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Jung demonstra com o processo de sua própria jornada que, aqueles que
dão voz e aceitam “o mergulho” integrando aspectos do seu inconsciente e o
manifestam na vida de modo criativo, tem uma existência mais plena, mais
genuína. Assim ele o fez em forma de arte e imaginação. Em sua frase: “quem
olha para fora sonha, quem olha para dentro desperta” não só orientou a
própria vida, como norteia o despertar na vida de outros nesse caminho
interior.
Este olhar para dentro que despertou Jung, que representa o aspecto do
feminino de sua alma a qual ele sempre foi fiel, podemos investigar a luz da
astrologia. Tendo as narrativas de Jung em sua autobiografia como matéria
prima desse artigo, faremos a analogia da lua simbólica em seu mapa natal
com a mãe, a esposa e a casa.
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Górgona, cuja cabeça é coberta por víboras serpenteantes e cujo o olhar
petrifica sua vítima, é uma projeção da Mãe “Terrível” enquanto que a
figura de Sofia é uma projeção da Mãe “Bondosa”. A figura de Ísis, que une
em si os traços da Mãe Terrível e da Mãe Bondosa, corresponde, portanto, ao
arquétipo da Grande Mãe.
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até desaparecer, quando novamente Hécate, que estava oculta, toma seu
poder recomeçando o ciclo.
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O contato plutão- lua como é analisado por Puiggros, contempla tais
características que podemos observar na relação de Jung com a imagem
materna: “Pode desenvolver uma sensibilidade extrema e despertar suas
faculdades psíquicas. Exposto a essas influências o indivíduo pode apresentar
sonhos proféticos e premunições. Muita curiosidade, imaginação e interesse em
relação a tudo o que representa poder de modificação e regeneração. De modo
geral, não hesita em aplicar todas essas habilidades aos assuntos diários e em
estimular suas relações pessoais. (...) O indivíduo costuma estar atento,
acumula saber e o guarda. A capacidade de intuir e a facilidade em separar o
joio do trigo, aliadas a uma grande subjetividade (...) (Puiggros, 1990, p.131)
Na fala a seguir, Jung também faz relação da personalidade da mãe com
sua própria característica intuitiva:
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Jung faz a relação direta da mãe com a casa: “Era uma cabana deste
gênero que eu iria construir, uma morada que correspondesse aos sentimentos
primitivos do homem. Ela deveria oferecer uma sensação de refúgio e de
abrigo, não só no sentido físico, mas também psíquico. (...) Era poderoso o
sentimento de renovação que a torre despertara em mim desde o início.
Constituía como que uma morada materna.” (Jung, 2012, p.271)
Plutão tem sua morada no Hades, ele rege o inframundo, a morada dos
mortos e as entranhas da terra e touro é um signo de terra. Com Plutão no
signo de touro no mapa de Jung, em conjunção com a lua podemos nos
reportar a imagem de Perséfone nas profundezas do Hades, o que está sob a
terra tende a sair para o exterior, é o tempo em que Perséfone retorna à
superfície. Trata-se da realização na prática, como fez Jung com sua própria
casa; de uma obra que evoca a ancestralidade e suas necessidades mais
profundas.
A Morte de Emma
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A construção da primeira torre começara em 1923, dois meses após a
morte de minha mãe. Essas datas são cheias de sentido porque – como
veremos- a torre está ligada aos mortos. (...) A torre dava-me a impressão de
que eu renascia da pedra. Nela via a realização do que, antes, era um vago
pressentimento: uma representação da individuação. Um marco, aere
perennius. Ela exerceu sobre mim uma ação benfazeja, como a aceitação
daquilo que eu era. (...) Em Bolligen sou mais autenticamente eu mesmo,
naquilo que me concerne. Aquí sou, por assim dizer, um filho “arquivelho” de
sua “mãe”. Assim fala a sabedoria dos alquimistas, pois o “velho”, o
“arquivelho” que eu sentira em mim, quando criança, é a personalidade numero
dois que sempre viveu e sempre viverá, fora do tempo, filho do inconsciente
materno.” (Jung, 2012, p.273)
Jung revela nessa fala a profundidade de sua alma que se confunde com
sua casa e sua ancestralidade, sua vida e finitude, refletindo a expressão plena
dos arquétipos lua-plutão: “Na minha torre, em Bolligen, vive-se como há
séculos. Ela durará mais do que eu; sua situação e seu estilo evocam tempos
que há muito já passaram. (...) As almas de meus ancenstrais são mantidas
pela atmosfera espiritual da casa, pois respondo, bem ou mal, às questões que
suas vidas deixaram em suspenso; desenhei-as nas paredes. É como se uma
grande família silenciosa, ao longo dos séculos, povoasse a casa. Lá vivo meu
personagem número dois, e vejo amplamente a vida que se cumpre e
desaparece.” (Jung, 2012, p.286)
Referências
BAIR, DEIRDRE. Jung: uma biografia, vol 2. São Paulo: Ed. Globo, 2006.
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NEUMANN, ERICH. A Grande Mãe: um estudo fenomenológico da constituição
feminina do inconsciente. São Paulo: Ed. Cultrix, 2006.
STEIN, M. Jung – O Mapa da Alma, uma introdução. São Paulo: Ed. Cultrix,
2006.
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