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RESUMO
1
Aluno do curso de Comunicação e Semiótica da Pntifícia Universidade Católica do Paraná
2
Professor Orientador
Introdução
5
Sistemas de Som, constituídos de um toca-discos e uma caixa de som potente.
violência das favelas de Kingston e a situação política da Ilha”. (PIMENTEL, 1997, p. 25).
Abreviação de rhythm and poetry6, é um gênero musical nascido entre negros e
caracterizado pelo ritmo acelerado e por uma melodia bastante singular. As longas letras
são quase recitadas e tratam em geral de questões cotidianas da comunidade negra,
servindo-se muitas vezes das gírias correntes nos guetos das grandes cidades.
Na base musical do RAP, é dançado o Break, que nasce como uma alternativa à
violência citidiana. “Pelo menos desde 1967 existe as gangues de break, que, em suas
batalhas para definir que poderia dançar melhor, foram automaticamente tirando das ruas,
inúmeros jovens que poderiam se tornar marginais” (MACARI abud PIMENTEL, 1997 p.
11). Macari coloca como o Break aos poucos substitui estas guerras entre gangues
trazendo paz para os subúrbios estadunidenses, fenômeno semelhante ao que acontece
no Brasil.
Menos visível comercialmente, mas com grande capacidade comunicativca, o
grafite surge da pixação como um elemento plástico do Hip-Hop, que mitas vezes carrega
em si a identidade visual do movimento.
Grafite é a arte de escrever ou pintar em muros, paredes e outros suportes dentro
das cidades em sua maioria públicos. Dentro do formato como é trabalhado hoje, esta
forma de expressão nasce dentro das comunidades pobres, principalmente formadas por
negros e porto-riquenhos, na periferia estadunidense. “O grafite surgiu inicialmente como
tag (assinatura). Em meados da década de 1960, os jovens dos guetos, também de Nova
York, começaram a "pichar" as paredes com seus nomes.” (PIMENTEL, 1997).
Estes suportes públicos para a arte do grafite foram a solução encontrada pela
comunidade carente anseava por melhores condições e desejava expor suas idéias, sua
revolta.
Assim como nas festas e batalhas de B.Boys, problemas são discutidos bem
como alternativas para driblar e mostrar estes problemas para a sociedade, manifestando
e exigindo melhorias. “A certeza de que sua manifestação será olhada ou lida e que
suscitará reações, sejam quais forem, constitui um impulso para a continuidade da ação
do pichador 1 ou do escritor de graffiti. (PROSSER, 2006).
O grafite é descendente da pixação, a arte de sujar muros com mensagens e tags 7.
Geralmente são utilizadas letras garrafais, muitas cores e desenhos com forte teor
político, muitas vezes denunciando problemas da vizinhança. (PIMENTEL, 1997).
Para o jovem que pratica essas intervenções urbanas, seja cantando, dançando
ou desenhando, a cidade é mais que suporte para a sua manifestação, é um ponto de
6
Ritmo e Poesia
7
Assinatura do pixador, geralmente colocado em letras legíveis apenas para o próprios pixadores.
encontro entre ele e os seus iguais e o campo de batalha entre ele e seus diferentes.
Em reciprocidade ao Hip-Hop utilizar a imagem, através dos elementos, para
manifestar-se, a imagem também utilizar-se-a deste como uma nova vertente da moda,
distituindo dos significados que o formam. Essa cisão é tão profunda que passa a
caracterizar um Hip-Hop totalmente diferente do movimento socio-cultural, gerando
elementos artísticos distintos, que embora sejam baseados nos elementos originais,
diversificam-se em suas mensagens e estilos.
“A resistência é recíproca: o rappers8 ignoram a mídia, assim como ela procura
mantê-los à distância. Melhor para eles”. (Martins, 2003, p.9) A frase que abre a
reportagem da revista Caros Amigos, mostra a realidade de alguns grupos de rap, que
tem como objetivo a transmissão da cultura Hip-Hop como ela é mantida dentro das
favelas e guetos, com crítica social forte e mensagens que ajudam na emancipação.
Na década de 1980 quando o jeito negro começa a mostrar-se ao mundo, mostra-se
também lucrativo. “Os lucros produzidos pelos filmes baratos de Lee 9 mostraram que há
um público para o cinema negro(...), o que levou Hollywood a calcular que há um público
significativo para este tipo de filme”(KELLNER, 2001 p.205). Este novo mercado acaba
por expandir-se, criando novos ícones culturais que levarão finalmente a expressão negra
às lojas.
Não apenas a moda negra passa a ser consumida, mas seus trejeitos, suas
expressões e até mesmo seu dialeto são agora utilizados fora das comunidades onde
foram criados graças a essa exposição, o que por sua vez, também é baseado no contato
dos próprios negros com o consumo e a mídia. Essa situação de exposição e diluição
cultural chegará ao então recém criado movimento Hip-Hop. Com a indústria de mercado
permeando e assumindo propriedade de praticamente todas a formas de produção
cultural, o rap, e demais elementos, são transformados em imagem e representação,
gerando uma discrepância entre o que é colocado como Hip-Hop na rua e na mídia.
Estes elementos têm adaptado-se a condição de imagem, com artistas servindo de
modelo para a moda, influenciando inclusive o jeito de falar de seus espectadores.
Grandes personalidades do RAP, do break e do grafite, estrelam propagandas dos mais
variados bens de consumo, atuam em filmes e em jogos eletrônicos, criando sobre o Hip-
Hop esta nova face de imagem dominante da necessidade, na qual o indivíduo deve
reconhecer-se. Condição que provoca um cisma com sua atividade de origem uma vez
que “o espetáculo não é identificável ao simples olhar, mesmo combinado com o ouvido.
8
Cantor de RAP
9
Spike Lee, cineasta estadunidense negro que mostra, através do cinema, a cultura e o cotidiano de
comunidades negras carentes.
Ele é o que escapa a atividade dos homens, à reconsideração e correção de sua obra. É
o contrário do diálogo. Em toda parte onde há representação independente, o espetáculo
reconstitui-se“. (DEBORD 1997,p.18).
A representação independente, é senão o elemento midiático que agora aborda
questões exclusivas da imagem, deixando de lado a ideologia e indagações sociais
abordadas pelos elementos artísticos da periferia. As diferenças são tão notáveis que dois
Hip-Hop coexistirão, um destinado às ruas e regiões mais necessitadas; outro destinado
às lojas, rádios e estampas de camisetas.
“Eu estou cansado de ser pobre e até pior, eu sou preto
Meu estômago ronca, então eu procuro uma bolsa pra roubar
Os tiras sempre culpam os negros
Puxam o gatilho, mata um negão, ele é um herói
Dar crack para as crianças, quem se importa?” (SHAKUR, 1998)10.
Tupac Shakur, mesmo sendo artista vinculado a uma grande gravadora, ainda
mantém, em suas letras, diversos problemas sócio-culturais, alertando constantemente a
população negra estadunidense, para a necessidade de mudanças, não apenas contra o
sistema, mas também em sua aitude diária com outro negros igualmente necessitados. O
foco das letras continuam seguindo a mesma linha do Hip-Hop das ruas.
“Você está cantando agora...com 50cent
Você vai adorar!
Eu só quero relaxar e dançar muito
Eu só quero pegar sol no meu 7-45
Você me deixa louco mina” (Jackson, 2003)11
50 Cent é também artista de uma grande gravadora, porém pertence a época de um
Hip-Hop já consolidado como moda, percebe-se então uma mudança de nas letras que
agora exaltam a vida descompromissada, refletindo a nova situação do artista.
O rapper, o b.boy e o grafiteiro são agora pessoas prestigiadas, artistas que não
precisam mais lutar pelos seus direitos e passam justamente esta imagem como “atitude”.
“Fique rico ou morra tentando”, o lema de 50 Cent e de outros negros que conseguiram
status e poder social, mostram o processo de banalização que ocorre com os elementos e
com o Hip-Hop como um todo. Esse status adquirido é muito bem aproveitado por
campanhas publicitárias que desejam passar através de suas marcas o mesmo poder e
atitude. Daí o uso de estrelas do RAP afim de que o indivíduo reconheça-se na imagem
forte e marcante do artista através do produto (ou marca).
“O movimento de banalização que, sob as diversões cambiantes do
espetáculo, domina mundialmente a sociedade moderna, domina-a também
em cada um dos pontos onde o consumo desenvolvido das mercadorias
multiplicou na aparência os papéis a desempenhar e os objetos a escolher”
(DEBORD 1997 p.89).
10
Texto retirado da canção Changes de Tupak Sahkur
11
Texti retirado da canção 21 Questions (21 questões) de Curtis James Jackson III conheido como 50 Cent
No início da decada de 1980, o Break ganha novos espaços graças a exposição para
as massas, através de artistas como Michael Jackson e Madonna, com suas
performances baseadas na dança de rua. O interesse súbito da mídia por uma dança
diferente e que tem como origem os guetos, logo faz com que o Break precise adaptar-se
a sua nova condição de imagem. Assim mudanças de estilo começam a surgir, afim de
torná-lo comercialmente mais atraente.
Os elementos perdem parte de seu significado, sendo colocados apenas como mera
face artística, sem o conteúdo social ao qual estavam atrelados historicamente. A atitude
pregada incessantemente pela mídia, é senão escolher corretamente o objeto que a ser
comprado e consumido, a imagem que garantirá a visão de mundo consolidada, tanto
para o possuidor do objeto, quanto para quem o observa, ou o “assiste”.
Um elemento, separado então dos demais, será também objeto a ser consumido e
garantirá a base de imagem necessária a outros objetos de consumo, nem todos
necessariamente distantes do Hip-Hop.
As crews12 de B.Boys parecem importar-se cada vez mais com seu perfil artístico
em detrimento do movimento Hip-Hop propriamente dito. “Pra mim é um estilo de vida!
Por mim, assim o Break assim eu não parava de dançar nunca mais. Tanto que até eu to
com vontade de fazer uma tatuagem, no meu braço, do meu grupo, pra mim assim é um
estilo de vida”. (Gordo)13.
Em contrário à construção do coletivo pregada pelo Hip-Hop e pela arte de rua em
geral ressalta-se o individualismo de garantir seu espaço, sua moda. Utilizados como
campanha publicitária os elementos perdem seu senso comunitário, servem então para
firmar uma imagem individual de individualidade, reforçando o arquétipo usado como
modelo a ser seguido por quem deseja ser único, “a absorção eufórica dos modelos
dirigidos é só uma das manifestações da moda; do outro lado, há a indeterminação
crescente das existências, a fun morality trabalha na afirmação individualista da
autonomia privada”. (LIPOVETSKY, 1987 p.177).
O termo Hip-Hop carrega consigo uma série de significados. Esses significados,
dependem não só da maneira como o termo é transmitido, mas também da experiência
intrínseca de cada individuo que está recebendo esta informação. Assim pode-se dizer
que, conforme a quantidade e qualidade de informação um indivíduo detiver sobre
determinado assunto, sua compreensão do mesmo será diretamente afetada.
O espetáculo apropria-se de elementos destas manifestações e despe-o de sua
fonte, seu campo de produção, entregando-o como mera distração ou entretenimento,
12
Turmas, grupos que praticam o Break.
13
B.Boy da região metropolitana de Curitiba. Depoimento retirado de entrevista realizada em 2003.
transferindo-os como algo superior ao nicho onde foram concebidos.
“As vedetes existem para representar variados estilos de vida e de estilos de
compreensão da sociedade, livres para agir globalmente. Elas encaram o
resultado inacessível do trabalho social, imitando subprodutos desse
trabalho que são magicamente transferidos acima dele como sua finalidade:
o poder e as férias, a decisão e o consumo que estão no início e no fim de
um processo indiscutido.” (DEBORD, 1997 p.40)
14
MORATORE, Patrícia. http://www.spiner.com.br/modules.php?name=News&file=article&sid=1044. Acessado em
Dezembro de 2006
Break, grafita muros ou canta o RAP gerando uma identidade visual para os membros do
Hip-Hop. Como essa moda mais acessível vai justamente de encontro com as
perspectivas econômicas do Hip-Hop, e mais, vai de encontro a nova dinâmica social do
espetáculo, da busca pelo novo, o próprio Hip-Hop entra em evidência como ícone da
moda jovem para o mundo, colocando agora o Movimento, não mais como vetor da moda,
mas como a própria moda. As calças largas são vendidas como tamanho padrão,
camisetas e tênis especiais são fabricados, perdendo a finalidade de roupa alternativa e
ganhando status de direcionador dos gostos. Essa moda, conforme é consumida vai
distanciando-se de seus conceitos norteadores, ou seja, distanciando-se de seu campo
de produção, sendo colocado como mero consumo, acima da prática que a gerou.
Contúdo, este comportamento não nasce com a transformação do Hip-Hop,
sistemas de moda servem de ditâme para todo o tipo de comportamento desde sua
consolidação. “As estrelas despertam comportamentos miméticos em massa, imitou-se
amplamente sua maquiagem dos olhos e dos lábios, suas mímicas e posturas”
(LIPOVETSKY, 1987 p. 214).
A moda porém, não é um símbolo de status ou de diferenciação de poder
aquisitivo (classes).
“... a moda é menos signo das ambições de classes do que saída do mundo
da tradição, é um desses espelhos que torna visível aquilo que faz nosso
destino histórico tão singular: a negação do poder imemorial do passado
tradicional, a febre moderna das novidades, a celebração do presente
social.” (LIPOVETSKY, 1987 p. 10).
15
B.Boy da região metropolitana de Curitiba. Depoimento retirado de entrevista realizada em 2003
16
Dançarino de Curitiba. Depoimento retirado de entrevista realizada em 2003
Conclusão
17
O MH2O (Movimento Hip-Hop Organizado), surgiu em São Paulo em 1989, e ajudou a organizar e
divulgar o Hip-Hop em território nacional.
18
Tem o mesmo significado de gangue ou “crew” que são os grupos que se reúnem para discutir ações,
tomar decisões e treinar a prática do break, Grafite ou RAP. (ANDRADE, 2003)
A consciência negra, a auto estima, a união da classe marginalizada da periferia
toma forma nas letras, coreografias e discursos dos integrantes do Movimento. "Somos
os pretos mais perigosos do país e vamos mudar muita coisa por aqui. Há pouco ainda
não tínhamos consciência disso" (KL Jay in KHEL, 2007 página não fornecida). Além
desta nova consciência, outro aspecto do Hip-Hop, um de seus mais elementares, é a
mostrar a cara da periferia e suas dificuldades dentro do pequeno espaço conquistado
dentro da mídia, usando assim a própria imagem e o espetáculo. “Quem prestar atenção
nas letras quilométricas do rap, provavelmente vai se sentir mal diante do tom com que
são proferidos estes discursos. É um tom que se poderia chamar de autoritário, mistura
de advertência e de acusação.”(KHEL, 2007 página não fornecida). Essa acusação é feita
na rua mesmo, através da dança em locais públicos reivindicados com muita dificuldade,
nas letras dos rappers, nos muros grafitados, a rua é o primeiro suporte da arte urbana de
contestação.
“Nos anos1970 e 1980, a cultura negra urbana do Hip-Hop desenvolvia
novas formas de música, dança e canto, apropriadas à experiência e à
cultura negras. (...) mas a sua explosão em Cds e vídeos musicais tornaram
o rap e o Hip-Hop muito mais visíveis, produzindo novas formas de
identidade e experiência.” (KELLNER, 2001 p 203).
Justamente devido a tal exposição, a cultura negra será agora parte desta mídia,
influenciando todos os tipos de consumidores, o que acarretará no processo de
banalização e mera assimilação por parte do mercado cultural garantindo a representação
ilusória do não vivido. Essa representação fará frente ao movimento original, colocando
como imagem individual o que era construído coletivamente
A separação, tanto da sociedade como do Hip-Hop, é causada pela dinâmica
social da busca pelo novo. Fruto da torrente econômica mercantil, representação da
cultura separada de seu campo de produção, gera uma perda da gradativa da
comunicação. “O consumo espetacular que conserva a antiga cultura congelada (...)
torna-se no seu setor cultural o que ele implicitamente é na sua totalidade: a comunicação
do incomunicável. (DEBORD, 1987 p.125).”
É provável que o Hip-Hop continue existindo como manifestação sócio cultural
(limitado ao seu próprio nicho) mesmo após seu desgaste como vedete espetacular.
Porém a imagem do Movimento como um todo será afetada permanentemente com o
gradativo processo de separação forçada, tanto para quem o pratica quanto para quem o
consome.
Referências Bibliográficas
DEBORD, G. A sociedade do espetáculo. Rio de Janeiro: Contraponto, 1997