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Região Académica I

◊ Luanda ◊ Bengo ◊
Escola Superior Pedagógica do Bengo
Departamento de Ensino Investigação e Extensão de Ciências Sociais

O PAPEL DAS AUTORIDADES TRADICIONAIS NA ORATURA DOS


DEMBOS QUIBAXI: UMA PERSPECTIVA ANTROPOLÓGICO-
SOCIOCULTURAL E ETNOLÓGICA DO ADULTÉRIO (1975 – 1989)

Monografia apresentada ao Departamento de Ensino, Investigação e Extensão de Ciências Sociais


como requisito para obtenção do título de licenciado em Ensino da História

Autores:
Ângelo Rodrigues
Felisberto Milulo Feliciano
Ismael Francisco Gomes da Silva João

Caxito, Setembro de 2019


Região Académica I
◊ Luanda ◊ Bengo ◊
Escola Superior Pedagógica do Bengo
Departamento de Ensino, Investigação e Extensão de Ciências Sociais

O PAPEL DAS AUTORIDADES TRADICIONAIS NA ORATURA DOS


DEMBOS QUIBAXI: UMA PERSPECTIVA ANTROPOLÓGICO-
SOCIOCULTURAL E ETNOLÓGICA DO ADULTÉRIO (1975 – 1989)

Monografia apresentada ao departamento de ensino, investigação e extensão de ciências sociais


como requisito para obtenção do título de licenciado em ensino da história

Autores:
Ângelo Rodrigues
Felisberto Milulo Feliciano
Ismael Francisco Gomes da Silva João
Orientador:
Msc. Tarcísio Afonso Tchivole

Caxito, Setembro de 2019


DEDICATÓRIA

Dedicamos este trabalho aos nossos queridos


pais:
Rodrigues Nunda e Rosaria Chilombo;
David Feliciano e Ana António Milulo;
Francisco S. João e Paula C. Gomes da Silva.
AGRADECIMENTO

Todo trabalho académico, para a sua concretização, depende da


participação, directa ou indirecta, de um conjunto de pessoas.
Por isso, Agradecemos:
A Deus, por ter-nos feito capazes de elaborar o presente TFC.
Ao Dr. Tarcísio Afonso Tchivole, pela delicadeza, paciência e
competência com que conduziu e orientou este trabalho.
Aos professores da Escola Superior Pedagógica do Bengo, em
especial do Departamento de Ensino, Investigação e Extensão de Ciências Sociais
que contribuíram para a nossa formação académica.
Aos sobas e à Administração Municipal dos Dembos – Quibaxi por se
predispuserem a nos fornecer parte das informações tratadas no trabalho.
Aos familiares e amigos pelo apoio incondicional.
O nosso muito obrigado!
RESUMO

Este trabalho de fim do curso de ensino da História aborda a questão


do papel das autoridades tradicionais na oratura dos Dembos – Quibaxi: Uma
perspectiva antropológico-sociocultural e etnológica do adultério (1975 - 1989).
Versa, designadamente, sobre como esta entidade, entendida como pessoa singular
ou colectiva investida de poder representativo, legitimado pelo povo, junto da
comunidade embasado em costumes e valores consuetudinárias, concebe e aborda
o adultério na região. A pesquisa procura responder a questão: qual o papel das
autoridades tradicionais no quesito do adultério na região de Quibaxi? Tendo por
objectivo principal compreender o papel das autoridades tradicionais na oratura
mediante a sua intervenção no quesito do adultério, operacionalizado através da
fundamentação teórica da pesquisa; descrição dos procedimentos metodológicos e
identificação do papel que a referida entidade desempenha na oratura no quesito do
adultério na referida delimitação espácio-temporal. Por fim, destaca-se que por
constituir uma questão na qual a administração do estado é inoperante, compete as
autoridades tradicionais dar respaldo ao quesito do adultério, assumindo o papel de
legisladores e juízes no âmbito do cumprimento das suas responsabilidades
enquanto líderes comunitários legitimados pelo povo, desempenhando ainda, a par
deste, diferentes papéis, mediante uma estrutura organizacional e funcional
embasada no direito consuetudinário de matriz ideológico-religiosa de cariz animista,
contribuindo na afirmação, preservação e divulgação do património cultural da região
com recurso a oratura.

Palavras-chave: Autoridade tradicional, adultério, Oratura, Dembos-


Quibaxi.
ABSTRACT

This course History teaching end work boards about the paper of the traditional
authorities in Dembos-Quibaxi's oral tradition: An anthropological-sociocultural and
ethnological perspective of the adultery (1975 - 1989). Runs or flow over specifically
about as this entity, understood as singular or collective person lunge of
representative power, legitimated by the people, near the community based in habits
and customary values, conceives and it boards the adultery in the region. The
research search answer the matter: Which the paper of the traditional authorities in
the adultery inquiry in Quibaxi's Region? Having for main goal to comprehend the
paper of the traditional authorities in the oral tradition by means of its intervention in
the adultery inquiry, made possible through the theoretical bases of the research;
Paper methodological procedures and identification description that the referred
entity performs in the oral tradition in the adultery inquiry in the referred delimitation
space-temporal. Finally, it stands out that for constituting a matter in which the state
administration does not act, competes the traditional authorities to give back-up to
the adultery inquiry, taking over legislators' paper and judges in the greeting scope of
her responsibilities while of common use leaders legitimated by the people,
performing yet, for pair of this, different papers, by means of an organized and
functional structure based on customary right of ideological-religious head office
spiritualist, contributing in the affirmation, preservation and divulging of the cultural
pile of the region with resource to the oral tradition.

Words-key: Traditional authority, Adultery, Oral tradition, Dembos-Quibaxi.


SIGLAS E ABREVIATURAS

CIC – Catecismo da Igreja Católica


CRA – Constituição da República de Angola
HISBENGO – História do Bengo
MAT – Ministério da Administração do Território
MPLA – Movimento Popular de Libertação de Angola
ONGS – Organizações Não Governamentais
PNUD – Programa das Nações Unidas Para o Desenvolvimento
TFC – Trabalho de Fim do Curso
ÍNDICE
DEDICATÓRIA...............................................................................................................I

AGRADECIMENTO.......................................................................................................II

RESUMO......................................................................................................................III

ABSTRACT..................................................................................................................IV

SIGLAS E ABREVIATURAS.........................................................................................V

INTRODUÇÃO..............................................................................................................8

CAPÍTULO I – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA..........................................................11

1.1. ESTADO DA ARTE............................................................................................11

1.2. AUTORIDADE TRADICIONAL............................................................................14

1.2.1. AUTORIDADE TRADICIONAL NA PERPECTIVA ANTROPOLÓGICO-


SOCIOCULTURAL......................................................................................................17

CAPÍTULO II – METODOLOGIA................................................................................19

2.1. TIPO DE PESQUISA............................................................................................19

2.2. POPULAÇÃO E AMOSTRA.................................................................................19

2.3. INSTRUMENTOS DE RECOLHA DE DADOS....................................................20

CAPÍTULO III – O PAPEL DAS AUTORIDADES TRADICIONAIS NA ORATURA NO


QUESITO DO ADULTÉRIO NA REGIÃO DOS DEMBOS-QUIBAXE........................21

3.1. ENQUADRAMENTO HISTÓRICO DO PAPEL DA AUTORIDADE


TRADICIONAL..............……………………………………………………………………21

3.2. ENQUADRAMENTO GEOGRÁFICO, POLÍTICO-ADMINISTRATIVO...............23

3.3. AS AUTORIDADES TRADICIONAIS NA REGIÃO DOS DEMBOS QUIBAXI....24

3.4. ORGANIZAÇÃO POLITICA E FUNÇÃO DAS AUTORIDADES TRADICIONAIS


NOS DEMBOS QUIBAXE E SUA HIERARQUIZAÇÃO.............................................25

3.5. O CASO DO ADULTÉRIO...................................................................................29

3.5.1. CONCEPÇÃO DO ADULTERIO NA REGIÃO. ................................................31

3.5.2. AS PRINCIPAIS CAUSAS DO ADULTEIRO NESSA REGIÃO.......................32

3.5.3. CONSEQUÊNCIAS DO ADULTÉRIO..............................................................33


3.5.4. DINAMICA DO AUTORIDADE TRADICIONAL NA ABORDAGEM DO
ADULTÉRIO................................................................................................................34

3.5.5. DINAMICA DO PROCESSO JUDICIAL DAS AUTORIDADES TRADICIONAL.


37

3.5.6. ELEMENTOS JURíDICOS................................................................................38

3.5.7. PENAS APLICADAS.........................................................................................39

3.6. APLICAÇÃO DIDÁCTICO-PEDAGÓGICA..........................................................39

CONCLUSÃO..............................................................................................................41

BIBLIOGRAFIA...........................................................................................................42

ANEXOS......................................................................................................................45
INTRODUÇÃO

Desde 2002 que Angola tem vindo a realizar, através do Ministério da


Administração do Território (MAT), encontros sobre as autoridades tradicionais em
Angola (Poulson, 2009). Porém no âmbito da desconcentração e descentralização
administrativa o executivo angolano colocou em consulta pública seis propostas de
leis referentes ao pacote legislativo autárquico, suscitando, sobretudo nos fóruns
académicos questões referentes a matéria do lugar das autoridades tradicionais, na
medida em que a CRA prevê esta entidade como um dos elementos constituintes do
poder local (Poulson, 2018).
É neste âmbito que, no quadro da conclusão da licenciatura em ensino
de História nos propusemos abordar o papel das autoridades tradicionais na oratura
dos Dembos – Quibaxi: uma perspectiva antropológico-sociocultural e etnológica do
adultério (1975 – 1989), tendo em vista os objectivos do Projecto de Investigação da
História do Bengo (HISBENGO): Sistematizar a história sociocultural e política do
Bengo; Catalogar, estudar, aprofundar e divulgar o conhecimento dos aspectos
relacionados com a evolução da história do Bengo, tendo como problemática a
seguinte questão principal: qual o papel das autoridades tradicionais no quesito do
adultério na região de Quibaxi?
Por esta razão, temos como objecto de estudo e campo de acção o
papel da autoridade tradicional na região dos Dembos-Quibaxi, respectivamente,
pelo facto dos estudos científicos no âmbito da antropologia cultural e social serem
quase irrisórios [ CITATION Dav97 \l 1046 ].
A delimitação do estudo corresponde ao período de 1975 a 1989.
1975 – Porque marca uma nova era, com grandes expectativas em
relação a reafirmação do poder da autoridade tradicional e seu consequente papel
dentro das comunidades.
1989 – Porque neste período assiste-se o reposicionamento das
autoridades tradicionais como resposta às pressões sociais ocorridas no país,
devido a ineficiências do estado em determinadas regiões do país na abordagem
das mais variadas questões sociais (PNUD e MAT, 2003).
Esta pesquisa tem como principal objectivo, compreender o papel das
autoridades tradicionais na oratura mediante a sua intervenção no quesito do
adultério. Para sua operacionalização definiu-se como objectivos específicos:

8
fundamentar teoricamente a pesquisa; descrever os procedimentos metodológicos;
apresentar a narrativa do impacto das acções realizadas pelas autoridades
tradicionais no quesito do adultério em Quibaxi.
Como respostas prováveis ao problema levantado, formularam-se as
seguintes hipóteses:
_ Por constituir uma questão na qual a administração do estado é
inoperante, compete as autoridades tradicionais abordá-lo assumindo o papel de
legisladores e juízes comunitários;
_ Por constituir um litígio doloso com consequências nefastas para a
comunidade, a intervenção da autoridade tradicional ante o adultério é necessária no
âmbito do cumprimento das suas responsabilidades enquanto líderes comunitários
legitimados pelo povo.
A relevância desta pesquisa justifica-se pela sua originalidade, pois, até
então, não se tem conhecimento de nenhuma investigação sobre o papel das
autoridades tradicionais no quesito do adultério na região dos Dembos – Quibaxi.
Sendo assim, procurou-se trazer uma abordagem sobre as particularidades do papel
desempenhado por esta entidade nesta região através do quesito do adultério com
recurso às fontes orais.
O recurso as fontes orais prende-se à carência de referências
bibliográficas sobre o tema, pois entre outros autores que escreveram sobre a
autoridade tradicional tais como: Raul Altuna, Justina Carlos Miguel, Carlos Feijó,
Cremildo Paca e Lazarino Poulson, fica em aberto, em suas obras, uma abordagem
detalhada em relação ao tema desta pesquisa, ou seja, não há evidências de uma
abordagem científica exaustiva em relação ao papel que essas entidades
desempenham no seio comunitário, o que conduziu, deste modo, à elaboração de
parte do TFC mediante fontes orais.
Ademais, o presente estudo surge na perspectiva de um contributo
para a valorização e resgate da história de todos, que no quadro da produção
historiográfica de Angola, não são compreendidos como sujeitos históricos, em
detrimento de uma narrativa e ensino voltado para grandes feitos, figuras heroicas e
datas comemorativas “relevantes”, fundamentada nos preceitos da Escola Metódica
ou positivista.

9
“As escolas históricas representam as maneiras como os historiadores
pensam, como formulam seus trabalhos de pesquisa e como constroem o próprio
conhecimento histórico” (Canabarro, 2008, p. 41).
Preocupada com a concepção de todos como sujeitos da História e em
oposição ao paradigma historiográfico supracitado destaca-se a Escola dos Annales,
privilegiado para justificar esta pesquisa, pela preocupação em relação ao estudo da
totalidade. A Escola dos Annales “Vem influenciando várias gerações de
historiadores que buscam compreender a História em suas múltiplas dimensões de
abordagem” (Canabarro, 2008, p.79)
Deste modo, torna-se claro o compromisso da Escola dos Annales com
a construção de uma visão interdisciplinar da história, o rompimento em relação aos
modelos tradicionais de periodização, o alargamento das fontes e o mais importante,
a preocupação com a totalidade na construção do saber histórico – entende-se, por
conseguinte, ser neste aspecto onde se enquadra o tema proposto neste TFC.
Para a realização da pesquisa optou-se pelo tipo qualitativo com
adopção dos métodos de pesquisa bibliográfica, monográfico, etnográfico e
histórico, operacionalizados mediante as técnicas de entrevista, questionário e
fichamento.
O presente trabalho está estruturado em três capítulos. O primeiro foi
reservado a fundamentação teórica – revisão bibliográfica sobre os principais
conceitos que compõem o tema (autoridade tradicional e oratura). O segundo
descreve os procedimentos metodológicos adoptados na prossecução da pesquisa.
Por fim, no terceiro trata da narrativa do papel das autoridades tradicionais no
quesito do adultério em Quibaxi.

10
CAPÍTULO I – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

1.1. ESTADO DA ARTE

Tendo-se realizado inúmeros trabalhos de investigação que visam


abordar o património cultural imaterial de acordo com a definição expressa no artigo
2º/1 da convenção da Unesco de 2002 entende-se por:

Património cultural imaterial, as praticas, representações,


expressões e aptidões bem como os instrumentos, objecto,
artefactos e espaços culturais que lhes estão bem associados que
as comunidades, os grupos e sendo o caso, os indivíduos
reconhecem como fazendo parte integrante do seu património
cultural, transmitindo de geração a geração é constantemente
recriado pelas comunidades e grupos em função do seu meio, da
sua interação com a natureza e da sua historia incentivando-lhes um
sentimento de identidade e de continuidade, contribuindo desse
modo para a promoção do respeito pela diversidade cultural e pela
criatividade humana.

Abordar o papel das autoridades tradicionais na resolução de conflitos


não constitui a invenção da roda ou da pólvora, porém, surge a necessidade de
fundamentá-lo com base nas informações já existentes, ou seja “conteúdos que
abordem os [conceitos] básicos do [seu] tema ou assunto” (Quintela, s. d.). Para o
efeito, privilegiou-se os trabalhos de Miguel (2014), Feijó (2012), Poulson (2009),
Florêncio (2010), Neto (2002), Altuna (2014) e Laurindo (2006), por abordarem
conteúdos relacionados com o tema deste trabalho.
As autoridades tradicionais são pessoas colectivas de substrato cultural
que se traduzem em estrutura organizativa forjada ao longo dos tempos, pré-
estatais, emanam da realidade histórica, cultural, sociológica e antropológica típica
de países africanos (Feijó,2007).

As autoridades tradicionais são pessoas singulares ou instituições


investida de poder de autoridade junto das comunidades, fundadas

11
nos usos e costumes, no resgates e consolidação das identidade
nacional fazendo cumprir os costumes, dirimir conflitos ou litígios
levando a sua jurisdição, acalmando as populações em casos de
caça queimada, distribuição de terrenos comunitários, resolução de
fenómenos naturais, como a seca cheia e outras calamidades.
(entrevista ao governo Provincial do Cunene, 04 de novembro de
2013).

Rouveray Van-Nieuwaal que tem assumido um lugar de destaque pelos


seus impulsos teóricos sobre o estudo das autoridades tradicionais em África. As
preposições teóricas deste autor caminham sobretudo no sentido e realçar o papel
de intermediário que as autoridades tradicionais têm desempenhado desde a época
colonial, entre o estado e as populações.
Este lugar privilegiado de intermediação deriva, em grande medida do
facto das autoridades tradicionais ocuparem um papel relevante enquanto elo de
ligação entre o passado, presente e futuro.
O autor sublinha e com razão, que esse papel de intermediário entre o
estado e as populações constitui uma das características mais proeminentes das
autoridades tradicionais.
De acordo com Marques Guedes, o estado angolano já sentia a
necessidade de incorporar as autoridades tradicionais no processo de controlo do
território e das populações, desde o final da década de 1980 (Guedes, 2007, p. 31).
O estado angolano pretendia enquadrar as autoridades tradicionais e
que ficou bem expressa no relatório de 1996 realizado a pedido do MAT e
coordenado por André Sunda Dialamikua. Nesse relatório assume-se claramente a
necessidade de enquadrar as autoridades tradicionais angolanas debaixo da alçada
da administração central, pois como o autor afirmou:

A necessidade de enquadrar, integrar e modernizar as autoridades


tradicionais, reconhece-las, respeitá-las e torna-la mais adequada e
operacionais, constituem um assunto ao qual a política
administrativa e o saber científico nacional não pode e nem deve
escapar (Dialamikua, 1996, p. 1)

12
Por outro lado Florêncio afirmou que as autoridades tradicionais têm
jogado um relevante papel, por um lado de intermediário do estado ao nível local,
mas por outro de concorrer em termos da sua condição de reguladores das ordens
jurídicas ligados ao adultério.
Olhando por exemplo para a comuna do Luvemba 1, as autoridades
tradicionais acabaram por desempenhar um papel jurídico fundamental sobretudo a
nível comunal, estando tal como no passado colonial autorizada a resolver pequenos
casos nos seus tribunais de ecanga 2, tais como adultérios, pequenos furtos e
feitiçaria, etc. Outro tipo de crime com violação, crime de sangue, agressões
violentas e homicídio devem ser encaminhados para a administração comunal que
por sua ver reencaminha para a polícia comunal (in Ebin 2004 - 03).
As autoridades tradicionais na era colonial, competia-lhe a resolução
de conflitos internos na perspectiva comunitária, cabendo comunicar a administração
colonial toda situação que ocorresse e possível resolução através de conselho de
ancioes (Feijó. 2012, p. 207 – 218).
O “soba grande” (citado por Florêncio 2002.p14) do município da
jamba, Pedro Domingo disse que muitos estão a valorizar o poder tradicional, uma
vez que os sobas deve resolver situações de adultério, acusações de feitiçaria e
roubo de gado.
Jonh Copans apesar de ser evidente que o mundo rural africano tem
sofrido desde os tempos coloniais, as autoridades tradicionais participavam
activamente em processo com a apropriação individual de distribuição de terras
(Copans, 2007, p. 34)
Nas abordagens desses autores consegue-se perceber que as
autoridades tradicionais tenham desempenhando papeis tais como: de intermediário
entre o estado e as populações, juízes na resolução de conflitos a níveis comunitário
como: pequenos furtos, feitiçaria, roubo de gado, distribuição de terreno, adultério
etc.
Mais para a materialização do nosso estudo procuramos enquadrar na
perspectiva de Poulson (2009) e de Florêncio (2010) que realçou o papel das
autoridades tradicionais tanto como intermediário a nível local, como regulador da
ordem jurídica ligado ao adultério, encarando como um crime, pois na perspectiva de

1
Região do bailundo
2
O termo Umbundo que designa tipo de tribunais das autoridades tradicionais.
13
outros autores o adultério é visto como uma prática condenada, como afirma
Glasman:

A pratica do adultério na antiga sociedade judaica era condenada e


vista como uma ameaça á integridade moral do individuo e à
preservação de Israel como uma “nação sagrada”. Proibição taxativa
do 7º mandamento do Decálogo: “ não cometeras adultério” era
reforçada pela advertência do decimo “ Não cobiçaras a mulher do
próximo” (EX. 20.2-17 e Dt.5.6-21). (GLASMAN, 2001,p52).

Por essas abordagens teóricas nos permitiu procurar perceber de como


as autoridades tradicionais resolviam casos ligados ao adultério, nas áreas sobre
sua jurisdição, neste caso na região dos Dembos Quibaxi.

1.2. AUTORIDADE TRADICIONAL

A abordagem deste tópico remete-nos, a priori, à conceitualização de


Autoridade e tradicional.
A palavra autoridade deriva do latim “auctoritate” que significa “direito
ou poder de mandar” (Borba, Ignácio, e Viaro, 2012). Várias são as definições
existentes sobre autoridade, porém priorizou-se a apresentada por Max Weber, que
a define como a probabilidade do estabelecimento de uma ordem embasada na
obediência pelo facto de entender-se que, em termos práticos, esta ordem significa o
direito ou poder de mandar de uns (minoria) sobre outros (maioria).
Em vista disso, a definição de autoridade tradicional pode ser analisada
na perspectiva de duas correntes:
1. Aquela que a concebe como pessoas colectivas ou entidades
culturais (defendida por Feijó, Paca e Mata):
a) “Tendo em conta a realidade histórica e cultural do país”
autoridades tradicionais “são consideradas como entidades culturais, líderes
comunitários, órgão representativo das comunidades” (MAT, 2012).
2. Aquela que a concebe como pessoas singulares ou instituições
investidas de poder (advogadas por Florêncio e João pinto):

14
A expressão autoridade tradicional compreende os indivíduos e
instituições do poder político que regulam a organização do modelo
de produção social da sociedade tradicional. Entidades que
participam nas estruturas formais e institucionais, na formação de
normas e decisões sobre a vida social da comunidade e dos seus
membros. (Florêncio, 2010)

João Pinto entende autoridade tradicional como sendo “as pessoas


singulares ou instituições investidas de poder de autoridade junto das comunidades,
fundadas nos usos e costumes” (citado por Poulson, 2009).
Observa-se, nas definições supracitadas, elementos como o
fundamento, a natureza epistemológica, a origem e a função do definido, porém, é
também notório algumas insuficiências com destaque para a descrição do tipo de
poder exercido.
Todavia, identificamo-nos com a segunda corrente pela caracterização
que faz da autoridade tradicional. Com isso não se pretende dizer que tais definições
sejam completas, mas próximas à realidade organizacional e funcional do definido
como se verá A posteriori.
Dentre os múltiplos papéis desempenhados pelas instituições do poder
tradicional interessa-nos estudar o relacionado ao quesito do adultério. Porém, no
quadro da justificação do seu papel em sociedade, as autoridades tradicionais se
debelam com determinadas questões.
Dentre as questões que se colocam, entende-se que a principal seja
em relação à “modernidade” que trouxe consigo aquilo que Hobsbawn (citado por
Viana, 2016) denominou “culturas inventadas” – uma ruptura ao que é tradicional,
embora algumas sociedades tenham primado pela preservação dos valores culturais
consuetudinários. No entanto, tal como afirma A. Hampate-Bâ 3, em África a
modernidade4, de modo genérico, rompeu com o que é tradicional.

O grande problema, para a África moderna, está em primeiro lugar


em saber reconhecer por si mesmo essa cultura tradicional, a fim de
passar a dedicar-se a inventariá-la para melhor poder definir a sua

3
A. Hampate-Bâ «Cultura tradicional e transformações sociais» estudos publicados em jornais e os
valores culturais africanos, pp.35-49.
4

15
natureza e seu valor essencial, e depois pôr essa cultura ao alicerce
de todos aqueles que romperam com os usos hermenêuticos em
vigor nos centros iniciativos.

No âmbito constitucional angolano, as autoridades tradicionais são


reconhecidas pelo estado e respeitadas pelas entidades públicas e privadas nas
relações por estas instituições estabelecidas. Porém, torna-se necessário referir que
este reconhecimento conferido pelo estado a luz da constituição é em relação a
instituição do poder tradicional e não a pessoa física (CRA, 2010).
Sobre as atribuições, competências e organização das autoridades
tradicionais apesar de a CRA referir que “são regulados por lei” é evidente, no art..º.
225.º a lacuna existente em relação a descrição de tais competências, atribuições e
formas ou modelo de organização das mesmas nos termos da lei.
Como fora referenciado, esta entidade tem, actualmente, o
reconhecimento do estado, porém quer a legitimidade do seu poder, quer a
exequibilidade das suas funções ou papel circunscreve-se apenas às regiões e aos
domínios nos quais a administração do estado é inoperante. Neto (citado por Miguel,
2014) refere:

[…] É em muitos casos, sobretudo lá onde o estado é inoperante ou


quase inexistente, muitos ou alguns deles são ainda a autoridade
respeitada e considerada legítima, detendo uma capacidade de
intervenção e organização social que não pode ser desprezada
nem ignorada. (p. 22)

Para que não se ignore ou despreze esta entidade, torna-se


fundamental destacar o papel que exerce no seio comunitário. Dentre os papéis que
desempenham destacam-se:
a) Intermediários do estado a nível local em matéria de regulação da
ordem jurídica;
b) Papel jurídico na resolução de pequenos casos de desvio da
conduta e da norma de convivência social estabelecida pelo direito
costumeiro;

16
c) Protectores do manancial histórico e cultural da sociedade
tradicional;
d) Legislador e defensor do povo em matéria de natureza comunitária.

1.3. PERSPECTIVA ANTROPOLÓGIO-SOCIOCULTURAL DA AUTORIDADE


TRADICIONAL

1.3.1. Autoridade Tradicional na Perpectiva Sociocultural

Segundo Mary Douglas (citada por Shorter, 1998) na sociedade as


relações estabelecidas assumem duas formas importantes: rede/grade – uma
estrutura egocêntrica de relações engrenadas entre indivíduos e Grupos – um
relacionamento de indivíduos fundado em um factor comum.
Entende-se que a autoridade tradicional – enquanto ente individual ou
colectiva, como fora anteriormente referenciado – deve, na perspectiva sociocultural,
ser encarada a luz da dimensão que o homem ostenta no plano da sua existência
diferente dos demais seres vivos. Deste modo, esta perspectiva pressupõe encarar
o homem como produtor e produto da cultura e da sociedade.
Segundo Imbamba (2010) “a cultura é uma propriedade só do homem,
pelo homem e para o homem, porque é ela que faz dele um ser especialmente
humano […] é ela que faz dele um ser cultural” (p.27). A isso, Mondim (citado por
Imbamba, 2010) refere que “grande parte do que nós possuímos e fazemos desde
crianças não é fruto da natureza, mas sim da cultura”. Não obstante a compreensão
do homem enquanto ser de múltiplos domínios, a sua dimensão cultural é uma das
que sobressai.
A cultura na vida do homem [autoridade tradicional] desempenha
função produtora e transformadora na produção do modelo social.

Não é um vestido que se possa pôr ou tirar a bel-prazer […] mas é


algo próprio do homem: esta faz parte da natureza humana, é um
elemento constitutivo da sua essência. Sem a cultura, não é possível
nem a pessoa singular nem o grupo social. (Mondim apud.
Imbamba, 2010, p.29)

17
Na abordagem da cultura sobressai, como expoente máximo, Edward
Burnett Tylor (citado por Imbamba, 2010) que define cultura como sendo “aquele
complexo conjunto, aquela totalidade que compreende o conhecimento, as crenças,
a arte, a moral, o direito, o costume e qualquer outra capacidade e hábito adquirido
pelo homem enquanto membro de uma sociedade” (p.33).
Da definição de cultura supracitada pode-se extrair como principais
elementos os seguintes: Constitui um fenómeno humano e social, dinâmico-dialógico
e histórico.
Todos concordam, portanto que a cultura é o produto especial e
exclusivo do homem, é a vida de um povo, em fim é a forma duma sociedade porque
“uma sociedade sem cultura é uma sociedade sem forma, ou seja, um aglomerado
ou coleção de indivíduos mantidos forçadamente juntos pelas necessidades do
momento; enquanto que na robusta é uma cultura tanto mais cabalmente esta
informa a sociedade e transforma o diverso material humano de que é composta”.
“Uma nação, um povo constitui-se em comunidade social graças a sua unidade
cultural. É o que de mais profundo existe na alma de um povo, por isso a cultura é a
forma espiritual da sociedade” (Imbamba, 2010)
A antropologia cultural concorre para um único fim: a humanização
contínua do próprio homem e da sociedade onde vive.
Como se viu, alguns autores concebem, de forma acertada, a
autoridade tradicional como uma entidade de substracto cultural. No entanto importa
destacar que as questões de domínio cultural têm respaldo epistemológico na
antropologia cultural que tem por objecto “a cultura” e esta, por conseguinte, é
intrínseca ao homem.

1.4.2. Autoridade Tradicional na Perspectiva Antropológica

“A antropologia cultural concorre para um único fim: a humanização contínua do


próprio homem e da sociedade onde vive” (Imbamba, 2010).

Etnografia – descrição sistemática das culturas. A primeira fase do


estudo antropológico, ou seja, o trabalho de campo. Nesta etapa os
dados são produzidos pela observação direta de uma sociedade in
situ.
18
Etnologia – primeiro passo em direção à síntese. Os dados
levantados em trabalhos de campo são analisados e cruzados,
buscando formar um conhecimento mais abrangente sobre uma
determinada sociedade. No Brasil o termo “etnologia” é associado ao
estudo das etnias indígenas. Contudo, em alguns países a etnologia
é voltada para ao registro dos saberes e fazeres tradicionais, em
uma estreita relação com o folclore.
Antropologia – último estágio, passo final em direção à síntese com
base nas conclusões obtidas pela Etnografia e pela Etnologia. Dessa
forma é possível construir um conhecimento lato sensu acerca das
culturas humanas, conhecimento que integra as matérias lecionadas
nas escolas e universidades. (p. 6)

19
CAPÍTULO II – METODOLOGIA

2.1. TIPO DE PESQUISA

Atendendo a especificidade do tema, o[ CITATION Ald99 \l 2070 ] tipo


de investigação adotado foi o qualitativo por este possibilitar a obtenção de dados
descritivos sobre as autoridades tradicionais na região estudada mediante o
contacto obtido entre pesquisador e pesquisado procurando compreender o
fenómeno segundo a perspetiva deste último para atender aos objectivos e
finalidades da pesquisa, (Godoy Citado por mazzotti, 1999).
Desenvolveu-se também uma pesquisa bibliográfica abrangendo o
tema proposto. Lura (1999) define a pesquisa bibliográfica como um apanhado sobre
os principais trabalhos científicos já realizados sobre o tema escolhido capaz de
fornecer dados actuais e relevantes.
Também procuramos utilizar a metodologia do tipo descritivo e
exploratório, que permitiu observar e registrar o facto estudado sem interferência do
pesquisador, e cujo registro não foram documentados, (Carmo e Berviam, 2006).
O método histórico permitiu-nos fazer uma análise directa de como as
autoridades tradicionais tiveram as suas influências nas sociedades do passado,
este método também aborda as questões de natureza temporal (factos passados) e
faceta cronológica.

2.2. POPULAÇÃO E AMOSTRA

A população é o universo de estudo, no qual se apresentam as


características que se deseja estudar de forma a generalizar o resultado do estudo
(Alvarenga,2012).Para a presente investigação tivemos uma população de quarenta
e quatro autoridades tradicionais.
A amostra é a representatividade da população da qual se pretende
recolher informação (Alvarenga, 2012). A presente investigação conta como uma
amostra de sete autoridade tradicional, dentre os quais consta: três sobas, um
mwene mbagi, dois mwene Massa e um secretário.

20
2.3. INSTRUMENTOS DE RECOLHA DE DADOS

Nesta etapa definirmos onde e como será realizado a pesquisa


mediante a descrição detalhada das fases, seus métodos e técnicas bem como os
instrumentos a serem empregues para o levantamento de dados e análises dos
resultados, tais como: questionário, entrevista, diário de campo.
As técnicas metodológicas foram a observação sistemática dos
participantes, as entrevistas, as pesquisas bibliográficas e as análises documento

2.4. ANÁLISE DOS DADOS

Foram primeiramente analisados documentos relacionados ao tema


existente em bibliotecas, on-line, esta documentação foi analisada tendo em vista a
delimitação, a produção do enquadramento teórico e metodológico. no terreno foram
realizados entrevista junto da administração local, e também foram realizados
entrevista em alguns membros de cargo de direção e chefia a nível do município e
ao público em geral.
A organização do trabalho de pesquisa inicia-se pela análise
documental, em seguida as entrevista as autoridades tradicionais do município
existente desde 1975 ate os dias de hoje, a sociedade civil e outras individualidades
conhecedora da matéria a nível local. E que também implicou a realização de um
questionário previamente concebido.
A temática deste trabalho é bastante actual, mais devido a escassez de
documentação em algumas instituições implicou que o trabalho fosse organizado
sob formato de estudo exploratório.
No decorrer da pesquisa deparamo-nos com inúmeras dificuldade de
certas pessoas fundamentais para colher informações relacionada ao tema e a
cedência de documentação por parte da administração municipal, o que teve
implicações para o trabalho, contudo a persistência levou-nos a que em algumas
situações fosse possível contornar a esta dificuldade.

21
CAPÍTULO III – O PAPEL DAS AUTORIDADES TRADICIONAIS NA ORATURA NO
QUESITO DO ADULTÉRIO NA REGIÃO DOS DEMBOS-QUIBAXE

3.1. ENQUADRAMENTO HISTÓRICO DO PAPEL DA AUTORIDADE


TRADICIONAL

No território que actualmente corresponde Angola, no período pré-


colonial, existiam entidades locais desconcentradas que auxiliavam os reis no
garante da paz e preservação da unidade de vários reinos, politicamente
centralizados.
No reino do congo, por exemplo, havia os manis que de forma
desconcentrada e descentralizada desenvolviam importantes funções
administrativas num dos maiores e mais emblemáticos reinos Pré-coloniais
(Poulson, 2009, p44).
Percebe-se, a prior, que nos reinos pré-coloniais havia poder local
exercido pelas autoridades tradicionais (Manis). Ademais, verifica-se que tais reinos
possuíam características estruturais do tipo feudal – varias entidades, pequenos
reinos ou sobados, vassalos dos grandes reinos.
Assim, as estruturas dos reinos no período que antecedeu a
colonização oferecia um poder local fortemente marcado pela existência de “feudos”,
“reinos (pequenos e fracos) ” ou sobados legitimados pela tradição e que exerciam
poderes administrativos e culturais nas respetivas localidades (Poulson, 2009, p.44)
Corroborando com a linha de pensamento de Poulson, Miguel (2014)
refere que estes reinos eram regidos por “um sistema de filiação ou de linhagem”
originário dos antepassados, o que aproxima de certa maneira as autoridades
tradicionais, de matriz Africana, do regime feudal europeu.
Outros reinos não menos importantes, com forte presença de
autoridade tradicionais, foram: Cassanje, Ndongo, Matamba, Bailundo e Cuanhama
(Miguel, 2014).
Já no período colonial marca um momento indelével uma vez que a
integração das autoridades tradicionais na administração colonial acarretou um
conjunto de mudanças que alterou significativamente a natureza da relação das
instituições com a sua população.

22
Na década de 1930 foram publicados três documentos fundamentais
do colonialismo português: o estatuto político, o civil e criminal dos indígenas. Por
exemplo, o Acto Colonial5 (decreto 18: 570), no título II sobre os indígenas defende-
se a existência de regulamentação e de direito especiais para os indígenas não
assimilados dos seus usos e costumes. (Coimbra, 2008:18).
É no estatuto político, civil e criminal dos indígenas de Angola que
apresenta alguns pontos importantes. Este documento aprofunda o princípio da
separação entre “indígena e não “indígena” como bem elucidado nas palavras de
Adriano Moreira (citado por Florêncio,) “No fenómeno colonial verifica-se
precisamente a circunstância de as sociedades indígenas terem perdido a sua
independência e ficarem politicamente subordinadas a um estado de que passam a
fazer parte integrante” ().
A perda de direitos para os indígenas ficou bem patente no art.7ª do
estatuto político, civil e criminal dos indígenas, que adianta não serem concedidos
aos indígenas direito político em relação a instituições de carácter europeu 6.
A subordinação indígena consuma-se com a criação de tribunais
privativos dos indígenas. Este tribunal regulava as relações jurídicas entre os
“indígenas” (art. 14º) é coadjuvado por duas vogais, e por dois assessores para o
“assuntos costumeiros” que pode ser outro indígena de prestígios e conhecedor das
tradições jurídicas locais (art.15º).
A integração das autoridades tradicionais no aparelho do estado
administrativo colonial, constitui uma componente fundamental do próprio processo
de construção e consolidação do estado colonial.
Trutz von trotha designa esse processo como a criação de uma
“administração chieftaincy” (trotha,1996:20). O autor diz que apesar da pluralidade
das instituições africanas essa “administração chieflaincy” baseou-se em três
princípios: o da devolução, o da hierarquia e o dos distritos administrativos.
Com base esses princípios, marcou o processo de integração das
autoridades tradicionais africanas na administração colonial.
No Período Pós- Independência, Nas sociedades tradicionais africanas
as instituições existiram antes da dominação colonial e perduraram durante o

5
Apesar de publicado pela primeira vez em 1930, o Acto Colonial foi posteriormente revisto, devido a
constituição de 1993, e declarado matéria constitucional.
6
In estatuto político, civil e criminal dos indígenas da guine, angola e Moçambique 1939(1929):10
23
período colonial, com as independências africanas provocou uma alteração profunda
no modelo de relacionamento entre as autoridades tradicionais e o novo estado.
Jacque lombarde procurou encontrar uma relação entre as novas elites
e as autoridades tradicionais, que na maioria dos casos as autoridades tradicionais
eram encaradas pelos novos líderes como símbolo da dominação estrangeira,
auxiliar do colonialismo, e encarado como um encrave para o desenvolvimento
nacional. (lombard,1967:211).
Os chefes tradicionais foram se acomodando ao formato colonial, no
entanto de serem transformando em representante das administrações locais do
estado.
Durante esse período o seu pepel foi ofuscado pela presença do
comité de Acão do MPLA, que assumiu o monopólio do poder político e
administrativo.
Apos a independência o poder tradicional e suas instituições foram
praticamente ignorados pelo poder do estado, não lhe sendo reconhecido
constitucionalmente a sua existência e o seu papel enquanto representantes locais
de um poder politico.
Durante toda a década de 1980, em Angola, no plano normativo as
tentativas de codificar as relações entre o estado e as autoridades tradicionais
complicara-se, o processo recomeçou no ano de 1989, o reposicionamento das
autoridade tradicionais vinha dar respostas a uma variedade de pressões vinda de
diferentes cantos do país.
Os chefes reapareceram em larga medida devido a ineficiência do
estado. Os líderes locais passaram a ser considerados essências para uma efectiva
boa governação (programa das nações unidas para o desenvolvimento e ministério
da administração do território, 2003).

3.2. ENQUADRAMENTO GEOGRÁFICO, POLÍTICO-ADMINISTRATIVO

Dembos é um dos municípios da província do Bengo, tendo por sede a


vila do Quibaxi7, localizada a 132 km de Caxito, capital da província, possuindo uma
extensão 2.44 km². Limitado a Norte pelos municípios de Nambuangongo e de

7
Consultar o mapa em anexo (anexo nº 3).
24
Quitexe, a Leste pelo município de Bula-Atumba, a Sul pelo município de Pango-
Aluquém e a Oeste pelo município do Dande.
Principalmente Entre-os-Rios Dande e Bengo (Zenza), provavelmente
desde o século XVII, viviam povos que possuíam uma organização política e
reconheciam como líder os denominados Dembos 8.
O distrito dos dembos foi desmembrado do Golungo em 1810 ficando
assim a constituir uma regência a parte sob autoridade do Golungo Alto. Só em 1848
– B.O. Nº 18/11/1848, é que o distrito passou a chamar-se província dos dembos.
A região dos Dembos fez outrora parte do distrito do Golungo Alto pela
organização administrativa de 1847 passou a constituir um conselho, mas só uma
pequena parte da margem direita do Zenza confrontando com o conselho do
Golungo Alto.
A organização administrativa de 1857 incluía os Dembos no número de
conselho e pela organização de 1868 eram atribuídas a estes conselhos apenas três
divisões: Nguembe-Hâmbua, Canguenha e Cassotola. A posteriori, a organização
administrativa de 1911 passou a considerar os Dembos como Circunscrição, mas a
de 1913 restabeleceu a capitania fixando a sua sede em Caculo-Cahenda.
A capitania-mor dos Dembos foi transformada em circunscrição, com o
nome de administração da circunscrição dos Dembos em 28 de Julho de 1991, mas
foi instituída em 24 de Setembro de 1991, tendo então, por sede, o local de Quibaxi.
Quibaxi havia sido criado como posto militar dos Dembos por D. L. Distrito 4153, de
1/9/1971 (B.O. 206).
Nos Dembos a divisão administrativa tinha por base os conselhos que
por sua vez se dividiam em fracções mais ou menos correspondentes.

3.3. AS AUTORIDADES TRADICIONAIS NA REGIÃO DOS DEMBOS QUIBAXI.

O dembo é que era proprietário, como amo da terra não podia ir fazer
alguma reunião sem ajuda, foi assim que crio os sobas, os sobas numa aldeia
poderiam fazer ligação entre o estado colonial e o seu povo, mas o soba também
não podiam ir diretamente ao povo, tinha que primeiro transmitir ao dembo para dar
a conhecer ao mwene capita que tem a sua população é assim que os trabalhos de
uns eram executados na região.
8
A palavra Dembos significava que este era subordinado ao rei do Congo exercendo autoridade
militar e administrativa.
25
Dado a este período agora somos independentes, como somos
independentes, insinuamos então a necessidade de formar as autoridades
tradicionais mais uma vez, porque durante essa época da guerra de libertação
quase o direito das autoridades quase havia-se perdido, agora que as actividades
das autoridades tradicionais aumentava cada vez mais, havia necessidade de
organizarem tais autoridades (MATA 2OO2: 56).
A região dos Dembos-Quibaxi compõem aproximadamente 44 aldeias
e cada aldeia tem um soba que controla a sua sanzala, tendo a sua casa como o
seu lumbo e que deve ser sagrado. Todos os finais do meses reúnem-se na capital
na banza (capital), para tratar os assuntos ligados de cada aldeia 9.
Tanto os sobas como o Dembos poderiam ter varias mulheres de
acordo com a sua capacidade.
Todos os que deveriam ser sobas ou Dembos devem ser conhecidos a
sua origem, a sua descendência e os seus pais. O Dembo e maior em relação aos
sobas, e os sobas são maior em relação aos macotas.
O Dembo e o órgão máximo e o soba e o subordinado ao dembo, o
exemplo disso e que o dembo fica na banza e os sobas nas aldeias.
Em relação aos sobas eles tem de ser mesmo da sua aldeia de origem
e o Dembo por mais que vir de uma outra aldeia tem que morar na banza que e a
sua capital.
Durante este período os sobas também eram remunerados pelo estado
e que recebiam uma quantia mínima para o seu sustento que nem cabiam pra nada.
Muito dos sobas também cuidavam das terras para o cultivo e nas suas distribuição
para as populações poderem cultivar, algo também que se notavam nos anos
anteriores, e que os sobas também faziam decolações do bairro, não sabemos se
eram costumeiro também nesse período de estudo.

3.4. ORGANIZAÇÃO POLITICA E FUNÇÃO DAS AUTORIDADES TRADICIONAIS


NOS DEMBOS QUIBAXE E SUA HIERARQUIZAÇÃO.

O Termo Dembos é transversal, pois é um topónimo e


consequentemente um antropónimo, pode se usar para definir o Dembos como um

9
Entrevista realizada ao soba António de São Paulo no dia 15 de julho de 2019.
26
nome de poder, ou seja, é um título dado ao homem que exerce o poder de
autoridade máxima de uma comunidade.
O dembo tem o seu nome particular, por exemplo o atual príncipe dos
dembos chama se António Salvador, anteriormente se chamava de dembos dos
dembos, isto é, dembos que coordena os dembos que posteriormente passou a
ostentar a designação de príncipe.
Em 1952, o Dembo dos dembos vai ao M’Banza congo e com a
formação de tantos dembos recebe a ordem de ser o príncipe dos dembos.
A luz da hierarquização do poder local na região existe diferenças de
dembos, pois existem dembos e existem também dembo grande e também sobas, e
na perspetiva de António Salvador o atual dembo grande dizia:
“O Dembo é a última patente acima dele já não há ninguém, para ser
Dembos dos Dembos primeiramente tem que ser soba e depois pode ser Dembo
dos Dembos”.10
Segundo Américo Tito de 56 anos de idade professor de história do
primeiro ciclo na sua perspetiva abordou da seguinte forma em relação à missão do
dembo grande (príncipe):

A missão do príncipe é de resolver os problemas do povo, porem há


casos em que não é necessário chegar aos Dembos, o que quer
dizer que deve ser primeiramente resolvido pelo soba, caso a
situação seja complicada para o soba então reencaminha para o
príncipe a fim de dar a solução. Situação como: negação dos factos
reais a pessoas que cometem e não quer aceitar, ou a pessoa que
se rebela com o soba e etc.11

Lumbo é uma instituição de utilidade pública onde se resolve os


problemas que afectam os membros da comunidade. O senhor Alexandre de 40
anos de idade afirma:

Tanto os sobas como o príncipe tem uma instituição denominada de


lumbo que é o lugar onde se pode resolver os conflitos que afetaram
10
Entrevista realizada no dia 15 de março de 2019 no município dos Dembos – Quibaxi na região da
Mbanza
11
Entrevista realizada no dia 17 de março de 2019 no município dos Dembos – Quibaxi dentro da
escola do primeiro ciclo do Kifulo
27
a comunidade. A casa do Dembo ou do soba deve se tornar um
lumbo e ela é sagrada.[ CITATION Ale19 \l 2070 ]

Dentre as entidades que compõem o Lumbo: o Soba, Mwene Massa,


Mwene capitafemenino, Mwene capita masculino, Mwene Mbagi, Mwene Cassanda,
e o secretário. São estas entidades que comummente se reúnem para dar
tratamento a um problema. De acordo com Zé Martins, Mwene Mbagi desde 1991:

Dentro do lumbo existe uma espécie de democracia. Para poder dar


razão a quem merece todos analisam o problema e para chegarem
ao veredito final, em espécie de votação, levantam as mãos a favor
ou contra. Deste modo, quem tiver o menor número de votos será
considerado o culpado de acordo com o caso .[ CITATION ZéA19 \l
2070 ]

Porém, cabe ao dembo (príncipe) à resolução dos diversos conflitos


sociais. Na ausência deste, compete ao Mwene Massa, adjunto do dembo, substitui-
lo, ocupando-se da resolução dos problemas comunitários.
Na organização política dos Dembos grande na banza encontramos um
tipo de estrutura mais ou menos deste elemento tais como: O Soba, Mwene Massa,
Mwene Mbagi, Mwene Capita, Mwene capita da mulher, o secretário, e o Mwene
Cassanda, mais na região de Quipungo katende, encontramos uma particularidade
na sua organização politica é o caso da existência de uma figura de destaque o
Mwene tandala, por isso que António Salvador dizia:

Antigamente tinha muitas figuras na organização da estrutura do


poder tradicional e houve por parte do Estado a necessidade de
redução de indivíduos devido aos subsídios, agora em cada aldeia
encontra se apenas sete elementos da corporação tradicional e
apesar que na banza passam a constituir 14 elementos, mesmo
ainda sente se a falta de um Mwene Tandala .12

Por outro lado Maria Zé esposa de um Mwene Mbagi argumentou:

12
Entrevista realizada no dia 15 de março de 2019 na região da banza no seu lumbo.
28
O nome Dembos vem de uma família específica, e não deve ser de
qualquer linhagem, isto é tem que ser a partir dos avós ou dos pais,
ou seja, é um nome de herança. Por exemplo, se o pai for um
Mwene Mbagi o filho também pode seguir essa linhagem caso tenha
alguém que queira seguir o pai.

A outra personagens destacadas que podemos encontrar é o Mwene


Massa que é o adjunto do dembos grande essa figura importante ele pode substituir
o príncipe em caso ele tenha-se ausentado, o Mwene Massa pode resolver os
conflitos dentro do lumbo, e ainda também o Mwene Massa pode acompanhar o
príncipe em outra atividades. Então conseguimos perceber que esta figura tem um
papel preponderante nas ajudas das atividades do príncipe.
Outra figura importante é as atividades de um Mwene Mbagi as tarefa
deste individuo estão relacionados à parte logística da organização politica
administrativa tradicional, ele também tem o papel de controlar e administrar
alimentação que dirigida ao lumbo, também recebe a tarefa de receber os visitantes
e acompanha los ate a M’Banza na cidade tradicional.
O papel de um Mwene capita dos homens segundo as nossas
entrevista ele tem o papel de um militar que comanda a juventude dentro de uma
região tradicional.
Mwene capita das mulheres em geral é uma mulher que cuida das
atividades relacionadas às mulheres, responsável dentro da comunidade feminina.
Outra personagem é o Mwene Cassanda tem como a responsabilidade
de organizar o protocolo, cuida da protege as refeições do príncipe da roupa do
principe e da sua investidura.
Também encontramos uma personagem importante dentro da
administração tradicional que é o secretário. Como dito, esta figura servia para
comunicação. Eram geralmente africanos que aprenderam o uso da escrita com os
capuchinhos e se tornaram os responsáveis pela escrita oficial nos Dembos, eles
foram fundamentais para a aprendizagem da escrita do poder e para a reformulação
do aparelho burocrático dos dembos (territórios). Catarina M. Santos atribuiu a esta
figura do secretário uma posição hierárquica equivalente e das dignidades

29
tradicionais a quem os contamos de figura no desenvolvimento das relações
diplomáticas com as autoridades portuguesas13.
O cargo de secretário era um cargo que conferia poder, um poder que
poderia ser adquirido independentemente da linhagem ou de parentesco. Dá-nos a
entender o facto de que o cargo de secretário deve ser dado a alguém que saiba
escrever e ler e que fosse de confiança, já que todos os assuntos de estado
passariam na mão dele.
O secretário ocupava uma posição hierarquicamente mais próxima das
dignidades tradicionais, como o conselho dos macotas. 14

3.5. O CASO DO ADULTÉRIO

A palavra adultério deriva da expressão latina “adalterumtorum” que


significa “na cama do outro” ou ainda da palavra latina “adulterium” o termo pode ser
tanto para definir a infidelidade em um relacionamento entre dois indivíduos, quanto
a forma verbal ou adjectiva pode ser algo que foi “fraudado” ou “falsificado”
(adulterar ou adulterado).
O adultério,é definido como sendo “violação”, transgressão da regra de
fidelidade conjugal imposta aos cônjuges pelo contrato matrimonia, cujo principio
consiste em não se manter relações carnais com outrem fora do casamento.
Fisher (1995) em sua obra fica claro que os costumes culturais
influenciam a definição que se tem do adultério e da atitude de determinada pessoa
diante dela.
Entre os povos inuit (esquimós) emprestar as esposas é um costume e
sinal de hospitalidade. Quando um marido está ansioso para consolidar seus
vínculos com o seu companheiro da caçada, pode lhe oferecer sua esposa para que
ela tenha ralações sexuais com ele, mais com a permissão dela. Com a
concordância de todos, ela copula com o parceiro de caçadas por vários dias ou
semanas. As mulheres também temos costumes de oferecer o sexo a visitantes e
estrangeiros, não considerando o ato como um crime ou delito (Gove, 1989).

13
Santos, Catarina Madeira. Apud. cit. P.94
14
Os macotas eram conselheiros do soba ou Dembo, eram indivíduos mais velhos e que tinham
responsabilidade. De acordo com o glossário da obra Africae Monumento, mesmo não fazendo parte
do conselho governativo eram os macotas, dada a autoridade da sua palavra bastante considerada
pelo agregado social. Eles eram solicitados para o julgamento de litígios quando este não exigia a
intervenção do soba.
30
Para os povos lozi da África o relacionamento sexual não tem
associação com o adultério. Se simplesmente, um homem lozi acompanhar uma
mulher que faz parte não da sua família em um simples passeio, ou se lhe oferecer
cerveja ou rapé, estará cometendo adultério.
Entre os kofyar da Nigéria, o adultério é definido de forma
completamente diferente.se uma mulher insatisfeita com o seu marido mais não
desejar se divorciar, pode arranjar um amante legítimo, com quem viverá
abertamente na propriedade do seu marido. Os homens da tribo possuem o mesmo
privilégio. E não consideram tais relacionamento extraconjugais como sendo
adultério.
Já em algumas culturas ocidental o adultério é definido como o
relacionamento sexual de uma pessoa casada com outra que não é o seu próprio
cônjuge.
Na antiga Babilónia, por exemplo, as esposas eram privadas de um
dos olhos para que só pudessem enxergar o seu senhor 15.Por outro lado podemos
encontrar o exemplo de Savóia 16onde os maridos permitiam que as esposas se
reunissem uma vez por ano e se dirigissem as tabernas com finalidade de se
relacionarem com outros homens. Para os espartanos, o adultério era recomendado
para tratar casos de ciúme “crónico”.
O antagonismo cultural não se restringe só ao passado, os países de
maioria muçulmano que adoptaram a sharia17 segundo o qual o adultério é um crime
previsível com pena de morte. Na cultura ocidental o adultério tem sido tratado com
tolerância deixando de ser visto como uma falta grave. Esta mudança de
comportamento pode ser observadaatravés das alterações no ordenamento jurídico.
No âmbito religioso, o adultério é uma injustiça quem comete fere o
sinal de aliança (cic,2381)18Cristo condena o adultério (cf.: M, 5:27-28) 19. Os profetas
denunciaram a sua gravidade e vêm noadultério como uma figura comparada ao
pecado de idolatria (CIC, 2380).

15
Cic., (cf;M,5,27-28).
16
Região da França.
17
Lei islâmica do alcorão.
18
Catecismo da igreja católica
19
Bíblia Sagrada
31
3.5.1. CONCEPÇÃO DO ADULTERIO NA REGIÃO.

Nessa região dos Dembos-Quibaxi encaram o adultério como um


rompimento de um compromisso conjugal, e quem comete o adultério fere o
princípio do compromisso, e compromete o bem da geração humana e dos filhos
que tem a necessidade de união dos pais. (CIC 2381 20).
O casamento religioso é pouco relevante por causa dos hábitos e
costumes herdados pelos seus antepassados, e durante a nossa estadia era
costumeiro ver um homem com mais de uma e ate mesmo quatro esposas,
resultando assim da poligamia.
A entrevista que tivemos com secretária municipal dizia: quem comete
o adultério é a mulher, pois é normal ver um homem com mais de uma mulher. Salvo
o erro se ambos se tiverem um casamento religioso que proíbe o adultério de ambos
os lados, então se um homem casado se envolver com a esposa de outro, este
comete o adultério o mesmo acontece com a mulher casada. Se um homem ou
mulher mesmo que não forem casados e tiverem relações com a mulher do outro
comete o adultério o mesmo acontece com a mulher.
Nas sociedades angolanas o casamento tradicional tem peso mais
relevante em relação ao casamento religioso, o mesmo acontece nessa região dos
dembos Quibaxi, pois basta uma pessoa terem o mesmo sentimentos que pode
levar a um compromisso serio que resulta do casamento tradicional (Alembamento)
segundo o uso e costumes de cada região.
Tanto na lei tradicional como na lei religiosa não se recomenda a
separação. O padre da igreja católica argumenta: Na lei religiosa o que Deus uniu
ninguém pode separar, partindo deste pressuposto de que o casamento religioso vai
ate que a morte os separa21.
Então acreditamos que quando se trata de casos de adultério de
ambos os lados é permitido o perdão como por parte da mulher ou por parte do
marido, o adultério aqui é perdoado se ambos os desejarem.
Algo que nos chamou mais atenção e de acordo com as nossas
entrevistas e que abrangeu nesse período, é que na lei tradicional, no caso da
separação resultante de um adultério a culpa recai mais a mulher e daí o

20
Catecismo da igreja católica.
21
Entrevista realizada no dia 17 de maio na aldeia da missão dentro da igreja católica, que deu
poucas informações a respeito do adultério.
32
incumprimento do casamento tradicional (o alambamento prejudicando assim o
vincula familiar).
Pois nessa região os homens são herdeiros de seus antepassados nos
usos e costumes, é comum nesse período de 1975-1989, homens com mais de uma
mulher, o que é normal tradicionalmente e que não traz nenhum problema perante
as comunidades.
Entrevistamos um senhor de 65 anos de idade e que é soba do
Quipungo desde 1989 que dizia: Na administração da justiça, e naquele período
eram mais as mulheres que cometiam o adultério.22
Na justiça tradicional também recomenda-se a não separação até que
a morte os separe se ambos o desejarem, mas que se paga uma multa para o
lesado.

3.5.2. AS PRINCIPAIS CAUSAS DO ADULTEIRO NESSA REGIÃO.

Varias são as causas que levaram as pessoas a serem infiéis aos seus
conjunge, e por conseguintes a seus familiares, dentre os factores que contribuíram
para a concorrência do adultério temos factores como: individuais, de
relacionamento, os comunitários, os económicos os históricos pessoais.
Uma outra que leva ao adultério pode ser as razões biológicas. De
acordo com essa explicação o homem é mais interessado em variedade sexual ou
seja, se importa mais em poder gerar mais descendente, por engravidar várias
mulheres.
Outra causa surge na medida em que o homem torna se inútil ou
recusa a sustentar a família, a mulher procura um protector que assegurasse a
sobrevivência dos filhos.
Também se a mulher trocasse o seu companheiro por causa da má
saúde, ela procuraria um outro para melhorar a sua linhagem genética.
Joblonski (1998). De acordo com ele, na maioria dos casos, acredita-se
que os adultério deriva da necessidade de variações sexuais da busca de novas
satisfações emocionais, o que pode ser um reflexo de maus casamentos, e até
mesmo por retaliação.

22
Entrevista realizado no dia 17 de Maio de 2019 na sua
33
Há ainda outros factores como o envelhecimento, a imaturidade,
alcoolismo, e surgimento de oportunidade.
Já com Goldenberg (2006) argumenta de que existe uma demanda
excessiva de mulheres e uma oferta reduzida de homem, e que justifica a
infidelidade conjugal.
Há casos também como Murphy (2005) explica que o homem
demonstra ciúme quando descobre que a sua parceira já foi infiel sexualmente e a
mulher são ativados quando descobre que o seu parceiro já se envolveu
emocionalmente com outra pessoa.

3.5.3. CONSEQUÊNCIAS DO ADULTÉRIO.

O adultério é algo que sempre tem gerado transtorno as vítimas e aos


familiares. Quendo as acções são denunciadas no tribunal da justiça tradicional, as
vítimas do adultério tem como o principal objectivo, o recebimento de
indeminizações, por danos morais dos causadores, tanto o adultério como também a
pessoa envolvida, nesse caso o amante.
A lei das duas tabuas não permitia o perdão ao adultério da mulher e
que exigia que o cidadão repudiasse a sua esposa, e isso era notório, porque muitos
dos que foram submetidos ao adultério não queriam mais as suas esposas.
Se ambos tivessem o mesmo consentimento do perdão do adultério
não se poderia punir o cometido, mais já por outra se não tiverem o mesmo
consentimento do perdão, muitas as vezes gerava o divórcio ou mesmo a
separação. (Bevilacqua, 1937).
O adultério era portanto uma força desagregadora e destruidora do
vínculo familiar. Maria da Penha declara que o adultério pode ser considerado como
uma violência psicológica ou patrimonial.
A Bíblia da uma advertência: “ aquele que se diverte com as práticas
imorais do outro, mesmo se comete las, contribuem directamente para predispor a
opinião pública a imoralidade e por fim a condução da sua própria alma. Esse
pecado é digno da morte e será desmascarado e condenado no dia do juízo final
(Bíblia, 1995p.1698).
Essa alerta é serio, quem comete o adultério com a mulher do seu
próximo não tem bom senso; destrui isto a sua própria alma.

34
O adultério feminino pode trazer serias implicações graves, a mulher
adúltera pode introduzir a prole ilegítimo no seio do casamento e trazer desonra ao
marido.
Allan johnson (1997) considera que uma das consequências do
adultério é o medo, que são maior meio de sustentação das relações desiguais,
umas das dimensões do medo que esta pesquisa visualizou é a questão da
vergonha como forma de controlo social (Elias,1981; Sousa Martins 1999.).
A vergonha era apresentada em vários discurso como a razão para
evitar o divórcio, o medo de reprovação social, o que provoca desconfronto perante
a transgressão.
Apesar de ser visto como uma transgressão, um pecado, algo que
pode destruir um casamento, gerar muito sofrimento, culpa, vergonha por parte de
quem descobre.

3.5.4. DINAMICA DO AUTORIDADE TRADICIONAL NA ABORDAGEM DO


ADULTÉRIO.

Desde 1975-1989 houve necessidade das intervenções das


autoridades tradicionais para a resolução de conflito de adultério, eram mais os
indivíduos lesados que recorriam às autoridades tradicionais para resolverem os
conflitos, não era possível estabelecer quantos tipos de adultérios houve nesse
período. Pois o mais jovem quando se envolviam nesse caso não consultava os
sobas.
Mais durante a nossa entrevista encontramos algumas situações de
adultério que emergiu a intervenção das autoridades tradicionais.
Entrevistamos um soba de 61 anos de idade da aldeia do Quipungo
que relata que no Desde 1975 - 1989 houve uma situação de adultério que chegou
ao lumbo ele explica:
Ocorreu no dia 21 de março de 1986 em uma mulher traiu o seu marido e
que passou se envolver com outra pessoa, o seu marido se ausentava
muito devido o emprego, pois ele trabalhava no pango, mais tarde quando
o marido se apercebeu recorreu logo as autoridades tradicionais para
resolverem o caso, as autoridades tradicionais ao resolverem o caso a
senhora tinha que pagar multa a pessoa lesada, e este por fim pediu a
35
separação, e como eles eram casados não se divorciaram pois as
autoridades tradicionais não resolvem casos concernente ao divorcio, e
estes mesmo não recorreram ao civil. Como consequências os dois vivem
ate agora adulterando, pois ambos vivem maritalmente até os dias de hoje.

No ano de 1991 o mwene capita de 66 anos de idade contou-nos que


nesse período chegou ao lumbo um jovem de trinta e três anos de idade que queixou a
sua esposa de cometer adultério o Mwene massa dizia:

Um jovem de trinta três anos de idade veio queixar a sua esposa de 27


anos de idade que comete o adultério com um desconhecido, mais que
parecia se tratar de ciúmes, o soba manda chamar os pais da jovem e
posto lá os familiares da jovem, a moça negava as acusação, os sobas pra
evitar o conflito que o marido pode causar e resultar em morte por causa
do ciúme, o soba resolveu a situação de que a esposa deveria ficar
guardada no lumbo ate que ela confessasse, mais ela sempre negava as
acusações, durante a sua estadia lá, ela era submetida aos serviços
domestico. Algo que nos chamou mais atenção, foi que durante a sua
presença la no lumbo, um mwene capita ajudante do Dembo Grande
sedeava a jovem e acabando por se envolver com ela varias vezes, e um
dia da sua interrogação no seu julgamento ela acabou por contar a
verdade de que também o mwene capita se havia envolvido com ela, isso
trouxe problemas na equipa das autoridades tradicionais, o tribunal
tradicional resolveu esse tipo de conflito que causou a expulsão do mwene
capita e depois o dembos grande mandou embora a jovem por causa do
envolvimento e que trouxe vitupério dentro das autoridades tradicionais.23

Também trabalhamos dentro da aldeia de quipungo e entrevistamos o


soba de 68 anos de idade que contou-nos que no ano de 1978 uma senhora de 33
anos de idade cometeu o adultério o soba diz:
A senhora vivia com o seu marido e tinha dois filhos e sempre que
ficava mais gravida e nascia os filhos morriam, desesperada com a
situação traiu o eu marido envolvendo-se com um enfermeiro e que
deste teve uma filha, o marido se apercebendo da situação levou o
caso a lumbo os sobas mandaram chamar os progenitores da
23
Essa história foi contada no dia 21 de maio de 2019 pelo mwene massa que substituiu o Ex-
mwene massa que cometeu o adultério.
36
senhora que acusava a família do marido de feiticeira e que causava
a morte dos seus filhos. O soba como não sabia resolver a situação
levou o caso ao Dembos Grande obrigou a senhora e o senhor que
se envolveu com ela ambos tinha que pagar a multa, e depois
dembo grande puniu a senhora pra trabalhar durante seis meses na
roça, só assim o marido como não queria a esposa de volta, a
senhora depois do castigo dado por soba passou a viver com o
senhor e os seus filhos.

Nos procuramos informações que estavam ligadas ao adultério desde


197- 1992, e nesse período as autoridades tradicionais que diziam que houve
muitos casos ligados ao adultério, mais pouco desses casos eram chegados ao
lumbo.
Nos apercebemos de um caso nesse período em que um senhor casou
na igreja católica e viveu por muitos anos com a esposa, mais a esposa não
concebia, causando tristeza por partes dos familiares e com tempo o senhor
arranjou uma outra esposa que esta concebeu e teve uma filha, hoje como
consequência o senhor vive com as duas mulheres.
Mais em suma as autoridades tradicionais representavam verdadeiros
advogados em prol da resolução dos conflitos dentro das comunidades locais.
Houve casos em que as autoridades tradicionais se apercebiam da situação e
mandavam chamar o acusado ou acusada e guardavam no seu lumbo até chegar o
dia do julgamento, pois suspeitavam de que o lesado ainda poderia provocar
conflito.
E era mais difícil ainda quando o acusado foi amigo que cometeu o
adultério com a esposa do seu amigo. Em todas as ocasiões de adultério que se
passou nesse período o lesado já não queria mais voltar com as esposas que
cometeu o adultério.
Cabiam ambos que cometeram o adultério se poderiam ficar juntos ou
não. As situação era mais complicada se o homem que cometeu o adultério não
aceitava ficar com a moça isso causas mais complicações na comunidade trazendo
ate mesmo vitupero na família da moça.

37
3.5.5. DINAMICA DO PROCESSO JUDICIAL DAS AUTORIDADES TRADICIONAL.

Quando o assunto chega ao soba, ele encarrega uma delegação que


vai ate a casa dos pais de quem cometeu o adultério, levando com ele o pau do
soba (zingawavala) e coloca na porta da casa, os pais se apercebem de que a sua
filha ou o seu filho tem problema e que deve ir responder e também que leva prá la
1.000.00kz por causa do transporte do pau.
Em outras ocasiões quando o assunto já é de conhecimento de todos,
nesse caso a família prepara uma galinha, cinco litros de vinho por causa do pau
(zingawavala), pois se moveu da casa do soba, uma moeda equivalente a 800kzs.
No mesmo dia manda matar a galinha, o Mwene cassanda tira a caixa
da galinha (gita kiassengue) e depois procura a casca de milho (kushiassa) põe lá
a carne e fecha com a corda para não poder passar vento, na parte do vinho tira lá
um litro, isso quer dizer que lá onde foi enviado foi bem recebido, isso é obrigatório
pois se não tiver o Mwene cassanda dorme lá em casa dos parentes até arranjar as
condições. Isso era antigamente hoje em dia já não se nota esse todo o processo.
Segundo o Mwene mbagi que estava a contar este relato.
Depois disso já se pode marcar o dia para a justiça tradicional. No dia
da justiça tradicional leva-se cinco á dez litros de vinho e cinco litros de maruvo e
dinheiro acima de 2.000.00 kzs, e depois de se reunirem ao lumbo e estiver
disponível, se não fica na casa do Mwene mbagi.
Geralmente, todo aquele que não quiser ser prejudicado por outro
recorre sempre a justiça tradicional, o individuo que procura a justiça vai, em
primeiro lugar, apresentar a queixa ao soba. Este por sua vez convoca o seu elenco.
Antes de apresentar a queixa, ele deve entregar uma galinha ou qualquer objeto
equivalente como forma de um pedido de audiência, e seguir expõe o problema
detalhadamente.
Depois de ouvir, o soba, ou a quem foi apresentado a queixa
determina o dia em que estará disponível para resolver a questão, depois do
queixoso se retirar, o soba manda chamar os mais velhos para comparecerem no
dia e na hora indicado.
Antes de se falaram deve-se apresentar as coisas que foram trazidas,
só assim abre-se a cerimónia.

38
Depois deste pagamento o soba da autorização para se começarem a
falar: primeiro, o queixoso, a seguir o acusado. Ambos depois de se ouvirem, o
adjunto do soba começa a formular as perguntam mas duas partes, a fim de se
apurar as verdades pra saber que tem a razão. Depois os juízes suplentes junto
com o soba começam a dialogarem entre eles para apurarem o resultado. Por
último o soba acaba com a questão, é determinada o preço que o culpado terá de
pagar.
O culpado busca uma grade de gasosa e cerveja, cinco litro de vinho
pra beber na hora ao público. É obrigatório e se não tem pede emprestado
Na justiça tradicional, os condenados cumprem com o pagamento, pois
não existe cadeias, dá o dia marcado para a resolução do problema e onde será
proferida a sentença, e chegado o dia todos vão ao local combinados tanto os
públicos em geral, as famílias e os individuo envolvidos nos problemas
A seguir é a vez do mediador- conselheiro este aparece de pé, no meio
da assembleia, vai aconselhando os que vão ser julgados e todos os que são
considerados adversários entre si, para que não hajas discussão, calúnias, as
zangas desnecessária que possam vir a tornar a situação ainda pior.

3.5.6. ELEMENTOS JURÍDICOS.

Os códigos de comportamento só são conhecidos pela transmissão


oral e vão passando de geração em geração através das estruturas culturais, eles
tem de ser colhido por diferentes órgão por onde se encontram dissimilados.
Os elementos jurídicos correspondiam: o presidente jurídico que é a
cabeça do tribunal, isto é o juiz ocupa o lugar de rei ou soba. Também
encontramos outros juízes suplentes que constituem o braço direito do presidente
porque deles depende de toda audiência do julgamento.
Em geral, não são eleitos por ninguém, mais sim escolhidos devido a
sua linguagem, eloquência e opiniões construtivas param todos. Também não são
em nenhum número determinado pois depende da população, da comunidade ou
da família.
Também existe um emissor ou mensageiro, isto é, aquele que
transmite ao público as ordem do presidente, nomeadamente as questões a tratar
num determinado tempo.

39
O conselheiro assume a tarefa de aconselhar as duas partes ou mais
envolvido no julgamento. Aconselha-as a não levantarem discussões
desnecessárias, mentira, ou calúnia de forma a se evitar o pior.

3.5.7. PENAS APLICADAS

As multas em geral são, a base de animal, dinheiro, e outros bens,


pode ser de medio porte, menor que o boi, ou uma galinha, as vezes pode ser cabra,
porco, etc.
Também os objetos cobrados ao individuo, que apresentou a queixa ao
presidente jurídico. Estes objetos servem como preço do pedido de audiência.
Objeto cobrado aos julgados de ambos os lados, antes do início do
julgamento. É a forma de abertura da audiência, estes animais são entrega ao
mwene mbagi que os matará.
Caso o reu não reúna as condições para pagar a multa, terá de fazer
mas tarde ou em outra ocasião. Se pelo contrário o reu for absolvido, então o
acusador terá de pagar uma multa variável de cordo com a gravidade da calúnia. A
multa é aplicada em todos casos em que o culpado causa o prejuízo.

3.6. APLICAÇÃO DIDÁCTICO-PEDAGÓGICA

Atendendo a situação actual do ensino de história em Angola 24, tendo


em vista seus objectivos macro, enquanto disciplina escolar, dispostos nos
programas de ensino dos diferentes níveis, quer no subsistema de ensino geral,
quer no de formação de professores – sobre os quais recai o perfil do egressado em
ensino da história pela ESPB. Em vista disso, propõem-se:
- A criação de um diploma legal que regule o ensino da história
contemplando matérias afectas a conteúdos transversais e a história local;
- Revisão dos programas de ensino e livros didácticos tendo em vista
as especificidades regionais/locais no desenvolvimento curricular;
- Concepção de um ensino da história à luz dos preceitos da escola
nova, livre dos vícios que a enfermam;
24
O ensino de história em Angola não trata de matérias afectas a temas/conteúdos transversais nem
de história local.
40
- Que o presente TFC possa ser enriquecido em estudos posteriores,
incorporado no livro sobre a História do Bengo a ser usado como conteúdo para-
didático.

41
CONCLUSÃO

A luz dos argumentos precedentes conclui-se:


1 – As autoridades tradicionais constituem um assunto com respaldo
epistemológico nas ciências sociais – sociologia, antropologia, etnografia e história;
2 – As autoridades tradicionais desempenham diferentes papéis,
mediante uma estrutura organizacional e funcional embasada no direito
consuetudinário com matriz ideológico-religiosa de cariz animista;
3 - Na qualidade de tradicionalistas, compete as autoridades
tradicionais a afirmação, preservação e divulgação do património cultural da região
estudada com recurso a oratura que, no quesito do adultério, desempenha religiosa-
litúrgica e jurídica;
4 – No quadro das funções que desempenha ou papel que represente,
no quesito do adultério as autoridades tradicionais fazem transparecer sua real
importância que não deve ser menosprezada;
5 – Apesar da inexistência de reconhecimento formal da instituição do
poder tradicional por parte do estado no período em estudo, a referida entidade não
deixou de desempenhar o seu papel na região apesar das limitações impostas,
porém não voltaram a granjear da autonomia que detiveram no período anterior a
colonização;
6 – Enquanto entidades culturais, compreendendo a cultura como
fenómeno dialógico e dinâmico urge a necessidade de renovação das instituições do
poder tradicional, porém, sem perder de vista a sua matriz ou elementos basilares.

42
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Viana, J. I. (2016). Hstória Local. Sobral: INTA.

44
ENTREVISTAS

Alexandre. (10 de Março de 2019). Papel das Autoridades Tradicionais no Quesito


do adultério. (Â. Rodrigues, Entrevistador)

Anónimo. (13 de Março de 2019). O Adultério. (F. M. Feliciano, Entrevistador)

Anónimo. (13 de Março de 2019). O adultério. (I. F. João, Entrevistador)

Celestina, M. (13 de Março de 2019). Papel das Autoridades Tradicionais no Quesito


do adultério. (Â. Rodrigues, Entrevistador)

Martins, Z. A. (13 de Março de 2019). Papel das Autoridades Tradicionais no Quesito


do adultério. (F. M. Feliciano, Entrevistador)

Paulo, S. A. (15 de Julho de 2019). Papel das Autoridades Tradicionais no Quesito


do adultério. (F. M. Feliciano, Entrevistador)

Salvador, A. (15 de Julho de 2019). Papel das Autoridades Tradicionais no Quesito


do adultério. (I. F. João, Entrevistador)

DOCUMENTOS DA WEB

Feijo, C. (20 de Janeiro de 2004). O Poder Local em Angola. Obtido em 5 de Março


de 2019, de Angola.org: http://www.angola.org/poderlo.htm

45
ANEXOS

Anexo nº 1 – texto sobre a situação actual das autoridades tradicionais


em angola

Actualmente, a autoridade tradicional pode ser caracterizado do


seguinte modo:
1. Existência de autoridades tradicionais em muitas regiões do nosso
país: umas com fortes poderes e influência na comunidade e outras com fracos
poderes e sem prestígio junto das populações respectivas;
2. Reconhecimento institucional por parte do governo, que se
consubstancia no seguinte:
a) Reconhecimento de algumas categorias de autoridades tradicionais,
designadamente: o soba grande; o soba; sekulos; e de algumas categorias de
“entidades equiparadas”: os ajudantes dos sobas grandes; ajudantes do soba;
ajudantes das entidades equiparadas;
b) Atribuição do direito ao recebimento de salários;
c) Atribuição de “fardas” ou indumentárias de identificação e para
cerimónias oficiais;
d) Atribuição de bens matérias (de forma não regular nem
regulamentada) para subsistência das autoridades tradicionais e suas famílias;
e) Inexistência de um estado de autoridade tradicional;
f) Ausência de lei-quadro para o reconhecimento das autoridades
tradicionais;
g) Ausência de uma lei definidora do estatuto do “direito costumeiro” no
ordenamento jurídico angolano;
h) Populações locais que vivem unicamente na base do direito
costumeiro e sob direcção das autoridades tradicionais.

Fonte: [CITATION Laz09 \p 218-219 \l 2070 ]

46
Anexo nº 2 – modelo de questionário utilizado nas entrevistas

Nome: ___________________________________________________. Data de


nascimento ___/___/____, Naturalidade:__________________, Profissão_____
______________, Sexo: ____.

1. Como é concebida a autoridade tradicional na região?


2. Qual o papel das autoridades tradicionais?
3. Recebiam algum ordenado em função do papel desempenhado no seio
comunitário?
4. Como estava organizado ou estruturado o poder tradicional na região?
5. Quantas autoridades tradicionais existiam no período em estudo?
6. Qual a sua relação com o poder local público?
7. Que assuntos candentes competiam as autoridades tradicionais resolver?
8. Como resolviam e onde o faziam?
9. Que papéis desempenharam na resolução do quesito do adultério?
10. Quais as mudanças e as permanências no exercício do poder tradicional?
11. Existe algum registo do número de ocorrências de casos de adultério junto às
autoridades tradicionais no período de 1975 – 1989?
12. Há referência de algum caso marcante de adultério solucionado pelas
autoridades tradicionais no período de 1975 – 1989?
13. Porquê, onde e como as autoridades tradicionais resolvem casos
relacionados ao adultério?
14. Como o adultério é concebido na região?
15. Quando julgados improcedentes os casos de adultério a resolver, como
procedem as autoridades tradicionais?
16. Existiu alguma relação de cooperação entre autoridades tradicional e poder
local público ou religioso na abordagem do quesito do adultério?

47
Anexo nº 3 – Localização Geográfica dos Dembos – Quibaxi

Fonte: Universidade Aberta: Angola - Trilhos para o Desenvolvimento.

48
Anexo nº 4 – vista exterior do lumbo

49
Anexo nº 5 – vista interior do lumbo

50
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