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ARTIGO ARTICLE 1079

Análise da sustentabilidade de uma política de


avaliação: o caso da atenção básica no Brasil

Sustainability analysis of an evaluation policy:


the case of primary health care in Brazil

Eronildo Felisberto 1
Eduardo Freese 2
Luciana Caroline Albuquerque Bezerra 1

Cinthia Kalyne de Almeida Alves 1,3


Isabella Samico 1

Abstract Introdução

1 Instituto de Medicina This study analyzes the sustainability of Brazil’s Sustentabilidade é um conceito sistêmico que
Integral Prof. Fernando
Figueira, Recife, Brasil.
National Policy for the Evaluation of Primary tem sido mais relacionado com a continuidade
2 Centro de Pesquisas Aggeu Health Care, based on the identification and dos aspectos econômicos, sociais, culturais e am-
Magalhães, Fundação categorization of representative critical events bientais da sociedade humana e à sua capacida-
Oswaldo Cruz, Recife, Brasil.
3 Universidade Federal de in the institutionalization process. This was an de de atender às necessidades atuais e futuras 1.
Pernambuco, Recife, Brasil. evaluative study of two analytical units: Federal Já a sustentabilidade de projetos costuma ser de-
Management of Primary Health Care and State finida como a capacidade de uma intervenção
Correspondência
E. Felisberto Health Secretariats, using multiple case studies proporcionar benefícios sem interrupção duran-
Instituto de Medicina with data collected through interviews and insti- te um longo período de tempo 2,3.
Integral Prof. Fernando
tutional documents, using the critical incidents Na área da saúde esse conceito tem sido mais
Figueira.
Rua dos Coelhos 300, Recife, technique. Events that were temporally classified encontrado na literatura referente à promoção
PE 50070-550, Brasil. as specific to implementation, sustainability, and da saúde e freqüentemente relacionado à con-
eronildo@imip.org.br
mixed were categorized analytically as pertain- tinuidade dos programas nas instituições ou em
ing to memory, adaptation, values, and rules. parcerias com organizações comunitárias. Nesse
Federal management and one of the State Health campo apresenta-se por intermédio de diversas
Secretariats showed medium-level sustainability, terminologias na busca de uma melhor com-
while the other State Secretariat showed strong preensão de seu significado, sendo “Institucio-
sustainability. The results indicate that the events nalização” o termo mais comumente utilizado 4.
were concurrent and suggest a weighting process, Scheirer 5 define um programa sustentado como
since the adaptation of activities, adequacy, and um conjunto de recursos e atividades duráveis
stabilization of resources displayed a strong in- destinado a objetivos programáticos 5,6.
fluence on the others. Innovations and the devel- Entretanto, mesmo com a constatação de
opment of technical capability are considered the que grande número de projetos ou programas
most important results for sustainability. sofre descontinuidade após o período de sua im-
plantação e, embora muitos países desenvolvam
Sustainable Development Indicators; Institution- sistemas para o monitoramento da implantação
alization; Program Evaluation; Health Evaluation dos mesmos, são poucas as informações produ-
zidas regularmente sobre a continuidade e per-
manência dos resultados desses programas 3,7,8.

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Nesse sentido, a sustentabilidade dos progra- essa resistência dependerá da capacidade da ges-
mas tem se constituído em um grande problema tão em articular os envolvidos em torno de uma
para a saúde pública, em virtude da exposição proposta (intervenção) qualificadora das práti-
aos riscos aos quais estão expostos. Esses se re- cas e dos conseqüentes efeitos positivos para o
ferem à continuidade das atividades ao longo alcance dos objetivos do programa ou política a
do tempo e podem ocasionar a perda de inves- ser avaliado. Nesse sentido, é importante consi-
timentos para as organizações e pessoas envolvi- derar a afirmação de Denis & Champagne 12 (p.
das em programas considerados exitosos. Vários 67) para quem “os diferentes atores organizacio-
fatores tais como a permanência da relevância e nais podem apoiar a implantação de uma inter-
da legitimidade do programa, sua estabilidade venção se virem nela um meio de atualização de
financeira, a garantia de uma gestão eficaz e sua suas estratégias fundamentais”.
capacidade de adaptar-se às mudanças de con- A avaliação de políticas públicas permite não
textos político-institucionais, podem influen- somente a produção de informações com vistas
ciar positivamente a continuidade dos mesmos à melhoria da eficácia de uma prática social, mas
evitando, ainda, que a interrupção desses pro- oferece a possibilidade de transformação dessa
gramas levem à desmotivação dos envolvidos e, prática à luz dos interesses dos envolvidos con-
portanto, se torne um obstáculo a subseqüentes siderando suas relações contextuais 13. Contu-
mobilizações 3,4. do, a prática avaliativa precisa que certo grau de
A implantação de um programa e, conse- institucionalização deva ser atingido para que se
qüentemente, seus efeitos, sofrem influência e torne efetiva e produza efeitos formativos sobre
influenciam sua sustentabilidade, portanto, esta a conduta da ação pública. Institucionalização
necessita ser avaliada. Considera-se aqui a pers- aqui entendida como o processo pelo qual dispo-
pectiva de Scheirer 9 sobre o “ciclo de vida” de um sitivos institucionais são criados, modificados ou
programa que inclui sua concepção, implanta- suprimidos. Esses últimos devem ser compreen-
ção, avaliação, continuidade e disseminação. Pa- didos enquanto recursos, estimativas, procedi-
ra Pluye et al. 4,10, a avaliação da sustentabilidade mentos, orçamento, participação dos atores en-
pode ocorrer considerando-se três dimensões: volvidos e monitoramento, além de organizações
(1) processo primário – de rotinização – que per- e de regras que contribuem ao desenvolvimento
mite a sustentabilidade de programas dentro de e à perenidade da prática avaliativa dentro de um
organizações e que pode conduzir à constituição espaço definido 14,15.
de rotinas organizacionais programáticas (refe- O Ministério da Saúde do Brasil desenvolveu
re-se à memória, à adaptação, aos valores e às a partir de 2003 a Política Nacional de Monitora-
regras que definem as rotinas organizacionais); mento e Avaliação da Atenção Básica, com o ob-
(2) processo secundário – de padronização – que jetivo de institucionalizar a avaliação no âmbito
se superpõe ao anterior e pode levar a rotinas da atenção básica no Sistema Único de Saúde
programáticas padronizadas que são mais sus- (SUS) 16. A qualificação dos processos decisórios,
tentáveis do que simples rotinas organizacionais no âmbito da gestão dos serviços e do cuidado,
(padrões institucionais manifestos em regras e com vistas à integralidade e resolutividade das
políticas governamentais que delimitam a ação ações, são propósitos da política, uma vez que
das rotinas organizacionais); (3) processos con- a incipiência das práticas de monitoramento e
comitantes – de implantação e sustentabilidade. avaliação na atenção básica é reconhecida pelas
Alguns eventos influenciam especificamente a três esferas de gestão 15,16. Pela primeira vez, no
implantação, outros a sustentabilidade e outros, setor saúde do Brasil, o objetivo de instituciona-
ainda, influenciam tanto a implantação quan- lizar a avaliação no SUS é transformado em uma
to a sustentabilidade e são eventos mistos que política de governo, envolvendo claramente os
pertencem a ambos os processos. Essa última gestores estaduais e municipais no processo de
dimensão permite classificar os eventos confor- acompanhamento e avaliação da atenção básica,
me o contexto de sua ocorrência, enquanto que descentralizando mais uma ação – a de avaliar 17.
as duas anteriores influenciam diretamente na Nesse sentido, analisar a sustentabilidade
determinação dos níveis de sustentabilidade de da Política Nacional de Monitoramento e Ava-
programas 4,10. liação da Atenção Básica permitirá refletir so-
A implantação de políticas de avaliação é bre as ações técnicas, os processos de trabalho
quase sempre permeada de certa resistência, nela produzidos e sua contribuição para o de-
geralmente associada ao sentimento de que as senvolvimento da cultura avaliativa. Com esse
evidências produzidas e o conhecimento mais objetivo, este estudo apresenta uma análise da
ampliado de informações possam acarretar mu- sustentabilidade dessa intervenção com vistas
danças, aumento da cobrança e do volume de a influenciar o aprimoramento do seu processo
trabalho, punições ou perda de poder 11. Superar de implantação.

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ANÁLISE DA SUSTENTABILIDADE DE UMA POLÍTICA DE AVALIAÇÃO 1081

Método específicos dos processos de sustentabilidade:


estabilização de recursos organizacionais de-
O referencial teórico utilizado caracteriza im- dicados aos programas; riscos assumidos pela
plantação e sustentabilidade enquanto proces- organização em prol dos programas 4,10. Em re-
sos concomitantes (Figura 1). Entretanto, é ne- cente revisão da literatura sobre a evolução das
cessário distingui-los levando em conta que es- organizações realizada por Pluye et al. 18, é apre-
ses processos são representados por seqüências sentado um quadro conceitual sugerindo quatro
cronológicas de eventos específicos a cada um categorias para análise dos eventos que podem
deles. Nesse sentido, adotou-se a seguinte tipo- conduzir à constituição de rotinas organizacio-
logia proposta por Pluye et al. 4,10 para a identi- nais programáticas: memória, adaptação, valo-
ficação e distinção dos indicadores por cada um res e regras. Essas foram utilizadas pelos autores
dos processos (Tabela 1): (i) eventos específicos e, a título de comparação, também neste estudo,
do processo de implantação: investimento de pois se referem aos recursos disponíveis, à ade-
recursos humanos, financeiros e materiais ade- quação às atividades institucionais, aos valores
quados para a execução das atividades; compa- coletivos dos que fazem a instituição e às ações,
tibilidade das atividades programáticas com as atividades e decisões que fazem parte da vida
da organização; (ii) eventos mistos (comuns) de institucional 17 (Tabela 1).
implantação e sustentabilidade: incentivos aos Os eventos foram classificados temporal-
atores organizacionais envolvidos; adaptação de mente e analisados em dois períodos: 2003-2008
programas de acordo com a eficácia e necessi- e 2005-2008, levando-se em conta que o início de
dades; adequação aos objetivos; comunicação cada um deles corresponde ao início do processo
transparente entre os atores; compartilhamen- de implantação em cada uma das unidades de
to de processos e resultados entre programas e análise e, as conclusões de estudo anterior de Fe-
organização; integração das regras relativas aos lisberto et al. 17, que procedeu a uma análise de
programas às regras da organização; (iii) eventos implantação da mesma intervenção, e apóiam

Figura 1

Modelo teórico-lógico para análise da sustentabilidade da Política Nacional de Monitoramento e Avaliação da Atenção Básica (PNMAAB) no Brasil, no período
de 2003-2008.

Contexto social e histórico

Atores

Processo de implantação da PNMAAB Grau de


implantação
Eventos específicos da implantação da intervenção dos
dispositivos

Eventos mistos

Melhoria
Eventos específicos da sustentabilidade Nível de do
Instituciona-
sustentabilidade Sistema
lização da
avaliação Saúde
Processo de sustentabilidade da PNMAAB
Atores
Tomada de decisão
Aprendizado organizacional
Prestação de contas Efeitos
Produção de conhecimento
/>t

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1082 Felisberto E et al.

Tabela 1

Dimensões conceituais, indicadores e tipos de eventos para análise da sustentabilidade da Política Nacional de Monitoramento e Avaliação da Atenção
Básica, no período de 2003-2008.

Categorias analíticas Questões orientadoras Indicadores Tipos de eventos

Memória (recursos Foram tomadas Quantidade adequada Investimento de recursos EVENTOS ESPECÍFICOS
humanos, financeiros, providências para estabilizar de membros qualificados humanos, financeiros e DA IMPLANTAÇÃO
materiais e outros) os recursos organizacionais na equipe; treinamento materiais adequados para a
(financeiros, humanos, e expertise da equipe; execução das atividades
materiais, de treinamento) disponibilidade de tempo
necessários às atividades do da equipe; apoio financeiro
programa/projeto? adequado; recursos
A organização assumiu materiais adequados e
riscos para desenvolver o suficientes; estrutura física; Compatibilidade das
programa/projeto? presença de defensores atividades programáticas
da política; existência com as da instituição
de liderança; criação de
células ou cargos para
o desenvolvimento das
atividades de M&A;
atividades de M&A
perturbam o fluxo
operacional de trabalho
Adaptação (adaptação As pessoas envolvidas Promoção de pessoal Incentivos aos atores EVENTOS MISTOS
e barreiras para foram incentivadas para a posições de maior organizacionais envolvidos DE IMPLANTAÇÃO E
adequação ao contexto desempenhar as atividades responsabilidade e poder; SUSTENTABILIDADE
e aos efeitos etc.) do programa/projeto? trabalho em rede; aumento

As atividades do programa/ da capacidade individual;

projeto foram adaptadas perda de autonomia; Adaptação de programas


ao contexto local ajustamento incremental de acordo com a eficácia e
levando em consideração das atividades de acordo necessidades da instituição
sua efetividade e com as necessidades da

as necessidades da instituição; rotatividade/

população? mudança de atores-


chave; existência de
programas concorrentes;
reconhecimento de
fracasso (não realização das
atividades da política em
detrimento das atividades
tradicionais, cujo êxito é
dado como certo)

(continua)

essa temporalidade ao identificar os períodos de em estudo anterior comissionado pelo Ministé-


expansão e de retração do processo de implanta- rio da Saúde 19. Utilizou-se como estratégia de
ção da política como conseqüência de mudanças pesquisa a análise de casos múltiplos e os dados
no cenário político institucional 17. foram coletados em fontes primárias por meio
Trata-se de uma pesquisa avaliativa com du- de entrevistas semi-estruturadas com vinte in-
as unidades de análise (federal e estadual) e três formantes-chave, selecionados em função de
unidades de observação compostas pela Gestão seu protagonismo no contexto de implantação
Federal da Atenção Básica e duas Secretarias da política 17 e em fontes de dados secundários
Estaduais de Saúde selecionadas em virtude de por meio da análise de 29 documentos institu-
terem sido consideradas experiências exitosas cionais (Tabela 2).

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ANÁLISE DA SUSTENTABILIDADE DE UMA POLÍTICA DE AVALIAÇÃO 1083

Tabela 1 (continuação)

Categorias analíticas Questões orientadoras Indicadores Tipos de eventos

Valores (coerência Os objetivos da organização Integração dos objetivos Adequação aos objetivos da EVENTOS MISTOS
com os objetivos foram levados em conta da política aos valores instituição DE IMPLANTAÇÃO E
institucionais, símbolos no desenho do programa/ da instituição e da SUSTENTABILIDADE
e rituais da organização projeto? equipe; reorientação das
etc.) Houve comunicação estratégias da instituição;
transparente entre as encontros periódicos
pessoas envolvidas? entre os atores envolvidos;
Compartilharam-se valores compartilhamento das Comunicação transparente
(artefatos, mitos, símbolos, atividades realizadas entre os atores
rituais, linguagens, valores) no projeto (relatórios,
entre a organização e o e-mails, sites); formalização Compartilhamento de
programa/projeto? do grupo de M&A valores, regras e símbolos
(organograma, portaria); entre programas e
apresentações de M&A instituição
com a marca da instituição; Integração das regras
símbolos de M&A (banners, relativas aos programas às
pôsteres, cartazes etc.) regras da instituição
integrados aos eventos da
instituição; planejamento
das atividades de M&A
integrado ao planejamento
das atividades tradicionais
da instituição; realização
das atividades de M&A
integrado à realização das
atividades tradicionais da
instituição; atividades de
M&A fazendo parte dos
documentos formais da
instituição (Plano de Saúde,
Relatórios de Gestão etc.)
Regras (nomeação As regras existentes para Recursos financeiros: Estabilização de recursos EVENTOS ESPECÍFICOS
de pessoa ou grupo o desenvolvimento das incorporação da atividade organizacionais dedicados DA SUSTENTABILIDADE
responsável pela atividades da organização financeira do programa aos programas
política, inclusão no foram integradas às regras ao financiamento central
planejamento da do projeto ou vice-versa? da instituição; recursos
organização etc.) Os recursos (financeiros, humanos da organização/
humanos, materiais mudança de funcionários;
e treinamento) recursos materiais da
disponibilizados pela organização/renovação
organização para realizar de recursos materiais
as atividades do programa quando necessário;
eram adequados? estrutura de apoio que faça
As práticas e técnicas regularmente a revisão,
usadas nas atividades do a reforma e a revenda do Riscos assumidos pela
programa eram compatíveis programa; uso generalizado instituição em prol dos
com aquelas da organização das novas atividades programas
(cite a organização)? (por parte de todos os
participantes relevantes);
exploração de novas
atividades; atores confiantes
em levar as novas atividades
adiante

M&A: monitoramento e avaliação.


Fonte: adaptado de Pluye et al. 10,18; Organization for Economic Co-Operation and Development 2; World Bank 3; Natal et al. 25; Felisberto et al. 26.

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1084 Felisberto E et al.

Tabela 2

Documentos oficiais para análise da sustentabilidade da Política Nacional de Monitoramento e Avaliação da Atenção Básica, no período de 2003-2008.

Documentos analisados
Documentos Data

Avaliação da Atenção Básica em Saúde: Caminhos da Institucionalização 16 2005


Portaria nº. 676 GM/MS 33 03/Junho/2003
Sumário executivo da Oficina: Avaliação da Atenção Básica – Estratégias de Institucionalização. Julho/2003
VII Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva
Apresentação da Política Nacional na II Mostra Nacional de Saúde da Família (fonte: apresentação oficial) Junho/2004
Projeto de Fortalecimento da Capacidade Técnica das Secretarias Estaduais de Saúde em Monitoramento 2004
e Avaliação. Termo de Referência 34
Ata da reunião tripartite onde foi aprovada a habilitação dos estados para o Projeto de Fortalecimento 2004
das Secretarias Estaduais de Saúde
Ata da 144a reunião do Conselho Nacional de Saúde 08/Julho/2004
Relatório do I Encontro de Centros Colaboradores Julho/2005
Resumo executivo da avaliação formativa do Projeto de Fortalecimento das Secretarias Estaduais de Saúde 2005
Edital MCT-CNPq 49/2005 2005
Ata da reunião tripartite onde foi aprovado o Pacto de Indicadores da Atenção Básica 2003
Relatório final da Oficina de Trabalho: Avaliação de Sistemas, Políticas e Programas de Saúde –
8o Congresso da ABRASCO 21/Agosto/2006
(versão preliminar),
25/Setembro/2006
Artigo de Felisberto 35 2004
Artigo de Felisberto 36 2006
Relatórios das Oficinas Macrorregionais e Seminários dos Estudos de Linha de Base
Relatórios das Oficinas Macrorregionais do Programa de Avaliação para a Melhoria da Qualidade
Relatório da Oficina sobre Institucionalização da Avaliação – VII Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva 2003
Relatório de gestão da CAA 2003
Relatório de gestão da CAA 2004
Relatório de gestão da CAA 2005
Relatório de gestão da CAA consolidado 2003-2006
Relatório da Oficina de Cooperação Técnica aos Municípios/PROESF 25 a 27/Julho/2005
Relatório de gestão da Secretaria de Atenção à Saúde, Ministério da Saúde 2004
Manual de Implementação da Fase 2 do PROESF: Projeto de Expansão e Consolidação 2008-2011
da Saúde da Família 37
Ajuda memória do PROESF – MS/World Bank 2003
Ajuda memória do PROESF – MS/World Bank (LN7105-BR) Março/2005
Arquivos do Programa de Formação de Avaliadores da Secretaria de Vigilância em Saúde, Ministério da Saúde
Arquivos do Programa de Formação de Avaliadores do Departamento de Atenção Básica, Secretaria
de Atenção à Saúde, Ministério da Saúde
Arquivos dos Cursos de Avaliação em Saúde do Grupo de Estudos de Gestão e Avaliação em Saúde (IMIP)

ABRASCO: Associação Brasileira de Pós-graduação em Saúde Coletiva; CAA: Coordenação de Acompanhamento e Avaliação da Atenção Básica do Ministério
da Saúde; IMIP: Instituto de Medicina Integral Prof. Fernando Figueira; MCT-CNPq: Ministério da Ciência e Tecnologia, Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico; PROESF: Projeto de Expansão e Consolidação do Saúde da Família.

As vinte entrevistas foram realizadas com ge- Expansão e Consolidação do Saúde da Família –
rentes de projetos, coordenadores, assessores e PROESF – e dirigentes do Conselho Nacional dos
diretores do Departamento de Atenção Básica do Secretários Estaduais de Saúde – CONASS (1) e
Ministério da Saúde (6); gestores de duas Secre- do Conselho Nacional de Secretários Municipais
tarias Estaduais de Saúde – SES 1 (5) e SES 2 (4) de Saúde – CONASEMS (2). Para as entrevistas foi
selecionadas em estudo anterior encomendado construído um roteiro, adaptado de Pluye et al. 10,
pelo Ministério da Saúde 19; dirigentes do Ban- para servir como guia na coleta de informações,
co Mundial (2), órgão financiador do Projeto de contendo questões orientadoras no sentido de

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ANÁLISE DA SUSTENTABILIDADE DE UMA POLÍTICA DE AVALIAÇÃO 1085

evidenciar aspectos importantes da política, tra- rotinização e padronização, demonstrando uma


duzidos como “eventos críticos”. situação mais propícia à continuidade da políti-
Por questão de ordem ética, os informantes- ca. E, foi classificado como Evento Desfavorável
chave entrevistados não foram identificados in- (D) aquele cuja interpretação sugeriu circunstân-
dividualmente. Ainda, deve-se deixar claro que cias adversas à continuidade da política 4,10,27.
alguns dos autores deste trabalho podem ser ca- Também, os eventos críticos foram interpreta-
racterizados como pesquisadores-atores do pro- dos e categorizados quanto às características
cesso de implantação da política. Portanto, não de “memória”, “adaptação”, “valores” e “regras”
obstante ter-se trabalhado sempre apoiado na propostas por Pluye et al. 18. Essas classificações
documentação pertinente, tomou-se o cuidado foram atribuídas a todos os eventos analisados
de ter entre os autores um supervisor externo sê- independentemente de serem específicos de im-
nior que assegurasse a vigilância epistemológica plantação, sustentabilidade ou mistos.
da investigação. Em seguida, para cada uma das três unida-
Os documentos analisados, relacionados na des de observação – Gestão Federal da Atenção
Tabela 2, foram os Relatórios de Gestão e Docu- Básica, Secretaria Estadual de Saúde I e Secre-
mentos Técnicos Institucionais da Coordenação taria Estadual de Saúde II – procedeu-se a soma
de Avaliação da Atenção Básica do Ministério da dos eventos críticos favoráveis e desfavoráveis e
Saúde, Portarias, Ata do Conselho Nacional de a estimação de sua relação percentual no inte-
Saúde, Atas de Reuniões da Comissão Intergesto- rior de cada unidade. O Nível de Sustentabilida-
ra Tripartite, Relatórios de Oficinas e Seminários, de foi determinado, então, como: forte (quando
Artigos Institucionais e Editais de Pesquisa. Esses encontrados mais de 80% de eventos favorá-
objetivaram apreender o desenvolvimento das veis), médio (entre 60% e 80%) e baixo (abaixo
atividades da política desde a sua implantação. de 60% de ocorrência deles). Esses níveis foram
Utilizou-se para a coleta de dados a Técnica arbitrados tendo em vista o caráter inovador
de Incidentes Críticos proposta por Flanagan 20, deste estudo avaliativo e em virtude da indispo-
que consiste em solicitar relatos de situações e de nibilidade de métodos prontos para este tipo de
fatos críticos vivenciados pelos atores para serem análise, principalmente referentes à implanta-
avaliados pelo pesquisador. Incidentes críticos ção de programas ou políticas de saúde pública
são situações relevantes, observadas e relatadas 4,9,10,21,27,28,29.

pelos sujeitos entrevistados, podendo ser positi- As entrevistas foram gravadas pela equipe de
vos ou negativos em função de suas conseqüên- pesquisa com o consentimento livre e esclareci-
cias. Com a aplicação dessa técnica, as variáveis do dos entrevistados. A investigação foi aprovada
envolvidas numa determinada atividade ficam pelo Comitê de Ética do Instituto de Medicina
evidenciadas, captando eventos ou comporta- Integral Prof. Fernando Figueira, sob o protocolo
mentos que podem ser indicadores do sucesso n°. 1168/2008.
ou de insucesso de um programa 21,22,23,24.
No plano de análise somente os eventos críti-
cos foram retidos para análise e interpretados co- Resultados
mo específicos de implantação, eventos mistos
de implantação e sustentabilidade e específicos A Tabela 3 apresenta os eventos críticos da Polí-
de sustentabilidade. Respostas contraditórias tica Nacional de Monitoramento e Avaliação da
foram consideradas “eventos vagos” 10, tendo Atenção Básica no período de 2003 a 2008, por
sido desprezados. Para a seleção dos indicado- unidades de observação e de análise, interpre-
res, apresentados na Tabela 1, foram adaptadas tados e classificados temporalmente por tipo de
as proposições de Pluye et al. 10, atualizando-as evento (específicos da implantação, mistos de
com estudos realizados pelo Banco Mundial 2,3, implantação e sustentabilidade, e específicos da
Natal et al. 25 e Felisberto et al. 26 e, mediadas pe- sustentabilidade); por categoria analítica (me-
las reflexões de Scheirer 9 em sua análise e co- mória, adaptação, valores e regras); e em razão
mentários sobre estudos empíricos de sustenta- de serem ou não favoráveis à sustentabilidade.
bilidade de programas 2,3,4,6,9,25,26. Analisando-se por tipo de evento na Gestão
Para a estimação do Nível de Sustentabilida- Federal da Atenção Básica, com relação aos es-
de os eventos críticos foram analisados e inter- pecíficos da implantação, em que pese o investi-
pretados em razão de serem ou não favoráveis mento na contratação e qualificação de pessoas,
à sustentabilidade 27. Classificou-se, portanto, na captação de recursos financeiros, na defesa da
como Evento Favorável (F) aquele cuja interpre- política por atores-chave e na liderança exercida
tação na análise do conteúdo sugeriu uma con- por sua coordenação; a insuficiência de recur-
tribuição positiva em direção às dimensões des- sos materiais e equipamentos e a inadequação
critas na introdução deste artigo – processos de do espaço físico da Coordenação de Avaliação da

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1086 Felisberto E et al.

Atenção Básica apresentaram-se como eventos de estarem em consonância com os princípios


opositores à implantação. As atividades desen- do SUS (Tabela 3). Ao final, a unidade de aná-
volvidas no âmbito da política eram compatíveis lise Gestão Federal da Atenção Básica foi clas-
com as atribuições institucionais da estrutura sificada no nível médio de sustentabilidade por
organizacional responsável por sua coordenação ter apresentado 62,5% dos eventos favoráveis à
no período da implantação tornando-se, entre- rotinização.
tanto, conflitantes mais adiante (2006) com as Nas duas SES estudadas os eventos específi-
prioridades políticas decorrentes da mudança cos da implantação são todos igualmente favo-
na gestão do Departamento de Atenção Básica ráveis, na medida em que o financiamento das
(Tabela 3). atividades de monitoramento e avaliação (M&A)
Quanto aos eventos mistos da implantação possibilitou a reestruturação das instâncias es-
e da sustentabilidade, a maioria deles apresen- taduais responsáveis pela atenção básica, com
tou-se favorável em direção a um processo de aquisição de equipamentos, recursos materiais,
rotinização: incentivo aos atores envolvidos com readequação da estrutura física, compra de veí-
a realização de cursos para os técnicos e o es- culos, dentre outros. Além disso, a criação e for-
tabelecimento de parcerias com instituições de malização dos núcleos de M&A com representa-
ensino e pesquisa; adequação dos objetivos da ção de outras áreas técnicas foram entendidas
política aos objetivos da instituição consideran- como possibilidade de compatibilizar as ativida-
do a diversidade de olhares; comunicação das des do projeto às da SES (Tabela 3).
atividades da política por meio de eventos, im- Com relação aos eventos mistos da implan-
pressos ou internet; compartilhamento dos sím- tação e da sustentabilidade, apresentam-se co-
bolos institucionais nas apresentações; integra- mo favoráveis: os cursos oferecidos aos técnicos
ção das atividades de monitoramento e avaliação envolvidos, a tentativa de integração das áreas,
às demais atividades no âmbito do Ministério da a realização de encontros para divulgação das
Saúde; e o fato de que ao final do primeiro perí- atividades, a criação de instrumentos de M&A
odo de gestão, quando foi necessária a substitui- (SES 1) e a inclusão das atividades de M&A nos
ção da coordenação, esta passou a ser exercida documentos formais (SES 2). Entretanto, a des-
por um dos integrantes do grupo técnico. Entre- continuidade do projeto em 2007 promoveu a
tanto, a diminuição do grau de autonomia dessa priorização de outros projetos, desmobilizando
nova coordenação com conseqüente prejuízo à os técnicos envolvidos. Um evento importante
liderança necessária, aliada às novas prioridades relacionado à adaptação do programa, também
políticas em vista de um novo cenário político- em 2007, foi a mudança dos gestores estaduais,
institucional, foram eventos desfavoráveis à sus- que teve conseqüências distintas nas duas SES:
tentabilidade (Tabela 3). na SES 1, o novo gestor apresentava uma expe-
Em relação aos eventos específicos da sus- riência acumulada na área de M&A e valorizava
tentabilidade, a maioria foi interpretada como as atividades realizadas, mesmo que a estratégia
desfavorável: não houve estabilidade de pessoal utilizada tenha sido a criação de um grupo para-
técnico e de consultores externos, assim como lelo de monitoramento dos indicadores da aten-
no fluxo dos recursos financeiros, além de a re- ção básica; na SES 2, o gestor não reconheceu a
novação dos equipamentos ainda ser uma ne- importância do projeto, ainda que as atividades
cessidade, apesar de a instituição ter assumido estivessem constantes nos documentos formais
riscos relevantes no que se refere à credibilidade (Tabela 3).
e responsabilidade social quando, por exemplo, É interessante notar o distanciamento que
procede a implantação do Projeto de Fortaleci- se dá entre as duas SES quando se observam os
mento da Capacidade Técnica das Secretarias eventos específicos da sustentabilidade. Nas du-
Estaduais de Saúde em Monitoramento e Avalia- as SES os eventos demonstram que não houve
ção da Atenção Básica (Tabela 3). de fato estabilização dos recursos, embora estas
Percebe-se, portanto, que na Gestão Federal a tenham assumido riscos ao aceitarem implantar
maioria dos eventos favoráveis esteve relaciona- o Projeto de Fortalecimento e mobilizarem re-
da à “adaptação” da política, na medida em que cursos para isto. Todavia, na SES 1 os municípios
as atividades da política estão em consonância foram envolvidos no projeto a partir da mobiliza-
com o contexto institucional e promovem incen- ção e preparo dos técnicos, capilaridade entendi-
tivos aos atores envolvidos; e aos “valores” insti- da como uma possibilidade de continuidade das
tucionais, na medida em que há um processo de ações; além disto, após o término do financia-
divulgação e comunicação permanente da políti- mento externo houve investimento de recursos
ca utilizando os símbolos institucionais, articula- próprios. Já na SES 2 os atores envolvidos parece
ção com os objetivos institucionais e integração não terem sido suficientemente mobilizados ou
com outras áreas do Ministério da Saúde, além sensibilizados a levarem as atividades adiante e

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ANÁLISE DA SUSTENTABILIDADE DE UMA POLÍTICA DE AVALIAÇÃO 1087

Tabela 3

Caracterização temporal e conceitual dos eventos críticos da sustentabilidade da Política Nacional de Monitoramento e Avaliação da Atenção Básica por
unidades de análise, no período de 2003-2008.

Eventos 2003-2008 2005-2008 SES 1 SES 2


Gestão Federal Gestão Estadual

EVENTOS Investimento Técnicos e consultores externos M Criação de um Núcleo Coordenador M M


ESPECÍFICOS DA de recursos suficientes com priorização da do Projeto de Fortalecimento
IMPLANTAÇÃO humanos, qualificação deste quadro por meio da SES em avaliação e de um
financeiros de cursos de aperfeiçoamento e Núcleo Ampliado composto na sua
e materiais especialização (2003-2006) maioria por profissionais efetivos,
adequados para que são capacitados pelo Centro
a execução das Colaborador (2006)
atividades
Financiamento externo (Banco M SES recebe recursos considerados M M
Mundial) para os projetos integrantes suficientes para a estruturação
da política com priorização para o institucional e qualificação dos
de fortalecimento da capacidade profissionais envolvidos (2006)
técnica das SES (2005-2006)
Quantidade e a qualidade dos M Aquisição de computadores, M M
recursos materiais e equipamentos impressoras, veículos etc. (2006)
de informática insatisfatórios no
início (2003)
Espaço físico insuficiente para a M O projeto proporcionou a melhoria e M M
quantidade de técnicos (2003-2008) reestruturação da estrutura física da
Atenção Básica (2006)
Política de avaliação defendida pelos V Tanto o núcleo coordenador quanto V V
atores-chave do Ministério da Saúde o ampliado percebem a importância
(2003-2006) da política por meio dos cursos e
passam a defender as atividades de
M&A (2006)
Liderança da coordenação da V Há uma liderança reconhecida na V V
política reconhecida pelos pares coordenação do projeto (2006)
(2003-2006)
Compatibilidade Reestruturação da CAA com A Houve formalização dos núcleos A A
das atividades da formalização no organograma do (ampliado e coordenador de M&A)
política com as da Ministério da Saúde (2003) com representantes de diversas
instituição áreas para coordenar e sistematizar
as atividades (2006)
Atividades da política em A
consonância com as atribuições
institucionais da CAA (2003-2005)
A coordenadora da CAA passa a ser R
remunerada por contrato – o cargo
é solicitado para outro setor do
Departamento de Atenção Básica
(2006)
Direção do Departamento da A
Atenção Básica deixa explícito
posição contrária a algumas
atividades da Coordenação da
política – a exemplo do fomento
a estudos e pesquisas avaliativas
(2006)

(continua)

Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 26(6):1079-1095, jun, 2010


1088 Felisberto E et al.

Tabela 3 (continuação)

Eventos 2003-2008 2005-2008 SES 1 SES 2


Gestão Federal Gestão Estadual

EVENTOS Incentivos Parcerias com instituições de ensino A Os integrantes dos núcleos de M&A A A
MISTOS DA aos atores e pesquisa nacionais e internacionais, passaram por um curso de formação
IMPLANTAÇÃO E DA organizacionais bem como com associações promovido pelo Centro Colaborador
SUSTENTABILIDADE envolvidos profissionais de reconhecido prestígio (2006)
político e acadêmico (2003-2006)

Liberação dos técnicos da CAA A Técnicos da Atenção Básica foram V


para realização de cursos de promovidos a posições de maior
aperfeiçoamento e especialização, relevância pela nova gestão por terem
além da participação em congressos participado das atividades do projeto
e outros eventos técnicos e científicos (2006)
(2003-2006)
Momento de maior autonomia da A
coordenação da política na realização
das atividades programadas
(2003-2005)
Coordenadora de um dos projetos A O trabalho com o Centro Colaborador, V V
estratégicos da CAA é nomeada o envolvimento de outras áreas no
Coordenadora da Política de projeto e a relação com o Ministério
Avaliação (2006) da Saúde possibilitaram um trabalho
integrado (2006)
Perda de autonomia da Coordenação A
da CAA que tem suas prioridades
voltadas para funções de controle e
regulação da Atenção Básica (2007)
Adaptação Mudança na gestão do Departamento A Criou-se um grupo paralelo no A
da política às de Atenção Básica com modificação planejamento para monitoramento
necessidades da no entendimento sobre o papel da dos indicadores do Pacto pela Saúde
instituição coordenação de avaliação (2005) (2007)
Diminuição no status de alguns A Houve o acompanhamento dos R
projetos estratégicos como o de indicadores do pacto pela saúde junto
fortalecimento das SES a partir da aos municípios, além da avaliação da
mudança da gestão do Departamento estrutura física das unidades (2006)
de Atenção Básica (2005)
A solução de continuidade entre A A
a primeira e a segunda fases do
financiamento externo fez com que
os profissionais se envolvessem em
outras atividades, e outros projetos
foram priorizados (2007)
Mudança na coordenação da política A Com a mudança do gestor estadual há V
com prejuízo na liderança da mesma uma valorização do projeto, pelo fato
(2007) de a Secretária de Saúde já conhecer
a importância do M&A (2007)
Com a mudança do gestor estadual V
não se consegue colocar a construção
coletiva da proposta metodológica
em prática, havendo uma frustração
dos envolvidos (2007)

(continua)

Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 26(6):1079-1095, jun, 2010


ANÁLISE DA SUSTENTABILIDADE DE UMA POLÍTICA DE AVALIAÇÃO 1089

Tabela 3 (continuação)

Eventos 2003-2008 2005-2008 SES 1 SES 2


Gestão Federal Gestão Estadual

EVENTOS Adequação aos A formulação e implantação da V As políticas que se integraram V V


MISTOS DA objetivos da Política de Avaliação da Atenção ao projeto possuíam objetivos
IMPLANTAÇÃO E DA instituição Básica consideraram os olhares e semelhantes ou complementares ao
SUSTENTABILIDADE necessidades de outras instâncias projeto (2006)
(constituição da Comissão Tripartite
de Avaliação da Atenção Básica)
(2003)
A institucionalização da avaliação V
numa perspectiva de descentralização
deixa de ser objetivo do
Departamento da Atenção Básica
(2005-2008)
Comunicação Realização de diversos Encontros/ V Há reuniões trimestrais do núcleo V
transparente entre Seminários Nacionais e Regionais de M&A, além da realização
os atores com Secretarias Estaduais, Municipais de seminários e encontros para
e Centros Colaboradores para socialização dos resultados
socialização de experiências (2003- alcançados, com registro em relatórios
2006) e divulgação aos envolvidos (2006)
Produção e distribuição de V Não há um cronograma de atividades V
várias publicações (Informativos, do núcleo coordenador, com
Documentos Oficiais, Publicações encontros sistemáticos, além da falta
Técnicas, Relatórios de Avaliação etc.) de registro dos encontros (2006)
(2003-2006)
Construção da home page da CAA V
no site do Ministério da Saúde para
disponibilizar todas as produções
(2004)
Compartilhamento Criação da Coordenação de V Houve formalização do núcleo R R
de valores, regras Acompanhamento e Avaliação da coordenador e do núcleo ampliado
e símbolos entre Atenção Básica no Ministério da de M&A por meio de Portaria
o programa e a Saúde (2003) institucional (2006)
organização
Todas as apresentações da política V
recebem a marca do Departamento
de Atenção Básica do Ministério da
Saúde (2003-2008)
Integração Integração das atividades da R O monitoramento dos indicadores R R
das regras do coordenação da política com outras do pacto da atenção básica e o
programa às regras iniciativas de avaliação do sistema monitoramento de indicadores
da organização de saúde no âmbito do Ministério da epidemiológicos são atividades
Saúde (2003-2006) rotinizadas e potencializadas com o
Projeto de Fortalecimento da SES
(2006)
Demais setores do Ministério da R Foi criado um instrumento de R
Saúde usam informações do SIAB e monitoramento/avaliação/ supervisão
do pacto de indicadores da Atenção integrada (2006)
Básica como práxis no âmbito
institucional (2004-2008)
As atividades de M&A passam a R
integrar o Plano Estadual 2004-2007,
a Agenda Estadual de Saúde 2006 e
o Relatório de Gestão 2003-2004

(continua)

Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 26(6):1079-1095, jun, 2010


1090 Felisberto E et al.

Tabela 3 (continuação)

Eventos 2003-2008 2005-2008 SES 1 SES 2


Gestão Federal Gestão Estadual

EVENTOS Estabilização Constituição de um Grupo Técnico R Houve investimento de recursos R


ESPECÍFICOS DA de recursos de consultores com larga experiência próprios para contratação de
SUSTENTABILIDADE organizacionais acadêmica e em gestão de sistemas consultoria após o término do
dedicados aos de saúde para acompanhar o financiamento externo (2007)
programas desenvolvimento da política (2003)
Não houve investimento de R
recursos próprios após o término do
financiamento externo (2007)
Término da 1a fase do financiamento R O núcleo coordenador se mantém, R
externo e redirecionamento de porém o grupo de técnicos que
parte dos recursos orçamentários assumiu funções estratégicas na
destinados a projetos de avaliação nova gestão tem dificuldade de
que vão para outros projetos (2006) assimilar a importância das ações de
M&A (2007)
Apenas 2 técnicos do núcleo de R
M&A permanecem após a mudança
do gestor estadual (2007)
Há uma necessidade de investimento R Desmobilização dos núcleos de M&A A A
e renovação de equipamentos de em virtude da definição de outras
informática (2006-2008) prioridades pela nova gestão (2008)
Desmobilização dos consultores A Ações de cooperação técnica e V
externos e saída de alguns técnicos integração com os municípios
da CAA (2007-2008) para a construção de propostas
metodológicas de M&A (2006)
Proposta Metodológica de M&A V
construída no âmbito da SES sem
envolvimento dos municípios (2006)
Riscos assumidos Implantação do Projeto de R Adesão à proposta de implantação R R
pela organização Fortalecimento da Capacidade do Projeto de Fortalecimento da
em prol do Técnica das SES em M&A, com alto Capacidade Técnica em M&A da
programa investimento de recursos financeiros Atenção Básica (2005)
(2003)
A adesão ao projeto implica a R R
exploração de novas atividades:
elaboração do Plano Estadual
de M&A, contratação do Centro
Colaborador, desenvolvimento da
capacidade técnica em M&A (2006)
O projeto mudou a visão dos R
técnicos e a rotina de trabalho,
dando mais segurança para chegar
aos municípios e discutir com os
técnicos (2006)
Não houve satisfatória adesão R
do grupo técnico, as oficinas de
capacitação no final foram muito
esvaziadas e finalizou com um grupo
pequeno (2006)

A: adaptação; CAA: Coordenação de Acompanhamento e Avaliação da Atenção Básica do Ministério da Saúde; M: memória; M&A: monitoramento e
avaliação; R: regras; SES: Secretaria Estadual de Saúde; SIAB: Sistema de Informações da Atenção Básica; V: valores.
Evento desfavorável Evento favorável

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ANÁLISE DA SUSTENTABILIDADE DE UMA POLÍTICA DE AVALIAÇÃO 1091

não houve o necessário envolvimento dos muni- ções contraditórias e não encontrará disponíveis
cípios do estado (Tabela 3). métodos prontos para serem usados na avaliação
Nessa perspectiva, nas duas SES, a maioria do grau de sustentabilidade ...”.
dos eventos favoráveis representa os “valores” Portanto, tomar decisões sobre a implanta-
institucionais, na medida em que há o envolvi- ção de programas no que diz respeito à sua con-
mento e integração de vários setores da SES na tinuidade, torna-se uma tarefa difícil e muitas
política, cooperação técnica aos municípios e vezes pouco respaldada em estudos específicos.
valorização da política e dos técnicos envolvidos O estudo aqui apresentado procura contribuir
por parte dos gestores; e as regras institucionais, com a superação dessa dificuldade no que diz
na medida em que há uma oficialização dos nú- respeito à Política Nacional de Monitoramento e
cleos de M&A, a utilização/elaboração de instru- Avaliação da Atenção Básica no Brasil.
mentos para nortearem as ações e a integração Os resultados mostrados indicam que os
das atividades de M&A nos instrumentos de pla- eventos de implantação e de sustentabilidade
nejamento da gestão (Tabela 3). Logo, a análise não acontecem em estágios, e sim em conco-
das duas SES estudadas revela níveis distintos de mitância, estando em conformidade com o su-
sustentabilidade. A SES 1 foi classificada no nível gerido por Pluye et al. 4,10. Eventos específicos
forte e a SES 2 no nível médio, com 83,3% e 68%, da implantação podem ocorrer anos após o seu
respectivamente, de eventos classificados como lançamento, bem como eventos específicos da
favoráveis à sustentabilidade. sustentabilidade podem ocorrer no período de
sua implantação.
A técnica do incidente crítico mostrou-se
Discussão adequada ao estudo pela facilidade de identifi-
cação dos eventos, enfatizados nas falas dos en-
É desejável estimular o debate direcionado à trevistados; dos eventos que pareceram ser um
compreensão e ao uso do conceito de sustenta- marco no tempo quando da análise documental;
bilidade. Essa pode ser entendida no contexto de e por se tratar de uma metodologia retrospecti-
uma multiplicidade de aspectos e, ao longo do va, permitindo observar temporalmente aque-
tempo, vai sendo apropriado por diferentes for- les que favoreciam ou não a sustentabilidade do
ças sociais que passam a lhe imprimir o significa- projeto 20. Todavia, o pouco tempo de existência
do que melhor expressa seus valores e interesses da política, sobretudo nos estados, talvez tenha
específicos 1,5,6,29,30. favorecido a classificação encontrada, uma vez
Mesmo não sendo objetivo deste artigo a que ainda estavam animados, em certo grau, pe-
discussão semântica ou ideológica da sustenta- los recursos destinados à implantação, e numa
bilidade, pontuamos aqui um aspecto relevante fase de mudança de gestores.
para o embasamento da necessidade do estudo Outro aspecto no que se refere à limitação do
apresentado. Isso, em vista da precaução que nos estudo, diz respeito a não validação dos eventos
remete à origem globalizada do termo, enraiza- críticos encontrados junto aos atores entrevis-
da na discussão dos programas governamentais tados em cada unidade de observação, embora
sobre meio ambiente e desenvolvimento e, pos- isto tenha se dado entre os pesquisadores, que
teriormente, assimilada por setores não-gover- compunham uma equipe multidisciplinar.
namentais e empresariais que enfatizam a sua O método utilizado neste estudo indica dez
dimensão econômica e tecnológica, no sentido tipos de eventos igualmente importantes, por
do “desenvolvimento sustentável” 30. meio dos quais se pode antever a evolução da
O aspecto que se faz relevante aqui se refere política 10. Porém, os resultados apontam para
à concepção do termo em suas múltiplas dimen- uma necessidade de ponderação dos mesmos,
sões que podem ser tratadas no campo indivi- na medida em que pelo menos três deles mostra-
dual ou social. Nesse sentido, a discussão sobre ram ter forte influência sobre os outros.
a sustentabilidade de programas públicos ganha Em primeiro lugar no que diz respeito aos
força na direção dos princípios da ética, na di- “investimentos de recursos adequados” – isto re-
mensão da responsabilidade com o bem público velou-se importante, caracterizado pela presen-
e com a eqüidade. ça de atores que, nas três unidades analisadas,
Entretanto, embora possamos supor que no favoreceram a inclusão da política no PROESF e
contexto internacional os envolvidos em progra- para a formação dos núcleos estaduais de moni-
mas de saúde pública considerem a questão da toramento e avaliação.
sustentabilidade como sendo uma prioridade, Também nos eventos relacionados à “adap-
parece realista, ainda hoje, a afirmação de Pluye tação das atividades às necessidades da institui-
et al. 4 (p. 121): “... qualquer um que deseje fazer ção” – uma vez que o interesse e a experiência
um programa durar se deparará com recomenda- acumulada em monitoramento e avaliação dos

Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 26(6):1079-1095, jun, 2010


1092 Felisberto E et al.

atores-chave puderam delimitar a importância mento externo 9. Nas SES, algumas atividades de
da política. Isso fica claro quando comparamos monitoramento já eram rotinizadas, como as de
as duas unidades de observação estaduais. Na acompanhamento dos indicadores pactuados e
SES 1, a gestora que assume em 2007 demons- a utilização de instrumentos construídos para
trava ter algum conhecimento acumulado sobre visita de supervisão aos municípios. Pode decor-
conceitos e práticas avaliativas, e embora tenha rer daí a demanda dos estados ao nível federal
criado um grupo paralelo no setor responsável de ampliar sua capacidade técnica e operacional
pelo Planejamento para monitorar os indicado- para o monitoramento e avaliação da atenção
res do Pacto pela Saúde, reconhece a importân- básica.
cia da atividade quando promove a integração Shediac-Rizkallah & Bone 31 propõem pres-
deste setor ao núcleo coordenador de monito- supostos para a institucionalização das ativida-
ramento e avaliação criado por meio do Projeto des de um programa no nível organizacional que
de Fortalecimento das SES em Monitoramento ratificam a análise realizada neste estudo para
e Avaliação. Na SES 2, o gestor estadual mobili- as três unidades de observação: (i) aspectos do
za mais esforços para a atenção especializada e desenho e características do projeto – o envol-
hospitalar e coloca cinco prioridades antes das vimento dos principais interessados e a possi-
atividades de monitoramento e avaliação. Na bilidade de adequação da política às necessida-
gestão federal, de 2005 a 2007, houve mudanças des e condições locais são aspectos favoráveis à
de pessoas estratégicas, tanto na coordenação da sustentabilidade da política nos três níveis, ao
política como nas demais áreas de interface no passo que a inexistência de avaliações que com-
âmbito do Ministério da Saúde, dificultando a provem a eficácia da política, o pouco tempo de
continuidade da mesma. existência da política e o fato do financiamento
Ainda, no que tange à “estabilização de recur- ser externo, desfavorecem sua continuidade; (ii)
sos organizacionais” – o término da primeira fase fatores próprios da organização que hospeda o
do PROESF (financiamento externo) desmobili- programa – estes fatores, que dizem respeito à
zou as ações da política em graus diferentes nas presença de defensores estratégicos da política e
duas SES e no nível federal, porém de maneira à compatibilidade dos objetivos da política com
determinante. O maior envolvimento dos atores os da instituição, tanto no nível federal quanto
nas atividades de rotina, um grande intervalo da- nas duas SES, oscilaram ao longo dos anos, sendo
do entre os encontros dos núcleos ou a extinção ora favorável, ora desfavorável. Todavia, ao tér-
deles e a entrada de novos projetos com financia- mino da primeira fase PROESF, a SES 1 contava
mento nas agendas prioritárias, são outros exem- com uma defensora estratégica – fato decisivo
plos de eventos nesse sentido. para a continuidade de algumas atividades; e (iii)
Há uma convergência razoável entre o que fatores no ambiente físico mais amplo da comu-
foi antes mencionado e os achados de Shediac- nidade – estes fatores dizem respeito à estabili-
Rizkallah & Bone 31 e Scheirer 9 que, embora não dade socioeconômica e política. Nesse sentido,
façam distinção entre os tipos de eventos e não apenas a SES 1 foi favorecida tanto pelo investi-
enfatizem o fator financeiro como determinante mento de recursos próprios por mais seis meses
da sustentabilidade, trazem contribuições para após o PROESF quanto pelo envolvimento dos
próximas análises. municípios em todo o processo. Mesmo assim,
Scheirer 9 refere que os mesmos fatores or- nos três níveis houve desmobilização dos atores
ganizacionais que fomentam a implementação e priorização de outros projetos.
mais forte de um novo programa, como: sua Por outro lado, podemos considerar como os
compatibilidade com a missão da organização; o resultados mais importantes no sentido da sus-
envolvimento e forte apoio do “defensor” organi- tentabilidade: o desenvolvimento da capacida-
zacional; os benefícios para membros da equipe de técnica e os movimentos inovadores gerados
e/ou clientes que sejam prontamente notados; pelo projeto, em consonância com o estudo de
e a importância do apoio de outros stakeholders Green 32. Em nosso caso, são exemplos a apro-
da comunidade provavelmente irão possibilitar ximação das instâncias gestoras com as institui-
a prestação de serviços continuados – apenas ções de ensino e pesquisa; a oportunidade de
os dois últimos eventos não foram agregados integração entre as áreas do nível federal e das
neste estudo. Nos casos analisados o financia- SES; e a construção de uma proposta metodoló-
mento externo parece ter sido interrompido gica específica com a finalidade de monitorar e
precocemente. avaliar a atenção básica.
Para a mesma autora, o que ainda pode favo- Considerando as perspectivas dos diversos
recer a continuidade da política é o fato dela ter autores, ainda que a sustentabilidade represen-
surgido da “necessidade” de quem vai operá-la tada no modelo lógico da política 16 pela “Insti-
e não apenas pela disponibilidade de financia- tucionalização da Avaliação na Atenção Básica”

Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 26(6):1079-1095, jun, 2010


ANÁLISE DA SUSTENTABILIDADE DE UMA POLÍTICA DE AVALIAÇÃO 1093

seja um resultado esperado da mesma, as ativi- gramas e projetos em uma mesma gestão, favo-
dades propostas devem ser avaliadas periodica- recendo mudanças na condução dos mesmos,
mente para constatação de quais delas devem ser colocando em perspectiva os diferentes interes-
de fato sustentadas, com base nos resultados que ses; (iii) à diretriz da gestão tripartite do SUS,
se deseja alcançar, a fim de não correr o risco de preservando a autonomia dos entes federados
dar continuidade a atividades desnecessárias 32. que pode, eventualmente, contribuir de forma
Além disso, as avaliações ajudam a identificar se antagônica; e (iv) ao lento processo de adapta-
os componentes da política foram incorporados ção das instâncias gestoras a novos instrumentos
aos processos organizacionais e não precisam decorrentes do permanente estágio de “aprimo-
mais do financiamento externo 9. ramento” do SUS.
Por fim, ainda que os resultados deste estudo É importante considerar que normas e regras
apontem para um caminho de rotinização das rotinizadas ou padronizadas podem contribuir
ações nas unidades analisadas, evidenciado pela para a perenidade e/ou maior continuidade de
classificação alcançada nos níveis de sustentabi- projetos e programas, mas isto sofre influência
lidade 10, as ponderações feitas neste artigo de- direta do grau de capacidade técnica e de pre-
vem ser consideradas, uma vez que o contexto do paro político dos trabalhadores do sistema. As-
sistema de saúde brasileiro apresenta diferentes sim, concordando com Scheirer 9, consideramos
contornos. a influência direta de fatores relacionados ao
Esses estão relacionados: (i) à alternância contexto político-organizacional e às pessoas
política nos entes federados que proporcionam envolvidas, conforme apontam as conclusões de
mudanças de gestão em descompasso, se con- estudo anterior de Felisberto et al. 17 , que aborda
siderarmos que este fato se dá de dois em dois a contextualização da Política Nacional de Moni-
anos em municípios e estados alternadamente; toramento e Avaliação da Atenção Básica no que
(ii) a freqüentes mudanças nas gerências de pro- tange à sua implantação e efeito.

Resumo

O estudo analisa a sustentabilidade da Política Nacio- taram no nível médio de sustentabilidade, a outra SES
nal de Avaliação da Atenção Básica a partir da iden- foi classificada no nível forte. Os resultados indicam
tificação e categorização dos eventos críticos represen- concomitância dos eventos e sugerem uma pondera-
tativos do processo de institucionalização. Pesquisa ção, pois os de adaptação das atividades, adequação
avaliativa com duas unidades de análise: Gestão Fede- e estabilização dos recursos demonstraram forte in-
ral da Atenção Básica e Secretarias Estaduais de Saúde fluência sobre os outros. Inovações e Desenvolvimento
(SES). Estudo de casos múltiplos com dados coletados da Capacidade Técnica são considerados os resultados
por meio de entrevistas e documentos institucionais, mais importantes no sentido da sustentabilidade.
usando a técnica de Incidentes Críticos. Os eventos
classificados temporalmente como específicos da im- Indicadores de Desenvolvimento Sustentável; Institucio-
plantação, da sustentabilidade e mistos, foram catego- nalização; Avaliação de Programas e Projetos de Saúde;
rizados analiticamente como de memória, adaptação, Avaliação em Saúde
valores e regras. A Gestão Federal e uma das SES resul-

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1094 Felisberto E et al.

Colaboradores Agradecimentos

E. Felisberto participou da concepção e coordenação Este estudo integra a Tese de Doutorado de E. Felis-
do estudo em todas as suas etapas, incluindo análise berto, apresentada ao Programa de Pós-graduação
dos dados e redação do artigo. E. Freese participou da stricto sensu do Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães
elaboração e orientação da pesquisa e da revisão do (CPqAM) da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e teve o
texto final. L. C. A. Bezerra e C. K. A. Alves participaram apoio financeiro do Ministério da Saúde e do Instituto
da elaboração do projeto de pesquisa, coleta e análise de Medicina Integral Prof. Fernando Figueira (IMIP),
dos dados e da redação do artigo. I. Samico participou por intermédio do convênio de cooperação técnica n°.
da redação do artigo e da revisão do texto final. 087/2005.

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