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Metodológicos do
Ensino de História
e Geografia
Material Teórico
A Lógica Formal e a Lógica Dialética
no Ensino de História e de Geografia
Revisão Textual:
Prof. Me. Claudio Brites
A Lógica Formal e a Lógica Dialética
no Ensino de História e de Geografia
OBJETIVOS DE APRENDIZADO
• Refletir sobre as características do ensino de História e Geografia na escola;
• Analisar o ensino pela perspectiva da lógica formal e pela lógica dialética;
• Evidenciar a importância da definição dos objetivos pedagógicos no ensino;
• Mostrar a importância da integração dos conhecimentos no nível escolar.
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem
aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua
formação acadêmica e atuação profissional, siga
algumas recomendações básicas:
Conserve seu
material e local de
estudos sempre
organizados.
Aproveite as
Procure manter indicações
contato com seus de Material
colegas e tutores Complementar.
para trocar ideias!
Determine um Isso amplia a
horário fixo aprendizagem.
para estudar.
Mantenha o foco!
Evite se distrair com
as redes sociais.
Seja original!
Nunca plagie
trabalhos.
Não se esqueça
de se alimentar
Assim: e de se manter
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte hidratado.
da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e
horário fixos como seu “momento do estudo”;
No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos
e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você tam-
bém encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua
interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados;
Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus-
são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o
contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e
de aprendizagem.
UNIDADE A Lógica Formal e a Lógica Dialética
no Ensino de História e de Geografia
O professor pede que leia o texto, o qual “cairá” na prova. Você sabe que pre-
cisa saber os nomes dos personagens, fatos e datas, pois, provavelmente, isso
será questão da prova. Solução: decorar os nomes, fatos e datas;
• Para a aula de Geografia, o professor solicita que você decore os nomes das
capitais e rios mais importantes do Nordeste do Brasil. Para isso, usa diferentes
estratégias, tais como: um mapa em branco para que se coloque os nomes das
capitais e dos rios; faz chamada oral para verificar o quanto o aluno conseguiu
absorver de informações; e, na prova, coloca um mapa para que o estudante
identifique corretamente as capitais e os rios;
• Em um telejornal é apresentada, por vários dias, uma notícia sobre um fato que
teve lugar em um país distante. Essa é mostrada a partir de uma visão unila-
teral (única) sobre os acontecimentos. Dessa forma, o fato apresentado em tal
emissora leva a crer que as coisas aconteceram daquela forma.
É muito comum ouvirmos dizer que “os professores ensinam os alunos a pen-
sar”, “aquele aluno não sabe pensar” e coisas do gênero. Vejamos: pensar é uma
característica do ser humano e, desde que nascemos, pensamos! Por que a tarefa
de ensinar a pensar cabe ao professor? E aqueles que não têm a oportunidade de
frequentar uma escola? Esses não pensam?
Em outras situações, bastante comuns, ouvimos dizer que “aquele aluno não
sabe nada!” ou, ainda, “aquele aluno não aprende nada”. Analisemos essas afirma-
ções. Se considerarmos que pensar é algo inerente ao ser humano, não podemos
concordar com a ideia de que os professores são responsáveis por nos ensinar a
pensar, mas podemos considerar que os professores são responsáveis por direcio-
nar nosso pensamento ou, ainda, por fazer-nos pensar em determinadas direções.
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O que fica para nossa vida adulta, da nossa passagem pela escola, além de conhe-
cimentos adquiridos, é uma forma de pensar e agir sobre o mundo.
A forma como nos relacionamos com eles acontece através de nossos sentidos,
e esse relacionamento é, em grande parte, orientado pelas regras sociais que im-
peram na sociedade em que estamos inseridos. Esse conhecimento que adquirimos
é histórico, pois desenvolve-se e aprimora-se ao longo do tempo, de geração em
geração; é adquirido e conquistado.
Podemos conhecer, então, através das relações que desenvolvemos com os ob-
jetos e com os seres. Se considerarmos que cada um de nós tem uma formação
e histórias de vida diferentes, a forma de interação com os objetos ou seres e o
conhecimento que teremos sobre eles serão diferentes de um indivíduo para outro,
ou seja, o que eu conhecer sobre algo não será, necessariamente, o que você irá
conhecer, pois somos pessoas diferentes, embora o objeto ou ser a ser conhecido
seja o mesmo.
Na escola, somos levados a ter, todos, a mesma relação com os objetos e seres,
uma vez que o conhecimento a ser adquirido será determinado pelos professores
(via livro didático, programas de governo, entre outros) e nossas características in-
dividuais serão colocadas em segundo plano (ou em outro mais abaixo).
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no Ensino de História e de Geografia
Esse tipo de raciocínio é levado para fora da escola e interferirá na vida cotidia-
na, na qual o sujeito será alguém que aceitará as coisas como são (porque alguém
disse, especialmente se for uma autoridade!), não terá dúvidas e nem questionará
se haverá outra possibilidade de se olhar o fato. Um adulto que terá dificuldades em
ver “o outro lado da moeda”, agirá conforme as regras impostas, sem questioná-las.
Esse aluno, e futuro adulto, não será o que podemos chamar de “crítico”.
Dificilmente nossos professores nos levaram a questionar o que esse fato possa
ter significado, o que levou a tal fato e se a imagem criada em nossa mente corres-
pondia à realidade. Gritou independência ou morte e pronto: fez-se a independên-
cia de Portugal, como em um passe de mágica.
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A reprodução desses fatos com seus heróis e datas tornaram-se mais importan-
tes do que conhecer o processo e verificar se há outras formas de se analisar esses
acontecimentos. Decoramos isso, repetimos e devolvemos na prova para “tirar
uma boa nota”.
Agindo dessa forma, como nesses sucintos exemplos, estamos agindo dentro da
lógica formal, ou seja, acreditando em verdades absolutas, sem questioná-las. Por
mais estratégias diferenciadas de que possamos nos valer para que o aluno compre-
enda os fatos (Inconfidência Mineira, Independência do Brasil e qualquer outro), se
o raciocínio que desenvolvermos for aquele da simples devolução das coisas prontas,
sem possibilidade de abrir o leque de visões, estaremos atuando dentro da lógica for-
mal. A lógica formal é baseada principalmente nos métodos positivista e empirista.
Veja bem: a possibilidade de o aluno estar perdido no meio do oceano é muito pe-
quena e de ele se lembrar de como calcular coordenadas geográficas é menor ainda!
Então, para que ele tem que aprender isso? Bem... está no programa de Geografia e,
em dado momento, o professor tem que ensinar o aluno as coordenadas geográficas.
Na realidade, esse conteúdo, tradicional, como tantos outros, serve para que, en-
sinado dessa forma, cristalize o ensino de Geografia com base na lógica formal, em
uma visão principalmente positivista, ou seja, da reprodução do conhecimento
e de se ficar na aparência das coisas, sem atingir sua essência.
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no Ensino de História e de Geografia
Fonte: Trecho literal extraído de: MORAES, A. C. R. Geografia: pequena história crítica. São Paulo: Annablume, 2003. p. 29-30
A lógica formal é a lógica da aparência, uma vez que o fato dado não será ques-
tionado e isso mantém-nos somente no nível da informação sobre o fato ou objeto.
Lógica Formal
Memorização Aparências
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A Lógica Dialética no Ensino
Se partirmos do princípio de que nem sempre existiu ser humano neste planeta
(de acordo com as descobertas arqueológicas feitas até hoje), o que temos, hoje, é
nada mais nada menos que criações humanas. Mesmo eventos naturais são expli-
cados pelos seres humanos e essas explicações mudam com o tempo, a cada vez
que mudam as ideias das pessoas e as sociedades.
Sendo assim, é necessário que tenhamos a clareza de que a opção por se ensi-
nar um tipo ou outro de raciocínio também depende da sociedade em que se vive
e de que forma as relações sociais são estabelecidas.
Esse tipo de raciocínio leva à criticidade e forma um aluno, e adulto, que não
aceitará a coisa como está, nada pronto, e que o levará a sair do “lugar” em que
está, porque saberá onde está. Essa é a lógica dialética, a lógica que busca apontar
as contradições e os questionamentos.
Unindo a lógica com o conhecimento, temos que o que será conhecido de um ob-
jeto ou o que esse será dependerá da relação que estabelecermos com ele em função
do tipo de raciocínio que desenvolvermos: se me relacionar com a aparência, estarei
dentro da lógica formal e, se buscar a essência das coisas, estarei agindo na lógica
dialética. A lógica dialética baseia-se no método do materialismo histórico dialético.
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Você se lembra do que aprendeu em Biologia no 1º ano do Ensino Médio? Em
Matemática, no 5º ano? E em Geografia, na 7º série, por exemplo?
Bem, talvez você se lembre de alguns conteúdos, pois teve que repeti-los diver-
sas vezes ou porque gostou do assunto ou, ainda, porque essa ou aquela disciplina
eram suas favoritas e você tinha muita facilidade nela, ou, até mesmo, por outro
motivo. O fato é que a maioria dos conteúdos que aprendemos na escola nós esque-
cemos. Então surge uma dúvida: se é para esquecer, por que tenho que aprender?
O que podemos aprender com essas afirmações? Aprendemos que o conteúdo, por
si mesmo, é somente informação e não produz, por si só, algum tipo de raciocínio.
É o professor que, de posse desse conteúdo, o utilizará para formar um certo tipo de
raciocínio na mente do aluno e, dependendo da lógica de pensamento que em esse
se pautar (formal ou dialética), o conteúdo ganhará status de somente conteúdo (nível
da informação) ou ferramenta para formação de pensamentos (objetivo pedagógico).
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O primeiro passo é termos clareza de que o tipo de treino que fizermos com
nossos alunos (treino mental, desenvolvimento de pensamentos e raciocínios) é o
que ficará para as suas vidas, pois aí está a base de sua formação (e não de sua
informação – nossos alunos adquirem informações, cada dia mais e mais, na TV,
na internet entre outros meios).
Essas habilidades são adquiridas com treinamento, pois não são natas no ser hu-
mano: observar, relacionar, interpretar, questionar, entre outras. Quanto mais nós
as treinarmos, mais o aluno as colocará sob seu domínio (assimilará).
E essa deficiência não se resolve na vida adulta; não é porque nos tornamos
adultos que aprendemos, “de uma hora para outra”, a relacionar as coisas. Essa
habilidade (relacionar) só será adquirida pelo aluno, na medida em que propuser-
mos exercícios que o levem a treinar esse tipo de raciocínio, ou seja, atividades que
tenham como objetivo (pedagógico) o relacionar.
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O saber questionar é conseguido com treino também. Quando trabalhamos
com verdades absolutas, reproduzindo conhecimentos que estão em textos
prontos e acabados (livros didáticos, por exemplo), tomando um fato como único
e inquestionável, não estamos possibilitando ao aluno o desenvolvimento da
habilidade de questionar.
Essa habilidade é desenvolvida quando o fato apresentado (na versão que tiver-
mos em mão, a partir do livro didático, por exemplo) for questionado ou apresen-
tado sob outra forma de olhar para ele. Esse treinamento envolve a mudança de
questões a serem feitas sobre o que está sendo estudado (determinado conteúdo).
Perguntas como O quê? Qual? Quando? Onde? com respostas prontas não contri-
buem para o desenvolvimento da habilidade de questionar, uma vez que, provavel-
mente, as respostas a essas questões estejam no material fornecido (texto do livro
didático, por exemplo).
Para se treinar essa habilidade, devemos incitar a dúvida com perguntas tais como:
Por quê?; Explique; Justifique; De que forma?; Conforme esta visão...; Conforme a
outra visão... Assim, o importante não é responder às questões levantadas, mas sim
ensinar o aluno a perguntar, buscando mais do que uma forma de ver os fatos.
Por exemplo: pode se dar um texto e fazer um questionário para que o aluno
busque as respostas no texto (habilidade de interpretação – baseada na lógica formal)
ou retirar uma passagem do texto, apresentar um questionamento (dúvida) que leve
o aluno a apresentar outra visão sobre a passagem do texto ou buscar outra infor-
mação para confrontá-la (habilidade de interpretação – baseada na lógica dialética).
Em certo sentido, precisamos refletir, primeiro, sobre o que foi imposto para nós
mesmos nos anos em que ficamos na escola. De que forma o que foi trabalhado nas
aulas e pelos tantos professores que tivemos contato afetou nossas vidas? Somente
após um minucioso processo de reflexão sobre nós mesmos é que devemos dar o
segundo passo na direção de questionarmos o que queremos com nossos alunos e
de que forma agiremos para alcançar tal objetivo.
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no Ensino de História e de Geografia
Essas deveriam ser as primeiras perguntas que todos nós, professores, faría-
mos em nosso planejamento (nossa primeira aula): o que eu quero com este aluno
que ficará sob minha responsabilidade por um período X ou Y? Qual será minha
contribuição para a formação deste indivíduo que atuará nesta sociedade em que
vivemos? Quais habilidades desenvolverei neste aluno neste momento e nos próxi-
mos? E, em um segundo momento: Como atingirei estes objetivos? Aqui entram as
estratégias de ensino, a didática e os conteúdos que serão desenvolvidos.
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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
Livros
O que é Dialética
KONDER, L. O que é dialética. São Paulo: Ed Brasiliense, 1990.
Vídeos
Entre le Murs (Entre os muros da escola)
https://youtu.be/BDwLbwYr1cs
O que é Geografia?
https://youtu.be/wKx8GVWqFi8
Leitura
Base Nacional Comum Curricular: Educação é a Base
BRASIL. Ministério da Educação e Cultura (MEC). Base Nacional Comum Curricular:
educação é a base. Brasília: MEC/CONSED/UNDIME, 2018.
http://bit.ly/2uh2fbx
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no Ensino de História e de Geografia
Referências
BRASIL. Ministério da Educação e Cultura (MEC). Base Nacional Comum Cur-
ricular: educação é a base. Brasília: MEC/CONSED/UNDIME, 2018. Disponível
em: <http://basenacionalcomum.mec.gov.br/ images/BNCC_EI_EF_110518_ver-
saofinal_site.pdf>. Acesso em: 20 dez. 2020
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