Vous êtes sur la page 1sur 6

O Problema dos Sonhos de Angústia

Trabalho Apresentado para a Disciplina Formações do Inconsciente


Círculo Psicanalítico de Minas Gerais
Junho de 2019
Samir Caetano Amim Jorge

“A teoria dos sonhos de angústia, como já declarei repetidamente, faz parte da


psicologia das neuroses” (FREUD, 1996, pág. 607). Com essa afirmação, Freud revela
um aspecto aparentemente contraditório da sua teoria dos sonhos: em outros termos, o
que ele está dizendo aqui, e reiterado ao longo de sua obra, é que o problema dos sonhos
de angústia não é um problema dos sonhos, mas um problema da angústia, isto é, um
problema das neuroses. Esse breve estudo pretende, portanto, compreender por que e
como Freud chegou a essa conclusão. A resposta a essa questão reside na trilha
argumentativa, no caminho narrativo, proposto pelo autor no capítulo VII, seção D, de
sua obra “A Interpretação dos Sonhos”: “O Despertar pelos Sonhos – A Função dos
Sonhos – Sonhos de Angústia”. E refazer seu mesmo trajeto nos levará ao entendimento
desse litígio.
Nesta seção, Freud investe seu primeiro esforço em explicar o “despertar” pelo
sonhos. Aí logo jaz a nossa primeira indagação: por que ele inicia sua argumentação por
esse aspecto? Por que ele precisa esmiuçar primeiro o “despertar” para chegar à sua
conclusão sobre os sonhos de angústia? Isso ocorre porque o “despertar”, se não fosse
bem esclarecido, poderia suscitar uma refutação à sua teoria: ora, se os sonhos exercem
também o papel de contribuir para a realização do desejo de dormir, para a efetivação
do sono, como poder haver sonhos que nos impelem ao despertar? Como os sonhos de
angústia provocam, via de regra, o despertar, logo esse ponto precisa ser devidamente
absorvido por sua teoria.
Para elucidar esse assunto, o autor sintetiza, nas primeiras páginas desta seção,
todo o processo onírico já tratado em sua obra, e ele faz isso justamente para relembrar
que, para dormirmos, o sistema psíquico precisa se desinvestir de suas atividades
habituais de vigília, mas outro problema aí logo é exposto: ao dormirmos, o controle ou
a censura do inconsciente também é parcialmente desinvestido, caso contrário, não
conseguiríamos dormir. No entanto, ainda assim é preciso encontrar uma saída para que
o conteúdo inconsciente recalcado não invada o aparelho psíquico e atrapalhe o sono,
violando a realização do desejo de dormir. Daí nasce o sonho. Esta explicação se
sustenta a partir da premissa de que o esforço de sonhar é menor do que o esforço da
contínua e rígida censura mantida na vigília:

Começa a ficar claro para nós que realmente é mais conveniente e econômico
deixar que o desejo inconsciente siga seu curso, manter-lhe aberto o caminho
da regressão, para que ele possa formar um sonho, depois ligar o sonho e
desembaraçar-se dele com um pequeno dispêndio de trabalho do pré-
consciente, do que continuar a manter o inconsciente na rédea curta durante
todo o período do sono (FREUD, 1996, pág. 603)

Assim posto, Freud nos relembra, portanto, que o sonho “constitui uma
formação de compromisso: serve a ambos os sistemas, uma vez que realiza os dois
desejos enquanto forem compatíveis entre si” (FREUD, 1996, pág. 603). De um lado,
possibilita a realização do desejo de dormir, o sono, por outro, permite parcialmente a
expressão do desejo inconsciente recalcado. É interessante notar que essa perspectiva
nos levaria a concluir que o sonho parece ser derivado, primeira e fundamentalmente, da
necessidade e do desejo de dormir, pois a vazão do desejo inconsciente só ocorreria, isto
é, o processo onírico só se constituiria para que o primeiro desejo, o dormir, se
estabelecesse. No entanto, o autor chama a atenção para as motivações do inconsciente,
demonstrando que, já no período de vigília, os conteúdos recalcados são distorcidos e
transferidos para os materiais recentes. Se nada ocorresse, se não dormíssemos, esses
conteúdos estariam em “vias de se transformar numa ideia obsessiva, num delírio ou
algo parecido, isto é, num pensamento intensificado pela transferência e distorcido em
sua expressão pela censura. Seu avanço subsequente, porém, é detido pelo estado de
sono” (FREUD, 1996, pág. 598). A formação de compromisso, dessa forma, opera por
razões equilibradas, atendendo às duas instâncias.
Com esses apontamentos, torna-se lúcida a participação do pré-consciente na
construção do sonho, permanecendo minimamente ativo durante todo o processo
onírico, pois, para atender ao desejo de dormir e ao desejo inconsciente, todo o
conteúdo é tratado pelo pré-consciente “com vistas à concatenação e à
ininteligibilidade” (FREUD, 1996, pág. 600). Logo, se este sistema está em alguma
medida ativo, conclui-se que “todo sonho tem um efeito despertador, que põe em
atividade parte da força quiescente do Pcs.” (FREUD, 1996, pág. 600).
Para reforçar a hipótese de que o “despertar” não constitui uma contradição ao
processo onírico, ou à satisfação do desejo de dormir, Freud traz o exemplo do sono das
mães que estão amamentando, que mantém parte da atenção ativa para alimentar seu
filho durante a noite, ou da mosca que nos pertuba enquanto dormimos, explicando que
“a realização do desejo de dormir é inteiramente compatível com a manutenção de certo
dispêndio de atenção em algum sentido específico”.
Se “despertar” não estabelece uma incoerência ao desejo de dormir, e se o seu
mecanismo está devidamente esclarecido dentro do processo onírico (pela atividade
constante do Pcs), a primeira conclusão a que chegamos é que este aspecto, o potencial
para despertar, não diferencia o sonho de angústia dos demais sonhos. Freud está
buscando demonstrar que o sonho de angústia não estabelece uma refutação à sua teoria
dos sonhos como realização de desejo. Nesse momento, já conseguiu explicitar que o
despertar está de acordo com a sua teoria, e que a instância que deseja dormir está
resguardada. No entanto, ainda falta esclarecer outro elemento crítico do sonho de
angústia, e certamente o principal: o desprazer.
Ainda para designar corretamente a sua tese, Freud agora precisa resolver mais
duas questões: demonstrar que o desprazer experimentado nos sonhos de angústia não
contraria a teoria do sonho como realização de desejo; e explicar a relação entre a
angústia e o processo onírico; neste segundo caso, como já sabemos, para apartar o
problema do sonho de angústia do problema do sonho.
A primeira questão é tratada de forma mais direta pelo autor. O sonho de
angústia, embora seja sentido com enorme desprazer, ainda assim pode representar a
realização de um desejo inconsciente. Ora, Freud considera o sistema psíquico separado
por instâncias, então, “isso pode ser explicado pelo fato de o desejo pertencer a um
sistema, Ics, ao passo que foi repudiado e suprimido pelo outro sistema, o Pcs”
(FREUD, 1996, pág. 605).
Bem, mas todo desejo inconsciente foi um dia recalcado, isto é, foi
experimentado com prazer e, depois, por meio da censura, tornado em elemento
desprazeroso. Logo, por dedução, todo desejo inconsciente expresso pelo sonho deve
remeter ao Pcs, em alguma medida, como desprazer. Mas por que, então, não sentimos
desprazer em todo sonho? Sabemos que cabe ao processo onírico distorcer o conteúdo
inconsciente e, portanto, “de um lado, dão ao Ics. um escoadouro para a descarga de sua
excitação e lhe fornecem uma espécie de porta de escape, enquanto, de outro,
possibilitam ao Pcs. controlar o Ics. até certo ponto”. (FREUD, 1996, pág. 605-606).
Mas se essa é a função exímia do sonho, como pode haver sonhos que, mesmo sendo
distorcidos, ainda assim invadem o aparelho psíquico com uma larga dose de angústia e
rompe todo o compromisso? A partir daí, Freud, então, aborda então a segunda questão.
Aqui Freud entra definitivamente no assunto central da seção D do capítulo VII,
buscando demonstrar onde verdadeiramente mora o problema do sonho de angústia.
Para tanto, aborda primeiro os pontos fundamentais da teoria das neuroses e chama
atenção para o afeto. Explica a regra geral que “se o curso das representações no Ics.
ficasse por sua própria conta, geraria um afeto que foi originalmente de natureza
prazerosa, mas tornou-se desprazeroso depois de ocorrido o processo de
‘recalcamento’”. (FREUD, 1996, pág. 606). Nesse mesmo trecho, o autor traz um
exemplo de formação de sintomas para, a partir de uma possível comparação com o
processo onírico, arrematar sua conclusão. Aponta a situação: um paciente neurótico já
possui o identificado sintoma de ser incapaz de atravessar uma rua sozinho. Caso o
obriguemos a fazer essa ação, teremos como consequência um ataque de angústia. No
entanto, para promover uma defesa a essa angústia, um novo sintoma poderá ser
formado, uma agorafobia: “o sintoma foi formado para evitar uma irrupção da
angústia”. (FREUD, 1996, pág, 606).
Freud apresenta esse exemplo para demonstrar que, primeiramente, o Pcs busca
manter, a partir da censura, as representações inconscientes suprimidas, evitando a
descarga do afeto desprazeroso. Contudo, esse mecanismo não é suficiente para
controlar impulsos muito intensos e, nessa situação, o sintoma surge como saída.
Mas no estado de sono o perigo é iminente, pois o Pcs se encontra parcialmente
desinvestido e focado, com energias moderadas, na elaboração onírica de desejos
inconscientes recalcados. Dormir, portanto, é desguarnecer parte da defesa do sistema
psíquico, que pode contar apenas com o sonho, já demonstrado como sendo um
mecanismo parcialmente eficaz contra as moções inconscientes, mas menos rígido do
que a censura promovida no estado de vigília.
Se no estado de vígilia temos a severidade controladora do Pcs., e ainda a
formação de sintoma como saída mais radical, no estado de sono temos um
rebaixamento do trabalho de censura, condição essa que contribui para a irrupção da
angústia: “quando cessa a catexia do Pcs. o perigo é que as excitações inconscientes
liberem um tipo de afeto que (em decorrência do recalcamento já ocorrido) só pode ser
vivenciado como desprazer, como angústia”. (FREUD, 1996, pág. 606).
O processo onírico tenta ainda elaborar essa moções com as ferramentas que
possui, e o sonho formado começa a precipitar o desprazer na medida em que as
representações inconscientes profudamente desprazerosas vão sendo ligadas, no entanto,
“quando essa tentativa de realização de desejo fere o pré-consciente com tanta violência
que ele não consegue continuar dormindo, o sonho rompe o compromisso e deixa de
cumprir a segunda parte da sua tarefa”. (FREUD, 1996. pág. 604).
Portanto, o sonho se torna sonho de angústia quando o processo onírico começa
a apresentar falhas e a não conseguir lidar com a moção inconsciente violenta. Freud
conclui esse aspecto afirmando que para a formação de um sonho de angústia é preciso
“que tenham ocorrido recalcamento e que as moções de desejo suprimidas possam
adquirir força suficiente.” (FREUD, 1996. pág. 606). Porém, o autor reitera sobre essas
duas condições (o recalcamento e a irrupção intensa do desejo suprimido):

Esses determinantes, portanto, estão inteiramente fora da estrutura


psicológica da formação dos sonhos. Não fosse o fato de nosso tema estar
ligado à questão da geração de angústia pelo fator isolado da liberação do
Ics., durante o sono, eu poderia omitir qualquer discussão dos sonhos de
angústia. (FREUD, 1996. pág. 606).

Por fim, fechando a linha argumentativa de seu esquema, já tendo demonstrado que “a
angústia nos sonhos, gostaria de insistir, é um problema de angústia, e não um problema
dos sonhos”. (FREUD, 1996. pág. 607), o autor ainda precisa explicar quais são essas
motivações inconscientes tão intensas e capazes de gerar sonhos de angústia, distúrbio
no sono e falha no processo onírico. Evidentemente, se se trata de um problema da
neurose, estamos no campo da sexualidade. Assim, Freud expõe alguns sonhos de
pacientes e um próprio seu, a fim de demonstrar que todos estes sonhos de angústia
possuem precisamente uma origem traumática sexual. Naturalmente, todos esses casos
relatados nos guiam às primeiras vivências da sexualidade infantil e, inequivocamente,
ao Édipo, ponto nodal das angústias estruturantes do eu:

Expliquei essa angústia argumentando que o que está em pauta é uma


excitação sexual com que a compreensão das crianças é incapaz de lidar, e a
qual elas sem dúvida também repudiam por seus pais estarem envolvidos;
assim, ela se transforma em angústia. Num período ainda mais primitivo da
vida, as excitações sexuais dirigidas ao membro do sexo oposto no casal
parental ainda não depararam com o recalcamento e, como vimos,
expressam-se livremente. (FREUD, 1996. pág. 609).
O sonho de angústia tenta realizar o desejo inconsciente mais profundo e proibido, mas
falha no seu propósito e nos arremessa ao despertar, e lá encontramos, ao abrir dos
olhos, sem palavras, símbolos ou elaborações, a mais primitiva e voraz realidade que a
todos constitui.

Referências bibliográficas

FREUD, S. A Interpretação dos Sonhos. ESB, v. XIV, Rio de Janeiro: Imago, 1900.
(impressão 1996).

Vous aimerez peut-être aussi