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POLÍTICA E EDUCAÇÃO: UMA ANÁLISE DOS

DISCURSOS DE JOSÉ LUIZ COELHO E CAMPOS (1862-1919)

Marina Oliveira Malta


Universidade Federal de Sergipe1
marina_malta@ig.com.br

Palavras-chave: Educação, Intelectual, Política.

A análise dos discursos de José Luiz Coelho e Campos resulta do interesse por sua
biografia. Ele foi um intelectual que participou de momentos decisivos na História da
política brasileira, foi Promotor, Deputado, Senador e Ministro do Supremo Tribunal
Federal, publicou artigos e discursos em jornais, investiu na educação industrial, deu
pronunciamentos sobre o voto feminino e revelou ser um crítico do modelo educacional
vigente no Brasil. Assim, utilizou os espaços públicos para ter visibilidade e expor suas
idéias.
O interesse por sua biografia surgiu a partir da verificação da multiplicidade de
papéis que este intelectual desempenhou. Assim, o presente estudo apresenta o resultado
parcial da análise feita nos seus discursos que foram proferidos entre os anos de 1862 e
1919, a partir dos aportes teórico-metodológicos da História Cultural.
Priorizou-se informações sobre a formação acadêmica, atuação política e seu
legado, por isso, marco temporal vai de 1862, período em que volta graduado de Recife, até
1919, que é o ano de sua morte.
A vida de Coelho e Campos foi analisada a partir da abordagem biográfica, que
permite a apreensão de diversos aspectos relacionados a História da Educação. Segundo
Amorim,
Estudos recentes têm mostrado o valor e a importância das biografias para a
História da Educação. Os estudos biográficos de intelectuais que se
dedicaram ao magistério, geralmente têm como objetivo a tentativa de
recuperar suas trajetórias e compreender, por meio delas, aquilo que foi
efetivamente vivido e realizado (AMORIM, 2006, p.1).
1
Mestranda em Educação da Universidade Federal de Sergipe, sob a orientação do Prof. Dr. Jorge Carvalho
do Nascimento.
A abordagem biográfica é uma ferramenta que serve para o entendimento das
práticas e saberes dos sujeitos que marcaram as sociedades. No campo das pesquisas
educacionais, a partir da década de 1980, esta abordagem renasceu como gênero
historiográfico, tendo como característica, permitir a compreensão de processos formativos
aproximados de uma geração, possibilitando uma interpretação das trajetórias, destacando
elementos diferenciados do processo de socialização familiar. Segundo Borges (2006), “[...]
a biografia tem sido considerada uma fonte de conhecimento do ser humano: não há nada
melhor para se saber como é o ser humano do que se dar conta de sua grande variedade, em
espaços e tempos diferentes”(p.215).
O uso da abordagem biográfica, portanto, contribui para perceber as relações
existentes em determinados contextos, permitindo o diálogo entre diferentes áreas de
pesquisa. Nobert Elias (2001), ao abordar as possibilidades dos estudos relacionou a
História com a Sociologia. Este autor aponta reflexões que permitem buscar o
entendimento das figurações (configurações), em que estiveram inseridos os sujeitos
investigados e as relações de interdependências que construíram, uma vez que os homens
apesar de serem singulares,

[...] não aparecem mais como indivíduos isolados, cada um totalmente


independente dos demais, existindo por si mesmo [...]. Na análise das
figurações, os indivíduos singulares são apresentados da maneira como
podem ser observados: como sistemas próprios, abertos, orientados para a
reciprocidade, ligados por interdependências dos mais variados tipos e que
formam entre si figurações específicas, em virtude de suas
interdependências (ELIAS, 2001, p. 50-51).

A documentação utilizada foi localizada nos seguintes acervos: Arquivo Público


Estadual de Sergipe (APES), Biblioteca Central da Universidade Federal de Sergipe
(BICEN), PESQUISE – Pesquisas de Aracaju, e Biblioteca Pública Epiphâneo Dórea. As
fontes manuseadas foram jornais, discursos, livros, artigos, teses e fotografias. Segundo
Nascimento,
a reconstrução das trajetórias dos intelectuais pode ser feita através dos
registros de suas experiências de vida: registros de imprensa, documentos
institucionais e particulares referentes a formação, atuação profissional e
política, atas, relatórios, processos, teses, depoimentos (orais e escritos),
cartas e fotografias (NASCIMENTO, 2007, p.97).

Sabe-se que os “documentos registram versões do tempo pretérito. Não podem


funcionar como prova. Não são testemunhos incontestes. São pistas de formas de ver o
mundo”(MIGNOT, 2002, p.51). Assim, cada um deles foi interrogado e confrontado.
Acredita-se no que Borges diz, que
não se pode ter a pretensão de esclarecer o mistério de uma vida somente a
partir de fatos e de achados concretos; é significativo não só o que se
encontrou documentado, mas as incertezas intuídas, as possibilidades
perdidas etc. A sensibilidade e a intuição do historiador são muito
importantes a fim de aproveitar ausências e vazios com os quais ele depara
em seu trabalho de pesquisa pata também interpretá-los (BORGES, 2006,
p.221).

José Luiz Coelho e Campos fez seus estudos primários em Capela, município de
Sergipe. E os preparatórios na Bahia, os quais foram: latim, francês, inglês, filosofia
racional e moral, retórica e poética, aritmética e geometria, história e geografia.
Assim, Bacharelou-se em Ciências Sociais e Jurídicas na turma de 1862 da
Faculdade de Direito de Recife. Esta formação concedia-lhe um “status”, um elemento
social diferenciador, pelo fato de ter sido letrado em uma instituição acadêmica reconhecida
no Império.
O curso que fez em Recife, foi criado inicialmente em Olinda, no ano de 1827, com
a duração de cinco anos. Apenas em 1854, foi transferido para Recife. Segundo Silva,
as faculdades brasileiras, no Império, legitimavam a atuação dos
intelectuais com formação superior que, através da ocupação de cargos no
poder público e publicações de caráter científico, político, literário,
religioso e social, constituíram o campo intelectual no Brasil. (SILVA,
2004, p.1,2).

Este foi o caso de Coelho e Campos. Ele pertenceu a uma geração de sergipanos que
atuou nesta instância de formação, contribuindo com a constituição de idéias de correntes
filosóficas pelo país.
Bevilaqua (1977) apresenta a relação dos Bacharéis que se formaram com Coelho e
Campos, em 1862, com destaque para os sergipanos: Vicente da Silva Portela, Graciliano
Aristides do Prado Pimentel e João Gomes Ribeiro Júnior. Para Nascimento (1999), [...] o
mosaico da intelectualidade brasileira que atuou sob o Império é extremamente complexo e
de compreensão não linear, pois essa intelectualidade viveu as contradições do seu
tempo”(p.04).
Neste período, Sergipe viveu predomínio das figuras egressas da academia do
Recife, complementadas pelos médicos formados na Faculdade de Medicina da Bahia.
Após a turma de 1862, outros sergipanos fizeram o curso de Bacharel em Recife, como
Tobias Barreto, Sílvio Romero, Justiniano de Melo, Gumercindo Bessa, Fausto Cardoso,
Martinho Garcez, dentre outros, que fizeram parte de gerações de intelectuais que
marcaram a política sergipana. Segundo Nascimento,
São muito importantes os estudos em torno dos intelectuais. Recompor suas
trajetórias, seus lugares, suas intervenções na cena cultural e política pode
ensejar uma compreensão mais acurada dos processos mediante os quais
foram cortejados e postos em disputa, padrões de formação da vida social
(NASCIMENTO, 2007, p.15).

Quando estudou na Faculdade de Direito, foi exigido para a realização de sua


matrícula, a apresentação da certidão de idade, com a exigência de se ter 15 anos
completos. Este fato foi o principal motivo das divergências existentes em torno do ano de
seu nascimento.
No dicionário organizado por Blake (1899), consta que nasceu em 1841. Nas fontes
eletrônicas consultadas, a data marcada para o nascimento de Coelho e Campos é 4 de
fevereiro de 1843. Nos registros produzidos por Barreto (2007) e Guaraná (1925), tem que
ele nasceu em 1853. Além disso, segundo Barreto (2007), em alguns documentos consta
que Coelho e Campos veio ao mundo em 1851. Segundo Silva,

Os equívocos dizem respeito à data de nascimento, naturalidade e


mudanças de nome. Era comum à época, a existência de inaxetidões quanto
à data de nascimento, uma vez que não se registrava a criança assim que ela
nascia, assim como se modificava a idade para matricular os meninos nas
faculdades, cuja exigência mínima era de dezessete anos. (SILVA, 2004,
p.11)

A vivência em Recife uniu Coelho e Campos a Guilherme Campos, a Pelino Nobre


e a Olímpio Campos, todos de orientação conservadora. Ao voltar para Sergipe, em 1863,
residiu em Capela, onde foi nomeado Promotor.
Seguiu uma seqüência de três mandatos como Deputado Provincial (1863 a 1867).
Neste momento, ao analisar a realidade educacional sergipana, afirmou em um de seus
discursos:
Desde 1838 os moços de minha província formam-se nas faculdades do
Império. Desde então até hoje apenas 8 ou 10 tem sido juízes de direito, e 4
apenas presidentes de província. Em Sergipe, o moço faz seu primeiro ou
segundo quatriênio como promotor ou juiz municipal, e, sem esperança de
que em sua província possa ter acesso, se retira dela. (COELHO E
CAMPOS, 1877, p.36).

Esta foi a realidade vivida por ele. Em 1878, assumiu uma cadeira na Assembléia
Geral Legislativa, no cargo de Deputado Geral, cumprindo mais três mandatos. Na
Câmara, defendeu os interesses sergipanos, como aconteceu no discurso proferido no dia 14
de agosto de 1882, sobre os limites entre a Bahia e Sergipe.
Para Coelho e Campos, Sergipe sofria uma usurpação pela província da Bahia, e por
isso, era necessário rever a questão dos limites estabelecidos entre estas províncias. A
argumentação utilizada estava pautada em estudos realizados sobre a criação de Sergipe,
como “As memórias” de Accioli Cerqueira; “Memória sobre Sergipe d’El Rei”, escrita em
1808 por D. Marcos Antonio de Souza; “Corographia do Brasil”, do Dr. J. M. Macedo;
“Corographia Brazílica”, de Ayres do Cazal; “Diccionario Geographico” de Milliet Saint
Adolphe; “Mapa” do Senador Candido Mendes e o “Relatório” do Dr. Cincinato Pinto da
Silva, proferido em 1865.
Dentre os deputados presentes, os que se manifestaram foram Leopoldo Cunha,
Prado Pimentel e Rodolpho Dantas. Mesmo assim, Coelho e Campos não ficou intimidado,
e concluiu sua fala com um apelo: “Afinal a câmara, Sr. Presidente, que não representa
simplesmente a Bahia ou Sergipe, mas a grande pátria brasileira, há de proceder com
isenção, reconhecendo o direito a quem o tiver” (COELHO E CAMPOS, 1882, p.24).
A proclamação da República trouxe muitos debates e discussões no Congresso
Nacional. Este foi um momento de instabilidade política. Coelho e Campos, como senador,
ciente de sua responsabilidade, afirmou em um de seus discursos:
Senhores, se não me cabe a responsabilidade do celebrado evento de 15 de
novembro, como quase todos os políticos do Brasil, como a nação em geral,
aceitei o fato, e propugno por seus consectários lógicos e naturais para a
reconstrução do país em moldes americanos pelo consórcio da ordem e da
liberdade. (COELHO E CAMPOS, 1890, p.2).
Em meio aos conceitos de Emílio Laveleve acerca da República, considerações de
Tocqueville, na “Democracia na América”, pensamentos de Benjamim Constant, Hamlet,
citando aspectos da legislação norte-americana, versou sobre a república federalista, versus
a unitária.
Como Senador, cumpriu três mandatos de 1891 a 1913, em nome do Partido
Conservador, Partido Nacional e Partido Republicano de Sergipe. Este fato para
Rolemberg, “era mais um degrau que subia na sua vida” (1957, p.141).
Neste período, Coelho e Campos rompeu suas relações com Olímpio Campos,
porque este escolheu Josino Meneses para ser seu sucessor na presidência de Sergipe.
Como forma de fazer oposição, Coelho e Campos juntou-se à Fausto Cardoso.
Ao escrever sobre a vida de Coelho e Campos, Barreto (2007), comenta sobre este
fato. Segundo ele,
Coelho e Campos foi, sem dúvida, uma das mais expressivas figuras da
política sergipana, pelo longo tempo que conquistou e cumpriu mandatos, e
pela influência junto ao grupo liderado pelo padre Olímpio Campos, e, mais
tarde, pela formação de uma força popular, juntamente com Fausto
Cardoso, um dos seus ferrenhos adversários (BARRETO. 2007. s/p).

Coelho e Campos participou das eleições em Sergipe, e conquistou seu último


mandato como Senador, até 1913. No Senado, segundo Guaraná (1925), ele “deixou
honrosa tradição de orador e jurista de vasta cultura científica, revelada no estudo das mais
importantes questões agitadas naquela corporação e nos pareceres apresentados como
membro da Comissão de Legislação e Justiça”(p.174).
Neste mesmo ano, porém, renunciou ao cargo para assumir a vaga de Ministro do
Supremo Tribunal Federal, no qual permaneceu até seu falecimento em 13 de outubro de
1919, no Rio de Janeiro.
No seu enterro estiveram presentes figuras políticas representativas do país, como o
Ministro André Cavalcanti, vice-presidente do Supremo Tribunal Federal na época; O Dr.
Sá Freire, prefeito municipal; O Senador Miguel de Carvalho; o Coronel Fredolino
Cardoso, dentre outros. Ele foi sepultado no Cemitério São João Batista.
A repercussão deste acontecimento se deu por todo o Brasil. A Câmara, o Senado e
o Supremo Tribunal Federal ficaram de luto, e a imprensa divulgava informações e
registrava os pesares pela morte de Coelho e Campos. Além disso, ele recebeu homenagens
dos órgãos que passou e muitos telegramas circularam pelo país, com as notícias do
falecimento.
Coelho e Campos era dono do Engenho de Palmeira, em Capela. Casou-se, mas não
teve filhos. Seus pais, José Luiz Coelho e Campos e Carlota Joaquina de Campos,
faleceram cedo, e o deixaram Coelho e Campos sob a tutela de seu tio materno Manuel
Gaspar de Melo Meneses.
Em relação aos seus parentes, destaca-se o cunhado Manoel Correia Dantas, que
também fez carreira política, filho do Comendador Francisco Correia Dantas. O sobrinho-
neto e afilhado de crisma, Orlando Dantas, que foi prefeito de Divina Pastora, Deputado
Estadual e Federal. As Sras. Josefina Muniz de Vasconcelos e Maria Eufrosina do Prado
Dantas, que receberam parte do seu legado no testamento.
Ele nasceu no Engenho Mata Verde, em Divina Pastora. Rolemberg (1957),
apresenta aspectos do momento da chegada de Coelho e Campos no engenho. Segundo ela,
Foi entre o verde claro dos canaviais, os imensos pastos, pontilhados de
gado crioulo e o confortável solar da Mata Verde, entregue aos cuidados de
uma mãe extremosa, amparado pela dedicação dos escravos favoritos, tendo
por companheiro seu irmão Francisco Campos, que se desenvolveu
lentamente a raquítica figurinha de que mais tarde havia de ser Ministro do
Supremo Tribunal Federal. (ROLEMBERG, 1957, p.138).

Sabe-se que as famílias, as associações culturais, as instituições escolares e as


relações profissionais possibilitam aos sujeitos investigados o desenvolvimento de um
repertório de habilidades e atitudes a fim de ocupar os espaços e posições diferenciadas.
Nesse sentido, o indivíduo deve ser estudado a partir de suas configurações e redes de
interdependência. Sobre isso, Norbert Elias (1994) afirma que

[...] cada pessoa que passa por outra, como estranhos aparentemente
desvinculados na rua, está ligada a outras por laços invisíveis, sejam estes
laços de trabalho e propriedade, sejam de instintos e afetos. Os tipos mais
díspares de funções tornaram-se dependentes de outrem e tornaram outros
dependentes dela. Ela vive, e viveu desde pequena, numa rede de
interdependências que não lhe é possível modificar ou romper pelo simples
giro de um anel mágico, mas somente até onde a própria estrutura dessas
dependências o permita; vive num tecido de relações móveis que a essa
altura já se precipitaram nela como seu caráter pessoal (ELIAS, 1994, p.
22).
Assim, muitos são os fatos que precisam ser investigados sobre a atuação de Coelho e
Campos. Nos anais da Câmara e do Senado, deixou discursos publicados, que versavam
sobre a reforma judiciária, intervenção federal, o divórcio, estado de sítio, bancos de crédito
real, contravenções, elemento servil, indústria agrícola, reforma eleitoral, estradas de ferro,
dente outros que estão analisados.

DISCURSOS E IDÉIAS DE JOSÉ LUIZ COELHO E CAMPOS

A formação acadêmica de Coelho e Campos pautou-se no estudo das seguintes


disciplinas: Direito natural; Direito público universal e eclesiástico; Análise da Constituição
do Império; Institutas de Direito Romano; Direito das gentes; Diplomacia; Direito pátrio
civil, com análise e comparação do Direito romano; Direito criminal, inclusive o militar;
Direito marítimo; Direito comercial; Hermenêutica jurídica; Processo civil e criminal,
incluído o militar e a prática forense; Economia política; e o Direito administrativo.
O curso de bacharel durou 5 anos. Assim, no Recife, Coelho e Campos estudou
temas que foram utilizados em sua profissão. Através dos seus discursos, é possível
perceber que ele incorporou os ideais estudados na Faculdade, principalmente, no que diz
respeito aos direitos civis. Segundo Ferreira (1980), “o saber filosófico, a lógica, a dialética,
o humanismo, a formação literária, o hábito discursivo e a criatividade emolduram o
bacharelismo”(p.70).
Sua oratória estava de acordo com os valores de seu tempo, e as temáticas refletiam
a formação acadêmica que recebeu. Sua argumentação e ousadia provocava apartes no
público ouvinte.
Os discursos de Coelho e Campos eram longos, pois ele realizava um
aprofundamento nos temas em debate, trazia exemplos da realidade de outros países,
continentes, apresentava muitas fontes de pesquisa, estudos e relatórios. Sempre se
colocava como o representante de Sergipe nas causas discutidas. Segundo Rolemberg
(1957), “seus discursos são verdadeiras teses que demonstram vastos conhecimentos
sociológicos, apontando, defendendo, solucionando vários problemas da província
[...]”(p.140).
Para reforçar sua argumentação, recorria a expressões em outros idiomas e frases de
pensadores renomados, como Aristóteles, Voltaire, Tocqueville, Montesquieu, Laveley,
como se observa neste trecho: “E, como dizia Guisot de Washington: Não há suores que
uma semelhante palma não seque na fronte em que ela for colocada” (COELHO E
CAMPOS, 1887, p.64).
Coelho e Campos estreou na tribuna em 1877, na discussão do Orçamento do
Império, representando Sergipe, como Deputado provincial. Iniciou sua fala, afirmando:
“não venho definir minha posição perante esta augusta Câmara. Venho dos sufrágios da
soberania nacional vasados nos moldes do partido conservador”(COELHO E CAMPOS,
1877, p.4).
Neste discurso mostrou-se favorável à Constituição política do Império,
caracterizando-a como “lei das leis”(p.5). Usou o “jus gairitium” dos Romanos, para falar
sobre o Direito natural aplicado ao Estado, e o direito do cidadão de intervir nos negócios
do seu município e de sua província, como bases de uma descentralização administrativa.
Ao citar as reformas realizadas e as propostas para este período, se colocou a favor de um
dos projetos concernentes à instrução pública, que iria satisfazer
uma necessidade sentida desde os tempos do primeiro reinado, da criação
de uma Universidade, e lançando fundamentos de uma reforma do ensino
secundário, não composto, como até hoje, simplesmente de estudos
clássicos, mas antes de tudo, principalmente do ensino profissional, como
aquele mais adaptado às condições ordinárias da vida prática do cidadão.
(COELHO E CAMPOS, 1877, p.9).

Ele foi um crítico da educação brasileira pautada no simples “abc” e no ensino


propedêutico. Seu posicionamento, a favor do ensino profissionalizante, gerou apartes e
apoios nesta Câmara, nas seguintes personalidades: Martim Francisco, Gusmão Lobo,
Cardoso de Menezes, Marcolino Moura, Pinto Lima, Esperidião, Andrade Figueira, F.
Belisário, Souza França, dentre outros.
Na tribuna de 1887, sobre o Orçamento da Agricultura, Coelho e Campos continuou
apontando os problemas brasileiros, com a ênfase que estava “despreocupado de qualquer
sentimento político ou paixão partidária, visando somente o interesse público, sob o ponto
de vista da riqueza nacional” (COELHO E CAMPOS, 1887, p.3).
Assim, ao longo da fala, colocou-se a favor do voto direto e pelo auxílio do governo
à indústria. Denunciou os problemas da lavoura de cana e afirmou ter respaldo no assunto,
por ser conhecedor das técnicas deste cultivo, pelo fato de ter nascido e se criado em um
engenho. Segundo ele,
por minha parte, senhores, natural dessa importante zona calcárea do
Império, onde a lavoura da cana é a principal indústria; filho e eleito de
uma província quase exclusivamente açucareira; membro de uma família
que por si e seus antepassados tem feito profissão constante dos seus
engenhos de açúcar, venho hoje [...] para ver se é possível, por via de
recursos que não lhe foram prestados, levar o conforto a esperança e a vida
a essa indústria [...]. (COELHO E CAMPOS, 1887, p.14).

Para ele, era necessário ter melhores métodos de cultura, maquinismos modernos,
profissionais qualificados e incentivos para aprimorar as técnicas empregadas na
agricultura. E isso só seria possível através do ensino profissional. Segundo ele,
O que há é que, em vez do ensino oficial, pretende-se o ensino pelos pais de
família, deixado à iniciativa particular. Senhores, sabemos todos o que
fizeram os nossos antepassados; preferiram a educação literária dos seus
filhos; em vez da instrução profissional ou agrícola, queriam ter filhos
cavalheiros, doutores [...]. (COELHO E CAMPOS, 1887, p.34).

Estas conclusões foram tomadas por ele, após analisar a agricultura dos Estados
Unidos, França, Inglaterra, Rússia, Alemanha, Holanda, Cuba, dentre outros, percebendo
que o sucesso da produção destes locais devia-se às políticas de incentivo à lavoura e ao
investimento na educação profissional. Assim, afirmou no discurso: “a nova ordem de
coisas impõe-nos diversa norma; o ensino profissional é um poderoso fator – saber é
poder!”(COELHO E CAMPOS, 1887, p.35).
Neste ponto do debate, teve o apoio e apartes dos Srs. Ratisbona, Jaguaribe Filho,
Junqueira Ayres, José Marcellino e Andrade Figueira. Este último foi contrário ao ensino
profissionalizante, tão defendido por Coelho e Campos. Para Figueira (1887), “o melhor é
acabar com esses estabelecimentos. Quem quiser aprender agricultura aprenda a sua
custa”(p.38).
Coelho e Campos (1887) contra-argumentou, e disse: “mas, então – quem quiser
estudar direito, medicina, matemáticas, estude à sua custa” (p.38). Essa atitude ousada
provocou apartes na Câmara.
Esse debate era pertinente, pois, nas primeiras décadas republicanas, apenas o
ensino superior era de responsabilidade do governo federal, ficando os demais níveis de
ensino dependentes de cada Secretaria de Estado. A legislação da escola pública primária,
instituída em novembro de 1890, estabelecia a gratuidade e a instrução laica, mas não tinha
uma obrigatoriedade. Ela possuía a característica enciclopédica, tão criticada por Coelho e
Campos. Segundo Veiga,
Assim como no Rio de Janeiro, o currículo das escolas primárias de São
Paulo era enciclopédico e se organizava de forma graduada [...]. O que
havia de comum nesse nível de ensino, nos primeiros anos da República,
era o método indutivo, as “lições de coisas” e a organização das aulas em
séries graduadas de acordo com a idade e o aproveitamento. (VEIGA, 2007,
p.242).

Coelho e Campos mostrou-se tão preocupado com a educação de Sergipe, que


deixou no seu testamento dois registros em prol desta causa. A primeira, foi a doação da
sua casa em Capela para a instalação de um grupo Escolar; e a segunda, foi a quantia
deixada de 300 contos de réis para a construção em Aracaju de um Liceu de Artes e Ofícios
ou de um Instituto de Ensino Profissionalizante, como preferisse o Governo do Estado
naquele momento. Segundo Rolemberg (1957), Coelho e Campos, “distinguiu-se pela
dedicação à causa do ensino. Grande conhecedor das necessidades da Província, sabia
perfeitamente quais as localidades que mais precisavam de escolas [...]”(p.138).
A partir destas doações, foram tomadas as providências para a realização dos
últimos desejos de Coelho e Campos. Na sua casa, foi instalado o Grupo Escolar Coelho e
Campos, criado pelo decreto 679, de 30 de setembro de 1918, durante o governo do
General Oliveira Valadão, mas inaugurado na gestão de Pereira Lobo. Para o
funcionamento do Grupo, foi necessário adaptar as instalações da casa. Segundo Cruz,
O edifício mantinha características da arquitetura colonial, apesar de ter
sofrido adaptações internas para o funcionamento de uma instituição
escolar. (CRUZ, 2002, p.14)

Sobre a casa de Coelho e Campos, afirma Moura (2008) que era ampla e bonita,
“tinha dois pavimentos, o terreno e o sobrado, sua parte frontal tinha onze janelas e uma
porta, formato arquitetônico arrojado, fachada em decorações de alto relevo, bem
trabalhada ao estilo francês do século XIX” (p.6).
O destino da outra doação foi a criação do Instituto Profissional Coelho e Campos,
em 1922, no Governo de Pereira Lobo, com o intuito de capacitar jovens, de ambos os
sexos, para as artes e os ofícios necessários à época. Esse Instituto foi fruto do desejo de
Coelho e Campos, de ter uma escola profissionalizante no Estado para melhorar as técnicas
agrícolas. Segundo Rolemberg, ex-professora desta instituição, o
Instituto Profissional, Escola Industrial ou Escola de Aprendizagem, será
sempre “Coelho e Campos” e por ela passou, passa e passará legiões de
aprendizes, que transformados em operários qualificados, hão de engrossar
as fileiras dos que desejam realmente a independência, a liberdade e a paz
do Brasil só adquirida pela sua industrialização. (ROLEMBERG, 1957,
p.163).

Coelho e Campos ao longo dos seus mandatos, participou de momentos importantes


para o Brasil, como a sessão de 8 de maio de 1888. Nela, votou e assinou a emenda
apresentada para a “Lei Áurea”. Não que fosse um abolucionista, mas acreditava que era
mais fácil abolir o trabalho servil, do que conservá-lo. Nas suas palavras:
Votei, porque, como a própria lei o diz, não se tratava senão de declarar um
fato já quase existente [...]. Votei, porque, em geral, o que restava era a
insubordinação, a perturbação, a desordem no trabalho e por toda a parte
[...]. A lei de 13 de maio é, antes de tudo, uma lei de ordem. (COELHO E
CAMPOS, 2 de julho de 1888, p.9).

Na sua concepção, esta lei agravou as condições da lavoura no Brasil, e por isso, era
necessário que o país tomasse medidas de facilidade de crédito para amenizar os prejuízos.
Na sessão de 15 de janeiro de 1891, debateu sobre a Religião, o Estado e o
casamento civil, defendendo que “o Estado não pode ser indiferente e menos ateu; e antes,
deve girar em um ambiente moral e religioso”(COELHO E CAMPOS, 1891, p.36).
Seguindo esta linha de raciocínio, acreditava que a escola não poderia existir sem
Deus, porque “não vale a instrução sem a educação, e a educação é a instrução moral, a
religião, a divindade”(COELHO E CAMPOS, 1891, p.49). Apesar dos apartes causados
nos que defendiam que a instrução moral dependia da família, ele não hesitou na
argumentação.
Citou os três métodos de ensino das legilações modernas para comprovar que a
religião estava presente neles. No primeiro, que era o do Chile, da República Argentina e de
Portugal, a religião estava no programa de ensino e na casa escolar; no segundo método, ela
foi excluída do programa, mas permitida aos ministros dos cultos na casa escolar, operante
na Inglaterra, Alemanha, Itália, Suíça, Bélgica, Estados Unidos etc; e no terceiro método, a
instrução religiosa é admitida somente no edifício escolar do ensino secundário.
O projeto brasileiro, por sua vez, estava em desacordo com estes métodos, pois
declarava que nos estabelecimetos públicos o ensino seria leigo, não admitindo o religioso,
em qualquer um dos graus. Para Coelho e Campos (1891), “o legislador brasileiro não deve
fazê-lo [...]. Seria um erro lamentável, de consequência fatais”(p.59).
Após este posicionamento, ele foi perguntado sobre o que achava do voto feminino,
porém, preferiu não cogitar, afirmando apenas, que sua esposa não iria votar. Ao final deste
discurso, Coelho e Campos foi muito cumprimentado e felicitado pela fala, fato que se
repetia na maioria dos debates. Nota-se que, apesar dos apartes, ele sempre era elogiado
pela argumentação e encadeamento das idéias apresentadas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A trajetória de Coelho e Campos está marcada por conflitos e tensões que merecem
ser investigados. De antemão, verifica-se que o sentido de suas conquistas podem ser
percebidos nas suas falas e ações, que estão presentes nos jornais, discursos, dentre outras
formas de registro da memória.

Os temas recorrentes em seus discursos estavam de acordo com os valores de seu


tempo, e sua oratória e argumentação refletiam a formação acadêmica que recebeu em
Ciências Sociais e Jurídicas, pela Faculdade de Direito de Recife. Ao longo de sua atuação,
ele contribuiu para a consolidação do ensino profissionalizante em Sergipe, bem como para
a melhoria das técnicas agrícolas deste Estado.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AMORIM, Simone. Silveira. A trajetória de Alfredo Montes (1848-1906): representações


da configuração do trabalho docente em Sergipe. São Cristóvão: Núcleo de Pós-graduação
em Educação, Universidade Federal de Sergipe, 2006. (Dissertação de Mestrado).

BARRETO, Luiz Antonio. O adeus dos amigos e admiradores. Aracaju: s.n.t., 2007. s/p.

_________. Coelho e Campos no STF. Aracaju: s.n.t., 2007. s/p.

_________. Um político no Império e na República. Aracaju: s.n.t., 2007. s/p.

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