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Memórias de Ezequiel Carvalho ABC das Barragens

8 PROPAGAÇÃO DE CHEIAS EM ALBUFEIRAS – “ROUTING” DE CHEIA

8.1 Introdução

Uma barragem de armazenamento visa criar uma albufeira com determinada capacidade útil
que lhe permite fazer a regularização de caudais de estiagem.

Para o dimensionamento da barragem em termos de definição da sua altura, torna-se


necessária a determinação de quatro componentes:
 O volume morto.
 A capacidade útil.
 O volume de encaixe da cheia de projecto.
 A folga.

Através da curva dos volumes armazenados, o volume morto permite definir o nível mínimo
de exploração (NME) que corresponde habitualmente à soleira da descarga de fundo. O
volume resultante da soma do volume morto e da capacidade útil permite, novamente
utilizando a curva dos volumes armazenados, obter o nível de pleno armazenamento (NPA).

Normalmente, durante uma cheia e até se ultrapassar o caudal de pico, o caudal descarregado
é inferior ao caudal afluente. Daqui resulta que o volume não descarregado é armazenado na
albufeira, acima do NPA, correspondendo ao encaixe da cheia. Quando o diagrama da cheia
afluente é o da cheia de projecto, o correspondente volume encaixado, adicionado à
capacidade útil e ao volume morto, permite determinar o nível de máxima cheia (NMC).

Adicionada a folga ao NMC, obtêm-se o nível do coroamento. A altura da barragem é a


diferença entre o nível do coroamento e o nível do ponto mais baixo da secção transversal do
rio onde a barragem se insere.

O estudo do volume de encaixe da cheia de projecto, para a determinação do NMC, assim


como o cálculo dos hidrogramas dos níveis da albufeira h(t) e dos caudais descarregados
Q d (t) são feitos analisando a propagação (“routing”) da cheia na albufeira.

O “routing” da cheia leva a que o hidrograma descarregado seja diferente do hidrograma


afluente e que, normalmente, o caudal máximo descarregado seja inferior ao caudal máximo
afluente. O “routing” ou propagação da cheia acontece de forma diferente conforme o
descarregador da barragem disponha ou não de comportas (figura 8.1).

Propagação de cheias em albufeiras – “Routing” de cheia @ 2020 8-1


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a) Descarregador sem comportas b) Descarregador com comportas

Figura 8.1 – Hidrogramas descarregados

No caso de um descarregador sem comportas, o caudal descarregado Q d (t) depende apenas do


caudal afluente Q a (t) e das características do descarregador. Uma vez fixadas estas
características, o hidrograma Q d (t) é completamente determinado a partir de Q a (t).

Num descarregador com comportas, no entanto, Qd (t) não é função unicamente de Q a (t) e das
características do descarregador; o hidrograma do caudal descarregado depende também das
regras de operação das comportas. Assim, como se ilustra na figura 8.1b), um mesmo
hidrograma afluente Q a (t) pode originar diferentes hidrogramas de descargas Q d1 , Q d2 , etc.,
de acordo com as regras de operação que se adoptarem em cada caso.

8.2 Descarregador sem comportas

No caso de um descarregador sem comportas, o hidrograma do caudal descarregado é calculado


fazendo uso da fórmula de vazão do descarregador e da equação de balanço hídrico na albufeira;
a fórmula de vazão integra as características físicas do descarregador.

Nas pequenas barragens, a estrutura descarregadora é normalmente uma soleira (como a soleira
WES) mas os conceitos que se apresentam em seguida mantêm-se válidos para outras estruturas
descarregadoras (labirinto, canal colector, etc.) desde que o caudal possa ser expresso como
função monótona crescente do nível da água acima da crista do descarregador.

Para uma soleira descarregadora, a fórmula de vazão genérica, resultante da passagem do caudal
em regime crítico é

𝑄𝑄𝑑𝑑 = 𝜇𝜇 �2𝑔𝑔 𝐵𝐵 𝐻𝐻3/2 (8.1)

Na fórmula acima, µ ou C é o coeficiente de vazão, variando entre 0.40 e 0.55; B é a largura da


crista, e H é a carga acima da soleira. Como as velocidades na albufeira são negligenciáveis,

Propagação de cheias em albufeiras – “Routing” de cheia @ 2020 8-2


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pode-se tomar H=h, sendo h a altura de água acima da crista da soleira. Q d cresce
exponencialmente com H(=h); esta constatação permite com facilidade definir qualitativamente
o hidrograma Q d (t) (figura 8.2)

Figura 8.2 – Definição qualitativa do hidrograma do caudal descarregado

Quando a cheia se inicia e está no seu ramo ascendente (0 < t <t 1 ) verifica-se que o Q d < Q a .
Como consequência, o volume descarregado no intervalo de tempo (0, t 1 ) é inferior ao volume
afluente à albufeira nesse mesmo período de tempo. Portanto, o volume armazenado na albufeira
aumenta, o que corresponde também ao aumento de h e H. Se h e H aumentam, então também
Q d vai aumentando entre t = 0 e t = t 1 .

No período que decorre de t 1 a t 2 , o caudal afluente decresce depois de ter atingido o máximo
para t = t 1 . No entanto, o caudal descarregado continua a aumentar. Com efeito, entre t 1 e t 2 ,
embora Q a vá diminuindo, o caudal afluente continua a ser superior ao caudal descarregado.
Portanto, o volume armazenado na albufeira continua a crescer assim como h, H e, por
conseguinte, também Q d .

O instante t 2 corresponde ao ponto em que Q d iguala Q a ; em seguida (para t > t 2 ) passa o caudal
descarregado a exceder o caudal afluente. É fácil verificar que Q dmáx ocorre para t = t 2 . Para tal,
convém notar que para t < t 2 , Q d cresce, como se viu anteriormente. Basta então demonstrar que,
para t > t 2 , Q d decresce.

Ora, como Q d > Q a , a albufeira descarrega um volume superior ao volume afluente que está a
receber. Por conseguinte, o volume armazenado diminui, h e H decrescem e o mesmo acontece
com Q d .

Assim, num descarregador sem comportas, o caudal máximo descarregado é inferior ao caudal
afluente máximo e ocorre posteriormente ao pico da cheia.

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8.3 Cálculo da propagação da cheia pelo método de Plus num descarregador sem
comportas

A determinação quantitativa do hidrograma das descargas assim como dos níveis da albufeira e
dos volumes armazenados pode ser feita pelo método de Plus. Este método considera intervalos
discretos de tempo Dt e pressupõe que no instante t conhece-se o caudal afluente no instante t +
Dt.

Além disso, o método de Plus despreza a ocorrência, durante o período da cheia, da precipitação
na albufeira assim como da evaporação e outras perdas. O erro introduzido por esta simplificação
é normalmente pequeno já que estas variáveis correspondem a volumes de água relativamente
pequenos uma vez que as cheias duram períodos de tempo curtos.

O método de Plus baseia-se na equação simplificada do balanço hídrico da albufeira

𝑑𝑑𝑑𝑑
𝐼𝐼 − 𝑂𝑂 = (8.2)
𝑑𝑑𝑑𝑑

Em que:
I – Caudal afluente (cheia) = Q a
O – Caudal descarregado = Q d
S – Volume armazenado na albufeira
𝑑𝑑𝑑𝑑
Note-se que corresponde a um caudal, pelo que a equação é dimensionalmente homogénea.
𝑑𝑑𝑑𝑑

O método de Plus discretiza a equação diferencial em intervalos de tempo Dt. Nesse intervalo, I
e O serão representados pelas médias dos respectivos valores nos instantes t e t+Dt.

𝐼𝐼𝑡𝑡 +𝐼𝐼𝑡𝑡+∆𝑡𝑡 𝑂𝑂𝑡𝑡 +𝑂𝑂𝑡𝑡+∆𝑡𝑡 𝑆𝑆𝑡𝑡+∆𝑡𝑡 −𝑆𝑆𝑡𝑡


− = (8.3)
2 2 ∆𝑡𝑡

Fazendo um rearranjo desta equação, pode-se escrever

2𝑆𝑆𝑡𝑡 2𝑆𝑆𝑡𝑡+∆𝑡𝑡
𝐼𝐼𝑡𝑡 + 𝐼𝐼𝑡𝑡+∆𝑡𝑡 + − 𝑂𝑂𝑡𝑡 = + 𝑂𝑂𝑡𝑡+∆𝑡𝑡 (8.4)
∆𝑡𝑡 ∆𝑡𝑡

As quatro parcelas que figuram no primeiro membro da equação são todas conhecidas no
instante t+Dt: os caudais afluentes I t e I t+Dt ; o volume armazenado S t ; e o caudal descarregado
O t . As duas parcelas do 2º membro contêm as incógnitas S t+Dt e O t+Dt que ainda não foram
determinadas.

Os passos a dar na aplicação do método de Plus são então os seguintes:

Propagação de cheias em albufeiras – “Routing” de cheia @ 2020 8-4


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1º Passo
Constrói-se a curva 2S/Dt + O = f(h). Esta curva é fácil de construir uma vez que:
S = S(h) é a curva dos volumes acumulados;
O = O(h) é a curva/fórmula de vazão do descarregador.
Dt é arbitrado; convém que Dt seja relativamente pequeno já que isso melhora a
aproximação numérica. No entanto, Dt muito pequeno tem a desvantagem de tornar os
cálculos muito laboriosos se forem feitos “manualmente”, isto é. sem ajuda do
computador. Como regra prática, sugere-se que Dt esteja entre 1/6 e 1/24 do tempo para o
pico (t p ).

2º Passo
Tomando-se para t = 0, I 0 = O 0 = 0, S 0 = S (h o =NPA), calcula-se o primeiro membro da equação
8.4 para t = Dt. Como o primeiro membro tem relação com h, isto é, f(h), determina-se h Dt e a
partir daí O Dt e S Dt .

3º Passo
O 2º passo é repetido sequencialmente, substituindo-se os valores de t pelos de t+Dt e calculando
O e S para o novo instante t+Dt. Terminado o cálculo, obtêm-se os hidrogramas h(t), S(t) e
O(t)=Q d (t), assim como o volume de encaixe da cheia e o nível máximo atingido. Quando a
cheia considerada é a cheia de projecto, o nível máximo atingido é o NMC.

Exercício 8.1
Uma barragem dispõe de um descarregador sem comportas composto por uma soleira WES com
paramento de montante vertical. A carga de definição H d =2.0m e o descarregador tem uma
largura de 30 m. A curva dos volumes armazenados acima da crista é dada na tabela seguinte:

h (m) 0.00 0.25 0.50 0.75 1.00 1.50 2.00 2.50 3.00 3.50

S(Mm3) 0.00 0.16 0.41 0.73 1.09 1.92 2.88 3.93 5.08 6.30

O diagrama da cheia de projecto é dado na tabela que se segue:

T (h) 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13

I (m3/s) 0 133 267 400 360 320 280 240 200 160 120 80 40 0

Determine os hidrogramas h(t), S(t) e Q d (t), o volume de encaixe e o NMC.

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Exercício 8.2
Repita o problema anterior considerando que no início da cheia o nível da albufeira estava 0.50
m abaixo da crista da soleira e que tal representa um volume adicional de encaixe de 0.25 Mm3.

Exercício 8.3
Suponha que, para a cheia de projecto dada no exercício 8.1, pretendia dimensionar uma soleira
descarregadora tipo WES. Explique detalhadamente como iria determinar a largura mínima da
soleira para que o NMC não excedesse em mais de 1.5 m o NPA.

8.4 Descarregador com comportas

Num descarregador com comportas, o hidrograma do caudal descarregado é calculado fazendo


intervir a fórmula de vazão do descarregador e a equação do balanço hídrico da albufeira (tal
como no caso do descarregador sem comportas) e ainda as regras de operação das comportas.

Como a estrutura descarregadora é normalmente uma soleira tipo WES, as fórmulas de vazão a
empregar correspondem ou à situação de orifício, quando as comportas estão parcialmente
abertas, ou à situação de soleira livre, quando as comportas estão completamente abertas.

Normalmente, pode admitir-se que o caudal descarregado por cada comporta é independente dos
caudais que as outras descarregam, embora se estabeleçam regras de abertura conjunta de forma
que o escoamento no canal de descarga e a dissipação de energia se processem da melhor forma
possível.

Para orifícios de grandes dimensões, a fórmula de vazão engloba tanto a carga sobre a crista do
descarregador como a abertura da comporta (figura 8.3).

Figura 8.3 – Condições de vazão num descarregador com comporta

Propagação de cheias em albufeiras – “Routing” de cheia @ 2020 8-6


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A fórmula abaixo ilustra que Q d cresce com a carga H 2 e com a abertura da comporta H 2 -H 1 ; µ
é um coeficiente de vazão cujo valor pode ser tomado como 0.40 caso não se façam estudos em
modelo hidráulico.
3 3
𝑄𝑄𝑑𝑑 = 𝜇𝜇 �2𝑔𝑔 𝐵𝐵 (𝐻𝐻22 − 𝐻𝐻12 ) (8.5)

Quando a comporta está totalmente aberta, o escoamento processa-se livremente sobre a soleira e
a fórmula de vazão é a já anteriormente apresentada (8.1). Em qualquer dos casos, pode-se tomar
H 2 =h, sendo h a diferença entre o nível da água na albufeira e o nível da crista da soleira.

Um aspecto importante a reter é que, ao contrário do que acontece quando não há comportas, um
descarregador com comportas pode descarregar um hidrograma em que Q dmax pode ser superior
a Q amax e ocorre antes do pico da cheia afluente.

As regras de operação devem, por isso, ser cuidadosamente estudadas de forma a evitar que se
descarregue uma cheia maior que a cheia afluente; assim, as regras de operação das comportas
serão distintas conforme se disponha ou não dum sistema de previsão de cheias.

a) Operação de descarregadores sem previsão da cheia

Quando não existe em funcionamento um sistema de previsão de cheias, a cheia é detectada na


barragem através da subida do nível da albufeira. Neste caso, a operação é comandada
fundamentalmente pelo nível da albufeira e pela consideração de se estar na fase ascendente ou
descendente da cheia.

Podem indicar-se alguns princípios que as regras de operação devem obedecer:


 A abertura deve fazer-se por escalões em função do nível da albufeira, para que o caudal
a jusante não cresça subitamente.
 Na fase ascendente da cheia, Q d ≤ Q a ; o nível da albufeira não deve descer.
 Na fase descendente da cheia, deve procurar-se voltar rapidamente ao NPA.
 O NMC não deve ser ultrapassado pelo que, para um certo nível da albufeira (inferior ao
NMC), as comportas dever ser totalmente abertas.
 A abertura das comportas deve ser feita de forma a evitar que surjam problemas de
cavitação na soleira e perturbações na estrutura de dissipação de energia. Muitas vezes
estes fenómenos acontecem para pequeníssimas aberturas de comportas.

A definição das regras de operação faz-se começando por arbitrar os escalões de abertura das
comportas e testando essas regras iniciais para a cheia de projecto e também para cheias com

Propagação de cheias em albufeiras – “Routing” de cheia @ 2020 8-7


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períodos de retorno inferiores. Induzem-se sucessos ajustamentos com o objectivo de garantir


que o NMC não é ultrapassado, que o caudal descarregado não cresce muito bruscamente e que
se minimiza o caudal máximo descarregado, assim como o tempo em que o caudal descarregado
está acima de um certo limiar, que corresponderá a um certo nível de prejuízos, por exemplo,
estradas importantes inundadas.

b) Operação de descarregadores com previsão da cheia

Caso se disponha de um sistema de aviso de cheias em tempo real, a operação da albufeira pode
ser melhorada tendo em vista a minimização do caudal máximo descarregado, objectivo
justificado pelo facto de, normalmente, os prejuízos serem uma função crescente de Q dmax . A
figura 8.4 ilustra a forma de operação quando se dispõe de uma previsão de cheia afluente.

Figura 8.4 – Hidrogramas de Q d quando se dispõe de previsão de cheia; em que,


t p – momento de previsão da cheia; t c – início da cheia

A descarga antecipada de um caudal superior ao do caudal afluente permite aumentar o volume


disponível para o encaixe da cheia e, por conseguinte, reduzir o caudal máximo descarregado.
Procura-se, portanto, minimizar Q dmax sem, no entanto, descurar os princípios de abertura
gradual das comportas e de que o NMC não pode ser ultrapassado.

Mesmo quando não se dispõe de previsões em tempo real, por vezes procura-se garantir de um
volume de encaixe de cheias superior ao que corresponde à diferença de volumes armazenados
entre o NMC e o NPA.

Assim, se cheias ocorrerem quase todos os anos em determinada época, pode manter-se durante
essa época a albufeira a um nível inferior ao NPA. Corre-se, porem, o risco de não haver
ocorrência de cheia e a albufeira ficar com um volume armazenado inferior ao necessário para a

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época de estiagem seguinte. É preciso, portanto, comparar os valores esperados dos benefícios,
ou seja, a diminuição dos prejuízos das cheias, e os custos, isto é, as perdas devido a falta de
água na época de estiagem, para o que se pode usar um modelo de simulação.

8.5 Cálculo da propagação da cheia pelo método de Plus num descarregador com
comportas

Para se utilizar o método de Plus num descarregador com comportas, as regras de operação têm
de estar já definidas. Conhecendo as características do descarregador e as regras de operação, a
função O(h) fica perfeitamente estabelecida, embora possa apresentar descontinuidades devido à
abertura por escalões como ilustra a figura 8.5.

Figura 8.5 – Escalões de abertura do descarregador vs. níveis de água na albufeira

As descontinuidades não se tornam problemáticas caso se adopte um valor Dt bastante pequeno e


se for simultaneamente traçado o diagrama h(t) para eliminar as dúvidas que possam surgir para
valores de h próximos das descontinuidades.

A resolução é em tudo semelhante à do descarregador sem comportas. No entanto, para cada


nível h i em que há uma variação da abertura das comportas, há que considerar dois valores de O,
nomeadamente, O+ correspondendo à maior abertura e, O- para a menor abertura, o que
naturalmente origina também dois valores de 2S/Dt +O.

Exercício 8.4

O estudo de dimensionamento de uma barragem de armazenamento conduziu aos seguintes


valores:
 Curva de volumes armazenados 𝑆𝑆 = 0.43 ℎ1.22
 Volume morto 1.5 Mm3
 Capacidade útil 10.2 Mm3
 Cheia de projecto:

t(h) 0 3 6 9 12 15 18 21 24 27 30

Propagação de cheias em albufeiras – “Routing” de cheia @ 2020 8-9


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Q(m3/s) 0 65 250 430 500 375 250 150 75 30 0

a) Determine o NME e o NPA.


b) Determine o NMC considerando um descarregador com as seguintes características:
 2 comportas com vãos de 8 m e altura 4 m
 A crista da soleira do descarregador está 4 m abaixo do NPA.
 Regras de abertura das comportas:
 Abaixo do NPA+0.2 m  Comportas fechadas.
 De NPA+0.2 a NPA+0.5  Abertura de 0.5 m
 De NPA+0.5 a NPA+1.0  Abertura de 1.0 m
 De NPA+1.0 a NPA+1.5  Abertura de 2.0 m
 De NPA+1.5 a NPA+2.0  Abertura de 3.0 m
 Acima de NPA+2.0  Abertura total
Tome Dt = 3h. Trace os hidrogramas h(t), S(t) e Q d (t).

Exercício 8.5
Nas mesmas condições do exercício anterior, procure modificar as regras de operação de forma a
obter um NMC mais baixo.

8.6 Cálculo da folga de uma barragem

Considera-se a folga de uma barragem (“freeboard”) como sendo a distância medida na vertical
entre o coroamento e a superfície da água na albufeira. Distinguem-se dois tipos de folga:
i. Folga normal – distância desde o coroamento até ao NPA;
ii. Folga mínima – distância desde o coroamento até ao NMC).

A razão para a distinção entre folga normal e folga mínima é que elas correspondem a exigências
diferentes:

 A folga normal corresponde às exigências de armazenamento permanente. Deve ser


suficiente para impedir a percolação através da parte superior do núcleo de uma barragem
de terra (que fendilha com mais facilidade) assim como garantir o não galgamento por
ondas geradas por ventos excepcionais.
 A folga mínima deve considerar apenas ventos que possam, com razoável probabilidade,
coincidir com uma cheia excepcional.

Propagação de cheias em albufeiras – “Routing” de cheia @ 2020 8-10


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A determinação da folga pressupõe a determinação da altura e energia cinética das ondas,


factores que são dependentes da velocidade do vento, duração do vento, “fetch” máximo,
profundidade da água e largura da albufeira.

O “fetch” máximo consiste no seguimento de recta de maior comprimento que é possível traçar
sobre a albufeira, desde a barragem até à margem. Por consequência, o “fetch” efectivo tem em
conta a forma da albufeira e corresponde à média de 9 comprimentos, nomeadamente, o “fetch”
máximo, 4 seguimentos afastados de 3º entre si para a direita e outros 4 afastados para a
esquerda.

Na tabela 8.1 são apresentados valores de folga (normal e mínima) em função do “fetch”
efectivo, pressupondo que o paramento de montante está protegido por uma camada de
enrocamento (“rip-rap”); mas se o material for relativamente liso, os valores das folgas devem
ser aumentados em 50%.

Tabela 8.1
Valores da folga em função do “fetch”

“Fetch” (Km) Folga normal (m) Folga mínima (m)


<1.5 1.2 1.0
1.5 1.5 1.2
5.0 2.0 1.5
7.5 2.5 1.8
15.0 3.0 2.0

Existem outras variantes para o cálculo do “fetch”, embora a ideia se mantenha a mesma. Uma
das mais correntemente usadas é definida no Indian Standard (IS) 10635 da seguinte forma:

 Toma-se um ponto na barragem e consideram-se 15 radiais intervaladas de 6º, cobrindo


um sector de 45º para cada lado da radial central, que deve coincidir com o “fetch”
máximo (figura 8.6).
 Determina-se o comprimento de cada radial x i (entre o ponto da barragem e o limite da
albufeira) e o ângulo Φ i que a radial faz em relação à radial central. A posição da radial
central deve ser escolhida por forma a maximizar o “fetch”; em geral esse seguimento
será perpendicular (ou próximo dessa posição) ao eixo da barragem.
 O “fecth” efectivo é obtido pela seguinte fórmula:

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𝑖𝑖=15
�𝑖𝑖=1 𝑋𝑋𝑖𝑖 .𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶(𝛼𝛼𝑖𝑖 ).𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶(𝛼𝛼𝑖𝑖 )
𝐹𝐹𝐹𝐹 = 𝑖𝑖=15 (8.6)
�𝑖𝑖=1 𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶(𝛼𝛼𝑖𝑖 )

A soma dos cossenos desses ângulos é 13.512, dai que o denominador pode ser substituído por
este valor.

Figura 8.6 – Traçado para o cálculo do “fetch” efectivo.

8.7 Influência do descarregador nos custos de uma barragem

Consta-se facilmente que quanto maior for a capacidade de vazão dum descarregador maior
será o volume descarregado durante a cheia e, portanto, menor o volume de encaixe e baixo o
NMC; ou seja, um descarregador de maior capacidade permite uma barragem de menor altura.

Isto equivale a dizer que um descarregador de custo mais elevado (o custo do descarregador
cresce com a capacidade de vazão para um mesmo tipo de solução técnica) permite um corpo
da barragem mais barato (o custo do corpo da barragem cresce com a altura da mesma).

O objectivo a atingir será então o de minimizar o custo total, isto é, o custo do corpo da
barragem mais o custo do descarregador. Se, por exemplo, se estiver a considerar um
descarregador sem comportas, o seu custo e a capacidade de vazão crescem com a largura do
descarregador. Pode-se calcular o NMC e daí a altura da barragem e o respectivo custo para 3
ou 4 larguras distintas. A solução de custo mínimo é facilmente identificada na figura 8.7.

Um descarregador com comportas tem evidentemente uma capacidade de vazão muito superior
à de um descarregador sem comportas para além de permitir uma operação bastante mais
flexível. Exige, no entanto, um maior investimento inicial e custos mais elevados de operação e
de manutenção; estes custos devem ser transformados em valores actuais para efeitos de

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cálculos de custos para a determinação da solução mais económica.

Figura 8.7 – Relação entre a largura do descarregador e custos associados ao empreendimento

Fontes bibliográficas

 Carmo Vaz, A (1993) – Textos das Lições da Cadeira de Hidrologia. Universidade Eduardo
Mondlane (UEM), Maputo
 Marcelino, J (2009) – Projecto, Construção e Exploração de Pequenas Barragens de Aterro;
LNEC, Lisboa.
 Indian Standard 10635; Freeboard requirements in Embankment Dams - Guidelines WRD 9:
Dams and Spilleays; New Delhi 1993.

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