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ENSAIO SOBRE OS PRESSUPOSTOS FUNDAMENTAIS DE UMA COSMOVISÃO

E SUA RELAÇÃO COM A OBJETIVIDADE NA ATIVIDADE CIENTÍFICA.

Pedro Guimarães Marchi

INTRODUÇÃO

Nesse ensaio pretendo expor algumas ideias e reflexões acerca da relação entre os
pressupostos básicos de uma cosmovisão e a questão da objetividade na atividade científica.
A tese brevemente defendida é que afirmar a possibilidade, ou não, da objetividade na
atividade científica, depende dos pressupostos básicos da cosmovisão na qual essa atividade é
desenvolvida. Para tanto, defino cosmovisão aqui como: sistema de compromissos básicos do
coração que são expressos em pressupostos básicos, não capazes de serem submetidos a
provas, e a partir dos quais o indivíduo, ou grupo que compartilha desses mesmos
pressupostos, interpreta o mundo à sua volta. E objetividade é aqui entendida como qualidade
de um conhecimento em que a sua factibilidade independe das preferências subjetivas dos
sujeitos que o detém ou o comunicam.

O PRESSUPOSTO ONTOLÓGICO

Seria demasiado extenso elucubrar sobre todas as questões básicas que nossa cosmovisão
responde. Entretanto acredito que a maneira mais intuitiva de entendermos a relação dos
pressupostos básicos de uma cosmovisão e a atividade científica seja elucubrando sobre
questões igualmente básicas que revelam os pressupostos fundamentais. Entre essas questões
podemos enumerar pelo menos as seguintes: “Quem somos (o que é o homem)?”; “Por que
algo e não o nada?”; “O que é o ser e a existência?”; “De onde viemos e para onde vamos?”,
etc.

Ainda que todas essas questões estejam relacionadas, a maneira particular como respondemos
a cada uma delas revela a nossa visão de mundo, revela as lentes pelas quais enxergamos e
interpretamos o mundo. Sem querer ser exaustivo, entretanto, pretendo enfatizar a as questões
relacionadas ao ser a existência. O que é o ser? Por que existe algo e não o nada? Existe
algum propósito na existência? A resposta para essas perguntas revelará o que pressupomos, e
revelará também que esses pressupostos, como o próprio termo exige, não são provados, mas,
dizendo de maneira coloquial, são cridos.
O ponto é que absolutamente ninguém, nem mesmo o mais insensível cientista, consegue
fugir dessas questões. Todas as pessoas no mundo têm uma cosmovisão, ainda que não
consigam descrevê-las e nem as submetam ao prumo da análise teorética. É exatamente nesse
ponto que a neutralidade do sujeito se torna um mito, pois não há uma cosmovisão neutra,
livre de pressupostos, livre de crenças.

Parece-me que nos filosofia da ciência, por diversos motivos que não pretendo analisar, há
certo consenso quando a ausência de neutralidade nos sujeitos. Imagino que por conta dos
usos controversos da ciência principalmente pelos regimes autoritários do século XX fizeram
com que alegar neutralidade dos agentes científicos soasse esteticamente negativo nos dias
atuais. Concordo que a neutralidade dos sujeitos seja um mito, mas por motivos lógicos, e
aqui entra a discussão central desse texto.

É logicamente impossível afirmar a neutralidade absoluta de um sujeito, pois é impossível que


um sujeito não seja imbuído de uma cosmovisão baseada em pressupostos fundamentais e
compromissos básicos do coração humano. Para que houvesse neutralidade absoluta em
algum sujeito ele precisaria ser completamente despido de seus pressupostos. Mas, mais do
que isso, seria necessário pressupor que a realidade fosse neutra. Mas, então, estaríamos
pressupondo algo sobre a realidade e, por consequência, já não seria neutro, porque
pressupõe. Desse modo a neutralidade de um sujeito, aqui entendida como a ausência de
crença e pressupostos, é logicamente impossível. No entanto, essa inconsistência lógica nos
leva de forma direta ao problema da objetividade. Pois, ao negar a impossibilidade de
neutralidade no sujeito somos transportados à questão da possibilidade da neutralidade do
objeto.

Mesmo reconhecendo que é logicamente impossível afirmar a neutralidade absoluta de um


sujeito, eu posso me questionar se isso é possível para o objeto, aqui entendido como toda a
realidade “além do sujeito”. Posso tentar afirmar que apesar de nenhum ser humano ser
neutro, o objeto pode ser neutro e, consequentemente existir a possibilidade de conhecimento
objetivo e neutro. Essa é uma das teses. Entretanto, a partir daí se levantam duas questões.
Primeiro, é possível afirmar que a realidade objetivo é neutra? Segundo, para a existência de
uma realidade objetiva é necessário que o objeto seja neutro? A essas perguntas respondo sim
e não, respectivamente, e detalho o por quê a seguir.

Neutralidade, quando se fala do objeto, é praticamente uma tautologia para a “objetividade”.


Como o objeto não delibera, é difícil aplicar o termo “neutro” a algo que simplesmente é.
Além disso, o ser humano faz parte dessa realidade, e se afirmamos a impossibilidade lógica
da sua neutralidade é impossível afirmar o mesmo do “resto do ser”. Mas isso tem que ser dito
por que, no esforço de afastar a atividade científica das crenças e valores particulares de seus
agentes, muitos têm afirmado uma espécie de ontologia neutra. E neutro se tornou sinônimo
de despido de propósito, significado e objetivo — que, segundo entendem alguns cientistas,
são ideias relacionadas a crenças e valores particulares e, portanto, devem ser extirpados da
atividade científica. Entretanto, afirmar a inexistência de significado e propósito na realidade
não pode ser neutro. Afirmar a inexistência de significado e propósito na realidade é tão
“crença” quando afirmar a existência de propósito — sendo, da mesma forma, um pressuposto
não provado de uma cosmovisão. O naturalismo filosófico, que afirma essas ideias, é uma
crença religiosa como qualquer outra, pois essas afirmações são absolutas e não estão sujeitas
ao escrutínio da prova. Desse modo, é também logicamente impossível afirmar uma
neutralidade ontológica.

Mas chegamos à segunda questão. Dado que é logicamente impossível afirmar uma ontologia
neutra, seria também logicamente impossível afirmar a possibilidade de conhecimento
objetivo? Não logicamente. E aqui a lógica caminha na direção oposta da que refuta a
neutralidade o sujeito. Para afirmar a impossibilidade de conhecimento objetivo é necessário
afirma o relativismo absoluto, o que é logicamente impossível, pois para afirmar o relativismo
absoluto eu necessariamente afirmo um absoluto (tudo é relativo), assim autorrefutando essa
tese. Isso não resolve totalmente a questão, mas nos dá um rumo. Dado a impossibilidade da
relativização absoluta é necessário e plausível que haja sim conhecimento e verdades
absolutas e universais, sem as quais o conhecimento objetivo seria impossível. Pois objetivo,
em última consequência, significa absoluto e universal, ou seja, que não pode ser relativizado
por algo ou alguém.

Aqui chegamos ao ponto de congruência entre o objeto e o sujeito. O conhecimento objetivo e


absoluto está para o objeto assim como o pressuposto está para o sujeito. Ambos são
necessariamente considerados absolutos. Ou seja, a realidade, a ontologia, é necessariamente
constituída de absolutos, que se tornam conhecimento objetivo para o sujeito investigativo
quando este percebe (conhece) esses absolutos. Ou seja, necessariamente a realidade é, o ser,
e sendo ela é constituída de verdades absolutas, essas verdades permitem a existência de
conhecimento objetivo que, no entanto, por ser “conhecimento”, é objeto daquele que
conhece.
Estou ciente que toda essa elucubração leva a seguinte questão: ainda que haja a possibilidade
de conhecimento objetivo dado à objetividade da realidade, o que me garante que o sujeito
seja capaz de perceber essa realidade absoluta? A lógica não nos permite negar a
possibilidade do sujeito conhecer objetivamente a realidade, pois afirmar isso seria afirmar
um conhecimento absoluto e, portanto, refutaria logicamente a minha afirmação. Portanto, na
pior das hipóteses, posso afirmar a dúvida se o ser humano, o sujeito, é capaz de conhecer
objetivamente a realidade. Entretanto, mesmo aqui, a lógica favorece a via positiva. E aqui
entra mais nitidamente o papel da cosmovisão.

Nossa cosmovisão, ainda que intuitivamente e não explicada plenamente via elucubração
teorética, se funda no que pressupomos da realidade. Como exemplo, a cosmovisão cristã
pressupõe que a realidade é criação divina, dotada de propósito e significada, e dependente de
um criador pessoal que é a causa absoluta de tudo. O naturalismo filosófico, em linhas gerais,
pressupõe a inexistência de qualquer causa transcendente e, consequentemente, a inexistência
de significado e propósito na realidade. O panteísmo, em suma, entende que o divino é um
elemento imanente que perpassa toda a realidade, que está presa em infinitos ciclos. Todas
essas cosmovisões que usei como exemplos pressupõem ideias acerca da realidade que não
podem ser submetidas à prova, por esse motivo às chamamos de pressupostos.

É impossível fugir da cosmovisão, como já vimos. Ainda que em determinado período


histórico uma ou outra cosmovisão possa ser alçada ao status de neutralidade, isso, como
vimos, é falacioso. Mas o que isso tem a ver com o conhecimento objetivo na atividade
científica?

Absolutamente tudo. Pois só é possível conhecimento objetivo da realidade se o que


pressupuser dela estiver ontologicamente correto. E aqui estou ciente da tentação pós-
moderna de, para fugir de um suposto absolutismo teórico e moral, tentar escapar para o
relativismo. Mas, como vimos, o relativismo é ilógico. Há uma realidade concreta, objetiva e
absoluta e, consequentemente, há uma cosmovisão que se ajuste a essa realidade, que
pressuponha os absolutos ontológicos verdadeiros, que seja a cosmovisão correta, e que
explique a realidade em sua plenitude.

Se somos capazes ou não de empenharmos essa cosmovisão verdadeira é outra questão. Mas
negar sua existência é logicamente impossível. Depende dela a possibilidade do conhecimento
objetivo. Se nossos pressupostos acerca da realidade estiverem corretos, ou seja, coerentes
com a realidade, então o conhecimento objetivo na ciência ou em qualquer outra forma de
conhecimento é possível. Colocar em dúvida isso é correr o risco de se contradizer
logicamente.

Em suma, a possibilidade do conhecimento objetivo depende dos nossos pressupostos acerca


da ontologia em nossa cosmovisão. Entretanto, isso não significa que cada um cria para si a
sua objetividade, o que seria um absurdo. Mas que, falando em forma de exemplo, se um
panteísta estiver correto em relação à realidade, haverá conhecimento objetivo naquilo que for
coerente com o panteísmo. Se a cosmovisão cristã estiver correta, haverá conhecimento
objetivo somente naquilo que coadunar com seus pressupostos. Ou seja, só é possível
conhecimento objetivo onde houver coerência ontológica, onde os pressupostos ontológicos
estiverem de acordo com a ontologia em si.

INVESTIGAÇÃO ACERCA DA COERÊNCIA DAS COSMOVISÕES

O ímpeto do espírito de época pós-moderno, sem pestanejar, apela ao relativismo. Mas, como
vimos o relativismo é ilógico. O relativo só se sustenta se há absolutos, sendo, portanto,
impossível torná-lo absoluto. Entretanto, creio haver outra via mais segura e que caminha na
via do absoluto e do objetivo. É para ela que volto a atenção desse ensaio agora.

Se há uma cosmovisão correta que pressuponha os absolutos ontológicos corretos e descreva a


realidade com precisão é de se esperar que essa cosmovisão seja coerente com os elementos
dessa mesma realidade. Eu compreendo o caráter pernicioso do ceticismo extremo, e sei que
para cada evidência que eu apontar aqui há a possibilidade de se indagar sua confiabilidade.
No entanto, me volto à questão da lógica — ainda que ciente de que se possa indagar a
própria confiabilidade da lógica —, dado que a consequência última de um ceticismo extremo
é o relativismo, que é ilógico. Justamente pressuponho a lógica como uma ferramenta
confiável porque também a sua negação tornaria esse esforço, e qualquer outro, absurdo.
Portanto, não querendo me delongar mais em tais delírios, vou investigar os caminhos pelos
quais creio ser possível encontrar uma cosmovisão mais coerente com a realidade.

Creio que a própria atividade científica (e aqui compreendendo o que comumente chamamos
de ciências naturais) pode nos auxiliar, ainda que de forma limitada, como veremos, a
encontrar uma cosmovisão ontologicamente coerente. Alguns valores da ciência, comumente
chamados de valores cognitivos, e aqui cito apenas alguns — e de forma bem rudimentar —
tais como a previsibilidade, a fecundidade, e o controle do fenômenos naturais. Ainda que
separadamente não possamos absolutizar nenhum deles, eles podem nos indicar um caminho
seguro. De fato, uma teoria científica que não gera previsibilidade, não é fecunda e não nos
auxilia no controle dos fenômenos, ou está equivocada ou está imatura. Sei que a questão não
é tão simples assim. Entretanto, os aspectos físicos, químicos e biológicos, que são o objeto
das ciências naturais, por não serem caóticos, mas ordenados, detêm uma lógica particular que
pode ser investigada e entendida. Os valores cognitivos brotam dessa lógica — aliás, o fato de
a natureza ser ordenada e não caótica é um forte indício da existência de objetividade do
conhecimento na atividade científica.

A realidade, entretanto, não se resume aos aspectos físicos, químicos e biológicos — apesar
de alguns se empenharem nessa direção. Nos outros aspectos ontológicos também podemos
investigar caminhos para uma cosmovisão coerente com a realidade. Mas antes quero destacar
que nada do que apresento aqui é absoluto em si mesmo, nenhum deles, por si só, é capaz de
justificar uma cosmovisão. A realidade é complexa em seus aspectos, por esse motivo é
importante uma cosmovisão coerente esbanje sua coerência em todos os aspectos.

O aspecto ético pode nos ajudar também. O certo e o errado existem objetivamente?
Naturalmente sim. Se não o fossem cairíamos na contradição lógica do relativismo. Mas aqui
não só a lógica nos auxilia, mas também a estética. O senso de justiça se manifesta
esteticamente em qualquer parte do mundo. Não pretendo examinar isso a fundo, mas lanço à
investigação. Entretanto, é nítido o senso de justiça compartilhado entre todos os povos.
Apesar das particularidades, em todas as civilizações vemos — ainda que por vezes
debilmente — assassinos, ladrões, usurpadores e outros criminosos sendo punidos. Porque
nos indignamos com o mal? Porque torcemos pelos heróis nos filmes? Algo nos informa que
compartilhamos um senso de justiça e que esse não coaduna com uma visão relativista de
mundo. Nosso senso estético não parece concordar com a ideia de que os princípios morais
são meras convenções. Parece, portanto, que uma cosmovisão coerente com a realidade deve
andar na direção de uma objetividade dos preceitos éticos e morais.

Se esse método de analisar a coerência da cosmovisão com a lógica dos aspectos ontológicos
parecer insuficiente, outro caminho possível é a coerência interna da cosmovisão, ou seja, das
alegações com os pressupostos. Em relação à ética e a moral podemos imaginar alguns
exemplos. Uma cosmovisão naturalista inevitavelmente nega a existência de teleologia
ontológica e, consequentemente, qualquer objetividade moral. Em última instância, para a
cosmovisão naturalista, os princípios morais nada mais são que acidentes e convenções.
Portanto, qualquer um que afirme os dogmas naturalistas e, ao mesmo tempo, intente
condenar firmemente qualquer crime ou regime opressor cai, pelo menos, em descrédito e,
muito mais provavelmente, em contradição. Por outro lado, algum adepto de alguma das
expressões históricas da cosmovisão cristã que relativize princípios morais básicos como a
imoralidade do assassinato de inocentes é, portanto, completamente incoerente, pois não se
pode afirmar a existência do criador e governador do universo da concepção cristã e ao
mesmo tempo afirmar o relativismo moral.

O aspecto pístico também pode nos dar alguma luz. Qualquer cosmovisão que negue a
existência de poder transcendente não pode conviver com a ideia de milagre, por exemplo.
Por outro lado, uma cosmovisão que afirma um Deus pessoal e onipotente não deve afirmar a
impossibilidade de milagres.

Sei que aqui é mais um julgamento em relação aos adeptos de determinadas cosmovisões do
que às cosmovisões em si. De qualquer modo, quando personalizamos as cosmovisões, como
fazemos na filosofia, fica mais fácil encará-las independentes de seus agentes.

Essas foram algumas breves investigações intuitivas sobre a coerência das cosmovisões.
Destaco novamente que são apenas reflexões intuitivas, e que nenhuma delas por si mesma é
capaz de afirmar categoricamente a coerência de uma cosmovisão seja internamente, seja na
sua coerência com a realidade. Entretanto, o que fica mais evidente é que a nítida existência
de contradições internas e externas de certas cosmovisões as tornam implausíveis.

CONCLUSÃO

A atividade científica, de qualquer natureza, só pode obter conhecimento objetivo se os


pressupostos da cosmovisão que a dirige forem coerentes com a realidade. Apesar de breve,
espero que esse ensaio tenha suscitado questões acerca da necessidade da coerência
ontológica para o conhecimento objetivo na atividade científica e até mesmo na elucubração
filosófica. A realidade tem seu significado próprio e objetivo, ela não é um objeto neutro a
qual podemos impor nosso significado, pois isso é logicamente impossível.

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