br
ISSN 2177-3548
[1] Pontifícia Universidade Católica de Goiás | Título abreviado: Operações motivadoras e esquizofrenia | Endereço para correspondência: Rua Aspília,
Quadra A3 Lote 20. Residencial dos Ipês, AlphaVille. CEP 74884 547. Goiânia, GO. | E-mail: robertamarconpsi@gmail.com | Nota: Parte da tese de
doutorado da primeira autora, sob a orientação da segunda.
Keywords: social attention; motivating operation; antecedent and consequent events; pro-
blem behaviors; functional analysis.
Resumen: El presente estudio discute el concepto de operación de motivación (OM) como
es tratado por los analistas del comportamiento y sus implicaciones para la evaluación e inter-
vención en problemas de conducta. La atención social es analisada como un evento ambiental
cuyo valor reforzador puede ser cambiado por operación de motivación que, a su vez, evoca
problemas de conducta. Se desprende de este análisis la importancia de la OM se tomar como
un componente adicional para la evaluación funcional de la conducta de los individuos diag-
nosticados con esquizofrenia. En consecuencia, se realizó una búsqueda de los estudios que
utilizan el diseño de análisis funcional que implica múltiples condiciones experimentales que
la atención social, el efecto de la OM, puede haber adquirido el valor de refuerzo, lo que favo-
rece la aparición de conductas problemáticas. Se puede afirmar que cuando la atención social
es escasa, instala una situación de privación de la atención (operación de motivación), que
modifica la eficacia de la atención social, por lo que es un reforzador potente. Esta operación
también se actúa en el proceso de producción de la conducta, una vez que los problemas de
conducta son comúnmente consecuenciados con diferentes formas de atención social como
sonrisas, gestos con la cabeza, una mirada simple, verbalizaciones.
Tradicionalmente, motivação refere-se a uma expe- tro modo: o foco do comportamento operante é na
riência interna, portanto, uma “força” que energiza o relação R-C. Então, a busca pelas operações conse-
comportamento, a ser procurada dentro do organis- quentes foi muitas vezes considerada central pelos
mo. Na visão analítico-comportamental, por outro analistas do comportamento.
lado, motivação está relacionada a variáveis externas Na década de 1980, Michael (1982) ressaltou
(variáveis motivadoras) que dependem de certas al- a necessidade de diferenciar mais claramente as
terações no ambiente, as quais têm efeitos sobre o condições que operam sobre o comportamento
comportamento do indivíduo (Catania, 1998/2008; aumentando ou diminuindo a eficácia reforçado-
Michael, 2000; Todorov & Moreira, 2005). ra dos estímulos consequentes, enfocando os efei-
Em se tratando do tema motivação, nos anos tos motivadores dos estímulos antecedentes – tal
1950, Keller e Schoenfeld (1950/1973) utilizaram proposta pode ser vista como uma extensão do
a expressão operação estabelecedora de drive para tratamento de B. F. Skinner ao tema da motivação.
diferenciar os efeitos de tais variáveis (motivado- Desse modo, sugeriu a terminologia operações es-
ras) dos efeitos das variáveis reforçadoras, uma vez tabelecedoras que, por sua vez, compreende qual-
que aquelas variáveis aumentam temporariamente quer mudança no ambiente que altere a eficácia
a força de um grupo de respostas, além de tornar o reforçadora de algum evento e, simultaneamente,
reforçamento possível. altere a frequência momentânea de respostas que
Embora Skinner (1953/2007) e Millenson têm sido seguidas por esses eventos (Basqueira,
(1967/1975) não tenham usado o termo operação 2006; Laraway, Snycerski, Michael & Poling, 2003;
estabelecedora para tratar do conceito de motivação Michael, 1982, 1988, 1993, 2000).
em suas obras clássicas – em geral, ambos se refe- Em se tratando das operações estabelecedoras,
riam a tais variáveis como drives –, esses autores Michael (1982, 1993) formulou a hipótese de que
destacam as operações de privação, saciação e esti- elas têm dois efeitos simultâneos e independentes
mulação aversiva como variáveis ambientais moti- sobre as ações de um organismo. Primeiro, uma
vadoras do comportamento. operação estabelecedora pode alterar o efeito re-
De modo geral, variáveis motivadoras funcio- forçador de um estímulo. Segundo, uma operação
nam como variáveis antecedentes que alteram tem- motivadora tem a função evocativa, no sentido de
porariamente a efetividade do evento reforçador aumentar comportamentos que tenham sido pre-
e, assim, evocam comportamentos relevantes para viamente reforçados pelo estímulo (Michael, 1982,
aqueles eventos, enquanto consequências (Michael, 1993). Exemplificando, “a privação de água aumenta
1982, 1993). a frequência de ocorrência de todos os comporta-
No entanto, ainda que em vários textos clássi- mentos condicionados e incondicionados relaciona-
cos da área o tratamento das variáveis motivadoras dos à ingestão de água” (Skinner, 1953/2007, p. 156).
fosse colocado como essencial para compreensão Dessa forma, operações como as de privação
do comportamento – tal como salientaram Keller de água adquirem efeito evocativo por alterar mo-
e Schoenfeld (1950/1973): “uma descrição do com- mentaneamente a efetividade da água como con-
portamento que não levasse em conta . . . o que hoje sequência reforçadora para comportamentos que a
se chama motivação estaria incompleta” (p. 277) –, produzem (Miguel, 2000). Tais operações mudam a
nos anos 1970, as variáveis antecedentes foram me- efetividade das consequências do comportamento
nos enfatizadas pelos analistas de comportamento (como um reforçador ou como um punidor), mu-
(Martin & Pear, 2007/2009). Smith e Iwata (1997) dando a probabilidade do comportamento por elas
esclarecem o porquê da não atenção ao controle evocado (Catania, 1998/2008). Cumpre destacar que
antecedente. Primeiramente, devido à postulação a privação implica acesso limitado a qualquer con-
de Skinner (1953/2007) de que o comportamento dição de estímulo: água, alimento ou, inclusive, inte-
operante é controlado por outros tipos de variá- rações sociais (da Cunha & Isidro-Marinho, 2005).
veis ambientais, além das variáveis motivadoras, Na última década, J. Michael e seus colabora-
que influenciam a efetividade das consequências, dores (Laraway et al., 2003) sugeriram a revisão da
tais como reforçadores ou punidores. Dito de ou- expressão operações estabelecedoras para operações
motivadoras (OM), visto que uma OM se subdivide com um mesmo efeito (evocador) são de “tipos”
em operações estabelecedoras (OEs) e operações abo- diferentes? A resposta a essa questão exige que se
lidoras (OAs). Uma OE (e.g., privação de alimento) descrevam as relações comportamentais relaciona-
aumenta a eficácia de uma consequência como refor- das à produção do efeito evocativo. Assim, em se
çadora. Uma OA (e.g., saciedade de alimento) reduz tratando do estímulo discriminativo, este é um es-
a eficácia de uma consequência como reforçadora. tímulo que foi correlacionado à disponibilidade de
Tal como observaram da Cunha e Isidro-Marinho um reforçador para determinado comportamento
(2005), essas operações motivadoras – de privação e que resultou em reforço relevante no passado. Por
de saciação – atuam em direções opostas. exemplo, se você está com fome e vê uma placa si-
Necessário salientar, ainda, que Michael (1993) nalizar comida caseira, a placa pode evocar o com-
distinguiu as operações motivadoras incondicio- portamento de entrar e pedir a comida, mas a placa
nadas das condicionadas. Nas primeiras, o efeito não aumenta sua fome (McGill, 1999).
estabelecedor é de origem filogenética, como, por Uma operação motivadora adiciona, ainda, o
exemplo, apresentação de alimentos, redução de efeito estabelecedor de um reforçador (e.g., longo
estímulos aversivos, entre outros; enquanto nas período sem comida estabelece a comida como um
últimas, o efeito estabelecedor é de origem onto- reforçador) e, assim, evoca comportamentos de
genética, portanto, adquirido durante a vida do or- procurar pela comida que, no passado, produziram
ganismo, a partir de sua história de aprendizagem. comida, mas seus efeitos não são discriminativos;
Michael (1993, 2000) também classifica as ope- uma operação motivadora muda o quanto as pes-
rações motivadoras condicionadas em três tipos: soas querem algo (McGill, 1999).
substitutas, reflexivas e transitivas, sendo abordada Considere o exemplo, que ilustra uma opera-
no presente artigo apenas esta última, dado seus ção condicionada transitiva: estar diante de uma
objetivos. Uma operação motivadora condicionada máquina de venda automática de refrigerante pode
transitiva ocorre quando a presença de um estímulo ocasionar, em uma pessoa propensa a tomar refri-
estabelece a efetividade reforçadora (ou punidora) gerante, a resposta de procurar uma moeda. Nesse
de um outro estímulo e evoca (ou suprime) o com- sentido, a máquina é um estímulo discriminativo
portamento seguido por aquele estímulo reforçador que estabelece a ocasião na qual é possível obter a
(ou punidor) (Michael, 1993, 2000). Cumpre adver- consequência: refrigerante. Com relação à moeda,
tir que, ao propor esse tipo de operação – transitiva a máquina não é um estímulo discriminativo que
–, Michael parece referir-se ao efeito de um estímu- aumenta a probabilidade de procurar moeda na
lo sobre outro estímulo. carteira. A moeda poderia ser procurada indepen-
No entanto, é apontada na literatura a possi- dentemente da presença da máquina. Entretanto, a
bilidade de as operações condicionadas transiti- máquina é uma variável motivadora que exerce efei-
vas serem interpretadas como estímulos discrimi- tos sobre o comportamento de procurar uma moe-
nativos, sendo necessário, pois, diferenciar mais da, já que torna a moeda uma consequência refor-
claramente aquelas com função discriminativa çadora para olhar na carteira (Catania, 1998/2008;
daquelas com funções motivadoras (da Cunha & Michael, 1982). Segundo Michael (1982), enquanto
Isidro-Marinho, 2005). a presença dos estímulos discriminativos muda as
Especificamente no campo das condições an- chances de a pessoa conseguir algo, as operações
tecedentes, observa-se que a operação motivadora motivadoras aumentam momentaneamente a pro-
(OM), assim como o estímulo discriminativo (SD), babilidade de as pessoas agirem para obter algo
pode atuar sobre as respostas do organismo como porque o valor reforçador deste “algo” foi alterado.
variável antecedente para influenciar o compor- É preciso, pois, distinguir controle discrimina-
tamento. Portanto, ambas as variáveis apresentam tivo do controle exercido pela OM. No primeiro
função evocativa (Iwata, Smith & Michael, 2000; caso, o estímulo discriminativo evoca determinada
Martin & Pear, 2007/2009). resposta que produzirá um dado reforçador porque
A partir do exposto, uma questão importante a este estímulo foi correlacionado com um maior su-
ser levantada é: por que duas variáveis (OMs e SDs) cesso na obtenção de tal reforçador; enquanto, no
segundo caso, o evento motivador aumenta tem- seus efeitos no controle e na manutenção do com-
porariamente o valor reforçador de determinada portamento de interesse. Além disso, uma descri-
consequência, assim como a probabilidade de ocor- ção exata da metodologia permitirá uma avaliação
rência de comportamentos que, anteriormente, le- mais crítica e aprofundada das variáveis das quais o
varam a tal reforçador (Catania, 1998/2008; Martin comportamento é função (McCord & Neef, 2005).
& Pear, 2007/2009). De acordo com Wacker (2000), a metodolo-
Com isso, nota-se o importante tratamento gia de investigação proposta por Iwata, Dorsey,
dado por Michael (1982, 1988, 1993, 2000) às va- Slifer, Bauman e Richman (1982/1994) para es-
riáveis motivadoras. Destaca-se que a análise aqui tudar o comportamento de autolesão de partici-
levantada parece consistente com os estudos das pantes autistas e com atraso no desenvolvimento
variáveis que estabelecem a efetividade reforçadora consistia em uma série de condições distintas nas
de uma dada consequência, como uma importante quais operações motivadoras e reforçadores eram
área de pesquisa. manipulados para cada tipo de variável hipotetiza-
Isso exposto cumpre salientar que, na década de da. Nesse estudo, reforçamento positivo era dispo-
1990, o Journal of Applied Behavior Analysis (JABA) nibilizado em forma de atenção social (e.g., “Não
apresentou vários estudos teóricos e empíricos so- faça isso. Você vai se machucar.”) contingente
bre o importante papel das operações motivadoras ao comportamento de autolesão, em uma condi-
(e.g., McGill, 1999 e Smith & Iwata, 1997). Iwata e ção definida como atenção. Para o reforçamento
colaboradores (2000) chamam a atenção para um negativo, uma tarefa com instruções difíceis era
importante fator demonstrado pelas pesquisas: a apresentada, sendo interrompida quando o com-
manipulação das variáveis motivadoras é um po- portamento de autolesão ocorria, em uma condi-
deroso método para reduzir comportamentos ina- ção chamada demanda. Como condição controle,
propriados e fortalecer comportamentos desejáveis o participante era deixado sozinho em uma sala
em ambientes naturais. sem nenhuma instrução, situação esta intercalada
Destaca-se, pois, que uma operação motivadora com sessões em que eram disponibilizados obje-
é de fundamental importância na relação de con- tos preferidos ou brincadeiras, mas sem deman-
tingência (antecedente – resposta – consequência), das. Já na condição intitulada sozinho, o partici-
podendo ser considerada como mais um elemento pante permanecia na sala sem acesso a brinquedos
desta relação, haja vista que a eficácia da consequ- ou demais materiais. Os achados apontaram que o
ência é alterada pela operação motivadora. A par- comportamento-problema foi fortemente influen-
tir do estudo empírico do controle motivacional ciado pelas consequências da atenção social (con-
sobre o comportamento, pode-se predizer e con- dição atenção) e da fuga de demanda (condição
trolar o comportamento – o que permite, de certa demanda), se comparadas às demais condições
forma, ampliar tecnologias comportamentais (da (controle e sozinho).
Cunha, 2001). Com esse enfoque da análise funcional, portan-
Em relação aos antecedentes do comporta- to, ao operar com possíveis condições motivadoras,
mento, deve-se perguntar: quais são os estímulos comportamentos-problema eram evocados. Tudo
discriminativos, ou os estímulos eliciadores, ou isso se justificava na busca do entendimento do que
as operações motivadoras? Já em relação aos estí- mantinha comportamentos-problema, examinando-
mulos consequentes imediatos, faz-se importante -os sob os efeitos de múltiplas condições de con-
investigar que função tem o comportamento para trole. Essas estratégias foram utilizadas na análise
a pessoa: eliminar, adiar ou minimizar os estímu- funcional de comportamentos-problema, conside-
los aversivos ou obter reforçadores (Martin & Pear, rados os mais severos (Britto, 2009; Thompson &
2007/2009). Martin e Pear (2007/2009) esclarecem Iwata, 2005).
ainda que, por meio de uma análise funcional (onde Hanley, Iwata e McCord (2003) notaram que
há manipulação sistemática de eventos), torna-se essa abordagem de avaliação tem sido útil na iden-
possível testar experimentalmente estímulos como tificação de contingências de reforço que mantêm
antecedentes ou como consequentes e observar comportamentos-problema, sendo replicada em
centenas de estudos, em sua maioria encontrada se funcional e, como resultado, é muito mais
no JABA. Por sua vez, Camp, Iwata, Hammond e amplamente entendida e aplicada do que teria
Bloom (2009) acrescentaram que, além de fornecer resultado somente a partir dos artigos sobre as
informações úteis sobre os determinantes do com- operações estabelecedoras.1 (p. 402)
portamento, o resultado de uma análise funcional Nessa perspectiva, Fischer, Iwata e Worsdell
facilita o desenvolvimento de intervenções para os (1997) conduziram análises funcionais acerca do
excessos comportamentais por meio de programas comportamento de autolesão de 36 indivíduos
individualizados de tratamento. encaminhados a uma instituição para tratamento
Excessos comportamentais apresentados por deste tipo de comportamento-problema. Todos os
indivíduos expostos a eventos de privação de indivíduos foram expostos a uma série de condi-
atenção social podem ser mantidos pelas conse- ções (atenção, demanda, sozinho e jogo), tendo
quências que produzem, a saber, a atenção social. apenas três destas condições sido relevantes para a
Entre os indicadores de que o comportamento está análise: (a) presença de operação motivadora e de
sendo mantido por atenção social, Martin e Pear contingência de reforçamento (condição atenção),
(2007/2009) sugeriram: (a) o fato de a atenção se- (b) presença de operação motivadora e ausência de
guir-se contingentemente ao comportamento, (b) o contingência de reforçamento (condição sozinho)
fato de o indivíduo olhar para ou se aproximar da e (c) ausência de operação motivadora e de contin-
pessoa encarregada antes de se engajar no compor- gência de reforçamento (condição jogo).
tamento e (c) o fato de o indivíduo sorrir logo antes Os resultados indicaram que o comportamen-
de se engajar no comportamento. As coocorrências to de autolesão foi mantido pela atenção social,
desses três eventos apontam que o comportamento ocorrendo em altas taxas na condição na qual os
pode estar sendo mantido pela atenção social. indivíduos foram privados da atenção (operação
Nos inúmeros estudos realizados com o enfo- motivadora), exceto quando a atenção era dispo-
que da metodologia de análise funcional (functio- nibilizada contingentemente à ocorrência de tal
nal analysis methodology) – tal terminologia foi comportamento (condição atenção). Já na condição
adotada por Iwata (1994), Iwata e Dozier (2008), sozinho, em que o indivíduo foi privado de atenção
entre outros –, evidenciou-se que comportamen- (operação motivadora), foram produzidos aumen-
tos-problema eram mantidos por atenção social. tos leves no comportamento de autolesão de cinco
Esse enfoque de análise funcional se converteu em dos participantes, demonstrando que a mera pre-
um importante marco para assegurar uma avalia- sença de uma variável motivadora pode influenciar
ção mais adequada das aplicações da ciência do o comportamento. Na condição jogo, foram obser-
comportamento na busca das causas ambientais vados níveis mais baixos de comportamento de au-
do comportamento-problema, em oposição a cau- tolesão para 31 dos 36 participantes, condição esta
sas fisiológicas internas, sempre invocadas e ain- em que foi disponibilizada atenção não contingente
da não comprovadas (Britto, 2009; Thompson & em um tempo fixo (duas vezes por minuto), sendo
Iwata, 2005). o comportamento de autolesão ignorado (Fischer,
Com a metodologia de análise funcional, a rele- Iwata & Worsdell, 1997).
vância das operações motivadoras para o compor-
tamento em contextos aplicados tornou-se mais
evidente (Vollmer & Iwata, 1991).
Segundo Michael (2000): 1 No original, em inglês: The necessity of experimentally de-
A necessidade de determinar experimentalmente termining the reinforcement for particular instances of self-
o reforço para casos especiais de comportamen- -injurious behavior focused attention on antecedent variables
to de autolesão chamou a atenção para variáveis that altered the reinforcing effectiveness of behavioral conse-
antecedentes que alteraram a efetividade refor- quences—in effect, establishing operations. The EO concept
has become an increasingly common part of the language of
çadora de consequências comportamentais – functional analysis, and as a result is much more widely un-
com efeito OE. O conceito de OE tornou-se cada derstood and applied than would have resulted solely from
vez mais parte comum da linguagem da análi- the articles on establishing operations (Michael, 2000, p. 402).
pressuposto de que o valor reforçador da atenção 2001 Wilder, D. A., Masuda, A., O’Connor, C., &
social estaria sujeito a operações motivadoras es- Baham, M. (2001). Brief functional analysis
and treatment of bizarre vocalizations in an
tabelecedoras e de que estas evocariam comporta- adult with schizophrenia. Journal of Applied
mentos (apropriados ou não), pretende-se levantar Behavior Analysis, 34(1), 65-68.
uma discussão do efeito de possíveis OMs sobre o 2003 DeLeon, I. G., Arnold, K. L., Rodriguez-
valor da atenção. Catter, V., & Uy, M. L. (2003). Covariation
Com base nessa perspectiva, o presente estu- between bizarre and nonbizarre speech as
a function of the content of verbal attention.
do enfatiza trabalhos que utilizaram a metodologia Journal of Applied Behavior Analysis, 36(1),
de análise funcional envolvendo condições experi- 101-104.
mentais de atenção para estudar o comportamento 2004 Lancaster, B. M., LeBlanc, L. A., Carr, J.
verbal inapropriado de pessoas com o diagnóstico E., Brenske, S., Peet, M. M., & Culver, S. J.
de esquizofrenia, como uma tentativa de interpre- (2004). Functional analysis and treatment of
the bizarre speech of dually diagnosed adults.
tar o pouco acesso à atenção como uma OM que Journal of Applied Behavior Analysis, 37(3),
estabeleceria a atenção como um reforçador e, as- 395-399.
sim, evocaria qualquer resposta que, no passado, 2008 Santana, L. A. M. (2008). Comportamento
produziu atenção. verbal e esquizofrenia: Estratégias operantes
A análise realizada no presente artigo foi ela- de intervenção (Dissertação de mestrado não
publicada). Universidade Católica de Goiás,
borada a partir de um levantamento na literatura Goiânia, GO.
analítico-comportamental de pesquisas aplicadas
2010 Britto, I. A. G. S., Rodrigues, I. S., Alves, S.
na área, sendo selecionadas para a presente aná- L., & Quinta, T. L. S. S. (2010). Análise fun-
lise aquelas contendo manipulações de condições cional de comportamentos verbais inapropria-
de atenção na análise funcional, em decorrência de dos de um esquizofrênico. Psicologia: Teoria
e Pesquisa, 26(1), 67-72.
comportamento-problema (e.g., fala inapropriada
e/ou bizarra) emitido por pessoas com diagnóstico 2011 Marcon, R. M., & Britto, I. A. G. S. (2011). O
comportamento verbal do esquizofrênico sob
de esquizofrenia. avaliação funcional experimental. Manuscrito
Para a presente análise interpretativa, foram se- submetido à publicação.
lecionados, no total, sete artigos publicados entre
os anos de 2001 e 2011. Na Tabela 1, adiante, são
apresentados os artigos publicados selecionados
para a presente análise por manipularem a condi-
ção atenção em decorrência de falas inapropriadas
e/ou bizarras emitidas por pessoas com diagnóstico
de esquizofrenia.
da, inclusive se se considerar que a manipulação das Catania, A. C. (2008). Aprendizagem: Comporta-
variáveis motivadoras é um poderoso método para mento, linguagem e cognição (4a ed.; D. G. Sou-
o controle de comportamentos (Iwata et al., 2000). za, Trad.). Porto Alegre: Artmed. (Trabalho ori-
Portanto, o impacto de uma operação motiva- ginal publicado em 1998).
dora adquire relevância como componente para Da Cunha, R. N. (2001). Motivação: Uma tradu-
a análise funcional do comportamento ao poten- ção comportamental. Em R. C. Wielenska
cializar intervenções que envolvem a manipulação (Org.), Sobre comportamento e cognição: Vol. 6.
sistemática de variáveis. É possível que, quando a Questionando e ampliando a teoria e as inter-
atenção social é pouco disponibilizada em ambien- venções clínicas em outros contextos (pp. 74-78).
tes, naturalmente a privação da atenção evoque Santo André: ESETec.
comportamentos-problema comumente conse- Da Cunha, R. N., & Isidro-Marinho, G. (2005).
quenciados com formas diversas de atenção. Operações estabelecedoras: Um conceito de
Uma vez que certos tipos de condições ambien- motivação. Em J. Abreu-Rodrigues & M. R.
tais podem ser considerados como OMs, sugere-se Ribeiro (Orgs.), Análise do comportamento:
que outras pesquisas sejam feitas e, inclusive, que Pesquisa, teoria e aplicação (pp. 27-44). Porto
possam testar o controle exercido pelos SDs e pe- Alegre: Artmed.
las OMs sobre o valor da atenção. Nesse sentido, é DeLeon, I. G., Arnold, K. L., Rodriguez-Catter, V.,
sugerido que se realizem pesquisas que busquem & Uy, M. L. (2003). Covariation between bizar-
estudar experimentalmente as influências dos re and nonbizarre speech as a function of the
eventos antecedentes dos quais o comportamento- content of verbal attention. Journal of Applied
-problema é função. Isso porque, no presente estu- Behavior Analysis, 36(1), 101-104.
do, levantou-se uma possibilidade interpretativa a Dixon, M. R., Benedict, H., & Larson, T. (2001).
partir das condições de atenção manipuladas por Functional analysis and treatment of inap-
outros pesquisadores. propriate verbal behavior. Journal of Applied
Behavior Analysis, 34(3), 361-363.
Referências Fischer, S. M., Iwata, B. A., & Worsdell, A. S. (1997).
Basqueira, A. P. (2006). A influência do conceito Attention as an establishing operation and as
de operações estabelecedoras na prática de um reinforcement during functional analyses.
analista do comportamento: Uma análise de Journal of Applied Behavior Analysis, 30(2),
artigos de B.A. Iwata publicados no Journal of 335-338.
Applied Behavior Analysis. (Dissertação de mes- Hanley, G. P., Iwata, B. A., & McCord, B. E. (2003).
trado não publicada). Pontifícia Universidade Functional analysis of problem behavior: A
Católica de São Paulo, São Paulo, SP. review. Journal of Applied Behavior Analysis,
Britto, I. A. G. S. (2009). Esquizofrenia: Intervenções 36(2), 147-185.
operantes. Em R. C. Wielenska (Org.), Sobre Iwata, B. A. (1994). Functional analysis methodolo-
comportamento e cognição: Vol. 23. Desafios, gy: Some closing comments. Journal of Applied
soluções e questionamentos (pp. 393-401). Santo Behavior Analysis, 27, 413-418.
André: ESETec. Iwata, B. A., Dorsey, M. F., Slifer, K. J., Bauman, K.
Britto, I. A. G. S., Rodrigues, I. S., Alves, S. L., & E., & Richman, G. S. (1994). Toward a functio-
Quinta, T. L. S. S. (2010). Análise funcional de nal analysis of self-injury. Journal of Applied
comportamentos verbais inapropriados de um Behavior Analysis, 27(2), 197-209.
esquizofrênico. Psicologia: Teoria e Pesquisa, Iwata, B. A., & Dozier, C. L. (2008). Clinical ap-
26(1), 67-72. plication of functional analysis methodology.
Camp, E. M., Iwata, B. A., Hammond, J. L., & Behavior Analysis in Practice, 1(1), 3-9.
Bloom, S. E. (2009). Antecedent versus conse- Iwata, B. A., Smith, R. G., & Michael, J. (2000).
quent events as predictors of problem behavior. Current research on the influence of establishing
Journal of Applied Behavior Analysis, 42(2), operations on behavior in applied settings. Journal
469-483. of Applied Behavior Analysis, 33(4), 411-418.