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Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso

PJe - Processo Judicial Eletrônico

23/06/2020

Número: 1001815-66.2020.8.11.0055
Classe: PROCEDIMENTO COMUM CÍVEL
Órgão julgador: 4ª VARA CÍVEL DE TANGARÁ DA SERRA
Última distribuição : 09/06/2020
Valor da causa: R$ 1.000.000,00
Assuntos: Repasse de Verbas Públicas, COVID-19
Segredo de justiça? NÃO
Justiça gratuita? SIM
Pedido de liminar ou antecipação de tutela? SIM
Partes Procurador/Terceiro vinculado
MINISTERIO PUBLICO DO ESTADO DE MATO GROSSO
(AUTOR(A))
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MATO GROSSO
(AUTOR(A))
MUNICÍPIO DE TANGARÁ DA SERRA (REU)
Documentos
Id. Data da Documento Tipo
Assinatura
33768 22/06/2020 18:05 Decisão Decisão
395
ESTADO DE MATO GROSSO
PODER JUDICIÁRIO
4ª VARA CÍVEL DE TANGARÁ DA SERRA

DECISÃO

Processo: 1001815-66.2020.8.11.0055.

AUTOR(A): MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MATO GROSSO

REU: MUNICÍPIO DE TANGARÁ DA SERRA

Vistos.

Trata-se de Ação Civil Pública de Obrigação de Fazer c/c Pedido


Liminar intentada pelo Ministério Público Estadual em face do Município de Tangará da Serra
, devidamente qualificado nos autos.
Pretende a presente ação obrigar o Município requerido a colocar em pleno
funcionamento UTI´S médicas para o setor do COVID-19 no âmbito municipal, após denúncias de
que pacientes graves estariam sendo encaminhado a outros municípios do Estado, supostamente
porque as UTI´S deste município não estariam prontas, mesmo após aporte de recursos oriundos
da União para tanto.
Após prévia manifestação do ente municipal, este Juízo indeferiu a liminar
pretendida, tomando por base vistoria realizada pela Secretaria Estadual de Saúde.
O município requerido ainda alegou que deveria ser incluído o Estado de
Mato Grosso no polo passivo da demanda, consequentemente sendo deslocada a competência
deste Juízo à Vara Especializada em Saúde em Várzea Grande/MT.
Referida preliminar foi rejeitada por este Juízo em 19/06/2020 conforme
decisão de Id. 33658585. A mesma decisão determinou vistoria junto ao Hospital Municipal, a ser
realizada por Oficial de Justiça devidamente acompanhado de um médico perito, nomeado por
este Juízo.
Fora juntado então o Auto de Constatação realizado pelo Sr. Oficial de
Justiça (Id. 33719507) e o Laudo Pericial do médico nomeado (Id. 33719760).
Foi oportunizada às partes manifestarem quanto aos laudos, tendo o
Município manifestado conforme Id. 33740231 e o Ministério Público conforme Id. 33740929.
Vieram os autos conclusos.
É o relato do essencial. Fundamento e decido.

O Ministério Público ajuizou a presente ação após denúncias de que


pacientes com quadro grave de Covid-19 estariam sendo transferidos para outros municípios do

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Estado, uma vez que o Hospital Municipal não estaria apto a tratar de casos graves da doença
que precisassem de leitos de UTI, embora o Sr. Prefeito Municipal afirmasse o contrário.
Segundo apurado pelo Ministério Público por meio de Inquérito Civil, embora
o Município tenha informado por diversas vezes a existência de 13 leitos de UTI exclusivos para
uso de pacientes infectados pelo coronavirus, até o dia 26/05/2020 referidos leitos se
encontravam inativos, conforme visita técnica realizada pelo Escritório Regional de Saúde.
O ente ministerial afirma que expediu a notificação recomendatória nº
005/2020 ao Município de Tangará da Serra para que realizasse todos os procedimentos
necessários para o pleno funcionamento das UTI´S, devendo expressas aceite ou não no prazo
de 24h.
Uma vez que não houve resposta o ente ministerial ajuizou em 09/06/2020 a
presente ação, ocasião em que pleiteou liminar de tutela de urgência para que fosse determinado
ao Município a imediata adoção de medidas para colocar em plena atividade os leitos de UTI´S
médicas no hospital municipal.
Este Juízo antes de analisar o pedido liminar determinou que Município
requerido manifestasse nos autos no prazo de 03 dias.
O Município então manifestou nos autos em 13/06/2020 ocasião em que
juntou documentos, em especial o de Id. 33408906.
Trata-se de Perecer Técnico elaborado pela Secretaria de Estado de Saúde
em 12/06/2020 e assinado por dois superintendentes as quais atestaram em suas conclusões
que: “o Hospital Municipal Arlete Daisy Cichetti de Brito está APTO para continuidade da
assistência aos pacientes diagnosticados com a COVID-19 para atendimento hospitalar clínico
adulto e pediátrico, e de Unidade de Terapia Intensiva/UTI II Adulto COVID-19, de acordo com as
normativas e preceitos do SUS, com relação ao enfrentamento da pandemia COVID-19”.
Foi com base neste laudo, realizado posteriormente ao ajuizamento da
ação, que este Juízo entendeu que na ocasião os requisitos para o deferimento da liminar não se
encontravam presentes, uma vez que fatos novos demonstravam ser desnecessária tal medida.
Na mesma decisão foi ressaltado que a liminar pode ser deferida a qualquer tempo, desde que
surgissem fatos novos que autorizassem as medidas. (Id. 33413649)
Posteriormente foi rejeitada a preliminar aventada pela Município, bem
como, diante de notícias de que os leitos de UTI´S ainda não se encontravam de fato em
funcionamento, foi determinada a realização de vistoria judicial. Nesse ponto, conforme o
ordenamento foi nomeado perito, bem como expedido mandado para cumprimento pelo oficial de
justiça, e ambos cumpriram seu mister com agilidade e de forma profícua.
Pois bem, com base nos novos documentos juntados ao feito passo à
reanálise da medida liminar pleiteada pelo Ministério Público.
O Sr. Dr. José Marcos Mazzucca Salvatori, médico perito nomeado por este
Juízo, assim concluiu (Id. 33719760):
“A UTI apresenta uma área física e uma distribuição de leitos muito boa.
Cada leito está devidamente equipado e operacional, de fácil acesso em caso de urgências e
passível de resguardar a intimidade do paciente (Foto 3 e 6). Todos os respiradores e monitores
estão funcionando, bem como demais aparelhos. A única preocupação no quesito equipamento é

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a utilização de alguns respiradores e monitores com certo tempo de uso, que podem vir a ter
dificuldade de funcionamento se houver uma ocupação plena da UTI, mas o Diretor Técnico do
Hospital diz que tem como suprir com novos equipamentos. Tem rede de gases e vácuo.
Também está bem suprida de medicamentos de urgência/emergência, de rotina e materiais de
consumo. Os fluxogramas são adequados e funcionais. As medidas de prevenção de contágio da
equipe estão sendo aplicadas de modo satisfatório. Os responsáveis pela equipe de Enfermagem
da UTI e do Hospital Municipal foram quem mais forneceram as informações necessárias devido
à ausência do médico Responsável Técnico da UTI. A lista de profissionais médicos apresenta 07
(sete) médicos e nenhum deles apresenta RQE em medicina Intensiva. O Dr. Alan Wallace
Caetano, representante da FAMVAG, afirmou, no início da perícia, que havia um médico
intensivista contratado como Responsável Técnico, mas não apresentou o nome na lista de
médicos contratados. Ao final, afirma estarem em negociação para a contratação de mais dois
Intensivistas O médico relacionado com Intensivista não apresenta RQE registrado no CRM.
Conclusão A UTI Covid do Hospital Municipal apresenta muito boas condições de funcionamento
no que tange ás instalações, equipamentos, medicamentos e serviços de apoio. Serviços de
Hemodiálise e Diagnóstico por imagem estão disponíveis. No quesito de profissionais da saúde
está bem atendida na equipe de enfermagem e demais equipes paramédicas, porém a
deficiência na equipe médica inviabiliza o início de funcionamento da UTI, pela ausência de
profissionais com Registro de especialidade em Medicina Intensiva no CRM quando, no
mínimo, deveriam haver 02 (dois).

Percebe-se que este Juízo pode ter sido induzido a erro quando do
indeferimento da liminar, uma vez que diferente do laudo trazido pelo Município em sua
manifestação, resta patente que embora existam leitos e equipamentos para funcionamento das
UTI´S, não há ainda equipe médica qualificada para o pleno funcionamento das unidades.
Importante ressaltar aqui que para decidir o julgador depende do que lhe é apresentado nos
autos, sendo mister a observância do que prescreve o artigo 5.º do CPC.[1]
Ainda, percebe-se que algumas providências somente foram tomadas pelo
município após o ajuizamento da presente demanda, o que comprovam as alegações da Inicial de
que equipamentos estariam em caixas e sem finalidade.
E mais, percebe-se que diferente do que foi propalado pela administração
municipal, constatou-se que existem apenas 10 leitos de UTI, diferentemente do que vinha sendo
alegado pelo Poder Executivo desde 16 de abril, quando mencionava a existência de 13 leitos
(Ofício nº 223/GP/2020, Id. 33296901, pag. 23).
Por fim, temos que após a vistoria e juntada do laudo pericial, somente na
data de hoje 22/06/2020 (Id. 33740225) é foram apresentados os médicos intensivistas pela
empresa que prestará os serviços ao Município para operacionalização das UTI´S.
Por todo o exposto, não restam mais dúvidas a este Juízo que se encontram
presente os requisitos autorizadores para o deferimento da liminar, eis que embora seja patente o
esforço empreendido pela municipalidade, até a presente data os leitos de UTI´S não se
encontram em pleno funcionamento, diferentemente do que reiteradamente alegado pela
administração municipal.

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A Constituição Federal, em seus artigos 196 e 227, inibe a omissão do ente
público, assim considerado a União, Estados, Distrito Federal e Municípios, os quais devem
garantir o efetivo tratamento médico à pessoa necessitada. Essa medida deve ser imediata, em
face, quase sempre, das consequências que podem acarretar o não-cumprimento desse dever,
por parte dos referidos entes.
Demonstrada a necessidade das UTI´S para tratamento dos casos graves
de Covid-19, a concessão é medida que se impõe, à luz do dever constitucional do Estado de
tutelar a saúde dos cidadãos, ainda que em situações excepcionais.
A saúde encontra-se entre os direitos primordiais - constitutivos do alvo
prioritário das políticas de Governo - por tratar-se de um direito vital dos indivíduos, sem o qual é
impossível gozar do mais supremo valor constitucional que é a dignidade da pessoa. De
conformidade com o Preâmbulo da Constituição Federal, o Estado tem o dever de assegurar o
bem-estar da sociedade, sendo evidente que a saúde pública se encontra embutida no conceito
vago e indeterminado de bem-estar.
Ademais, o art. 196 da Carta Constitucional garante que: "A saúde é direito
de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à
redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e
serviços para sua promoção, proteção e recuperação".
A necessidade de implementação efetiva das UTI´S junto ao Hospital
Municipal está demonstrada. Conforme a documentação acostada ao feito, diferentemente do
alegado anteriormente, as Unidades de Terapia Intensiva ainda não se encontram devidamente
em funcionamento, mormente com relação a equipe técnica necessários para o pleno
funcionamento dos leitos.
Desse modo, diante da probabilidade do direito e do perigo de dano,
demonstrados nos laudos acostados nos autos, mostra-se induvidosa a necessidade de
concessão da tutela de urgência para garantir o fornecimento do tratamento de saúde aos casos
graves de Covid-19, mormente em razão de que embora o município alegue que o quadro médico
já esteja regularizado, lista atualizada dos profissionais médicos (Id. 33740225), não
constam informações se de fatos estes profissionais já estão em atividade, sendo que a
escala de plantão e equipe médica foi informada pela empresa responsável somente no dia de
hoje, porém não constam informações de que já estejam, de fato, disponíveis e atuantes, o que
deverá ser efetivamente comprovado no prazo assinalado.
Deste modo, DEFIRO O PEDIDO LIMINAR constante na exordial e por
conseguinte DETERMINO a intimação do requerido Município de Tangará da Serra, para QUE
NO PRAZO DE 48 (QUARENTA E OITO) HORAS, coloque em pleno funcionamento as UTI´S
para o tratamento dos casos graves de Covid-19 junto ao Hospital Municipal, mormente quanto a
equipe médica com pelo menos 01 (um) médico especializado em medicina intensivista para
cada 10 leitos de UTI.
Em caso de inadimplemento desta decisão, fica o requerido sujeito a sanções
administrativas, cíveis e penais cabíveis, conforme o caso.
Serve a presente cópia desta decisão como Mandado de Intimação.
Intime-se. Cumpra-se.

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[1]Art. 5º Aquele que de qualquer forma participa do processo deve comportar-se de acordo com
a boa-fé.

, 22 de junho de 2020.

Juiz(a) de Direito

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