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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ

CENTRO DE HUMANIDADES
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA SOCIAL
DISCIPLINA: MEMÓRIA E TEMPORALIDADE
DOCENTES: PROFª. DRª. KÊNIA SOUSA RIOS E PROFª. DRª. MEIZE REGINA
DE LUCENA LUCAS.

DISCENTE: CAROLINA MARIA ABREU MACIEL

OS DESAFIOS DO TRABALHO COM A HISTÓRIA ORAL

A proposta deste texto é identificar e refletir algumas das dificuldades de se


trabalhar com as fontes orais, partindo das reflexões desenvolvidas por Alessandro
Portelli em seu texto A entrevista de história oral e suas representações literárias,
publicado no livro Ensaios de História Oral, em 2010, pela Letra e Voz.
No caso específico da minha pesquisa, muito dos questionamentos que faço
vão ser desenvolvidos através do uso das entrevistas com alguns antigos militantes da
Pastoral da Juventude do Meio Popular. Um exemplo disso são as questões referentes à
fundação da PJMP no Ceará, como os debates acerca da criação de uma pastoral que
tivesse um viés de classe, onde a experiência social e política dos jovens empobrecidos
fosse levada em conta.
Quando Portelli (2010, p. 210) fala que a história oral é “[...] uma narração
dialógica que tem o passado como assunto [...]” pude pensar acerca da relação que se
estabelece entre o narrador e o pesquisador, que vai muito além da gravação de uma
narrativa, mas que, principalmente, é uma experiência de aprendizagem. Como o autor
afirma, o espaço da entrevista é “[...] uma experiência de igualdade na qual dois
sujeitos, separados pelas hierarquias culturais e sociais, escancaram suas desigualdades
e as anulam, fazendo delas o território de suas trocas”. (PORTELLI, 2010, p. 213)
Um dos pontos problemáticos que surgiram com a leitura do texto de Portelli
foi a do desencontro do que quer ser dito pelo narrador e do que quer ser ouvido pelo
pesquisador. Dessa questão lembramos do problema trazido pelo texto da professora
Janaína Amado, O grande mentiroso, onde a narrativa não estava de acordo com o que a
autora esperava ouvir, dessa forma Amado, num primeiro momento, imprimiu a
narrativa como um lugar de mentira. Assim, por pouco a autora não perdeu uma fonte
primorosa que dava subsídios para compreender como a história de Dom Quixote de la
Mancha fez parte do imaginário de uma Goiás, de meados do século XX, e que na
narrativa simbólica de seu locutor pode ser um fio condutor para a tessitura de uma
versão da história da Revolta do Formoso.
Ainda sobre a relação do que pode ser dito pelo narrador, uma questão
colocada por Portelli interessante é sobre a criação do espaço narrativo, pois que sem a
intervenção de um “ouvinte” especializado, no caso o historiador e seu projeto, o
narrador tem uma história para contar, mas sem esse espaço poderia não contar daquela
maneira em outro contexto ou para outro ouvinte. (PORTELLI, 2010, 212)
Outro ponto a ser destacado, ainda sobre a relação dialógica entre narrador e
pesquisador, é a questão da performance. Portelli (2010) vai afirmar que um dos
problemas que permeiam a transcrição das entrevistas é de como fazer a transposição de
uma performance oral para a escrita? Pois que “A historiografia baseada em fontes orais
é uma forma de escrita, mas não pode esquecer de origens orais; isto é um texto, mas
não pode esquecer que nasceu como performance”. (p. 216) E como performance
entendemos presença de corporeidade, assim como afirma, Paul Zumthor (2000, p. 45)
“[...] performance se refere de modo imediato a um acontecimento oral e gestual”, ou
seja, é presença inegável do corpo.
Em uma entrevista dada à Revista História e Perspectivas, de Uberlândia
publicada em 2014, o autor vai afirmar que “[...] os entrevistados, todos nós, quando
falamos oralmente (eu mesmo, agora) estamos buscando as palavras e estamos
construindo o que queremos dizer ao mesmo tempo em que o dizemos [...]”, dessa
forma, algo de “tatear” deve aparecer no texto escrito. Dito de outro modo, é necessário
que mantenhamos no texto escrito esses traços performáticos do discurso que mostram
como aquela fala foi construída.
Ainda sobre as inquietações sobre a questão da performance, como fizemos
acima, podemos fazer um link com a fala de Portelli, o conceito de performance que
Paul Zumthor vai trabalhar em seu livro Performance, recepção e leitura, pois partindo
dessa leitura feita pelo autor, ao entendermos como performance o que transforma o
outro, mais especificamente, o que toca o outro, durante uma entrevista, o diálogo
(forma clássica da comunicação verbal segundo Bakhtin 1) que é estabelecido entre
1
BAKHTIN, M. O enunciado, unidade da comunicação verbal. In.: Estética da criação verbal. São Paulo:
Martins Fontes, 2000. p. 294.
entrevistador e narrador é uma situação onde um vai transformar o outro, de algum
modo, através da comunicação, no caso por meio da narrativa, da voz. E nessa situação
de entrevista o corpo tanto do pesquisado e quanto do narrador vão estar o tempo todo
em diálogo. Muitas vezes na construção dos nossos textos buscamos limpar o corpo do
narrador de nossa escrita, utilizamos uma escrita “desencarnada”, porém o que nos
propõe Portelli é que ao mantermos esses traços performáticos dos discursos de nossos
narradores e em nosso texto, me parece, que vai pelo mesmo caminho proposto por Paul
Zumthor quando ele nos pede pela presença do corpo em nossos escritos. Já que para ele
“O corpo é o peso sentido na experiência que faço dos textos. Meu corpo é a
materialização daquilo que me é próprio, realidade vivida e que determina minha
relação com o mundo” (2000, p. 28), como podemos enfrentar nossa escrita, nossa
pesquisa, sem reconhecer o papel sintomático de nosso corpo e do corpo do outro,
principalmente quando trabalhamos com as fontes orais, se é nele que “determinamos
nossa relação com o mundo”?

REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS
ALMEIDA, Paulo Roberto de; KOURY, Yara Aun. História oral e memórias entrevista
com Alessandro Portelli. História e Perspectivas, Uberlândia (50): 197-226, jan./jun.
2014.
AMADO, Janaína. O grande mentiroso: tradição, veracidade e imaginação em História
Oral. História, São Paulo, v. 14, p. 125-136, 1995.
BAKHTIN, M. O enunciado, unidade da comunicação verbal. In.: Estética da criação
verbal. São Paulo: Martins Fontes, 2000.
PORTELLI, Alessandro. A entrevista de história oral e suas representações literárias.
In. PORTELLI, A. Ensaios de história oral. São Paulo: Letra e Voz, 2010. p. 209-230.
ZUMTHOR, P. Performance, recepção, leitura. Tradução de Jerusa Pires Ferreira e
Suely Fenerich. São Paulo: EDUC, 2000, 137 p.

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