O termo Corporate Governance tem sido muito freqüentemente traduzido como
governança corporativa. Uma tradução mais cuidadosa sugeriria a expressão gestão empresarial.
Com efeito, este conceito tem sido utilizado para referenciar os arranjos institucionais que regulam
os relacionamentos entre acionistas e gerentes. No presente trabalho, sua interpretação (na tradução
gestão organizacional) transcende o universo das empresas de mercado, sendo utilizado latu senso
para designar os arranjos necessários à gestão de uma organização, seja pública, privada, ou
comunitária.
(2) Desde abordagens que equiparam cliente à consumidor, quem paga pelo bem ou serviço,
até abordagens que equiparam cliente a praticamente qualquer ator beneficiário de qualquer ação
organizacional. No presente trabalho, consideramos cliente o beneficiário direto ou indireto dos
produtos de uma organização.
(3) O termo foi tomado de empréstimo à Pamela S. Tolbert e Lynne G. Zucker (1998) para
denominar uma linha de pesquisa caracterizada por análises quantitativas das covariações entre os
elementos da estrutura organizacional formal e por explicações essencialmente econômicas destas
covariações. “Considerava-se que a estrutura formal refletia os esforços racionais dos decisores no
sentido de maximizar a eficiência assegurando-se coordenação e controle de atividades de trabalho.
Assim, a descoberta de uma relação positiva entre tamanho e complexidade era explicada em termos
da necessidade e da capacidade das organizações maiores se especializarem, buscando o aumento da
eficiência, a relação entre complexidade e o tamanho do componente administrativo em termos do
crescimento da necessidade de supervisão para lidar com problemas de coordenação decorrentes da
especialização, e assim por diante [...] A pesquisa organizacional mudou seu foco no fim dos anos
60 para incluir considerações sobre os efeitos das forças ambientais na determinação da estrutura,
mas o quadro explanatório básico funcionalista/econômico foi mantido na maioria dos trabalhos.”
(p. 201)
(6) Para evitar que um eventual valor 0 (zero) distorça o resultado dos cálculos e,
conseqüentemente da análise, no caso das multiplicações horizontais esse valor deverá ser
substituído por 1 (um). Note-se que isto ocorreria apenas nos cálculos horizontais, quais sejam, do
Grau de Poder, ou Grau de Legitimidade Total ou Grau de Urgência Total. Na prática, poder-se-ia
afirmar que a escala ficou reduzida a apenas 3 possibilidades, 1,2 ou 3, e que os valores 0 e 1
ficaram iguais nas dimensões Legitimidade e Urgência, o que de fato ocorre. Entretanto, a baixa
incidência de valores 0 atribuídos a stakeholders, dentro dessas dimensões, fará com que o 0 venha a
ser utilizado principalmente para destacar uma fraqueza de um dos atores em análise.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Bowie, , N. 1988. The moral obligation of multinational corporations. In: Luper-Foy (ed.), Problems
of international justice: 97-113. Westview Press.
Clarkson, M. B. 1995. A stakeholder framework for analysing and evaluating corporate social per-
formance. Academy of Management Review 20:92-117.
31
Collins, J. & Porras, J. 1996. Building your Company’s Vision. Harvard Business Review, setem-
bro-outubro.
Donaldson, T. & Preston L. E. 1995. The stakeholder theory of the corporation: concepts, evidence
and implications. Academy of Management Review 20:65-92.
Hill, C.W.L. & Jones, T.M. 1992. Stakeholder-agency theory. Journal of Management Studies,
29(2):131-154.
Mitchell, R., Agle, B. & Wood, D. 1997. Toward a theory of stakeholder identification and salience:
defining the principle of who and what really counts. Academy of Management Review, 22:853-
886.
Savage, G.T., Nix, T.H., Whitehead, C.J. & Blair, J.D. 1991. Strategies for assessing and managing
organizational stakeholders. Academy of Management Executive, 5:61-75.
Selznick, P. 1996. Institutionalism “old” and “new”. Administrative Science Quarterly, 41:270-7.
Suchman, M.C. 1995. Managing legitimacy: strategic and institutional approaches. Academy of
Management Review, 20:571-610.
Thompson, J. K., Wartick, S.L. & Smith, H.L. 1991. Integrating corporate social performence and
stakeholder management: implications for a research agenda in small business. Research in
Corporate Social Performance and Policy, 12:207-230.
Tolbert, P. S. & Lynne G. Zucker. 1998. A Institucionalização da teoria institucional. In: Clegg, S.,
Hardy, C. & Nordy, W. Handbook de Estudos Organizacionais. Atlas, pp. 196-219.
Woodward, J. 1965. Industrial organization: theory and practice. Oxford University Press.
Zucker, P. et al. 1997. The institutionalization of institutional theory. In: The handbook of
organization theory. Academy of Management.