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Arlindo Mucavel
Avelino Macheque
Bernância Nhabinde
Constância Simbine
Marta Chambale
Minélio Chemane
Universidade Pedagógica
Maputo
2019
Alocha Langa
Arlindo Mucavel
Avelino Macheque
Bernância Nhabinde
Constância Simbine
Marta Chambale
Minélio Chemane
Docentes:
Mestre Escandação Armando Tivane
Universidade Pedagógica
Maputo
2019
Índice
0. Introdução...........................................................................................................1
0.1. Objectivos....................................................................................................1
0.1.1. Geral.....................................................................................................1
0.1.2. Específicos...........................................................................................1
0.2. Metodologia.................................................................................................1
1. Conceitos básicos................................................................................................2
2. Tipos de ritos......................................................................................................3
5. Feitiçaria em Moçambique.................................................................................9
6. Importância da Feitiçaria..................................................................................11
7. Conclusão..........................................................................................................13
8. Bibliografia.......................................................................................................15
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1. Introdução
O presente trabalho, surge no contexto da cadeira de Antropologia cultural de
Moçambique, cujo tema é: Domínio Simbólico: os Ritos e a Feitiçaria. O trabalho visa
abordar de forma nítida e sucinta, aspectos inerentes ao contexto dos ritos e feitiçaria
em Moçambique.
A feitiçaria designa a prática ou celebração de rituais, orações ou cultos com ou sem
uso de amuletos ou objectos ao qual são atribuídos poderes mágicos, por parte de
adeptos do ocultismo com vista à obtenção de resultados, favores ou objectivos que,
regra geral, não são da vontade dos demais elementos da comunidade que ele está
inserido.
Neste contexto, o trabalho encontra-se estruturado da seguinte: elementos pré-
textuais que incluem a introdução, os objectivos e a metodologia, os elementos textuais
que constituem o desenvolvimento do trabalho e pós-textuais a conclusão e as
referências bibliográficas.
0.1. Objectivos
0.1.1. Geral
0.2. Metodologia
Para a realização do presente trabalho usou-se o método bibliográfico, no qual
observou-se livros, revistas para fazer a recolha de dados para fazer a síntese das
informações precisas.
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1. Conceitos básicos
1.1. Feitiçaria (Etimologicamente)
A palavra feitiço nas línguas neorromânicas (português, espanhol, italiano, francês,
romeno, etc.), advém do latim facticius, que tinha significado de algo "não-natural",
"artificial" e até de farsa. Facticius era usado para se referir a alguns tipos de objectos e
artefactos, porém, na Idade Moderna passou a ser utilizado para se referir a magia, pois
associavam-se artefactos mágicos, os chamando de feitiço. Os portugueses na costa
ocidental da África, utilizaram esse conceito e contexto, inclusive os franceses o
adoptaram e criaram a palavra fetiche, que originou o fetichismo1.
Entretanto, a palavra feitiço deixou de ser usada para se referir a qualquer objecto,
para se referir a objectos mágicos, como também estar relacionada com a magia: "fazer
um feitiço", "lançar um feitiço", "fazer um encantamento". Nesse sentido, o feitiço
passa propriamente a adentrar o campo do sobrenatural.
A feitiçaria é comummente considerada uma prática estritamente feminina, de modo
que a mulher é posicionada como agente de Satã por excelência. Como afirma
(Delumeau, 2009, p. 467).
1.2. Conceito de Ritos
[…] um conjunto de actos repetitivos e
codificados, por vezes solene, de ordem verbal,
gestuais de postura, com forte carga simbólica,
fundados sobre a crença na força actuante de
seres ou de poderes sagrados, com os quais o
homem tenta comunicar visando obter um
determinado efeito. (RIVIÈRE 2011, p. 154).
Para Muceniecks (s/d) define rito como uma repetição de actos definidos, componentes
de alguma espécie de cerimónia, não necessariamente religiosa.
Nem toda cerimónia mecanizada pode ser caracterizada como rito; o rito comunica algo;
é para isto que ele serve seja o mito ou outra categoria.
1.3. Conceito de Ritual
É o conjunto de práticas consagradas por tradições, costumes ou normas, que devem
ser observadas de forma invariável em determinadas cerimônias. Ritual é uma
cerimônia através da qual se atribuem virtudes ou poderes inerentes à maneira de agir,
aos gestos, às fórmulas e aos símbolos usados, susceptíveis de produzirem determinados
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Dicionário Online, acesso 18 de Outubro de 2019.
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A feitiçaria pode ser descrita como uma acção maliciosa, levada a cabo através do
recurso a forças místicas ou mesmo pela violência, resultante de ódios e tensões intensas
presentes na sociedade, e que as pessoas interpretam como actuam sobre si
independentemente da sua vontade, (EVANS, 1992, p.50). Pode estar relacionada com
cultos às forças da natureza ou aos antepassados já falecidos, sendo que está também
frequentemente relacionada com o uso de artes consideradas mágicas, à invocação de
entidades, como por exemplo, espíritos, deuses, génios ou demónios, ou o emprego de
diversas formas de adivinhação. (Idem)
Para a Igreja Cristã dois rituais, ou sacramentos, foram instituídos pelo próprio
Jesus: o baptismo e a eucaristia. O baptismo consiste em borrifar com água benta a
cabeça da pessoa que será iniciada na religião. Esse sacramento lembra o baptismo de
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Jesus por João Batista. Em outras tradições, o ritual do baptismo é feito por imersão
total. A eucaristia (ou Sagrada Comunhão) é um dos principais ritos de devoção, na qual
o pão e o vinho são consagrados e oferecidos aos fiéis, representando o gesto de Jesus
na Última Ceia. Outros rituais, celebrados em períodos de graça ou bênção, incluem a
crisma, o casamento, a ordenação para o sacerdócio, a confissão e a extrema-unção.
Segundo Rivière (2011, p. 155) “os ritos de forma relativamente parecidos podem
visar diferentes finalidades: pedido de chuva, de fecundidade, interrogação de
transcendentes na adivinhação, acção de graças após a um nascimento, uma colheita,
uma victória, dessacralização para tornar profano um objecto de culto, comemoração,
vingança, apropriação, regeneração, etc.”
4.1. Análise ritual
A análise ritual está sempre relacionada à acção social e à comunicação. Estas
buscam estabelecer a forma estrutural de realização de um rito. Neste processo é
possível observar a maneira como os indivíduos classificam o mundo e constroem a
realidade em que vivem. Nessa realidade, inserem-se as instituições, que nada mais são
do que os meios em que o homem propaga a sua existência e projecta a sua forma de
existir. E nesse poder de uniformização e de padronização, as instituições servem para
estabelecer uma ligação entre o passado e o presente. Entende-se que, no bojo das
mudanças que as diferentes sociedades passaram no último século, os rituais - também
definidos como rituais de mudanças - não ficaram à margem das transições. Os rituais
utilizados nas cerimónias incorporaram novos formatos e novos movimentos, como
foram definidos por Peirano (2003, p. 12): “ritual não é algo fossilizado, imutável,
definitivo”. Diferente é a análise de Rivière (2011, p. 160), “que vê o ritual como um
fato social, no qual a realização de um ato ritualístico busca ser o fato para as pessoas
estarem juntas”. Para Rivière, “o rito busca renovar ou refazer a identidade, a
personalidade do grupo e da sociedade”. Nos grupos sociais, sempre existem os
participantes e os excluídos, porém os símbolos ritualísticos como o canto, a música, o
vestuário, são vistos como uma linguagem específica que serve para afirmar a
identidade colectiva que identifica uma cultura própria e reafirma a estrutura social,
mesmo com as desigualdades existentes. Os rituais são as sínteses dos valores em
evidência numa determinada cultura, e que vão sendo transferidos de geração a geração.
As razões da conservação dos ritos e rituais podem ser confirmadas nas ideias de
LEACH (1978, P.25), que afirma que “o primitivo e o moderno são iguais. Não apenas
pensamos de forma similar. Embora haja diferenças entre sociedades, existe um
repertório básico de acções que partilhamos. Somos semelhantes e diferentes ao mesmo
tempo”. Neste lançar de olhares que o pesquisador faz, sobre a aplicação da estrutura
ritual na análise dos fenómenos sociais, o desafio reside não somente na observação e
interpretação dos rituais e suas manifestações, mas vai além. Encontra-se no cerne do
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que expressam as representações colectivas que chegaram até nós por meio de várias
gerações. É a palavra, o sentido, o gesto, a narrativa - elementos inseridos no mito.
5. Feitiçaria em Moçambique
Dizer que existe prática de feitiçaria em Moçambique é a mera constatação de um
facto evidente e recorrente, quer os recursos a ela tenha em vista provocar efeitos
activos ou proteger-se deles, seja para fins considerados legítimos ou ilegítimos,
benéficos ou malévolos.
A feitiçaria é um elemento fundamental do sistema de domesticação da
incerteza predominante em Moçambique e, consequentemente, dos esforços sociais para
dar sentido à casualidade e a tentar dominar. Simultaneamente, as acusações de
feitiçaria constituem um potente instrumento de controlo social, que recai sobre vítimas
tipificadas e tende a reproduzir e reforçar as relações de desigualdade e dominação
existentes na sociedade, a maior parte das vezes de forma particularmente violenta. De
facto, o desenvolvimento e julgamento de tais acusações interage com outras figuras e
instituições não-estatais de “prestação de justiça”, é entendido como tal pelas pessoas
envolvidas e viola amiúde direitos elementares dos cidadãos acusados. (Granjo 2008, p.
232)
excepcional intensidade. Aquilo que é corrente é que a feitiçaria aja sobre as pessoas ou
seres - atraindo-as para o perigo, distraindo-as da sua existência e iminência,
influenciando o seu comportamento, ou ainda ocultando-lhes aspectos da realidade ou
criando-lhes a ilusão de coisas inexistentes. (Ibid., p. 235)
6. Importância da Feitiçaria
O primeiro aspecto a ter em conta, quando equacionamos o papel social da feitiçaria
em Moçambique, é que ela não constitui uma crença isolada, mas um elemento
integrante dum sistema mais vasto (e largamente partilhado) de interpretação e de acção
sobre os infortúnios e outros acontecimentos incertos.
espiritualista. Podemos no entanto afirmar que vigora na maior parte do país um sistema
de domesticação da incerteza que, coabitando embora com outros, assume
predominância quando se trata de interpretar acontecimentos disruptores da
normalidade. Isto porque se parte do princípio de que o acaso não existe, muito menos
existindo coincidências. Por isso, acontecimentos que prejudiquem (ou beneficiem)
alguém de uma forma marcante pressupõem a existência de causas que lhe estejam
subjacentes, em especial se tais acontecimentos forem recorrentes. (Idem)
7. Conclusão
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8. Bibliografia
DELUMEAU, Jean. História do Medo Ocidental. São-Paulo, Companhia do Bolso,
14
2009.
DICIONÁRIO ONLINE Wikipédia. Sincretismo e sincretismo religioso. Acesso 18 de
Outubro 2019.
EVANS-PRITCHARD, E. E. Bruxaria, Oráculos e Magia entre os Azande. Rio de
Janeiro, Zahar. 1978 (1937).
FLORÊNCIO, Fernando. Ao encontro dos Mambos – autoridades tradicionais
vaNdau e Estado em Moçambique. Lisboa, ICS. 2005.
FREITAS, M.E. GUERRA, E. Cultura Organizacional: evolução crítica. São-
Paulo, Cengage Learning, 2004.
GRANJO, Paulo. “Dragões, Régulos e Fábricas – espíritos e racionalidade
tecnológica na indústria moçambicana”, Análise Social, 2008.
HANCIAU, Nubia. A feiticeira no imaginário ficcional das Américas. Rio Grande
do Sul, FURG/ABECAN, 2009.
LEACH, Edmund, R. Sistemas políticos da Alta Birmânia-Um Estudo da Estrutura
Social Kachin. São-Paulo, edusp. 1978.
PEIRANO, Mariza. Rituais: Ontem e Hoje. Rio de Janeiro, Editora, zahar, 2003.
RIVIÉRE, Claude. Introdução a Antropologia. Ed. 70, Lisboa, Lda, 2011.