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153-174
Resumo
Abstract
In this paper, I question the thematic emphasis of Brazilian Presidents and Chancellors during
their inauguration speeches. The main objective is to know if the actors maintain a pattern
of continuity when it comes to the prioritization of topics and categories or if they tend to
1 O presente trabalho foi realizado com apoio do CNPq, Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico — Brasil.
2 Programa de Pós-Graduação em Ciência Política pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), em
Recife/PE, Brasil. E-mail: rocha.felipeferreira@gmail.com
Artigo submetido em 12/09/2017 e aceito em 11/12/2017.
minimize and to maximize mentions in a particular way. By means of Content Analysis and
Text Mining, it was found a continuity in the sense that there are insignificant categories,
regardless of the actor. There are also categories maintained repetitively important in every
speech. Besides, when measures of associations and distance of words had been used, it
was found clusters of actors in different levels of proximity. In this aspect, it is conspicuous
the existence of a cohesive cluster between Chancellors, whereas Presidents tend to be in
a sparser localization.
Introdução
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Para minimizar tal lacuna, esse artigo faz uma comparação da agenda dos
dois atores supramencionados em um momento temporal específico, o de posse
dos mesmos. O que Fernando Henrique Cardoso, Luiz Inácio Lula da Silva, Dilma
Rousseff e Michel Temer disseram ao serem empossados foi comparado com o
que os seus respectivos chanceleres disseram também ao serem empossados.
Para estruturar isso, o restante do artigo está dividido em quatro partes.
A primeira traz debates teóricos sobre o papel do presidente da República e do
ministro de Relações Exteriores na formulação e implementação da política externa.
Os tópicos de destaque serão o insulamento burocrático do Itamaraty, a pluralização
e horizontalização da PEB, bem como as possíveis relações entre a diplomacia
presidencial e a diplomacia tradicional. A segunda seção é de metodologia. Nela,
estão presentes todos os componentes necessários para assegurar a replicabilidade
dos resultados, que são apresentados na terceira parte; e, na quarta, são feitas
as conclusões.
3 As discussões sobre modelos ideais para representar a evolução histórica, sociológica e organizacional do
Itamaraty foram feitas por Zairo Cheibub. Para o autor, pode-se dividir a cronologia de tal instituição em alguns
marcos temporais. O primeiro vai de 1822 até 1902. Nesse período, chamado de patrimonialista, prevalece
uma noção distorcida entre o que pertence à esfera pública e à privada, predominando relações patrimoniais
e mesmo clientelistas. O segundo período coincide com a gestão do Barão do Rio Branco, quando prevaleceu
uma dominação carismática e eclodiram as primeiras mudanças em direção a um terceiro modelo, o modelo
burocrático-racional. Nele, foram feitas reformas administrativas para tornar a instituição técnica, racional,
profissional e de excelência, pouco havendo espaço para interesses políticos privados.
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4 A questão da mudança e da continuidade em assuntos de Política Externa é discutida tanto por tradicionais
quanto por pluralistas. Desse modo, dizer que uma política é pública não significa necessariamente que, a
cada nova gestão, mudanças radicais ocorrerão. Na verdade, os países têm uma margem de manobra para
atuação. A grande diferença entre as duas visões é que, para tradicionalistas, as mudanças são tão pontuais e
tão técnicas que não refletem de um modo significativo — são ruídos que dificilmente alteram o status quo. Já
para os pluralistas, ajustes ocorrem e são relevantes, mas dificilmente revolucionários (MIYAMATO, 2011).
5 Em geral, ao falarmos em termos de horizontalização, de pluralização, de descentralização, de desencapsulamento,
de democratização ou de politização estamos nos referindo ao crescimento vertiginoso de agentes e instituições
interessadas em se envolver com as etapas de formulação, implementação e/ou avaliação do ciclo da política
externa brasileira. Assim, esses conceitos buscam refletir a transição entre um suposto período em que era de
interesse de alguns poucos falar em temas internacionais e outro período mais recente em que vários atores
passaram a inserir tais temáticas como pautas de suas agendas políticas. É também importante salientar que,
embora aqui tais termos sejam usados de forma intercambiada, eles não são necessariamente sinônimos. Para
quem deseja obter mais informações sobre a utilização de tais termos pela literatura, recomenda-se a leitura
de Farias e Ramanzini Júnior (2015).
não houve, em nenhum dos dois governos [FHC e Lula], atritos importantes
entre o Ministério e os “Mandatários Diplomatas”. Isso se deve, por um lado, a
uma abertura do próprio Itamaraty, que tem acompanhado com sabedoria as
transformações mundiais das últimas décadas e, por outro lado, à clareza dos
Presidentes no que diz respeito à manutenção da importância da Chancelaria
e dos canais próprios do Ministério das Relações Exteriores, ou seja, da
Diplomacia Tradicional, no complexo cenário internacional contemporâneo.
(BARNABÉ, 2010, p. 44)
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Metodologia
6 Por serem justamente técnicas de redução de dados, é visível que uma série de informações são perdidas em
prol de descobrir determinados padrões de estrutura. Os seus resultados fornecem uma medida aproximada —
e, portanto, incompleta — da realidade do tecido textual.
7 O grande desafio da análise de conteúdo é alocar textos em categorias, já que variáveis podem ser enviesadas
pelo grau de ambiguidade das frases e por atributos do pesquisador, como processos cognitivos, percepções
semânticas, entre outros. Desse modo, nessa pesquisa e em todas as que utilizam tal técnica, é provável a
existência de erros. Em função disso, a replicabilidade é tão importante, já que quanto mais repetida uma
pesquisa for, mais bem definido será o grau de confiabilidade de seus resultados. Por isso, todos os arquivos
de textos, banco de dados e códigos utilizados estarão disponíveis no seguinte repositório: https://dataverse.
harvard.edu/dataset.xhtml?persistentId=doi%3A10.7910%2FDVN%2FMQCASI
8 Para quem deseja obter maiores informações: http://www.comparativeagendas.net/pages/About.
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Originalmente, não existe a categoria “Outro”, mas sua inclusão foi necessária,
devido à natureza dos pronunciamentos analisados. Nela, reuniram-se os
agradecimentos, as frases cujo conteúdo se referiam à trajetória do emissor e
os tópicos sobre a situação contextual da fala. Após ter codificado os discursos
presidenciais, os trechos dos pronunciamentos que se ligam às categorias de
relações internacionais e de comércio exterior foram separados e novamente
categorizados junto aos discursos dos chanceleres, através de outro esquema
codificador que se derivou da estrutura presente na página virtual do Itamaraty9.
O quadro 2 informa tais categorias.
9 O sistema de codificação apresentado foi baseado na aba “Política Externa” presente na página virtual do
Itamaraty, assim como estava disponível no mês de agosto de 2017 (podendo ter havido alguma mudança
com o decorrer do tempo). Optou-se por utilizar tal codificação em detrimento de outras, por se tratar de uma
divisão endógena e institucionalmente oficial feita pelo próprio Itamaraty para representar os temas de política
externa. Para quem deseja obter maiores informações: http://www.itamaraty.gov.br/pt-BR/
10 Um dos comandos de base do R para manipulação de variáveis textuais é o “nchar”. Com ele, foi possível obter a
medida do tamanho de elementos contidos em cada frase textual. Vale salientar que esse comando contabilizou
também espaços em branco.
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Resultados
A categoria mais mencionada foi “Outro” (média de 30,1%). Isso indica que,
em média, a codificação empregada foi capaz de alocar e classificar o conteúdo
de 70% dos pronunciamentos presidenciais. A considerar os propósitos do artigo,
esse é um bom nível de proporção. Agregados, os temas voltados às RI e comércio
exterior ocuparam, em média, 5,7% dos discursos de posse. Os presidentes que
menos e mais mencionaram tais tópicos foram Michel Temer (4%) e Lula (8,8%),
respectivamente.
Nota-se que, em suas duas posses, FHC priorizou as categorias referentes
às questões sociais (11,8%), operações governamentais (11,8%), RI (10,2%) e
macroeconomia (9,3%). Em Lula, foram mais mencionadas: RI (14%), questões
sociais (13,1%), macroeconomia (7,7%) e operações governamentais (6,3%).
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11 Segundo Figueira (2011), o neologismo ‘interméstico’ representa a junção das palavras internacional e doméstico
e diz respeito à diluição desses dois níveis no cenário contemporâneo. Ou seja, a divisão entre assuntos internos,
como sendo aqueles que surgem da fronteira nacional para “dentro”, e assuntos externos, como estando da
fronteira nacional para “fora”, perde em muito seu alcance explicativo.
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Conclusões
Referências
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