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TURMA 2009
Design,
Identidade Visual
e Oxigenação de Marca
Prof. M.Sc. André Ramos
Pós-graduação UniCEUB
ICPD/CESAPE
Design,
Identidade Visual e
Oxigenação de Marca
PARTE 1
Paul Goldberg,
principal correspondente cultural,
The New York Times
Será que uma bebida que não tivesse sabor de fruta, não agregasse nenhum tipo de
vitamina; possuísse nome duplo e de duplo sentido que fizesse, indiretamente, referência a
drogas que matam milhares de pessoas por ano, além uma marca com letras manuscritas
e uma garrafa no formato de uma lâmpada estilizada das mil e uma noites, daria certo ?
Agora imagine que não existem bebidas de cola e que alguém resolveu criar uma. Imagine
que esta bebida se chamaria Coca-Cola. O que passaria pela sua cabeça ? Agora imagine
que você é gerente de marketing dessa empresa e que o dono, um ex-farmacêutico (não
confundir com dono de farmácia) desiludido com os parcos rendimentos da profissão quer
exatamente este nome. O que você diria a ele ?
Com certeza seu discurso seria enviado através de um caprichado memorando, via email,
muito respeitosamente mostrando ao seu patrão que uma marca que trouxesse o nome de
duas drogas que matam não faria sucesso no Brasil e no mundo. E mais: nomes duplos e
de duplo sentido, com letras quase que manuscritas não gerariam retorno e nem recall para
os seus negócios. Mas, mesmo com todos os argumentos levantados o cliente insistiria
em querer essa marca. Aí você chamaria a agência de propaganda, mostraria o produto
para ela e diria: é isso que será lançado no mercado. O pessoal da agência provaria a
bebida. Ela não teria gosto de chocolate, morango, guaraná ou de qualquer outro sabor
já conhecido. Não teria um gosto semelhante em nenhum lugar do mundo. Era agradável,
assim... meio amargo, meio doce enfim, deveria ser enquadrada como refrigerante. O
pessoal da criação ficou meio receoso de aceitar a campanha, mas o atendimento gostaria
da verba e resolveria pegar.
Não. Esta não é a verdadeira história da Coca-Cola. Mas não se engane. Se fosse lançada
hoje, com este nome talvez viesse a transformar-se num estrondoso fracasso. Ficção à
parte, a realidade é que este refrigerante é a marca de maior valor e a mais conhecida do
planeta Terra. É a primeira palavra pronunciada pela boca de muitas crianças, que mesmo
sem saber ler a identificam pelas cores e reconhecem pelo sabor o qual elas fizeram muitas
caretas até decidirem aceitá-lo.
Na realidade a Coca-Cola é um remédio para dor-de-barriga, que também ajuda a desentupir
pias e ralos, excelente para ressaca, enjôos; recomendada pelos médicos para reduzir
os desconfortos provocados pelo sarampo. Apesar de ser tudo isso e de ter começado
assim, virou refrigerante. Tudo pela vontade do consumidor e pela observação do homem
que percebeu que como remédio a Coca-Cola seria um fracasso. Sendo assim, podemos
afirmar: a Coca-Cola é um remédio que virou refrigerante.
A culpa não é do fabricante. Bem que ele tentou “modernizar “ a marca, mudar o formato
da garrafa e até mexer no sabor. Protesto geral, ameaça e queda nas vendas. Voltou tudo
a ser como era antes.
Ai Jesus. Quem entende o consumidor... Ops! Alguém falou em Jesus? No Maranhão existe
um refrigerante chamado Jesus, de gosto semelhante a framboesa mais morango e amora
que não possui quase nenhum investimento em marketing e propaganda, comparando-o
com outras marcas mais poderosas, e que desbancou as gigantes dos xaropes importados.
Parece ser o único lugar da América onde nenhuma outra marca estrangeira vence. Na
terra de São Luís a Coca-Cola e os outros tiveram que fazer acordo com Jesus.
Em Pernambuco frevo também é sinônimo de refrigerante, ou melhor: tubaína. Mais uma
a ameaçar o caminho da líder. A música que no início estava distante, agora incomoda os
ouvidos da Coca-Cola. O Frevo já é o segundo colocado. Se continuar assim no próximo
carnaval o pernambucano vai beber e dançar o (F)frevo apreciando as placas de Coca-
Cola.
É interessante perceber como as marcas são bastante lembradas mais pelos seus atributos
e pelo status sinalizado que pelos benefícios racionais do produtos. Prova disso é que
duas das marcas mais famosas do mundo quando colocadas lado a lado para que o cliente
de olhos vendados escolha qual é a que corresponde a marca A e a que corresponde a
marca B apresentaram índices cruéis e que só o marketing explica: acredite, a grande
maioria simplesmente errou. Esse mesmo teste foi aplicado em marcas de cigarro, cervejas,
salsichas, frango, presunto e muitas outras e o resultado foi o mesmo. Experimente. Faça
você mesmo o teste. Uma marca, na grande maioria das vezes é distinguida primeiro pelo
signo, depois pelo sabor ou aroma. E os produtos de hoje estão cada vez mais próximos e
parecidos. Os japoneses, pasmem, colocaram um chip numa imitação de Halley Davidson
para que o barulho fosse igual. A Halley patenteou o barulho e os japoneses a estão
processando.
Uma marca é na realidade um signo de apelo visual e de atributos psicológicos. Numa
Halley um dos atributos é o barulho.
Criadas para proteger a propriedade, facilitar o acesso e a identificação de produtos
preferenciais do consumidor, as marcas se originaram na arte através dos escultores
que
usavam signos e assinaturas diferenciados para destacar sua obra dos demais.
Quando o feudalismo passou a ser o modelo econômico-produtivo na Europa Ocidental
começaram a surgir o que se parece muito com as nossas feiras livres de hoje e com
elas as guildas - associações semelhantes aos nossos sindicatos trabalhistas . Uma das
determinações dessas guildas era exigir que cada produtor colocasse uma marca em
seus produtos. Isso permitia a identificação mais fácil de produtos de qualidade inferior e a
aplicação de punições para produtos enganosos e prejudiciais ao cliente.
As marcas modernas surgiram na Revolução Industrial por conta do uso de técnicas de
promoção e vendas que exigiam nomes fáceis de lembrar e pronunciar, originais e que
ajudassem a descrever o produto. Hoje são milhões e chegam a valer muito mais do que
várias vezes o faturamento anual das empresas.
Se uma marca identifica a origem do produto, protege o consumidor, possibilita a seleção
de produtos e é mais valorizada pelo status sinalizado do que pelos benefícios racionais
do produto, então está explicado por que deu certo um refrigerante que não tem sabor de
fruta, que não agrega nenhum tipo de vitamina; que possui nome de duplo sentido e que se
apresenta num design ultrapassado.
Afinal de contas o refrigerante que você bebe é na maioria das vezes apenas um atributo;
uma emoção pra valer, que sempre mata a sua sede, assim como um copo d’agua ou suco,
só que, no caso, o suco e a àgua possuem atributos mais fracos. É isso ai ! Agora me dê
licença pois está na hora de tomar meu remédio, quer dizer meu refrigerante. Ou seria meu
atributo?
1
MicheIangelo nasceu em 1475, em Caprese, Itália, e morreu em 1564, em Roma.
2
Rubens nasceu em 1577, em Siegen, Alemanha, e morreu em 1640, na Antuérpia. Bélgica.
Aos poucos, porém, os feudos começa-
ram a romper seu isolamento, por meio do
desenvolvimento de pequenos mercados
semanais, semelhantes às feiras livres da
atualidade. Com o crescimento das cida-
des, os encontros comerciais tornaram-
se mais freqüentes, passando a exigir a
construção de locais permanentes que
abrigassem do tempo os vendedores e os
compradores, dando origem às primeiras
lojas varejistas. Já nesse momento perce-
be-se o início de manifestações promocio-
nais, mesmo que de maneira ainda rudi-
mentar.
Obra do Rubons intitulada O julgamento de Pàris”, datada de 1623-
Surgiram então as guildas3 artesanais e 1635. Óleo sobre madeira (144,8 x 1931 cm). Encontra-se na National
comerciais, destinadas a controlar a quan- Gailory, em Londres.
tidade e a qualidade da produção. Uma
das determinações dessas guildas era que cada produtor colocasse uma marca em seus
produtos, a fim de facilitar a sua identificação na eventualidade de ser necessária a redução
ou ampliação da produção. Ainda sem a forte preocupação promocional ou de identidade,
as marcas ganham importância.
O expediente de marcar produtos facilitava ainda a identificação de produtos de qualida-
de inferior, que poderiam prejudicar outros produtos da guilda, permitindo a aplicação de
punições ao produtor responsável. Nesse momento as marcas tinham ainda uma função
meramente burocrática e até legal.
As marcas tornam-se, desde esse momento, uma pro-
teção ao consumidor, que podia facilmente identificar a
origem da mercadoria comprada.
As marcas modernas tiveram sua origem na Revolução
Industrial, a partir da segunda metade do século XVIII,
quando o uso de técnicas de promoção de vendas de-
terminou a importância da seleção de nomes e marcas
reconhecidos. Desenvolveram-se as técnicas promocio-
nais como alternativa de atrair a atenção, pois os mer-
cados começaram a se tornar mais competitivos.
Nos Estados Unidos, os precursores da utilização de
marcas foram os fabricantes de remédios populares e, A Quaker Oats foi criada em 1877 por l-lenry
após a guerra civil, os fabricantes de alimentos e bebi- Seyrnour, como marca de cereal.
das.
Algumas marcas criadas nas décadas de 1860 e 1870 ainda existem e permanecem firmes
no mercado, como, por exemplo, Quaker Oats, Ivory Soap e Borden’s Condensed Milk.
O uso de marcas como as que conhecemos hoje tem pouco mais de um século. Ja em
1883, a Convençao da União de Paris procurava estabelecer uma base legal para coibir
a concorrência desleal. Por volta de 1890, a maioria dos países industrializados possuía
legislação específica sobre propriedade e proteção de marcas.
3
Associações de auxilio mútuo constituidas na Idade Média entre as corporações de operários, artesãos, negociantes ou artistas. Funcionavam de manei-
ra semelhante aos sindicatos trabalhistas atuais.
A grande mudança começou na ultima década do século XIX, com o surgimento de empre-
sas que desenvolveram formas de distribuição em larga escala e começaram a utilizar os
meios de comunicação com grande cobertura geográfica, visando atingir a massa popula-
cional crescente.
Em todos os continentes, o rápido aumento populacional, a expansão das estradas de ferro
e a proliferação de novas fábricas estimulavam a demanda por uma ampla gama de produ-
tos de desenvolvimento muito recente, que variavam de remédios e alimentos a aparelhos
elétricos e mecânicos, além de alguns serviços.
Quanto maior a variedade fabricada, maior se tornava a demanda, gerando uma reação em
cadeia. Isso levou fabricantes, atacadistas e varejistas a escolherem marcas que fossem
eficazes em vários sentidos:
• fáceis de lembrar;
• de fácil pronúncia;
• originais;
• que descrevessem, se possível, direta ou indiretamente o produto de forma criativa.
Em todo o mundo, hoje, quase tudo é vendido com marca. Até frutas, como laranjas, maçãs
e bananas, são carimbadas com a marca do produtor ou do distribuidor com o objetivo de
distingui-las, principalmente por meio do reconhecimento da qualidade.
A marca é uma conexão simbólica entre uma organização, sua oferta e o mundo do con-
sumo. Há uma imensa vastidão de conceitos de marca, desde o mais usado em marketing
desenvolvido pela American Marketing Association (AMA), citado por Kotler (1998, p. 393)
—“Um nome, termo, sinal, símbolo ou combinação dos mesmos, que têm o propósito de
identificar bens ou serviços de um vendedor ou grupo de vendedores e de diferenciá-los de
concorrentes” —, até outras abordagens que objetivam ampliar seu entendimento, inserin-
do-a no mundo da subjetividade e das conexões afetivas.
Em outra direção reflexiva, mas não contrária, Jong (1991, p. 168) conceitua marca como:
“un símbolo, ei medio más esencial por el que la empresa se manifesta visualmente” (um
símbolo é o meio mais essencial pelo qual a empresa se manifesta visualmente).
As definições apresentadas guardam entre si semelhanças no que se refere à marca como
caminho de visibilidade e de diferenciação. As palavras da AMA são mais abrangentes,
embora ainda não sejam suficientes. “Entendo por marca a distinção final de um produto
ou empresa e que traduz de forma marcante e decisiva o valor de uso para o comprador. É
um sinal distintivo” (Perez e Bairon, 2002, p. 65). Hoje entende que faltou a carga simbólica
a essa definição e por isso construímos uma nova forma de interpretação: a marca é uma
conexão simbólica e afetiva estabelecida entre uma organização, sua oferta material, intan-
gível e aspiracional e as pessoas para as quais se destina.
Outro conceito muito encontrado na literatura sobre o assunto refere-se à marca registrada.
Trata-se de uma marca que recebeu a proteção legal para uso exclusivo pelo seu proprietá-
rio, que é o detentor do registro. Muitas vezes inclui o logotipo, slogan, embalagens, forma-
to, emblemas, estilo e fonte tipográfica. No Brasil, o órgão responsável pelo registro da mar-
ca é o Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi), vinculado ao Governo Federal.
A marca é mais do que o produto. Ou, na visão de Randazzo (1996, p. 24) “a marca é ao
mesmo tempo uma entidade física e perceptual”. O aspecto físico de uma marca, que pode
ser encontrado na prateleira do supermercado ou de qualquer outro ponto-de-venda, diz
respeito ao produto propriamente dito, sua embalagem e rotulagem. É geralmente estático
e finito. Entretanto, o aspecto perceptual de uma marca existe no espaço psicológico — na
mente do consumidor. É, portanto, dinâmico e maleável.
Algumas marcas obtêm um nível de diferenciação tão forte
que se transformam em metonímia4 de uma classe de pro-
dutos ou serviços. Exemplos: Bombril5 para designar lã de
aço, Gillette6 para lâmina de barbear, Xerox para cópias re-
progríficas e tantos outros. Sem marca, um produto é uma
coisa — uma mercadoria, um saquinho de café, um calçado
ou uma latinha de molho. Para a maioria das categorias de
produtos, a percepção que o consumidor tem de um produto
genérico, sem marca, tende a ser dominada pela condição
de coisa do produto, por seus atributos e benefícios mera-
mente funcionais, desprovendo-o de sua carga emocional.
No entanto, embora seja verdade que o consumidor geral-
mente percebe o produto genérico, sem marca, como enti-
dade física, uma coisa, a maioria dos produtos também tem
um aspecto psíquico latente, uma mitologia latente de pro-
duto. A percepção da existência da mitologia latente de um
produto varia de produto para produto e de consumidor para Embalagem de lã de aço Bombril.
consumidor.
Entretanto, se os consumidores têm alguma consciência da mitologia do produto, geral-
mente ela não é muito evidente — é latente. Ela se encontra abaixo do limiar da consciência
do consumidor na subjetividade e age como uma erosão sígnica em relação à marca.
A mitologia latente do produto vai além de seus atributos físicos!
benefícios e uso. Essa mitologia abrange a totalidade das percepções, crenças, ritos, expe-
riências e sentimentos associados com o produto, o seu uso.
A mitologia latente do produto decorre das experiências do consumidor com o produto gené-
rico, e também com a história, a cultura, os fatos e as fantasias que o cercam. Proporciona,
às vezes, notáveis descobertas acerca de como o consumidor percebe o produto e escla-
rece as suas motivações para usá-lo. A mitologia latente do produto é importante porque,
muitas vezes, constitui a base para formar e manter uma forte e duradoura “mitologia de
marca”. Essa mitologia é amplamente explorada pelos produtores de perfume, que perce-
beram que “vendem” beleza, sedução, aceitação, elegância e não uma substância para dar
“cheiro”.
Vale salientar que há algumas categorias de produtos em que a mitologia de produto não
está latente; ocupa o primeiro plano da mente. Por exemplo, champanhe e charutos são ca-
tegorias de produtos que tendem a ser dominados por suas mitologias de produto. Quando
os consumidores compram um produto como champanhe, estão comprando uma sedutora
fantasia, tanto quanto um produto tangível. Comprar e consumir um Cohiba (charuto cuba-
no) ou tomar um Moët & Chandon (champanhe criado em 1743 por Claude Moët) são expe-
riências ritualísticas e altamente sedutoras e representam muito mais do que simplesmente
ftimar ou “matar a sede”.
4
A metonímia é uma figura de retórica que consiste no uso de uma palavra fora do seu contexto semântico normal, por ter uma significação que tenha
relação objetiva, de contigüidade, material ou conceitual, com o conteúdo ou o referente ocasionalmente pensado.
5
A empresa teve origem em 1948 quando Roberto Sampa[o Ferreira funda a Abrasivos Bombril Ltda. A marca ‘Bom Bril” começou a ser utilizada, entre-
tanto, só a partir de 1952. Atualmente a empresa! com 2 mil funcionários em três fábricas no Brasil, produz 305 mil toneladas/ano, alcançando faturamento
bruto de R$ 474 milhões em 1999.
6
Empresa fundada em 1901 por King C. Gillette, um jovem inventor. Iniciou suas atividades no Brasil em 1926. A Gillette foi a responsável pelo primeiro
produto descartável do mundo fabricado em escala mundial: lâminas para barbear. Emprega cerca de 40 mil funcionários no mundo, com faturamento
bruto de US$10 bilhões.
Design,
Identidade Visual e
Oxigenação de Marca
PARTE 2
O nome é um designativo, um sinal, que prenuncia um caminho, dá uma idéia, nos leva,
muitas vezes, a um entendimento prévio a respeito daquilo a que estamos nos referindo.
O nome, da perspectiva mercadol6gica, é a parte da marca constituída de palavras ou
letras que compreendem uma designação usada para identificar e distinguir as ofertas da
empresa e as dos concorrentes.
O nome de uma marca é um tipo de nome próprio, porém diferente dos nomes das pes-
soas. É possível haver vários “Sérgio” ou “da Silva”, enquanto os nomes das marcas só
podem designar uma única entidade. Imaginariamente, a marca desempenha o papel de
criador do produto, sendo integralmente responsável por ele.
Os nomes podem ser produzidos mediante diferentes mecanismos lingüísticos e, portanto,
adotam diferentes aspectos: desde um signo arbitrário abstrato até uma expressão clara-
mente denotativa da identidade da empresa, passando por uma ampla gama de variantes
intermediárias.
Com o decorrer do tempo o nome da marca se desliga do fabricante e ela passa a ser vista
como a produtora de discursos com objetivos e valores específicos, cabendo essa tarefa de
amplificação do seu escopo à publicidade.
Os nomes dos produtos às vezes se tornam tão fortes que podem passar a designar o
nome da categoria, transformando-os em metonímia de uma classe específica de produtos,
conforme explicamos anteriormente, nos casos de Bombril e Gillette, entre outros.
Muitos nomes de marca são tirados do próprio léxico da língua, enquanto outros tem, por
exemplo, o nome do fundador. O que conta na verdade são os efeitos que esses nomes são
capazes de gerar dentro do processo de comunicação.
Uma tipologia empírica que recorra às modalidades de denominação institucional predomi-
nante poderia compor-se de sete tipos básicos e suas formas mistas de apresentação:
• nomes descritivos: dizem respeito a uma enunciação sintética dos atributos ou benefí-
cios da identidade da empresa. Exemplos: Banco Interamericano de Desenvolvimento e
Museo Español de Arte Contemporáneo;
• nomes simbólicos: fazem alusão à empresa mediante uma imagem literária construída.
Exemplos: Visa, Ninho, Camel (1913), Rede Globo e Montblanc (1908);
• nomes patronímicos: fazem alusão à instituição mediante o nome próprio ou o sobreno-
me de uma personalidade-chave da própria instituição: dono, fundador, familiares pró-
ximos etc. Exemplos: Mercedes-Benz (1901), Rocleefeiler Fountiation, Banco Herrero,
Fundação Roberto Marinho, Johnson &Johnson Ford Instituto Ayrton Senna, Ferrari
Turma da Mônica, Dunhill (1893, Alfred Dunhill), Colgate (1835, de Samuel Colgate),
Nestie’ (1867, de Henri Nestlé) — ou ainda a marca mais que “quarentona” da boneca
Barbie, que é o diminutivo de Bárbara, filha de um dos donos da Mattel, Elliot Handler;
• nomes toponímicos: estabelecem uma ligação com o lugar de origem ou a área de influ-
ência da empresa. Exemplos: Banco Santander (uma província espanhola), Aerolíneas
Argentinas, British Telecom, Portugal Telecom, Caninha Pirassununga etc.;
• contrações: construção artificial mediante iniciais ou fragmentos de palavras, com leitura
individualizada de cada letra. Exemplos: IBM, 3M, LG, EDF, BMW etc.;
• contrações como palavras: ETAT (Fabbrica Italiana di Automobili Torino, 1899); BASF
(Badische Anilin & Soda Fabrik, 1865); ELF (Essence et Lubrifiant de France, 1967);
• nomes inventados: criações originais que não encontram na língua um sentido prévio;
assim, Zoomp poderia se caracterizar como um exemplo dessa possibilidade nominati-
va, além de Lycra (1960), marca de propriedade da DuPont.
Há nomes inventados que percorrem uma imensa rede de significações e correlações. O
exemplo é a marca Danone, inventada em 1919 por Isaac Carasso a partir do diminutivo,
em catalão, do nome de seu filho Daniel. A marca deu origem ainda a outras como Dany e
Danette.
Contamos ainda com inúmeras outras possibilidades de variações para criação de uma
marca utilizando-se de recursos mistos e de inventividade. Exemplo Alfa-Romeo (1909).
Alfa significa Anonima Lombardo Fabbrica Automobili e Romeo é patronímico de Nicola
Romeo.
Maingueneau (2002) propõe outra classificação: as siglas, os nomes humanos e os nomes
evocadores. As siglas dizem respeito ao agrupamento de letras que passam a ser usadas
de forma autônoma e que são relacionadas a um grupo de palavras que lhe deram origem,
como, por exemplo: International Business Machine (IBM). Nomes humanos são aqueles
que por meio do uso lingüístico confere aos seres coletivos o mesmo tratamento dispensa-
do aos seres singulares: “Comprei minha calculadora no Roberto” ou a “Citroën não quer
acionar a garantia”. Normalmente se privilegia o patronímico (nome de família), como, por
exemplo, Peugeot, ou associam-se prenome e patronímico: Johnnie Walker, Christian Dior,
Paloma Picasso etc, O uso somente do prenome não é de praxe. Reserva-se a apenas al-
guns produtos ligados à intimidade ou a situações de extrema proximidade. “Vou comprar a
minha calculadora no Roberto” (pressupõe-se que Roberto seja muito próximo e que os ou-
vintes também saibam disso). Os nomes evocadores, como designados por Maingueneau
(ibidem), são aqueles que propagam as características dos produtos ou da empresa den-
tro do discurso publicitário. As designações são neológicas ou desviadas. As designações
neológicas podem ser construídas por meio da combinação de uma palavra do léxico com
outros elementos sem valor referencial específico, como, por exemplo: Toque & Amor. As
designações desviadas são mais freqüentes; utilizam o significado ligado a urna unidade
existente, quer se trate de nomes que fazem parte da competência lingüística (Natura) quer
de nomes próprios que fazem pane da competência enciclopédica ou repertório (Atenas,
por exemplo). Essa estratégia tem a vantagem de se apoiar sobre termos que já possuem
urna carga semântica forte. Suponhamos que Atenas seja uma marca de perfume. É pro-
vável que se enfatizem na publicidade traços semânticos ligados à deusa Atenas — fe-
minilidade, classicismos ou a Grécia — à antigüidade, à racionalidade etc. Nesse caso,
realiza-se uma verdadeira obra sobre as conotações associadas pela história às unidades
lexicais. Aliás, os perfumes muito se utilizam da categoria de nome de marca, chamada
“designações desviadas”. O perfume Trésor da marca Lancôme é outro exemplo. A palavra,
cujo significado em português é tesouro, é desviada para o produto trazendo consigo uma
forte carga semântica já existente: tesouro — riqueza, inesperado, beleza, brilho, surpre-
sa... E, evidentemente, nesse caso, como em tantos outros, para o consumidor brasileiro
essa carga semântica só fará sentido se seu repertório for amplo o suficiente para saber
que Trésor significa tesouro em francês, o mesmo ocorrendo com Samsung (três estrelas,
em chinês) ou Volkswagen (carro popular, em alemão).
Não basta criar um bom nome para um produto ou categoria, é preciso «elaborar os discur-
sos que sustentam essa denominação”(Maingueneau, 2000, p. 210).
Nesse sentido, a Natura assume características humanas, como, por exemplo: “Natura
traz para você As metonímias estão muito presentes: “Eu só compro Natura”. Nesse caso,
Natura não se refere à empresa, mas aos produtos (metonímia do produtor pelo produto).
Logotipo e logomarca
Forma e design
Forma e design são questões fundamentais que permeiam as decisões quanto à estética,
à funcionalidade e à percepção que se deseja para um produto ou embalagem. As formas
possuem uma linguagem própria capaz de causar efeitos e sensações nos consumidores
aos quais elas se destinam.
A semiótica das formas traz algumas considerações importantes para a construção da ex-
pressividade e da sensorialidade marcárias por meio da análise das formas e do design.
Assim, temos que linhas retas e ângulos (vértices) estão associados à rigidez, à firmeza e
à masculinidade. Curvas e ondulações expressam dinamicidade, sensualidade e feminilida-
de. Linhas em ziguezague representam energia, cólera, agitação, e podem causar sensa-
ção de choque. Já as linhas tracejadas estão associadas a descontinuidade, nervosismo,
indecisão e fragmentação. As paralelas verticais representam apoio e sustentação, e assim
por diante.
Há uma variedade infinita de dimensões de forma, porém quatro configuram-se como di-
mensões-chave que devem ser consideradas no momento de planejar determinada estra-
tégia estética para uma identidade visual. A construção e a manipulação dessas dimensões
podem provocar um impacto impressionante nas percepções das pessoas. As principais
dimensões são: a angularidade, o tamanho, a simetria e a proporção.
Angularidade
O ângulo reto predominou durante muito tempo na história da arquitetura, da arte, do design
de interiores e da página impressa; por isso sua presença é tão reiterada na comunicação
mercadológica.
As formas angulares são aquelas que contêm ângulos na sua constituição, como os triân-
gulos, os retângulos, os quadrados etc. Distinguem-se das formas redondas ou arredonda-
das, que não apresentam cantos. Ambas as categorias carregam um conjunto de associa-
çóes importantes.
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Empresa fundada em 1937, na Alemanha. Presente no Brasil desde 1953, com quatro unidades industriais nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e
Paraná, emprega 29 mil funcionários. Seu faturamento no País á de R$ 10 bilhões anuais.
A angularidade é associada a conflito, dureza e masculinidade; a esfericidade e o arredon-
damento evocam harmonia, suavidade e feminilidade. Essa distinção assemelha-se àquela
existente entre forma reta e forma curva. Formas retas geralmente são captadas como
masculinas, cortantes, abruptas e instáveis, ao passo que formas curvas são captadas
como femininas, suaves e contínuas, evocando retorno.
Simetria
A simetria sempre foi considerada o ideal clássico. Antigas culturas mediterrâneas dos
egípcios, gregos e romanos criaram estilos baseados no equilíbrio da forma e da simetria,
que foram ao longo da história replicados nos mais diferentes campos do conhecimento. A
simetria refere-se à identidade balanceada de forma ou de arranjo nos dois lados de uma
linha (eixo) ou plano divisor. Simetria cria equilíbrio, um fator importante na maneira como
avaliamos o apelo visual de um objeto. Por exemplo, várias pesquisas psicológicas reve-
laram ser a simetria um fator-chave quando julgamos a beleza do rosto de uma pessoa.
Mas a atração da simetria tem seus limites. Um toque de assimetria pode tornar um rosto
ainda mais atraente, acrescentando-lhe um elemento de singularidade e individualidade. A
esse respeito, Schmitt e Simonson (2000, p.lO6) apresentam o exemplo da modelo Cindy
Crawford — um dos elementos de identidade da marca Revlon —, “que não retira a pinta ao
lado da boca porque ela a torna ainda mais atraente; seus traços simétricos são realçados
pela assimetria do sinal em um lado do rosto”. De alguma maneira a simetria cria ordem e
alivia a tensão, ao passo que a assimetria tem efeito oposto, criando agitação e tensão —
no entanto, muitas vezes uma ligeira tensão salva uma imagem visual da total monotonia.
A simetria geralmente é justaposta a um traço de assimetria para criar o sentido de equi-
líbrio com um toque de estímulo ou movimento. Vemos isso em displays ou mostradores
de relógios. Em anúncios, folhetos, catálogos e outros displays, relógios e ponteiros de
relógios são colocados na posição 10-2 (simetria no eixo vertical) com um toque de movi-
mento proporcionado pelo ponteiro de segundos em 35 segundos, passando ligeiramente
o eixo de simetria (a marca de 30 segundos). A maioria das outras combinações poderia
criar simetria parcial, como 9-3 com o segundo ponteiro na marca de 60 segundos. Existe
uma simetria vertical oposta perfeita, equivalente a 8-4 e 60 segundos, que é usada pela
Mercedes-Benz como sua simbologia máxima.
Lessa (1995, p. 76) nos diz que simetria “é uma correspondência em grandeza, forma e
posição relativa de partes ou elementos situados em lados opostos de uma linha ou dis-
tribuídos em volta de um centro”. Com uma definição bastante simples de simetria o autor
extrapola o conceito diferenciando dois tipos básicos: simetria por espelhamento e simetria
por rotação.
Na simetria por espelhamento as partes ou os elementos encontram-se rebatidos entre si
como figura e sua imagem refletida em espelho. Na simetria por rotação, as partes ou os
elementos dispõem-se em torno de um ponto e apresentam deslocamento em que esse
ponto está na mesma posição relativa para cada parte ou elemento. Na dependência do
número de eixos da simetria, ou do número de ângulos iguais em que o espaço é dividido a
partir do ponto, essa simetria apresenta várias ocorrências: rotação de 180’, 120’, 90’ etc.
Hurlburt (1999, p. 56) traz algumas considerações importantes a respeito da assimetria, da
perspectiva histórica:
(...) enquanto o Império Romano expandia no continente europeu o conceito clássico da simetria,
no Japão desenvolvia-se uma nova visão da forma arquitetônica. Obrigados a recorrer — por
suas condições ambientais e geológicas — às estruturas de madeira, em vez de pedra, os japo-
neses projetavam suas construções com um sentido de abertura e de inter-relacionamento com
a natureza, muito mais do que com a preocupação de ordenar o espaço interior.
Segundo o autor, a conseqüência dessa conduta fez que se constituísse uma estrutura
formal deliberada e cuidadosamente baseada em um design assimétrico. Da arquitetura,
a assimetria invadiu toda a amplitude do design japonês. A assimetria chega ao Ocidente
muitos anos depois.
Proporção
Proporção configura-se como a relação das partes de um todo entre si, ou entre cada uma
delas e esse todo, no que se refere a tamanho, quantidade ou grau. Dizemos ainda que a
proporção se refere à relação entre as partes de um todo que provoca um sentimento esté-
tico de equilíbrio, de harmonia.
A proporção é outra variável importante da forma e do design que influencia fortemente a
maneira com percebemos o mundo à nossa volta e nos comunicamos com ele. Formas
angulares longas e formas oblongas, que prevaleceram durante o período da arte barroca,
estendem o campo de visão, parecendo captar mais de uma determinada cena e criando
uma estética dominante. Formas angulares curtas podem parecer mais tímidas e suaves.
Como formas arredondadas, proporção e simetria geralmente se misturam, já que formas
circulares parecem menos poderosas que as oblongas, mas criam percepções de harmo-
nia, de suavidade e de perfeição.
Tamanho
A personalidade muitas vezes reflete-se em determinadas formas. Isso fica facilmente apa-
rente quando colocamos a dimensão tamanho em evidência. Formas grandes, compridas
ou largas costumam ser percebidas como poderosas e fortes, ao passo que formas peque-
nas, curtas ou finas parecem delicadas e frágeis. Ninguém entendeu melhor esse princí-
pio que o pintor holandês Piet Mondrian, cujas linhas pretas grossas delimitando grandes
quadrados e retângulos azuis, vermelhos e amarelos inspiraram o design de muitos bens
de consumo, incluindo cortinas de banheiro, toalhas de praia e produtos para cabelos da
linha L’Oréal Studio. Com suas formas largas e angulares, o design desses produtos projeta
força, energia e eficácia.
Mais do que outras dimensões de forma, a maneira de avaliar o tamanho varia surpreen-
dentemente de acordo com padrões culturais e regionais. No Ocidente, o tamanho pequeno
em geral é visto como possuidor de pouca importância — alguns heróis nacionais norte-
americanos são exemplos dessa preferência cultural por grandeza. Em contrapartida, no
Oriente, proporções grandes costumam ser vistas como estranhas e pesadas. Em qualquer
região, o efeito de tamanho pode variar; por vezes, o robusto é considerado abrutalhado e
obtuso, enquanto o delgado e visto como metódico e inteligente.
O poder das formas em uma estratégia estética é extraordinário; ele está diretamente re-
lacionado com a distinção que a forma pode proporcionar. Essa identificação, por sua vez,
relaciona-se com a amplitude exclusiva da forma com a empresa ou a marca e a qualidade
percebida inerente a ela.
Uma forma pode ganhar vários significados, dependendo do contexto em que apareça. A
forma sozinha de uma marca registrada ou de um emblema não identifica um produto ou
empresa específicos de maneira inconfundível. Portanto, o objetivo não é criar uma marca
ou um logotipo para combinar com determinado produto, e sim unir a uma forma potencial-
mente apropriada a um produto. Ou seja, evitar que sejam feitas combinações pobres de
formas é o objetivo-chave de sua análise em identidade corporativa e de marca.
Quando nos referimos a forma da perspectiva da comunicação de produtos e marcas esta-
mos incluindo também o design. O conceito de design muitas vezes é objeto de confusão
porque nem sempre fica claro o que se quer dizer com esse termo. Encontramos diversas
opções: design = projeto, plano, esboço, desenho, croqui, construção, configuração, mo-
delo.
Daí, podermos deduzir que o design é uma idéia, um projeto ou um plano para a solução de
um problema determinado, O design consistiria então na corporificação dessa idéia para,
com a ajuda dos meios correspondentes, permitir a sua transmissão aos outros.
Assim, o conceito de design compreende a solução de um problema em forma de projetos
ou de modelos, mediante a construção e a configuração resultando em um produto indus-
trial passível de produção em série. O design estaria então realizando o processo configu-
rativo.
As fases desse processo são denominadas design, tanto em nível parcial, como na totali-
dade do processo. A confusão cresce ao ampliarmos ainda mais o conceito e considerar-
mos que o design também é a produção de um produto ou de um sistema de produtos que
satisfazem às exigências do ambiente humano. Aqui podemos afirmar que o termo design
é apenas um conceito geral que responde por um processo mais amplo. Ele começa pelo
desenvolvimento de uma idéia, podendo concretizar-se em uma fase de projeto, e sua fina-
lidade seria a resolução dos problemas decorrentes das necessidades humanas.
O conceito de design traduz-se como configuração (Gestaltung, em alemão, termo original-
mente utilizado antes da adoção do design). A configuração com conceito geral mais amplo
pode ser o processo de materialização de uma idéia. Design e configuração são conceitos
gerais mais amplos, em que o objeto da configuração permanece em aberto. Ele se tornará
mais específico quando o conceito de design se relacionar com outro conceito, com alguma
ascendência sobre ele, que será o objeto do design.
O design em nosso ambiente atual é o resultado da soma de múltiplos fatores, que se
estabeleceram por meio dos processos de planejamento, de configuração e de produção,
independentes uns dos outros. Essas ações não coordenadas apresentam, em cenas oca-
siões, efeitos secundários negativos, decorrentes da falta de uma solução global do pro-
blema. Tais aspectos negativos, como a poluição ambiental, a exploração sem limites das
matérias-primas, a sobrecarga do meio ambiente com a superprodução, entre outros, não
podem ser eliminados totalmente. Por isso é essencial compreender que, no futuro, as
ações individuais deverão ser sintonizadas umas com as outras, a fim de evitar um caos
ainda maior. Em cada projeto devemos questionar em primeiro lugar a importância que ele
terá para a sociedade, se o resultado do processo de planejamento e de configuração é
sensato, e se há aspectos negativos a considerar.
É opinião corrente que o homem influi em seu ambiente e o modifica mediante sua atuação.
Com respeito à relação configuração/design, é importante esclarecer quais são as motiva-
ções do homem para influir em seu meio ambiente a fim de configurá-lo. Tudo que vive e
continuará a viver possui necessidades inerentes. As necessidades se tornam reconhecí-
veis mediante os estados de tensão que governam a conduta do ser humano e o resulta-
do da sensação de uma deficiência que se tenta sanar. A aparição de necessidades nem
sempre tem lógica, especialmente quando outras atividades ou processos têm preferência
ocasional Por exemplo, a necessidade de uma atividade de lazer ou de recreação surge
após um extenso período de trabalho.
No fim do século XX e início do século XXI, muito se tem ouvido falar do design sensorial
como a grande força no estabelecimento da identidade marcária, especialmente de produ-
to. A idéia subjacente é a de que o design é capaz de criar emoções, experiências senso-
riais e, finalmente, gerar vendas.
Nestes anos de grande efervescência tecnológica que traz consigo a frieza deste mundo,
surge a necessidade de um toque humanista nos objetos que facilite as conexões afetivas
com os consumidores.
Recentemente, em um workshop da marca Gradiente, muito se questionou a importância
da potência do som para os aparelhos destinados aos jovens e, para espanto de todos, a
potência passou a ser um aspecto de importância secundária, ao passo que o design do
produto tornou-se o grande fator determinante de compra. Esse deslocamento explica-se,
em pane, em razão de a potência estar mais homogênea — já se espera uma potência “x”
(razoável) para qualquer aparelho de som, mas a força do design cativa outras questões re-
lacionadas ao envolvimento e ao uso do produto. Cada vez mais os jovens ouvem som em
seus quartos, presos pela violência das cidades. Em razão dessa nova situação, a potência
passou a ser minimizada e, como o quarto tornou-se uma célula independente do restante
da casa, com personalização máxima e total expressão da identidade do jovem, o design
do aparelho de som se revela com toda a força.
Formas mais orgânicas e arredondadas têm sido a tônica na área de desenvolvimento de
produtos, desde automóveis, escovas de dente, máquinas de lavar roupa, computadores
e produtos de limpeza até na arquitetura, em que construções mudam completamente as
paisagens das cidades imprimindo valores distintivos.
Design,
Identidade Visual e
Oxigenação de Marca
PARTE 3
Jean-Charles J. Zozzolj
Professor da Universidade Federal de Alagoas
Doutor em Ciências da Comunicação pera ECA/USP,
Mestre em Multimeios pela Unicamp
O objeto (tangível e/ou intangível) revela-se signo diferencial graças à marca, que cristaliza
os elementos materiais e imateriais do produto ou da organização em um todo harmônico
e significante, disponibilizando-os ao consumo. Consumimos signos (Baudrillard, 1984, p.
232-3). Assim, o objeto é consumido, não na sua materialidade, mas na sua diferença. A
mais-valia acrescida pela marca nos fez evoluir em uma sociedade de comunicação.
1
Abordei originalmente partes das reflexões tematizadas neste parágrafo no 23~ INTERCOM (Zozzoli, 2000), e elas são também exploradas em Zozzoli
(2002, parte V,cap. 1).
A marca já é encenada em todos os meios: design, ação publicitária, publipromocional,
venda, ações sociorrelacionais, presença na internet, marketing on-line etc.
Como já evidenciei em trabalhos anteriores (Zozzoli, 1994, 1995, 1997a, b, 1998, 2000),
mais do que um nome e/ou uma imagem, isto é, um traço distintivo que identifica (por meio
de atributos próprios), a marca é uma fala (verbal e não-verbal), nem sempre assumida,
que deve ser compartilhada. Sem pleonasmo, é um contrato fiduciário de confiança.
Em minha pesquisa projetiva referida supra, efetuo constatações semelhantes no que diz
respeito exclusivamente à marca e sua importância atual na comunicação mercadológica,
mas também institucional e social, e na vida econômica e cultural. Essas ocorrências são
evidenciadas em suas manifestações práticas. Como antecedentes reais8, compartilhados
no dia-a-dia, mas também potenciais, servem de fundamentos ao desenvolvimento de uma
concepção teórica contemporânea da marca.
2
Explicações a respeito dessa expressão estão disponíveis no site da agência do publicitário http:I/www.flschamericono.com.br, no qual a Fischer América
registra que “a partir da década de 1990, consciente de que a publicidade não resolve tudo, criou o conceito de Comunicação Totalt.
Como escreve Chaves — e parece ser ponto pacífico entre os pesquisadores —, não basta
que os papéis existam, eles devem ser detectados como tais no mercado. No que diz respeito
à marca, há tempo que ela não se limita à sua aposição nos produtos como diferenciadora
do fabricante e/ou (re)vendedor do produto. Seu papel, hoje, vai além de uma garantia
de qualidade associada ao nome do produtor, pela manutenção de um mesmo padrão
ou pela garantia de inovação para se demarcar sempre em relação a seus concorrentes.
Ressalte-se que o conceito de qualidade mostra-se um tanto nebuloso, uma vez que suas
características e valor diferem em função das pessoas, conseqüentemente dos mercados
e dos produtos aí presentes. Mesmo assim, essa garantia de qualidade gera segurança e
tranqüilização, pois a marca apela para uma síntese mnemotécnica de uma vivência de
compra e uso pelo consumidor.3
A marca emerge primeiro na e pela vida, lá onde ocorre a morte ou a ausência. Atentando
para a ontogenia do sujeito e para a filogenia do grupo ao qual pertence quem utiliza
linguageira e materialmente a marca, essa (como rastro de algo ou de outrem) aparece
como um estado descontínuo de valor figurativo individuado, dotado de valor semântico,
que age por remissão simbólica com valor mais ou menos constante e intersubjetivo no
grupo considerado. Dotada de significação funcional, a marca representa uma alternativa
de origem social, resultado da coordenação comportamental, que propicia uma conduta
comunicativa. Para mim, é na abertura atemporal do tempo da linguagem que a marca se
situa, sendo ontologicamente sua primeira manifestação arcaica a nódoa fúnebre, como
experiência vivida da ausência física/presença virtual do outro, na vivência paroxística
da manifestação da morte. Exclusivamente como morte na vida, contém a alteridade
3
Conforme desenvolvido em Zozzoli (1994) e, com aspectos que trazem à tona o sensível, em Zozzoli (2001), essa questão é desenvolvida a seguir em “A
referência exclusiva e tranqüilizadora como valor”.
indissociável do desenvolvimento unitário e plural da experiência individual e coletiva
(Zozzoli, 2002, p. 188-230, passim).
Desse modo, a marca torna-se opaca a suas próprias condições de produção, divulgação
e consumo, e contribui para a implementação de uma imagem hedonista e eufórica —
principalmente onírica — da existência e da vivência pessoais, familiares, empresariais,
tidas como ideais na sociedade contemporânea. Quase sempre, o consumidor-cidadão
não pressupõe nem a existência dos profissionais envolvidos, nem a sua diversidade, nem
a infra-estrutura que subtende a marca e os seus sistemas, e menos ainda seus custos.
Nesse uso intangível, produtos e marcas institucionalizam-se como mediadores (quase)
universais, padrões de valores societários e sociais.
A marca é mercadoria
A marca comparece como mercadoria, uma vez que, no mercado de consumo sígnico,
representa significações que vão ser produzidas, veiculadas e consumidas. Ao ser cotejada
como produto social de sentido, consumido signicamente por quem compra e por quem
não compra o produto (bem, serviço, idéia...) que ela referenda, a marca mostra como, em
nossos dias, é “industrializada”.
Do valor da marca
Os fenômenos de opinião são motores da vida dos mercados; os estados de opinião são
ativos financeiros. Essas ocorrências manifestam-se fortemente no domínio da marca. De
fato, a marca agrega valor-símbolo ao produto. Pelo valor que representa a marca é — como
aliás proclama o título de uma obra de referência (Kapferrer e Thoenig, 1989)4 — motor da
competitividade das empresas. Em primeiro lugar, constata-se que o fenômeno de venda
com marca — oposto à produção anônima pode ser considerado como um dos principais
fatos da economia moderna, pois a lógica da marca (re)modela, hoje em dia, as trocas.
Conseqüentemente, e em segundo lugar, a marca tornou-se um ativo intangível essencial
na administração financeira das organizações com ou sem fins lucrativos. Finalmente, a
marca instituiu-se como protagonista social, criadora de relações de referência, conivência,
e até entretenimento, no ambiente cotidiano dos mercados econômicos e culturais.
É a marca que, em função de sua força em seu mercado, permitiu/permite ainda ao industrial
contornar os circuitos tradicionais de distribuição, fazendo de sorte que haja demanda pelo
consumidor final de determinado produto, distinto e nomeado, ao varejista, e, em seguida,
desse último ao grossista e, conseqüentemente, do atacadista ao fabricante. É a marca
que permite à empresa de porte menor enfrentar gigantes no comércio virtual, estando
presente graças à internet em vários mercados. E a marca que salvaguarda a identidade e a
personalidade da organização e de seus produtos no marketing um para um, principalmente
na individualização dos produtos conforme o pedido do consumidor. E a marca que permite
também a localização, e principalmente o reconhecimento, nos sites da web.5
4
As considerações desenvolvidas no livro de Kapferrer e Thoening enfocam a comunicação referencial, parecendo lamentar a existência de outros estilos
comunicativos, assimilando,os a formas de engodo.
5
Algumas considerações sobre a marca na internet jáforam desenvolvidas por mim em Por uma concepção contemporânea da marca”, l996a. Apresento
adiante um estudo mais atual e aprimorado sobre a marca an-ine e o marlceting de permissão em “A marca e as tecnologias contemporâneas”. A presença
da marca na internet foi também abordsda recentemente por Pinho (1999).
6
É justamente do grau de confiança da consumidor final que dependem a força da marca e, conseqüentemente, a força do produtor nos canais de distri-
buição. Ver, infra, em ‘A referência exclusiva e tranqüilizadora como valor”: marca absoluta, marca relativa, marca transparente.
ponto de venda para encontrá-lo novamente. Era o vendedor o responsável pela qualidade
dos produtos anônimos que vendia, geralmente a granel. Hoje, esse produto é identificado
pela marca que garante ao consumidor uma aparente satisfação quanto à sua escolha, seja
no comércio convencional ou no comércio digital. Substituiu, em muitos casos, boa parte ou
a totalidade da argumentação do vendedor, uma vez que o produto com marca se defende,
perante o consumidor (e os outros atores atuantes no mercado), graças a suas formas
massivas e dirigidas, próprias de comunicação.
Por arrogar-se a quase totalidade das políticas de condicionamento dos produtos e de sua
divulgação e argumentação, a marca possibilitou — como já mencionado — o aparecimento
de novas formas de distribuição: venda com marca própria,franchising, licensing.
O valor do coletivo7
• a atomicidade da oferta;
7
Apresentei inicialmente o conteúdo da reflexão que segue, na qualidade de debatedor, no GT-Propaganda, no 23’ Congresso da INTERCOM, em setem-
bro de 2000.
Observo que a identidade, pleiteada no texto de Pinho, é o princípio marcário básico,
agregador de todas as outras características intrínsecas e extrínsecas dos produtos. Dela,
a personalidade da marca e, conseqüentemente, a do produto decorrem e manifestam-se
nas maneiras de proceder: isto é, nas suas comunicações ôntica e ontológica.
Tal procedimento, que remete a vários produtores, é próprio da marca dita coletiva, usada
para identificar produtos ou serviços provindos de membros de determinada entidade, no
interesse geral, econômico ou social, de seus integrantes.
Também pode ter relação com a marca dita de certificação, aquela usada para atestar a
conformidade de um produto ou de um serviço com determinadas normas ou especificações
técnicas, notadamente quanto à qualidade, à natureza, ao material utilizado e à metodologia
empregada.
Logo, para enxergar com uma visão de mercado de consumo, é preciso que o produtor rural
abandone seu olhar de produtor. Como bem disse Pinho, é preciso criar hábitos e padrões
de consumo persistentes e continuados.
Aliás, é fácil observar que a publicidade pioneira tinha como alvo os consumidores, sem
calcular sua investida no plano da distribuição, verdadeiro gatekeeper da referenciação dos
produtos nas prateleiras. Esse não é o caso da publicidade de marca coletiva que, pela
presença e força da marca, sinaliza justamente seu peso no mercado.
Se, nesse contexto, concordo com essa apreensão, apesar de considerar produto
qualquer coisa produzida — logo, a marca também é produto—, lembro que a marca não
é exclusiva dos fabricantes, mas pode também, por exemplo, ser de comércio, isto é, de
distribuidores.
Na perspectiva teórica que eu adoto, não posso, portanto, fazer minha a referência a White
(apud Pinho, 2000) que sustenta que produto é meramente um meio de atender a uma
necessidade física. Vale lembrar as considerações de Baudrillard em Le systênie des objets
(1984). O produto também é signo. Independentemente de ter ou não uma marca, atende
igualmente a necessidades psíquicas. Quanto à marca, ela agrega elementos que influem
na atitude e no comportamento dos usuários, mas também dos não-usuários e dos outros
atores presentes no mercado.
No que diz respeito a qualquer estratégia mercadológica e, portanto, comunicacional,
parece-me judicioso, desse modo, dividir o mercado de commodities agrícolas, no mínimo,
em mercado profissional e mercado grande público.
Revela-se um ambiente pragmático, declarativo pelo simples uso, próximo dos sistemas de
registro das legislações da marca de tipo anglosaxônico.
Vale lembrar que a capacidade distintiva não é sinônimo nem de novidade nem de
originalidade, só é diferente de banalidade, O problema, então, consiste em transformar
uma marca de commodities débil (ou um conjunto de marcas de commodities débeis) em
uma marca coletiva eficiente.
Diversas são as possibilidades que se oferecem para explorar essa sensibilidade: entre
outras, por exemplo, a criação de marca de zona, de marca de qualidade, de marca de
beneficiamento, de marca de tratamento.
Observa-se então que a marca não significa (comunica somente) um valor-signo do(s)
objeto(s) que distingue, mas valor(es)-símbolo(s)9. Com certeza, a marca usa e retransmite
o valor-signo da mercadoria e de outros elementos indiciais extraídos de um contexto
qualquer, bem como pode ser um signo em um universo simbólico, mas em relação ao objeto
para o qual deve produzir diferença, a marca só divulga, em sua soberania, seu próprio ser,
constrói sua própria imagem, ao conotar arquétipos simbólicos. Por exemplo, em relação
ao status, uma bicicleta Rolls-Royce (se viesse a ser fabricada) não seria signo de riqueza,
todavia um charuto Davidoff aceso por meio de um isqueiro Dunhill não é fumado por
qualquer um. O Passat é o carro de certo grupo social, bem como o Gol é de outro, sendo,
entretanto, ambos fabricados e vendidos pela Volkswagen, cuja imagem é de resistência,
bom investimento e presença em todo o território nacional.
8
Entende-se aqui logomarca não somente como o bloco ‘marca verbal’ + marca símbolo’ + (base une), mas como síntese do discurso (grego: logos) da
marca.
9
A expressão valor-signo (imagem que ao ser associada a um objeto transmite-lhe suas qualidades) é de Baudrillard. Na expressão valor-símbolo, símbo-
lo obviamente deve ser entendido em seu sentido usual e não na acepção (de ambivalência) que lhe confere esse autor (Baudrillard, 1974b).
Não são, pois, os signos (isolados, em sua “essência”) que devem ser objeto de investigação,
mas sim formas significantes na discursivização, os sistemas de relações que fazem da
marca um objeto de sentido. Pois a marca não comunica só sentido, ela produz sentido.
• localização: não no que diz respeito à origem real do produto, mas em relação ao leque
de soluções apresentadas no mercado;
• personalização: como signo que permite ao consumidor comunicar como ele deseja
ser e quer ser visto pelos outros e por ele mesmo (diferenciação x integração em grupos
societários10);
• existência de uma atmosfera lúdica: como fonte de prazer, estimulação e excitação, quando
da compra do produto e da recepção das manifestaçÕes discursivas da marca, em todas as
suas formas de comunicação;
• para os industriais e os distribuidores, uma garantia para se diferenciar dos concorrentes, mas
também dos parceiros, e controlar as operações de distribuição, logística, armazenamento
e venda de seus produtos; como também uma garantia contra a pirataria, principalmente
pelo fato de a marca exprimir proveniência dos produtos, não em termos geográficos, mas
em termos de quem os fabrica e/ou revende.
10
Ver também a esse respeito, e no que concerne ao item posterior, Martins (1999).
A marca, expressão de propriedade, defende, portanto, um direito de ocupação em um
determinado mercado.
A crise dos anos 90 mostrou, principalmente na Europa, que a força de uma marca não
está simples e diretamente relacionada à sua notoriedade e imagem. A sensibilidade dos
consumidores às marcas (relativizada em função dos tipos de produtos, setores econômicos,
mercados e modos de consumo), aliada à baixa geral do poder aquisitivo e à conscientização
ambiental, por um lado, e a evolução do varejo11, por outro, permitiram que as grandes redes
de distribuição contribuíssem muito para o enfraquecimento e a substituição calculada de
marcas menos fortes por outras.
11
Principalmente no que diz respeito às formas de poder dos grandes distribuidores em termos de ocupação territorial e de negociação em grande escala,
paralelamente às suas conseqüentes estratégias quanto à referenciação dos produtos.
• as marcas transparentes: nesse nível, questionam-se os principais pressupostos
profissionais a respeito dos conhecimentos teóricos tradicionais sobre marca. Com efeito, a
experiência demonstra que a marca não infere substancialmente na compra, quer disponha
de uma grande notoriedade e de uma imagem altamente positiva, quer seja desconhecida,
pois, em mercados desse tipo, não existe inquietação dos consumidores em relação aos
produtos. A seleção da marca pelos consumidores é automática, ou sujeita a colocações
estratégicas feitas pelo varejista e à eficiência do merchandising nas gôndolas. O diferencial
marcário, presente na comunicação, não encontra eco no que concerne às preocupações dos
consumidores. É o ambiente ideal da marca própria. A luta é total. Segundo Chetochine:
A marca não significa nada em termos de resposta “receio” a não ser uma grande
notoriedade, que é útil na prateleira para obter rotatividade nas vendas, e um ouvido
atento dos distribuidores, que crêem na publicidade e que ainda não sabem que
o mercado das marcas está em plena evolução, e que existem marcas e marcas.
(1999, p. 120)
Para concluir, a construção de uma imagem de marca forte, tanto simbolicamente quanto
financeira e logisticamente, como percepção individual da imagem do produto, de sua
marca e da empresa titular, por parte de pessoas físicas12, revela-se a forma mais avançada
de organização no mercado, uma vez que, diante da incerteza dos compradores13 em
relação ás qualidade, a imagem de marca tende a criar o apego peculiar que, nos devidos
limites, autonomiza o produto das pressões exercidas pela concorrência dos preços e as
exigências dos distribuidores, e, em um outro nível, representa produto e empresa nas
diversas instâncias do setor público. A marca protege, portanto, o produto, pois garante
ao produtor (e/ou distribuidor) uma fatia de mercado, no momento em que permite (ou
melhor, contribui para gerar) a concorrência monopolista, ao isolar uma parte de mercado
que é servida especificamente por um produto diferenciado — em outros termos, único na
mente das pessoas — porque produzido e negociado com uma marca que responde aos
anseios de tranqüilização de (todos) os seus clientes14 Venda e serviço pós-venda, relações
financeiras, relações públicas15, e todas as demais ações da organização não podem,
portanto, ser consideradas ações autônomas, mas integram, como meios que devem
proporcioná-la, a rede de confiabilidade geradora da imagem do produto, de sua marca, e
da(s) empresa(s) que o fabrica(m) e vende(m). A marca há de ser enxergada sob o prisma
dos “novos” paradigmas do marketing, que apelam para o marketing de relacionamento,
o marketing institucional, entre outros aspectos de relevante importância, e reabilitam o
conceito de alteridade, essencial à natureza do marketing, pois a força da marca é a força
da qualidade da maneira que é sentida pelos clientes.
Qualidade e informação não são dissociáveis, uma vez que o sucesso de uma política
de qualidade é condicionado pelo conhecimento, no mínimo, dos atributos valorizados do
produto pela clientela. A imagem de marca, positiva ou negativa, veicula informações a cada
um dos participantes do mercado, colaborando no processo de constituição da informação
disponível. Saliente-se que não se apresenta (não é percebida e reconstruída) forçosamente
de maneira idêntica para cada um desses receptores, com ou sem manipulação da parte
de alguns. As informações veiculadas não se restringem ao produto designado pela marca,
mas abrangem todo o universo desse produto e das empresas que o fabricam e revendem.
Como exemplo, lembro que a marca de um produto novo de uma empresa integrará — é
claro — o halo das qualidades ou defeitos da(s) marca(s) dos produtos existentes e dessa
empresa, a não ser que não haja nenhuma relação conhecida entre eles e a própria imagem
dessa empresa.
A administração da marca, tal como a apresentei nessas reflexões, não pode favorecer
nem a comunicação publicitária nem a comunicação de identidade ou comunicação design,
nem programas de relações públicas, de promoção de venda, de promoção institucional, de
comunicação alternativa, de selling iii ou selling out, e qualquer outro. Seu gerenciamento,
qualquer que seja o profissional responsável — publicitário, mercadólogo, relações públicas,
designer etc. — há de obedecer a uma visão global da instituição, sua missão e projetos,
seus interlocutores, clientes e públicos diretos e indiretos. Destaca-se a necessidade
de comunicadores que, com novo perfil profissional, sejam aptos a desenvolver ações
interdisciplinares.
Considerações Finais
As questões aqui debatidas demonstram, sem sombra de dúvida, que a marca é muito
mais do que a assinatura de um produto e de suas mensagens publicitárias. Fenômeno
próprio de nossa sociedade, a marca comercial/institucional, tal como é fabricada, recebida,
conhecida e reconhecida hoje em dia, é produzida pelo homem, mas também produz o
homem e o ambiente no qual ambos vivem.
Multimeio complexo, que se engendra sob diversas formas gráficas, auditivas, verbais... a
marca (comercial e institucional) vai além das dimensões de sua plasticidade para entrelaçar
as redes de sua significância em vários planos e contextos discursivos (que envolvem
todas as considerações desenvolvidas nos níveis jurídicos, econômicos, profissionais,
de consumo, entre outros), revelando-se como uma instituição plena da/na sociedade de
consumo na alvorada do terceiro milênio.
Verdadeiro credo, declina-se por meio de suas várias manifestações no dia-a-dia humano,
ao estar presente na maioria dos meios e multimeios (de comunicação e de divulgação)
através de todas as suas formas/padrões de comportamento individuais (produções
comunicativas de identidade, de venda, publicitárias, sociorrelacionais...).
17
Mais detalhes a respeito dos estilos da comunicação publicitária e/ou institucional podem ser encontrados em Floch (1990) e em Zozzoli (1994, seção
6.5).
• regimentada pelo direito em seu uso e poder de proteção a certas mercadorias;
• reconhecida pela teoria econômica18, a ponto de fazer desmoronar alguns de seus mais
conhecidos princípios, alicerces explicativos e substratos parciais de outras áreas de
conhecimento, tal como a concorrência perfeita por exemplo;
• estendida sua forma de leitura comercial, pelo cidadão comum, a outros domínios como
principalmente a esfera institucional ou política, provavelmente em uma seleção dialética
que reúne utilização de diferencial visual, tanto pelos consumidores /cidadões como pelos
comunicadores, que, qualquer que seja sua posição, não deixam nunca de ser consumidores
e produtores sígnicos.
A marca manifesta-se, pois, explicitamente e à nossa revelia, Exprime-se, tanto nos planos
físicos quanto virtuais, por meio de suas formas verbais e plásticas, mas também das
considerações jurídicas, econômicas, antropológicas, semióticas.., a seu respeito. Exprime-
se igualmente pelo uso que dela fazem os consumidores, como por sua vez os fabricantes
e os distribuidores, os cidadãos e os poderes públicos.
18
Para considerações sobre o direito e a economia da marca, ver Zozzoli (1994, caps. 4 es).
Design,
Identidade Visual e
Oxigenação de Marca
PARTE 4
Muitas empresas estão reconhecendo cada vez mais a relevância estratégica da marca em
seus negócios. As marcas são um componente fundamental do marketing há mais de cem
anos, mas só começaram a ser discutidas seriamente em meados do século XX.
A Revista HSM Management (1998) publicou uma reportagem intitulada “O poder da mar-
ca”, conferindo a David Ogilvy - o lendário publicitário e um dos fundadores de uma das
mais importantes agências de publicidade do mundo, Standard Ogilvy & Mather - o título
de pioneiro na discussão da marca como ativo principal das organizações e, portanto, de
extremo valor para ser explorada e diferenciada através de uma imagem única e singular.
Ogilvy, uma marca no meio publicitário mundial, iniciava em 1951 a era das marcas.
Ainda segundo a reportagem (HSM Management, março-abril, 1998), somente a partir dos
anos 80 é que o tema branding começou a ser considerado, interpretado e analisado pelos
profissionais, e desenvolvido epistemologicamente por teóricos da área. O que em muito
se deve ao grande número de fusões e aquisições de empresas, que propiciariam uma
evidência irrefutável da substancialidade das marcas quando do fechamento do valor dos
contratos; isto é, as marcas eram a explicação definitiva que justificavam a diferença entre
o patrimônio declarado num balanço e os valores bem maiores pago pelos compradores - o
que hoje é chamado de brand equity, ou seja, valor patrimonial da marca. A marca era tão
valiosa, que chegava a ser no mínimo 5 vezes mais representativa que o valor contábil da
própria empresa, retratado pelo dossiê “O poder da marca” (HSM Management, março-
abril, 1998). Um aspecto visto como intangível antes, hoje percebido como “bem” tangível,
e economicamente considerado uma questão da estratégia empresarial.
Um bom exemplo é esse: segundo a Interbrand estima que a marca Coca-Cola valha 35
bilhões de dólares, muito mais que todas as suas fábricas. Enfim, a marca vale mais que
o produto e até a empresa, pois a ela é dado um papel de representar uma identidade co-
mercial e de significação que constrói a imagem da empresa junto ao mercado e à mente
dos compradores e stakeholders (interessados na força da marca; por exemplo, os acio-
nistas).
A marca é a mina de ouro do negócio, pois, quando bem construída, oferece diferenciação
e valor; é uma entidade com personalidade independente, e está além do produto. Aaker
considera a marca um componente estratégico tão fundamental, que para ela ter sucesso
é necessário uma eqüidade de marca consistente e diferenciada, concebida através de
elementos que vão desde a sua conscientização ao campo das associações exclusivas e
singulares.
Então, como conceituar a marca? Parece-nos que a definição é tão vasta quanto a busca
de significados para os conceitos de estratégia e marketing. Contudo, o seu conceito é
mais condensado, se analisarmos a marca como entidade física e perceptual; isto é, ela
possui componentes de produto e de imagem, que podem ser revelados de forma tangível
e intangível.
O conceito de marca é um termo utilizado para abarcar um certo número de elementos
básicos diferenciados, que coletivamente definem a marca. Ele se divide em componentes
de produto - atributos e benefícios do produto -, componentes lingüísticos, componentes
perceptuais / benefícios emocionais - conceito, alma, identidade, imagem, espírito, perso-
nalidade, posicionamento -, que geram valor patrimonial de marca, funcionalidade e sim-
bolismo, estatura e vitalidade à marca, e acabam por parasitar a mente como memes,
replicando e infectando as cabeças dos clientes e consumidores, graças a uma tática fun-
damental: a comunicação de marketing. Além disso, a marca é signo ou representamen,
que designa e faz-se representar, seja por símbolo, por índice ou por ícone, ou por todos
ao mesmo tempo. A marca pode ser estruturada da lingüística à ciência cognitiva; pensa-
da sociológica e antropologicamente como um sinal de comunicação entre indivíduos na
sociedade. Enfim, é um campo vastíssimo, e procuraremos delimitá-lo de forma cirúrgica e
concisa sem nenhuma heresia epistemológica.
De acordo com Martins e Blecher (1997: 15):
Uma marca é um produto ou serviço ao qual foram dados uma identidade, um nome e valor
adicional de uma imagem de marca. A imagem é desenvolvida pela propaganda ou em to-
das as outras comunicações associadas ao produto, incluindo a sua embalagem.
Em seu livro, Grandes marcas, grandes negócios, Martins e Blecher falam que os com-
ponentes que formam uma marca são: identidade, nome, design, proteção legal, comuni-
cação, reputação e gerenciamento. Para Kotler, a marca deve ter um nome singular, uma
palavra ou idéia principal (conceito), um slogan, cores que a identifiquem e a diferenciem,
símbolos e logotipos e um campo de associações, que dêem a marca um valor mitológico e
também ideológico. Na mesma linha de Kotler, embarca Randazzo, que nos diz que a mar-
ca é constituída, a partir de uma mitologia latente de um produto, que “abarca a totalidade
das percepções, crenças, experiências e sentimentos associados com o produto” (Randa-
zzo, 1997: 25); isto é, que o conteúdo psíquico da marca e a sua esfera mítica (mitologia da
marca) está diretamente conectado aos aspectos dos símbolos, dos arquétipos, dos mitos,
dos sonhos, das fantasias e dos desejos e que funcionam como um espelho psicológico,
capaz de moldar o comportamento do consumidor. As marcas são projeções do incons-
ciente coletivo (segundo o autor que se utiliza da teoria junguiana) e funcionam melhor se
já exploraram algo que já está na mente do público e, portanto, facilmente cognoscíveis;
o que é habilmente captado pela comunicação que para posicionar a marca na mente das
pessoas trabalha de forma bottom-up.
Mito, psique, desejo, linguagem e mente e muitas outras questões estarão sendo conduzi-
das mais à frente. Portanto, continuando a nossa base de conceitos, vamos a outras linhas
do entendimento sobre a marca: o comitê de definições da American Marketing Association
(AMA) estabeleceu, em 1960, os conceitos de marca, nome de marca e marca registrada.
A definição de marca é mais abrangente:
Marca é um nome, termo, sinal, símbolo ou desenho, ou uma combinação dos mesmos,
que pretende identificar os bens e serviços de um vendedor ou grupo de vendedores e
diferenciá-los daqueles dos concorrentes.
Nome da marca é aquela parte da marca que pode ser pronunciada, ou pronunciável.
Marca registrada é uma marca ou parte de uma marca à qual é dada proteção legal, porque
é capaz de apropriação exclusiva. (AMA apud Pinho, 1996: 14)
Al Ries e Laura Ries, em As 22 consagradas leis de marcas, são categóricos quanto ao
aspecto da marca, no que tange à relação mente, percepção e singularidade:
A essência do processo de marketing é construir uma marca na mente dos consumidores
(...) um bem sucedido programa de branding se baseia no conceito da singularidade. Ele
cria na mente do cliente em potencial a percepção de que não há outro produto no mercado
como o seu. ( Ries; Ries, 2000: 3-4)
As idéias relativas à marca que estão sendo expostas, sincronizam-se através do seguinte
eixo epistemológico: identidade / singularidade; mente; desejo; emoção; e imagem. Aces-
sórios como nome, slogan, logomarca ou logotipo, entre outros, fazem parte da constelação
da marca; são importantes e devem estar presentes ao eixo, que é a estrutura formadora
do conceito e da personalidade da marca.
Na década de 60, o publicitário e pesquisador David Ogilvy descobriu, através de pequi-
sas de mercado, que as marcas eram percebidas com traços de personalidade próprios
e que o consumidor dava identidade a elas. Segundo Martins, Ogilvy criou o termo brand
personality para descrever essas características emocionais da marca que estão além das
características do produto e de seu conceito funcional. Uma marca tem uma identidade
tão bem posicionada, que em poucas palavras já a definimos . Contudo, as marcas nem
sempre foram reconhecidas como marcas, já foram chamadas de sinetas, selos, siglas e
símbolos, há tempos atrás. Entretanto, os aspectos emocionais sempre existiram, e vão
continuar presentes.
Assim é o mundo fascinante das marcas , principalmente, o seu valor enquanto o principal
ativo de uma empresa, que se deve segundo a escolha de uma boa estratégia e de uma
visão de marketing competente.
Artigo:
As Leis de Marca
Por Fred Tavares
22/08/2007
1
Para a Interbrand, a marca Coca-Cola lidera o ranking de 2000, porém a avaliação do seu valor é diferente
da feita pela Digital Darwinism. Contudo, a gigante do mercado de refrigerantes é a única marca do seu setor
a figurar entre as 10 marcas mais valiosas do mundo. O mesmo ocorre com a pesquisa da Y&R.
2
Schweriner, A religião das Marcas 2001: 22.
3
Valor Econômico, 19 de julho de 2000.
Referências bibliográficas
AS MODELOS param o trânsito. Veja, ano 33, n. 21, p. 108-10, maio 2000.
BAUDRILLARD, J. (1968) Le systême des objets: la consommation des signes. Paris: Denoël/
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CHETOCHINE, G. A derrota das marcas. Como evitá-la? São Paulo: Makron Books, 1999.
FLOCH, J.-M. Sémiotique, marketing et communication: sous les signes, les stratégies. Paris: PUF,
1990.
KAPFERRER, J.-N.; THOENIG, J.-C. (orgs.). La marque: moteur de la compétitivité des entreprises
et de la croissance de l’économie. Paris: McGraw-Hill, 1989.
KAPFERRER, J.-N.; BLECHER, N. O império das marcas. São Paulo: Marcos Cobra, 1996.